PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 30 de Maio de 2016
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE, COMPROMISSO DE TODOS OS PAÍSES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Comemora-se a  05 de junho, o DIA INTERNACIONAL DO MEIO AMBINETE E DA ECOLOGIA pois nesta data, em 1972, a ONU - Organização das Nações Unidas promoveu em Estocolmo, capital da Suécia, a Primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento para discutir a destruição e a conseqüente degradação humana.

            Apesar do longo tempo da celebração, o desrespeito com a natureza e com o próprio ser humano ainda persistem e estão em todos os lugares: nas queimadas, no desmatamento, na poluição , na extinção de milhares de espécies animais e vegetais, na fome, na miséria e na desesperança. Tanto que amplo levantamento sobre a saúde do planeta, produzido pela Organização das Nações Unidas – “Avaliação Ecossistêmica do Milênio” - apresentou um diagnóstico completo dos ecossistemas terrestres, efetuados por 1.360 cientistas de noventa e cinco países, concluindo que a humanidade está esgotando os recursos oferecidos pelo globo numa velocidade superior a sua capacidade de reposição. De acordo com eles, estão comprometidos itens como estoques de peixes e reservas de águas potáveis, reciclagem de nutrientes do solo e controle climático regional.

Os reflexos desse esgotamento são mais do que um risco para o futuro – eles já estão produzindo impactos reais e indicaram que os efeitos críticos são maiores justamente para as populações mais pobres, vulneráveis a variações climáticas e problemas na produção de alimentos. E o pior, o mundo não vai atingir as metas do milênio – um conjunto de objetivos para redução da pobreza até 2015, traçado pela ONU e pelos governos – sem mudar radicalmente a maneira com que trata a natureza.

            Meio ambiente e ecologia tornaram-se motivo de preocupação em todo o mundo em meados do século XX, embora o biólogo alemão, Ernst Haeckel (1834-1919)  tenha criado  formalmente a disciplina que estuda a relação dos seres vivos com o “habitat”, ao propor, em 1866, o nome ecologia para esse ramo da biologia. Junção das palavras gregas “oikos” (casa) e “logos” (estudo), a matéria ficou restrita aos meios acadêmicos até bem pouco tempo. Ela só ganhou dimensão social após um acidente de grande proporção e que derramou 123 mil toneladas de óleo no mar, na costa da Inglaterra, em 1967, com o petroleiro “Torrey Canion”.

            Assim, a importância da consciência ecológica é manifesta, notadamente pelo fato de todas as ações humanas terem reflexo no equilíbrio ambiental. Por isso, é preciso levar a sério o mundo que nos rodeia, o ambiente em que vivemos e ter um olhar amplo, sem perder de vista a realidade concreta e particular do nosso cotidiano, sob pena dos recursos naturais e do ambiente como um todo se tornarem inviáveis, em pouco tempo, à própria sobrevivência humana

O DIA DO MEIO AMBIENTE E DA ECOLOGIA que se avizinha, constitui-se  numa oportunidade para refletirmos sobre essa interminável oposição entre desenvolvimento e preservação do ambiente, consolidando um compromisso com o futuro, em favor de uma existência  mais saudável tendo em vista, que a vida é um dom divino e ninguém pode se eximir da responsabilidade por sua preservação, seja rico ou pobre. Efetivamente, essa proteção não é uma tarefa exclusiva das autoridades, mas um compromisso de toda a sociedade.

 

 

                        Dia Internacional contra a Agressão Infantil

 

 

         A ONU instituiu o dia 04 de junho como o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão ou o Dia Internacional contra a Agressão Infantil. Trata-se de uma data de reflexão e não de comemoração, já que é preciso entender e extinguir as razões da violência contras as crianças em todo o mundo. Além da proteção integral delas ser prevista no ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, a Constituição Federal do Brasil em seu art. 227 dispõe que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar-lhes todos seus direitos e colocá-las a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Assim, está na mais do que na hora de  se colocar em prática a legislação progressista de que dispomos para ao menos, minimizar os índices alarmantes na nessa área.

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmai.com)

 

                  



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DOM AMAURY CASTANHO

 

 

 

 

 

 

 

 

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Dia primeiro de junho faz dez anos que Dom Amaury Castanho, nosso terceiro Bispo, partiu.  Padre Fernando Meira sugeriu que fosse o tema de minha crônica de hoje.
Penso em Dom Amaury e me vêm três palavras: Pastor, intelectual e “gentleman”.
Como Pastor era firme e buscava as estratégias possíveis e impossíveis para anunciar a Palavra. Aberto ao diálogo, em 2000, tivemos um “ruído de comunicação”, provocado por “forças ocultas”. O importante não foi o “ruído”, mas sim, após repensar o fato, a forma com que me procurou de súbito para conversarmos. Recordo-me com perfeição: um encontro, em um sábado à noite, que fortaleceu nossa amizade. Dentre posturas dele, das quais me lembro bem, a de não aceitar determinados posicionamentos de algumas pastorais, movimentos ou pessoas ligadas à CNBB, na época. Afirmava: “Devo obediência ao Vaticano e não à CNBB”. Sonhava grande e realizava na mesma proporção pelo Reino de Deus.
Como intelectual e escritor, sem perder a essência de seu sacerdócio, era polêmico, pois se manifestava em assuntos diversos, que envolviam a sociedade, preocupado que leis ou decisões nacionais, estaduais ou municipais ferissem a dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Quando atacado por seus pareceres, não se intimidava, chegava mesmo a se alegrar. Não temia críticas.
Traduzia-se com palavras de São Paulo (2 Timóteo 4, 7): “Combati o bom combate, guardei a fé”.
Teria inúmeros testemunhos sobre suas delicadezas, mas opto por dois: por indicação dele ao então Papa João Paulo II, em 2003, agraciou algumas pessoas, dentre as quais me incluo, com a Comenda “Pro Ecclesia et Pontifice”: José Renato Nalini, Maria Isabel G. Fávaro, Riccieri M. Leone, Roberto M. de Carvalho e aqueles que já o reencontraram: Ângela Benassi, Diva T. C. Saraiva, Padre Francisco de Assis Soares. O segundo, entrar na Igreja do Rosário e São Benedito – Santuário Eucarístico Diocesano, para presidir a Missa em Ação de Graças pelos 80 anos da mamãe, no mesmo ano, com um lindo vaso de flores amarelas. Presenteou-a antes da bênção final.
Deus o cumulou de cuidados na doença, através da dedicação, singular e diria que filial, de Dom Gil Antônio Moreira, nosso Bispo naquele período.
Penso que, hoje, Dom Amaury, que gostava de flores, semeia, nos caminhos do Céu, girassóis, miosótis, verbenas...

