O projeto de lei do Estatuto da Família foi aprovado em uma comissão especial da Câmara Federal? Qual é a sua função? O projeto de lei 6583/13, é um conjunto de 15 artigos que “institui o Estatuto da Família e dispõe sobre os direitos da família, e as diretrizes das políticas públicas voltadas para valorização e apoiamento à entidade familiar”.
O Projeto apresenta no artigo 2º, a definição de família: “define-se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.
Isto está de acordo com o que reza a Constituição Federal de 1988, mas vai de encontro a uma decisão absurda do Supremo Tribunal Federal brasileiro de 2011; pois, o art. 266 da Constituição reconhece “a união estável entre o homem e a mulher” e “a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes” como família. A regulamentação do artigo, sancionada em 1996, manteve os termos.
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No entanto, em 2011, de maneira incoerente, violando inclusive as atribuições do Congresso Nacional, os ministros do STF reconheceram por unanimidade a união entre pessoas do mesmo sexo como família, igualando direitos e deveres de casais heterossexuais e homossexuais. E, em 2013, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) regulamentou a união homo afetiva por meio de resolução que obriga os cartórios a realizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Foi uma violência contra a Constituição e um desrespeito ao povo brasileiro, especialmente contra os cristãos.
O que o Estatuto aprovado na Comissão da Câmara Federal dispõe, é que não se pode dar direitos ligais de família a uma entidade que não seja família, de acordo com o que diz o artigo 226 da Constituição; por exemplo, o direito a licença-maternidade, pensão, INSS.
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O que você faz para defender sua família?
Para se tornar lei, o Estatuto da Família ainda precisa percorrer um longo caminho, e por isso é preciso que os cristãos se mobilizem em defesa de aprovação do Estatuto. A proposta foi aprovada por uma comissão especial da Câmara Federal, mas os deputados ainda precisam avaliar quatro destaques para só então a matéria ser encaminhada ao plenário da Casa. Ainda não há previsão para isso ser feito.
Se não for aprovado pela maioria no plenário, a matéria é arquivada. Caso contrário, segue apara apreciação do Senado, que, se propuser mudanças, obriga a volta do estatuto para votação na Câmara.
Após ser aprovado no Senado e, se for o caso, novamente na Câmara, o projeto será analisado pela presidente Dilma Rousseff (PT), que pode sancionar e transformar em lei ou vetar a proposta parcial ou totalmente. Nos últimos dois casos, a proposta volta para o Congresso, para ser analisado em sessão conjunta entre Câmara dos Deputados e Senado Federal, que tomarão a decisão final.
Depois que se tornar lei, o estatuto ainda terá de enfrentar uma batalha no STF, que, se for provocado, vai avaliar a inconstitucionalidade da matéria já que, em 2011, o tribunal reconheceu a igualdade de direitos e deveres entre casais do mesmo sexo ou de sexo diferentes.
Deus criou a família como a união de um homem com uma mulher. “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada” (Gen 2,18). Depois de ter criado a mulher “da costela do homem” (v. 21), a levou para ele. Este, ao vê-la, suspirou de alegria: “Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne da minha carne; ela se chamará mulher…” (v. 23). “O homem deixa a casa do seu pai, se une a sua mulher, e serei um só carne” (Gen 2,24). Esse era o plano de Deus quando “criou o homem… criou-o homem e mulher” (Gen 1,27).
Outras entidades são “família alternativa”, podem até receber um nome, mas que não seja “família” e que pretenda ter os direitos legais da família; não tem a bênção do Criador. Deus disse ao casal: “Crescei, multiplicai, e dominai a terra” (Gen 1,28). Como um par de pessoas do mesmo sexo pode se multiplicar? A humanidade existe e subsiste por que a família nasce de um homem unido a uma mulher.
O nosso Catecismo diz que a família é “a célula originária da vida social”. “É a sociedade natural na qual o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida”. (n. 2207).
Jesus repetiu aos fariseus e doutores da lei: “Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só carne?” (Mt 19,6). Tudo isto mostra como Deus está implicado nesta união absoluta do homem com a mulher, de onde vai surgir, então, a família. Por isso não há poder humano que possa eliminar o que Deus estabeleceu. E cabe a todo cristão lutar junto aos deputados e senadores para que a lei de Deus não seja calçada aos pés pela Nação.
“Feliz a Nação cujo Deus é o Senhor!”
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
Algumas graças que recebemos de Deus são tão maravilhosas que às vezes chego a pensar:
– Será que as merecemos? Até quando Ele nos dará novas oportunidades para nos arrependermos dos pecados e pararmos de ofendê-Lo? Por que não abrimos diariamente a Bíblia e constatamos a declaração de amor eterno Dele por nós?
Numa manhã de quarta-feira, 13 de setembro de 1999, encontrei o amigo Juarez na farmácia e conversamos sobre o Terço dos Homens daquela noite. Ele me disse que iria fazer o possível para comparecer porque não participava há algum tempo daquele lindo momento de oração. Eu lhe respondi que talvez não fosse estar presente porque estava meio incomodado com pedras nos rins.
Nenhum dos dois apareceu na Capela de Nossa Senhora da Agonia naquela noite, mas, uma semana depois, nos encontramos lá antes do santo Terço e cada um com uma graça para contar. Disse-me ele que, há uma semana atrás, acabou não vindo rezar porque ficou sabendo da morte de um tio e precisou viajar.
Na viagem, chegando à noite e com chuva na Avenida Marginal de São Paulo, o para-brisa do carro deixou de funcionar. Depois de andarem muito no meio do trânsito, ele e a esposa começaram a se apavorar ao perceberem que haviam passado a saída da BR 116 - que entrariam – e já estavam na via Castelo Branco – com o primeiro retorno a 20 quilômetros adiante!
Foi quando ele parou o carro e disse à Nossa Senhora: ‘Se a Senhora me ajudar a sair dessa, eu prometo que nunca mais falto no Terço.’ Assim que fez o pedido, o para-brisa voltou a funcionar e não enguiçou mais até o seu destino! Um relato maravilhoso, não?
