O declínio do nosso Império acompanhou, passo a passo, o declinar da própria saúde do Imperador D. Pedro II, personalidade marcante, profundamente entranhada no imaginário e na mentalidade dos brasileiros de sua época. De tal modo o imperador representava, simbolizava e personificava toda uma ordem de coisas política, social e cultural que, por assim dizer, generalizou-se a ideia de essa ordem não poderia sobreviver ao velho monarca.
O que faltou foi uma maior explicitação e conscientização de que o regime monárquico transcendia muito a pessoa do monarca, por mais paradigmático e carismático que este fosse. Faltou uma fundamentação doutrinária que, expressa em termos acessíveis aos homens da época, representasse um "exorcismo" suficientemente poderoso para resistir às tentações e aos cantos de sereia das novidades republicanas.
Normalmente, atribui-se o fim do Império e a proclamação da República a três causas principais: a abolição da escravatura, a questão militar e a questão religiosa. Esses três pontos, realmente, sinalizam três importantíssimos apoios do antigo regime que, por razões diversas, lhe foram retirados e permitiram o advento da República.
A Abolição, sobretudo tendo se realizado às vésperas de uma colheita, produziu grande descontentamento entre os proprietários rurais, força conservadora de grande prestígio social e político, de si um dos sustentáculos do regime. Os republicanos, que mais tarde se gabariam de terem sido abolicionistas, eram, na sua maioria, escravocratas e criticaram o Treze de Maio.
A questão militar deveu-se, segundo entendo, à falta de habilidade política dos sucessivos gabinetes que governaram o país desde o final da Guerra do Paraguai (1870). Estando em ascensão uma nova classe dirigente civil, já formada nas Academias de Direito e não mais saída, como outrora, das academias militares, os militares foram se sentindo cada vez mais alijados dos grandes postos administrativos. Um pouco de diplomacia e jeito teria resolvido o problema, mas sucessivas medidas foram tomadas de modo a desagradar as cúpulas das forças armadas. O cúmulo da humilhação foi a nomeação de Calógeras, um civil, para a Pasta da Guerra.
Por fim, a bem conhecida questão religiosa cindiu a tradicional sustentação mútua Trono-Altar. Neste ponto concreto parece-me inegável uma contradição interna do regime, que, rejeitando a fundamentação religiosa de sua remota origem, de fato recusava o apoio de seu mais sólido sustentáculo moral.
Desejo chamar aqui a atenção para um outro elemento que contribuiu, a meu ver de modo decisivo, para o fim do Império. Para quem leu "Ordem e Progresso", de Gilberto Freyre, fica claro que havia um certo fator psicológico presente na sociedade brasileira nas últimas duas décadas do regime monárquico, por onde o advento da república parecia incoercível. Até mesmo monarquistas ferrenhos pouco a pouco foram se resignando à ideia de que a república significava o futuro. Alguns até reconheciam a república como um ideal em tese desejável, se bem que não alcançável a prazo breve. O próprio D. Pedro II, segundo consta, teria declarado que preferiria ser presidente de uma república a imperador.
A doutrina e a mentalidade positivistas que então impregnavam a sociedade considerada moderna viam a História como o resultado de uma evolução incoercível, e a transição da monarquia para a república seria etapa necessária de tal evolução. Só não se sabia quando se daria essa transição.
Assim sendo, o debate entre monarquistas e republicanos já não mais se travava sobre as virtudes e vantagens de cada regime político, mas passava a ser sobre se convinha ou não fazer logo a mudança. Os monarquistas já não tinham coragem de combater a república em seus pressupostos doutrinários e ideológicos, mas, timidamente, limitavam-se a dizer que "o Brasil ainda não estava preparado para a República".
Recordo de ter lido, nas Memórias de Chateaubriand, que ele, ainda jovem, serviu no exército contrarrevolucionário do Duque de Brunswick, formado por emigrados da nobreza para combater a Revolução Francesa. Da narração de Chateaubriand se depreende que esse exército não poderia estar fadado senão à derrota, já que os jovens aristocratas que serviam em suas fileiras estavam profundamente impregnados da mentalidade enciclopedista e voltairiana, e nutriam admiração pelos ideais revolucionários que, não por convicção, mas por mera força de um atavismo familiar, combatiam com armas na mão.
Analogamente, nos anos 70 e 80 do século XX, quando o domínio mundial do comunismo parecia inevitável, muitos burgueses amolecidos declaravam-se simpatizantes do socialismo e diziam ser este o regime do futuro, contra o qual era impossível resistir. A esse ponto havia chegado o entreguismo e a falta de convicção na justiça da causa que, enquanto burgueses, teriam todo o interesse em defender.
Esses dois exemplos, o do exército amolecido e pouco motivado de Brunswick, e o da burguesia mais recente a que me referi, parece-me que servem como referenciais para se compreender como o Brasil monárquico de 1870-1889 foi sendo minado e perdendo a convicção da legitimidade de seu sistema.
Acrescente-se a isso o mimetismo, o espírito imitativo e macaqueador tão próprio do nosso povo, e compreende-se que tenha preferido imitar o modelo das republiquetas hispano-americanas.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
O Dia da Sogra é comemorado a 28 de abril. A sua origem é desconhecida e há os que acreditam que alguém por remorso quis fazer uma homenagem após sua morte e outros afirmam que a autoria veio dos Estados Unidos, motivada por apelo comercial e a consequente instauração de outra data voltada à venda de produtos. A verdade é que ninguém sabe dizer ao certo como surgiu a ideia de estabelecer a celebração, que transparece inusitada, mas deveria ter um fundo manifestamente afetivo.