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE   -   Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
 



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Domingo, 29 de Maio de 2016
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - RELENDO TAUNAY

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É sempre garantido o prazer que experimentamos quando retornamos a um bom livro, lido décadas atrás. A perspectiva do tempo geralmente nos faz considerar com outros olhos os fragmentos que retivemos do que foi lido no passado e que, pouco a pouco, fomos filtrando e insensivelmente até modificando, pelos mecanismos misteriosos da nossa memória. Algumas ideias se confirmam, com a releitura, outras se modificam ou se esclarecem melhor. Reler um bom livro é uma forma de reviver o passado, de retornar à juventude.

Estou relendo o clássico livro de Memórias de Alfredo d´Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay (1843-1899), na edição de 1946, da Melhoramentos. Foi essa, precisamente, a mesma edição lida na minha já distante juventude.

Um fato narrado nessa obra que muito me marcou, quando o li, e que diversas vezes tive ocasião de relatar a amigos ou a alunos, desejo aqui deixar registrado. Nos tempos atuais, em que a corrupção parece tão endêmica e tão entranhada no Brasil republicano, é oportuno fazê-lo.

Conta o autor que, sendo ainda bem jovem, certo dia se aproximou dele um amigo de família, político influente e membro do governo, e lhe disse:

- Se você quiser ganhar bastante dinheiro, aplique todas as suas economias comprando ações de tal Companhia (e citou o nome de uma bem conhecida companhia de transportes coletivos no Rio de Janeiro). Ouça o que eu lhe digo: dentro de poucos dias as ações dessa Companhia vão subir como um rojão. Não me pergunte por quê... mas siga meu conselho e não se arrependerá.

Taunay não seguiu o conselho. Ainda era jovem demais, explicou ele, para se interessar por esse tipo de especulações. Mas teve a curiosidade de, pelos jornais, acompanhar a cotação das ações da tal companhia, para ver se se confirmava o prognóstico do bem informado ministro.

Mas deu tudo para trás...

As ações não apenas não dispararam para cima, mas começaram a cair, e os possuidores de tais ações tiveram consideráveis prejuízos.

Algumas semanas depois, Taunay encontrou o amigo numa das ruas centrais do Rio, e não perdeu a ocasião para o interpelar:

- Ainda bem que não segui seu conselho! Se tivesse feito essa bobagem, teria perdido dinheiro. Como é que o Sr. me deu um conselho desastrado desses?

- O que que você quer? - respondeu o ministro - deu tudo para trás por causa do Imperador...

E aí explicou tudo. A tal Companhia, que não estava muito sólida financeiramente, tinha uma concessão de serviço público. Faltavam ainda uns poucos anos para vencer o prazo da concessão. Os membros do Governo, que eram amigos dos donos da companhia, queriam salvá-la, e haviam deliberado prolongar o prazo da concessão por um período bem longo, sem que a companhia oferecesse nada em troca desse favorecimento. Era de se prever que, uma vez divulgada pela imprensa essa extensão do prazo, imediatamente as ações da companhia teriam uma valorização muito grande. Acorreriam novos acionistas com capitais e a companhia “emproblemada” sairia das dificuldades.

Os ministros, jeitosamente, lavraram um decreto redigido de modo a disfarçar o favoritismo, dando a impressão de que a prorrogação do prazo correspondia ao interesse público. O decreto ficou pronto e foi assinado pelo Ministro da pasta correspondente. Estava tudo certo... Faltava apenas a mera rubrica do Imperador.

Pois foi na hora da rubrica do Imperador que tudo deu para trás!

O Imperador estranhou que se pretendesse prolongar o prazo de uma concessão anos antes de terminar o prazo vigente. E sobretudo estranhou que se pretendesse fazer aquilo por meio de decreto governamental, sem licitação pública que apurasse se alguma outra empresa não poderia prestar os mesmos serviços em condições mais convenientes para os cofres públicos e para a população.

- E ele nos olhou tão seriamente que nem ousamos insistir - concluiu o ministro.

Bons tempos aqueles, em que a moralidade administrativa tinha um vigilante como D. Pedro II...

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:07
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - FRIO

 

 

 

 

 

 

 

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            Acho o frio detentor de certo glamour, mas por mais bonitas que as pessoas possam ficar, por mais gostosas que sejam as comidas e as cobertas, eu sempre tive certa dificuldade para ficar à vontade com temperaturas muito baixas. Definitivamente, não sou uma pessoa adaptada para o frio.

            Gosto de temperaturas amenas, entretanto e não foram poucas as odes que fiz ao outono e à primavera. Gosto de céus azuis, de brisas que demandam um agasalho leve, de noites que reclamam um cobertor gostoso e abraços mais apertados. Contudo, quando as primaveras são veranicos eu sofro, porque calor em excesso também me tortura, mas nada se compara a como fico quando o outono tem arremedos de inverno.

