PAZ - Blogue luso-brasileiro
Domingo, 27 de Dezembro de 2015
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - ANO NOVO, MUITA ESPERANÇA E PAZ !
Normalmente, o final do ano nos convida a um balanço, impõe reflexões, renova anseios e traz um sentido poético, que em outros momentos não conseguimos revelar. Efetivamente, o mundo completa outra volta ao redor do sol e marca o início de um novo período. Vivemos a expectativa de encará-lo com otimismo e confiança, pois faz parte do coração humano esperar sempre. Entretanto, não podemos acreditar que as coisas vão melhorar só porque sexta-feira já é 2016. Alias, o crescimento e o desenvolvimento de todos deve ser uma constante, independentemente de uma página virada no calendário. Apesar da condição humana se determinar pelo caráter do tempo, precisamos sempre acreditar em nós mesmos.
O consagrado Carlos Drummond de Andrade assim se expressou em “Receita de Ano Novo”: “Para ganhar um Ano Novo/ que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo,/ tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,/ mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o Ano Novo/ cochila e espera desde sempre” (Editora Record. 2008). Também são lindas as palavras de Fernando Pessoa numa poesia que fez sobre o tema: “Ficção de que começa alguma coisa!/Nada começa: tudo continua./ Na fluida e incerta essência misteriosa/ Da vida, flui em sombra a água nua./ Curvas do rio escondem só o movimento./ O mesmo rio flui onde se vê./ Começar só começa em pensamento.”
Ainda assim, no fim de cada ano, fazemos de conta que o seu fluir inexorável abre uma porta e fecha outra, lançando uma ponte para podermos atravessar de uma época para outra. Até tentamos mitificar esse instante de passagem, criando novos propósitos, prometendo o abandono de vícios e comodismos, além de aspirarmos cuidar melhor de nossa saúde, da família e do próximo. Enfim, essa fase nos impõe a inevitável sensação de urgência em terminarmos e fecharmos assuntos pendentes. No entanto, transcorridos os festejos e o “reveillon”, vem triste realidade:- continuamos os mesmos do ano passado e os conflitos mais primários permanecem assolando nossa convivência e a mídia em geral. Parece que todas as esperanças lançadas entre os dias 31 de dezembro e 01 de janeiro são de artifício, como os fogos que estouram durante a euforia sem limites das comemorações típicas tradicionais.
Por isso recorremos aos poetas. Eles deixam as coisas harmônicas, ou pelo menos, faz-nos mais sensíveis aos acontecimentos. Vinicius de Moraes em seu “Poema de Ano-Novo” magistralmente indicou: “É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana/É preciso... a tristeza está no fundo de todos os sentimentos como a lágrima no fundo de todos os olhos/ Sejamos graves e prodigiosos, ó minha amada, e sejamos também irmãos e amigos...”.
Na realidade, buscamos ser felizes, mas não conseguimos nos realizar coletivamente. Sonhamos em ser iguais, mas cultuamos os piores contrastes. O egoísmo gera o anonimato que impede o surgimento de alianças sólidas entre os indivíduos e as relações tendem a ser fortuitas e passageiras. O tempo passa mais rápido do que a capacidade de doação. Um cenário promissor à solidariedade acaba sempre se distanciando. Mas a esperança, apesar de Bertold Brecht ter afirmado que ela atrasou os povos latinos americanos que não reagem aos abusos e desmandos administrativos, ainda é a mola propulsora de um futuro melhor. Mário Quintana revelou com brilhantismo tal situação: “Esperança/ Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano/ Vive uma louca chamada Esperança/ E ela pensa que quando todas as sirenas/ Todas as buzinas/Todos os reco-recos tocarem/ - Ó delicioso vôo!/ Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,/ Outra vez criança…/ E em torno dela indagará o povo:/ - Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?/ E ela lhes dirá/ (É preciso dizer-lhes tudo de novo!)/ Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:/ - O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…”
DIA MUNDIAL DA PAZ
Em 1968, foi instituído o Dia Mundial da Paz em primeiro de janeiro. Vale dizer, ela não é um ato isolado, nem fruto de gestos individuais. É a soma de esforços de uma comunidade solidária que reconhece em cada indivíduo um valor maior: o de ser pessoa. É preciso deixar fluir emoções e sentimentos para buscarmos uma vida mais justa e fraterna. Talvez seja esse o maior propósito para 2015.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com).
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - UMA LUZ PARA O NATAL
E naquele ano o dinheiro não deu. Simplesmente não deu. Julieta achou que daria e, num rompante, prometeu para filha que juntamente com o Natal viria a tão sonhada boneca. A menina, que completaria 5 anos no dia 25 de dezembro, já estava acostumada um único presente, que, segundo a mãe, era trazido especialmente pelo Bom Velhinho, para as crianças que faziam aniversário naquela data tão especial.
Intimamente, Julieta se repreendia, pois acreditava que tinha parcela de culpa por a filha nascer justamente no Natal. A pobre menina jamais teria festas de aniversário nas quais pudesse convidar seus amigos, bem como, muito provavelmente, estaria fadada a continuar recebendo um único presente pelas duas datas. Jamais haveria um parabéns entoado na sala de aula e outras tantos inconvenientes de se fazer aniversário no Natal.
Nas últimas semanas de gravidez, o parto estava marcado para o início da segunda quinzena de janeiro e Julieta prosseguia com os preparativos para receber ao mundo aquela vida que já era alvo de todo seu amor. Ela e o marido, Francisco, seu eterno Romeu, haviam sonhado e pranteado muitos filhos não nascidos, todos ceifados pela morte antes mesmo de existirem. De acordo com os médicos, aquela gravidez era uma verdadeiro milagre, sobretudo diante do histórico de abortos anteriores e da idade que ia, ano a ano, retirando de Julieta as esperanças.
O fato é que, após ultrapassados oito tranquilos meses, Julieta estava confiante de que nada daria errado e, contrariando as orientações médicas, resolveu ir ajudar uma amiga que estava passando por um momento difícil. Horas depois, nascia a filha, um pouco antes do planejado, em pleno Natal. Daquele dia em diante, todos os Natais adquiriram um significado extra, a certeza de que alguns sonhos, por mais improváveis que fossem, poderiam se realizar. Para Julieta, assim, a data era um presente, mas para a filha, uma espécie de sina, da qual um dia ela teria consciência.
