PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quarta-feira, 26 de Agosto de 2015
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - ALFABATIZAÇÃO E A LUTA PRIORITÁRIA DE EDUCAÇÂO PARA TODOS!

Comemora-se a oito de setembro, o Dia Internacional da Alfbatetização, criado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), cuja luta prioritária, é a educação para todos. Trata-se de uma data de suma relevância, já que há milhões de iletrados no mundo, que precisam ler e escrever, para o resgate da cidadania e da auto-estima. Com efeito, um dos pontos altos da Declaração de Hamburgo sobre educação de adultos, em 1997, foi o reconhecimento de que a educação permanente não constitui apenas um direito de todas as pessoas, mas é uma das chaves para as aspirações de cidadania do século 21.
De acordo com Koichiro Matsubana, economista, diplomata japonês e membro da Unesco, "milhões de indivíduos, particularmente mulheres, não têm acesso ao direito básico da educação. Há também muitos outros que, como resultado da degradação da posição econômica e social, estão perdendo o controle até dos conceitos básicos que já tinham adquirido e encontram-se diante do analfabetismo funcional. A pobreza e a exclusão são as principais responsáveis por isso. Elas fazem lembrar que o desenvolvimento econômico não assegura necessariamente o desenvolvimento social”.(08/07/2000 - "Folha de São Paulo" - pág. 03).
Efetivamente, alfabetizar é um processo que se desenvolve ao longo de anos e está longe de se resumir a sentar o aluno num banco escolar, para aprender a escrever o próprio nome e ler um bilhete simples, critério há muito utilizado para avaliar o aprendizado de jovens e adultos sem domínio de leitura e escrita. Associar o desenvolvimento educacional ao desenvolvimento social é fundamental para que se obtenham resultados positivos verdadeiros no processo de alfabetização, principalmente no caso daqueles que perderam a chance de passar pela escolarização regular.
Invoquemos novamente Koichiro Matsubara: "A Unesco coloca a alfabetização no topo de sai lista de prioridades. Somente a mobilização de toda a comunidade internacional poderá fazer face a esse desafio. Gostaria de homenagear, neste dia muito especial, todo aqueles que, dia após dia, dedicam-se, freqüentemente como voluntários e em condições particularmente difíceis, a esse nobre e generoso combate."
De acordo com Jorge Werthein, sociólogo argentino e doutor em educação pela Universidade de Stanford, os desafios deste milênio, sobretudo os que se referem à urgente necessidade de reduzir a miséria e a exclusão social, “requer a instauração de um sistema permanente de educação de adultos, para erradicar o analfabetismo e assegurar, ao longo da vida, condições de aquisição e renovação dos conhecimentos básicos indispensáveis” e conclui que “a educação de adultos deve seguir um caminho que leve em conta as experiências do homem adulto, que valorize e reconheça seus aprendizados tácitos. Não se trata só de mudar a linguagem ou dar aos conteúdos uma sequência diferente, mas, antes, de encontrar novos estilos de ação, que associem o trabalho aos problemas sociais e políticos da vida cotidiana dos adultos” (Folha de São Paulo – 1.3 – 07 de junho de 1998 – artigo “Educação de Adultos e Democracia”).
Muitos estudiosos já destacaram que diante do quadro de desigualdades sociais no mundo, a educação, também de adultos, sobressai como estratégia insubstituível para proteger direitos humanos e combater a pobreza, requisitos fundamentais da construção democrática. Num momento em que desenvolvimento é sinônimo de conhecimento, em que se produz uma admirável revolução no campo das comunicações, é intolerável que tantos brasileiros continuem a ter seu acesso barrado ao mundo da cultura e da informação, apesar dos significativos avanços nos últimos tempos. Por isso não deve ser descurado o combate ao analfabetismo e quando o Estado não propicia condições para tanto, evidentemente que o voluntariado se faz cada vez mais necessário, já que o setor privado, preenchendo uma lacuna deixada pelo Poder Público, beneficiar-se-á das conquistas neste campo. No Brasil, felizmente há um grande número de grupos que atuam nesta área.
