PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - LUTA CONTRA A AIDS, ATO DE LEGÍTIMA DEFESA SOCIAL!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não bastam somente as soluções paliativas, como as seringas descartáveis, o uso de preservativos e o pretenso sexo seguro, para que o problema da AIDS seja resolvido. A sólida educação preventiva para uma melhor qualidade de vida, o apoio a programas educativos que ajudem a impedir a difusão da doença e a observância de aspectos éticos são algumas das medidas  a serem tomadas.

 

 

           

Celebra-se a primeiro de dezembro, o DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS, uma data de suma relevância para que a sociedade se conscientize da grave situação provocada pela moléstia e das formas de evita-la, já que os dados recentes são impressionantes, tanto pelo número de óbitos, como pelo acréscimo do registro de casos em todos os países, mesmo tendo diminuído consideravelmente. Acredita-se que existam aproximadamente trinta e oito milhões de vítimas da epidemia no mundo.

            Assim, apesar das fortunas gastas com propaganda e compras de preservativos pelos governos de inúmeras nações (inclusive nos chamados países em desenvolvimento), não se detém o avanço da doença. E continuamos afirmando que o principal motivo, que precisa ser amplamente debatido, é o aviltamento do sexo, responsável direto por uma perigosa promiscuidade que vem atingindo adolescentes, jovens e adultos. Há alguns meses atrás, as declarações do cardeal Trujilho, de que os preservativos não excluíam a propagação do mal, ganhou grande repercussão e gerou inúmeras polêmicas. Entretanto, seus argumentos se lastrearam em pesquisas realizadas pela agência federal de saúde do governo dos EUA, cujo nome é CDC (Center for Diseases Control), que depois de uma longos estudos efetuados em parceria com a FDA (Food and Drug Administration), com o NIH (National Institude of Health) e com a Usaid (United States Agency  for International Development), chegou à seguinte conclusão:

            “O meio mais seguro de evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis é a abstinência sexual ou a fidelidade a um relacionamento monogâmico em que o casal tenha realizado testes cujo resultado é negativo. Para as pessoas cujo comportamento sexual as coloca em situação de risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, o uso correto e efetivo do preservativo masculino de látex pode reduzir, mas não eliminar, o risco de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Contudo nenhum meio de proteção é 100% eficaz, e o uso do preservativo pode não garantir proteção absoluta contra doenças sexualmente transmissíveis”.

     Invoquemos aqui Francesco Scavolini: “Na verdade, o que está errado é a mentalidade materialista que parece dominar a sociedade e que prega o uso da sexualidade como bem descartável. Se continuar prevalecendo essa mentalidade, nunca conseguiremos derrotar a Aids. Para vencer a Aids, é preciso e urgente voltar a “investir” nos grandes valores éticos e morais: a família, a educação  cívica, a responsabilidade para com o bem comum e a religião”.(Folha de São Paulo-22.12.2003-A3).

A doença, portanto, não deve ser encarada só como problema biomédico, mas também como reflexo de uma sociedade doente, onde existe a cultura da morte, cujos sinais são o narcotráfico, o violência, a miséria, a marginalização, a destruição do meio ambiente e a sexualidade comercializada e reduzida a genitalidade, desvinculada da educação para o amor, para o respeito à própria vida e à dos outros. Assim, reitere-se neste espaço que a proteção dos valores morais, sem os quais a sociedade entra em decomposição, é um ato de legítima defesa social, devendo-se combater a doença de todas as formas possíveis, mas não se olvidar da questão da preparação e formação, para que o sexo se realize com informação, conhecimento, responsabilidade, embasamento religioso e espiritual.

 

                      

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com),

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:24
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - FONTES HISTÓRICAS DE PRIMEIRA GRANDEZA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No último artigo, comentei o talento de Homero como psicólogo e a extraordinária riqueza de tipos humanos bons e maus, heróis e anti-heróis, que ele conseguiu reunir na Ilíada. Falei também desse poema como constituindo uma parábola muito perfeita, representativa de todos os conflitos entre povos e nações, ao longo da História da Humanidade. Tal é a força da exemplaridade da epopeia homérica, que se tornou impossível o exercício da guerra, em qualquer época e em qualquer local, sem que continuamente se façam presentes, à maneira de referência, os personagens da Ilíada.

Recordo sempre o comentário que fez, durante a minha graduação em História, a Profa. Silvana Moretti, uma colega muito inteligente e com grande capacidade de síntese. Falando da permanente atualidade dos heróis homéricos e das figuras da mitologia grega, ela registrou o seguinte pensamento: “Hoje os ídolos são fabricados em agências de publicidade, e não pelo seu caráter moral, ético, altruísta; um ídolo moderno tem o tamanho do lucro que ele pode gerar para aqueles que o projetam. Incrível notar que a mitologia grega nos chega até hoje, e os nossos ídolos às vezes não duram mais do que um carnaval”.