De minha parte, eu disse a ele que, através de uma urografia excretora, havia sido confirmadas quatro grandes pedras no meu rim direito e, naquele dia em que conversávamos – uma semana após o primeiro exame –, eu havia me submetido a uma ultrassonografia e... apenas uma pedra minúscula estava no rim!
Segundo o médico urologista que me atendeu, foi espantoso as pedras terem sido eliminadas sem que eu tivesse tido pelo menos um pouco de dor. Como realmente eu não senti nada, sei que – mais uma vez! – fui abençoado por Nossa Senhora, que pediu a Jesus que me curasse.
É por esta e outras que continuo me esforçando para ser digno de tantas graças que recebo em família. Talvez um dia eu deixe de questionar:
– Será mesmo que as merecemos?
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.
Tenho um amigo que é escritor. Bem: não é propriamente escritor, mas cronista. Rabisca artigos no jornal da terra onde nasceu. É homem simples, humilde, mas de grande valor. Escreve com graça e a prosa é de leveza encantadora.
Todos o gabam. Quando visita a cidade natal é recebido com efusivos abraços. Batem-lhe nas costas com entusiasmo e dizem alegremente: - “És um grande jornalista! Não sei onde vais buscar tantas coisas! …"
Meu amigo alegra-se com tantos elogios. É o médico, o jurista, o professor…até o doutor juiz gaba-lhe o talento…
Uma tarde de Maio, já o Sol escondia-se no horizonte, ensanguentando o mar azul, encontrei-o à beira-mar lendo livro de capa negra e folhas doiradas. Era uma Bíblia…
Sentei-me a seu lado. Depôs o livro na mesa da cafetaria, e enquanto louvava-lhe os curiosos artigos, o Alfredo (assim se chama o meu amigo,) declarou-me:
- "Sou um escrevedor! Escrevo para entreter. Nada me dá mais prazer do que passar para o papel branco o que penso…"
Como lhe recordasse o interessante e erudito artigo sobre Molière, respondeu-me de olhos baixos e ar tristonho:
- "O que me desgosta é o facto de minha mulher não me apoiar. Já não digo incentivar. Nunca lê o que escrevo e a cada passo diz: “ - Estás sempre de esferográfica na mão! … Ainda se te pagassem…” E meus filhos fazem o mesmo…"
Como lhe dissesse, para animar, que não é por mal. São jovens… Não compreendem…
Vagueou os olhos pela praia deserta, e prosseguiu:
- "Outro dia, artigo que publiquei, foi transcrito por matutino da Capital. Fiquei como um cuco. Logo mostrei a minha mulher e aos filhos. Ela olhou e disse: “ - Está bem…” e continuou no maneio da casa; meus filhos voltando-se para mim, disseram com indiferença: “ Parabéns! …” e saíram discutindo o último jogo da “Selecção”…"
Ao retirar-me, avizinharam-se uns homens, que o cumprimentaram cordialmente, convidando-o para passeio higiénico na praia.
- "Homem, deixa-te de livros! …Letras são tretas! Vive! Passeia! Diverte-te! A vida são dois dias…e este já está na conta! Isso até te faz mal à vista! …Vem viver! …"
Como o Alfredo, muitos artistas de valor, lamentam-se que os piores leitores e ouvintes, são os familiares e amigos – os que repartem a mesma sala, o mesmo quarto de banho, a mesma casa…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Mais um indelével poema sobre o Outono , cujas folhas metaforicamente se comparam à nossa breve passagem terrena.
Veja o poema formatado em PS, aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Folhas_de_Outono/index.htm
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
No meu último artigo, referi de memória um pensamento lapidar do Prof. Arno Wehling. Um aluno gostou muito da passagem e pediu a referência exata. Como pode interessar a outros leitores, começo por ela. Trata-se de discurso proferido em janeiro de 1996, quando pela primeira vez tomou posse na presidência do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Falando da “experiência histórica das sociedades do século XX, traumatizadas pelos exclusivismos totalitários”, assim se exprimiu o orador:
“Se o Primeiro Mundo perseguiu o ideal da liberdade e o Segundo o da igualdade, nenhum preocupou-se seriamente com o terceiro elemento do mote revolucionário, remetido para o reino das utopias de melhora do gênero humano. O máximo de fraternidade atingido pelo Primeiro Mundo foi a tolerância, nunca a aceitação; o máximo de fraternidade admitido pelo Segundo foi a coletivização, nunca a equidade. E, com isso, foram perseguidos, exilados, marginalizados, silenciados ou mortos os diferentes, aqueles que, como diz Kant a propósito dos iluministas, tiveram a coragem de viver de acordo com seu próprio entendimento” (De formigas, aranhas e abelhas - Reflexões sobre o IHGB. Rio: IHGB, 2010, p. 18).
Dizer que o sistema político partidário brasileiro é defeituoso e distorcido é quase um truísmo, quase uma banalidade. As críticas ao sistema partidário da república brasileira são muitas. Não cabe, aqui, elencar todas, mas algumas merecem registro.
Uma crítica pertinente, que faz Maria do Carmo Campello de Souza, (que estudou especificamente, em “Estados e Partidos Políticos no Brasil”, o período 1930-1964, mas faz observações que têm aplicabilidade a toda a nossa história republicana) é que, no Brasil, o Estado sempre exerceu, sobre os partidos, um papel fortemente condicionante, de modo que, em termos um tanto simplificados, se pode dizer que é o Estado que modela os partidos, ao invés de estes modelarem, como é sua missão precípua, o Estado. Em outras palavras, a existência e o funcionamento dos partidos vêm de cima para baixo, ao invés de seguir o que seria seu caminho natural, das bases para as cúpulas.
Outra crítica frequentemente repetida - e sem dúvida verdadeira - é que falta aos partidos políticos conteúdo programático e ideológico claro. De fato, com raríssimas exceções, nossos partidos sempre foram muito mais de pessoas - e, portanto, de interesses pessoais - do que de ideias. Isso já era assim, em certa medida, no tempo do Império. Conservadores e liberais tinham, até com muita clareza, seus ideários próprios. Mas, quando subiam ao governo, o fato é que os liberais faziam governos de cunho conservador, e quase todas as medidas de cunho liberalizantes adotadas no Império (inclusive as leis antiescravistas) foram iniciativas de gabinetes conservadores. “Nada se assemelha tanto a um saquarema quanto um luzia no poder”...