A mãe sempre tentava caprichar no presente único, mas dessa vez mal tinha dinheiro para comprar alguma coisa. Havia sido um ano difícil, no qual Francisco passou um período desempregado. Eles destinaram todos os recursos da família para os gastos indispensáveis, mas pouco havia sobrado. Julieta, com o coração apertado e com os olhos cheios de lágrimas, já ensaiava qual a desculpa que daria para a menina... Talvez ela pudesse dizer que o Papai Noel não poderia vir nesse Natal, que alguma das renas estava doente, ou qualquer coisa do gênero, mas temia que a filha, ao encontrar as outras crianças do prédio, descobrisse que isso não era verdade...
Para o aniversário, de toda forma, faria um bolo e saber enfeita-lo era uma habilidade bem útil nesse momento. Cantariam parabéns juntamente com os avós e dois primos que não iriam viajar e ela arrumaria algum presente que pudesse não fazer feito. Só não imaginava como. Ela precisava de uma luz, de uma ideia e, em suas orações, rogou ao Universo que lhe inspirasse, pois tudo o que ela mais queria era o sorriso da garotinha que dava sentido a todos os seus dias.
Na véspera de Natal, sem que qualquer grande ideia lhe ocorresse, foi até o mercado mais próximo, com seu dinheiro contado, para comprar os ingredientes do bolo. Na entrada, no entanto, viu uma jovem mãe, maltrapilha, sentada na calçada com um bebê nos braços, a pedir esmolas. Ao lado dela, uma caixa de papelão, com alguma coisa dentro. Ela não gostava de dar dinheiro, pois sempre desconfiava da destinação que lhe seria dado, mas a cena não lhe saia da cabeça.
O dinheiro que ela tinha mal deu para comprar o básico e, ao olhar para o preço do que usaria para a cobertura, resolveu comprar um litro de leite e alguns biscoitos. A filha iria entender e talvez essa fosse uma boa lição de Natal. Ela daria um jeito, de toda forma. Ao passar no caixa, constatou que, de fato, não lhe sobrara qualquer moeda.
Na saída, abordou a jovem mãe e lhe entregou o leite e as bolachas. A moça, agradecida, olhou nos olhos de Julieta e lhe disse: _ muito obrigada! Hoje é meu aniversário...Julieta, que já estava indo embora, voltou e disse que amanhã seria o aniversário da filha dela, Cristiana...
A moça, então, cujo nome Julieta jamais soube, enfiou a mão na caixa e perguntou se ela aceitaria um presente para dar a Cristiana e de lá tirou um cãozinho, filhote, malhado de preto e branco. Ela disse que não tinha condições de cuidar dele e que ficaria muito feliz se ele pudesse ter um lar...
Naquele dia, uma menininha teve o Natal e aniversário mais feliz de sua vida e Julieta, ao voltar no dia seguinte para levar um pedaço de bolo e outros alimentos para aquela jovem mãe, não ficou exatamente surpresa ao descobrir que ninguém jamais vira qualquer pessoa com aquela descrição por ali... Ela sabia que milagres algumas vezes acontecem...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA - A MISERICÓRDIA QUE TRAZ ALEGRIA
“Alegrai-vos no Senhor, repito alegrai-vos, pois o Senhor está bem perto” (Fil. 4,4).
Com estas palavras o Apóstolo Paulo, escrevendo da prisão, animava a comunidade de Filipos, a esperar a vinda do Senhor. Falava da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos, mas, certamente, também das vindas do Senhor no dia a dia, pois Ele vem a nós de várias maneiras no decurso de nossa vida. Filipos era uma comunidade muito querida por São Paulo, pois foi a primeira comunidade que ele fundou no território europeu e lhe era muito fiel na observância dos seus ensinamento.
No 3º Domingo do Advento, celebramos o Domingo da Alegria. O Senhor está perto. Logo chegará o Natal do Menino Jesus, Salvador. As profecias de Sofonias e a referida Carta de Paulo ao Filipenses são carregadas de sentimentos de exultação que vem da esperança que está para se realizar por intervenção amorosa de Deus.
No 3º Domingo do Advento deste corrente ano, também, para alegria de todos os cristãos, em todas as Catedrais do mundo, abrem-se as Portas Santas da Misericórdia, fato inédito trazido pela caridade do Papa Francisco que quer ver a misericórdia transformar-se em paz, em perdão, em amor para todo o mundo hodierno, “este mundo com tantas esperanças e tantas contradições” (MV 1).
A Igreja é a grande anunciadora da Misericórdia. A Misericórdia traz alegria ao coração, pois a Misericórdia é o rosto de Jesus que chega no Natal, como afirma o Sucessor de Pedro na abertura da Bula Misericordiae Vultus: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. (MV 1),
No evangelho deste 3º Domingo do Advento, contemplamos a missão de São João Batista ao anunciar a chegada do Salvador. Cristo já havia nascido, quando o Batista pregou nos desertos da Judéia e à beira do Rio João, preparando os caminhos do Senhor, mas é a partir do batismo pregado por João que Ele inicia a sua vida pública.
Respondendo a pergunta das multidões, O que devemos fazer, João Batista responde com indicação de obras de misericórdia: Quem duas túnicas, dê uma para quem não tem nenhuma, e quem tiver comida, faça o mesmo (Lc 3, 10). As palavras do Precursor nos remetem às obras de Misericórdia contidas no evangelho de São Mateus: Tive fome e me destes de comer, tive sede em destes de beber, estava nu e me vestistes...(cf. Mt 25, 35 s)
Aprendamos com João Batista que Misericórdia se pratica com humildade, pois o orgulhoso, o egoísta, o vingativo nunca consegue ser misericordioso. Por isso, ao ser interrogado se era ele o Messias, respondeu humildemente: Não sou. Ele é muito maior do que eu. Nem sou digno de desamarrar as correias de suas sandálias. Eu vos batizo com água, Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo. (cf. Lc 3, 16)
Aos publicanos e aos soldados, ele mostra que, no caminho do Messias, não cabem corrupção, exploração, roubo. Não cobreis mais do que o estabelecido; não maltrateis a ninguém, não façais denúncias falsas e contentai-vos com o vosso soldo” (cf. Lc 3, 10 ss). Todas estas práticas aqui condenadas são o inverso da misericórdia sicut Pater.