A Constituição Federal dispõe em seu art. 3º, incisos I a III, que "constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de desanimação". Para que alcancemos tão nobres e importantes propósitos, a Educação se mostra como fator manifestamente preponderante, razão pela qual a alfabetização é uma ferramenta de extrema utilidade, a ser permanentemente utilizada e aperfeiçoada.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras .(martinelliadv@hotmail.com)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ESCUTA DOS IDOSOS

Interessantíssima a monografia – em livro: “A Escuta dos Idosos: um novo paradigma”, da Dra. Selma Ribeiro Araújo, Procuradora de Justiça aposentada, que reside em Belo Horizonte. A autora escreve sobre a maneira como a sociedade enxerga e trata o idoso, o idoso em suas dores, anseios e limites e a criatura que se propõe a ouvi-los.
Cita a Organização Mundial de Saúde (OMS), que trabalha para estimular o envelhecimento ativo, e o neurologista Elkhonon Goldeberg, da Universidade de Nova York, dedicado ao estudo da neuroplasticidade – ou plasticidade cerebral -, referente à “capacidade de remapeamento das conexões das células nervosas, processo que estimula o contínuo aprendizado. Ou seja, o cérebro pode se regenerar mediante o uso e potenciação”. Imprescindível, portanto, manter a atividade mental intensa à medida que se envelhece e buscar novos ideais.
Sua observação sobre essa fase da vida, que também constatamos no cotidiano, é real e triste: o preconceito em relação aos indivíduos com mais de 60 anos, como se resumissem à esclerose; a domesticação, a violência e a opressão por parte de parentes, passando a viver em um meio desfavorável; “vistos como um peso, um ônus, sofrendo notória desconsideração”. E enfatiza, com muita propriedade, embora o melhor lugar para acolher seus idosos é na família, o roubo da dignidade do ser humano indefeso, ao lhe tirarem, por exemplo, seu cartão de recebimento do benefício, “apropriando-se indevidamente de seus proventos”. Ou, ainda, de outros bens que possuam.
Há uma colocação, com a qual Dra. Selma se traduz, que me iluminou e emocionou: “Sou uma formiga com a alma de cigarra”. Ah, quanta sabedoria! É assim mesmo que se deve viver: na labuta e no canto da cigarra. Se não acontecer no real e no encanto, o dia se empobrece, fica lúgubre, geme pelos cantos das horas.
Relativo ao papel de quem se dispõe a ouvir, a autora conclui, parafraseando Carlos Mester no livro “Vai! Eu estou contigo, Vocação e Compromisso à Luz da Palavra de Deus” (Paulinas): “O papel do escutador é como o de Jesus no caminho de Emaús: aproximar-se das pessoas, caminhar com elas. Fazer silêncio para escutá-las, principalmente se forem idosas”.
É um livro que me abrasou o coração, como o dos discípulos que reconheceram o Senhor Ressuscitado ao tomar o pão, abençoar e repartir.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - UM SOPRO APENAS....

Não gosto de escrever sobre temas tristes, até para não passar a impressão de que a tristeza é minha musa ou minha companheira. Muito ao contrário: prefiro a companhia da alegria, o conforto das risadas e a inspiração do bom humor. Às vezes, contudo, é difícil não sentir o coração apertar e o riso ficar um pouco mais raro.
Sou uma pessoa apegada àqueles que amo. Confesso, sem qualquer vergonha disso. Eu me desapego facilmente de coisas, de lugares e de gente que me faz mal, mas tenho extrema dificuldade quando o assunto é gente que eu gosto. Talvez essa seja a razão pela qual sempre fui alguém de amizades e amores duradouros. Entre meus defeitos, que são bem mais do que eu gosto de admitir ou mesmo de imaginar, não está o de guardar mágoas ou rancores. Gosto mesmo é de colecionar amigos e adoro quando acabo de conhecer alguém e tenho aquele sentimento de que fiz mais uma amizade.