Do latim “socra”, que substituiu o clássico “socrus”, a palavra significa mãe do marido, em relação à mulher; ou mãe da mulher, em relação ao marido. Por essa razão as relações entre eles deveriam ser de grande apego e respeito. No entanto não é bem isso que ocorre. Na cultura popular moderna, muitas vezes ela é vista como um fardo a ser carregado e a palavra acaba por adquirir sentido pejorativo, transformando-se em vítima de piadas e brincadeiras, vista como vilã e grande rival dos cônjuges.
No Brasil o cantor Dicró ficou famoso por suas músicas onde conta piadas da própria sogra, que costuma realmente ser tema muito popular entre comediantes em geral. Também o escritor Andrey do Amaral lançou o sucesso “Como Enlouquecer Sua Sogra”, com diversas reimpressões. Nessa trilha, há ainda indicações sobre a sua fama de fofoqueira. Tanto que existe a denominada “língua de sogra”, instrumento usado em festas infantis, que se assopra numa ponta, provocando um alongamento, como se fosse extensão da língua; concluído o sopro, a parte estendida retorna à boca, como que recolhendo a pseudo-língua. Também é famosa a expressão “casa da sogra”, que na teoria, é um lugar onde tudo é permitido, onde se pode ficar à vontade. Na culinária, um dos doces mais famosos nas festas é o “olho de sogra” cujo nome original era “olho de cobra”.
No entanto, nem todas as sogras são pessoas enxeridas ou irrascíveis. Ao contrário, muitas são grandes aliadas dos casais e só visam defender a família. Por isso, precisaríamos comemorar essa data, com ênfase, além do que, para os menos avisados, no calendário ela fica bem distante do Dia das Bruxas, festejado em outubro. E sem quaisquer outras brincadeiras, nada melhor do que viver em harmonia. Portanto, não há desculpas para não parabenizá-la e dar um abraço apertado, ou até mesmo um presentinho. Afinal, ela criou a pessoa com quem convivemos e que amamos.
E o mais importante é cultivar um bom relacionamento e uma das chaves para isso é a comunicação. O Dia da Sogra se constitui numa excelente oportunidade para demonstrar grandiosidade de espírito e manter um clima permanente de afinidade e conciliação. O bom convívio nora, sogra e filho-marido, ou, genro, sogra e filha-esposa, é muito importante e todos precisam contribuir para bem desempenhar o papel que lhes foi reservado na existência. Deixemos de lado possíveis rixas e cismas, vivenciando sempre o lado bom da vida com os entes queridos, conscientes na distinção de papéis e na organização de espaços de modo a conseguirmos uma convivência integrante. Todos ganham com tais posturas.
DIA DO EMPREGADO DOMÉSTICO
Comemora-se a 27 de abril o DIA DOS EMPREGADOS DOMÉSTICOS, em homenagem a esses profissionais, que em face da intensa convivência diária nos lares onde trabalham e da confiança que muitas vezes transmitem, acabam estabelecendo vínculos pessoais fortes e de amizade com as patroas, seus familiares e parentes próximos. Mesmo assim ainda lutam por maior reconhecimento já que não dispõem completamente dos direitos dos demais trabalhadores, sobrando-lhes inúmeras lacunas na legislação trabalhista. Na realidade, os que atuam nesta área são trabalhadores diferenciados quanto à diversificação de tarefas (a babá, a faxineira, a cozinheira, a enfermeira que cuida da avó doente etc.) e identificados quanto ao local do desempenho das mesmas, normalmente a residência de seus patrões, ainda que no âmbito externo (o motorista que leva os filhos à escola, o jardineiro habitual etc).
A data comemorativa se deve a Santa Zita. Ela nasceu no dia 27 de abril em 1218 na Itália e devido a sua origem humilde e camponesa, aos 12 anos começou a atuar como empregada doméstica, trabalhando para a mesma família por várias décadas. Generosa com as esmolas aos pobres que batiam à casa dos Fatinelli, nome da família de seus patrões, tirava do seu próprio salário para ajudar aos necessitados. O Papa Pio XII proclamou-a padroeira da categoria.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
Meu avô paterno e eu, muitas décadas atrás, vivíamos tentando capturar uma colmeia de abelhas jataí. Para quem não as conhece, são abelhinhas pequenas, muito dóceis, sem ferrão e produtoras de mel de excelente qualidade. Queríamos que ao menos uma parte da colmeia que já vivia dentro de um buraco que havia numa das paredes externas aceitasse nosso “convite” e fosse morar dentro de uma caixinha especialmente preparada para elas.
A finalidade da manobra era que elas se instalassem em um local do qual fosse possível, ainda que num futuro não tão próximo, extrairmos uma porção de mel, o que, infelizmente, não conseguíamos fazer lá no local onde estavam. Assim, seguíamos à risca as orientações das pessoas da época: esfregávamos folhas de erva cidreira dentro de alguma caixa de madeira ou mesmo em cabaças e ficávamos esperando que elas se dignassem a fazer as malas, instalando-se lá, seduzidas pelo aroma doce das folhas maceradas.