Também o Papa Francisco, na mencionada Bula, fala algumas vezes da alegria de quem pratica a misericórdia, segundo o Pai, como por exemplo, no seguinte trecho: “Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem (MV 2).
ORIGEM E DESENVOVIMENTO DOS ANOS SANTOS
O costume de celebrar o Ano Santo tem origem na Bíblia, especificamente no Livro do Levítico, capítulo 25, que estabelece o Jubileu de perdão e justiça. Lá se celebrava o Ano Sabático de 50 em 50 anos, com perdão das dívidas e o retorno das propriedades para o antigo dono.
Na era cristã, a Igreja vem cumprindo este belo costume, agora sob a luz de Cristo Redentor, e passou a celebrá-lo de 25 em 25 anos, para melhor significar a extraordinária bondade de Deus, dando assim oportunidade a cada geração de celebrá-lo ao menos uma vez. Assim o cristão é perdoado de suas dívidas espirituais para com Deus e para com os irmãos, e pode voltar à sua primeira condição da inocência batismal, após receber a indulgência plenária.
O Ano Santo é um convite à conversão continua, vencendo o pecado e renovando nossa vocação à santidade, nossa adesão inteira, de alma e de mente, à Salvação trazida por Jesus, o Filho de Deus Encarnado. Para isso a Igreja nos oferece um caminho de penitência e oração que constitui, em algumas práticas de espiritualidade, através das quais, se obtêm, da generosa benignidade de Deus, a indulgência plenária para nós e para os mortos, segundo a intenção do fiel.
Como símbolo visível, e sensível, da disposição sincera de conversão, o fiel passa pela Porta Santa, entrando assim num caminho novo, purificado pela indulgência que lhe restitui a condição inicial do Batismo. Não há nada de mágico nisto, mas muito de simbólico. A porta é, na verdade, imagem de Cristo, que afirmou: “Eu sou a porta das Ovelhas; quem entrar por mim será salvo” (Jo. 10, 9).
Por ocasiões especiais, os Papas têm convocado Anos Santos Extraordinários, como oportunidade de transformação de vida, dos costumes e da prática das boas obras.
O Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, explicou o Papa Francisco, “é um tempo favorável para todos nós, fazendo-nos contemplar a Misericórdia Divina que ultrapassa todo e qualquer limite humano e consegue brilhar no meio da obscuridade do pecado, para nos tornarmos suas testemunhas convictas e persuasivas”.
O Ano Santo Extraordinário da Misericórdia teve início no dia 8 de dezembro e se concluirá no dia 20 de novembro de 2016, Domingo de Cristo Rei do Universo, quando Papa fechará a Porta Santa da Basílica de São Pedro, em Roma. Nas dioceses, as Portas da Misericórida serão fechadas no anterior dia 13 de novembro.
NA ARQUIDIOCESE DE JUIZ DE FORA
Na Arquidiocese de Juiz de Fora, determinamos a abertura de quatro portas santas, em sintonia e ressonância com as quatro basílicas romanas (São Pedro, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extra-Muros). As nossas Portas Santas encontram-se, a primeira, na Catedral Metropolitana, em Juiz de Fora; a segunda, no Santuário do Bom Jesus do Livramento, na cidade de Liberdade, centro de grandes peregrinações; a terceira, na Matriz de Santa Rita de Jacutinga, paróquia regida por muitos anos pelo virtuoso Monsenhor Marciano, cuja causa de canonização está em andamento em nossa Arquidiocese; e a quarta, no Santuário de Nossa Senhora das Mercês, em Mar de Espanha, destacando neste a bonita referência feita pelo Papa a Maria, ao final da bula Misericordiae Vultus.
Para maior solenidade, embora se considere o Domingo da Alegria como dia de abertura de todas as portas, serão feitas celebrações presididas pelo Arcebispo, nos dias 14, no Santuario do Bom Jesus do Livramento; dia 22, na Matriz de Santa Rita de Jacutinga; dia 27, no Santuário de Nossa Senhora das Mercês, em Mar de Espanha. Tal iniciativa pretende fazer ressoar os sentimentos do coração de Papa Francisco que tem sugerido não restringir nossas atenções apenas aos centros urbanos, mas olharmos também para as periferias. Dada a grande extensão geográfica de nossa Arquidiocese, desejamos oferecer aos homens e mulheres das várias regiões do interior, às vezes tão longínquas da Catedral, oportuniade de celebrar o Ano Santo da Misericórdia com mais facilidade e frequência.
O QUE FAZER PARA OBTER A INDULGÊNCIA PLENÁRIA
Para obter indulgência, é necessário que o fiel, movido por sincera conversão, cumpra as orientações da Igreja para estas ocasiões, peregrinando a um destes lugares, passando contritamente por uma destas portas. Os fiéis são chamados a fazer sua Confissão Sacramental, a recitar o Creio em Deus Pai, renovando sua fé em Cristo e na Igreja, a rezar o Pai Nosso, três Ave Marias e o Glória ao Pai nas intenções do Papa, e participar da Santa Missa, fazendo sua Comunhão Eucarística. Não há necessidade de se fazer estes atos de piedade no mesmo dia da peregrinação, mas podem ser feitos nos dias anteriores, no máximo 30 dias antes. A celebração Eucarística, contudo é recomendável que, preferencialmente, seja participada no dia da conclusão da peregrinação.
É sem dúvida maravilhosa a decisão do Papa Francisco de estabelecer outras modalidade de Portas Santas, para os que se encontram em situações especiais. Por exemplo, lucram as mesmas indulgências, os prisioneiros que cumprirem as condições estabelecidas, e passarem contritamente a porta de sua própria cela, tranformando-a, assim, em Porta Santa. Também os doentes, podem apenas passar mentalmente pela Porta Santa, e fazerem suas orações e recebendo os sacramentos no seu leito de dor. O mesmo se dá com as pessoas idosas que não podem sair de casa, lucrando indulgências apenas pela oferenda de sua solidão, rezando em sua residência.
Enfim, o Papa indica como exercício prático para o Ano da Misericórdia, a observância contínua das Obras de Misericórdia, Corporais e Espirituais, contidas no Catecismo da Igreja Católica, baseadas todas na Sagrada Escritura, sobretudo no já mencioando capítulo 25 do Evangelho de São Mateus. Estes termos encontram-se facilmente pela internet e podem ser consultados para orientação na prática da espiritualidade do ano santo que estamos iniciando.
