PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - FINADOS E ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A MORTE

 

        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Ando um pouco de banda/ é que carrego meus mortos comigo” (Carlos Drummond de Andrade). Hoje é o Dia de Finados, celebração que deveria motivar uma natural reverência aos entes queridos já ingressados no reino onde se findam todos os mistérios, como ressaltou o consagrado poeta. No entanto, costumamos a nos afastar de qualquer aspecto relacionado à nossa transitoriedade neste mundo, mesmo cientes da grande verdade: a morte faz parte da vida.

Tal desprezo se prende ao fato de que grande parte da sociedade, seja por interesses de ordem política, social ou econômica, seja por manifesto egoísmo ou insensibilidade, imunizou-se em relação aos seus efeitos. Efetivamente, ela se constitui num antídoto contra a alienação humana, uma denúncia violenta contra as ilusões e a busca de bens passageiros, propiciando a concepção de nossa finitude. Uma realidade concreta que faz parte indivisível da existência.

O que se observa hoje infelizmente é uma manifesta tendência de sua vulgarização e de inversão de padrões e preceitos, predominando um clima de indiferença e de relações individuais, onde os sujeitos passam a tratar os próximos como objetos. A máxima “rei morto, rei posto” vem se acentuado a cada dia e a preocupação básica das pessoas se volta exclusivamente ao apego e à ganância. Ignora-se quase totalmente a questão da efemeridade – um descaso injustificável, já que ela é absolutamente certa, embora insistamos em despistar esse acerto.

A solidez dessa situação, com um pouco de extremo, foi captada pelo consagrado poeta Jorge Luís Borges: “Há um verso de Verlaine, que nunca voltarei a recordar./ Há uma rua, próxima, que está vedada aos meus passos./ Há um espelho, que refletiu minha imagem pela última vez./ Há uma porta, que fechei até o fim do mundo./ Entre os livros de minha biblioteca (eu os vejo)./ Há alguns, que jamais abrirei de novo;/ Neste verão, farei cinquenta anos/ A morte me desgasta incessante...”.

E o pior: somos expostos a ela todos os dias das formas drásticas e mais violentas, através da mídia e de nosso entorno, mas ao mesmo tempo, esse processo de banalização permite que não nos confrontemos com o limite de nossa permanência na Terra. A morte é sempre a dos outros, ela fica longe da nossa realidade, nos bastidores. Isso tudo, resultado do domínio e predomínio do econômico e material na convivência social, em detrimento dos valores éticos, morais e espirituais. Tais constatações nos levam à triste conclusão de que a solidariedade está se exaurindo no ser humano, tanto na vida – Dom maior de Deus -, como no final desta.

Por isso, precisamos reverter o quadro sombrio que nos assola, revendo as posições assumidas diante do período de convivência terrestre e resgatando a ameaçada estrutura humanista. A efetivação deste último objetivo inclui a busca do bem comum, do pleno respeito à dignidade humana e da garantia dos direitos que daí decorre. A morte realmente é uma circunstância normal do ciclo vital, que não devemos temer, ao contrário, necessitamos acolhê-la com serenidade, requerendo-se para tanto, empenho no progresso de conversão pessoal e no testemunho de realizações fraternas e solidárias. E não adianta recusarmos a sua ocorrência, nem tentar desmistificá-la, pois a nossa passagem por este planeta é breve e exata.

 

                           DIA DA CULTURA

 

Em homenagem a uma das mais brilhantes figuras brasileiras, RUI BARBOSA, comemora-se na próxima quarta-feira, 05 de novembro, data de seu nascimento, em 1849, na cidade de Salvador, Bahia, o DIA NACIONAL DA CULTURA, uma celebração de grande importância e que nos convida a uma reflexão sobre a questão cultural em nosso país. Desta forma, a sabedoria - concepção justa do sentido da vida - proporciona uma ideia geral do mundo, de Deus, do bem e do mal, da ciência, do homem, do conhecimento e da comunidade. Estas realidades deveriam ser mais desenvolvidas nos cidadãos, principalmente nos jovens, preparando melhor sua personalidade social através da consciência de valores, do cultivo da autonomia crítica e do sentido de responsabilidade, condições estas indispensáveis para o exercício da liberdade e da democracia.

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com).

 

 

 



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VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI - SENTENÇA DE MORTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

– Véi, sério, mano, tipo...

            E diante da minha cara de indignação, deram-me o benefício da legenda:

            – Isso foi uma sentença.

            Sim, disse eu, de morte! Da língua!

            – Tamu de férias, né.

            Em vista das circunstâncias, a única opção foi buscar e trazer à mesa o peixe. Por sorte (dele, inclusive) já estava morto, o que não o impediu de apresentar-se boquiaberto.

            Enfim, eu não era a única.

            – Posso abrir um refrigerante?

Engulo em seco, mas, depois, mergulho e lavo a alma num destoante copo de suco natural.

– ... é pra comemorar a última semana de férias, porque depois tudo volta ao normal e a gente tem que ser saudável de novo.

            Quando quase tudo parece perdido, arriscamos. Puxei da memória o vocabulário e gastei no idioma corrente: “véi, sério, mano, tipo”...

            Eles riram do meu desajeito.

            – Saúde não tira férias, gente. Tem que cuidar – falei.

            Algo como uma bomba veio explodir aqui, internamente, desafiando-me: “caramba, que chata você é, às vezes”.

            – Às vezes, defendi-me.

            Veio o flashback:

            “Ele não quer ler, Valquíria. De jeito nenhum. Diz que está de férias, e que leitura não tem diversão”.

            Ao ouvir a mãe que levara o filho a uma oficina de férias que tive o gosto de conduzir, provoquei o menino: e sabedoria lá tira férias, amigo? E quem foi que disse que ler não é divertido?

