Esses dias li uma matéria sobre uma famosa atriz americana que se dizia farta de tantas cobranças sobre uma possível gravidez. Por ser uma mulher bonita, rica e famosa e por ter namorado atores igualmente ricos, belos e famosos, como poderia não ter um filho. Depois de explicar diversas vezes que ela quer ter um filho, desabafou publicamente, dizendo que não precisa seguir estereótipos sociais para ser uma pessoa feliz.
Após o depoimento dela vieram outras atrizes, inclusive brasileiras, trazendo à baila a discussão sobre os “modelos” que a sociedade impõe às pessoas e que, por serem em grande parte inatingíveis, causam apenas sofrimento e desilusão. Eu mesma, em outra oportunidade, escrevi algo sobre isso, justamente porque percebo o quando isso impacta negativamente a vida de tantas pessoas.
A coisa vai muito longe nessa temática e apenas para falar de alguns aspectos, destaco a questão do peso e da idade. Quase todo mundo que conheço está descontente com o próprio corpo no que respeita ao peso. Basta olhar uma revista qualquer ou assistir a grande maioria dos programas de televisão e tudo o que se vê são pessoas magras, algumas até de uma magreza não saudável, provavelmente conquistada à base de dietas malucas ou mesmo de remédios cujos efeitos reversos sequer são conhecidos.
Tenho visto muita gente bonita, bacana, ficar neurótica com a forma física, sequer se permitindo saborear uma guloseima vez ou outra. A barriga virou a grande vilã da alegria. No quartel general da beleza, homens e mulheres ficam tramando estratégias para se livrar dos indesejados centímetros abdominais, dispostos a qualquer sacrifício para isso. Confesso que também não gosto do excesso que se acumulou em minha barriga com o passar dos anos e faço exercícios para manter minha saúde e para que a “pança” não fique fora de controle, mas minha barriga não me define (e nem eu a ela, kkkk), não é o que sou.
O que me assusta não é as pessoas que fazem seus pequenos sacrifícios para se livrar de peso extra, mas quem não consegue ser feliz quando isso não acontece, sobretudo porque a sociedade parece olhar para os gordos com recriminação, como se fossem culpados de algo que não fica nem muito claro do que é. E fica difícil se aceitar quando todas as mocinhas dos filmes tem uma cintura esculpida a cinzel e até os vilões tem um tanquinho no abdômen. Quando se é adolescente, então, com o rosto cheio de espinhas, o corpo ainda em formação, ser gordo ou magrelo é quase uma sentença de morte social em determinados meios, infelizmente.
Isso tudo causa pessoas retraídas, infelizes, muitas das quais se submetem a procedimentos cirúrgicos arriscados ou a tomar as famosas “bombas”, tudo para poderem fazer parte da “turma”, para ser “bonito”. E vejam, tudo bem querer estar bem, mas muitas pessoas são compelidas a isso, mesmo sem vontade, tudo por aceitação e, em alguns casos, descobrem que a felicidade não mora do lado de fora de nós, mas do lado de dentro. Não há coração que seja feliz apenas porque há músculos ou não há barriga. Momentaneamente isso pode ser verdade, mas está longe de resumir a vida de alguém, de resolver os seus problemas existenciais. Na verdade, é tudo um misto de ilusão e desilusão.
Fico pensando como e quando esses parâmetros únicos de beleza corpórea passaram a tiranizar as pessoas. O engraçado é que olhamos bebês e animais gordinhos e os achamos, em regra, belos e saudáveis. Depois, conforme vamos crescendo, precisamos ser magros a todo custo, até ao custo da alegria e do prazer de ser comer algo de que se gosta.
O mesmo se pode dizer quanto à questão da idade. Há muito a mídia ostenta a bandeira da ditadura da juventude. Acrescentar anos à vida é ser velho. A própria palavra adquire tons pejorativos, pois velho é também aquilo que não tem mais utilidade, que está estragado. Para coisas valiosas, curiosamente, usamos a expressão “antigo”, mas não velho. Na busca pela juventude eterna muitos descuidam do hoje, do único tempo que nos pertence. É claro que a juventude traz consigo um frescor e nota de beleza únicos e o bom é saber que todos nós temos a oportunidade de viver esse tempo, mesmo quando não nos moldamos aos parâmetros de beleza convencionais. Todo broto tem a delicadeza que perderá quando se tornar árvore, quando florescer, quando frutificar, eis que para tudo, nesse mundo e na vida dos homens, tem um tempo de ser e de não-ser. Viver é um processo evolutivo de adaptação e envelhecer é o ápice desse processo.
Já vi muita gente perder a alegria de viver porque os cabelos embranqueceram, porque as rugas se acumularam. De fato, uma vez mais, muito difícil envelhecer em uma época na qual se reverencia o novo como sinônimo do belo. Acredito que a coisa toda é insolúvel se a pessoa viver do passado, daquilo que ela foi, pois o tempo não dá ré e essa ainda é uma verdade inconteste. Talvez, acredito eu, se as pessoas entenderem que nessa jornada, nesse tabuleiro da vida, não se volta casa nenhuma, pudessem aproveitar melhor a brincadeira, porque, de um jeito ou de outro, todos sabemos como o jogo termina.