            Em partes isso pode ser porque no Brasil não temos estrutura para o frio, ao menos na maior parte das casas e dos estabelecimentos. O aquecimento interno de que de dispomos ainda não é o suficiente para termos, nos ambientes fechados, a possibilidade de ficarmos vestidos de forma mais tranquila enquanto do lado de fora o frio castiga a pele e o vento açoita o rosto. Por óbvio que residências de alto padrão  provavelmente usufruam desse conforto, mas não é a realidade da quase totalidade das pessoas.

            Atualmente, é certo, as pessoas podem dispor de pequenos aquecedores, aparelhos de baixo custo e que permitem deixar aquecidos ambientes menores, como quartos, por exemplo. Para mim, confesso,  tal eletrodoméstico é indispensável em todo período de frio, mas, olhando para minha infância, lembro-me de várias situações que não me trazem as melhores emoções sobre o frio.

            Não acredito que um dia eu me torne uma pessoa com menos sensibilidade ao frio, mas parece-me que, ou quando eu era pequena fazia mais frio ou as minhas roupas eram ainda menos adequadas às baixas temperaturas do que são hoje.  Recordo-me de dormir soterrada sob tantas cobertas, de forrar a cama com cobertor, de colocar duas meias e, mesmo assim, tremer um pouco até que de fato eu me sentisse quente. Embora naquela época eu fosse uma menina bem magrinha, era provável que, se eu caísse no chão, em uma descida, rolasse facilmente, pois a forma cilíndrica que eu exibia nos dias mais frios era o resultado de colocar várias meias, duas calças e todas as blusas que pudessem ser sobrepostas...

            Outro fato de que me recordo e que várias pessoas que lerem esse texto possivelmente também se lembrem é de que usualmente se providenciava um aquecimento para o banho, de uma forma muito segura, rs. Uma lata vazia cheia de álcool era disposta em algum canto do banheiro e o fogo era ateado lá para que fosse possível a higiene diária. Fico pensando em quantos acidentes esse hábito não deva ter causado, sobretudo porque eu mesma, certa feita, chutei essa lata sem querer e em poucos minutos o tapete do banheiro estava em chamas...

            Os tempos hoje são outros e, à parte de certo exagero, continuo não sendo fã dos dias muito frios. Acho que as pessoas ficam mais elegantes, bem vestidas, mais cheirosas, mas eu tenho sempre a impressão de que estou prestes a congelar e fica difícil ser elegante enquanto se treme e se encolhe, bem como enquanto se parece mais uma cebola, envolta em cascas quase infinitas de roupa...

            Conheço pessoas que o frio parece leva-las à Europa, tão lindas ficam vestidas para os dias gelados. Admiro, mas não faço parte do clã. Nem meu cabelo parece gostar, pois fica tão arredio quanto eu. Definitivamente, eu gostaria de hibernar no frio e despertar com o cantar os pássaros, pronta para a primavera. Enquanto isso, aqui em casa, a conta de luz vai ficando tão quente quanto o pobre aquecedor que, nesse momento, permite que meus dedos escrevam, sem trincar, esse texto de pequena insurreição contra temperaturas de um dígito...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com

 

           

                       

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:05
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RENATA IACOVINO - UMA VOLTA AO PASSADO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Criança, gostava de acompanhar minha avó materna (que morava conosco) em seus passeios: visitas a parentes, a amigas que moravam ao redor, idas à feira livre, à padaria, ao armazém... Os programas eram feitos a pé, pois morávamos no Centro e quase tudo girava naquele entorno.

Havia um lugar que minha avó ia algumas vezes com minha mãe, e eu as acompanhava. Também se situava muito próximo de nossa residência e subíamos a pé. Elas iam ao Cemitério Municipal lavar o jazigo da família de minha avó, levar plantas e flores para a floreira... Aquele ato me fascinava. Fazia-me bem estar ali, parecia uma maneira de conhecer um pouco a respeito de parentes que eu não tivera a oportunidade de conviver, como seus pais e irmãos.

Ouvia um pouco das histórias e saía caminhar pelo cemitério, apreciando os jazigos mais suntuosos, pertencentes a famílias tradicionais ou de personalidades famosas de nossa cidade. Num determinado momento, após idas anos seguidos, eu já sabia o que estava escrito aqui e ali, a que família pertencia tal jazigo e por aí vai.

Quando nos reuníamos no Natal ou Páscoa, por exemplo, as histórias também eram contadas e eu não me importava em ouvir quase sempre os mesmos enredos, ao contrário, ficava esperando por aqueles de minha preferência.

Nessas ocasiões, após comermos exageradamente, íamos “fazer o quilo”, no que consistia, algumas vezes, em uma ou duas voltas no quarteirão, e em outras a caminhada era feita toda ao redor do cemitério.

O ponto de referência de casa era o cemitério. Para indicar onde residíamos, bastava dar essa referência.

Um pouco mais crescida, já explorando vários cantos da cidade a pé ou de bicicleta, eu tinha o costume de passear pelas ruas do cemitério, especialmente quando estava triste ou chateada. Lá me sentia em paz.

Depois fui morar em São Paulo, foi escasseando a oportunidade de estar com parentes vivos ou mortos.

Mais adiante minha avó se foi. E lá estava seu nome junto aos demais que por tantas vezes eu lia quando ali estava com ela em vida.

E assim os entes queridos foram partindo.

Hoje, após tantos anos, estive lá. Com a dúvida se ainda saberia encontrar a rua onde se encontra a campa. Mas encontrei-a de pronto. E lembrei que Natal feliz mesmo foi aquele de minha infância, embora à época não tivesse a menor ideia disto...

 

 

 

Renata Iacovino poeta e cantora / facebook.com/oficialrenataiacovino/ reiacovino@uol.com.br

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:00
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JÚLIA FERNANDES HEIMANN - CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO BRASIL

                     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   Em agosto deste ano, o término da Segunda Guerra Mundial estará completando setenta e um anos.