No período republicano, quase invariavelmente os partidos propugnaram mais por interesses do que por ideias. São tantos e tantos os exemplos que seria impossível sequer relacioná-los. É mais fácil apontar algumas das poucas exceções.
O caso mais característico de partido com programa e ideologia claros foi o do velho PCB em suas primeiras fases de existência. Outro, característico, mas com brevíssima existência, foi seu contraponto, o partido integralista, fechado pelo Estado Novo getulista quase simultaneamente com o PCB. Outra exceção, também brevíssima, poderia talvez ser apontada na primeira tentativa de organização de um Partido Democrata-Cristão, intentada no final dos anos 40 pelo prof. Antonio Cesarino Júnior, da USP. Foi flor de pouca duração. O PDC que, de fato, firmou-se e chegou ao poder com Jânio Quadros já era bem diferente. Havia esquecido seu ideário original e havia se adaptado ao sistema político-partidário.
No passado, cabe ainda fazer referência a uma organização política que não era propriamente um partido, mas que atuava no campo específico da política partidária, a Liga Eleitoral Católica-LEC, organizada como grupo de pressão muito atuante na Constituinte de 1933-34 e, de modo bem menos marcante, na de 1946. Sem dúvida, foi uma exceção à regra geral.
Não quero entrar aqui na análise da política brasileira atual. Apenas registro que os dois principais partidos, o PSDB e o PT são, ambos, criticados, cada qual de um lado, por adversários que os acusam precisamente de terem esquecido seus ideários programáticos iniciais. Na realidade, o que se vê no Brasil é que aqui se pode aplicar à letra a crítica ferina que fez, aos partidos ideológicos em geral, o clássico Robert Michels em “Sociologia dos Partidos Políticos”: todos começam ideológicos e acabam, mais cedo ou mais tarde, se integrando num sistema em que, acima de tudo, prevalecem os interesses pessoais e de grupos econômicos.
Para usar a terminologia de Max Weber que, em “A Política como vocação”, tipifica os partidos em partidos de patronagem e partidos ideológicos, diremos que os do segundo tipo, mais cedo ou mais tarde, tendem a se transformar em partidos do primeiro tipo, cujo único objetivo é tomar o poder e manter-se nele tanto quanto possam, em benefício de vantagem para seus membros e bases eleitorais, mais do que do interesse coletivo ou da observância de uma coerência política.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
O poeta Thiago de Mello, em um de seus brilhantes trabalhos, lembra que os anos da infância se constituem numa época inesquecível, onde o coração ignora a maldade e o egoísmo, tornando a criança o símbolo do amor e da paz: “Na roda do mundo,/ mãos dadas aos homens,/ lá vai o menino/ rodando e cantando/ cantigas que façam/ o mundo mais manso,/ cantigas que façam/ a vida mais doce,/ cantigas que façam / os homens crianças”.
Atualmente, no entanto, o que os menores pedem é apenas o direito de serem como tais. Em todos os lugares, têm o mesmo anseio e uma necessidade básica: - viver com tranqüilidade esse tempo de encantamento. Com efeito, por uma série de circunstâncias estão privados de liberdade quando nesta fase, ir e vir se faz extremamente necessário.
A fragilidade da Segurança Pública impede de saírem como ocorria antigamente. Já não crescem brincando com os vizinhos nas ruas e não vêem os seus pais conversando sentados em cadeiras nas calçadas. Há uma grande ausência de afeto provocada pela cultura consumista. A necessidade desenfreada de obter recursos financeiros acaba dificultando a convivência, principalmente a familiar. Sentem, por isso, um clima de indiferença.
Suas distrações, muitas vezes, resumem-se a frias imagens de TV e dos computadores. Há os que são desprovidos das mínimas condições de dignidade, ou seja, alimentação, habitação, lazer e educação. Falta-lhes em muitos casos, respeito à própria integridade física ou a sua situação como seres humanos.
“Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais” – diz o poema da Casimiro de Abreu, retratando a importância deste período na vida de cada cidadão. Toda criança precisa hoje é de muita atenção do Estado, da família e da sociedade – determinação contida na própria Constituição Federal do Brasil - e tempo para se divertir sadiamente. É preciso que os adultos retomem os sentimentos puros da infância, conscientizem destes aspectos, procurando construir um mundo melhor para abrigar os futuros homens de amanhã. Por ocasião do Dia das Crianças, doze de outubro, vale afirmar que o maior desafio ao nosso tempo é formar menores felizes, que se tornarão também maiores felizes.
Estritamente ligada a essa situação, está a Educação de bom nível e a quinze de outubro, comemoramos o Dia do Professor. Nessa data, no ano de 1927, o imperador D. Pedro I assinou a Lei Nacional, aprovada pelo Legislativo, instituindo no Brasil a instrução primária (ou das primeiras letras, como então se denominava), pública e gratuita, em todas as províncias do Império. Um diploma legal que chegou tarde, pois, paradoxalmente, ao se criar o ensino fundamental já estava funcionando o superior desde 11 de agosto do mesmo ano, com os cursos jurídicos de São Paulo e Olinda - este último depois transferido para Recife.
Assim, na próxima quinta-feira serão prestadas sinceras homenagens ao compromisso profissional dos professores que, apesar das condições muitas vezes precárias, dos recursos limitados e da remuneração inadequada, ajudam o mundo a ir em frente. Vítimas do descaso e da insensatez de nossas autoridades, eles mantém o inquestionável papel de guardiões da ética, valor que os dignifica para exercerem o ofício de zelar pela integridade da consciência humana, apesar dos inúmeros obstáculos que lhe são impostos em nosso país.