Vivamos felizes, gordos ou magros, brancos, negros, amarelos ou azuis, homos ou héteros, com filhos ou sem filhos, casados ou solteiros, jovens de corpo ou jovens de alma, mas que sejamos capazes de perdoarmos nossas barrigas, nossas pequenas rugas e as condições do outro, seja lá quais elas forem...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
Tínhamos um chorão em um dos cantos do nosso quintal. Um canto que dava para a rua.
Adorava ouvi-lo quando o vento era forte. A imagem que tenho é que isto acontecia quando o céu escurecia e o tempo estava para mudar. Em minha mente uma história de mistério e suspense já se instalava, principalmente se a noite se aproximava...
Não tinha medo, gostava desse mistério e me sentia tão bem protegida dentro de casa, que me sentia na própria fortaleza.
No inverno muitas de suas folhas caíam e forravam a calçada.
Passados muitos anos, nosso chorão teve de ser cortado. Suas raízes estavam levantando cada vez mais o solo, e o muro que ficava ao seu lado corria risco de cair, em razão do alastramento dessas raízes. Choramos pela morte do chorão.
Mas deste mesmo lado tínhamos um hibisco, que também enfeitava a calçada com suas flores caídas. E próximo dele estava o pinheiro, que eu tentava escalar a todo custo, mas os troncos eram estreitos. Por fim, subia até onde era possível e quando retornava vinha com as mãos meladas daquela seiva que parecia um mel. A maior diversão era com as pinhas. À época em que despencavam, pareciam não ter fim.
Pés de limões, goiabeira, orquídeas, cactos, capitães, alamanda amarela, amor agarradinho, hortelã e uma série de outras plantas que agora não saberei nominar, tudo isto fazia parte de um grande universo que habitava aquele quintal mágico.
Os quintais sempre me atraíam. E as casas por onde eu passava, em minha infância, tinham quintais verdes. Casas que hoje identificamos como "casa do interior", uma denominação carinhosa que nos remete a algo afetuoso, aconchegante... cheio de sentimento!
Um sentimento que nos fazia até chorar por um chorão... Parece um pouco distante esta realidade se imaginarmos que hoje quase já nem choramos pela perda de alguém, imagine de uma planta...
Nestes tempos invernosos, em que tudo é preparado para nos ser entregue pronto, vamos nos distanciando da imaginação, das memórias e da saudade. Como se tais sensações não pudessem aflorar, por não serem boas... Como se o bom só fosse a felicidade, mesmo que infeliz; como se no bom não residissem as histórias boas de lembrar, as lágrimas (de tristeza ou de alegria). Momentos e fatos que nos constroem, nos solidificam.
Talvez por isto andamos tão frágeis. Embora invernosos...
RENATA IACOVINO, poeta e cantora / facebook.com/oficialrenataiacovino/ reiacovino@uol.com.br
“No meio do caminho tinha uma pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho” (Drummond)...
Eu sei. Há não sei quanto tempo, iniciei artigo atirando essa pedra.
– Gente , calma! Não ma devolvam sem que se identifiquem comigo ou com minha pedra, ou, nisto, outro alguém e a sua.
Não dirijo.
Ei-la: a pedra – de tropeço.
Contudo, o que assim começou, virou hábito bom, até firmar-se ato de coragem!
Vitória sobre o andar da carruagem, ditada pelo consumismo, pela modernidade e por suas consequências, pois, toda causa tem as suas.
Contrariando quem de mim ri, como se fitasse, ao me ver a pé, uma reles excluída, eu caminho determinada.
O corpo agradece. A alma respira. Os olhos farejam cardápio vário.
E vou muito bem; obrigada.
O planeta, por sua vez, se me tem mostrado mais afim, menos contrariado. Afinal, ele também deseja vida longa ou pelo menos qualidade de.
O meu rol de amigos só cresce. Foi o Seu Waldemar, do táxi, meu socorrista nas eventualidades, que me deu esses dois pés de café, que estão prestes a frutificar pela primeira vez.
Os gatos das redondezas, em vista de meus passeios, acompanham-me.
A passarada não perde a hora de me cantar.
Os cachorros, seguros, latem, portão adentro. Os da rua imploram atenção, abanando rabos. Liberdade é ou não é coisa essencialmente confusa? Objeto que se quer, mas carece ser administrado, carece de racionalidade.
“Igual a tudo na vida”, me diria Woody Allen, pela voz de um de seus personagens, taxista como meu amigo, em filme homônimo.
Ocorre-me que figuras de taxista e mordomo sempre sejam tão curiosamente exploradas por mestres da ficção.
Ficção sim, mas, somente porque a vida imita a arte. Ou o contrário.
Porém, ocorre-me, logo em seguida, que isto é assunto para artigo futuro. Outro desses que trazem à tona velhas mazelas. Restígios, como diz minha mãe, sabiamente agregando restos com vestígios.
Este aqui vai chegando, dentro do limite característico da autora, ao limite estipulado de caracteres.
Ocorre-me, agora, isto posto, que um dia, talvez, eu corra. Se, oras, nem caminhar eu caminhava...