Vivamos intensamente este Ano Santo Extraordinário, fazendo da misericórdia o motivo central de nossa vida, e veremos como Deus nos tornará mais leves e mais felizes, pois , de fato, praticar a misericórdia nos liberta, nos ajuda a reconhecer a bondade infinita da Trindade Santíssima que deseja sejam os homens de todos os tempos iluminados pela a alegria que vem do alto. Alegremo-nos no Senhor, pois Ele está bem perto!
DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
RENATA IACOVINO - A CONDIÇÃO PARA SER....HUMANO
“Felicidade de gente se mede/Por ver o outro bisonho e desinfeliz/Bicho-homem só se apruma/Quando pesa do alheio a pluma/Bicho-homem é bicho ruim/Que inveja e enciúma/É capaz de engolir o inteiro mar/E mijar só a espuma”.
É capaz mesmo, querida amiga Valquíria, poeta e dona de versos tão verdadeiros.
Sempre ouvi, e ainda ouço, que pessoas são insubstituíveis, principalmente no quesito profissional. Mas de uns tempos para cá essa assertiva parece não encontrar maiores respaldos diante da demanda da realidade descartável em que (sobre) vivemos.
Também no aspecto pessoal aqueles que valiam um tesouro estão quase todos expostos num porta-retratos, guardando valores afetivos empoeirados e cheirando a uma época já remota – embora nem tão remota.
Não existe incondicionalidade, tampouco desprendimento, nas relações humanas. Elas se estabelecem por contrapartidas, por pragmatismos e utilitarismos, por um modo racional repleto de selvageria nas interações, por um cinismo cruel, por um desprezo pela tragédia do outro... Boa parte disto, feita de uma forma muita discreta, digamos.
Claro que em meio a toda essa regra perversa, há as exceções: aquele que ainda se preocupa com o outro, que consegue criar e manter um vínculo de amizade, que age não somente em função do humor de seu umbigo, mas coloca os olhos sobre o que está além dele, que ama os animais irracionais...
Sim, porque foi perdendo um de meus animais, recentemente, é que me senti ainda mais próxima deles e um tanto mais distante de seres como eu, cada vez mais incompreensíveis em sua natureza tão cheia de pensamentos e atitudes...
Em meio a tal perda, leio e ouço sobre as discussões acerca da “aprovação” do que é amor e do que não é.
É mesmo muita petulância nossa, indivíduos ou coletividade, instituições ou particulares, acharmos que podemos legislar sobre o amor, ou impedir determinada manifestação dele, ou ainda tratá-lo como “não amor”.
Em meio a tantas questões sérias para resolvermos a fim de impedirmos a consumação de tantas desgraças, metemo-nos em pelejas para combater um preconceito nascido há séculos e que parece querer ressuscitar nas vozes de defuntos vivos, verdadeiros sanguessugas, que vivem da exploração alheia, seja ela material, psicológica, física...
“Felicidade de gente se mede/Por ver o outro bisonho e desinfeliz”.
RENATA IACOVINO, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /http://reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
SONIA CINTRA - CAMERATA AMA
Dia 17 de dezembro, após a missa vespertina, a Catedral Nossa Senhora do Desterro foi o cenário sagrado que acolheu o Primeiro Concerto Oficial da Camerata Ama, que a todos comoveu pela sensível interpretação dos músicos do programa especialmente elaborado para a ocasião, com direção artística e regência de Sandra Gebram Mazzali, natural de Jundiaí, com experiência musical no Brasil e no exterior.
À abertura, a Camerata apresentou, de Arcangelo Corelli (1653-1713), “Fatto per la Notte di Natale” do Grosso Concerto em Sol menor, Op.6 n.8, com os solistas Graziela Fortunato (violino), Yndira Fleitas (violino), Gabriel Falcade (violoncelo). O Vivace inicial, que alterna som com silêncio é uma ideia brilhante inspirada no mistério do Natal. A Pastoral Final (Pastorale ad libitum) representa o coro angelical embalando o Menino Jesus. Em seguida, a Camerata apresentou “Luiza”, de Tom Jobim, uma das obras-primas do compositor brasileiro, e tema da novela “Falso brilhante”, da Rede Globo, na década de 1980, com as solistas Graziela Fortunato (violino) e Bianca de Souza (violoncelo). E, para encerrar, de Ottorino Respighi, a Terceira Suite de Danças e Árias Antigas, derivadas de peças italianas e francesas para alaúde, dos séculos XVI e XVII, em edições que o compositor encontrou de Oscar Chilesotti (Leipzig 1891): I. Italiana (anônimo), II. Arie di Corte (J. B. Besard), III. Siciliana (anônimo), IV. Passacaglia (L. Roncalli).
Contendo a emoção, a maestrina Sandra Gebram Mazzali agradeceu aos músicos, patrocinadores, colaboradores e público, que “acreditaram no meu sonho e me apoiaram”, resumindo a origem e o nascimento da orquestra: “Criada em setembro de 2015, pela AMA - Academia de Música e Artes em Jundiaí-SP, a Camerata é formada por jovens músicos em início de carreira e sua proposta é a de oferecer para a cidade uma Orquestra de Corda de ótimo nível artístico com ensaios semanais”. E explicou, “A AMA foi fundada como Associação sem fins lucrativos em 2007 e como Centro Cultural e Escola de Música e Ensino Artístico em 2015. Seu maior objetivo é a promoção das artes tanto na forma de ensino acessível quanto eventos culturais, tendo, também, a grande responsabilidade social de manter o Projeto Batuta, que oferece bolsas de estudo de música a crianças de escolas públicas”.
Em vésperas da celebração natalina, a Camerata Ama ofertou à nossa cidade seu Primeiro Concerto, na Catedral. E os anjos disseram amém.
SONIA CINTRA - ESCRITORA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA .
JOSÉ RENATO NALINI - SOU SEPTUAGENÁRIO!
Completo hoje 70 anos. Nunca pensei chegar a esta idade nas minhas condições. Para quem, aos 18, considerava alguém com 30 defasado, como devo me sentir agora?