E efetivamente, estamos diante de um insólito quadro. O professor só poderá desempenhar suas funções com resultados positivos, se lhe propiciarem condições adequadas de trabalho e remuneração, o que não ocorre em nosso país há muito tempo. Enquanto isso, o que ele precisa, no mínimo, é de respeito, o que também lhe tem sido negado com veemência. A título de homenagem invocamos a poetisa Cora Coralina, extraindo parte de um de seus trabalhos: “Professor, sois o sol da terra e a luz do mundo / Sem ti tudo seria baço e a terra escura...”.
12 de outubro - DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA
O culto à Nossa Senhora Aparecida, o mais importante símbolo religioso brasileiro, teve sua origem em 1717. Naquele ano, três pescadores descobriram no Rio Paraíba do Sul, em um local próximo à região da atual Aparecida (170 km a nordeste de São Paulo), uma imagem de cerca de 40 cm., de cor escura. Devido a seu aparecimento, considerado milagroso à época, a estátua negra de Virgem Maria logo recebeu um nome: Aparecida. A imagem ganhou força com o passar do tempo – primeiro, para os poucos pescadores a quem ela teria tornado a pesca abundante, em seguida, à comunidade local, até a inauguração em 1745, quando ocorreram as primeiras romarias.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com).
A senhorinha veio para a abertura da Feira da Amizade - 2015. Comentou: “Ficar sozinha em casa fazendo o quê? Além disso, pela idade, não pago mais ônibus e a entrada é gratuita”. Chegou logo às 18h00 com o propósito de observar o que havia. Parou primeiramente no “Jundiaí feito a mão” com suas variadas barracas de artesanato. Considera incrível como as pessoas têm a capacidade de transformar materiais menores ou maiores em beleza. Em seguida, dirigiu-se ao segundo pavilhão - Espaço da Solidariedade -, no qual infância, saudade e compaixão se confundem. Vivenciou a presença do “Mágico de Oz”. Quem busca o mundo do “Mágico de Oz” encontra o coração que bate, a coragem, o discernimento e o caminho de regresso para casa, conforme a Dorothy do conto do escritor norte-americano L. Frank Baum.
No segundo pavilhão, há um carrossel com cavalinhos, decorado com personagens de Walt Disney. Nele se encontram o Dumbo, Pato Donald, Mickey, Pateta e minhas lembranças. Upa, cavalinho! Gire como o mundo e, nos rodopios que a vida dá, desça e suba, me deixe no chão, acene em adeus, contudo retorne todas as vezes que eu necessitar das imagens ternas do passado, que assopram feridas do presente. Trouxe-me o circo da época das ruas de terra, das noites com pirilampos...
A matéria murcha, porém a alma, quando é grande, recupera a meninice e oferece vigor aos sonhos além do tempo. Upa, cavalinho! Gire como o mundo e, nos rodopios que a vida dá, não se esqueça da Estação da Primavera. Na Feira há cercas pintadas de branco com borboletas e pássaros, há espaço de arte e florestas habitadas por elefantes, tigres, girafas... Há flores, inúmeras flores.
Foi no segundo pavilhão, a desconhecidos do estande da Casa da Fonte - CSJ, que a senhorinha contou a respeito de seu encanto, dentre tantos desapontamentos: topou, na entrada, com o irmão que não via há 16 anos. “Ele se desviou pelas trevas”, me disse. Os laços da família se afrouxaram e o perderam de vista. Reconheceram-se no pulsar do sangue. Abraçaram-se e choraram juntos. Pela claridade, está de volta, no sabor do espírito do evento: exercício do bem.
“Quer conhecer um lugar encantado, cheio de alegria e bondade?” É a chamado da Feira.
Parabéns, sempre, Da. Mercedes Ladeira Marchi pela iniciativa. Parabéns, sempre, Margarete Geraldo Bigardi por retomar a Feira.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Considero que sempre fui alguém crente em Deus. Impossível, aos meus olhos, olhar esse mundo e não reconhece-Lo. Em tudo que vive, há um tanto de Deus, do Criador. Infelizmente muitas pessoas perderam a capacidade de olhar para o mundo com olhos de admiração, perdidos em dores que não desejaram ou procuraram, ou cegos pelas pequenas de tempos de consumo inconsciente e auto justificável.
Assim, embora eu creia, não sou exatamente uma pessoa religiosa. Há tempos deixei minha fé restrita aos meus atos e minhas orações. Confesso que não sou exatamente fã da religião institucionalizada. Contudo, fui criada basicamente sob os parâmetros do catolicismo e, assim, desde cedo conheci as histórias de alguns homens e mulheres que receberam o nome de Santos. E foi assim que eu conheci a história de São Francisco de Assis...
Foi empatia à primeira vista e à primeira leitura. Para mim, só a devoção e o respeito pelos animais já seria o suficiente, dispensando qualquer milagre. Ainda na infância, aprendi a oração de São Francisco e, dentro da compreensão que me era dado ter, desejava viver sob aquelas premissas. Hoje, adulta, embora sabia que nem sempre é fácil fazê-lo, reverencio ainda mais tais mandamentos, tais proposituras para vida.
O amor de São Francisco pelos animais, longe de qualquer outra coisa, serve-me de inspiração para a concretização de um mundo melhor para tudo o que vive. Não sou uma especialista e nem uma estudiosa da vida do Santo, mas gosto de pensar nele como ser humano, dono de um amor generoso e imenso. Assim como ele, tenho acompanhado as lutas e as ações de homens e mulheres que dedicam esforços, dinheiro, amor e tempo para transformar a infeliz realidade que alcança e condena tantos animais. Incansáveis, seguem fazendo seu trabalho de formigas, salvando vidas e redimindo parte da maldade humana.
Como escrevi no início desse texto, se creio em Deus pelo que vejo do mundo, fica bem difícil, olhando para o mesmo lugar, não crer no Mal. Tristemente, o mesmo Mal que vitima seres humanos inocentes, vitima os sempre inocentes animais. Particularmente, todo Mal que vejo feito aos animais e às crianças corta minha alma em mil pedaços e tira parte da minha esperança de que o Bem prevaleça.
Nessa semana vi uma notícia de uma gambá que apareceu em um condomínio. Sem dó ou piedade, as pessoas a atacaram a pauladas e a deixaram agonizando, à beira da morte, ao relento. Uma pessoa que não era ignorante e vil como os demais, comovida, recolheu o pobre animal e descobriu que era uma fêmea e que carregava 8 filhotes na sua bolsa, marsupial que é.