O impossível é que é a vera ficção.
As possibilidades a gente é que faz!
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
O Carmelo, com seus santos que passaram a vida escondidos, surpreende ao mundo e a Igreja. Quando estava viva, ninguém conhecia Teresa dos Andes, também conhecida como Santa Teresinha da América Latina. Logo depois que morreu, sua fama foi se espalhando, seus escritos tornaram-se conhecidos. Com apenas 20 anos, foi para junto de Deus, tendo vivido no Carmelo por menos de um ano.
Santa Teresa dos Andes foi uma santa jovem, que espalhava alegria, cheia de vida e que com muito amor, soube doar a Deus o melhor de si. É verdadeiro exemplo de fidelidade, alegria e de amor ao Senhor; e que todos nós precisamos seguir.
Sua beatificação foi realizada pelo Papa João Paulo II quando este visitou o Chile em 1987. Depois, foi canonizada pelo mesmo Sumo Pontífice em 1993, em Roma. Nesta ocasião ele a chamou de Santa Teresa de Jesus “dos Andes” e declarou que era a primeira chilena e a primeira carmelita latino-americana a ser elevada à honra dos altares da Igreja, para ser festejada no dia 13 de julho. O Santuário de Santa Teresa dos Andes, como ficou popularmente conhecida, se tornou um centro espiritual no Chile, visitado por milhares de peregrinos anualmente. Sua fama de intercessora pelas graças e milagres concedidos correu logo, principalmente entre os jovens católicos. Santa Teresa dos Andes continua assim cumprindo a missão reconhecida como sua: despertar fome e sede de Deus nos jovens deste nosso mundo moderno tão materializado.
Conheça alguns de seus pensamentos:
Leia também: 13/07 – Santa Teresa de Jesus dos Andes
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
Se alguém lhe oferecesse dinheiro pedindo que você negasse a existência de Deus por somente um dia de sua vida, você o faria? Já sabe a decisão que tomaria ou primeiro precisaria saber quanto iria ganhar? Se fosse uma verdadeira fortuna, faria alguma diferença?
Com certeza, esse tipo de tentação não mexeria comigo porque tenho consciência que nenhuma riqueza no mundo é maior do que as bênçãos que vêm do Céu. Se eu não fosse tão privilegiado em saúde, paz na família e fé no coração, talvez desse mais valor às coisas materiais, mas, graças ao bom Deus, já possuo muito mais do que mereço.
E se algum amigo dissesse que ‘venderia a sua fé’ para resolver uns problemas, eu pediria que me contasse que tipo de problema é maior do que o amor de Jesus Cristo por nós – e duvido que o indivíduo pudesse se explicar. Na verdade, quem troca o nosso Salvador por dinheiro, compraria um lugar bem quente para viver na eternidade – e ainda pagaria caro por isso!
Mas, falando em ambiente quente, estou lembrando da visita que um vicentino fez a outro que havia se afastado das reuniões da conferência. Sentaram-se em frente a uma lareira e, sem conversarem, ficaram olhando a madeira queimar. Depois de algum tempo, aquele que foi fazer a visita pegou uma vara e separou uma brasa das demais.
Quando aquele pedaço de lenha se esfriou e ficou com aspecto de carvão, o vicentino visitante voltou a empurrá-lo junto das brasas ardentes e, num instante, eles perceberam que se acendeu novamente. Então, o dono da casa disse ao confrade: ‘Amanhã, estarei junto com vocês no trabalho de caridade’.
Pois é, a nossa união dá força à missão. A fé de um cristão aquece o coração do outro num ritmo acelerado e inesgotável! Sou testemunha disso porque já viajei bastante – dando palestras e participando de encontros católicos – e, mesmo em cidades grandes como Brasília, São José dos Campos e Belo Horizonte, a dinâmica é a mesma: quando alguém fala em nome de Deus, muitos se emocionam e arregaçam ainda mais as mangas para construírem o Reino.
Quase todos que procuraram e experimentaram a misericórdia Divina, não a trocam por nada. Nem seria justo que a substituíssem, porque o nosso Pai sempre nos socorre quando O invocamos, não é mesmo? Se rezamos, Ele nos ouve; se nos arrependemos dos pecados, Ele nos perdoa; se caímos, Ele nos estende a mão; enfim, que tipo de filho trai um Pai assim?
Mas, como somos fracos na missão que recebemos pelo batismo, é bom não darmos chances ao pecado e sempre nos envolvermos com os trabalhos na comunidade. Lá, quando o grupo é comprometido com a evangelização, a chama da caridade não se apaga e Jesus permanece presente. Assim, fica muito difícil alguém desistir da fé e resolver enfrentar o mundo sozinho – mesmo com bastante dinheiro no bolso!
E eis outra pergunta que lhe faço agora: ‘Existe alguém que seja mais seu amigo do que o próprio Cristo?’. Enquanto pensa, vá lendo a história de Vladimir Petrov, um jovem prisioneiro de um campo de concentração no nordeste da Sibéria.
