PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 29 de Junho de 2015
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ASSUNTOS POLÊMICOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Calar, quando se tem algo a dizer, significa omissão e, por conseguinte, covardia. Falar é um direito. Irar-se, contudo, para prevalecer uma opinião pessoal, não é de Deus. O próprio Jesus Cristo nos convidou a sermos mansos e humildes de coração (Mt 11, 29).

Discordo da “ideologia de gênero”, assunto rejeitado no Plano Nacional de Educação (PNE) e que ressurgiu no dos municípios (PME). É a negação da identidade biológica masculina ou feminina, tornando-a uma função social. Uma diretriz que pretendem ou pretendiam impor às escolas, ignorando o papel da família na educação dos filhos. Mas sou favorável a que se trabalhe com os alunos os preconceitos, pois ele envenena a sociedade. Quantas crianças negras, por exemplo, em colégios particulares, onde a maioria é branca, excluídas através de apelidos jocosos e outros! E as providência tomadas, em relação à maldade que expulsa gente, são tímidas. E apoio o exercício da escuta, pois como escreveu o Frei Antônio Moser em seu livro “Enigma da Esfinge” – Vozes -, só se liberta do preconceito quem restitui a voz do silenciado.

Considero ofensivo o uso pejorativo de vestuário e símbolos religiosos em parada gay, desfile carnavalesco, baile à fantasia etc. Não deixa de ser uma intolerância contra os que vivem a sua fé. Falta nobreza de atitude.

Sou contra a redução da maioridade penal. O sistema carcerário brasileiro é falido. A superlotação dificulta que o ser humano passe por um processo de mudança. Creio que os menores infratores devam permanecer em estabelecimentos apropriados para sua idade e, para os crimes hediondos, em um tempo maior de pena. Defendo um sistema educacional comprometido com a formação do ser humano, em escolas em período integral, com menor número de estudantes em sala de aula e com profissionais de áreas diversas, que atuem nos conflitos e encaminhem os alunos que necessitam de atendimento médico e psicológico. Defendo propostas que deem voz aos adolescentes das periferias e, nas quais, possam eles expressar seus sentimentos.

Abomino a “Marcha das Vadias”, que também utiliza sinais sacros e grita pela legalização do aborto provocado, ou seja, da pena de morte para bebês que se encontram no útero materno. Não se trata do corpo da mulher, mas sim de um indivíduo diferente, único.

É o que penso e assumo com convicção.

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 12:09
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VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - PODEM CHAMAR DE CLARICE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Ela não é o Visconde de Sabugosa, mas adora dormir na biblioteca.

            Entre livros, acomoda-se silenciosa e confortavelmente, abaixo do grafite que fiz de sua figura. Alegro-me que aprecie a homenagem.

            Minha filha me cobra a pintura dos demais. Alego falta de tempo, porém penso que urge fazê-lo, afinal, por falta de semelhante referência, todos dormem em quaisquer cantos, espalhando-se desordenadamente.

            Dia a dia é só bagunça com Muffin, Melodia, Nina e Boni se esbaldando pelo quintal, trazendo folhas de mangueira, caju ou limão para dentro da casa, a despeito do meu esforço por mantê-las em seu lugar, isto é, ao ar livre.

Enquanto isso, ela dá mostras de seu temperamento assaz sossegado. Às vezes, aparenta esboçar mesmo indignação. Traduzidos para o bom português, seus miados, imagino, resmungariam sobre os irmãos: crianças!!!

            Verdadeira lady, ela tapa os olhos com as patas para não ter o sono afrontado pelas peripécias alheias.

Qual o quê? Volta e meia, esse vem em sobressalto, a correr daquele que lhe morde a orelha; aquele mordisca o rabo desse a fim de lhe chamar a atenção; um puxa o tapete e nele se esconde do outro que o surpreende agarrando-o, esse derruba o enfeite, aquele joga o ratinho debaixo do sofá...

E tome miau, miau, miau... ou seja, quem é que dorme com um barulho desse?

Ela! Sim, ela dorme bem, não obstante a balbúrdia à sua volta.

Desperta, contudo, faz valer o sono restaurador e o apelido “onça”. É uma caçadora nata – para meu desespero! Equilibro-me entre a liberdade aos seus instintos e o respeito que devoto às espécies ainda menores, em que constam lagartixas, tatus-bolas, gafanhotos...

E mesmo não sendo fã de baratas, não permito que nenhum deles as comam. Podem ter sido envenenadas!

Foi, portanto, com angústia que a vi terminando a asquerosa refeição, finda a qual tornou à estante, onde eu – com a pulga atrás da orelha – observei-a deitar-se para a sesta.

Eu não podia crer! Ela vinha há dias cochilando sobre as páginas de “A paixão segundo G.H.”.

Folgo em sabê-lo: além de apreciadora de artes, essa gata também lê. Seu nome é Kiwi, mas, podem chamá-la de Clarice.

           

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 12:06
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - A VIÚVA DO DR. CASTRO ALVES...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Falei, no meu último artigo, do falecimento da historiadora baiana Consuelo Pondé de Sena, ocorrido na cidade de Salvador, no dia 14 de maio. Essa amiga muito saudosa foi durante 20 anos presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Agora assumiu a presidência o vice, Dr. Eduardo Morais de Castro, e por certo continuará com o mesmo sucesso a dirigir a mais do que secular instituição.

Embora possa não parecer muito adequado recordar fatos engraçados relativos a alguém cujo luto ainda é ainda tão recente, não resisto a registrar aqui alguns episódios da vida e da personalidade marcante de Consuelo. Ela era enérgica, afirmativa e autoritária. Nasceu para mandar, mais do que para obedecer. Alguns amigos chegados lhe puseram até o apelido de “a Coronela”. Conduzia tudo “more militari”.