            Ao abraço que ganhei em resposta de seu filho, satisfeita com meu poder de persuasão, aquela mulher sorriu menos desesperada e um tanto mais prazerosamente.

            Ah... se ela me visse agora quando nossos papéis se assemelham... Como é desgastada a figura da mãe! No entanto, é inegável, que bênção é sê-lo.

            Meus filhos me enlouquecem para que eu perca a cabeça, mas nunca a fé.

            Fé em quê? Ou em quem? Perguntam-me vocês.

            Uso o último fôlego para, em minha defesa, dizer que isso, no mínimo, é material para outro artigo.

            Por ora, já me defendi demais da conta. É hora de baixar as armas, e, por que não, rezar: “Deus ilumine os meus filhos/ além da primeira idade!/ Há muito eu saí dos trilhos,/ e é um vau a maturidade./ Mas... quem diria que, nela,/ eu seria este alfarrábio?/ Envelhecida e amarela/ a tinta escorre do lábio.”.

 

 

 

 

VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI   -    escritora e poetisa,  vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br



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RENATA IACOVINO - ENCONTROS E REENCONTROS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

         

 

 

 

 

 

 

 

   "(...) Eu só não consigo escapar/do movimento frenético da vida,/pois, se os passarinhos/não bicam o tempo todo/a delícia das frutas/é porque, vez por outra,/brigam por elas/com bicadas muito semelhantes/a estas que a vida me dá...".

            Foi pensando nesse frenético movimento da vida que me veio à lembrança estes versos da poeta e amiga Valquíria Gesqui Malagoli. Lá fui eu resgatá-los de seu livro OciosoCio, de 2011, muito embora este poema - Livre - tenha sido escrito pelos idos de 2006.

            A sensação que ela me tem provocado - a vida - também me carregou a uma música de Milton Nascimento e Fernando Brant, da qual destaco este fragmento: "São só dois lados/Da mesma viagem/O trem que chega/É o mesmo trem da partida/A hora do encontro/É também despedida/A plataforma dessa estação/É a vida desse meu lugar".

            E tantas perguntas vêm-me à mente...

            Ando reencontrando pessoas que não imaginava mais rever... Ando me despedindo sem despedidas de tantas outras... Ando encontrando pela primeira vez algumas outras que pareço já ter conhecido, sem conhecer...

            O nascer e o renascer de encontros quase sempre nos enchem de novidades e é como se nos renovássemos e descobríssemos novos de nós mesmos. Ou até nem novos, mas adormecidos. Adormecidos nós.

            Adormecidos nós que aos poucos se desatam.

            Reviver pessoas ou conhecê-las (e reconhecê-las) é algo como possibilitar a existência de mais uma face. É descobrir-se vivo.

            Por outro lado, tenho perdido muitos entes queridos, seja de forma física ou não. Isto também é descobrir-se vivo.

            A urgência da vida parece estar presente nas perdas e ganhos.

            Pois do todo complexo, acabamos por abstrair o essencial.

            Ou como diz a letra de uma das faixas de nosso mais recente CD, escrita por Valquíria, a certa altura: "Eterna esperança/Não pessoa qualquer/Vive morre vira lembrança/Plural homem mulher/Pessoa comum", em resumo, sinto que a síntese de nós, aqui de passagem, no frenético movimento da vida, é viver, morrer e virar lembrança. Afinal, somos pessoas comuns em todo nosso potencial diferencial.

            Resta-nos saber, sempre, onde reside essa lembrança...

            E isto também me fez recordar de um trecho de Eclipse, de Valquíria: "(...) A gente se vê/Por aí a qualquer hora./O tempo inexiste/E pra quem nisso crê/Tudo é sem demora/Que importa que diste?".

 

 

 

RENATA IACOVINO, escritora, poeta e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - PEQUENAS CRIATURAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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   Às vezes, aqui em São Paulo, penso que não existem mais sapos e outras criaturinhas.  Nascida no interior do estado, cresci acostumada ao convívio com anfíbios, pequenos répteis e uma imensa gama de insetos. Infelizmente, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, essa fauna pequenina é essencial para manutenção do equilíbrio ecológico e a ausência deles nos meios urbanos não é bom sinal...

            Lembro-me de que era comum que sapos aparecessem em volta das casas e embora desde sempre tenha existido pessoas más ou ignorantes, em geral os sapos e rãs não eram alvo costumeiro da ação humana. As lagartixas, por sua vez, também costumavam e ainda costumam passar ilesas, correndo pelas paredes das casas como se fossem jacarés em miniatura, caçadoras vorazes de aranhas, moscas, pernilongos e outros insetos. Mesmo elas, contudo, não tenho visto na mesma frequência ou quantidade de alguns bons anos atrás.

            As cobras, ao contrário, permanecem como vítimas do desconhecimento humanos e uma vez avistadas, são vistas como ameaças e, não raras vezes, mortas de modo cruel e totalmente desnecessário. Por certo que muitas cobras são perigosas, sobretudo pelo veneno capaz de matar em poucos minutos. O fato é que nem todas as cobras são venenosas ou perigosas para os seres humanos e, alimentando-se de pequenos roedores, também possuem importante papel na cadeia alimentar e na saúde da natureza.

            Quando se fala da proteção aos animais, ordinariamente pensamos em cães e gatos, mas para além deles há ainda a necessária proteção para os animais nos quais quase ninguém presta atenção e que são responsáveis pelo controle de pragas que acabam vitimando os próprios seres humanos, entre outras coisas. E ainda que não fosse pelo bem que podem garantir à humanidade, há que se levar em conta que a grande parte deles morre por conta da pura, simples e lamentável falta de informação das pessoas.