Ele tinha um companheiro chamado Andrey e ambos sabiam que daquele lugar poucos saíam com vida, pois o suprimento que davam aos prisioneiros políticos não os mantinha vivos por muito tempo. Por isso, era natural roubarem comida uns dos outros para não morrerem.
E Vladimir escondia, numa pequena caixa, alguns biscoitos, um pouco de manteiga e açúcar – coisas que sua mãe lhe havia mandado, clandestinamente, de quase três mil quilômetros de distância! Guardava-os para quando a fome se tornasse insuportável e, como a caixa não tinha chave, ele a levava sempre consigo.
Certo dia, Vladimir foi despachado para um trabalho temporário em outro campo e, como não sabia o que fazer com a caixa, Andrey lhe disse: ‘Deixe-a comigo que a guardo. Pode estar certo de que ficará a salvo’.
Um dia após a sua partida, uma tempestade de neve tornou intransitáveis todos os caminhos, impossibilitando o transporte de provisões. Só dez dias depois, os caminhos foram reabertos e, voltando ao lugar de origem, Vladimir não viu o amigo entre os demais. Dirigiu-se ao capataz e perguntou: ‘Onde está Andrey?’. Surpreso, ouviu a resposta: ‘Enterrado, mas, antes de morrer, pediu-me que guardasse isto para você’.
Vladimir sentiu um forte aperto no coração. Abriu a caixa e, dentro dela, ao lado dos alimentos intactos, encontrou um bilhete dizendo: ‘Escrevo enquanto posso mexer a mão. Não sei se viverei até você voltar porque estou horrivelmente debilitado e sem alimentos. Se eu morrer, avise a minha mulher e meus filhos. Deixo as suas coisas com o capataz. Espero que as receba intactas. Seu amigo, Andrey’.
Mais uma vez, este relato prova que uma amizade duradoura só se constrói com fidelidade e honestidade recíprocas. Da parte de Deus, isso é inquestionável... e de sua parte? Sugiro que prove a verdadeira amizade que tem por Ele prometendo que nunca desistirá da sua fé.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas
Estando de veraneio, no Estado de Santa Catarina (Brasil), cheguei num sábado, cheio de sol radiante e céu azul profundo, a Florianópolis, cidade onde residem familiares,
Após reconfortante repouso, num simpático e fresco jardinzinho, resolvi visitar a catedral.
Era no mês de Janeiro; Janeiro quente e calmoso. O ar estava pesado e surdo; nem ponta de vento corria.
Ao subir os degraus, que dão acesso à igreja, deparei com duas gentis meninas, que, de abertos sorrisos, distribuíam jornalzinho, a quem entrava no templo. …
Pensando que se tratava de oferta de publicação católica ou periódico generalista, gratuito, aceitei um exemplar, agradecendo a gentileza.
Para meu espanto, ao abri-lo, verifiquei, que era órgão de seita cristã, que continha, além de artigos doutrinários, cerradas criticas à Igreja Católica, além de notícias de falcatruas praticadas por pastores evangélicos, de outras denominações.
Distribuir publicações – propaganda – de seita, à porta de templos católicos ou evangélicos, é atitude inclassificável, só praticada por gente repugnante, que ainda não compreendeu o que é o cristianismo.
Gente que utiliza a fraqueza espiritual do próximo, para governar-se, e levar vida folgada, à custa da boa-fé dos simples.
Mas, o que me impressionou mais, foi que os crentes, que estavam em oração, no templo, além de aceitarem a publicação, deixavam -na dentro da igreja!...
Os bancos estavam pejados de jornais! …
Se é atrevimento inclassificável, da seita, que assim procede, também é de reprovar os fieis, que frequentam o templo, de abandonarem, pelos bancos, jornal, que critica de modo grosseiro e grotesco, a Igreja que pertencem….
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Poema e voz de Euclides Cavaco.
Mais um trabalho que ofereço a todos os meus amigos
com um abraço desde o Algarve. Ouçam e vejam o poema aqui:
http://www.euclidescavaco.com/Po…/Murmurios_do_Mar/index.htm
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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PINHO DA SILVA - (1915 – 1987). Nasceu a 12 de Janeiro, em Vila Nova de Gaia, (Portugal). Frequentou a Escola de Belas Artes, do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes e do Mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia (autor da celebre estatueta de Eça de Queiroz). Vila-florense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal. Redator do “Jornal do Turismo”. Membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Foi Secretário-geral da ACAP. Publicou " Minha Vida Com Teresinha", livro autobiográfico.
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Fevereiro de 1945, recém formada na Escola Normal Livre de Jundiaí, a mamãe, inscrita na diretoria de ensino da época, foi designada para dar aula de primeiro, segundo e terceiro ano, como substituta, em Itatiba, em uma sala da Fazenda Ipê de propriedade do Sr. Daniel José Rodrigues. Ali se estabeleceu até novembro, quando chegou a titular da classe. Inseriu-se na família de Maria e Manoel Nogueira, ele administrador da fazenda. Houve dor no coração e lágrimas na despedida e, quando isso acontece, é porque o convívio acrescentou, mais do que conhecimento, ternura. A sua primeira turma no magistério e, para alguns alunos, a primeira professora, aquela da música “Meus tempos de criança” de Ataulfo Alves: “Que saudade da professorinha/ Que me ensinou o beabá. / Onde andará Mariazinha/ Meu primeiro amor, onde andará?”