Para além das abelhas obviamente não serem trouxas, calculo que não fizemos as coisas corretamente, eis que nunca logramos êxito. O tempo passou, meu avô já se despediu de nós, aquela casa da minha infância nem existe mais, mas, a despeito de tudo isso, nunca deixei de pensar nas abelhas jataí. Tão logo mudei-me para a casa na qual moro atualmente, vi, com alegria, que no pé do ipê que tenho na porta, havia uma colmeia de ditas abelhinhas. Alguns anos depois, contudo, sem que eu possa imaginar a razão, elas abandonaram o lugar e, uma vez mais, eu disse adeus às pequeninas prodígio.
Há cerca de um mês, no entanto, fui chamada pelo meu marido para ver uma matéria no jornal da manhã, pois ele sabia que seria de meu interesse e, poucas horas depois de assistir a uma reportagem sobre um rapaz que vendia enxames de abelhas jataí, eu estava com o meu devidamente encomendado! E foi assim que, revivendo um sonho de criança, eu recebi, dois dias depois, pelo correio, minhas queridas Clotildes, como as apelidei carinhosamente.
As instruções eram claras. Eu deveria colocar a caixa de madeira que abriga um enxame com dois anos de formação, diretamente no local definitivo, longe do sol e da chuva diretos. Escolhi um cantinho entre meus vasos, abrigado pelo beiral do telhado e, minutos depois de desembrulhada a caixa e desobstruída a entrada, as primeiras abelhinhas já estavam reconhecendo o lugar, passeando entre as flores que, nesse inverno estranhamente quente, estão abundantes.
Não sei porque escolhi chama-las de Clotildes, mas foi algo instantâneo e agora já estão “batizadas” e donas do pedaço. Todos os dias quando escurece, as Clotildes vedam a entrada da colmeia com cera, abrindo-a tão logo amanhece. Responsáveis pela polinização das flores, devemos às abelhas muito mais do que o mel, mas também a sobrevivência de várias espécies, pois com a polinização temos os frutos e as sementes. Expulsas da zona rural pelo uso indiscriminado de inseticidas, as abelhas, de um modo geral, tem encontrado refúgio no meio das grandes cidades.
Aqui em casa, posso afirmar que são muito mais do que bem-vindas, pois são convidadas de honra. Penso que demorei um pouco mais do que eu previa para atraí-las para mim e é uma imensa pena que meu avô José não esteja aqui para desfrutar comigo esse pequeno prazer, mas é com alegria que as observo, desejosa de que possam estar fazendo seu papel na natureza que insiste em sobreviver em meio ao cinza.
Não sei se terei coragem, algum dia, delas tirar algum mel, mas toda vez que as observo, sinto cheiro de erva cidreira macerada e no meu coração fica a certeza de que doce é a vida, mesmo que efêmera como o bater de asas de pequenas abelhas...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
Falaram-me a respeito do garoto de 12 anos, que esteve de felicidade encantada. Preparou-se da melhor maneira possível, incluindo cabelo com gel, para ir ao teatro assistir ao “O Menino Maluquinho”, baseado no livro infantojuvenil do escritor e cartunista Ziraldo Alves Pinto. História de um menino alegre e sapeca, que aprontava muita confusão. Versos, músicas e brincadeiras inventadas faziam parte de seu universo. Dez em todas as matérias da escola e zero em comportamento. Mas na realidade era um menino feliz, que não causava dano às pessoas.
Esse pequerrucho agrada tanto quem sabe dele, que até Milton Nascimento compôs a música “O Menino Maluquinho”: “Vida de moleque é vida boa/ Vida de menino é maluquinha/ É bente-altas, rouba-bandeira/ Tudo que é bom é brincadeira. (...) O menino é o dono do mundo/ E o mundo não é mais que uma bola/ O menino não conhece perigo/ Tem um anjo da guarda na sua cola./ O tempo do menino maluquinho/ É um tempo que existe só na infância/ Mas ele é eterno em todos nós/ Ele gruda feito chiclete, feito esperança”.
No dia seguinte, retornou com mais magia para relatar os detalhes da peça.
Existe outro evento do qual o menino participa, contudo sem o mesmo entusiasmo; envolve-se pela necessidade de se inserir no grupo de seu entorno. É uma balada, no galpão de lata, que dispensa carteirinha e comprovante de idade. Basta se submeter ao ritmo com gestos e requebros sensuais em forma de convite para o uso de carnes à disposição. Os garotos, como ele, vão ajeitados e as meninas que, antes de sair de casa, acomodam bonecas e bichinhos de pelúcia sobre o travesseiro, de dobras à mostra, sorriso malicioso, aguardam os que as queiram para não se sentirem excluídas. E há outros acréscimos: a bebida alcoólica, a fumaça e o inalante, que reduzem a lucidez, fazem esquecer momentaneamente os dissabores e dificuldades e despertam a euforia sem prudência.
Ah, meu Deus, que doloroso!
Que será dos meninos de quem arrancam a infância, para lhes apresentar, por razões torpes, o papel de “adultos” da transgressão?
Que será das meninas de corpo inflável para instintos sem afetividade e compromisso?
Que será dos bebês gerados na loucura de uma noite sinistra?
Onde se encontram os pais de meninas e meninos que moram em casas escancaradas para acontecimentos que terminam em tragédia?
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Assim como muitas palavras na Língua Portuguesa, o termo pipa pode ser um recipiente bojudo de madeira para armazenar bebidas e também um brinquedo usado por crianças do mundo inteiro.