            Entre a ignorância e a falta de piedade pelas demais formas de vida, os seres humanos seguem destruindo vidas de criaturas incapazes de lhes fazer mal. Esquecidos de que fomos nós que invadimos seus habitats, agimos como se fossem apenas meros estornos ou acessórios dos quais é possível se desfazer sem qualquer espécie de juízo de valor ou ponderação.

            Muitas vezes eu me pego pensando em como esse mundo em que vivemos está cada vez mais populoso e cada vez menos habitável. Derrubamos florestas, secamos, poluímos e canalizamos rios. Expulsamos a vida que se manifesta nas pequenas criaturas e culpamos políticos e “os outros” por todas as nossas mazelas, sequer nos dando conta de que temos parte importante no desastroso destino que temos preparado para natureza.

            Nas noites da cidade grande não há mais o coaxar dos sapos dentro da noite que chega, tampouco temos brejos e rios nos quais as rãs possam se refugiar. Acredito, piamente, que um dia, a prosseguirmos como estamos, sentiremos saudades do tempo no qual os animais e os seres humanos dividiam espaços com um mínimo de respeito mútuo e no qual era possível ter esperança de não sermos as próximas vítimas de nossa própria ganância e indiferença...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:17
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - CORDÃO UMBILICAL AZUL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 


As histórias, do centro e da periferia, que relato nas crônicas, são chamas de vela que iluminam os labirintos de meu ser, ampliam meu conhecimento de humanidade e me ajudam a não encolher as batidas do coração.
A moça, conheci nas beiradas da cidade grande, aos 14 anos, grávida de quatro meses do primeiro filho. Trouxe-a para as cantigas de ninar de minha alma. Nessa idade tenra, surgem perguntas sobre conhecimentos e desconhecimentos que levam uma menina a engravidar tão cedo. Sou avessa a palpites e “interrogatórios” que nada acrescentam e, em casos como esse, opto por aplaudir a vida que se desenvolve nas entranhas maternas e dizer de carinho às mãezinhas assustadas com o novo em seu corpo despreparado. É evidente que sou favorável às orientações, principalmente pela família, sobre as consequências da gravidez na adolescência; orientações que incluam a importância do pudor e do exercício de renúncia aos impulsos e a determinados prazeres, com o propósito de um ideal maior, em um relacionamento que não seja de uso e abuso, de consumo que descarta “bagaços” nas sarjetas, de sopro que acaba em instantes.
Ouvi sobre o bebê durante cinco meses e o acompanhei através das ecografias e “nados’ que esbarravam na barriga. A adolescente o aguardou no último mês entre meiguice e medo da hora do parto. E os temores, já no hospital, despertaram os seus fantasmas antigos. Quem não tem fantasmas adormecidos-acordados ou acordados-adormecidos? A toda instante, pedia, aos que a acompanhavam, que me ligassem para relatar o que estava acontecendo: pouca dilatação e inúmeros espasmos. Desejava que a socorresse. Sem o que fazer, falava dela com Deus e insistia. A criança, depois de 12 horas, nasceu saudável e ela passou bem.
Nove anos após, há um mês, nasceu-lhe uma filha. Reside agora em outro Estado. Apesar da distância, fez-me de proximidade, desde que soube que a bebê a habitava. Foram 36 horas de espera na maternidade. Enviava-me mensagens, via WhatsApp, inserindo-me no acelerado das expectativas.  Trocamos mensagens até que silenciou. Duas horas mais tarde, a foto da pequenina. Que encanto!
Compreendi que, embora não seja mãe biológica, tenho com algumas pessoas um cordão umbilical azul. Que coisa boa experimentar essa sensação de fortalecer a espera de quem desembarca na luz! Coisas do Céu!

 

 

 

 


 MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 10:16
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Domingo, 25 de Outubro de 2015
JOSÉ RENATO NALINI - A JUSTIÇA NÃO É CEGA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Se fosse cega, não precisaria de venda para impedir seus olhos de escolher, de preferir, de cultivar empatias. A Justiça não é surda. Ouve o clamor do povo, sequioso por eliminar as injustiças. A Justiça não é tetraplégica, nem paraplégica, nem ostenta deficiência alguma. Ela é combalida, isto sim, porque não tem por ela o olhar de interesse e de afeição da comunidade. Os índices de avaliação do Poder Judiciário no Brasil não são os mais favoráveis. Mas por um paradoxo, desse tão brasileiros, cada vez mais se procura pela Justiça. Mesmo sabendo que a opção por um processo significa um treino de infinita paciência. Pois é infinita a duração de uma ação judicial no sistema brasileiro.

De tanto apreço ao duplo grau de jurisdição, nós temos quatro. Tudo começa com um juiz, que deveria dizer a melhor justiça e a questão terminar aí. Mas as pessoas querem que o Tribunal também se manifeste. Não satisfeitos com a resposta do colegiado, fazem o processo subir até o STJ – Superior Tribunal de Justiça, o “Tribunal da Cidadania“. E como a nossa Constituição “Cidadã” cuida de tudo, não é difícil fazer com que o processo ainda chegue ao STF – Supremo Tribunal Federal.

Essa caminhada dura de 10 a 20 anos, a depender do talento do profissional e de sua estratégia para se valer de uma arena de astúcias em que se transformou a ciência processual, quando alguém quer deixar de honrar seus compromissos, cumprir suas obrigações ou responder pelo mal causado.

Ainda não se fez a profunda reforma estrutural da Justiça brasileira, nem se vislumbra condição para fazê-la. Há muitos interessados em que ela não funcione. Seja uma instância simbólica, avalista da Democracia. Afinal, se existe juiz em cada cidade, para receber as demandas, isso é sinal de que o Brasil é um Estado de Direito de índole democrática.

Talvez a crise, ao forçar uma revisão de todas as instituições e a mostrar que dinheiro não cai do céu e quando ele falta é preciso reinventar a roda, traga ao povo brasileiro a oportunidade de refletir sobre sua Justiça, que gostaria de ser repensada. Isso não faria mal à fustigada República, fértil seara dos malfeitos e da politicagem.