A Odisseia também exprime, a meu ver, parabolicamente uma outra realidade humana, presente em todos os tempos. Ela exprime a vida atribulada do homem, com o seu processo vital, com suas atribulações e percalços, seus altos e baixos, seus triunfos e derrotas, suas esperanças e decepções - tudo isso em função de um fator de natureza superior, em função de suas relações com a divindade, com poderes que estão acima da natureza humana.

De fato, foi por ter desafiado o deus do mar, Posseidon, que Ulisses foi condenado a vagar dez anos pelos mares, antes de retornar à sua Ítaca tão desejada, onde o esperava a fiel Penélope e o filho Telêmaco, que ele somente vira recém-nascido ao partir para a guerra. Somente depois de se reconciliar com o deus ultrajado é que conseguiu atingir seu objetivo.

Ulisses, tão sábio e tão astuto, desafiou quem podia mais do que ele, e em consequência disso teve que passar por toda a sua odisseia...

O relacionamento do homem com o divino - que, aliás, na mitologia grega tem outro poderoso símbolo, que é o de Prometeu acorrentado - constitui, a meu ver, o eixo do drama expresso na Odisseia.

As figuras femininas de Penélope, a esposa fiel, e da serva também fiel que, ao lavar os pés de Ulisses reconheceu nele seu senhor, marcam com uma nota simpática o grande drama.  E como esquecer a figura não humana, mas carregada de sentimento, de Argos, o cão fiel que Ulisses treinara, antes de partir para a guerra, e que ficou 20 anos à espera do dono? Foi ele quem primeiro reconheceu, no velho mendigo em que se disfarçara Ulisses, o seu antigo senhor, e foi junto a ele, lambendo suas mãos, que exalou o seu último suspiro.

Muito mais haveria que dizer, acerca da Ilíada e da Odisseia. São obras-primas da cultura universal, de interesse perene, que transcendem os tempos e as eras históricas. Enquanto existir na face da terra a espécie Homo sapiens, haverá leitores e admiradores delas.

A par disso, refletem de modo muito perfeito e completo a vida e a sociedade do seu tempo, em todos os seus aspectos. Foi orientado pela leitura da Ilíada que o arqueólogo Schlliemann procurou, em fins do século XIX, as referências geográficas que o levaram até a descoberta das ruínas de Troia. E foi baseado, sobretudo, nos textos homéricos, completados colateralmente por pesquisas arqueológicas, que Émile Mireaux conseguiu traçar um retrato pormenorizado da sociedade grega antiga, no seu maravilhoso livro “A vida quotidiana nos tempos de Homero”, publicado em 1954 e logo transformado em clássico do gênero.

 Essa é uma utilidade, muitas vezes esquecida, das grandes obras literárias: são fontes históricas de primeira grandeza.

 

 

 ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS     é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro



publicado por Luso-brasileiro às 12:48
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - NÓ DA ÉTICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 
A Fundação “Antonio Antonieta Cintra Gordinho” - meus cumprimentos à sua vice-presidente, Maria Thereza Passos Gordinho Amaral de Oliveira, e à sua diretora administrativa, Patrícia Razza, que são do acolhimento e da valorização das pessoas - promoveu, no último dia 17, o seu 9º Fórum Social, com o tema “O Nó da Ética” e que teve como palestrante o filósofo, escritor e ensaísta Luiz Felipe Pondé.
O evento é discutido em reuniões mensais e, para isso, dentre outros, tem como parceiros: Cáritas Diocesana, ATEAL, CRAS Novo Horizonte, CREN, Rede Social Jundiaí, Casa da Fonte – CSJ.
Iniciando com a etimologia das palavras ética e moral, Pondé passou pelos conceitos das mesmas na visão de Aristóteles e de Kant. E abordou com precisão o Utilitarismo, teoria desenvolvida na filosofia liberal inglesa, que considera a boa regra de conduta caracterizada pela utilidade e pelo prazer que podem proporcionar a um indivíduo e, em extensão, à coletividade. Como fatores do Utilitarismo, citou: liberdade, dimensão da razão, imaginação, propósito, bem-estar. E o grande nó: tornar-se escravo do bem-estar.
Concluo que esse grande nó da ética, da escravização pelo prazer, é visível. Basta observar a dificuldade na renúncia por uma causa maior; a falta de honradez em nome do poder; a insensibilidade diante dos povos das margens. São de Pondé as colocações: a sociedade contemporânea é a pior que já existiu em complexidade; a vida tem que fazer sentido, pois caso contrário dá agonia e, em educação, é preciso ajudar os jovens a aprender a lidar com a sua humanidade.  
Enquanto o ouvia, recordei-me de um texto da página “Quebrando o Tabu”, encontrado, após a Segunda Guerra, num campo de concentração nazista: “Prezado Professor, sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebê fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim tenho minhas suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e saber aritmética só são importantes se fizerem nossas crianças mais humanas.”
É isso!