Impunha-se naturalmente e de modo muito peculiar. Era franca e incapaz de dissimular o seu pensamento. De lealdade absoluta. Com grande franqueza, dizia sempre aos interlocutores o que pensava deles, mesmo quando o juízo não era favorável... mas sabia fazê-lo de um modo tão engraçado que o interlocutor em vez de se enfurecer acabava rindo. Era capaz de entrar no gabinete de alguma alta autoridade, principiar dizendo chapadamente que não concordava em nada com a orientação daquela autoridade nem com o seu partido político, passar um “sermão” bem severo e, em seguida, pedir dinheiro para uma iniciativa cultural qualquer. Ela era tão franca e engraçada na crítica, e tão impositiva na hora de pedir dinheiro, que, via de regra, conseguia tudo quando desejava, fosse qual fosse o partido político da pessoa de quem dependia a concessão da verba.

Recordo de uma cena que presenciei, no encerramento do V Congresso de História da Bahia, no ano 2001. Consuelo presidia à sessão de encerramento, no auditório de um grande hotel de Salvador. Era uma sessão solene. Consuelo foi fazendo os agradecimentos de praxe, às diversas autoridades e às diversas empresas que tinham colaborado para o evento. A cada nome lido, o público batia palmas polidamente. A certa altura, leu o nome do Senador Antônio Carlos Magalhães, figura controvertida que, na Bahia, ainda hoje tem admiradores e opositores igualmente entusiasmados. Quando leu o nome, no imenso salão com mais de 500 pessoas presentes houve palmas e, ao mesmo tempo, uma discreta tentativa de vaia. A cena que se seguiu foi impagável...

- Meninos! exclamou Consuelo, batendo a mão na mesa, parem com isso! Não quero malcriações! Eu também não concordo com muita coisa do Toninho, mas foi o Toninho que arrumou dinheiro para nós fazermos este nosso Congresso, e a educação manda agradecer. Vou ler de novo o nome do Toninho, a ai de quem vaiar!!!

E leu solenemente, com voz ameaçadora:

- Agradecemos ao Senador Antônio Carlos Magalhães pelo apoio que deu a este Congresso!

Parou, então, e ficou olhando desafiadoramente para a sala durante alguns segundos, para ver se alguém se atrevia a vaiar... Mas ninguém se atreveu. E a sessão continuou.

Outro relato muito divertido, que ouvi dela várias vezes, foi o da visita que ela, ainda bem jovem, fez ao Museu de Castro Alves, na cidade do Recife.

Ela, que sempre foi admiradora e se dizia eterna apaixonada pelo poeta, foi visitar esse museu, instalado no imóvel em que Castro Alves residira durante algum tempo de sua breve existência. Lá chegando, tocou a campainha. Um funcionário da portaria atendeu, dizendo que, naquele dia, o museu estava fechado para o público. Mas Consuelo, com o desassombro muito característico dela, retrucou:

- Pode estar fechado para o público, mas não para mim.

- Desculpe, mas eu sou novo aqui e ainda não conheço a senhora.

- Eu sou a viúva de Castro Alves!

O pobre porteiro, pessoa simples e sem conhecimentos, imediatamente deixou-a entrar, pediu mais uma vez desculpas, todo embaraçado, e ofereceu uma cadeira para ela se sentar. Subiu correndo as escadas, até o gabinete do diretor, que estava trabalhando sozinho, informando que “a viúva do Dr. Castro Alves” tinha vindo para visitar o museu do marido.

O diretor logo desconfiou do que se tratava. Soltou uma imensa gargalhada e desceu, para conhecer a “viúva”. Depois, fez questão de mostrar a ela, sala por sala, todo o museu...

Consuelo pertencia a uma família de numerosos médicos. Era sobrinha-neta do Dr. João de Souza Pondé (1874-1934), que participou, ainda estudante de medicina, da fase final da Campanha de Canudos; era filha do médico Edísio Pondé; casou com o neurologista Plínio Garcez de Sena, do qual teve duas filhas, Maíra e Maria Luíza, e dois filhos, Maurício e Eduardo, sendo este último também médico.

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



publicado por Luso-brasileiro às 12:02
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - NAS ENTRELINHAS DO METRÔ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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            Uma das características que mais aprecio em São Paulo é a diversidade. Diversidade de serviços, de lugares, de pessoas, de culturas. Amo essa multiplicidade que permite infinitas possibilidades de cultura, lazer, trabalho, amizades, diversão e comportamentos. Em todo bairro de São Paulo existe um mundo em menor escala. Para uma curiosa observadora contumaz como eu, é um verdadeiro laboratório.

            Da mesma forma, circular pelas linhas do Metrô dessa que é uma das maiores cidades do mundo, é igualmente, sob o ponto de vista comportamental, uma fonte quase inesgotável. Por óbvio que, eventualmente, circular em dias de muito movimento, com gente saindo pelo ladrão, torna as coisas um pouco mais difíceis, eis que até o humor sofre variações. Como de ordinário eu não faço uso desse meio de transporte em horário de pico, consigo ficar em posição de observação e, invariavelmente, acabo me surpreendendo e me divertindo.

            Uma das situações que mais chama minha atenção é o uso dos assentos preferenciais. Reservados a idosos, gestantes e pessoas com crianças de colo, referidos lugares são de uso livre quando não houver, no vagão, pessoas nessas condições, o que, na prática, é quase nunca. Por hábito, mesmo não havendo nenhum “candidato” à ocupação desses lugares, eu os utilizo. Primeiro porque, na maior parte das vezes basta que o trem avance uma única estação para que entre alguém que deve pode fazer uso e, em segundo, porque ainda posso me dar ao luxo de permanecer em pé sem que o andar do metrô me arremesse ao chão.