E se isso tudo me faz muito bem, também há um viés disso que me é bem doloroso. Eu não sei lidar com as partidas. Nem sei, de fato, se alguém sabe, mas eu com certeza não sei. Tenho a dádiva de, ao ultrapassar quatro décadas de vida, ainda ter poucas grandes perdas a contar, mas nem por isso deixei de sentir profundamente cada uma delas. Sofro pela ausência que a pessoa deixa, pelo vazio de uma existência que não se repetirá e que não possui substituto.
Sei que parece piegas e nem me importo se de fato for, mas sofro as perdas minhas e as alheias, porque vejo nas alheias perdas que um dia poderão ser minhas. Quando vejo amigos de meus pais se despedindo dessa vida, pessoas que um dia vi fortes, presentes nesse mundo, fazendo planos, plenos de existência, é como se eu estivesse em um daqueles pesadelos nos quais não temos a menor ideia do que é ou não realidade. Nas lágrimas dos outros eu antevejo minhas próprias lágrimas e o mero pensar nisso já me causa dor. Sei que o inevitável não existe senão em meus delírios de felicidade eterna, mas apenas me afasto dessa dor se finjo que sei me esconder do destino...
Fico pensando, nessas horas, o quanto a vida é frágil e efêmera. A existência humana é um simples sopro no mundo e finaliza quando o Criador assopra a chama dos nossos dias. E esse sopro, além de tudo, ora se parece como um vento calmo, ora como um furacão. Nunca estamos prontos, ainda que pensemos estar. A eternidade não nos pertence e nossos corações se ressentem disso, muito mais do que nossa própria existência.
Somos criaturas frágeis, feitas de ossos, mas que gostariam de viver como se fossemos feitos de aço. E no final de tudo, façamos o que fizermos, perderemos a batalha, ao menos essa que nos é dado assistir. A esperança de um segundo tempo, de um cenário por detrás das cortinas que se abaixam, é que nos dá algum consolo. Enquanto plateia, no entanto, inevitável lamentarmos o final do espetáculo, apegados que estamos ao enredo e ao elenco.
Quando fico assim, dorida das perdas passadas e das perdas futuras, gosto de invocar uma cena que vi descrita certa feita, cuja autoria não me recordo, mas que descrevia o fim de nossa existência nesse mundo como uma derradeira viagem de barco. Na despedida daqueles que estão a bordo, além de acenos de mão, há as lágrimas daqueles que ficam, desolados por verem, na linha do horizonte, o barco sumir de vista. O que não conseguem ver, no entanto, é que, para além daquela mesma linha, outros saúdam a chegada dos viajantes, empurrados pelo sopro Divino, imensos de saudades...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
cinthyanvs@gmail.com
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - SANTIDADE E MARTÍRIO - ALGUMAS NOÇÕES BÁSICAS

Nos primeiros tempos do Cristianismo, somente eram venerados como Santos ou Santas pessoas que tivessem derramado o seu sangue confessando a Fé em Jesus Cristo. Em outros termos, os mártires. O martírio, na prática, constituía a mais evidente manifestação da santidade. Identificava-se quase com ela. Mártir é palavra de origem grega, que significa testemunho; mártir era quem dava testemunho heroico e definitivo de Jesus Cristo, selando esse testemunho com seu próprio sangue.
Passados, porém, os três primeiros séculos de história da Igreja, séculos esses que se caracterizaram por um quase contínuo estado de perseguição, novas formas de manifestação da santidade foram, pouco a pouco, se afirmando. Não mais apenas pela morte, mas também pela vida virtuosa, com a prática constante das virtudes em grau heroico, se entendeu que podia ser feita a confissão da Fé em Jesus Cristo e se podia dar testemunho do Filho de Deus. Passaram, então, a ser venerados santos e santas não mártires. No caso dos homens, eram geralmente chamados “confessores”, porque confessavam a Fé. No das mulheres, dependendo de sua condição, eram virgens, matronas ou viúvas. O calendário litúrgico da Igreja registra pessoas de todas essas condições.