Passaram-se décadas e um dos filhos de Maria e Manoel, Clodoaldo, que é de insistência na esperança, saiu à procura da mestra querida que o alfabetizou. Esteve, no ano passado, em casa para revê-la, juntamente com sua irmã Nicolina, que também foi aluna da mamãe. Trouxeram-lhe flores azuis, porque, creio eu, reencontros, como esses, são feitos de Céu. História forte, pois alicerçada em lembranças do bem.
Dia dois de julho último, na comemoração dos 79 anos da Nicolina, estavam também ali mais dois irmãos: Jaime e Gervásio. Eram seis. Maria Amélia e João já partiram para a Eternidade. Com que meiguice e alegria lhe apresentaram: filhos, genros, noras, netos... Fantástico. E a Nicolina escolheu, em lugar de presente, a doação de um item de material escolar para a Casa da Fonte – CSJ ou de ingrediente para a “Oficina Saber do Sabor” da Magdala. Coração generoso. Quanta coisa ofertada! Aliás, é gente de alma grande, de luta, virtudes e caráter a Família Nogueira e me encantou o espírito estar com eles.
Em bate-papo com o Clodoaldo, que tem uma fazenda no sul de Minas, em Senador Amaral, dentro da qual existe uma cachoeira belíssima, comentou sobre a perfeição de Deus, que fez as rochas que margeiam a cachoeira, impedindo que as águas se dispersem. Como é bom conversar com pessoas que se veem como criaturas e reconhecem a ação do Criador.
Por esses acontecimentos, recordei-me do Salmo nove: “Eu Vos louvarei, Senhor, de todo o coração, todas as Vossas maravilhas narrarei.”
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Imbuído das melhores intenções, Bob Geldof organizou um show simultâneo em Londres, na Inglaterra e na Filadélfia, nos Estados Unidos, o “Live Aid”, com o objetivo principal de acabar com a fome na Etiópia em 13 de julho de 1985. O espetáculo contou, entre outros, com as presenças de artistas como The Who, Mick Jagger, Phil Collins e Eric Clapton. Vinte anos depois, repetiu a edição, com estrutura maior e em vários países com o propósito de pressionar os líderes do G8 para perdoar a dívida externa de países mais pobres e erradicar a miséria do mundo. Desde então, a data passou a ser conhecida como Dia Mundial do Rock.
“Rock and Roll” (também escrito “Rock'n'Roll”) é um gênero de música que emergiu e se definiu como estilo musical no sul dos Estados Unidos durante a década de 50, rapidamente se espalhando pelo resto do mundo. Era uma época pós-guerra na qual a juventude se sentia pressionada socialmente por uma série de fatores, entre os quais, a total submissão ao poder econômico das potências internacionais. Evoluiu mais tarde para diversos subgêneros, os quais hoje são definidos simplesmente como "rock".
Mais que um simples tipo musical, ele representou uma revolução etária e de costumes sem precedentes, iniciada com Elvis Presley e consagrada em todo o mundo com os Beatles. Efetivamente, surgiu como símbolo de contestação, ousadia e liberdade. Influenciou estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. Sem nenhuma dúvida, ajudou decisivamente a causa do movimento dos direitos civis nos EUA, já que era apreciado tanto por brancos, como negros, que o curtiam conjuntamente, sem preconceitos e discriminações.
Com o decorrer do tempo, ampliou-se de tal forma que é difícil falar qual a sua principal mensagem. São tantas vertentes adquiridas, que ele passou a ter um significado próprio para elas individualmente. O rock é exatamente o que cada músico, cantor, compositor ou admirador quiser que seja. Estará sempre ligado à capacidade criativa do ser humano, consolidando a célebre reflexão de Fernando Pessoa: “Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.
Também já faz parte de um saudosismo chamado de “dourado”. Numa época em que a Bossa Nova predominava, desembarcou no Brasil e os primeiros sucessos no país foram "Banho de Lua" e "Estúpido Cupido", com a cantora Celly Campelo surgindo depois a Jovem Guarda com Roberto e Erasmo Carlos, o grupo Mutantes - que o misturou à diversidade da música brasileira-, Raul Seixas, Secos e Molhados e tantos outros.
Na realidade, esse gênero musical, que tem milhares de adeptos até hoje, além de sua força artística, guarda uma simbologia revolucionária muito forte, representativa de uma sociedade mais justa, igualitária e livre. E quando os Beatles anunciaram o fim da banda, restou indignação: “o sonho acabou”. No entanto, tal preceito não traduz a realidade porque mais do que nunca é preciso sonhar, participar e modificar as estruturas equivocadas dos sistemas reinantes e buscar a solução dos conflitos em geral. E com certeza, o rock deverá estar sempre presente, com seu canto e encanto.