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE   -    Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
 
 



publicado por Luso-brasileiro às 12:45
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - TANTO CORRER

 

 

 

 

 

 

 

 

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                 E quando a gente abre os olhos, a semana já passou e a imensa lista de afazeres que juramos cumprir dentro daquele prazo, sequer chegou pela metade. Vivemos uma época de estranhas aproximações e esquisitos distanciamentos. Tudo ficou muito próximo, a poucas horas de avião ou a pouco segundos de uma apertar de teclas. Por outro lado, nunca estivemos tão distantes de abraços, de olhos nos olhos e mesmo do sentido de humanidade.

                Tentamos nos organizar para fazer com que muitas vidas caibam dentro de uma só. Queremos ser músicos, escritores, esportistas, amantes, profissionais de destaque e, sobretudo, felizes. O problema é que, nessa loucura toda, sonhamos com aquela felicidade dos comerciais de margarina, que apenas contém pessoas plasticamente bonitas e nos quais o sol sempre brilha à beira de uma piscina ou se reflete no azul do mar.

                A vida real, que pode ser tão bonita quanto, acaba ficando em um plano secundário. As pessoas não tiram os olhos do celular e, nas redes sociais postam mensagens de solidão e de descontentamento com o próximo. Sem sequer se darem conta de que o próximo está ao lado, muitas vezes esperando por um pouco de atenção, por um sorriso que seja. Particularmente, gosto muito da tecnologia e da agilidade que ela proporciona para várias operações, mas assusta-me constatar que algumas pessoas vivem dentro de um universo paralelo e se esquecem de que a vida, de fato, exige mais do que uma tela de computador pode oferecer.

                Vivemos a era do urgente e tudo, para todos, é para ontem ou para já. As pessoas não tem mais paciência para esperar por uma resposta, por uma confirmação e, nesse sentido, a tecnologia nos escraviza, eis que, se temos um celular, somos entendíveis como localizáveis o tempo todo e por todo mundo. Até mesmo a polidez e a delicadeza perdem espaço para os inconvenientes, para aqueles que não se apercebem da individualidade do outro.

                Creio que nunca se viveu tão estressado. As pessoas cada dia mais passam a ser dependentes de medicamentos ou, na melhor das hipóteses, de válvulas de escape para poderem sobreviver, com um mínimo de sanidade, de toda loucura que vem junto com os chamados tempos modernos. Ao mesmo tempo, em todos são facilmente encontrados, que se tem a vida exposta na mídia, nunca se viveu tão sozinho... O mundo virou um paradoxo: minúsculo e imenso.

                Não é possível, por outo lado, fazermos um caminho de volta, ignorando que a modernidade requer informações rápidas, atualizações e que o ideal de uma vida idílica, embora possa ser alcançado, é privilégio de poucos e ligeiramente incompatível com a vida nas médias e grandes cidades. Trata-se de um caminho sem volta e isso é inegável.

                Acredito, contudo, que é necessária uma reserva de tranquilidade, mesmo que isso signifique desligar o celular vez ou outra, não leva-lo a um encontro romântico ou de amigos, não estar “plugado” o tempo todo, não transformar o carregador do celular em uma espécie de cordão umbilical. Precisamos nos lembrar de que, mais efêmero, fugaz, veloz, é a nossa própria vida, que não consegue passar ilesa em meio ao corre-corre do dia-a-dia.

                Concluo que, dentro dos parâmetros do possível, se for para ter pressa, que seja para ser feliz...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com



publicado por Luso-brasileiro às 12:44
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ARMANDO C. SOUSA - POCINHA DE LÁGRIMAS

 

 

 

 

 

 

 

 

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O vento assobiava atravessando as frestas da janela da sala onde dormia; depois de retirar um pouco a cama em que me encontrava com meu irmão mais velho; para nos livrar de uma pinga que teimosamente caia em cima; a noite estava de abanar a carvalheira, além disso, fria e chuvosa, eu tiritava enroscando-me mais ainda nas mantas de farrapos que nos cobriam.

Meu irmão aconchegando-se um pouco a meu corpo para me aquecer, disse-me hoje te vou contar para que adormeças, o conto da pocinha das lágrimas.
Começou por me perguntar se eu conhecia a fonte da Moura; respondi-lhe que sim, dizendo a meu irmão que já lá tinha bebido.

Não é aquela de pois da Igreja de que te quero falar; a fonte da moura é uma fonte milagrosa que deitará rios de pérolas, penedos d'ouro e diamantes tão grandes como as pedras da calçada, a dificuldade está em a poder abrir.

Então a fonte não deita água?... perguntei!...sim, respondeu meu irmão e a água por vezes murmura segredos que indica o caminho para a fonte da riqueza que é a verdadeira fonte da moura, segundo a lenda do monte de S. Miguel do Anjo.

Sim mas isso é no alto do monte onde agora só se pode ver o moinho e vestígios da capela..... respondi.

Bom escuta a história....a muitos, muitos ano atrás existia ali um castelo mourisco e segundo a lenda o rei do castelo era riquíssimo , sábio e feiticeiro, e então enterrou toda a riqueza do país no penedo da fraga onde se abrigam nos dias de chuva e frio os pastores das redondezas que por ali guardam o gado, um dia em que os pastores brincavam viram uma pequena cobra que rastejou para debaixo duma pedra.