            Hoje mesmo, no dia em que escrevo esse texto, seguia eu para o trabalho e precisei ir de metrô. Tão logo entrei fiquei feliz por não estar lotado, embora sem que houvesse algum lugar livre para me sentar. Acomodei-me em um canto qualquer e constatei que todos os assentos preferenciais mais próximos estavam ocupados por pessoas jovens, não gestantes e sem crianças, de colo ou não. Praticamente todas estavam fingindo dormir. Pensei, por um instante, se achavam que isso as tornava invisíveis, mas por óbvio que o problema é bem outro.

            Assim que o metrô parou na próxima estação, desconfiei que o fizera no horário de saída de alguma convenção da terceira idade, já que o vagão foi praticamente tomado por idosos. Alguns deles nem olharam para os assentos aos quais tinham direito e foram encontrando um lugar para se apoiarem, sem qualquer aparente expressão de desconforto. Outros, pela fragilidade da idade muito avançada ou das condições de saúde, olhavam com olhares aflitos para as cadeiras azuis, desejosos de que alguém fizesse a gentileza de desocupá-los. Uma mulher, entretanto, chamou especialmente minha atenção. Creio que fosse idosa em termos jurídicos, mas não aparentava qualquer limitação física, estando muito bem vestida e equilibrada sobre um salto alto.

            A mulher entrou no vagão e literalmente foi para cima de uma moça que “cochilava” impunemente. Deu-lhe um cutucão e apontou para o aviso de Assento Preferencial. Sem muito constrangimento e com má vontade, a moça se levantou o mais devagar que pode e imediatamente o lugar foi ocupado pela impaciente “idosa”. Sentada, abriu um livro e começou a ler, despreocupadamente. Na frente dela, uma velhinha, de cabelinhos brancos, calcando sapatilhas desgastadas, segurava-se na barra lateral. Um rapaz que estava sentando em um assento convencional logo se levantou e ofereceu o lugar para ela que, com um olhar firme, voltado para a “colega” que seguia sentada e alheia aos demais, agradeceu e disse que não precisava, pois já ia descer na próxima estação.

            Desci na mesma estação que ela e notei que caminhava bem lentamente, até com alguma dificuldade. Fiquei pensado, refletindo sobre a cena que presenciei, que há muita gente mal educada no mundo, mas principalmente que há uma diferença abissal entre ser idoso e ser velho. Aquela senhorinha, com certeza, não era velha. Já a outra...

 

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.



publicado por Luso-brasileiro às 11:49
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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 E O IDEAL DE LIBERDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            No dia 9 de julho, feriado estadual em São Paulo, Brasil, comemora-se os 71 anos da Revolução Constitucional, também chamada de Revolução de 1932, porque foi nesse ano que ocorreu o movimento na capital paulistana que tinha como objetivo principal a reconstitucionalização Brasil. Desde 1930, prevalecia a denominada República Nova, originária de uma revolta que estabeleceu o governo provisório sob a presidência de Getúlio Vargas, que nomeava interventores para governar os Estados e não obedecia a nenhuma Constituição, provocando grande descontentamento nos liberais paulistas que perceberam que a ação política que eles haviam anteriormente apoiado estava sendo desvirtuada, criando-se uma ditadura com ações manifestamente arbitrárias. A autonomia de São Paulo foi diminuída, com sérios reflexos na economia e o anúncio de que o então ministro da Justiça, Oswaldo Aranha, viria destituir o governador Pedro de Toledo, aumentou ainda mais a insatisfação popular.

            As primeiras manifestações contra a administração de Vargas ocorreram no dia 23 de maio na Praça da República, quando tombaram mortos quatro jovens: Mário Martins de Almeida, Euclydes Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo de Camargo Andrade. Os seus nomes deram origem à sigla MMDC, que passou a simbolizar o heroísmo da juventude paulista. A população paulistana, há tempos inconformada com o desrespeito às leis e regras por parte do governo federal, contribuiu com recursos materiais para a compra de munições, morteiros, granadas, máscaras antigas e lança-chamas, trabalhando na blindagem de trens e automóveis.

            No dia 7 de julho, o coronel Euclydes Figueiredo mudou-se para São Paulo e assumiu o comando do movimento, ao lado do General Isidoro Dias Lopes. No dia 9 de julho de 1932, começou oficialmente o levante armado, comandado pelo general Isidoro Dias Lopes. Nesse dia, o interventor Pedro de Camargo telegrafou o Getúlio e informou que não podia conter a revolta, que se prorrogou até trinta de setembro do mesmo ano, quando os revolucionários não mais resistiram, sendo negociada a sua rendição. Havia o apoio manifestado das forças do Mato Grosso, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, mas só os mato-grossenses, liderados por Bertoldo Blinger, se mantiveram fiéis aos paulistas.

            Durante três meses, os 100 mil homens das tropas federais atacaram São Paulo, que se defendia com 35 mil soldados. E Getúlio também era apoiado por aqui por pessoas como Francisco Matarazzo, dono de um dos maiores impérios empresariais da época. Os aviões de guerra bombardearam até as cidades do interior. No fim do conflito, 830 pessoas haviam sido mortas. Dois anos mais tarde, a Assembléia Constituinte foi convocada e elaborou a Carta Magna. O movimento, assim, obteve êxito levando o Brasil novamente ao regime da legalidade.