Sobre esta pipa brinquedo é que o texto versará.
Quem vê uma pipa no ar, não imagina que esse brinquedo teve origem na China, no século 2 a.C. A História registra que um general de nome Han-Sin usava um pequeno planador, preso a um fio, para enviar informações aos seus soldados prisioneiros num campo sitiado. Pela cor, forma e movimento do objeto, tornava-os cientes do que estava acontecendo do outro lado.
Dessa estratégia nasceu a pipa que, no Brasil, dependendo da região, recebe os nomes de: papagaio, pandorga, arraia, pião, entre outros. A tradicional, usada pelas crianças de Norte a Sul, é feita com varetas de bambu e papel de seda. Em campeonatos, são utilizados materiais como a microfibra e outros, sendo estas mais atrativas em tamanho e desenhos.
A pipa teve até um papel importante na invenção do tão indispensável para-raios, considerando o conhecido episódio de Benjamin Franklin que, em 1752, pendurou uma chave de metal no fio de uma pipa, num dia de tempestade, para demonstrar a eletricidade contida no raio.
As pipas também são famosas nos quadros de Cândido Portinari; nas músicas de Villa-Lobos; de Pixinguinha – que também as confeccionava – e de outros músicos brasileiros.
Um livro que virou filme e bateu recorde de vendas foi “O Caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini. O título do livro e do filme refere-se a Hassan, menino caçador de pipas durante os campeonatos realizados em Cabul. O enredo é deveras triste, mas colocado com muita inteligência pelo autor, ao abordar o mal causado pelo ciúme e pela inveja. É uma lição de vida. E a pipa uma protagonista...
O romance já vendeu oito milhões de exemplares, sendo mais de um milhão no Brasil.
A pipa tem, além do caráter lúdico, o poder de se transformar em tema para enredos inteligentes, como o citado acima.
Em 1999, em São Paulo, capital, foi inaugurado o “Pipódromo” que fará dezessete anos no próximo mês de setembro.
Bem menos prejudicial do que os balões – se o acessório cerol não for utilizado - a pipa é brinquedo barato e acessível a todas as crianças. Serve, também, como forma de trabalho e ressocialização de presidiários, pois as vendidas em mercados e lojas são por eles confeccionadas.
Não sei por que, mas durante a primavera, verificamos mais pipas enfeitando o ar e os campeonatos são, também, realizados nessa época.
Vamos, então, soltar pipas? É um bom exercício para os braços!
Eu fui pipeira, quando pequena! Vai tempo.... Saudade da pipa cortada; saudade da pipa fugida; saudade da pipa rasgada...
Fugit irreparabile tempus.
JÚLIA FERNANDES HEIMANN - escritora, poetisa e acadêmica. Jundiaí.
“Parafins, gatins, alphaluz, sexonhei da guerrapaz/ Ouraxé, palávoras, driz, okê,/cris, espacial/ Projeitinho, imanso, ciumortevida, vivavid/ Lambetelho, frúturo, orgasmaravalha-me Logun/ Homenina nel paraís de felicidadania:/ Outras palavras”.
Toda malabarística criatividade de Caetano Veloso é ainda incapaz de expressar quão versáteis podem ser as palavras.
Por um lado, há palavras que confortam, palavras que estimulam, palavras que elucidam, palavras que traduzem ou tentam traduzir.
Noutra ponta desse lápis plural estão as palavras que ludibriam.
Fato é que a palavra tudo pode, embora não caiba a ela controlar-se.
Portanto, pode quase tudo!
E quase tudo podendo ei-la em seu fascínio mor: oferecer-se a quem a domine.
Seu poder está, pois, no jugo com que outro a manipula. É esse jugo o seu jogo – de sedução.
Seu potencial poder mora nas possibilidades práticas com que nos dá chegar ao (técnica ou supostamente) impossível.
Se há então algo manipulável com todas as letras é a própria: a palavra.
Com ela eu concebo. Com ela eu mato.
Dela me nutro, ou ela me poda.
Uma palavra me incita a abrir boca, bolso, coração, enquanto palavra distinta me cerra lábios e espírito.
Posta em boca de qualquer um, palavra é poupança. Rende juros e perjuros.
As fofocas estão aí para comprovar quão rentável pode ser um predicado; quão substancial um substantivo, enfim, de quantos recursos pode se valer uma língua comprida no fazer e desfazer amizades, por exemplo.
Um bom diz-que-diz cresce na medida da má língua que o inventou.
Mal-entendidos indissolúveis nascem de mentirinhas sem querer.
Assim, dizer “eu te amo” não significa amar. Dizer “o que é que há?” não compreende ouvir. Dizer “boa sorte” não traz à luz desejos escusos. Dizer “o que vale é a intenção” é uma mentira deslavada, um esconderijo para o comodismo; o que conta é a atitude!
Quase tudo que se diz, diz-se da boca para fora.
Escolhêssemos a sinceridade à esperteza, a palavra seria verdade.
Fôssemos espertos de verdade, diríamos só a “Palavra prima/ Uma palavra só, a crua palavra/ Que quer dizer/ Tudo/ Anterior ao entendimento, palavra” (Chico Buarque).
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
As pessoas andam muito irritadas. Ríspidas e pouco amigáveis. As discussões se desenvolvem num clima de animosidade, não se consegue obter que alguém ouça até o final uma argumentação. Menos ainda, obter um consenso.