Os moços pois eles tinham ente nove e doze anos levantaram a pedra para matar a cobra, mas ao levantar da pedra começou a jorrar água, e eles não mais viram a cobra, mas ao baixarem-se para beber ouvirão a água murmurando, não matais a cobrinha que é uma linda princesa encantada que foi encerrada com o tesouro no penedo da fraga que é a verdadeira fonte da moura, essa menina de olhos azuis transformada em cobra ficou prisioneira no penedo da fraga porque seu pai não a viu brincando com as pérolas e os diamantes na cave do tesouro quando selou o penedo da fraga.

Só as águas misteriosas que aquela pedra encobria conheciam o segredo da cobra de olhos azuis e menina apaixonada dum príncipe dos seus sonhos, das noites seculares passadas no penedo da fraga junto ao tesouro que seu pai ali enterrou já lá vão milênios.

Seu pai depois de ver o erro que tinha feito passava noites chorando a perda da filha amada; mandou fazer umas piinhas onde depositava a comida preferida da princesinha na esperança que ela ali viesse alimentar-se.

Ali ficava mil e uma noites chorando sua desventura , tantas lágrimas chorou que uma pocinha ficou cheia dessas lágrimas, preço da ganância e de poder; e nunca mais secou essa pocinha.

Um dia um pastor ensaiou molhar os lábios com a água da pocinha, tinha cede; mas limpou-os imediatamente porque a água era salgada, e logo ouviu uma vós dizendo, só poderás beber desta fonte quando abrires o penedo.

Então toda a riqueza será tua com a princesa mais meiga mais leal mais rica e mais bonita que vive aqui encantada por muitos milênios; o rapaz ficou cismando e quase aterrorizado, ao mesmo tempo chamou a malhadinha que era a que o ouvia melhor ,pegou na escudela uma espécie de malga de pau e começou a mugi a cabrinha malhada, bebeu e pôs a malga ao lado, pondo a cabeça entre as mãos cismava se estaria sonhando.

Ao retirar as mãos viu uma cobrinha que bebia os restos do leite, a cobrinha ali ficou olhando; o moço afirmava que ouviu a cobrinha de olhos azuis dizer não me mates que eu serei a princesa de teus sonhos.

Desde aí cada noite ao deitar-se pedia á cobrinha para vir brincar com ele, e assim ele viveu mil e uma noites e todas se transformaram em contos maravilhosos de amor de lealdade.

A cobrinha muitas vezes lhe disse que a verdade o levaria ao lugar mais alto do universo ao fundo mais fundo dos mares; mesmo ao meio das estrelas; mas teria de acreditar em si mesmo.

Os livros, a escola e os professores se fundiriam numa chave que haveria de abrir todas as portas, e ali encontraria todas as chaves a todos os lugares só por pensar. esta chave lhe daria as mais belas historias , sempre que ele as quisesse passar ao papel; beijou-o dizendo vem sempre que queiras e a cobrinha dos olhos azuis te contara uma das suas mais belas historias...

Boa noite dorme com os anjos.

'Esta história é dedicada a meu irmão, que tantas vezes me contou histórias para eu adormecer'.

 

 

 

ARMANDO C. SOUSA   -   Escritor português, radicado em Toronto, Canadá

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 12:33
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SÔNIA CINTRA - SEMÁFORO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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                              Sentadinha na pedra

                              nariz escorrendo

                              vestido apertado

                              sapato florido

                              de barro

                              olha a menina

                              o rio que passa

                              debaixo da ponte

                              olha a menina

                              o céu que basta

                              por cima de seus

                              cachinhos melados

                              num intervalo

                              curtinho

                              entre o verde

                              e o vermelho

                              do sinal amarelo

 

 

 

   -   Vencedor (1º lugar) do III Prêmio Internacional Varal do Brasil de Literatura (Genebra – 2015) -

 

 

 

  SÓNIA CINTRA - ESCRITORA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA .



publicado por Luso-brasileiro às 11:52
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JOSÉ RENATO NALINI - OS CEM ANOS DO SEU BAPTISTA

 

 

 

 

 

 

 

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Hoje, exatamente hoje, 26 de novembro de 2015, meu pai – Baptista Nalini – completaria seu centenário. Faltou muito para chegar a essa idade. Morreu aos 76 anos, pouco tempo depois de enterrar seu caçula, meu irmão João René. Discreto, contido, tímido até, guardou a dor para ele. Todas as tardes ia ao cemitério e permanecia longos minutos a conversar com o filho mais expansivo, mais alegre, mais generoso.

Ainda me lembro, com exatidão, do dia em que morreu. Falei com ele pela manhã. Eu em São Paulo, ele em Jundiaí. Eu estava pronto para ir à fazenda, em Lagoinha, no Vale do Paraíba. Convidei-o. Ele me disse que no outro fim de semana iria. Parti com as crianças e, inexplicavelmente, fiz uma viagem atípica. Parei para almoçar. Depois permaneci horas no Viveiro de Taubaté, comprando mudas.