 

 

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 22/10/2015

 

 


JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:59
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FELIPE AQUINO - QUAL É A NOSSA MISSÃO ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu, você e todos os cristãos temos um chamado especial de Deus

 

 

Você já parou para pensar para que servem os balões? Eles com suas diferentes cores e tamanhos, ornamentam festas, alegram o ambiente, divertem as crianças, chamam atenção daqueles que olham, enfeitam o mundo. Muito bem! No entanto, eles só conseguem fazer tudo isso se estiverem cheios. Para que servem balões vazios? Não servem para nada, não têm vida, não tem beleza, não alegram, vão para o lixo.

 

 

E os cristãos? Para que servem os cristãos?

 

 

Deus, para salvar a cada um de nós, enviou seu Filho e Seu Filho enviou a Igreja, isto é, os Apóstolos e seus sucessores (cf. Mt 10, 16ss; Jo 20,21-23), com a missão de espalhar a Boa Nova do Reino de Deus pelo mundo. A missão dos apóstolos, e de todos nós que aderimos a Cristo, é continuar sua missão nesta terra. Que missão! Difícil, árdua, mas muito bela; levar cada pessoa viver no Reino de Deus; reino de paz, de amor, de verdade, de justiça e de liberdade. Levar as pessoas a um dia viver eternamente com Deus no Céu. São Paulo disse que “olhos humanos jamais viram, ouvidos humanos jamais ouviram, e coração humano jamais sentiu o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. (1 Cor 2,9; Is 64,4).

A Didaquê, um documento cristão do primeiro século, dizia que: “Aquilo que a nossa alma é para o corpo, os cristãos são para o mundo”. Sem a alma o corpo não tem vida, sem os cristãos o mundo não tem vida. Por isso Jesus disse: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13). “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14). A luz do cristão, que é a Luz de Cristo, ilumina este mundo de trevas do pecado: ódio, ganância, brigas, mortes, roubos, adultérios, vanglórias, exibicionismos, orgias, comilanças, bebedeiras…

É o sal que dá sabor ao alimento e que o conserva. Só Cristo conserva a vida com sabor e com integridade. E Ele quer que os cristãos sejam os portadores e irradiadores dessa luz que ilumina as trevas e esse sal que dá sabor e vida.

Mas, para continuar a missão de Cristo, é necessário sermos semelhantes a Ele. Ele deixou claro que sem Ele não podemos fazer nada (cf. João 15,5). Por isso, o cristão só poderá ser o sal da terra e a luz do mundo se estiver repleto de Cristo. São Paulo era um gigante evangelizador porque tinha consciência de que não era ele quem vivia, mas que “Cristo vivia nele”, e lhe dava força e coragem de enfrentar muitas viagens, perseguições, açoites, prisões, etc..

E quem nos faz semelhantes a Cristo, repletos de Cristo, portadores de Cristo, é o Espírito Santo. 

 

 

 

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Leia também: A vocação dos leigos

Dia mundial das missões

O grande mês das missões

É preciso trabalhar pelo Reino de Deus

Outubro: Mês das Missões, dedicado também a Virgem Maria

Como os leigos podem ajudar na construção do Reino de Deus?

 

 

O Espírito de Jesus habita em nós para fazer-nos imagens de Jesus; esta é a vontade do Pai, que cada um de nós seja uma réplica de seu amado Jesus. E quem faz isso é o Espírito Santo. Ele nos leva a atingir o estado de homem perfeito, a estatura e maturidade de Cristo” (Ef 4,13). Os cristãos precisam estar cheios do Espírito Santo. O que podem fazer cristãos vazios? Cristãos vazios são como balões vazios! Não podem fazer nada.

Continuar a missão de Cristo aqui na terra é algo muito sério. Embora, muitos não sejam conscientes disso, todos são chamados. O parágrafo 900 do Catecismo da Igreja Católica deixa bem claro que:

“Uma vez que, como todos os fiéis, os leigos são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, eles têm a obrigação e gozam do direito, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente por meio deles que os homens podem ouvir o evangelho e conhecer a Cristo.”

Os leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja, no mundo secular e precisam ter uma consciência clara, não somente de pertencerem à Igreja, mas de “serem” Igreja.

O leigo tem como vocação própria, estabelecer o Reino de Deus exercendo funções no mundo, no trabalho, na cultura, na política, etc., ordenando-as segundo o Plano e a vontade de Deus. Cristo os chama a ser “sal da terra e luz do mundo”. O leigo chega aonde o sacerdote não chega. Ele deve levar a luz de Cristo aos ambientes de trevas, de pecado, de injustiça, de violência, etc.. Assim, no mundo do trabalho, levando tudo a Deus, o leigo contribui para o louvor do Criador, se santifica e santifica o trabalho. Ele constrói o mundo pelo labor, e assim coloca na obra de Deus a sua assinatura. Torna-se co-criador com Deus.

O Concílio Vaticano II resgatou a atividade do leigo na Igreja: “Os leigos que forem capazes e que se formarem para isto podem também dar sua colaboração na formação catequética, no ensino das ciências sagradas e atuar nos meios de comunicação social” (Cat. n.906).

O Código de Direito Canônico dá ao leigo o direito e o dever de dar a sua opinião aos pastores:

“De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, têm o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, deem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis. (Cat. 907; Cânon 212,3).

                                                                     apostolado

Para ser firme no cumprimento de sua missão de batizado e missionário, o leigo precisa ter uma vida espiritual sadia. O Papa João Paulo II disse um dia que: “A eficácia do trabalho apostólico do fiel leigo está intimamente associada à sua base espiritual, à sua vida de oração pessoal e comunitária, à frequência na recepção dos Sacramentos, sobretudo a Eucaristia e a Penitência e à sua reta formação doutrinária.”