   Se perguntarmos a algum cidadão bem informado sobre essa guerra, com certeza saberá os nomes dos países envolvidos e os locais dos Campos de Concentração.

   Mas se perguntarmos se tem conhecimento da existência de Campos de Concentração no Brasil, por certo dirá que não, e até duvidará.

    Já ouvíramos falar nessa possibilidade, mas não tínhamos informações relativas. Por acaso, ofereceram-me um livro intitulado “O Canto do Vento” do escritor Camões Filho, editado pela Scritta. O autor publicou depoimentos de algumas pessoas que foram aprisionadas nos Campos de Concentração do Brasil, informando que o desconhecimento se deve à falta de divulgação dessa página negra da nossa História.

   No livro, os relatos começam com a partida do navio Windkurt da Alemanha para a África, em viagem turística, em 1939. Em setembro desse mesmo ano, quando o navio já estava na Cidade do Cabo, irrompeu a guerra. O capitão recebeu ordem para voltar, mas, ao sair do porto, cruzou com um navio holandês que telegrafou aos ingleses denunciando o local do navio alemão. Resolveu mudar o rumo e seguiu para a Argentina. Quando chegou, verificou que vários navios holandeses estavam ali concentrados. Partiu, então, para o Brasil, país neutro à época.

    No dia 7 de dezembro de 1939, chegou ao porto de Santos. A tripulação não desembarcou. Um cruzador inglês os vigiava dia e noite, com canhões apontados para o navio. Algumas semanas depois, os alemães desembarcaram e se hospedaram em pensões santistas. Não havia como retornar à Alemanha.

   No dia 18 de agosto de 1942, cinco navios brasileiros: Araraquara, Baependi, Aníbal, Benévolo, Itagira e Arara foram atacados, supostamente, por alemães; e naufragaram causando 652 mortes. Logo, o Brasil rompeu relações com a Alemanha, os tripulantes do navio aportado em Santos tiveram seus documentos confiscados e o Brasil vendeu o navio aos ingleses.

Policiais aprisionaram os alemães que estavam em pensões e apreenderam seus pertences. Em uma mala encontraram o livro:

“Kochkunet Führer” e acharam que eram informações do Führer, como Hitler era chamado. Não sabiam que era um guia culinário, pertencente ao cozinheiro.

  Os alemães foram transferidos para a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, ficando juntos com tripulantes de um navio italiano, apreendido também.

  Permaneceram nesse local por cinco meses; depois, os “Cabeças Vermelhas” - a Polícia Federal de Vargas - os transportaram para os Campos de Concentração instalados em  Guaratinguetá, Pirassununga e Pindamonhangaba.

  A existência desses campos sempre foi negada pelas autoridades brasileiras, mas documentos exibidos pelos ex-prisioneiros mostram que a denominação era essa mesmo. Várias fotos mostram as anotações: “Fulano de tal/Campo de Concentração de Pindamonhangaba-SP/Brasil”. Nesses locais faziam trabalhos forçados e vestiam macacões com números no peito e nas costas. Os que tentavam fugir eram capturados.

    Três meses após o término da guerra, foram soltos. Há o relato de um ex-prisioneiro:

 “Nos libertaram às 10 horas de noite, chovia e fazia muito frio. Sem dinheiro e sem falar português, não tínhamos para onde ir. Rumamos até a Delegacia dos Estrangeiros-SP, para conseguir documentos, pois os nossos haviam sido recolhidos. Por onde passávamos, ouvíamos:

 - Olhem os nazistas! Olhem os nazistas!

   Em 1952, o Consulado Alemão nos ofereceu retorno à Alemanha, mas a maioria resolveu ficar no Brasil, pois perdera todo o contato com a família e alguns arrumaram companheiras.

    Dos locais onde fomos aprisionados não há mais vestígios. As únicas testemunhas somos nós que, devido à idade, não teremos mais muito tempo para provar o acontecido”.

    Pormenores como o nascimento de um bebê, casamentos e outros também são relatados nesse precioso livro.

    Quanto à denominação aceita pelas autoridades, que os locais eram, apenas: “Campos de Internação”, qual será a diferença se as pessoas ali confinadas perderam a liberdade e eram obrigadas a trabalhos forçados? 

    Como disse meu saudoso amigo judeu: “Esse assunto deverá ser sempre lembrado para não ocorrer novamente...”

     Estou fazendo a minha parte.

 

 

 

JÚLIA FERNANDES HEIMANN   - escritora, poetisa e acadêmica. Jundiaí. 

 



publicado por Luso-brasileiro às 18:54
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FELIPE AQUINO - QUAL A ORIGEM DA FESTA DE CORPUS CHRISTI ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Festa de “Corpus Christi” é a celebração em que solenemente a Igreja comemora o Santíssimo Sacramento da Eucaristia; sendo o único dia do ano que o Santíssimo Sacramento sai em procissão às nossas ruas. Nesta festa os fiéis agradecem e louvam a Deus pelo inestimável dom da Eucaristia, na qual o próprio Senhor se faz presente como alimento e remédio de nossa alma. A Eucaristia é fonte e centro de toda a vida cristã. Nela está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, o próprio Cristo.

Aconteceu que quando o padre Pedro de Praga, da Boêmia, celebrou uma Missa na cripta de Santa Cristina, em Bolsena, Itália, ocorreu um milagre eucarístico: da hóstia consagrada começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Dizem que isto ocorreu porque o padre teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia.

O Papa Urbano IV (1262-1264), que residia em Orvieto, cidade próxima de Bolsena, onde vivia S. Tomás de Aquino, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na entrada de Orvieto, pronunciou diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi”.

Em 11/08/1264 o Papa aprovou a Bula “Transiturus de mundo”, onde prescreveu que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes, fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo do Senhor. São Tomás de Aquino foi encarregado pelo Papa para compor o Ofício da celebração. O Papa era um arcediago de Liège e havia conhecido a Beata Cornilon e havia percebido a luz sobrenatural que a iluminava e a sinceridade de seus apelos.