Ao chegar à fazenda, notei o clima soturno. O caseiro me disse que minha mãe estava telefonando sem parar. Ainda não havia celular. Liguei imediatamente e ela me disse: – Filho! Só agora? Seu pai morreu! Meus filhos e eu nos abraçamos, começamos a chorar e rezamos um Pai Nosso. Voltamos imediatamente. Mesmo assim, só cheguei ao velório à noite. Quase 12 horas depois do falecimento.

Após o sepultamento, fui para a casa de minha mãe. Choramos juntos. Dormi no seu colo. E comecei a administrar a dor da perda. A sentir a falta de um pai que só descobri muito tarde. Tarde demais para retribuir tudo aquilo que ele me legou. Continuo em falta para com ele. Era minha intenção escrever uma biografia, mais uma iconografia dele. Adorava fotos. Moço, viajou muito, namorou mais ainda. Jogou futebol. Fez amizades. Fez teatro. Levou a sério a religião.

Depois, trabalhou incessantemente. Não foi feliz em seus empreendimentos, mas não desistiu. Conseguiu criar os quatro filhos, deu a eles educação superior. E conservou-se generoso, solidário, modesto, aliado, sempre discreto. Minhas atribulações este ano me impediram desse projeto do qual ainda não desisti.

Tenho a obrigação de legar aos descendentes um retrato, incompleto que seja, de um homem simples e bom. Exatamente aquilo de que hoje necessitamos, nesta República a naufragar por falta de algo que nele sobrava: vergonha na cara.

 

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:50
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PAULO R. LABEGALINI - NOSSOS HOBBIES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando eu era pequeno, gostava de cantar, jogar futebol, bater figurinhas, disputar partidas na mesa de botões e soltar pipas. Isso quase todo menino gosta, mas, hoje, percebo que dava preferência àquilo que melhor sabia fazer. Bolinha de gude e pião, por exemplo, ficavam em segundo plano porque eu sempre perdia. Ah, no pebolim, eu era bom também!

Esta introdução é importante para fundamentar que, quando criança, temos a tendência de fazer algo que mais sabemos e nos destacamos. Alguns diriam que são dons naturais de cada um e os levamos por toda a vida. Será? Já nascemos sabendo bater figurinhas? E jogar futebol de botões, não se aprende com muito treino?

Eu diria que cultivamos certos hobbies por diversos motivos: oportunidades, amizades, compromissos, habilidades, interesses, determinação, tempo, aptidão física etc. A cada época, incluímos ou excluímos algumas atividades principalmente por critérios pessoais e condições de saúde.

Já não vejo sentido ficar batendo figurinhas todo dia para me divertir. Jogar futebol, até que eu gostaria, mas os problemas que tive nas pernas já não permitem mais. Enfim, tudo tem o seu tempo e poucos hobbies ficam conosco para sempre. Aqueles que permanecem, às vezes são decorrência de outros mais antigos e muito cultivados.

Na infância, eu morava em São Paulo e escrevia dezenas de cartas a parentes de Monte Sião; hoje, continuo gostando de escrever e sirvo a Deus em artigos e livros católicos. Também continuo cantando, com mais responsabilidade!

E a fé, onde entra nessas histórias? Primeiro, é um dom teologal que recebemos no batismo, juntamente com a esperança e a caridade. Segundo, como diz São Tiago: ‘A fé sem obras é morta!’. Portanto, precisamos exercitar a fé guardada no coração e, muito mais que um hobby, ela se manifesta pelo amor em diversas situações.

Sabemos que, na família, toda atitude cristã dá frutos, mais cedo ou mais tarde. Os bons exemplos de fé que herdamos dos pais e passamos aos filhos podem ser verdadeiros canais de graça por muitas gerações. E não há nada de errado em dizer que tenho o hobby de rezar o terço. Rezando com fé, quando mais, melhor. Podem chamar de hobby, de costume, de mania, de vício... é a mesma coisa.

E agradeço a Deus por permitir que eu lesse a Bíblia diversas vezes quando jovem. Suas Cartas de Amor continuam me ajudando a caminhar com dignidade cristã. Ah, e quando eu ia à missa, lembro perfeitamente que alguns colegas ficavam andando de bicicleta. Um deles, o Nelsinho, está morto há anos!

É claro que não podemos generalizar as conclusões por algum fato isolado, mas vejo claramente que há alguns hobbies melhores que outros: dançar é gostoso e não faz mal a ninguém; matar passarinhos é covardia; assistir filmes pornográficos prejudica o próprio espírito; gastar dinheiro votando no Big Brother é um grande desperdício que poderia socorrer um pobre morrendo de fome...

O importante é saber adequar os nossos hobbies aos chamados de Deus a cada dia. Eu gosto muito de assistir filmes, mas não o faço quando tenho reuniões de pastorais. E você, tem algum hobby que o está afastando de Jesus Cristo?