            A título de ilustração, transcrevemos abaixo um texto do consagrado poeta Paulo Bonfim e publicado no boletim da Academia Paulista de História (julho de 2002 – pág. 23), denominado “Soma de Sonhos e o Sacrifício de Um Povo”:

            “O que foi 32? Foi a soma dos sonhos e o sacrifício de um povo, a confraternização de raças e condições sociais no batismo das trincheiras, o esforço da indústria, o desprendimento do comércio, a grandeza de uma causa, a generosidade dos moços, a participação dos cabelos brancos, o entusiasmo das crianças, a força que vem da mulher terra paulista, o verbo dos poetas e dos tributos, dos jornalistas e dos sacerdotes, a sacralidade da lei, o fuzil ao lado do livro, a trincheira continuação da escola, a caserna dependência do lar e o campo de batalha sementeira da justiça!

            O que foi 32? Foi a bandeira que voltou do passado, o passado que se transformou em bandeira, bênção de Anchieta e de frei Galvão, vigília de João Ramalho, grito de guerra de Tibiriça, inspiração de Bartira, presença dos que partiram, convocação do amanhã, cocar-capacete de aço, gibão que virou farda cáqui, canoa monçoeira transformada em trem blindado, mortos e vivos marchando; igreja, escola, oficina em batalhões rezando a mesma oração, prece de amor e esperança, holocausto e clarinada, asa de glória gravando no sangue das gerações”.

        

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário.  (martinelliadv@hotmail.com)



publicado por Luso-brasileiro às 11:42
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JOSÉ RENATO NALINI - COMO É O PARAÍSO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pensar na morte é coisa que se não faz com a frequência com que ela nos acompanha. Não temos intimidade com a única certeza inquestionável nesta nossa efêmera caminhada. Só sabemos que vamos morrer. Melhor não deter outras informações: quando, de que forma, com sofrimento ou de repente. Mas quem se deteve a enfrentar o tema, sem dúvida já pensou o que nos espera depois. Dá para imaginar o que é a eternidade? A ausência de tempo? A inexistência de relógio?

O poeta Francis Jammes (1868-1938) se converteu em 1905 ao cristianismo e, a partir daí, sua obra se torna profundamente religiosa. Tem um conto sobre o paraíso que é ingênuo e delicioso. Começa assim: “O poeta fitou os seus amigos, seus pais, o padre, o médico, o cãozinho, presente no quarto, e morreu“. Tinha 18 anos. Viu-se no Paraíso e não se surpreendeu. Reecontrou tudo o que amara nesta terra. Foi convidado por sua mãe a jantar com Deus, no caramanchão do jardim do Paraíso.

Não estranhou que Deus se vestisse “como os pobres das estradas, os que trazem um pedaço de pão num alforje, e que os juízes fazem deter à porta das cidades e meter na prisão, por não saberem assinar o nome“. Triste imprenssão tinha o escritor sobre a Justiça francesa de sua época! O jantar foi servidopor legiões de anjos. A mesa cresceu e a ela tiveram assento os seus avós, e os pais de seus avós, e todas as gerações anteriores.

Até os animais que possuíra participaram do banquete. Tudo muito simples, muito natural, como devem ser as coisas de alguém infinitamente justo e infinitamente bom. O certo é que mesmo as pessoas mais próximas não voltam – ao menos no meu caso – para contar como é o “outro lado“. Temos de nos satisfazer com a fé. E somos frágeis, ilimitados, pretensiosos, arrogantes. Ambivalentes, quando não polivalentes. Mudamos de opinião. Cedemos à dúvida sistemática. Ela nos lança na “noite escura“, da qual só os santos conseguiram se liberar.

 

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 25/06/2015

 

 

 


JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



publicado por Luso-brasileiro às 11:37
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FELIPE AQUINO - PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE IDEOLOGIA DO GÊNERO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quer saber mais sobre o assunto? Preste atenção nas perguntas respondidas nesta matéria!

 

 

 

Na quinta-feira (11.06.15), durante o Programa Escola da Fé na TV Canção Nova, recebemos muitas perguntas sobre Ideologia de Gênero e Identidade Sexual. Por isso, achamos importante publicar algumas dessas respostas aqui. É fundamental que todo católico esteja por dentro do que está acontecendo em nosso país e no mundo; e esteja preparado para esta luta em defesa de nossas famílias.

 

1- Segundo dados do IBGE, mais de 50% das famílias brasileiras já não são as famílias tradicionais. Como a igreja vê essas novas formas de família e o que a igreja está fazendo para acolhê-las?

A Igreja não considera família a união de pessoas do mesmo sexo com adoção de crianças. No caso de casais de sexo diferentes (heterossexuais), que apenas coabitam o mesmo teto sem casamento ou sem matrimônio. A Igreja lamenta este tipo de união e trabalha no sentido que se casem na Igreja, se não houver impedimento canônico para isso.

 

2- Sou professora no ensino fundamental. Leciono do primeiro ao quinto ano. Minha pergunta é: Caso seja aprovada esta ideologia da qual falamos, nós professores , por lei teremos que aplicar este estudo? E se nos recusarmos a ensinar isto?

Se a ideologia de gênero for aprovada por lei no PME do município, os professores das disciplinas ligadas ao assunto terão de ensinar isso, sob possível pena de possível punição. Embora o direito de “obsessão de consciência” esteja na Constituiçãobrasileira, pode haver desrespeito a este princípio que assegura à pessoa não agir contra a sua consciência

 

 

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3- O que poderíamos nós, como pais de adolescentes, fazer para conscientizar nosso filhos sobre essas inversões de valores, onde as próprias escolas estão contribuindo para isso?

O importante antes de tudo é os pais estarem a par do que se ensina a seus filhos nas escolas nos assuntos de moral; e reagirem contra, em grupo, contra os ensinamentos que não estiverem de acordo com o que a Igreja ensina. Protestar juntos aos professores e a direção da Escola quando isso ocorrer. E conversar com os filhos ensinando-lhes o que é certo e o que é errado.