Isso mostra quão árdua é a missão da escola. Escola serve para desenvolver potencialidades, com o objetivo de propiciar o desenvolvimento dos atributos e talentos, até que o ser educando atinja a sua plenitude. Mais ainda, a escola serve para formar cidadãos. E o terceiro eixo inspirador da educação é qualificar para o trabalho.
Todas as três metas são relevantes. Mas no momento em que o Brasil enfrenta crise nunca dantes configurada em nossa História, é de singular interesse preparar pessoas aptas ao exercício do diálogo. Capacidade de ouvir, paciência, tolerância, compreensão. Atributos talvez mais importantes do que o acúmulo de informações. Estas jamais estiveram tão disponíveis, acessíveis a todos os que têm curiosidade intelectual e interesse genuíno em se apropriar do conhecimento.
Uma regra de ouro é aquela atribuída à era socrática: “conhece-te a ti mesmo!“. Há pessoas que chegam ao final da existência e não se conhecem de verdade. Explodem a qualquer estímulo, nem precisa ser provocação. Enxergam o mundo com ressentimento, destilam angústia e não conseguem ampliar o seu leque de relacionamentos.
A edificação de uma sociedade fraterna, justa e solidária é uma promessa do constituinte de 1988. Para alcançá-la, todos devem se debruçar sobre a missão mais relevante que se possa atribuir a uma criatura: semear bons sentimentos, cultivar o convívio saudável, levar a sério o supra-princípio norteador de todos os brasileiros e residentes no Brasil: a dignidade da pessoa humana.
Se todos os humanos merecem respeito como seres providos de ínsita dignidade, o diálogo é a única forma de relacionamento civilizado entre iguais. Não nos descuidemos disso.
Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 21/04/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.
Um menino de nove anos estava assistindo aula e, de repente, uma pequena poça formou-se entre seus pés. Isso nunca havia acontecido antes, mas ele molhou a calça porque não conseguiu evitar. Sabia que quando os colegas descobrissem, nunca mais o deixariam em paz.
O garoto imediatamente abaixou a cabeça e rezou: ‘Querido Deus, eu necessito de ajuda! Mais cinco minutos e serei um menino morto!’. Então, levantou os olhos e viu a professora se aproximando com um copo d’água na mão. Inexplicavelmente, ela tropeçou e despejou-a no seu colo. Ele fingiu ficar irritado, mas, ao mesmo tempo, agradeceu aliviado: ‘Obrigado, Senhor!’.
Daí, em vez de ser objeto de ridículo, o garoto foi alvo de compaixão. A professora saiu apressadamente com ele e entregou-lhe um calção de ginástica para vestir enquanto sua calça secava. O menino, espantado, sussurrou para a professora:
– A senhora fez aquilo de propósito, não foi?
– Claro! Eu também molhei minha calça uma vez; mas não deixe acontecer de novo, certo?
São histórias como esta que confirmam ser possível agir com categoria para corrigir alguém. Da mesma forma, o Padre Zezinho usou as palavras certas para responder a um jovem protestante, Paulo, que lhe escreveu:
“Sou evangélico há seis meses e sei que Maria não pode nada, menos ainda as imagens dela que vocês adoram. Sua igreja continua idólatra. Já fui católico e hoje sou feliz porque só creio em Jesus. Você, com suas canções, é o maior propagador da idolatria mariana. Converta-se enquanto é tempo, senão vai para o inferno com suas canções idólatras.”
Eis a resposta:
“Sua carta chega a ser cruel. Em quatro páginas você consegue mostrar o que um verdadeiro evangélico não pode ser. Seus irmãos mais instruídos na fé sentiriam vergonha de ler o que você disse contra nós católicos e contra Maria. O irônico de tudo isso é que, enquanto você vai para lá agredindo a mãe de Jesus e diminuindo o papel dela no cristianismo, um número enorme de evangélicos fala dela, hoje, com maior carinho e começa a compreender a devoção dos católicos por ela.
Você pegou o bonde atrasado, na hora errada e deve ter ouvido os pastores errados, porque, entres os evangélicos, tanto como entre nós católicos, Maria é vista como a primeira cristã, e a figura mais expressiva da evangelização depois de Jesus. Eles sabem da presença firme e fiel de Maria ao lado do Filho divino.
Evangélico hoje, meu caro, é alguém que pautou sua vida pelos evangelhos e, por ser um bom evangélico, não é preciso agredir nem os católicos nem a Mãe de Jesus. Você é muito mais antimariano do que cristão ou evangélico. Seu negócio é agredir Maria e os católicos. Nem os bons evangélicos querem gente como você no meio deles.
Quanto ao que você afirma que nós adoramos Maria, sinto pena de você. Enquanto católico, segundo você mostra, já não sabia quase nada de Bíblia por culpa da nossa Igreja; agora que virou evangélico, parece que sabe menos ainda de Bíblia, de Jesus, de Deus e do Reino dos Céus.
Está confundindo culto de veneração com culto de adoração, está caluniando quem tem imagens de Maria em casa ao acusá-los de idólatras. Ora, Paulo, há milhões de católicos que usam das imagens e sinais do catolicismo de maneira serena e inteligente, e você usava errado, teria que aprender. Ao invés disso, foi para outra igreja decidir quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Tornou-se juiz da fé dos outros.