Steven Tyler afirmou: “sexo, drogas e rock'n'roll, livre-se das drogas e você terá bastante tempo para os outros dois". Com efeito, ele se basta a si mesmo. Com um ritmo muito envolvente, instiga a mente, tornando-nos mais exigentes e perspicazes. Ao mesmo tempo, propicia momentos felizes e de euforia, consolidando um forte contexto social, e quando de qualidade, demonstra excelência estética a qualquer tempo, sem perder inclusive, seu caráter histórico. E como disse Rita Lee, “o rock é planetário”.
A verdadeira caridade
A 19 de julho, por decreto presidencial de 1966, celebra-se o Dia da Caridade no Brasil. O seu conceito se tornou mais claro com o cristianismo, por meio do mandamento que diz: “amai-vos uns aos outros”. Ou seja, esse é o princípio maior: amar e ajudar o próximo. Tal auxílio na realidade é consistente, lastreado no respeito irrestrito à dignidade da pessoa humana. Deve ser amplo e absoluto, distante de qualquer egoísmo. Posições individualistas e cômodas devem ser substituídas por ações solidárias e participativas, deixando de lado nossas indiferenças para com os outros e para com o meio em que vivemos.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
Falemos agora, para concluir esta série de artigos sobre os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai, da atuação do 7º Corpo de VP, constituído em São Paulo, e do qual participaram membros de famílias piracicabanas. Durante sua formação, os 759 homens que compunham o efetivo do 7º se aquartelaram nos arredores da Capital, no atual bairro do Ipiranga. A 1º de agosto de 1865 embarcaram com destino ao Sul. Na capital da Província do Rio Grande permaneceram perto de dois meses, recebendo instrução e treinamento. Um oficial e 33 praças ali morreram, antes de entrarem em operações, devido a uma epidemia de varíola. A 7 de outubro o 7º embarcou para Corrientes, onde se juntou com o 42º, também constituído por paulistas. Ali foram passados em revista pelo General Osório, “o Centauro dos Pampas”, que deles afirmou uma frase que motivou extraordinariamente seu moral: “Esses são soldados! E devem sê-lo, pois os paulistas, seus antepassados, foram bravos, como certifica a história”.
A 10 de abril de 1866 o 7º CVP recebeu a missão de tomar, de ocupar e manter a Ilha do Ataio – que era um ponto estratégico importante, fortemente defendido pelos paraguaios. Os nossos desembarcaram em chatas, durante a noite, e montaram rapidamente um sistema de trincheiras, com 6 peças de bateria, diante da fortaleza paraguaia de Itapiru. Foi um desafio que custou caro, pois os paraguaios, durante quatro dias, bombardearam incessantemente nosso entrincheiramento. Depois, investiram sobre os nossos, com 1200 homens bem armados e divididos em três batalhões. Os nossos resistiram até os últimos cartuchos e, faltando munição, lançaram-se sobre os paraguaios à baioneta, tendo à frente o Comandante Pinto Pacca. Morreram 153 paulistas do 7º. Ficaram estendidos no solo mais de 600 paraguaios.
Na batalha de Tuiuti, a 24 de maio de 1866, o 7º CVP "bateu-se por longo espaço de tempo com uma força de infantaria superior em número, com a cavalaria e foguetes a congreve, tendo fora de combate seis oficiais e cento e dezenove praças. A bandeira findo o combate, apresentava três orifícios produzidos por balas".
Até o fim do conflito, o 7º CVP portou-se com brio e galhardia. Seus principais combates, depois de Tuiuti, foram, ainda em 1866, os de Punta Nãró (16 e 17 de julho), Isla Carapá (18 de julho, ocasião em que morreram 40 homens do 7º) e Tujucué (a 20 de setembro). Em 1868, o combate de Estabelecimento (19 de fevereiro), Perecué/Assunção (8 de agosto), Villeta (13 de dezembro) e Angustura (30 de dezembro). Em 1869, o combate de Tupiram (30 de maio) e, depois de agosto, a campanha das Cordilheiras.
O 7º CVP permaneceu no Paraguai, em luta, até março de 1870, quando, após quase 5 anos de campanha, retornou ao Brasil. A chegada em São Paulo, no dia 25 de abril, foi gloriosa: "A população de São Paulo recebeu cheia de jubilo e entusiasmo os valentes chegados do 7º de Voluntários naquele dia".
O 7º partira para a guerra com cerca de 800 homens. Retornava com 350, sendo que apenas 84 deles faziam parte desde o início do conflito. Durante as operações, muitas reposições haviam sido feitas, para suprir os que caíam. Cerca de 6 mil homens, que haviam integrado o 7º em alguma fase de sua atuação tombaram na guerra.
Após o combate da Ilha do Ataio, em que se portou com extrema bravura, o 7º CVP foi condecorado pelo Governo Imperial com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Essa insígnia se encontra, hoje, no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, oferecida pelos heroicos combatentes paulistas. A Virgem da Conceição, Padroeira do Exército brasileiro, era também venerada de modo especial pelos paulistas do 7º., que tinham mandado bordar sua efígie na sua bandeira, a qual se encontra atualmente no Museu de Arte Sacra da Capital paulista.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Mesmo sua mãe dizendo para que ele não assistisse ao filme, ele teimou. Não era mais uma criança tola. Já tinha 13 anos e sabia das coisas. Filmes de terror eram diversão e nada mais. Ele sabia que nada daquilo era verdade. Bastava uma bacia de pipoca salpicada com pimenta, um cobertor e depois de duas horas vendo televisão, ele iria dormir tranquilo. No dia seguinte teria prova de matemática e, com certeza, depois de estudar o dia todo, merecia aquela distração.