Os santos, além de intercessores junto ao trono de Deus, são modelos propostos pela Igreja à admiração e imitação dos fiéis. Nas últimas décadas, a Santa Sé tem procurado apresentar, aos fiéis das mais diversas condições, a Santidade como um ideal possível de ser atingido, e não mais como algo tão difícil e inacessível que somente por via de exceção poderia ser alcançado.
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48) - disse o Senhor, não apenas a seus Apóstolos e a uns poucos escolhidos, mas à imensa multidão que acorreu a ouvir o Sermão da Montanha. A Igreja sempre entendeu, por isso, que o chamado à mais excelsa perfeição, aquela que têm como modelo o próprio Pai, era dirigido à generalidade dos fiéis.
Assim se pronunciou, por exemplo, o Papa Pio XI: “´Esta é a vontade de Deus, diz São Paulo, a vossa santificação´ (I Tess 4,3); e qual deva ser essa santificação, declarou-o o mesmo Senhor: `Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito` (Mt 5,48). Não se creia, pois, que o convite seja feito apenas a algumas poucas almas privilegiadas, e que os outros possam se contentar com um grau inferior de virtude. Pelo contrário, como se patenteia pelo teor das palavras, a lei é universal e não admite exceção” (Encíclica Rerum omnium perturbationem, de 26/1/1923).
No mesmo sentido, afirmou textualmente a Constituição Lumen Gentium que “todos os fiéis, de qualquer condição e estado, fortalecidos com tantos e tão poderosos meios de salvação, são chamados pelo Senhor, cada um pelo seu caminho, para a perfeição daquela santidade com a que é perfeito o próprio Pai” (n. 11).
Não somente pela via dos conselhos, seguida habitualmente pelas almas consagradas, mas também pela via dos preceitos, a qual todos, sem exceção, podem trilhar, a perfeição é sempre um ideal atingível, para o qual temos a própria palavra do Senhor a nos convidar.
No século XVII, o Papa Urbano VIII (1625-1634) proibiu que pessoas não beatificadas ou canonizadas pela Santa Sé recebessem qualquer tipo de culto público e fixou normas muito estritas para o trâmite dos processos de beatificação e canonização. Tais normas, que hoje poderiam parecer extremadamente rigorosas, eram sem dúvida necessárias no contexto em que foram estabelecidas, para introduzir uma indispensável disciplina onde, antes, havia uma situação anômica e que requeria urgente normatização. Durante séculos vigoraram, em toda a Igreja, as normas sábias que aquele Pontífice fixou, e produziram admiráveis efeitos. Mas, mudados os tempos, julgou a sabedoria da Igreja mais conforme à necessidade desses tempos apresentar em maior número, e com maior variedade, modelos de santidade aos fieis de todas as condições, permitindo assim que, pela via da exemplaridade, mais acessível se tornasse a santidade, de acordo com a frase latina “verba movent, exempla trahunt” (as palavras movem, os exemplos arrastam).
Com esse escopo, o Papa João Paulo II, recentemente canonizado, promulgou, em 1983, a Constituição Apostólica Divinus perfectionis Magister, na qual estabeleceu novas regras para os processos de beatificação e canonização, que em princípio conservaram no essencial todo o antigo rigor, mas abrandaram e suavizaram um tanto exigências secundárias e acidentais, que tinham sido necessárias no passado, mas cuja prática, pouco a pouco, acabara produzindo um formalismo por vezes excessivo e até mesmo impeditivo de que muitos processos fossem abertos ou que, tendo sido abertos, chegassem a bom termo.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
JOSÉ RENATO NALINI - TUDO É POLÍTICA
O atual momento brasileiro faz com que a maior parte da população tenha ojeriza pela política. Com razão. A arte de gerir a coisa pública tornou-se meio de vida e tutela dos próprios interesses. A promiscuidade entre o público e o privado é calamitosa. Faz com que a juventude se afaste desse meio, deixando-o alvo fácil da avidez dos menos providos de ética. O fenômeno da generalização inibe que se distinga entre o joio e o trigo. Entretanto, não seria impossível mudar o Brasil, se a lucidez se aglutinasse em torno a uma real e profunda mutação de paradigma.