Era uma vez três irmãos que moravam juntos. O mais velho vivia trabalhando; o do meio passava o dia rezando; e o mais novo, pescando. Um dia, o irmão trabalhador adoeceu e, por recomendação médica, tinha que se distrair na pesca. O caçula gostou da ideia porque passou a ter companhia todos os dias, e o irmão do meio sentiu necessidade de rezar ainda mais pelos outros dois.

Alimento em casa não faltava, pois os peixes chegavam fresquinhos toda tarde, mas as contas começaram a atrasar. Certa noite, os três conversaram e decidiram comercializar parte da pesca. O irmão que rezava começou a ajudar na venda dos peixes, porém, os pescadores não queriam mais vê-lo rezando enquanto as dívidas não fossem pagas.

Com as brigas diárias, a saúde do mais velho piorou e ele veio a falecer. Só então os outros irmãos perceberam que precisavam se unir na fé e no trabalho para vencer as dificuldades. A pesca, que antes era um hobby, passou a ser a principal fonte de renda, e a oração, que era desnecessária ao irmão pescador, lhes proporcionava paz e os sustentava na esperança de uma vida melhor. Mas foi preciso alguém morrer para que isso acontecesse!

Da mesma forma, assim caminha a humanidade: uns dão valor àquilo que não traz salvação, outros rezam demais, e há aqueles que só sabem criticar porque não são capazes de ajudar em quase nada!

Ter um hobby saudável é bom, manter um hobby em favor da vida é melhor ainda, mas insistir num costume que leva ao pecado é burrice. Como ninguém admite crescer em ignorância ano a ano, nada melhor do que mostrar grande sabedoria se aproximando mais do Mestre dos mestres. Eu tenho o hobby de rezar o terço sempre. Quer se unir a mim para incorporar mais essa bela virtude em sua vida?

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:09
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - SOLILÓQUIOS COM O MEU EU

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dos prazeres peculiares do avô Alberto, um, era viajar só, para o litoral paulista.

Ia sozinho: sem mulher, sem filhos, sem netos e quase sem bagagem.

Ficava na casinha pitoresca de Itanhaém: entre a praia dos Sonhos e a secular Pedra do Anchieta.

Sentado à sombra refrescante do imponente alpendre ou na luxuriante vegetação do jardinzinho: lia, escrevia, reflectia e mantinha eruditos solilóquios.

Não eram bem solilóquios, mas conversações, travadas animadamente com o outro eu. Era espiritista – chegou a ser director de jornal exotérico, – mas abandonara, há muito, as sessões espíritas.

Asseverava que só personalidades fortes deviam assistir e participar; os outros, corriam sérios riscos de contraírem medos ou graves perturbações psicológicas. Nunca levou familiares ao Centro Espírita. Excepto uma neta.

Nas interessantes conversas com o outro eu, não havia espíritos nem mensagens do Além. Eram "diálogos", cavaqueava com ele próprio, em voz baixa ou em pensamento.

Comentava o que estava a ler. Dialogava pareceres. Criticava opiniões. Discorria sobre vários temas, que podiam ir da educação à violência no lar ou na via publica.

Nessas palestras, no intimo sossego da casa de praia – que as filhas adquiriram., – passava, enlevado, horas sem fim.

Ele próprio cozinhava. Quase sempre batatas cozidas com bacalhau. Prato que aprendera, na mocidade, com a mãe, em Portugal.

Por vezes – segundo dizia, – se as conversas descambavam para a política e temas prosaicos, logo as interrompia.

O outro eu era condescendente. Aceitava sem discutir, sem contrariar…

Desses curiosos colóquios, saiam interessantes ideias e meditações de elevada espiritualidade.

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Certa tarde de Janeiro, na casa de Alto de Pinheiros, confessou-me à puridade:

- Infelizmente não posso contar, a todos, o prazer que sinto nesses dias que passo sozinho. Não compreenderiam…Chamar-me-iam: doido. Mas é exercício salutar e enriquecedor…

Sei que o é. Quantas vezes surpreendo-me a dialogar com o outro eu.

Sempre que acontece, fico a compreender melhor o que é a vida, e o porquê de muitas coisas…

Só o isolamento e o silêncio, podem-nos dar esse sublime prazer.

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 10:55
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EUCLIDES CAVACO - CANÇÃO DE AMOR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Um tema que escrevi para esta música popular de que gosto muitíssimo e vos proporciono com desejos duma excelente semana
o qual poderão ver e ouvir  aqui neste link:

 


http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Cancao_de_Amor/index.htm

 

 

EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 10:48
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Segunda-feira, 23 de Novembro de 2015
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - AS CORES DA CONSCIÊNCIA

 

 

 

 

 

 

 

 

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                Na cidade de São Paulo, bem como em outras cidades do Brasil, no dia 20 de novembro é comemorado o dia da “Consciência Negra”. Confesso que refleti muito antes de me decidir a escrever esse texto. Primeiro porque tive receio de não conseguir expressar, em palavras, o que de fato sinto e, segundo, porque vivemos em tristes tempos de intolerância e tudo o que é dito pode ser mal interpretado. De toda forma, a cronista que em mim habita levou a melhor sobre a cautela da advogada que sou.