Em 1290 foi construída a belíssima Catedral de Orvieto, em pedras pretas e brancas, chamada de “Lírio das Catedrais”. Antes disso, em 1247, realizou-se a primeira procissão eucarística pelas ruas de Liège, como festa diocesana, tornando-se depois uma festa litúrgica celebrada em toda a Bélgica, e depois, então, em todo o mundo no séc. XIV, quando o Papa Clemente V confirmou a Bula de Urbano IV, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial.

Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas. A partir da oficialização, a Festa de Corpus Christi passou a ser celebrada todos os anos na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade.

 

Leia tambémHistória da Festa de Corpus Christi

 

Todo católico deve participar dessa Procissão por ser a mais importante de todas que acontecem durante o ano, pois é a única onde o próprio Senhor sai às ruas para abençoar as pessoas, as famílias e a cidade. Em muitos lugares criou-se o belo costume de enfeitar as casas com oratórios e flores e as ruas com tapetes ornamentados, tudo em honra do Senhor que vem visitar o seu povo.

Começaram assim as grandes procissões eucarísticas, as adorações solenes, a Bênção com o Santíssimo no ostensório por entre cânticos. Surgiram também os Congressos Eucarísticos, as Quarenta Horas de Adoração e inúmeras outras homenagens a Jesus na Eucaristia. Muitos se converteram e todo o mundo católico.

 

Eucaristia: Presença real de Jesus no pão e no vinho consagrados

 

Todos os católicos reconhecem o valor da Eucaristia. Podemos encontrar vários testemunhos da crença da real presença de Jesus no pão e vinho consagrados na missa desde os primórdios da Igreja.

 

Assista tambémPor que celebramos a Festa de Corpus Christi?

 

Mas, certa vez, no século VIII, na freguesia de Lanciano (Itália), um dos monges de São Basílio foi tomado de grande descrença e duvidou da presença de Cristo na Eucaristia. Para seu espanto, e para benefício de toda a humanidade, na mesma hora a Hóstia consagrada transformou-se em carne e o Vinho consagrado transformou-se em sangue. Esse milagre tornou-se objeto de muitas pesquisas e estudos nos séculos seguintes, mas o estudo mais sério foi feito em nossa era, entre 1970/71 e revelou ao mundo resultados impressionantes:

A Carne e o Sangue continuam frescos e incorruptos, como se tivessem sido recolhidos no presente dia, apesar dos doze séculos transcorridos.

O Sangue encontra-se coagulado externamente em cinco partes; internamente o sangue continua líquido.

Cada porção coagulada de sangue possui tamanhos diferentes, mas todas possuem exatamente o mesmo peso, não importando se pesadas juntas, combinadas ou separadas.

São Carne e Sangue humanos, ambos do grupo sanguíneo AB, raro na população do mundo, mas característico de 95% dos judeus.

Todas as células e glóbulos continuam vivos.

A carne pertence ao miocárdio, que se encontra no coração (e o coração sempre foi símbolo de amor!)

                                                         cpasegredodasagradaeucaristia

Mesmo com esse milagre, entre os séculos IX e XIII surgiram grandes controvérsias sobre a presença real de Cristo na Eucaristia; alguns afirmavam que a ceia se tratava apenas de um memorial que simbolizava a presença de Cristo. Foi somente em junho de 1246 que a festa de Corpus Christi foi instituída, após vários apelos de Santa Juliana que tinha visões que solicitavam a instituição de uma festa em honra ao Santíssimo Sacramento. Em outubro de 1264 o papa Urbano IV estendeu a festa para toda a Igreja. Nessa festa, o maior dos sacramentos deixados à Igreja mostra a sua realidade: a Redenção.

A Eucaristia é o memorial sempre novo e sempre vivo dos sofrimentos de Jesus por nós. Mesmo separando seu Corpo e seu Sangue, Jesus se conserva por inteiro em cada uma das espécies. É pela Eucaristia, especialmente pelo Pão, sinal do alimento que fortifica a alma, que tomamos parte na vida divina, nos unindo a Jesus e, por Ele, ao Pai, no amor do Espírito Santo. Essa antecipação da vida divina aqui na terra mostra-nos claramente a vida que receberemos no Céu, quando nos for apresentado, sem véus, o banquete da eternidade.

O centro da missa será sempre a Eucaristia e, por ela, o melhor e o mais eficaz meio de participação no divino ofício. Aumentando a nossa devoção ao Corpo e Sangue de Jesus, como ele próprio estabeleceu, alcançaremos mais facilmente os frutos da Redenção!

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 



publicado por Luso-brasileiro às 18:42
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PAULO R. LABEGALINI - MAIS UMA HISTÓRIA DE FÉ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 2001, meu sobrinho de 15 anos foi para os Estados Unidos como intercambista. Na antevéspera da viagem, ele me ligou de Monte Sião e pediu que lhe desse uma medalha de Nossa Senhora. Marcamos almoçar em Pouso Alegre e, antes de nos despedirmos, coloquei a medalha benta no seu pescoço, dei-lhe um beijo e disse-lhe: ‘Vá sempre à missa e reze o terço’. Em setembro do mesmo ano, seis dias após o atentado terrorista de Nova Iorque, ele me enviou esta carta:

“Oi, Betão. Como estão as coisas por aí? Aqui a gente tá triste com o que aconteceu, mas vamos levando como a gente pode. Mas não é pra isso que tô te escrevendo, eu tô te escrevendo pra contar que todos os dias eu estava rezando o terço, e tava indo do jeito que eu queria. Eu pedia pra ser feliz na minha primeira família, pra que eu não sofresse com a saudade e que eu fosse um formando na minha escola. E tudo o que eu pedi aconteceu, até hoje eu tenho uma relação muito boa com a minha primeira família. A saudade vem de uma forma gostosa porque eu lembro das coisas boas que eu fazia e eu tento ensinar pro pessoal aqui.