Não é impossível enfrentar questões como o financiamento de campanhas, o fundo partidário e as emendas parlamentares. O sistema eleitoral é um fenômeno histórico-político e as raízes da crise brasileira não são de difícil constatação. O que de fato avilta a representação política é que ela é, quase que exclusivamente, uma atividade econômica.
Não pode haver “profissionais” da política. O desempenho do múnus público deveria ser um “plus” para os que sobrevivessem de seu trabalho e de sua profissão. As eleições brasileiras se converteram num “business”. Gastou-se quase um bilhão nas eleições presidenciais. Gastos prioritariamente aplicados na propaganda eleitoral. Gasta-se também com o Fundo Partidário. Cerca de 314 milhões por ano. A “gratuidade” da propaganda eleitoral é uma falácia. Tudo é dedutível da tributação que sustenta a máquina estatal, os investimentos e as atribuições cometidas ao Estado.
As emendas parlamentares têm pequena importância fiscal, mas um elevado poder de corrupção. Analistas políticos atribuem a elas a contínua reeleição dos mesmos parlamentares. Outra praxe abusiva é a doação obrigatória de parte dos salários dos comissionados. As prestações de contas são complicadíssimas e a Justiça Eleitoral não tem condições de torná-las eficientes. Há impossibilidade fática de apreciação de contas dos eleitos, quanto mais a aferição dos gastos dos que não foram eleitos.
Seria possível uma reforma política no Brasil de hoje? Ela é imprescindível, pois tudo é política e depende da política. Não se enganem os que dizem não se interessar por ela. A omissão também é uma política. E das mais prejudiciais à saúde da República.
JOSÉ RENATO NALINI - é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
VALDEREZ DE MELLO - EVASÃO ESCOLAR

Qual o motivo da evasão escolar? Vamos nos reportar para as escolas dos anos dourados, décadas de 60 e 70: alvas cortinas nas janelas, carteiras de madeira maciça, assoalho encerado e luminoso, banheiros higienizados, jardins bem cuidados e grandes relógios nas paredes das classes a marcar a preciosidade do tempo. A escola oferecia ambiente acolhedor, impregnado de ordem e respeito. Hora para entrar, hora para sair, uniformes limpos, adquiridos pelos pais e muita disciplina. A escola pública não oferecia merenda. As refeições eram feitas em casa junto à família. Crianças órfãs moravam em orfanatos e frequentavam a escola normalmente.
Notável era a postura dos educadores, bem trajados, com excelente remuneração, sequer precisavam de apostilas para dar conta do recado, tinham capacidade para ensinar apenas com uma lousa, um giz e um apagador, pois o conhecimento já era inquilino de suas mentes. Hoje tudo mudou: liberdade em excesso, falta de limites, professores humilhados e sem autoridade. A modernidade levou a culpa pela ineficiência, assim como os valores que deveriam nortear o coração do homem, se evadiram. A educação perdeu o rumo e hoje temos a ”escola” transformada em instituição social de amparo aos órfãos de pais vivos, lutando para substituir a esfarelada instituição familiar.