Deu um salto gigantesco em seis meses, de católico tornou-se evangélico, pregador de sua Igreja e já se coloca como a quarta pessoa da Santíssima Trindade, porque está decidindo quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Mais uns dois anos, talvez dê um golpe de estado no céu e se torne a primeira pessoa da Santíssima Trindade. Então, talvez, mande Deus avisar quem você vai pôr no céu e no inferno.
Sua carta é pretensiosa. Sugiro que estude mais evangelismo e, em poucos anos, estará escrevendo cartas bem mais fraternas e bem mais serenas do que esta. Desejo de todo o coração que você encontre bons pastores evangélicos. Há muitíssimos homens de Deus nas Igrejas evangélicas que ensinarão a você como ser um bom cristão e como respeitar a religião dos outros.
Isso você parece que perdeu quando deixou de ser católico. Era um direito que você tinha: procurar sua paz. Mas parece que não a encontrou ainda, a julgar pela agressividade de suas palavras. Quanto a Maria, nenhum problema: é excelente caminho para Jesus. Até porque, quem está perto de Maria, nunca está longe de Jesus. Ela nunca se afastou, tire isso por você mesmo.
Se você se deu ao trabalho de me escrever para me levar a Jesus e se acha capaz disso, imagine então o poder da Mãe de Deus! De Jesus ela entende mais do que você. Ou, inebriado com a nova fé, você se acha mais capaz do que ela?
Se você pode sair por aí escrevendo cartas para aproximar as pessoas de Jesus, Maria pode milhões de vezes mais com sua prece de mãe. Ela já está no céu e você ainda está aqui apontando o dedo contra os outros e decidindo quem vai ou quem não vai para lá.
Grato por sua carta. Mostrou-me porque devo lutar pela compreensão entre as igrejas. É por causa de gente como você.”
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
O Professor, natural da Praia da Vitória, Açores, não precisa de apresentação, pelo menos para os leitores portugueses.
Quem não se recorda da célebre rubrica da RTP: “Se Bem me Lembro”, que alcançou extraordinários picos de audiência?
Todavia, é natural, que a juventude – os que nasceram após a Revolução dos Cravos, – nunca tenha ouvido falar dele, assim como a maioria dos leitores do Brasil.
Digo: é natural não conhecer o escritor, porque nos dias que correm, não se estuda a História da Literatura, nem se dá ao trabalho de ler os escritores fundamentais da língua portuguesa.
Deveria ter escrito, para ser mais correto: que não se lê ou lê-se pouco, e o pouco que se lê, são romancezinhos da moda, badalados como best-seller, e revistinhas cor-de-rosa.
Assim não admira, nem é de pasmar, que muitos que completam o “secundário”, desconheçam os escritores pilares da nossa literatura contemporânea: Camilo, Eça e Machado de Assis.
Mas não é de literatura, nem de leitores, que venho abordar, mas do Prof. Doutor Vitorino Nemésio, que depois de ter sido maçónico, membro da loja “ A Revolta”, congraçou-se com Deus, de coração contrito.
É D. Manuel Almeida Trindade, que conta em: “ Memórias de um Bispo”:
Na quarta-feira, da Semana Santa, do ano de 1955, o Professor da Universidade de Lisboa, foi visitar o amigo; e conversaram durante três horas, a fio, sobre matéria transcendente e espiritual.
Vitorino Nemésio, expôs, perante o sacerdote, suas dúvidas e seus “erros”.
No final, o escritor, chorou abundantes lágrimas de arrependimento, enquanto o amigo lançava-lhe a absolvição.
Vitorino Nemésio, nasceu a: 19/12/1901. Era casado com Dona Gabriela Monjardino Azevedo Gomes, e pai de quatro filhos; foi, na época, o escritor mais conhecido da vida cultural de Lisboa.
Formou-se em Filologia Românica, com elevada classificação, e chegou a ser diretor do matutino lisboeta: “O Dia”.
O gesto de humildade, profundamente cristão, tão raro em figuras eminentes do meio intelectual do nosso país, é digno de não ser esquecido, para exemplo de muitos, que parecem envergonhar-se da sua fé.
Era então, o Bispo de Aveiro, reitor do Seminário, e limitou-se a contar o facto – como era seu dever, – sem entrar em particularidades, sobre o momento em que o Professor se reconciliou com Deus.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
(Continua na próxima semana)
PINHO DA SILVA - (1915 – 1987). Nasceu a 12 de Janeiro, em Vila Nova de Gaia, (Portugal). Frequentou a Escola de Belas Artes, do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes e do Mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia (autor da celebre estatueta de Eça de Queiroz). Vila-florense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal. Redator do “Jornal do Turismo”. Membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Foi Secretário-geral da ACAP. Publicou " Minha Vida Com Teresinha", livro autobiográfico.
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Tive a curiosidade de assistir aos debates ocorridos na Câmara Federal, na sessão da comissão especial que estava analisando o parecer do relator deputado Jovair Arantes, a respeito da abertura do processo de impedimento da soi-disante “presidenta” Dilma Rousseff.
Bem entendido, somente acompanhei 30 ou 40 minutos da sessão, que durou mais de 10 horas e concluiu pela aprovação do relatório favorável ao impedimento. Foi o suficiente para ficar horrorizado com o baixo nível de comportamento de muitos dos parlamentares presentes, que mais pareciam adolescentes malcriados em sala de aula. Gritarias, berreiros, tentativas de interrupção de quem estava falando etc. etc., por parte de membros das duas posições conflitantes.