                É óbvio que, pela correria e trabalheira que todo final de ano envolve, uma folga na semana é sempre um alento, um oásis no qual é possível se encostar e simplesmente ver a vida passar um pouco mais desacelerada.  Seria, portanto, uma hipocrisia eu dizer que não gosto que seja feriado, ainda que por razões particulares. Acredito, até, que todos os meses do ano deveriam ter um final de semana prolongado, uma pausa no calendário de dias que, para quem trabalha duro, escoam pelos dedos.

                O que eu ouso ponderar nesse espaço é sobre ter um dia de feriado para a questão da consciência negra. Antes de mais nada, acredito que o dia poderia ser dedico a esse fim, mas não deveria ser um feriado. Se fosse para ser um feriado, destinado à reflexão, deveríamos ter um dia da Consciência Humana.

                Houve um tempo no qual eu acreditava piamente que não havia muito preconceito de cor. Eu realmente pensava que o mundo era um lugar melhor nesse aspecto. Hoje percebo, infelizmente, que estava muito enganada. Descobri que há pessoas que simplesmente odeiam, desprezam e humilham alguém somente pela cor da pele e, embora no passado eu soubesse que pudesse haver, não imaginava a proporção e a violência desse tipo de conduta.

                É preciso que eu defenda, sob pena de carregar comigo o peso da omissão, que sejam tomadas medidas voltadas a desestimular, coibir, evitar e punir o comportamento de que se entende melhor do que o outro pelo simples fato de ter menos melanina na pele. Entendo, porém, estabelecer um feriado para isso muito mais segrega, separa, do que une. Eu temo que, talvez no sincero afã de protegermos o que chamamos de minorias, acabemos nos tornando uma sociedade muito mais separatista.

                Algumas vezes eu já me coloquei contra as paredes de minha consciência e me inquiri se eu seria uma pessoa preconceituosa. Até hoje eu tenho concluído que não sou, porque, de fato, não escolho meus amigos pela cor, pela opção sexual, pela religião ou por qualquer outro traço que não seja a afinidade. Se eu gosto de alguém, isso me basta e pela diversidade de meus amigos, noto que os vínculos que nos unem passam ao largo da cor que possuem.

                A intolerância, o ódio e o preconceito já tem vitimado gente demais. É necessário igualar as diferenças, mas também é imprescindível realçar as semelhanças e o fato de sermos, todos, humanos, deveria bastar. Enquanto as pessoas se considerarem pertencentes a raças ou se qualificarem em escalas de importância, a vida vai chorar as suas muitas perdas e nós ainda teremos quem ache o terrorismo justificável, em nome de Deus ou de algum profeta (sejam eles quem forem)...

                Não importa a cor que nossa pele tenha, nem como nos parecemos, porque, no fim das coisas, nosso sangue é igualmente vermelho e enquanto o branco da paz for com ele manchado, a única cor que nos restará será a do luto.

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com



publicado por Luso-brasileiro às 14:04
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - AMPLIAR A TENDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Contou-me emocionada, assim que cheguei à entidade, sobre seu sonho da noite anterior. Caminhava por uma mata fechada, de verde escuro com sombras diversas, destituída de flores e frutos. Andava a esmo, inconsciente sobre um porto de chegada. De súbito, veio ao seu encontro um rapaz de fisionomia inexpressiva.  Ela, contudo, sabia do que se tratava. O susto a paralisou por instantes. Veio-lhe na mente, porém, que era o dia de ir ao Carmelo São José para a Missa em Ação de Graças pelos 33 anos da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena e 20 anos da Magdala, nas quais está inserida. Ao se recordar de Nossa Senhora do Carmo, de Santa Teresa d’Ávila, de Santa Teresinha do Menino Jesus, das Irmãs, disse em voz alta: “Creio em Deus Pai!” E enquanto repetia o início do Credo, o menino, aos poucos, perdeu as forças, curvou-se e murchou. Relatou-me impressionada, mais com a realidade do que com a imaginação. 
À medida que falava, lembrei-me de parte do que sei de sua história: a fazenda onde nasceu, no lugar em que seus pais eram empregados. A morte prematura deles. O seu tempo de menina, sem infância, colo e escola. A sobrevivência difícil, o abuso sexual infantojuvenil que lhe deixou marcas, o apito do trem que a conduziu a paisagens desiguais, mas que lhe ofereceram o mesmo sabor áspero da meninice. Embora, na atualidade, carregue abalos do passado e do presente também, assim como temores, sabe por quem chamar nas horas de aflição maior: Deus Pai, Deus Misericórdia, Deus da compaixão, Deus Amor, “que faz justiça aos indefesos e aos órfãos”, como diz o Salmo 81(82). A Ele rende louvores.
Naquele dia, 11 de novembro passado, durante a Missa, celebrada pelo Padre José Brombal, as Monjas cantaram: “É tua alma qual um castelo, nela habita Divino Rei./ Aberto e amplo quanto um mundo cheio de segredos... / Como um diamante é o seu brilho, sol interior,/ que a casa enche de luz, o Amado e Bom Jesus!/ Alarga tua tenda: é seu lugar, em ti Deus vem morar!”
Venceu os ogros, que usam corpos dos frágeis para saciar seus instintos bestiais, ao se saber digna de alargar sua tenda para o Senhor habitar.
Bendito seja Deus que, no tempo que é dEle,  dispersa os que têm planos orgulhosos no coração, derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes, conforme encontramos no Magnificat (Lucas1, 51.52).