Sem forças para se mexer, o animal deitou-se de barriga para baixo, protegendo os filhotes do frio. Relutante, a mãezinha apenas deixou que os filhotes fossem retira-los dela quando se deu conta de que não estava novamente à mercê da maldade. Cambaleante, foi até o colo daquela que tentou, de todas as forma, salvá-la, e lá entregou a Deus as forças que lhe sobravam. Morreu tentando proteger os filhos, como qualquer mãe que se preze e muito melhor do que muitas mães humanas.
Os filhotes foram entregues à Polícia Ambiental e tudo que espero é que possam ter alguma chance de vida, de uma vida mais digna do que aquela que os humanos relegaram à mãe deles. Nessas horas, sinto-me inútil, incapaz de fazer a minha parte, para somar uma gota às forças do Bem. Dói em mim a impotência de não ser exemplo, de não ser ação, de não honrar, como acho que deveria, o nome do Santo que tanto me inspirou e inspira...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
Canadense, Lucia ouve o CD do Castelo Rá-Tim-Bum, sem nunca ter visto episódios nem conhecer os personagens...
Desavisadamente, enquanto colhíamos cranberries para a sobremesa do jantar, cantarolei a canção-tema do Dr. Abobrinha.
– Não, tia, não canta essa; eu tenho medo! Disse-me com seu sotaquezinho lindo, tapando os ouvidos com as mãozinhas.
– Ah, sorry, queridinha. Você tem medo, é? Ah, se você soubesse...
– O quê? O quê?
– Que ele não é bravo nada. Na verdade, sempre se dá mal.
– Então, me conta tudo, tia; eu quero saber.
Após narrativas de altos e baixos literais (brincávamos na cama elástica), ela já ria do hit até há pouco temido.
Ops... Mas, não é que comemos, distraídas, as frutinhas no papo vai papo vem?!
Obrigamo-nos a nova e produtiva colheita, antes que levássemos bronca.
E no novo papo vai, papo vem, vem ela: “tia, você acredita em coisas mágicas?”.
– Tá brincando? Claro que sim!
– Jura?, disse quase incrédula. Eu também!, continuou. Acredito que elas acontecem enquanto a gente dorme. E depois a gente vai falling from the sky até acordar de vez. Tia, em quais mágicas você acredita?
– Ah, eu acredito na maior que existe, a Natureza. Olha só essas berries. Elas caem. Aí chove e faz sol, chove e faz sol, e pumba – quando a gente percebe, já tem outra planta e, nela, mais frutas...
Sombrancelhinhas levantadas.
– E no castelo, tia, você acredita?
– E como não? Se o Miguel e a Raquel assistiam da minha barriga, e hoje estão moços e o castelo continua lá!
Ela levou as mãozinhas à boca, insinuando guardar segredo.
À véspera de tornar ao Brasil, elucidou-se o que para minha cunhada fora um mistério no decurso daqueles dias: a filha não pedia mais para pular a tal faixa do CD “ha ha ha ha ha”.
Tendo o fato entrado para meu rol de histórias com finais felizes, alguém me elogia: “que tia especial você é mesmo. Que dom tem para lidar com as crianças!”.
Não!!! Foi a pequena Lucia (não Encerrabodes, mas que também adora a do Sítio do Pica-Pau Amarelo) que, puxando conversa fiada e não séria, me fez atentar para a verdade essencial das coisas. Essa, sim, é, portanto, a mais pura verdade.
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
O Brasil é o único País que comemora “redução do desmatamento” como se fora uma vitória. No ano passado, destruiu-se uma quantidade de árvores correspondente a quinhentos Maracanãs. Este ano, a destruição decresceu: foram apenas quatrocentos e noventa! Aleluia!
Não há inocentes nessa área nevrálgica e da qual depende a sobrevivência das futuras gerações. O governo desmata, o empresário desmata, o cidadão desmata e até o índio desmata. A PUC do Rio de Janeiro apurou que a devastação cresce na pequena escala. É o proprietário de um imóvel que usa a motosserra para acabar com as árvores que o “atrapalham”.
O desmatamento pulverizado é o maior atestado da ignorância do brasileiro. Mesmo na situação atual, em que ele sente a falta d‘água e se vê obrigado a restringir o consumo, continua a dizimar a natureza.
Para a crise que começou há vários anos, a solução a longo prazo é a restituição da mata ciliar. Aquela que, arrancada, faz minguar o curso d‘água. Mas fala-se em obras, fala-se em contingência e em aumento da tarifa. Não vejo um projeto de reposição da mata ciliar ou de restauração da enorme dimensão do sistema Cantareira que desapareceu diante da ganância e ignorância do mais nocivo animal que habita a Terra: o próprio homem.
As crianças deveriam ser lembradas, todos os dias, de que dependemos de água para viver. Deveriam ser incentivadas a formar mudas, a plantar árvores, a cuidar delas. A respeitar a água e a percorrer espaços em que ela ainda existe, para verificar o quão mais saudável é o ambiente quando esse líquido se faz presente.
Os pais deveriam acordar para a gravidade da situação e fazer um esforço para mudar seus hábitos. Adotar espaços ociosos perto da casa e chamar a comunidade para formar ali um bosque. Plantar uma árvore em frente de casa e mantê-la como tesouro incalculável. Mas o que se vê, ao menos em regra, é o pouco-caso, a insensibilidade, a indiferença.
Será que estamos mesmo tratando de uma espécie racional? Ou fomos todos acometidos de uma esquizofrenia suicida, que levará conosco todos os nossos descendentes?
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.
Sherlock Holmes e Dr. Watson foram acampar. Depois da refeição e de uma boa garrafa de vinho, deitaram-se para dormir na barraca. De madrugada, Holmes acordou e cutucou seu fiel amigo:
– Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê.
– Vejo milhares e milhares de estrelas.
– E o que isso significa?