Nos anos dourados, todos terminavam o curso com merecido diploma e consistente bagagem de conhecimentos, aptos para o mercado de trabalho, pois trabalhar até então, era ato de nobreza. Os estudantes conheciam geografia, história, ciências, matemática, português, francês, inglês, canto, estudos sociais. Localizar os países do mundo e suas capitais, saber cantar o Hino Nacional era obrigação e ponto de honra para todos. Escreviam com perfeição com letra cursiva, ou seja a letra de mão e sabiam fazer com segurança um bilhete, uma carta e até requerimentos. A principal diferença do ontem para hoje é a importância dada para a escola pública. Ontem considerada a mais eficiente e eficaz pois primava pela excelência e exigia o máximo dos alunos, não o mínimo. Boas maneiras? Eram trazidas de casa! Havia sério compromisso entre a escola e a família: formar um verdadeiro e responsável cidadão. Hoje, comprovado está que, após uma década de permanência na escola, o jovem sai sem instrução, sem educação e sem rumo. Para evitar a evasão escolar basta resgatar a família, onde a mãe volte a ser mãe, o pai volte a ser pai. Ao governo basta governar, para que a escola resgate a eficácia e eficiência!
VALDEREZ DE MELLO,é Advogada,Professora, Pedagoga e Psicopedagoga. Autora dos livros infantis: O Besourinho Edgard; O Grilinho Zebedeu; Sabidal, o Pardal Cantor; Kiko, o anjinho sem asas; Renata, a lagarta muito chata e Amarildo, o pulgão distraído!
FELIPE AQUINO - A ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ADOLECÊNCIA

Ensinemos aos jovens o autocontrole de suas paixões
A orientação sexual na adolescência ganha cada vez mais importância. Mais do que transmitir que sexo por sexo é fuga e sexo com consciência é amor, discutir as formas de relacionamento entre adolescentes é também uma das grandes preocupações da sociedade. Causa estranheza observar o descaso e o desrespeito com que o assunto ainda é tratado. Nem é preciso ser um especialista para perceber a discrepância das atitudes.

A sociedade vem se preocupando em proporcionar segurança e liberdade sexual para os adolescentes, mas não consegue orientar adequadamente os representantes do futuro da nação sobre o assunto. Isso sem contar a forma com que o tema é tratado na mídia, principalmente em novelas, filmes nacionais e em programas de auditório. Sem contar que, associada à distribuição gratuita dos preservativos e da abortiva “pílula do dia seguinte”, a liberdade de atos sexuais entre adolescentes torna-se cada vez mais normal, como um incentivo à promiscuidade.
O ser humano não deve ser considerado apenas como um corpo. Sua alma necessita de afago. A simples promoção de sexo acintoso, sem responsabilidade e sem compromisso, também incita consequências trágicas como milhões de meninas gerando filhos, sendo violentadas, prostituindo-se à beira das estradas, crianças abandonadas por pais e mães despreparados para formar uma família e postadas em faróis à procura do sustento de cada dia. É claro, quem planta vento colhe tempestades.

Leia também: Namoro e Sexo
“Liberdade” sexual
Juventude, tempo de crescer
Qual a vontade de Deus para os jovens?
Por que o sexo só no casamento?
A moral e a ética exigem que ensinemos aos jovens o autocontrole de suas paixões intensas. Que devem vencer a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis com atos responsáveis e não pelo uso da camisinha. João Paulo II assim se expressou sobre a camisinha: “Além de o uso de preservativos não ser 100% seguro, liberar o seu uso convida a um comportamento sexual incompatível com a dignidade humana […]. O uso da chamada camisinha acaba estimulando, queiramos ou não, uma prática desenfreada do sexo […]. O preservativo oferece uma falsa ideia de segurança e não preserva o fundamental”.

Devemos incentivar a formação de famílias com conceitos, raízes e sentimentos puros e morais. Conservadora ou não, a família é o sustento do espírito e a fonte de conforto nos anseios individuais.
A sociedade, de maneira geral, deve ter mais cuidado com o que simplesmente “controla a transmissão de doenças e evita filhos indesejados”. Ela deve transmitir princípios e valores por intermédio da orientação, em busca do resgate das origens e do respeito à moral e à ética.