 

Leia também: Brasil: Nova ameaça da “ideologia de gênero”

O Perigo da Ideologia de Gênero

Reflexões sobre a “ideologia de gênero”

 

4- Aqui na minha cidade, na Câmara não foi votado. O que posso fazer pra mobilizar minha cidade?

Conscientizar as pessoas, especialmente líderes de grupos católicos, para se manifestarem juntos aos vereadores para que votem contra a identidade de gênero no PME – Plano municipal de Educação, que será votado nas Câmaras até o dia 24 de junho. Outra importante informação é que é retirada a palavra “gênero” do PME, que substitui a palavra sexo.

 

5- A ditadura do relativismo impõe que o conceito de família deve ser relativizado, ao ponto, que não parta nem sequer do ideal: homem – mulher – filhos. Mesmo sabendo que há novas configurações, como não ter claro isto como ideal de família? Como defender este ideal de forma que seja aceita num estado Laico, onde não se admite argumentação de fundo confessional – religioso?

A Constituição, do Brasil, no artigo 256, § 3º, considera entidade familiar, a união estável entre um homem e uma mulher. Pois isso é o natural, não apenas algo religioso. Desde que existe a humanidade, se entende o casamento e a família como esta realidade, que supera o aspecto apenas religioso. É algo natural, tendo em vista que a família sempre foi vista como os pais e seus filhos gerados por eles.

 

 

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Assista também: Você já ouviu falar em Ideologia de gênero?

 

6- Você sabe a diferença entre gênero e sexo?

Sexo é apenas masculino e feminino, com o qual nascemos com ele bem definido. Gênero é ideologia que quer impor que sexo não existe; que ser masculino ou feminino é apenas uma questão social ou psicológica imposta pela sociedade, e que existem muitas formas de sexualidade que a pessoa deve escolher livremente, por exemplo: homossexual masculino; homossexual feminino, heterossexual masculino, heterossexual feminino, bissexual, transexual, etc..

 

7- Essa semana falou-se muito que a arte não tem limites. Por que as atitudes religiosas são tão reguladas e limitadas pela sociedade? Por que não podemos falar de Deus abertamente? E ainda por que a justiça não age corretamentecontra crimes que denigrem a fé assim como age severamente contra a homofobia, por exemplo?

 

 

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Na verdade a fé incomoda aqueles que não vivem segundo as leis de Deus; é como a luz que brilha nas trevas e essas reagem querendo apagar as luzes porque essas manifestam suas obras más. O que temos de fazer é lutar pelo direito de manifestação de nossas ideias, pois estamos em um país democrata.

 

8- Por que os grupos LGBT defendem a ‘ideologia de gênero’ e ao mesmo tempo defendem que o homossexualismo é nato, como foi o tema da Parada Gay deste ano (Eu nasci assim…)? Não parece uma contradição? Se o “indivíduo” nasce neutro, então também não pode nascer gay.

Não é fácil responder essa pergunta; não só essa incoerência existe na agenda gay, mas muitas outras.

 

9- Queria que me indicasse um livro de sua autoria que trata do assunto?

No meu livro JESUS, SINAL DE CONTRADIÇÃO tem um capítulo inteiro que trata questões ligadas a ideologia de gênero, e vários outros assuntos de moral. Também no livro NÃO VOS CONFORMEIS COM ESTE MUNDO.

 

10- Quais sites católicos podemos acessar e ficar por dentro de assuntos como esse?

Indicamos o acesso aos sites como:

cleofas.com.br/

www.cancaonova.com/

www.zenit.org/pt

www.aleteia.org/pt

www.acidigital.com/

www.gaudiumpress.org/

 

 

 

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:21
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PAULO R. LABEGALINI - CONFIE NO PODER DE MARIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A pequena cidade francesa de Lourdes foi o lugar escolhido pela Virgem Maria para aparecer à camponesa Santa Bernadete Soubirous em 1858. E o Dr. Patrick Theillier, desde abril de 1998, é o médico permanente do Santuário e Presidente da Association Médical International de Lourdes, além de redator-chefe do Boletim da AMIL – 10.000 assinantes, divulgado em cinco línguas! Eis suas palavras, segundo o site www.lepanto.com.br:

“Inicialmente, o trabalho consiste em receber os peregrinos que supõem ter sido beneficiados por uma cura por intercessão de Nossa Senhora de Lourdes. São eles que o dizem e vêm testemunhar esse fato. Eu anoto e procuro investigar se existe a possibilidade de que essa cura seja reconhecida como milagrosa – é a primeira etapa.

A segunda, nos casos que me parecem mais probatórios, inicio uma pesquisa médica, recolhendo todos os documentos anteriores à cura e, os posteriores, para estar bem seguro de que ela realmente existiu. Devo estudar, com todos os médicos que passam por Lourdes, uma causa dessa cura que possa ser natural ou terapêutica. No total, devo dar a volta em torno da questão, para depois propor tal cura à Igreja, a fim de que Ela reconheça o milagre.

Qualquer médico pode entrar na nossa associação. Não pergunto a religião deles. A grande maioria é católica, mas não obrigatoriamente praticante. Eles vêm igualmente para fazer pesquisas ou simplesmente com uma finalidade humanitária de ajudar os doentes.

O primeiro milagre constatado foi o de Catherine Latapie, que era uma mulher de 38 anos. Ela tinha dado à luz quatro filhos e dois já haviam morrido. Na noite de 28 de fevereiro de 1858, sentiu a necessidade de vir à Gruta de Massabielle – onde Nossa Senhora apareceu.