Confesso que não senti o tempo passar. A despeito de naturais deficiências físicas, do esquecimento atroz, o ânimo parece o mesmo. Não perdi a capacidade de sonhar.
Parece incrível que meus avós maternos tenham falecido antes dos setenta, assim como minha avó paterna. Só o “nono” alcançou os oitenta, assim como minha mãe. Meu pai partiu aos setenta e seis. Por sinal, morte abençoada a de meus pais. Não morreram em hospital, não passaram uma hora em UTI. Partiram repentinamente, o que é doloroso para quem fica, mas evidencia que Deus gostava muito deles.
Faço um retrospecto de vida e só tenho a agradecer à Providência. Deu-me pais maravilhosos. Ainda ouço minha mãe e seus conselhos ante situações como as ora enfrentadas. Tive professores que me forneceram todos os ingredientes para a edificação de um caráter reto. Berço e escola me incutiram a contínua busca pela ética e pelo crescimento interior.
Recebi muito mais do que mereço. Pessoas muito qualificadas me inspiraram, me orientaram, me aconselharam. Tive os que torceram contra. Mas isso é bom. Anima a prosseguir.
Fiz escolhas. Nem todas certas. Mas a Providência me acompanhou sempre. Tudo foi conduzido de maneira a acabar bem. Fui feliz em todas as fases de minha vida. Guardo as mais deliciosas recordações da juventude. Assumi responsabilidades e procurei dar conta delas. Sempre trabalhei. Graças ao tirocínio de minha mãe, ganhei máquina de escrever e curso de datilografia aos dez anos. Nunca deixei de datilografar e, em seguida, digitar. Há sessenta anos escrevo diariamente!
Fui muito apaixonado pelo Ministério Público e a Magistratura me seduziu em seguida. A esta tudo devo. Procurei servi-la com verdadeira devoção. Não detenho o monopólio da verdade, curvo-me à opinião alheia, mas tenho coragem para sustentar posturas nem sempre coincidentes com a maioria.
Guardo o conforto de não ter feito mal, de maneira voluntária, seja a quem for. Meu baú de ressentimentos não tem fundo. Peço um pouco mais de existência digna e, genuflexo, agradeço a Deus pela família e amigos escolhidos com que me proveu.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br
Foto: Antônio Carreta / TJSP
FELIPE AQUINO - QUAL É O MELHOR PRESENTE QUE PODEMOS OFERTAR A JESUS?
Na Santa Ceia, narrado nos quatro capítulos, de 14 a 17, pelo evangelista São João, despedindo-se dos Apóstolos na véspera de sofrer a Sua dolorosa Paixão, Jesus fez várias recomendações. Começou dizendo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14,6). Ai está uma indicação segura de como presentear Jesus no Seu Natal. Tomá-lo como único Caminho da nossa vida; a Verdade a nos guiar em tudo o que fizermos, a Vida a viver em comunhão com Ele.
Depois Jesus disse algo marcante: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14,15). “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e manifestar-me-ei a ele” (João 14,21). “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada. Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou” (João 14,23).
Ele ainda repetiu: “Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor” (João 15,10).Ele já tinha dito no Sermão da Montanha que “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21).
Na mesma noite Ele insistiu para que permaneçamos Nele para podermos ter condições de guardar os Seus mandamentos e fazer Sua vontade: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim” (João 15,5).
Leia também: Símbolos do Natal
A exemplo dos três reis magos, o que podemos oferecer a Jesus neste Natal?
Perito explica à luz da história os presentes dos Reis Magos ao menino Jesus
Como temos preparado a nossa vida para a chegada do Senhor?
Qual é o presente que você vai dar para a Mãe de Deus?
Então, não podemos dar um presente melhor para Jesus do que permanecer com Ele em nossa alma, em estado de graça. Deus habita em nosso coração quanto vivemos neste estado. Ai o Céu está presente em nós, e Deus é glorificado.
E Jesus resumiu para os discípulos a essência dos Seus mandamentos: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando (João 15,12-14). “O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (João 15, 17). A caridade, o amor a Deus e ao próximo, que é o “vínculo da perfeição”, “a plenitude da Lei”, resume todos os Seus mandamentos.
Ouça também: Mensagem especial de Natal
Jesus é a referência do amor. Amar não é ter paixão por alguém, é dar a vida pela pessoa amada. São Paulo recomendou aos maridos que “amassem as suas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). Foi até a Cruz por ela. Ele mostrou que amar não é um gesto sentimental e nem romântico, mas é uma decisão de renunciar a si mesmo pelo bem do próximo.
Jesus disse que se faz presente em cada um dos pequeninos. “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40). Ele se identifica com os doentes e presos que esperam uma visita, com os famintos que esperam o alimento, com os aflitos que esperam uma boa palavra, com os que choram e esperam a consolação. Quando São Paulo perseguia os cristãos, Ele se identificou com eles e disse a Paulo: “Saulo, por que tu Me persegues?”. Ele não perguntou a Paulo por que ele perseguia os cristãos.
Assista também: O que podemos oferecer a Deus? – Lc 21,1-4
Por fim, Jesus encerrou a Santa Ceia com a Sua “Oração sacerdotal” (João 17) em que recomendou ao Pai todos os seus seguidores, e pede ao Pai: “Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que Tu me enviaste.” (João 17, 21).
Este é certamente um pedido especial de Jesus a todos nós, que sejamos unidos para podermos dar testemunho ao mundo de que Ele é Deus e Senhor. Esta união de nossa parte pressupõe a unidade com os pastores, sobretudo com o Papa, e a “obediência da fé” à doutrina aprovada pelo Magistério da Igreja. Nada enfraquece mais a Igreja e retarda a implantação do Reino de Deus na terra do que a desunião dos cristãos, os cismas e as heresias.
Nada agrada mais a Jesus do que “guardar estes Seus mandamentos”. No Sermão da Montanha Ele os desdobrou; não apenas os Dez Mandamentos da Lei de Deus, mas tudo o que o seu discípulo deve viver. São três longos capítulos do Evangelho de São Mateus (5,6 e 7), que os teólogos chamam de “Constituição do Reino de Deus”, Carta Magna dos seus seguidores. Ali Ele explicou a Sua doutrina nova. E terminou dizendo: “Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha” (Mateus 7,24-25). Quando Ele terminou o Sermão, a multidão estava feliz; diz o evangelista São Mateus que: “Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina. Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas (Mt 7,28-29).