A satisfação do sexo não está restrita ao corpo, ela deve estar atrelada ao coração, espírito e mente.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
PAULO R. LABEGALINI - TRABALHO DE FORMIGUINHA

Escrevi em outro artigo que podemos aprender algumas lições com os animais. Entre muitas histórias que conheço, há uma da formiguinha que carregava uma enorme folha até o formigueiro. Enquanto as amigas transportavam rapidamente pequenos pedaços de alimentos, a formiguinha da folha grande mal conseguia prosseguir.
Acho que bastante gente já presenciou isso acontecendo; mas, o que levaria uma formiga tentar carregar um objeto com cerca de vinte vezes o seu tamanho? Certamente ela não pensou somente na sua sobrevivência, mas no sustento das demais companheiras.
E a história conta que quando ela estava quase chegando ao destino, passou um garoto correndo atrás da bola e pisou na formiguinha. Infelizmente, a coitadinha morreu e a folha não chegou ao formigueiro.
Bem, por se tratar de formiga, sei que o fato não ganha importância na vida de ninguém, mas se uma pombinha fosse morta por um tiro enquanto voava para levar comida aos filhotes no ninho, tocaria mais em nossos corações? Será que alguém pensa na morte dos inocentes filhotinhos quando faz isso?
Eu diria que a raça humana está se importando pouco com os animais e cada vez menos com sua própria qualidade de vida. Quem é muito rico, geralmente não reza e nem reparte os bens com o pobre; quem é pobre, muitas vezes cai em desespero, rouba e mata o próximo; e quem é de classe média, vive meio sem tempo, tentando melhorar de situação. É claro que isso não é regra, mas preste atenção nos noticiários da TV e conclua o quanto isso acontece.
O enfoque aqui não é a morte dos bichos, mas valorizar quem desempenha um trabalho de formiguinha na Igreja. O ‘agente formiguinha’ não procura carregar uma grande sobrecarga de trabalho nas costas, desenvolve atividades com o grupo, caminha na mesma direção dos outros e chega ao destino – no sacrário, onde está Jesus Cristo! Assim, corre menos risco de se perder ou de morrer no caminho – o trabalho de grupo é fundamental para o sucesso da missão!
Ao ver uma formiga caminhando sozinha, repare como parece que está desorientada. Se bloquearem o seu caminho, ela vai para outro lado, volta, segue para outra direção novamente, esbarra na parede... Se encontra alimento, passa por cima e continua mudando de rumo. De repente, alguém a avista e a mata!
No serviço de construção do Reino de Deus, lembre-se que o importante é estar sempre ajudando o grupo; portanto, não queira carregar muito peso nas costas ou realmente poderá ficar pelo caminho. Se precisar voar alto como uma pombinha, reze antes de decolar e, se algo ruim acontecer, Deus tomará conta de sua alma e de seus ‘filhotes’. Confie na providência Divina!
Em Lucas (21,12-19), estão estas palavras de Jesus: “Mas, antes de tudo, vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome. Assim, tereis ocasião de dar testemunho. Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários. Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão de causar a morte a alguns de vós e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. Pela vossa constância é que sereis salvos”.
Santo Agostinho comentou:
“O Senhor far-me-á sair da terra dos mortais, Ele que, por mim, se dignou aceitar esta terra dos mortais e morrer às mãos dos mortais. Escutemos, também nós, a voz do Senhor que das alturas nos exorta e nos consola; escutemos a voz daquele que temos por pai e por mãe. Porque Ele escutou os nossos gemidos, viu a nossa aflição e sondou os desejos do nosso coração. E enquanto completamos a nossa peregrinação neste mundo, Ele não recusará aquilo que prometeu. Ele disse-nos: Quem fez a promessa é todo-poderoso, verdadeiro e fiel. Espera no Senhor; sê forte e corajoso no teu coração. Não te deixes pois perturbar”.
E o agente formiguinha não se deixa perturbar: reza o terço, espera no Senhor, atende os chamados da comunidade para prestar alguma ajuda e faz caridade com amor no coração. O comprometido agente pombinha também possui um forte coração: vai buscar recursos em lugares distantes, tem uma visão panorâmica da situação e assume a responsabilidade por aqueles que confiam na sua missão.