Dois anos antes, ela caíra de uma árvore e teve uma paralisia cubital no braço direito, que a atrapalhava enormemente em suas atividades. Além disso, ela estava grávida e não hesitou em vir durante a noite para assistir à aparição – a décima segunda. Quando tudo tinha terminado, ela subiu na gruta – naquela época era preciso escalar um pouco. E encontrou a fonte em que, três dias antes, Nossa Senhora tinha pedido a Santa Bernadette para lavar-se.

A senhora Latapie colocou a mão e logo em seguida ficou com o uso completo do braço direito. Partindo de volta a pé para casa, a seis quilômetros da gruta, ela sentiu as dores do parto e deu à luz um filho que se chamou Jean Baptiste. Mais tarde, ele tornou-se padre.

Desde então, sessenta e seis milagres foram reconhecidos oficialmente pela Igreja. Seria bom explicar que é sempre o bispo da diocese, da qual vem a pessoa que foi curada, que reconhece o milagre. Portanto, não é o Papa, nem o Vaticano, e tampouco o bispo da diocese de Tarbes-Lourdes. Pelo mundo inteiro, o bispo local é quem recebe o dossiê reconhecido pela medicina.

No entanto, é bom saber que o número de curas declaradas pela medicina é cem vezes maior do que as reconhecidas pelas autoridades eclesiásticas. Apenas uma cura sobre cem declarações, em média, é reconhecida de modo oficial.

Enquanto médico católico, creio que em cada ser humano existe uma dimensão espiritual que é inerente à sua natureza. Somos criados à imagem e semelhança de Deus e existe em nós uma fonte de vida eterna. Considero que a cura física é um sinal da benevolência e da misericórdia de Deus em relação ao doente, mas que não acontece sem uma cura interior.

No Evangelho, todas as curas são sempre acompanhadas de uma cura interior: ‘Vai, tua fé te curou’; ‘A partir de agora não peques mais’; e assim por diante. A cura é um sinal de restabelecimento total da pessoa, e acredito que em Lourdes seja assim. A cura física é a única visível, a única sobre a qual podemos trabalhar, estudar e precisar, mas todas as curas físicas tocam a pessoa em toda a sua dimensão, seja ela física, psíquica ou espiritual.

Há curas invisíveis aqui e são talvez mais numerosas e importantes: as curas do coração, da alma, do pecado, a reconciliação com Deus, com os outros e consigo mesmo. Assim, acredito que não se pode apenas fixar o lado ‘prodigioso’ do milagre físico – frequentemente maravilhoso, claro –, mas devemos procurar o sentido que está escondido atrás dele: a cura interior.

Acredito que a cura é para todos, não somente reservada a alguns. Caso contrário, seria injusto; poder-se-ia perguntar: por que alguns se curam e outros não? Somos todos chamados a ser curados, cedo ou tarde, das nossas feridas e dos nossos pecados.

É preciso viver na esperança e entender que Deus nos ama, que Ele não está na origem do mal, da doença ou da invalidez. Caso contrário, viveremos como revoltados. É preciso entender que Ele sofreu e deu a sua vida por nós e nos salvou.

O mais importante é a saúde espiritual. É preciso ver essas curas físicas dentro de uma perspectiva de eternidade – como uma antecipação da ressurreição do nosso corpo.”

Pois é, este médico é bom de serviço e bom de cabeça também!

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre



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HUMBERTO PINHO DA SILVA - O TRABALHO INFANTIL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Recentemente a imprensa noticiou que se jogava, no Algarve, loto a bolachas.

Como é proibido jogar fora do casino, excepto nos jogos da Santa Casa, os clientes foram identificados e levados para a esquadra.

Desconheço se além de bolachas, havia outro prémio…

Admiro de tanto zelo pelo loto ilegal, e passe despercebido que não há jardim público onde idosos não joguem. Não sei se a feijões se a dinheiro; mas duvido que haja tanto interesse pelos feijões…

Mas sempre foi assim: uns podem, outros não.

Se pai de família, por necessidade ou para ocupar o filho, coloca-o na loja a trabalhar, é considerado explorador de menores. Mas se anda com ele de terra em terra, pelas feiras e romarias, a cantar ou a fazer habilidades circenses, é louvado e aplaudido pelos mesmos que censuraram o comerciante.

Louvam igualmente e tecem elogios aos meninos “ prodígios” e igualmente aos progenitores que levam a criancinha a participar em novelas televisivas ou a filmes de grande metragem.

Têm que decorar longos diálogos, fazer filmagens cansativas que terminam, quantas vezes, pela madrugada, mas a sociedade hipócrita, admira, aplaude e elogia.

Anos há, apareceu na TV, rapazinho que nas horas de lazer entregava-se à pastorícia. Declarava o moço que gostava dessa vida e assim auxiliava o pai – agricultor remediado.

Levantou-se clamor – o menino andava a trabalhar, a prejudicar os estudos… se cantasse, representasse ou tocasse um instrumento, tudo estava certo…mas ser pastor e auxiliar o pai…nunca.

Os mais velhos recordam-se, certamente, de Nadia Comanneci, ginasta romena que participou nos Jogos Olímpicos. Soube-se que desde tenra idade era obrigada e castigada severamente, pela mais leve falta de atenção.

E Martina Higins, tenista, que treinava sem parar, porque os pais a obrigavam.

Quantas crianças são violentamente castigadas e privadas do merecido repouso para que brilhem no desporto e no meio artístico, sem que quem as explore sofra a menor censura. Condenável é incentivar as crianças a colaborarem nas lidas domésticas ou auxiliarem a família a equilibrar o orçamento familiar.

Mas se ganharem milhares ou milhões pelas salas de espetáculo ou no cinema e TV, mesmo em prejuízo da saúde e da educação, tudo está bem.