Sem isso, não podemos ser repletos do Espírito Santo e de agir pelo poder de Cristo em nós. O leigo que não reza, não se Confessa, não Comunga, não lê e não medita a Palavra de Deus, não tem perseverança na missão, e como acontece com muitos sacerdotes também, acaba sendo afastado dela.

Mais do que nunca a Igreja precisa hoje dos leigos no campo de batalha do mundo; pois hoje ela é magoada, ofendida, perseguida e tida por muitos como a culpada de todos os males. Uma escala de valores pagã tenta insistentemente substituir a civilização cristã por uma cultura de morte (aborto, eutanásia, destruição de embriões, suicídio assistido…); e Deus vai sendo expulso da sociedade como se fosse um mal, e a religião católica vai sendo atacada por um laicismo agressivo anticristão. Nossa missão hoje, mais do que nunca, é pelo poder do Espírito Santo, sermos testemunhas de Jesus Cristo; e mostrar o mundo que sem Ele não há salvação eterna e nem felicidade terrena.

 

 

 

FELIPE AQUINO Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:39
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PAULO R. LABEGALINI - AONDE IREMOS NÓS ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No século XVII, Jesus apareceu a uma jovem para transmitir sua mensagem. Nascida na França, Margarida Maria teve uma infância sofrida, pois era órfã de pai e, muito nova, pegou uma estranha doença que só a deixou depois de fazer voto à Santíssima Virgem e ser uma de suas filhas religiosas. Começou, então, adorar o Santíssimo Sacramento e ter revelações divinas: “Eis aqui o Coração que tanto amou os homens, até se esgotar e consumir para testemunhar-lhe seu amor e, em troca, não recebe da maior parte senão ingratidões, friezas e desprezos”.

As muitas mensagens insistiram num maior amor à comunhão nas primeiras sextas-feiras do mês e à hora santa em reparação dos pecados da humanidade. A santa, portanto, recebeu a missão de espalhar pelo mundo a devoção ao Sagrado Coração, ofendido pela ingratidão dos homens. Foi perseguida, tachada de alucinada, até que a Providência colocou em seu caminho o jesuíta São Cláudio La Colombière, que lhe deu orientação e conseguiu fazer com que sua mensagem começasse a ser vista com outros olhos.

Pouco a pouco, essa mensagem foi se impondo e espalhou por toda a Igreja. O Papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus e Pio XIII recomendou esta devoção. Santa Margarida Maria faleceu aos 43 anos e foi canonizada em 1920.

Eis as promessas que recebeu de Jesus e que encantam a todos quando cantamos nas missas:

1. Darei às almas dedicadas a meu Coração, todas as graças necessárias à sua vida;

2. trarei e conservarei a paz em suas famílias;

3. consolá-los-ei em todas as suas aflições;

4. ser-lhes-ei refúgio na vida e principalmente na morte;

5. lançarei bênçãos abundantes sobre os seus empreendimentos;

6. os pecadores acharão em meu Coração a fonte de misericórdias;

7. as almas indecisas tornar-se-ão fervorosas;

8. as almas fervorosas elevar-se-ão a uma alta perfeição;

9. a minha bênção pousará sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem do meu Sagrado Coração;

10. darei aos sacerdotes o poder de tocar os corações mais endurecidos;

11. as pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre em meu Coração; e

12. a todos que comungarem nas primeiras sextas-feiras, em nove meses seguidos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

Hoje, infelizmente, poucos propagam estas promessas. Se, ao menos, os mais pecadores confiassem no Sagrado Coração, com certeza iriam recebendo graças maiores a cada dia até se tornarem fervorosos devotos. E uma devoção fiel nos leva a expor a imagem de Jesus em lugar de destaque no nosso lar.

Eu O mantenho ao lado do Imaculado Coração de Maria no móvel mais visível da sala de entrada do meu apartamento, porém, ao lado, fica a televisão que transmite as maiores crueldades de todos os tempos. O respeito pela vida do próximo já deixou de ser prioridade; a violência das armas mata inocentes em plena luz do dia; a integridade moral dos governantes não pode ser levada a sério; enfim, o amor está escasso na raça humana!

Aonde iremos nós?

Ninguém garante que a camada de ozônio irá nos proteger por mais alguns séculos, nem é possível afirmar que teremos água potável em abundância nas futuras gerações e, muito menos, que os grupos armados serão controlados nos próximos anos! Se não confiarmos na providência Divina, que esperança nos resta?

Somente a fé nos coloca em sintonia com Deus, nos livra dos piores pecados, nos mantém esperançosos em dias melhores, recompõe em nós a paz de espírito e nos ajuda a caminhar com dignidade cristã para um mundo melhor. Sem fé e obras de caridade, nada disso é possível.

Ainda bem que nem tudo é tristeza nos fatos cotidianos. Tanto na televisão quanto na internet, rolam coisas bonitas que nos fazem crescer na fé. Leia este parágrafo abaixo:

Não espere um sorriso para ser gentil; não espere ser amado para amar; não espere ficar sozinho para reconhecer o valor de um amigo; não espere o melhor emprego para começar a trabalhar; não espere ter muito para partilhar; não espere a queda para lembrar de um bom conselho; não espere a dor para acreditar na oração; não espere ter tempo para poder servir; não espere a mágoa do outro para pedir perdão; nem espere a separação para se reconciliar. Não espere, porque você não sabe quanto tempo tem.

Linda orientação, não? Mas precisamos lembrar que algumas pessoas colocam todas as suas esperanças em coisas passageiras e vivem se frustrando. Na Sagrada Escritura, Jeremias diz o quanto é bendito o homem que confia no Senhor; Paulo afirma que quem está com Cristo nada precisa temer; Lucas comprova que até no sofrimento é possível ser feliz quando fugimos do pecado e colocamos a nossa esperança em Deus. Portanto, estes são os caminhos abençoados que devemos seguir hoje e sempre.