Olhando a realidade que nos cerca notamos que o caos está presente. Qual é a nação que não experimenta a angústia ao presenciar tanta violência e tanto desrespeito pela vida do homem? Mas, o agente seguidor de Jesus Cristo não terá o que temer. Ah, é importante lembrar que no ninho das pombinhas sempre tem formigas também.
E você – leitor, leitora –, com qual das duas espécies se parece? Nem falei do bicho preguiça porque sei que não é o seu caso, certo?
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre
HUMBERTO PINHO DA SILVA - REGISTADORAS AVARIADAS...

Pertenço ao grupo de consumidores que sempre que adquire produto, solicita fatura.
Já o fazia mesmo quando a fazenda pública não distribuía prémios. Imperativos patrióticos – mas será que ainda há patriotismo? - assim me obrigava.
Não há país que progrida se cada cidadão sonega o que pode, para não pagar os devidos impostos.
Como muitos não cumprem seus deveres, o Estado – seja de direita ou esquerda, – sobrecarrega os trabalhadores de impostos e taxas.
Recordo, quando o sistema das finanças públicas não estava informatizado, muitos declaravam que não pagavam, porque havia sempre forma de escapulir.
Acontece que nos últimos tempos, quando vou solicitar a fatura, declaram-me que não a podem passar, porque a “máquina” estás avariada.
Claro que peço que seja fornecida em papel, mas como a maioria vira costas, o comerciante fica a ganhar por dois carrinhos.
A propósito do IVA poder descer para a restauração, contaram-me uma, que me fez pensar:
Como o industrial não vai baixar o preço nem aumentar o salário dos trabalhadores, com essa medida quem fica a ganhar é ele, e quem perde é o consumidor. Porque pagando o mesmo, pedindo fatura, vem a receber importância inferior à que teria direito; por conseguinte, vai abater menos no IRS.
Nunca me tinha lembrado disso! Ingenuamente pensava que era uma boa medida para todos! Afinal o único a beneficiar é o industrial! Nem o Estado lucra! …
Ainda tenho esperança – pois acredito que há comerciantes honestos – que o industrial baixe os preços. Acredito na concorrência, apesar de contestar que quando os preços sobem num estabelecimento, sobem em todos…Parece que combinam…
Tudo isto veio a propósito das registadoras. É pena que as “maquinetas” avariem tantas vezes. Infelizmente avariam…pelo menos nas últimas semanas de Agosto…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
PINHO DA SILVA - UM QUADRO

Vejo, enlevado, um quadro do meu lar;
É noite; recostada sobre o leito,
Nos lábios um sorriso satisfeito,
A mãe ajuda os filhos a estudar.
Contente, por ver certa desta vez
Uma conta difícil, o Bétinho,
Rindo, interrompe a mãe que, com carinho,
Explica ao Nélito o seu francês.
A rir à gargalhada entra a Maria:
- Posso entrar? Dá licença, minha tia?
Olhe, o que quer dizer banalidades?
(Porque há-de este “presente” ser “passado”?
Na moldura lilás duma saudade?)
Gaia, 3 de Julho de 1954
(Maria - Maria do Nascimento Borges Moura, sobrinha do autor. Nelíto e Bétinho, filhos.)
PINHO DA SILVA – (1915-1987) – Nasceu em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Frequentou o Colégio da Formiga, Ermesinde e a Escola de Belas Artes do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes e do mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia. Vilaflorense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal de Vila Flor.
Tem textos seus dispersos por várias publicações, entre elas: “O Comércio do Porto”, onde mantinha a coluna “ Apontamentos”, e no “Mundo Português”, do Rio de Janeiro, onde publicou as “ Crônicas Lusíadas”. Foi redator do “Jornal de Turismo”, membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, e secretário-geral da ACAP.