Com um beijo de boa noite a mãe foi se deitar. Estava cansada demais. Trabalhara no hospital o dia todo, como enfermeira. Naquele dia não haveria plantão noturno e ela iria aproveitar para dormir um pouco mais. O pai, motorista de caminhão, só chegaria dali a alguns dias. Com a casa em silêncio, ele ligou a televisão, estourou a pipoca e se colocou a postos para assistir a mais um filme de medo, a continuação número 5 de um sucesso de bilheteria. Ele nem se lembrava mais do primeiro, mas com certeza isso não faria diferença alguma.
O filme começou com uma ligeira retrospectiva, para que fosse possível entender a estória. De fato, era meio assustador mesmo, mas ele sabia que tudo saíra da cabeça de algum roteirista e nada mais. A mãe dele era mesmo muito impressionada. Falava que não via qualquer benefício em assistir algo que a deixaria com a cabeça perturbada. Já bastava o que via todos os dias no hospital. “Quer horror?”– ela dizia. “Vá trabalhar um dia desses comigo na emergência... E ah, não adianta querer ir dormir comigo depois, hein?”
Por sua vez, ele ria quando a mãe falava aquelas coisas. Já passara o tempo no qual ele era só um menininho com medo dos monstros que insistiam em morar embaixo da cama e habitar seu guarda-roupa. Essa era uma das desvantagens de ser filho único: não tinha ninguém com quem dividir o pavor noturno. Nos piores dias, ele corria para o quarto dos pais e se metia sob as cobertas, implorando para ficar por lá até o dia amanhecer. Mas esse tempo já passara. Ele era um adolescente, quase um homem. Não tinha medo de nada.
Passada meia hora de filme, entretanto, ele percebeu que subestimara a série. A coisa ali era meio pesada mesmo. Devorou a pipoca com as duas mãos, sem nem perceber que o fazia compulsivamente. Encolhido sob as cobertas, achou que a temperatura baixara muito, subitamente, e que o melhor a fazer seria ir dormir, afinal de contas amanhã ele teria prova. Por outro lado, se ele não terminasse de ver o filme, seria chacota da mãe no dia seguinte.
Assim que o filme acabou, ele subiu as escadas do sobrado onde moravam, enrolado no mesmo cobertor, sentindo alguns tremores. Talvez estivesse ficando resfriado. Quando chegou ao topo da escada ele se deu conta de que, provavelmente, esquecera a luz da cozinha acesa, pois dali se via a luminosidade. Pensando bem, ele tinha certeza de que havia desligado. Contrariado, desceu e assim que entrou na cozinha viu a porta da geladeira aberta. Sentiu como se todo o frio que dela emanava num repente pulasse em seu peito. Será possível que o pai houvesse voltado mais cedo da viagem? A mãe ele tinha certeza de que não havia se levantado durante a noite...
Com o coração aos pulos, ele se apoderou de uma faca que estava sobre a pia e virou-se olhando para todos os cantos, até que, dentro do armário que ficava sob a pia, ele vislumbrou dois olhos brilhantes, que o contemplavam fixamente. Deu um pulo para trás e sentiu como se as forças se esvaíssem de suas pernas, até que, indo em sua direção, Demóstenes, o gato amarelo que da vizinha surgiu em toda sua glória, carregando na boca um pedaço de frango que, supostamente, deveria estar dentro da geladeira.
Ele era mesmo um tolo!! Que bobagem! Ficar com medo por besteira. Amanhã ele iria falar para a vizinha dar comida para o pobre do gato. Alisando a cabeça do bichano, ele, agora bocejando, subiu novamente as escadas em direção ao quarto. Assim que se deitou na cama ficou pensando em como o medo faz coisas tontas com a cabeça das pessoas mesmo. Que mal havia em deixar os pés para fora da cama? Ele só não deixava porque tinha aflição e também porque estava muito frio. E dentro do armário? Por que temer as roupas e cabides? Ele deixava as portas escancaradas apenas porque as roupas precisavam tomar ar. Só por isso.
Fechou os olhos e tentou pegar no sono, mas esse estava fugidio. Começou a relembrar as fórmulas matemáticas e já estava quase dormindo quando um barulho, aparentemente vindo do armário de sapatos o fez despertar. Deveria ser o gato novamente. Já ia se levantar para gritar com o bicho quando se lembrou de que esse armário ele deixara fechado e não havia como o gato ter entrado ali. Quando resolveu por fim conferir o que era, uma corrente de vento bateu a porta do guarda-roupas e balançou as cortinas. Sem pensar, num pulo ele se enfiou sob as cobertas de novo, tremendo. Ligou a luz da cabeceira, a mesma que não deixava ligada há alguns anos e começou a rezar quando ocorreu a ele pensar como é que o gato havia acendido a luz da cozinha...