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.

 



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HUMBERTO PINHO DA SILVA - PERDER A FÉ NA MISSA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nicola Bux, é professor de Liturgia Oriental e Teologia Sacramental, na Faculdade Teológica de Bari – Itália.

Segundo ele, a celebração eucarística, nas nossas igrejas, tornou-se cansativa e rotineira. Falta-lhes beleza e principalmente explicação do “ que acontece lá”.

Os fiéis vão à missa, por obrigação ou dever, mas (a maioria) não sabe o que é a celebração eucarística, para poder participar e compreender.

É natural que jovens, e não só, fujam de ir ao culto, aos domingos, porque, e cito Bux, ficam “enfastiados da missa”.

As leituras, por vezes, são extensas, as homilias herméticas, incompressíveis para a maioria dos crentes.

Recordo, que estando em Roma, no convento anexo à Basílica de Santo António, frade, que vivia no Brasil, falou-me da proliferação das seitas, que arrebanham milhares, transformando os templos em verdadeiros hipermercados de bênçãos.

Interroguei o motivo de tão vertiginosa expansão, quando a sociedade parece ter-se tornado agnóstica.

Explicou-me que se deve ao facto dos pastores falarem-lhes em termos comuns, ilustrando as homilias com casos da vida real e quotidiana.

Quando o sacerdote quer mostrar erudição ou na prática, enreda, não expondo a doutrina com palavras que os ouvintes compreendam, a missa torna-se enfadonha e os crentes saem em jejum.

No livro que Nicola Bux publicou: “ Como Ir à Missa Sem Perder a Fé” – editado por Piemme (Milão), aborda também os símbolos e gestos litúrgicos, que não sendo devidamente explicados, são incompreendidos pela assembleia.

Já que poucos comparecem à catequese de adultos, nem participam em movimentos ou associações religiosas, parece-me que seria prudente, que no início da missa, o sacerdote tivesse pequena palestra (conversa) sobre cristianismo: o que é e o que significa a celebração eucarística.

Ideal seria que fosse acompanhado de folhas volantes, distribuídas ou colocada numa mesinha, à entrada. Certa vez, alguém, sugeriu que cada Igreja, cada pároco, tivesse site ou página numa rede social – só de uso dos aderentes ao grupo – onde abordasse temas religiosos.

Deste modo podia haver conhecimento melhor dos membros que frequentam o templo.

Não digo tanto; mas pelo menos pequenina explicação, no início da missa, parece-me útil e extremamente necessário.

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA  -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 19:18
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EUCLIDES CAVACO - A FAMÍLIA
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma avaliação poética desta força maior que é a FAMÍLIA que poderão ver n neste link:
 
 

http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Familia/index.htm
 
 


Desejos duma maravilhosa semana para todos e suas famílias.
 
 
 
 
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
 
 
 
 
 
 
***
 
 
 
 
Foto de Cristina Andrade.
 
 
 
 
 

 

BAZAR DE SEMINOVOS (ROUPAS, SAPATOS, BOLSAS, BIJUTERIAS) DA MAGDALA NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA. POR FAVOR, COMPARTILHEM.

 

Dia: 28 de outubro(quarta-feira).

Horário: das 9h00 às 17h30.

Local: Rua Bela Vista, 280 (centro) – próximo ao Terminal Central. Descendo a rua do Correio, segunda à esquerda.

As peças terão o preço único de R$ 2,00 (dois reais) e o valor será utilizado na Festa de Natal, que inclui, além das integrantes, seus filhos e netos.

Contando sempre com seu apoio, agradecemos.

“O amor fraterno é o testemunho, mais próximo, que nós podemos dar de que Jesus está vivo conosco, de que Jesus ressuscitou.”
(Papa Francisco )

 

 

 

***

 

 



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Terça-feira, 20 de Outubro de 2015
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - PAIS E MESTRES

 

 

 

 

 

 

 

Cinthya Nunes Vieira da Silva.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

            Muitas das minhas mais remotas lembranças remetem à escola. Filha de professores, eu frequentava esse ambiente desde muito pequena, na companhia deles, fosse para ficar sentada na sala de aula ou fosse para estar nas festividades como quermesses e festas juninas. Quando chegou a minha vez de estudar, era um ambiente já um tanto familiar e eu agradeço por me sentir assim, pois de lá até hoje eu praticamente vivi toda minha vida ligada à educação.

            Profissionalmente, embora advogada, acabei enveredando pelo magistério jurídico, ao que me dedico até hoje. Olhando para trás eu fico pensando que era algo meio inevitável mesmo. Hoje, contudo, entendo porque um professor se aposenta mais cedo. Ensinar é um sacerdócio, é prazeroso, é algo que faço com amor, mas é exaustivo. Quando um professor se dedica verdadeiramente, dar aulas é muito mais do que simplesmente expor a matéria ou corrigir provas. Quando um professor é vocacionado, ele se importa verdadeiramente se os alunos estão aprendendo ou não e isso requer muita dedicação e múltiplos esforços.

            Particularmente, fico frustrada quando percebo que algo que acabei de explicar não conseguiu fazer o caminho certo entre o aluno e eu. Com a prática, é possível perceber isso pelos olhares, pela linguagem corporal. Não consigo simplesmente não me importar, como se não ter entendido fosse um problema dele e não meu. Repenso instantaneamente as estratégias e explico a matéria novamente, incorporando exemplos e buscando mais clareza ou mais simplicidade, somente parando quando percebo que alcancei meus objetivos e ao final disso, estou exausta.