O melhor presente a ser dado a Jesus é ouvir a Sua voz de bom Pastor e o seguir como uma ovelha dócil.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
PAULO R. LABEGALINI - HISTÓRIAS DE FÉ
Num dia do século XIII, Santo Antônio estava pregando em Rímini, cidade da Itália, quando foi desafiado publicamente por um herege chamado Bonvillo, que gritou:
– Ó frade sabichão! Chega de dizer bobagens, de inventar mentiras, de enganar o povo. Eu nunca acreditarei que Deus possa estar num pedaço de pão. Isso é invenção sua!
De nada valeram os argumentos teológicos que frei Antônio lhe apresentou sobre a Santa Ceia, pois o homem insistia:
– Eu acreditarei na sua Eucaristia, mas exijo uma prova. Vou deixar minha mula três dias sem comer o seu alimento preferido, o cheiroso feno do campo, e vós podeis trazer diante dela o que dizeis ser o alimento dos cristãos, na qual, está presente o Senhor Jesus. Pois bem, se a minha mula se ajoelhar reverente diante da hóstia, aí sim, eu acreditarei.
Um silêncio profundo se fez na imensa praça de Rímini. O povo católico, silencioso, esperava algum desfecho para aquele estranho e provocante desafio. E Bonvillo continuou em alta voz:
– E digo mais, ó frade Antônio! Se a mula se ajoelhar diante daquilo que vós chamais de Santíssimo Sacramento, eu também me ajoelharei.
A expectativa era grande. De repente...
– Aceito, ó Bonvillo! Aceito o seu desafio, se é para o bem de sua alma, se é para o bem do povo de Deus aqui reunido, se é para a honra e glória do Senhor.
Dali a três dias, na hora marcada, a praça já estava tomada por uma imensa multidão – alguns foram por devoção e, outros, por simples curiosidade. Cantando um hino eucarístico, frei Antônio saiu liturgicamente vestido da catedral, trazendo consigo um lindo ostensório com a Hóstia sagrada.
Não demorou muito e lá chegou o fanático herege – berrando e puxando a sua pobre mula. Parando perto do altar, espalhou o feno cheiroso que trouxe num saco às costas. Santo Antônio, recolhido, permanecia de joelhos em oração. Quando Bonvillo soltou a mula, já todo sorridente prevendo o desfecho da caminhada do animal faminto, seus olhos não acreditaram no que viram: a mula não se movia do lado do religioso.
Em vão, o herege começou a empurrá-la para a erva fresca. Brandia nos ares o seu chicote, mas tudo era inútil. Frei Antônio, então, levantou-se, pegou o Santíssimo e começou a abençoar a multidão que, piedosa, se ajoelhou. Naquele mesmo instante, como se estivesse acompanhando o povo cheio de fé, também a mula dobrou suas patas dianteiras, deixando Bonvillo solitário em pé. Comovido e cheio de lágrimas, ele dobrou os joelhos e cantou com a multidão: “Bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento!”.
E o dono da mula fez-se cristão. Cristão católico! Você sabia disso?
Perante o mistério a gente se cala e perante o milagre a gente se ajoelha, reza e agradece. Agora que você já sabe desta linda história verídica sobre Jesus Cristo vivo na Santa Eucaristia, não deixe de recebê-lo toda semana na comunhão. Humildemente, dobre os seus joelhos e aproveite para pedir a Ele que restaure a sua vida e o seu coração.
Através da fé, se você conseguir essa graça, logo se colocará a Seu serviço e a serviço de sua Mãe Santíssima em 2016. Assim seja!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - MACAQUINHOS DE IMITAÇÃO
Em meados de Dezembro, deste ameno Outono, em que o Sol ainda doira a cidade do Porto, fui à farmácia da baixa.
Precisava de comprar medicamentos para achaque, que a “ferrugem” da idade e do uso, vai entorpecendo – com dores agudas, – a engrenagem do corpo.
Entrei e dirigi-me ao balcão. Reparei que todo o estabelecimento encontrava-se decorado, com vistosos motivos natalícios: árvore branca, coberta de largas fitas prateadas, e grandes e vistosas bolas, todas vermelhas.
Ao centro, viam-se quatro letras de cartão, capitaneadas por “X”; formavam palavra que me pareceu uma charada; mas alegravam, sem duvida, a loja, já que cada uma continha: pinhazinhas e raminhos verdes, que me pareceram naturais.
Cheio de curiosidade, interroguei a empregada, que era doutora, acreditando nas letras bordadas a azul, na bata branca.
Esta, risonha e solícita, esclareceu-me que era a palavra “Natal“, em inglês. Agora, na América, só se usa o diminutivo…
Pensei, de mim para mim – já que não tinha botões, mas fecho- éclair, nas vestes, –: Que mania, que doença é essa, que nos transformou em macaquinhos de imitação; copiadores de tudo que se usa na terra de Tio Sam! …
Comerciante, lá nos confins do Ocidente, em certa sexta-feira, resolveu saldar, a preço de chuva, o stock; vai os “macaquinhos” repetirem a gracinha, na nossa terra, não se dando ao trabalho de tradução.
Compreende-se: “sexta-feira negra”, não soava bem aos ouvidos dos bacoquinhos nacionais, sempre prontos a caírem de joelhos, ao que se diz e se faz na estranja.
Outrora, no tempo de Eça, e mesmo no meu tempo de menino, tudo vinha de Paris: Era elegante falar francês; usar a moda parisiense; citar escritores franceses…
Avaliando pelos versos de Nicolau Tolentino, essa esquisita doença, já vem de longe…
Agora, a mania, é o inglês. Até as crianças estudam-no na escola, juntamente com a língua pátria.
Mas desculpem-me os leitores do Brasil – sei que são muitos e muitos os estimo, – a macaquice também chegou à vossa terra.
Não falo dos “macaquinhos”, que certa elite intelectualizada, considera cultura (?!); e não me admiro, que venham aparecer, em breve, na Europa, como embaixadores da cultura brasileira…; mas da tendência – não fossem filhos do mesmo pai, - de cobiçarem tudo que se usa no velho continente e principalmente nos Estados Unidos.