Outra coisa que me horrorizou foram os erros de português de muitos dos discursos. Sem dúvida, houve deputados que falaram perfeitamente, do ponto de vista da gramática e do estilo, exprimindo-se com clareza, elegância e correção. Foram poucos, bem poucos. Muitos, nem sabem pronunciar as palavras, falando, por exemplo, “corrupição”, “pissicologia” etc.; outros, sistematicamente, omitem os RR finais dos verbos do infinitivo, ou os SS dos plurais. Preposições, então, são espalhadas à vontade, sem nenhuma preocupação com sua colocação correta, de acordo com a sintaxe da frase. “O Brasil, aonde nós vivemos...” disse um deputado, repetindo o mesmo erro de colocar a preposição “a” antes do pronome relativo “onde”, que vários de seus colegas já haviam cometido. Por falar em pronomes relativos, um deles que parece banido do linguajar de muitos parlamentares é “cujo”, que já não mais se usa; hoje, não se diz “a lei, cujo artigo primeiro...”, mas diz-se “a lei que o artigo primeiro dela”. E assim por diante.
Mas o que mais me chamou a atenção foi a fala de um jovem deputado (cujo nome, de propósito não cito aqui, para não constrangê-lo), que leu um discursinho erudito e bem escrito, obviamente produzido por algum “ghostwriter”, o qual, num arroubo de classicismo, citava pomposamente “o grande dramaturgo grego Ésquilo”. Só que o orador, empolgado pela própria fala, não reparou no acento agudo, que torna o nome proparoxítono. E leu, alto e bom som, “Esquilo”, com acento na penúltima sílaba, transformando o autor de “Prometeu acorrentado” no simpático animalzinho devorador de nozes que, segundo a Wikipédia, pertence “a uma grande família de mamíferos roedores de pequeno e médio porte conhecida como Sciuridae, no Brasil também conhecidos como serelepe, caxinguelê, caxinxe, quatimirim, quatipuru, agutipuru ou acutipuru”.
O mais incrível é que essa barbaridade foi ouvida com absoluta indiferença pelos presentes, parecendo nem se terem dado conta da gigantesca bobagem que acabava de ser proferida. Fiquei esperando que algum deputado, de posição contrária à do orador, o corrigisse ou contraditasse, expondo-o ao ridículo. Seria facílimo. O clima estava acirrado, a discussão estava acesa e, por muito menos, saíam a todo o momento bate-bocas na sala. Mas ninguém falou nada... provavelmente porque ninguém percebeu o erro!
Pobre Ésquilo! Pobre cultura clássica! Pobre Brasil!
O fato é bem indicativo do baixíssimo nível do parlamento brasileiro que era, no Império, um cenáculo de alta cultura; era também uma escola de estadistas, e foi transformado, depois do Quinze de Novembro, numa verdadeira “praça de negócios”. Essa expressão, para designar o Legislativo republicano, foi usada pelo insuspeito Ruy Barbosa em 1919, quando, em campanha presidencial, discursava em Juiz de Fora.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Tive um impacto ao saber, através do Carmelo São José, que a Índia, moradora de rua, se fora no domingo da Misericórdia.
Estive com ela em lugares diferentes. Sua expressão de tristeza e dor me comovia, bem como os hematomas espalhados pelo rosto e braços. Brigas na rua? Surras para se conter? Quem sabe... Conversava em meio a delírios e, nos instantes de rara lucidez, clamava por acolhimento e compreensão.
Desejava ajuda sem se permitir ser ajudada. Sou testemunha de algumas tentativas de socorro, incluindo as do Carmelo.
Não sei quando surgiram seus problemas de envolvimento com álcool e drogas e se não seriam uma etapa apenas de desequilíbrios anteriores. Tenho certeza, entretanto, que buscava a agulha da bússola de sua história.
Desconheço seu passado, filhos entregues a outros lares e se havia alguém em cujo colo consentia em mostrar suas feridas e autorizava que lhe assoprassem as chagas das tragédias.
Penso que nos falta um caminho de entendimento com os ensandecidos, de forma que lhes acalme as emoções.
Algumas vezes, a encontrei no jardim do Carmelo. Adentrava o espaço, falando sozinha, observava o entorno e, sempre, uma abordagem para pedir “um benefício”. Em determinados momentos, tumultuou o silêncio pleno de Deus que existe lá, com atitudes e gritos.
Comentei com outra moradora de rua sobre ela. Disse-me que sabia de sua morte e que era legal. Somente isso. É que na rua não existem laços. É a lei da sobrevivência, sem afeto. Que triste isso!
Na Semana Santa, conforme me foi contado, voltou ao local. Informou que não se sentia bem e deixou lá o saco que carregava com coisas que para ela tinham sentido. Confidenciou que voltaria outra hora para buscá-lo.
Alguém a conduziu ao hospital, entrou em coma e partiu.
A vida dela me impressionava e o conhecimento sobre seus últimos dias me afetou também. Em lugar de se dirigir para algum serviço social pelo qual passara, com o propósito de deixar sua “bagagem”, escolheu o espaço em que tudo fala do Céu.
Forte demais! Por mais eficiente que seja um trabalho de tentativa de reinserção social, estará sempre em segundo plano diante daquele que leva a indicar os acenos de Deus Compaixão de olhos ternos.