            Nesses momentos, penso invariavelmente nos meus pais e em como eles também chegavam ao final de uma semana de trabalho verdadeiramente extenuados. Tantas coisas me veem à mente nessas horas, tais como a importância desse profissional que é o formador de todas as formações, que é o responsável por preparar gerações de futuros eleitores, de políticos, de policiais e até mesmo de presidentes, entre outras tantas profissões e funções. Daí que é impossível não ficar revoltada com o descaso com que a educação, de um modo geral, é tratada nesse país.

            Sempre soube através de pessoas sérias e competentes que a educação é o único meio eficiente de transformar a realidade das coisas. Só um povo educado é capaz de tomar, se não decisões certas, mas conscientes. E desde sempre, ao contrário, tudo o que vejo é a educação cada vez mais sendo massa de manobra eleitoral e sendo tratada como área de menor importância. Na rede pública sobretudo, no ensino fundamental e médio, com louváveis exceções, professores são mal remunerados, as salas de aula caem aos pedaços ou não possuem estrutura adequada e o que deveria ser prioridade para um país, vira tristeza. Isso quando não envolve os escabrosos casos de desvio de verbas destinadas a merenda escolar e ao material didático.

            Quando vejo notícias como a daquela prefeita que ostentava carros de altíssimo padrão e torrava dinheiro que não pertencia a ela, enquanto as crianças estudavam em chão de terra batido, coberto com lona e sem merenda escolar, eu chego a pensar que não há saída, que estamos perdidos.

            O magistério que escolhi ainda vive outra realidade, pois o ensino particular superior ainda tem reservas de qualidade, mas ainda assim já se vive a realidade do aluno consumidor, aquele que quer ter razão mesmo quando não tem e isso também exaure, também desanima em alguns momentos. Os professores que educam as crianças, no entanto, é que deveriam ser os mais valorizados, pois isso atrairia somente gente vocacionada e as afastaria ou desalentaria, como em vários casos acontece.

            Não sei se é verdade, mas li que, no Japão, o único que não precisa se curvar na presença do imperador é o professor, em sinal de respeito e consideração a tão fundamental profissão. Olho para os professores que conheço e vejo pessoas honradas, com amor por educar, que dão tudo de si e mais um pouco, gente com brilho nos olhos e um imenso desejo no coração. A despeito de todas as dificuldades, eles não querem que nada do “imperador”, mas apenas que seus alunos sejam o melhor que podem ser. Feliz Dia dos professores para aqueles que amam o que fazem e aprendem o que ensinam!

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.

 

 



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JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - MULHERES E A PLENA INCLUSÃO SOCIAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Constituição brasileira de 1824 já dispunha sobre a igualdade de todos perante a lei e a de 1934 vetava expressamente distinções e privilégios por motivo de sexo. No entanto a realidade das mulheres, na prática, era bem distinta. Alvo de inúmeros preconceitos e discriminações impostos pelas sociedades patriarcais, em cada período da História elas lutaram em todo o mundo, algumas até com a própria vida, na busca pela efetivação de seus direitos.

            Tanto que a própria origem do Dia Internacional da Mulher é trágica. Em 1857, no dia oito de março, algumas operárias de uma fábrica em Nova York reivindicaram por dez horas de trabalho por dia, já que a jornada era de dezesseis e por aumento de salário, pois percebiam apenas um terço do masculino. Elas foram fechadas dentro do prédio onde se encontravam e sobre o qual foi  ateado fogo. Morreram cento e trinta funcionárias, que se constituíram nas primeiras mártires das causas feministas. Em 1903 surgiu a Liga das Mulheres Trabalhadoras, também nos EUA e em 1910, elas realizaram uma marcha trazendo aos braços “Pão e Rosas”, símbolo do trabalho e do sexo. Sete anos depois, numa conferência em Estocolmo, nasceu esta data comemorativa em homenagem a todas aquelas que se sacrificaram por um futuro melhor, ressaltando-se que no ano que vem a celebração atingirá o seu centenário.      

            A legislação brasileira ainda demorou um longo período de tempo para se adequar aos preceitos constitucionais. Basta verificar que somente em 2001, o Código Civil  Brasileiro deixou de atribuir ao marido uma suposta chefia da “sociedade conjugal”, o que permitia a ele, entre outras coisas, o direito de autorizar a profissão da mulher. Exemplo de uma situação hoje superada, mas que dá a medida do que se infligia ao sexo feminino.

            Atualmente, com a Lei Maria da Penha, já se computam inúmeras conquistas. Mas a trajetória ainda é manifestamente longa para que a isonomia entre os sexos se consagre em todos os setores. O que antes parecia protesto isolado e passageiro se transformou em consciência coletiva das suas necessidades de plena inclusão social. A mulher saiu às ruas para reivindicar respeito, reconhecimento e oportunidades iguais, passando a acreditar em sua capacidade de organização e os êxitos obtidos, a tornou mais convicta de suas aspirações.

Há ainda importantes questões a serem resolvidas, como as grandes diferenças de salários em relação aos homens e a baixa representatividade das mulheres na vida política e administrativa do país. Mas ela sabe que um dia conseguirá viver numa sociedade fundada na consideração entre segmentos diferenciados de sua população. Afinal, diferenças não podem ser identificadas como desigualdades. Elas servem, na verdade, como pontes para o diálogo entre compreensões distintas do mundo e jamais deveriam estar colocadas em pratos opostos de uma balança.

Essas  observações são destacadas  com a proximidade  do Dia Internacional Contra a Exploração da Mulher, instituído a vinte e cinco  de outubro pela ONU (Organização das Nações Unidas). A data foi escolhida para ser um momento de reflexão, já que  as diferenças sociais entre mulheres e homens são grandes, sendo que estes ainda levam vantagens injustificadas em muitos aspectos.