O responsável ou responsáveis, pela farmácia, por certo, descobriram numa das largas e modernas avenidas nova-iorquinas, a nova forma de escrever, “Natal”, e considerou ou consideraram, elegante, colocar a “ novidade” na loja, para deslumbrar os bacoquinhos lusos.
Consideraram e com razão. Não somos nós macaquinhos de imitação?!
Em tudo, apesar de dizerem: que têm novecentos anos de independência; serem soberanos; não receberem lições de ninguém; possuírem cultura incomparável; não passam de “macaquinhos de imitação”: na Música, na Literatura, na Moda, na Arte… e até na Educação…
Eternos complexados…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - ABRAÇO DE NATAL
Este é o meu ABRAÇO DE NATAL para todos vós com desejos que este Natal concretize todos os seus sonhos.
Ouça e veja o poema no PPS anexo, em PS ou aqui neste link:
Desejos de BOAS FESTAS
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2015
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - CARTA À PRINCESA IMPERIAL REGENTE
Em setembro de 2015 comemorou-se o segundo centenário do nascimento de São João Bosco, fundador da Congregação Salesiana e um dos maiores e mais completos pedagogos que já existiram em toda a História. O “método preventivo” - proposto por ele como alternativo ao excessivamente severo e por vezes cruel “método repressivo”, que era costumeiro na educação infanto-juvenil - até hoje impressiona os estudiosos de Pedagogia isentos de parcialidades e preconceitos anticatólicos.
Comentei, no artigo da semana passada, que Dom Bosco foi, também, precursor do ensino profissionalizante, e que essa particularidade atraiu a atenção da Princesa Isabel, que se deparava com um problema muito sério: qual seria o “after day” dos negros, uma vez libertados do cativeiro? Ela estava decidida a eliminar completamente a vergonhosa chaga da escravidão, mas receava o que seria feito dos escravos, depois de libertos. Habituados a muitos séculos de escravidão, primeiro no continente africano de origem, depois no Novo Mundo, como reagiriam vendo-se de repente livres, responsáveis pelos seus atos e tendo que prover por sua própria iniciativa ao suprimento de suas necessidades? Como se daria a adaptação à vida livre, de quem carregava consigo o peso atávico de uma tão prolongada servidão, ainda mais no contexto de uma sociedade que conservaria costumes e hábitos mentais profundamente impregnados da mentalidade escravagista? Como fazer a emancipação total dos escravos, sem prolongar sua triste condição de dependência e subserviência disfarçada sob as aparências de uma liberdade meramente pro forma?
Todos esses problemas, a Princesa tinha bem presentes em seu espírito, e em função deles procurava adequar sua estratégia política. A opção imperial pela emancipação por etapas se adequava a essa estratégia. Primeiro, a proibição do tráfico negreiro; depois, a Lei do Ventre Livre, seguida pela Lei dos Sexagenários; e, por fim, a Lei Áurea. Quando, no dia 13 de maio de 1888, a Princesa assinou a Lei Áurea, os escravos afinal libertados constituíam apenas uma minoria dos afrodescendentes. Apenas 16 % dos descendentes de escravos aqui trazidos pelo tráfico negreiro, durante mais de 300 anos, ainda eram escravos naquele momento. 84 % já estavam emancipados, ou em virtude das leis abolicionistas anteriormente promulgadas, ou por efeito do trabalho emancipador lento, mas constante e bem sucedido, das beneméritas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, presentes e atuantes em todo o Brasil. O papel dessas confrarias foi muito bem estudado pela Profa. Antônia Quintão dos Santos Cezerilo, minha amiga e colega no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Uma das táticas desenvolvidas pela Princesa para facilitar a integração condigna e justa dos antigos escravos na dinâmica social e econômica do Brasil foi o incentivo ao ensino profissionalizante, novidade que Dom Bosco lançara em Turim, no Norte da Itália, e que a Princesa desejou logo pôr em prática no Brasil.
Foi a pedido da Princesa que Dom Bosco enviou, em 1881, os missionários Salesianos que iniciaram seu trabalho em Niterói, depois na cidade de São Paulo, em Mato Grosso, em Minas Gerais e muitos outros locais. Em Piracicaba, desde meados do século XX trabalham ativamente, no Colégio Dom Bosco.
A troca de cartas entre o Santo piemontês e a Princesa brasileira foi registrada nas monumentais “Memorie Biografiche di Don Giovanni Bosco”, escritas pelo Pe. G.B. Lemoyne. Transcrevo aqui apenas uma dessas cartas, selecionada pelo Pe. Rodolfo Fierro e publicada na edição espanhola de Biografía y escritos di San Juan Bosco (BAC, Madri, 1955):
“Turim, 25 de março de 1886
Alteza Imperial, a Divina Providência dispôs que se abrissem duas casas Salesianas no império do Brasil: uma em Niterói, e outra em São Paulo, ambas consagradas a acolher meninos pobres e abandonados. Alguns dos nossos religiosos que aí trabalham e vieram por algumas semanas à Itália me falaram muito da bondade e da caridade de Vossa Alteza Imperial, e por isso me creio no dever de lhe apresentar os meus agradecimentos e recomendar a V. A., e a Sua Majestade o Imperador, todos os Salesianos, que não desejam outra coisa senão salvar almas para o Céu e diminuir na terra o número dos díscolos. Eles rezam e recomendam a seus meninos que rezem pela saúde e bem-estar de V. A., de Sua Majestade e toda a Família Imperial.
Maria Santíssima proteja a toda a dinastia, pela qual todos os nossos meninos rezam. Quanto a mim, tenho como dever invocar todos os dias na Santa Missa as bênçãos celestes sobre todos os súditos brasileiros. E tenho também a alta honra de me professar humildemente, obrigadíssimo servidor, a) Pe. João Bosco”
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - ALGUMAS REFLEXÕES PRÉ-NATAL
A época natalina se constitui num momento de poesia e ternura para uns; de reflexão e fraternidade para outros. Há os que não encontram nenhum sentido na data e àqueles que, presos aos aspectos dominantes impostos pelo “marketing” consumista, só se preocupam com suas satisfações pessoais. Entretanto, o Natal nos convoca a assumir o mundo como Jesus o avocou. Ele se fez homem para libertar a humanidade e revelar a todos o amor do Pai. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos, e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18).