Não tenho dúvida de que a Índia deixou suas tralhas no Carmelo como testemunha de que o essencial é a Eternidade que dela se aproximava.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Essa semana é uma das mais ricas do ano em datas comemorativas no Brasil e algumas internacionais, muitas das quais, manifestamente importantes, por denunciarem falhas éticas ou por anunciarem valores em vista de uma ordem social, justa e fraterna, merecedoras de destaque por traduzirem aspectos inerentes à cultura, aos interesses nacionais e principalmente, por incentivar-nos a buscar um país melhor mirando-se nos exemplos de personagens como Monteiro Lobato e Tiradentes, cujas histórias foram feitas de lutas e luto, perseguições e muita resistência.
Escritor e idealista, Lobato
privilegiou os interesses nacionais.
Monteiro Lobato nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Formado em Direito, passou de Promotor de Justiça a fazendeiro quando recebeu a herança deixada pelo avô, ocasião em que escreveu o livro “ Jeca Tatu”, que virou símbolo brasileiro. Em 1921, começou a se dedicar à literatura infantil, consagrando-se com o imaginário “Sítio do Picapau Amarelo”, que originou títulos famosos como “Reinações do Narizinho”, “Reforma de Natureza” e “O Poço do Visconde”. Por outro lado, foi o precursor da campanha “O Petróleo é Nosso”, revelando-se num homem obcecado na busca do combustível nacional, suscitando injustas perseguições pelo Poder Público, tendo sido preso em 1941 a mando do então Presidente Getúlio Vargas, quando cumpriu três meses no Presídio Tiradentes em São Paulo. Essa obsessão fez com que escrevesse o livro “O Escândalo do Petróleo”, um protesto raivoso contra a burocracia do país e a falta de recursos aos empreendedores. Morreu no dia 04 de julho de 1948 vitimado por um derrame. Sua obra, quer como literato, quer como empresário, foram marcas incontestáveis da defesa de nossa cultura e dos interesses nacionais. À data de seu nascimento foi instituído o DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL.
A defesa da cultura indígena
é um dever de cidadania.
O Brasil tem pelo menos 61 áreas indígenas reconhecidas por lei, mas que continuam como foco de algum tipo de invasão por fazendeiros, grileiros, garimpeiros e madeireiros. São aproximadamente 65 mil índios que não podem usufruir plenamente de suas terras – apesar do reconhecimento oficial – e que vivem em clima de tensão permanente devido a conflitos com os invasores. O levantamento foi realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e publicado pelo jornal “ O Estado de São Paulo” (11/07/2006 – A-10). Espalhadas por 17 dos 27 Estados brasileiros, esses territórios passaram por um detalhado e longo estudo antropológico antes de serem reconhecidos, conforme determina o decreto 1.775/96, o que legalmente daria aos índios o direito de uso irrestrito dessas terras. Ao invés disso, transformaram-se nos principais centros de conflitos fundiários no País, com conseqüências desastrosas para as comunidades indígenas.
A 19 de abril, comemora-se o DIA DO ÌNDIO. Resta-nos a esperança que as suas aspirações, constitucionalmente previstas, passem a ser respeitadas e consideradas. A defesa e a promoção da vida e da cultura dos povos indígenas são um dever de cidadania e, mais ainda, de solidariedade cristã.
Forjar uma identidade
nacional, legado de Tiradentes.
A data de 21 de abril, feriado nacional relembra a morte do alferes Joaquim José da Silva Xavier, mártir da Inconfidência Mineira. Invocando o jornalista e escritor José Pedro Martins, a sua lembrança ocasiona, entre outras, a seguinte reflexão: “Que país estamos construindo, a partir de um mosaico de influências, de culturas diversas, de interesses contraditórios, de visões distintas sobre a nação. Nessa diversidade é que parece residir a vitalidade e a identidade do Brasil, e nela mora a esperança de um país melhor para todos. Mas que seja uma diversidade forjada de uma identidade nacional, em um país sem desigualdades sociais – é o nosso drama histórico” (“Correio Popular” – Campinas-SP – 16/04/2006 – A-10).
Dia da Terra
Criado pela ONU – Organização das Nações Unidas, a 22 de abril, celebra-se o DIA DA TERRA, constituindo-se numa homenagem ao lugar em que vivemos e ao mesmo tempo, oportunidade para fazermos uma reflexão sobre os diversos problemas que o homem está criando como a poluição ambiental e o desmatamento. A Terra é o terceiro planeta do Sistema Solar, tendo uma distância média de cento e cinqüenta milhões de quilômetros do Sol, a estrela mais próxima. Sua massa está estimada em cinco sextilhões e oitocentos e oitenta e três quintilhões de toneladas. Sua área total é de 510.100.000 quilômetros quadrados, dos quais 148.940.000 são ocupados por terra, o restante, por água. Toda a superfície está dividida em várias nações com povos de costumes e línguas diferentes, as quais infelizmente, vivem marcadas por guerras étnicas, religiosas, raciais e por profundas manifestações de desigualdades sociais. Assim, nesta data comemorativa é interessante despertar a consciência da humanidade para uma melhoria nas condições de vida e saúde, despertando o espírito de paz e fraternidade que deveria prevalecer entre os seres de todo o mundo e a luta em defesa da natureza, uma causa da humanidade que merece apoio de toda a comunidade, a ser motivada desde a educação infantil nos lares e nas escolas.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
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