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE   -    Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
 



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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - HOMERO, UM PSICÓLOGO EXTRAORDINÁRIO

 

 

 

 

                               

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nos dois últimos artigos, fui conduzido, quase sem querer, pelo fio enovelado da memória, e estendi-me além de toda a conta sobre minha participação juvenil num programa cultural de Rádio, no qual eu era “especialista” em mitologia grega...

A Ilíada e a Odisseia, as duas epopeias geralmente atribuídas a Homero, marcaram muito a minha vida, desde quando as li (em condensações ou reapresentações atualizadas, obviamente), ainda menino aluno do curso ginasial, lá por 1965 ou 66.

As duas narrativas me apaixonaram, literalmente. Pus-me a estudar a Grécia antiga, depois Roma e, paralelamente, os fascinantes relatos históricos do Velho Testamento.

Em cinema, o que mais me atraía eram os filmes históricos sobre a Antiguidade. Eu ficava, entretanto, indignado porque via que, frequentemente, os filmes modificavam os fatos que eu já tinha lido, alterando-os à vontade para favorecer um enredo hollywoodiano. Eu era muito criança, mas acho que foi naquela fase que começou meu senso crítico que só aumentou com a idade...

É claro que, naquela jovem idade, eu não tinha condições de compreender, nem de longe, todo o alcance filosófico das duas epopeias de Homero. Isso, só com a idade fui alcançando compreender. Bem mais tarde, em contato com os textos integrais de Homero (em traduções, claro!) e lendo outros livros que me marcaram muito (especialmente "A cidade antiga", de Fustel de Coulanges) e vendo - ou revendo - filmes novos ou antigos sobre aquela época (Troia, Alexandre, Os 300 de Esparta etc.) é que me dou conta de como, sem sentir, aquelas leituras da infância me influenciaram em profundidade.

De fato, a Ilíada e a Odisseia significaram muito na minha vida, como podem significar na vida de quaisquer outras pessoas.

A Ilíada, muito mais do que a luta entre aqueus (gregos primitivos) e troianos, em disputa pelo predomínio dos mares e do comércio naquela região, muito mais do que uma disputa pela posse de Helena, muito mais do que a disputa entre as deusas do Olimpo para saber qual era a mais bela, constitui uma parábola muito perfeita de todas as lutas humanas entre povos e nações, seja por que motivo forem: políticos, econômicos, raciais, religiosos, culturais etc.

Por outro lado, em torno do confronto entre gregos e troianos, uma riqueza extraordinária de tipos humanos se revela na Ilíada. Homero era um psicólogo extraordinário, e a descrição, ou melhor, a caracterização psicológica que faz de numerosos personagens é de uma riqueza e de uma força extraordinárias. O heroico, mas impulsivo, Aquiles, e o astuto Ulisses constituem, sem dúvida, os dois principais personagens da epopeia, se a analisarmos deste ponto de vista específico, o da psicologia. Aquiles foi o modelo humano que inspirou Esparta, Ulisses era mais admirado em Atenas. Na bipolaridade admirativa Aquiles-Ulisses se forjou o caráter grego, como na bipolaridade política e cultural Esparta-Atenas se forjaria a própria civilização grega.

Páris representa, no drama, o papel do homem de caráter fraco, que não hesitou em levar seu povo à ruína pelo amor de uma mulher, traiçoeiramente roubada a seu marido. É verdade que se amavam, mas não tinham ambos o direito de o fazer com as consequências que seu amor trazia.

Já Heitor representa o nobre e leal cavaleiro, reto, sacrificado, com senso de dever em relação aos deuses, à pátria, ao seu povo e a si mesmo.

Pátroclo, o amigo fiel, o velho Nestor, o fracassado Laocoonte, o velhaco e ambicioso Agamemnon, o pobre Aastínax (de quem eu, menino, tinha uma pena imensa...), a infeliz Briseida, a misteriosa Cassandra, a meiga e infortunada Efigênia e tantos outros são modelos humanos de vícios ou virtudes. Na análise admirativa ou condenatória desses personagens, inúmeras pessoas, ao longo das gerações, formaram seu caráter.

Não posso omitir, naturalmente, Eneias, o sobrevivente que levou o espírito de Troia para o Lácio e cujos descendentes, séculos depois, haveriam de retornar para dominar a Grécia, numa formidável revanche histórica. As epopeias de Homero, por sinal, não podem deixar de ser completadas pela Eneida.

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS    -   é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 12:43
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