Depois de uns dias na minha primeira casa, eu ia na igreja e o padre gostava muito de mim. Então ele sempre falava: ‘Vamos rezar pelo Felipe, pra que ele encontre uma família boa e pra que ele tenha um ótimo ano aqui com a gente’. E no fim de uma das missas, ele me deu um crucifixo lindo, que foi abençoado pelo Papa e eu o coloquei na minha correntinha.

Um dia depois, acharam uma família e eu fiquei entusiasmado, querendo conhecer eles logo... você entende. A mulher da minha primeira casa me disse que ela queria ficar comigo se eu não achasse uma família até o fim da semana e a representante disse que tinha gostado de mim também. E eu tinha adorado a casa e os filhos dessa representante, então eu já fui pra outra casa desenstusiasmado, porque eu achava que eu tinha duas casas muito boas pra ficar e eu ia pra uma outra.

Mas eu fui pra lá, fiquei triste, chorei à noite e falei: ‘Nossa Senhora da Agonia, me tire dessa agonia, eu estava tão feliz na outra família. Por favor, me ajude’. E antes de dormir, eu rezei o terço. No outro dia, eu liguei pra representante e falei que eu não tinha gostado, e perguntei se era verdade que ela podia ficar comigo. Ela falou: ‘Felipe, eu não sei, a escola aqui na minha cidade não quer aceitar outro intercambista. Eu te ligo mais tarde’.

Eu desliguei o telefone e rezei o terço aquele dia. Passaram algumas horas e ela me ligou que vinha me pegar na mesma noite pra eu ir pra casa dela, mas a escola não tinha dado a resposta se eu poderia estudar lá ou não. Todos os dias eu rezava o terço e falava: ‘Por favor, que eu vá estudar em Warrensburg’. Passaram uns dias e o diretor ligou e falou que eu não poderia ir.

Eu fiquei triste, mas mesmo assim agradeci a Deus e no outro dia eu rezei o terço. Mas eu não rezei no outro dia, e no outro, e no outro, até que eu comecei a ficar triste, com saudade de casa, desanimado com a minha escola.

Todos os dias eu ia pra escola meio xingando, não tinha muita paciência, tava pra baixo mesmo. Daí eu pensei: ‘Nossa! Jesus me colocou na casa que eu queria, me fez um formando, não estava deixando eu sofrer com a saudade e eu não rezei mais o terço!’.

Então, eu fui lá e rezei. No dia seguinte, veio um menino e me chamou pra sentar perto dele numa aula, eu fui e a gente ficou conversando. Ele me convidou pra ir a festas com ele, me convidou pra jogar beisebol, me enturmou com mais gente.

Sexta-feira eu fui pra escola animado, joguei um monte de jogos, fiz mais amizades. Daí, à noite, eu fui num jogo de futebol americano da minha escola. Minha família tá muito boa. Ah, e eu esqueci de uma coisa: meu irmão, aqui, tinha mudado o jeito dele comigo, daí depois que eu rezei o terço, ele sempre me convida pra fazer um monte de coisas. Agora ele tá como um irmão mesmo!

Eu não sei se você conseguiu sentir mais ou menos a história, mas eu tô mais do que convencido de que rezar o terço faz muito bem pra gente. Muito obrigado, porque foi você que falava, insistia pra eu rezar. Manda um beijão pra todo mundo aí, e pra você, um beijão especial. Felipe.”

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas

 



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HUMBERTO PINHO DA SILVA - D. PEDRO II E FEIRA DE SANTANA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Numa deslocação, que o popular Imperador do Brasil realizou pela Bahia, foi parar, certo dia, à cidade de Feira de Santana.

Uma vez chegado a essa bonita terra baiana, na companhia de ilustre comitiva, hospedou-se na Rua Direita, na residência apalaçada de João Pedreira, seu amigo e admirador.

Depois de repousar da árdua e cansativa viagem, avizinhou-se da janela, para melhor apreciar o movimento da rua.

Era segunda-feira. Dia quente e soalheiro. Havia feira, e havia feira de gado.

Estupefacto, o Imperador observou homem estranhamente vestido. Era um vaqueiro de coirama: perneiras, gibão e jaqueta; tudo de couro curtido.

Estranhou D. Pedro II, o vestuário, mormente, por ser todo de couro; e comentou, com sua gente, a estranheza.

Desejando examinar pormenores do trajo – que desconhecia, – resolveu mandar chamar o homem, que vinha montado num garboso ginete; convidando-o a apear-se e a entrar.

Contactado pelo pessoal da casa, o vaqueiro, enleado, mas orgulhoso por poder estar junto do Imperador, entra acanhado, mas com largo sorriso de alegria a bailar-lhe nos grossos lábios ressequidos.

Chegado ao salão, onde permanecia D. Pedro II, beija-lhe atabalhoadamente a mão, e fez menção de se curvar, numa tíbia e confusa mesura.

O Imperador recebeu-o como se amigo se tratasse; com tanta simplicidade e com tanto acolhimento, que o peão foi pouco a pouco, perdendo o usual acanhamento, da gente simples do campo.

Observou, atentamente, e fez reparo a várias peças do trajo. Por fim, agradecendo-lhe a presença, entrega-lhe, discretamente, uma nota de cem mil reis.

Os olhos do vaqueiro dilataram-se de felicidade: ora olhava para o rosto de D. Pedro II; ora observava, dissimuladamente, a nota que segurava na mão calejada.

E, fazendo grotesca reverência servil, afastou-se do Imperador, acompanhado pelas criadas da casa.

Logo que o vaqueiro chegou junto dos companheiros, deu largas ao seu contentamento, e contou, entusiasmado, o que lhe sucedera; e, radiante, mostrava-lhes a nota de cem mil reis.