Watson pondera por um minuto, depois responde:
– Astronomicamente, significa que há milhares de galáxias e bilhões de planetas. Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte. Temporalmente, deduzo que são aproximadamente 03h15min pela altura em que se encontra a Estrela Polar. Teologicamente, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes. Meteorologicamente, suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?
– Watson, seu idiota, significa apenas que alguém roubou nossa barraca!
Esta história serve para mostrar que a vida é simples, nós é que temos a mania de complicar. E a complicamos porque julgamos e tomamos decisões erradas. As melhores decisões ocorrem quando:
– temos suficiente conhecimento do assunto;
– possuímos experiência pertinente ao fato; e
– raciocinamos com equilíbrio e responsabilidade.
Ser o mesmo na alegria e tristeza, afeto e raiva, coragem e medo, não é fácil, mas necessário e fundamental àqueles que têm nas mãos o destino de outras pessoas. Alguns exemplos, reais ou não, às vezes falam mais alto em nossa memória do que a própria teoria pregada sobre o assunto. Eis um fato bíblico:
“Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: ‘Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso?’ Perguntavam-lhe isso a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. Como eles insistiam, ergueu-se e disse-lhes: ‘Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra’. Inclinando-se acusados pela própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele.” (Jo 8, 3-9)
Assim como este, a história nos tem mostrado um grande número de fatos retratando decisões acertadas, importantes e oportunas. Refletindo em cada caso, nossa conduta pessoal pode ser melhorada. Eis algumas conclusões que tiraram por nós:
Calar sobre sua própria pessoa, é humildade. Calar quando se vê o defeito do outro, é caridade. Calar quando a gente está sofrendo, é heroísmo. Calar diante do sofrimento alheio, é covardia. Calar diante da injustiça, é fraqueza. Calar quando o outro está falando, é delicadeza. Calar quando o outro espera uma palavra, é omissão. Calar e não falar palavras inúteis, é penitência. Calar quando não há necessidade de falar, é prudência. Calar quando Deus nos fala no coração, é silêncio. Calar diante do mistério que não entendemos, é sabedoria. Calar quando na escuridão da noite procuramos Deus e não o encontramos, é não saber procurar dentro do nosso coração. Ele sempre está conosco!
É muito simples entender que, até no silencio, a tomada de decisões é uma habilidade da mente humana que pode ser aprendida como qualquer outra habilidade; porém, a decisão do momento quase sempre depende da definição dada ao problema e do grau de risco assumido por quem a toma.
Há uma piada de um paraquedista que, não conseguindo fazer abrir o seu paraquedas durante um salto, pediu ajuda ao santo:
– Meu São Francisco, me ajude!
No mesmo instante em que uma mão lhe segurou no ar, ecoou uma voz perguntando:
– São Francisco de Assis ou de Paula?
O paraquedista aflito, apressadamente se decidiu:
– De Assis.
A mão que o segurava o soltou... e a voz lamentou:
– Sou ‘de Paula’.
Também em casos reais, muitas pessoas estão vivas graças às decisões acertadas que tomaram. Disse Santo Agostinho: “Deus não manda o impossível, mas, ao mandar, aconselha que faças o que podes e peças o que não podes”. E você, reza o suficiente para pedir ajuda a Jesus ou espera acontecer alguma complicação primeiro?
Fazemos escolhas desde que a gente se levanta até a hora de dormir. A gente escolhe esta ou aquela camisa, esta ou aquela calça, este ou aquele sapato... Na hora do almoço, escolhemos esta ou aquela comida, esta ou aquela bebida, doce ou frutas; porém, existem escolhas que são mais importantes do que o comer e o vestir.
Algumas escolhas se referem à religião, outras, ao tipo de vida – simples ou complicada –, e irão nos acompanhar para sempre. Em resumo, toda decisão depende de um sim ou não, contudo, o cuidado com que a tomamos determinará o nosso êxito – agora e na eternidade!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre
— O Paulinho virá nesta sexta-feira e vai ficar aqui em casa até domingo – disse-lhe a esposa. — Serão dois dias de curso.
O sobrinho do casal morava no interior e faria na capital um curso rápido de informática, pago pela empresa, para facilitar o desempenho no seu primeiro trabalho.
— Quer dizer então que ele tem esta tal baboseira de TOC? Cada coisa que essa juventude de hoje inventa... é falta do que fazer...
— Não caçoe – irrita-se a mulher. — O TOC é um distúrbio importante e sério que precisa de tratamento e ninguém tem isto porque quer ou porque gosta. Até você tem uns traços deste transtorno e vem falar dos outros... Ou acha que é normal comer exatamente 110 unidades de bolacha maria todo mês, divididas entre o café da manhã e da tarde, e somente nos dias em que trabalha? Pegue ali aquele livro de medicina, leia e deixe de ser ignorante, homem! – e a mulher sai pra cozinha, resmungando.
O homem, assim que ela fecha a porta, vai até a estante, volta para o sofá com o livro, procura o índice com a letra T e, à medida que vai lendo, preocupa-se. "Será que é assim mesmo? Então todos nós temos esse negócio, que se manifesta de várias formas? Todos, menos eu", pensa.
Sua esposa já havia explicado – mas ele nem lhe dera atenção – que o Paulinho tinha o exagerado hábito de arrumar as coisas, deixando os tênis (que limpava e relimpava à mínima sujeira) milimetricamente dispostos na sapateira, com os cadarços amarrados com as pontas exatamente do mesmo tamanho; as camisas e as calças no guarda-roupas também, se a mãe não as deixasse na ordem tamanho e de cores, lá ia ele reclamar depois de ajustá-las; a comida devia ser colocada no prato sempre do mesmo jeito: feijão deste lado, arroz daquele, carne neste canto... Estas eram algumas das diversas manifestações do TOC no rapaz, cujas “manias certinhas" a mãe via afetar seu relacionamento na escola, com os amigos, com a namorada... e agora provavelmente no trabalho. Ele também tinha pavor de cemitérios, mudava até seu percurso se houvesse um no seu caminho e, creiam, acreditava que sofreria um acidente se usasse roupas de cor verde (até as meias e cuecas que ficavam escondidas).