Reuniu toda a coragem que lhe restara e saiu correndo dali para se enfiar sob as cobertas na cama da mãe. Amanhã cedo ele pensaria melhor naquele negócio de não ser mais criança...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
Fico pensando se Jundiaí cresceu tanto assim ou se nós é que diminuímos nossos passos.
É curioso... toda vez que falo em algum acontecimento de anos (às vezes décadas!) tenho a sensação de estar me referindo a um fato que se deu agora a pouco. Talvez por isto eu ache estranho esse fato ter deixado de existir.
Assim é quando penso que eu percorria boa parte desta cidade a pé (ou de bicicleta). Um dos meus maiores prazeres era saber que me era dado algum destino para explorar. E lá ia eu, com um fôlego que, este sim, tenho a impressão de que não faz parte de mim há séculos.
E tantas outras vezes o rumo era até incerto, impreciso. E de repente eu descobria um canto de minha cidade que nem imaginava existir. E julgava-o distante, mui distante, o que fazia daquilo praticamente uma conquista.
Hoje, quando visualizo esse e aquele lugar, então bastante habitados e de aspecto assaz urbano, fico a imaginar o quanto de terra, morro, mato, árvores, pássaros e demais paisagens bucólicas eu enxergava neles à época.
A cidade se expandiu geograficamente, a população aumentou de maneira expressiva, e dizer que é possível fazermos tudo a pé é quase uma lenda do passado. Opa, lenda não, pois eu vi esses tempos! É história passada.
Talvez por eu residir sempre no centro da cidade, tenha sido agraciada com o privilégio de basicamente tudo estar à minha mão: cinemas (ainda existiam), escola, casas dos amigos, colegas e tios, clube, além de (incrível!) ruas pacatas onde era possível brincarmos e jogarmos por horas.
Nossa relação com o espaço era outra. Consequentemente, a relação entre as pessoas era outra. Boa parte de nosso tempo era dedicado a conversas e interações que, embora não percebêssemos, pois tudo era tão natural, carregavam uma aparente simplicidade daquele cotidiano, que nos enriquecia de conhecimentos e experiências. Até porque as conversas eram fruto de trocas memoráveis. Havia uma delonga gostosa no prosear, com pensamentos que se completavam.
Não que hoje o diálogo inexista, mas às vezes tenho a impressão de que as palavras perderam sua força essencial; que não há necessidade de coerência em frases e em troca de opiniões; que vivemos à mercê de um fenômeno chamado moda e que tudo tem início e fim ali... Sem direito a caminhadas a pé para ver a paisagem sob outro prisma.
RENATA IACOVINO, poeta e cantora / facebook.com/oficialrenataiacovino/ reiacovino@uol.com.br
Quem escreve liberta os fantasmas que estão no sótão da consciência. A sensação de desconforto, de indescritível mal-estar, de angústia ou de desesperança desaparece quando a gente se propõe a exteriorizar o sentimento. Assim tem sido desde que a humanidade começou a se servir desse instrumento de libertação que é a escrita. A verbalização convertida em sinais de comunicação entre ausentes é mágica. Produz na mente alheia uma estrada para a percepção. Penetra-se na consciência de quem se conhece, de quem se pensa conhecer e de quem não se tem ideia alguma de chegar a conhecer. Com a transformação dos próprios sentimentos e compreensões, pois toda leitura provoca mudança no leitor.
Ninguém precisa ser um Machado de Assis ou uma Lygia Fagundes Telles para escrever. Carolina de Jesus fez sucesso com o seu “Quarto de Despejo”. Era pobre, afro e pouco letrada. Mas transmitiu emoções que se comparam a Cora Coralina, a doce goiana que nos legou lindas páginas de ingênuo lirismo e profunda filosofia. É confortador verificar que a leitura atinge todos os espaços.
Há uma explosão de movimentos voltados a estimular quem escreve e quem lê o que é escrito. Fausto Salvadori – fausto@camara.sp.gov.br – em reportagem “Para ler o mundo”, na revista “Apartes”, da Câmara Municipal de São Paulo, fala em Thayaneddy Alves, que escreveu “Entre Reticências”, por um selo original, chamado “Academia Periférica de Letras”. Gilmar Ribeiro Santos, o “Casulo”, escreve desde os 15 anos e virou escritor ao conhecer o Sarau da Cooperifa, organizado pelo poeta Sérgio Vaz. Seu primeiro livro, “Dos olhos pra fora mora a liberdade”, foi publicado pela Filo-Czar, editora-biblioteca-livraria, que funciona na casa do dono, Cesar Mendes da Costa, no Parque Santo Antonio, zona sul da capital.
A partir dessas experiências a Câmara Municipal criou o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca, destinado a incentivar à leitura. Pois 52,4% dos paulistanos nunca leram ou pouco leem livros. E o Indicador de Analfabetismo Funcional – Inaf, do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa, mostra que 27% das pessoas entre 15 e 64 anos são analfabetas funcionais. Ou seja: incapazes de interpretar textos simples ou de entender um gráfico. O que você pode fazer para melhorar esses índices?
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 03/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.co
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