Para espanto de D. Pedro II, minutos depois, dezenas de vaqueiros, desciam, a cavalo, a Rua Direita., e paravam diante da janela onde estava o Imperador.

Compreendeu D. Pedro e todos que estavam na residência de João Pedreira, que aguardavam a esperança, de também eles, receberem a nota de cem mil reis…

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 18:28
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ARMANDO C. SOUSA - TEIAS

                              

 

 

 

 

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                            As teias da minha aranha
                            Estão tecendo meu destino
                            Tecidas no meu tear
                            Que carrego desde menino.

 



                           Na teia da minha aranha
                           Nela fiquei enlaçado
                           A aranha que me enlaçou
                           Digesta, bocado a bocado.

 



                           Já passei setenta anos
                           Na teia que me enlaçou
                           Aranha que vive ainda
                           Eu vivendo nela estou.

 

 

                           Aranha espalhou a teia
                           Da América a Portugal
                           Sua prisão me maneia
                           Não pude fugir igual.

 

 

 

ARMANDO C. SOUSA   -   Escritor português, radicado em Toronto, Canadá

 

 

***

 

PINHO DA SILVA   -   MINHA VIDA COM
TERESINHA 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Meu Deus, será possível!...

 

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PINHO DA SILVA - (1915 – 1987). Nasceu a 12 de Janeiro, em Vila Nova de Gaia, (Portugal). Frequentou a Escola de Belas Artes, do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes e do Mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia (autor da celebre estatueta de Eça de Queiroz). Vila-florense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal. Redator do “Jornal do Turismo”. Membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Foi Secretário-geral da ACAPPublicou " Minha Vida Com Teresinha", livro autobiográfico.

 

 

 

 

 ***

 



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Segunda-feira, 23 de Maio de 2016
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - ADOÇÃO É ATO DE ENTREGA E DE AMOR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Celebra-se a vinte e cinco de maio no Brasil DIA DA ADOÇÃO, criado em 1996 no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção com o objetivo de divulgar este importante instituto do Direito de Família que gera laços de paternidade entre pessoas que não têm relação de parentesco natural entre si.  

De acordo com a consagrada jurista Maria Helena Diniz, a “adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha” (Código Civil Anotado - Ed. Saraiva- 2006- p. 1200).

Afastando-nos do campo jurídico, podemos dizer que a adoção é, verdadeiramente, um ato de entrega e de amor. Com efeito, José Luiz Mônaco da Silva, autor da obra “A Família Substituta no Estatuto da Criança e do Adolescente” (Ed. Saraiva – 1995 - p. 28) afirma que “é a forma mais genuína de amor, de carinho, de dedicação e de solidariedade que alguém devota, sem dúvida alguma, a outro ser humano”.

Tais atributos, evidentemente, podem ser manifestados pelas mais variadas formas, como trabalhos voluntários, envio de contribuições financeiras, de visitas esporádicas a instituições de caridade, prática de atos de doação em prol de pessoas necessitadas, entre outras. No entanto, a adoção é o modo que melhor concretiza o sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. Constitui-se numa atitude de manifesta renúncia e de aceitação voluntária de uma criança como filho.

O instituto impõe um parentesco legal entre adotado e seus descendentes e o adotante e entre adotado e parentes do adotante, visto que  aquele entra, definitivamente na família do que o adotou, passando inclusive, a condição de herdeiro, desligando-se dos pais e parentes consangüíneos, exceto quanto aos impedimentos para o casamento.

No Brasil, a questão é regulada pelo Código Civil Brasileiro e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, exemplificando que o primeiro dispõe que para adotar, o adotante deverá ter, pelo menos, mais de dezoito anos, pouco importando seu estado civil, sexo ou nacionalidade. Se a adoção se der por marido e mulher ou por companheiros, bastará que um deles tenha completado esta idade mínima e que haja comprovação da estabilidade da família.

A regra geral é a adoção de uma criança ou adolescente por pessoas ou casais brasileiros. Apenas excepcionalmente permite-se a sua efetivação por casais ou interessados estrangeiros. Em quaisquer casos, o pedido é antecedido por um estudo social realizado por psicólogos forenses ou assistentes sociais da Comarca onde é formulado, visando avaliar todas as condições dos envolvidos, propiciando a maior segurança possível no deslinde de questões desta natureza, muitas vezes delicadas ou complexas por circunstâncias próprias que cercam cada caso especificadamente.

 No livro “Você não está só”, o autor George Dolan relata a conversa de crianças que vendo uma foto de dois irmãos com cabelos de cor diferente e comentando sobre a adoção, um fala para o outro: “quer dizer que você cresce no coração da mãe, em vez de crescer na barriga”. Esse quadro revela o grande amor que caracteriza a família e o adotado.

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmai.com)

 

 

                  



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - CENAS URBANAS

 

 

 

 

 

 

 

 

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            Acredito que algumas das características que me remeteram à escrita de crônicas seja a curiosidade e o gosto pela observação. Embora eu seja uma pessoa falante (talvez até um pouco demais, às vezes), em geral, quando chego em um lugar no qual nunca estive ou estou cercada de pessoas que não conheço, gosto de dedicar um bom tempo a observar, quieta no meu canto. Aprendi, com o tempo, que é melhor, sobretudo, antes de falar ou fazer algo, conhecer o entorno, já que isso pode evitar vários dissabores.

            Assim, quando ando por aí, seja de carro, no banco do carona, seja de metrô ou mesmo a pé, gosto de olhar a paisagem, o comportamento da natureza e das pessoas. Morar em uma cidade como São Paulo, inclusive, é algo bem peculiar nesse sentido, eis que por aqui de tudo se vê um pouco e para uma curiosa nata como eu, essa condição é um deleite. Não raras vezes eu penso em tirar uma foto que possa registrar o que meus olhos notam e minha mente grava, mas nem sempre isso é possível. Além do fato de que eu não domino a arte de fotografar exatamente como vejo, de escolher os ângulos e os destaques corretos, nem sempre dá tempo de sacar o celular para um simples registro, quer pela efemeridade do fato, quer pela rápida passagem que se faça por determinado lugar.