Estudos comprovam que a situação agrava-se quando o portador do TOC age com agressividade, partindo para o crime, o roubo, a violência, levado pelas imagens e desejos recorrentes, contra a sua vontade. Muitas vezes demora-se para perceber o TOC ou então nem se nota este mal, atribuindo o comportamento a outros distúrbios. O tratamento médico é imprescindível.
Naquele fim de semana o homem conversou bastante com o Paulinho, e olhava-o com a máxima atenção, sem contudo tocar no assunto do TOC com ele – seguindo recomendação da sua esposa. E então foi descobrindo que, só observando bem, é possível notar as características de quem passa por isto, afetando a pessoa até na forma de sentar, de falar, de se vestir.
"Ainda bem que estou livre disto", pensou quando ia dormir, depois de refletir bastante sobre o assunto. Dormiu, sonhou e despertou pensando no TOC.
Na segunda-feira o contador, que era encarregado do departamento financeiro de uma grande empresa, quando ia para o trabalho voltou do corredor do prédio e entrou no apartamento para conferir se havia desligado o ferro de passar; saiu depois de girar a chave na fechadura nos dois sentidos três vezes; retornou da porta da rua mais duas vezes, a primeira para se certificar de que apagara a chama do fogão depois de ter feito o café há mais de meia hora, a segunda para tirar de vez a dúvida sobre o ferro de passar.
Diante da demora do ônibus, ele impacienta-se. "O ônibus virá depois de passarem 20 carros... um, dois, três, quatro, cinco... vinte e quatro... epa!, perdi a conta, passei dos vinte... vou recomeçar... um, dois... quinze..." Uma senhora chega ao ponto e ele se perde outra vez na contagem. "Melhor eu fazer diferente: o ônibus virá depois que o semáforo fechar e abrir cinco vezes".
E finalmente lá foi ele no ônibus, agora contabilizando todos os imóveis pelo itinerário – casas, lojas, prédios, estacionamentos, lotes vazios. "Todos os imóveis que houver até o ponto onde vou desembarcar serão meus. Minha família inteira e meus amigos terão onde morar, os demais alugarei para viver de renda". Decidiu também registrar todas as árvores, grandes e pequenas, que encontrava pelo caminho.
No escritório, calculou que das 8h até ao meio-dia o telefone tocaria 100 vezes e, se chegasse a este número antes da hora prevista, desligaria o aparelho. Ligou para o ramal de um subordinado:
— Carlos, bom dia. Por favor, traga até a minha sala, em vinte segundos (e frisava mudando o tom da voz os vinte segundos), aquela minuta de ontem.
Soltou todos os seus cachorros sobre o pobre funcionário quando este chegou com o documento 28 segundos depois de solicitado. No restaurante, pediu um prato de macarronada com almôndegas ao molho e assim que sentou começou a contar até 200 enquanto não era servido; chegou aos 130 e pensando que 200 seriam insuficientes, foi diminuindo lentamente o ritmo até parcelar cada número: cento e setenta e sete e meio... cento e noventa e oito vírgula vinte e cinco..."
— Duzentos! – gritou, assustando alguns clientes que almoçavam e saiu do restaurante às pressas, irritado com tanta incompetência do cozinheiro e do garçom. Naquela última segunda-feira de fevereiro bissexto, mês em que faltou um dia ao trabalho, ele não almoçou, contentando-se com uma xícara e meia de café e dois biscoitos ponto setenta e cinco; a metade da cota diária dos cinco biscoitos e meio para vinte dias trabalhados ele havia comido no café da manhã. Na sua gigantesca agenda, lá na seção Biscoitos, via-se anotado em cada mês: 110 ÷ dias trabalhados no mês ÷ 2 (m e t) = x bolachas. M e t representavam manhã e tarde. Só mesmo ele para entender as equações que representavam as bolachas fracionadas, como quando tirava quinze dias de férias ou ficava afastado por doença uma semana. Menos dias trabalhados, menos bolachas comidas.
Depois daquele intenso dia de trabalho, saiu do escritório, voltou, a luz estava apagada, saiu, voltou, a porta estava mesmo fechada à chave, pegou o ônibus. Sacando do bolso papel e caneta, começou a contar todos os passageiros, sentados 44 e em pé 35 (inclusive ele), 79 sem o cobrador e o motorista. Ônibus quase lotado àquela hora de pico no fim do dia.
"Daqui até em casa o ônibus demora em média 45 minutos, a partir de hoje quero ver a proporção diária de passageiros que sobem e descem a cada ponto."
Chegou um momento em que ele enfiava a cabeça pela janela para ver quantos passageiros estavam dependurados do lado de fora da porta de entrada. E ia anotando tudo no papel amarrotado pelo amontoado de gente. Mais à frente, sentiu alguém fungando na altura da sua cintura, tentando abrir caminho. Era um anão desesperado, quase sem ar a meia altura do corredor, empurrando para chegar até a roleta.
O cobrador e vários passageiros se entreolham quando o homem diz ao anão:
— Ei, anão, em qual parada você subiu no ônibus? Eu não te contabilizei...
E aquele homem, cujo comportamento o habilitava para ser incluído no quarto diagnóstico psiquiátrico mais frequente na população, piorava a cada dia, com suas equações e cálculos sem razão, com sua busca diária pela simetria, com o exagero desmedido com a saúde, com a higiene, com a busca pela perfeição. Com seus atos e pensamentos compulsivos já estava deixando toda a família, o patrão e os amigos contaminados. Antes que a coisa piorasse irremediavelmente, arranjaram-lhe doutores especialistas, com sólida formação e experiência internacional, médicos que – todos pensavam – os altíssimos honorários deviam fazer jus à sua competência. Brevemente o homem deveria livrar-se do amedrontador TOC e voltar à sua vida normal.
Após alguns meses de tratamento intensivo, a atendente da clínica liga para o homem e sua mulher e pede-lhes que compareçam para falar com o médico chefe.