Como reflexão à ocasião, podemos dizer que o ser humano ainda não percebeu o quanto a vida é curta e principalmente, a rapidez com que o tempo passa. Influenciado pelo sistema, que só valoriza os que têm dinheiro e poder, vive competindo com os outros e procurando angariar cada vez mais recursos para talvez se sentir maior ou melhor que as demais pessoas.Age apenas em função de suas próprias vantagens. Esquece-se das pequenas coisas, dos gestos simples e se afasta daqueles que não tem as mesmas ou menores condições. E o pior, esnoba-os ou os ignora.
Pratica constante e nitidamente atos de desigualdade, prepotência, empáfia e egoísmo, acreditando que é soberano, melhor que qualquer um e por isso mesmo, tendo “o rei na barriga”, tudo pode.Ledo engano. Próximo do fim da vida verificará que as suas verdades não passam de mentiras veladas; remonta o passado e surgem remorsos;
descobre que os amigos só se aproximaram por interesse; procura, mas não acha qualquer relacionamento consistente e descobre que a falsidade encobriu o manto de todos os que os cercaram.
Aprende muito tarde a maior de todas as lições: valorizou só a matéria e deixou a espiritualidade de lado. Assim, o seu legado é manifestamente frágil, vazio e inócuo, pois não prezou quaisquer dos valores reais: amizade sincera, simplicidade, solidariedade, amor ao próximo e respeito irrestrito aos indivíduos indistintamente.O seu passaporte para o outro lado acaba se vencendo e provavelmente não irá a lugar nenhum. Sua nova trajetória será de desencontros, infortúnio e absoluta solidão.
Vamos pensar muito nestes aspectos e circunstâncias. Talvez assim, trataremos os seres igualmente, sem quaisquer diferenças, lembrando que
todos são idênticos perante Deus e que a nossa Constituição Federal dispõe que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
DIA DA LEMBRANÇA
No dia seguinte ao Natal, vinte e seis de dezembro, celebra-se o Dia da Lembrança. A data faz parte do calendário formal, inexistindo, todavia, uma explicação formal. Alguns historiadores afirmam que a celebração foi criada justamente nessa ocasião pós festa natalina para fazermos uma reflexão. E nessa trilha, invocamos Jeremy Irons :- “Todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam pra trás, são chamadas de memórias. Outras nos levam para frente, são chamadas sonhos”.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Autor do livro “O Direito de Envelhecer num País ainda Jovem” em 4ª. Edição- Ed. In Ho
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - POR QUEM OS SINOS DOBRAM ?
Por algumas razões que até já ousei pontuar em outros textos, escolhi a cidade de São Paulo como meu ponto de chegada. Aprendi que aqui as coisas não são necessariamente piores do que em outras cidades, mas ficam mais evidentes, no mínimo. Contudo, embora tenha aprendido a gostar muito desse lugar, há muitas coisas que me deixam sempre pensativa, oscilando entre a tristeza e a revolta.
Uma das situações que mais me assusta é o descaso dos governantes e mesmo da população de um modo geral. Há sujeira e miséria para todo lado, sobretudo em algumas regiões. Trabalho no centro da cidade e não consigo deixar de me espantar com a quantidade de lixo que ocupa todas as calçadas, bueiros e ruas. As pessoas descartam seus papéis de bala, restos de alimentos, bitucas de cigarro e toda espécie de lixo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. A cidade, assim, agoniza um pouco mais a cada dia, desamparada e moribunda.
Assim, dia desses, como tento fazer todos os finais de ano desde que me mudei para cá, fui até o centro da cidade para comprar alguns artigos para a ceia de Natal, no Mercadão Municipal e, para isso, servi-me do metrô, seguindo a pé por outro tanto do caminho. Foi-me impossível não notar na sujeira das ruas e na inacreditável quantidade de desabrigados dormindo enrolados em papelão ou envoltos em cobertores puídos e encardidos. A visão de tantas pessoas perdidas em meio à sujeira, às drogas e à criminalidade, entristece em muito meu coração. Sei que ali há gente de todo tipo e que, por certo, alguns se encontram em tal situação por conta de escolhas equivocadas, mas mesmo assim eu não consigo achar normal a normalidade da classificação “gente de rua”...
Segui o meu caminho, comprei o que precisava e fui até a igreja que fica no Mosteiro de São Bento, igualmente no centro da cidade. Para quem nunça esteve lá, além de uma construção belíssima, há, dentro do mosteiro, uma loja de iguarias da confeitaria, com a venda de pães, bolos e geleias feitas pelos monges. Cada bolo, por exemplo, além de elaborado a partir de ingredientes finos, vem em embalagens tão bem feitas e de bom gosto que tornam os produtos verdadeiras obras de arte, tanto visual como culinariamente.
Há alguns anos eu costumo incluir ao menos um desses bolos entre as coisas que levo aos meus pais e irmãs para os comes de fim de ano. A questão é que, embora maravilhosos, os bolos não são baratos. Não digo que não valem o valor cobrado, mas não é algo acessível a todos. A grande maioria das pessoas que frequentam a igreja ou que vivem nos arredores, por exemplo, não tem condições de adquirir o que ali é vendido.
Não estou afirmando que seja imoral os monges venderem coisas caras, ainda que seja comida, pois não sei qual o destino do dinheiro que resulta dessas vendas e que pode muito bem ser a caridade, mas eu não consigo deixar de achar que há algo errado em uma cidade, em um país, no qual alguns pedem esmola na frente da igreja e lá dentro se vende o que poucos podem comprar. Não dá para dizer que não há uma desigualdade social abissal...
Comprei meu bolo de pistache e especiarias e, assim que saia da igreja, os sinos começaram a badalar. Por alguns minutos eles tocaram alegremente, abafando os ruídos da cidade. Pensei em como deveria ser há algumas décadas e se as árvores, rios e ausência dos odores do descaso seria capaz de acalmar não apenas o meu, mas os corações de quem por ali estivesse.
Amo São Paulo e gostaria de vê-la menos suja e poluída. Gostaria que viver o suficiente para ver uma cidade mais bonita e com, no mínimo, um serviço social mais atuante, um governo que realmente se procurasse com os cidadãos que precisam de ajuda e não apenas em pintar ciclofaixas... Enquanto isso, sigo pensando em por quem os sinos dobram...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com