Como é hipócrita a sociedade em que vivemos! …

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 11:09
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JORGE VICENTE - VILA NOVA DE FOZ CÔA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

               Vila Nova de Foz Côa,

               Terra linda hospitaleira,

               Tu tens um Museu que ecoa,

               E é tua nova bandeira!

 

 

               Tens tudo quanto precisas,

               Pra quem te vem visitar

               São prendas que profetisas,

               E no altar as consagrar.

 

 

               Gravuras que imortalizas

               A fazer de mensageiras

               São tuas grandes divisas

               Também as amendoeiras.

 

 

              Teus frondosos olivais,

              Das tuas terras brotadas,

              Onde há soberbos vinhais

              Pelas serras elevadas.

 

 

               Foi o Paleolítico, no fundo,

               Que mais te tornou formosa,

               Ao mostrar a todo o mundo,

               Como és maravilhosa!...

 

 

              Vila Nova de Foz Côa,

              Tens o condão de receber,

               Em terra de gente boa,

               E o melhor pra oferecer!

 

 

 

 

JORGE VICENTE    -   Fribourgo, Suiça

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:03
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Domingo, 21 de Junho de 2015
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - IRMÃ MARIA INÊS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Impossível traduzir, em uma crônica, a Irmã Maria Inês do Menino Jesus, OCD, no mundo Odete Trippe, que partiu, aos 87 anos, de pés descalços, identificando as pegadas do Amado. Posso, no entanto, escrever sobre aquilo que vivenciei através de contatos essenciais com ela.

Entrou-me ao coração em 1969, nos meus 15 anos. Eu integrava, sob a direção do inesquecível Padre Eugênio Inverardi, o Movimento Oásis, nascido na Igreja Trinità dei Monti em Roma. Após Missa do Oásis, no Carmelo São José, conheceu as integrantes do grupo. Alegrou-se por saber de minha filiação, pois fora colega de escola da mamãe. Juntaram-se vários aspectos para mim: a fé, a devoção a Santa Teresinha do Menino Jesus, herdada forte de minha avó paterna, o silêncio do Carmelo que fala do Céu, a amizade de adolescência da mamãe com ela e seu olhar que embalava as pessoas e se fazia bálsamo para as chagas dos caminhos. De intimidade divina, fez-se da sabedoria, da humildade, da misericórdia.

Assumiu-me em sua experiência do Reino de Deus entre nós. Demorei décadas para perceber com clareza isso e, talvez, ainda, não consiga interpretar por inteiro. Ao me “adotar”, trouxe ao Carmelo as mulheres em situação de vulnerabilidade social da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena. Trouxe a elas e a mim para restaurar, no tempo do Senhor, a nossa imagem e semelhança dEle. E como creio que, agora, prossegue na intercessão junto a Deus para esse reconstruir! Protegeu a alma, ou seja, a verticalidade da Pastoral da Mulher, que ultrapassa a caridade social, mostrando ao próximo o caminho que leva à Santíssima Trindade. Frei Maria-Eugênio do Menino Jesus,OCD, em seu livro “Ao Sopro do Espírito” – Paulus (pág. 153), escreve sobre o fundamento da caridade na missão do cristão, muito além do social apenas.

Contou-me, em janeiro último, que, aos 10 anos, ao ouvir de uma professora a história de Santa Teresinha, firmou o propósito em ser carmelita descalça. Na vida monástica, agradou, por inteiro, sua alma tão de Deus. E, como Teresinha, quis na Igreja ser o amor. Amor firme, decidido no compromisso com a verdade; amor que partilha, ilumina, ensina, faz crescer, fortalece para vencer o mal.

Pela forma como ela já vivia a Eternidade, creio que bastou um único passo, ao cessar a sua respiração aqui, para receber o abraço amoroso do Pai.

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 19:02
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JOSÉ RENATO NALINI - O PÁRA- RAIOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando o saudoso Monsenhor Doutor Arthur Ricci falava do Carmelo e das carmelitas, dizia que elas eram o “pára-raios” de Jundiaí. Queria mostrar a quem não entendesse a clausura, o silêncio e o recolhimento em pleno século XX, que a vida em oração funciona como antídoto para o mal que acompanha a humanidade.

O Carmelo São José, na década de 50, funcionava à rua Senador Fonseca. Sua construção no Anhangabaú me levou muitas vezes lá. Meu pai se encarregou de todo o serviço de marcenaria e eu o ajudava. Ele precisava acionar um sino que denunciasse sua aproximação. Eu é que ficava encarregado disso, pois ele carregava a caixa de ferramentas. Se eu me esquecesse, era uma correria só das irmãzinhas cobrindo o rosto.

Uma das mais simpáticas e sorridentes era a Irmã Maria Inês do Menino Jesus, O.C.D. (Ordem das Carmelitas Descalças). Seu nome no século era Odette Trippe, de família tradicional. Seu pai era Willy Trippe, comerciante de calçados. Seu irmão caçula era meu vizinho: Reinaldo Trippe, casado com Cecília Mazzuia. Outro irmão era o Carlos, conhecido como Lito. Estudei com o Nivaldo Trippe, companheiro de Cruzada da Mocidade Católica.

Minha prima, Suzana Nalini Genaro, logo entrou para o Carmelo. Tomou hábito com o nome religioso de Irmã Elisabeth da Santíssima Trindade. Alguns anos mais tarde foi transferida para o Carmelo Nossa Senhora da Esperança, em São João da Boa Vista. Faleceu em junho de 2014. E em junho de 2015, é chamada à eternidade a Madre Maria Inês do Menino Jesus. Com quem conversava por telefone e por e-mail. A tecnologia chegou ao Carmelo, também com moderno equipamento para a confecção de hóstias. Motivo de muitas conversas com Madre Maria Inês.