— Senhora, boa tarde – o médico começa. — E você, meu amigo, vejo que está muito bem. Tenho a satisfação de dizer-lhe que o senhor está de alta. Observando o seu comportamento durante todo este tempo e respaldado pelas informações da senhora sua esposa, filhos e amigos (sim, o médico fizera uma ampla pesquisa sobre os passos do paciente durante todo o tratamento), o senhor está curado. Todos os médicos desta clínica que o trataram são da mesma opinião. Mas quero que volte caso sinta alguma recaída.
— Não, doutor, não voltarei, pode ter certeza. Agora estou livre. Obrigado por tudo.
Despedem-se do médico e vão embora. Dentro do ônibus, conversa o tempo todo com a esposa, o diálogo era uma das estratégias recomendadas para não cair na tentação da contabilidade compulsória. Deve ser bem difícil falar com alguém e ao mesmo tempo enumerar as casas, carros, pessoas e árvores que estão pelo caminho. Na entrada do seu prédio, avisa à esposa que pode ir subindo enquanto ele recolhe a correspondência. No meio dela, há um folheto com a propaganda de um condomínio residencial, mostrando a bela escadaria de mármore da entrada. Instintivamente, pela primeira e única vez o contador decide não usar o elevador e começa a subir os degraus da escada do seu prédio, anotando-os mentalmente: "um, dois, três... meu Deus, preciso parar com isto!". Mas em seguida dá novo rumo ao pensamento: "Ah! É a última vez que vou contar, só esta vez, prometo". E continua subindo e contando, passando pelo primeiro, segundo, terceiro andar, quarto, quinto (ele nem vê a porta do seu apartamento que a esposa deixara entreaberta e continua subindo e contando), sexto, sétimo... décimo... vigésimo oitavo".
— 448 degraus, 16 por andar! – grita, exultante, agora anotando num papel.
Às 18h sai ofegante no terraço, onde ele jamais subira. Vai caminhando para o parapeito do prédio, de onde observa os últimos 25% do sol que se esconde, como se tivesse medo dele, por trás de um edifício distante. Depois olha lá embaixo a larga avenida apinhada de pequeninas pessoas, carros, ônibus, motos e bicicletas.
— Prometo que agora será mesmo a última vez, querida – fala baixinho, como se a esposa estivesse do seu lado — Preciso contar quantos segundos levarei para chegar até a avenida.
REMISSON ANICETO - Poeta e escritor brasileiro, natural de Nova Era, Minas .
A Primeira República Portuguesa ficou conhecida pela perseguição desenfreada ao clero. Não foram só os padres que sofreram tratos de polé. Pastores Evangélicos foram, igualmente, vítimas do ateísmo republicano.
Todavia, pela dimensão e influência, o alvo preferido do populacho sem escrúpulo, foi a Igreja Católica.
Entre os numerosos padres expatriados, havia o Pª Vieira, da diocese do Algarve, e o Pª Dr. António D’Azevedo Maia, do Porto. O primeiro natural de Portimão; o segundo de Modivas (Vila do Conde).
O Dr. Azevedo Maia era pároco de Santa Marinha (Gaia) e assíduo colaborador do semanário “PAZ”. Sacerdote cultíssimo e excelente orador.
As homilias, profundamente cristãs, não agradavam à raia miúda – nem graúda, – republicana.
Várias vezes foi preso e ameaçado de morte, mas o bom sacerdote, destemido, como era, não deixava de pregar desafogadamente a doutrina de Cristo e o desvario do governo ateu.
Certa vez foi avisada que planeavam matá-lo.
O Dr. Azevedo Maia, temeu. Após muito pensar, resolveu pedir auxílio ao farmacêutico estabelecido na rua Direita (Gaia).
Era o Dr. Américo Augusto Ribeiro Gonçalves, republicano de sete costados, mas honesto e justo. Assentou recolhe-lo em sua casa, já que ninguém pensaria que o padre iria acolher-se a casa de conhecido ateu e republicano.
Decorrido semanas, vestido à civil, o abade, de madrugada, rumou à estação ferroviária da Devesas, com destino a Paris.
Dias depois, a “PAZ”, publicava “ Cartas do Exílio”, assinadas pelo famoso Dr. Azevedo Maia.
Sorte pior teve o Pª Vieira, pároco de Loulé. A Carbonária (organização secreta republicana) não deixava de rondar-lhe a casa, no intuito de prende-lo ou matá-lo, como já fizera a muitos sacerdotes menos influentes.
Resolveu fugir de barco para Espanha, e daí para o Brasil, onde foi recebido, com carinho, pela colónia portuguesa do Rio.
Partiu, depois, no vapor Cordiliere, para a Baia, em Setembro de 1912, ao encontro de jesuítas amigos.
O Arcebispo de S. Salvador, depois de verificar as referencias, colocou-o na Ilha de Itaparica, onde se tornou conhecido pelas excelentes práticas que proferia.
Entretanto, regressa a S. Salvador, para paroquiar. O clero brasileiro não gostou que estrangeiro fosse colocado na Capital. Temiam, certamente, serem ofuscados pela inteligência e dinamismo do sacerdote.
Num desabafo o Pª Vieira disse: “ A Santa Igreja, penso e sempre assim pensei, não tem fronteiras e dentro dela não deve haver estrangeiros.”
A frontalidade, levou-o a ser expulso da Arquidiocese.
Exilado, sem dinheiro, valeu-lhe patrício, que lhe ofereceu meios para levar vida decente, fora da Igreja.
Mas Pª Vieira não queria deixar o sacerdócio. Recebendo chamado do Bispo da Barra do Rio Grande, para paroquiar Barreiras, aceitou.
Tanto amou Barreiras que se entregou de alma e coração ao seu povo, não só evangelizando, mas erguendo estruturas para que a Igreja pudesse crescer: como a construção da Matriz de São João Batista, em Maio de 1921, e a criação de Centros de Apostolado.
Colaborou, como pioneiro, na educação do povo, participando na abertura do Aprendizado Agrícola de Barreiras e no Ginásio Padre Vieira.
Durante dez anos paroquiou Barreiras, entregando-se de tal modo à cidade que embora gostasse da sua Pátria e da terra onde nascera, considerava-se como se filho fosse de Barreiras, tanto amor dedicara à encantadora povoação baiana e à sua gente.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
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