Precisamos mais do que nunca refletir sobre um novo conceito de feminino e masculino – aquela definição correta e justa de mulher e homem como integrantes de um mesmo ser, construtores de uma mesma obra no projeto divino. Àqueles que se conscientizam desse papel harmonioso, porque duplo e único ao mesmo tempo, hão de renunciar aos preconceitos e ao desrespeito ao principio da igualdade. Entendem a função que devem representar no plano de Deus, que os criou como parceiros, à sua semelhança para participarem juntos, de mãos dadas e sem opressão de um sobre o outro, da construção de um mundo novo.

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com).

 



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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - MONUMENTOS E DOCUMENTOS HISTÓRICOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na linguagem popular corrente, utiliza-se a palavra monumento para designar estátuas, lápides, edificações de natureza diversa destinadas a perpetuar a memória de alguém ou de alguma coisa. A noção de monumento, pois, está quase indissociavelmente ligada à ideia de um objeto material intencionalmente feito ou preservado “ad perpetuam rei memoriam” - para a perpétua memória da coisa, como se dizia em latim. Ainda na linguagem corrente do português falado em nossos dias, pode-se usar, por extensão, a palavra monumento para designar alguma obra que, pela sua grandiosidade, mereça ter a memória perpetuada. Assim, pode-se dizer que “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, constituem um verdadeiro monumento da Literatura brasileira.

Etimologicamente, porém, se recuarmos até a forma latina monumentum, o sentido é bem mais amplo. Monumento significa “tudo o que lembra alguém ou alguma coisa, o que perpetua uma recordação, qualquer monumento comemorativo”, mas significa também “monumentos escritos, marca, sinal por onde se pode fazer um reconhecimento, uma identificação” (Machado, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Confluência/Livros Horizonte, 1967, t. II, p. 604, verbete Monumento).

Na historiografia moderna, geralmente se associam, mas se distinguem os conceitos de monumento e de documento. Jacques Le Goff propôs, em História e Memória (Campinas: Editora Unicamp, 5ª. ed, 2003), essa distinção terminológica e conceitual que, embora não constitua unanimidade e possa, até mesmo, ser objetável, tornou-se corrente entre os historiadores. Para Le Goff, monumento é tudo quanto resta do passado; e documento é o monumento que o historiador seleciona para seu trabalho. Todo documento é, pois, monumento, mas nem todo monumento é documento. São suas palavras:

“A memória coletiva e a sua forma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos. De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que ope­ram no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores. Estes materiais da memória podem apresentar-se sob duas for­mas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador” (op. cit., pp. 525-526).

Para se entender o fundamento da distinção proposta por Le Goff, devemos analisar a etimologia dos dois termos, monumento e documento, considerar que, no passado, os sentidos até certo ponto se confundiam. Documento provém do verbo latino docere, ensinar. Documento é, pois, sinônimo de ensinamento. O ensinamento pode ser escrito, pode ser oral e pode também ser simbólico, sem necessariamente se exprimir em linguagem escrita ou falada. O verdadeiro sentido da palavra documento, pois, vai muito além do significado estrito de documento escrito, como entendiam os historiadores positivistas do século XIX (que supervalorizavam o documento escrito e oficial) e como o linguajar popular corrente consagrou.

A proposta de Le Goff é, de certa forma, voltar ao sentido mais próximo do original dos termos e designar como monumento tudo quanto se herdou do passado, em sentido muito amplo e abrangente. E considerar como documento aquilo que o historiador escolhe para seu trabalho historiográfico, de acordo com sua criteriologia e sua respectiva escala de valores. Le Goff restringe, pois, o sentido da palavra documento. Um escrito do passado que tenha chegado até nós, ainda que perfeitamente preservado, é um monumento e não é, por si mesmo, um documento; somente será documento se for selecionado e utilizado por um historiador. Essa distinção tem algo de arbitrário e, portanto, algo de objetável, mas sem dúvida é muito clara, didática e funcional, adequando-se perfeitamente às necessidades terminológicas dos historiadores. Acabou por se impor. 

Acrescento que documentos não são necessariamente materiais. Podem também ser imateriais, quando não se materializam, não se corporificam. Um exemplo, entre muitos outros: a existência comprovada, entre os índios brasileiros, de uma versão do mito do dilúvio universal, com Tamandaré (o “Noé” dos Tupi), é algo imaterial. Mas pode ser selecionado como documento, por um historiador que relacione esse mito com mitos análogos provenientes de outras partes do mundo, com relatos bíblicos, com fontes mesopotâmicas (como a saga de Gilgamesh) etc., com vistas a sustentar uma eventual tese sobre a remota origem dos índios brasileiros.

Por fim, nem sempre os documentos são voluntários. Há também documentos involuntários. Alguém pode querer deixar sua marca na história, perenizando uma lembrança. É o caso, por exemplo, de um homem primitivo que tenha pintado, na parede de uma caverna, uma cena de caça ou de luta. Esse mesmo homem pode, também, deixar involuntariamente sua marca na história, se abandonar restos de comida ou um vaso de barro quebrado. Esse “lixo” pré-histórico, analisado com cuidado, revela uma imensidade de coisas acerca da vida de nossos ancestrais. É tipicamente um documento involuntário.

Mesmo documentos escritos podem, contrario sensu, revelar involuntariamente o que não foi intencionalmente escrito. Certas omissões intencionais são muito reveladoras. Le Goff se estende, na obra citada, sobre os cuidados que o historiador deve tomar para não se limitar à letra do texto em si, exclusivamente, como propunham os positivistas, mas saber ir além do texto, inserindo-o num contexto, problematizando-o, interrogando o que nele não está dito e questionando o que nele está dito. Tudo isso constitui tarefa dos historiadores. É o que torna delicioso o nosso ofício.

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS , é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.



publicado por Luso-brasileiro às 10:58
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