No sepultamento de minha prima, há um ano, vi que eram muitas as carmelitas que ali faleceram. As vocações não se multiplicam na mesma proporção. Vão minguando nossas protetoras, escasseando o nosso pára-raios, justamente quando o mundo mais precisa de oração.

Até o agnóstico não negará valor à energia produzida pela concentração de pensamento elevado e dirigido a uma causa. Os orientais dominam melhor do que a nossa imediatista cultura ocidental o manejo com o mistério, com a transcendência e com o infinito, agora a abrigar duas novas santinhas carmelitas do século XXI.

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.



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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - CONSUELO PONDÉ DE SENA ( in memoriam)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Faleceu na cidade de Salvador, no último dia 14 de maio, minha saudosa e querida amiga Consuelo Pondé de Sena, que desde 1996 exercia a presidência do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Estava com 81 anos de idade, mas conservou, até poucas semanas antes de morrer, todo o ânimo de jovem guerreira, em prol da cultura e das tradições baianas e sertanejas. Foi somente uma delicada cirurgia cardíaca, a que precisou se submeter em meados do ano passado, que começou a abalar a saúde e a vitalidade extraordinária que sempre teve.

Consuelo era professora titular aposentada, da UFBA, de Língua Tupi. Era, juntamente com o Prof. Eduardo de Almeida Navarro, da USP, um dos raríssimos elementos na vida universitária brasileira que cultivaram a bela língua indígena que São José de Anchieta admirava profundamente e considerava rica e de grande beleza, muito própria a ser utilizada por literatos de alto nível. A sutiliza do idioma falado pelos Tupi chegava a ter alguma semelhança, segundo o Apóstolo do Brasil, com o grego clássico.

Consuelo foi discípula do célebre tupinólogo Prof. Frederico Edelweiss e, depois da aposentadoria deste, em 1963, disputou em concurso público e assumiu sua cátedra na UFBA. Regeu-a por mais de 30 anos.

Além de professora, teve intensa atuação jornalística, sobretudo no jornal soteropolitano “A Tarde”. Foi, ainda, diretora do Arquivo Público da Bahia e deixou produção cultural muito ampla e diversificada. Estudou a fundo não apenas o Tupi, mas também Etnografia, Antropologia, História Social e Econômica. Era também conhecedora profunda da Guerra de Canudos. A família Pondé, aliás, é originária de uma região da Bahia muito próxima ao local do conflito.

Ao morrer, estava no seu quinto mandato como presidente do IGHB. Os Institutos fundados nos vários estados a partir da última década do século XIX são, quase todos, “Históricos e Geográficos”, à imitação do tradicional Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838 sob os auspícios do Imperador D. Pedro II. Na Bahia, nunca soube por qual razão, o Instituto é denominado “Geográfico e Histórico”, e não “Histórico e Geográfico”, como nos demais estados.

O IGHB foi fundado no dia 13 de maio de 1894. Já completou, portanto, 121 anos de existência. É um pouco mais antigo que o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, cuja fundação data de 1º. de novembro do mesmo ano. Ambas as instituições vêm mantendo, desde seus primeiros anos de vida, intensa colaboração. Um dos fundadores e mais prestigiosos membros do IHGSP foi o baiano Teodoro Sampaio (1855-1937), engenheiro, geógrafo e historiador negro respeitadíssimo como intelectual em todo o Brasil, e também membro destacado do IGHB.

Ao longo de todo o século XX, as duas instituições seguiram cursos paralelos. Tiveram momentos de grande glória e prestígio; também passaram por tempos difíceis, chegando quase ao ponto de perecer. Ambas foram salvas, curiosa e quase milagrosamente, por duas grandes mulheres.

Na Bahia, essa grande mulher foi Consuelo Pondé de Sena, que, nas palavras de mestre Edivaldo Boaventura, proferidas junto ao esquife de Consuelo, “reabilitou o Instituto em todos os sentidos; foi uma presidente total com uma dedicação marcadamente construtiva; não há setor, espaço e lugar que ela não vivificasse”. No caso de São Paulo, é Nelly Martins Ferreira Candeias, desde 2002 na presidência do IHGSP. Ambas encontraram as instituições em lamentável estado e conseguiram revitalizá-las, saneando suas finanças e nelas incutindo novo espírito.

Pessoalmente, tive a alegria de aproximar e apresentar as duas, que se tornaram grandes amigas e chegaram a firmar um Protocolo de cooperação entre as suas instituições.

Tive, também, a alegria de, por razões puramente circunstanciais, aproximar Consuelo de um grande intelectual português, D. Marcus de Noronha da Costa, da Academia Portuguesa da História. Os dois ficaram igualmente amigos muito próximos. Neste momento de dor, estou certo de que D. Marcus e sua família estão, como todos nós, profundamente consternados pelo desaparecimento de Consuelo.

Vejo que o espaço de que disponho, nesta coluna semanal, está esgotado. Deixo, pois, para outra semana recordar alguns episódios engraçados, reveladores da rica personalidade de Consuelo Pondé de Sena.

Apenas concluo, dizendo que ela faleceu, após ter sido confortada pela visita de um religioso - o Arquiabade beneditino da Bahia - e que suas exéquias foram concorridíssimas. Uma verdadeira multidão de pessoas compareceu, para prestar homenagem à ilustre historiadora falecida, desde intelectuais e figuras da sociedade baiana, até simples sertanejos que ela tanto estudou e cuja vida sofrida tanto prezou. Foi uma homenagem consagradora. Como ela bem merecia.

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



publicado por Luso-brasileiro às 18:17
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