            Se não me é possível, desse modo, compartilhar pela experiência visual algumas cenas urbanas que me captam a atenção, faço uso do que me é mais familiar, buscando as palavras mais adequadas, os pontos e as vírgulas que coloco em meus pensamentos. Escrever permite, por outro lado, que cada qual que possa vir a ler, imagine a cena como melhor lhe aprouver, com os recursos de seu próprio imaginário, com as cores da paleta que preferir.

            Essa semana, por acaso, foi marcada por algumas cenas que passo a descrever, por considerar serem dignas de tanto, pela peculiaridade que contem. A primeira foi quando eu voltava do trabalho, em uma segunda à noite, perto das vinte e três horas. Enquanto o carro estava parado no semáforo, eu notei algo que até então não havia visto. No cruzamento de uma avenida, no centro da cidade, há uma árvore imensa, salvo engano uma falsa seringueira. Com raízes externas e entrecruzadas, sua base parece saída de um filme de fantasia. Isso eu já havia notado, inclusive. O que até então me passara despercebido é a quantidade de ratos, gigantescos, que, correndo de uma raiz a outra, pareciam submergir e emergir delas, revirando o lixo que, infelizmente, é jogado diariamente aos pés da árvore.

            Sei que a cena acima não é exatamente bela, mas é significativa. Ali estão duas expressões da natureza, uma delas lutando para ter um espaço para espalhar suas raízes em meio a uma mínima ilha rodeada de asfalto, dando em troca sombra e abrigo a moradores de rua e, outra, representada pelos roedores que tomam conta da cidade na qual o lixo pelas vias parece ter alcançado seu lugar de (des)honra. No fim, é tudo mesmo uma luta pela sobrevivência e fica para mim a certeza de que nós, seres humanos, não estamos desempenhando nosso papel com louvor.

            Outra cena que igualmente chamou minha atenção nos últimos dias foi a de um prédio em construção, abandonado. Há muitos assim pela cidade, à propósito, por motivos diversos e eu nem faço ideia das razões pelas quais aquele em especial estava no estado em que estava, mas o que de fato é incrível é o fato de que, sobre a laje de parte dele, como um andar não terminado, havia uma árvore. Não um arbusto, mas uma árvore alta e frondosa. Isolada lá em cima, provavelmente há muitos anos já, deve ter nascido de alguma semente levada por pássaros. As raízes, na ausência de terra, devem estar fixadas entre as camadas de areia e outros materiais de construção. Ela nitidamente se apoderou daquele lugar, como uma soberana solitária, mas coroada pela grandeza de lá estar, à revelia da cidade e dos homens.

            A natureza nos mostra, diuturnamente, que ainda temos inúmeras lições a aprender. Crianças do mundo, mal-educadas e egocêntricas, seguimos ignorando seus apelos, certos de que nada haverá a ser pago. Basta, no entanto, parar alguns minutos e olhar em volta de nós, quer consigamos entender, fotografar ou escrever sobre isso...

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com



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Domingo, 22 de Maio de 2016
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - CONTEMPLANDO-SE NO MORRO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O menino tem nove anos e inúmeros questionamentos. De onde viriam seus pais biológicos? Que aconteceu à sua mãe após deixar o hospital, com a promessa de que retornaria com os documentos necessários? Perdeu-se pelos caminhos? Foi acometida por um mal súbito? Ou planejara não ficar com ele, devido à situação de miséria? Não queria para ele o seu sofrimento.
Há gente com recursos tão minguados! Já cantava Adoniran Barbosa em “Despejo na Favela”: “Pra mim não tem ‘probrema’/ Em qualquer canto eu me arrumo. / de qualquer jeito eu me ajeito./  Depois, o que eu tenho é tão pouco,/ Minha mudança é tão pequena, / Que cabe no bolso de trás”.
Decifrar os mistérios que nos envolvem é próprio do ser humano. Saber se existe algo impresso em nós, vinda de nossos ancestrais, que nos motiva a agir deste ou daquele jeito pode também inquietar alguns ou muitos. Gosto de saber sobre meus antepassados, não tanto sobre quem eram, mas sim a respeito de que como reagiam diante dos fracassos e das vitórias; de suas emoções. Embora não tenha conhecido a maioria deles, sinto em minha alma os murmúrios de quem me precedeu.
Mas voltando ao menino: sua árvore genealógica é a dos pais que o geraram no coração. Não consegue ainda discernir o quanto isso é essencial. Filhos que não passam pelo coração, mesmo que convivam com a família biológica, tropeçam no fracasso do desamor. Gravidez no coração é muito mais intensa do que apenas no útero. O ideal, lógico, é que seja plena, contemplando o coração e o biológico.
Semana passada, ele estava na casa em frente ao morro no qual, há décadas, se encontram moradias dependuradas. Ficou silente, observando as habitações irregulares, os caminhos íngremes, a ausência de vegetação na terra ocupada, a falta de beleza exterior...  Os carrinhos improvisados com sucata. 
Olhava como se percorresse as vielas e desvendasse, pelas janelas abertas, a história de cada morador. Creio que, ao analisar a paisagem diversa da sua, de certa forma contemplava-se, desvendava-se.
Poderia haver, na pobreza da cena, pegadas maternas e paternas? E onde estaria ele nos atalhos tortuosos?
O morro não é seu endereço, a metrópole sim. Mas e os seus nós?
Não existe quem não os tenha.
Espero que um dia, em meio às suas inquietudes, com resposta de certa forma impossível, ele se encontre na linhagem de Deus.

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE   -   Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
 



publicado por Luso-brasileiro às 20:47
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