Determinados meses do ano são marcados por características fortes e importantes para a vida de uma nação ou das pessoas. Outubro, que se inicia na próxima quarta-feira, invoca, entre outros, a criança (dia 12) e também os professores (dia 15), que juntos, representam um futuro melhor para qualquer país do mundo e que não recebem a atenção que deveriam. E no próximo domingo, teremos eleições municipais no Brasil, que despertam a importância do exercício da cidadania através do voto e da permanente fiscalização dos eleitos, para que promovam o bem comum, atuando em função dos interesses coletivos, o que infelizmente não vem ocorrendo.
Além disso, há muitas comemorações. Logo a primeiro de outubro se celebra o DIA INTERNACIONAL DOS IDOSOS, baseado numa declaração de princípios, entre os quais, independência, participação, bem-estar, desenvolvimento e dignidade que devem ser outorgados às pessoas da terceira idade. Em sequência, dia dois, homenageando o nascimento de Gandhi, por seus preceitos de ações pacíficas como forma de resolução de conflitos, festeja-se o DIA INTERNACIONAL DA NÃO VIOLÊNCIA.
O DIA DOS ANIMAIS, dia quatro, foi escolhido porque a Igreja Católica celebra o Dia de São Francisco de Assis, que amava demasiadamente a natureza, a ponto de chamar o Sol e a Lua de irmãos e enxergar, nos bichos, provas da bondade de Deus. Em seguida, o “DIA DA AVE”, 05 de outubro, evidencia a afirmação do ornitólogo Johan Dalgas Frisch, que “a vivência com os pássaros nos dá uma formação de paz, amor e respeito ao próximo” (representação viva da liberdade).
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove em todo o País a Semana Nacional pela Vida, que se encerra com o DIA DO NASCITURO, dia 08, com o objetivo de promover a maior valorização da existência humana, desde seu início, na concepção, até a morte natural.
O DIA MUNDIAL CONTRA A PENA DE MORTE, 10 de outubro, objetiva chamar a atenção para este tipo de violação que ainda se insere em na legislação criminal de diversos países. Dois dias depois e apesar de ter sido motivado por um apelo histórico (descoberta da América em 1492), o DIA DO MAR também é lembrado em função da preocupação mundial com a poluição marinha. Afinal, os oceanos cobrem três quartos do planeta.
No dia 12, também se comemora o DIA DA CRIANÇA. E para os católicos há outra celebração, o DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA, Padroeira do Brasil. Duas festividades que indicam a relevância de reverenciarmos os valores cristãos, humanos e familiares, sem os quais é impossível construir uma sociedade fraterna e solidária, capaz de operar as necessárias transformações sociais. O DIA DOS PROFESSORES, 15 de outubro, ressalta a relevante missão do magistério.
O DIA DA MISÉRIA, instituído a 16 de outubro, tenta lembrar à opinião pública sobre as dimensões da pobreza, que deixa bilhões de habitantes sem acesso ás mínimas condições de uma vida digna. Na mesma data, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura comemora o DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO, cujo objetivo principal é o de disseminação dos conhecimentos relativos aos alimentos e a importância destes, inclusive, referentes à saúde dos humanos.
A Universidade De Pádua, na Itália, proclama no dia 18 de outubro de 1468, o evangelista e médico Lucas como patrono do Colégio dos Filósofos e dos Médicos. A partir dessa ocasião, a data passou a ser comemorada como o DIA DO MÉDICO, homenagem aos profissionais que exercem a arte de curar, através de métodos científicos.
Muitos outros festejos, entre os quais, o DIA INTERNACIONAL PARA REDUÇÃO DE DESASTRES e o DIA DO SERVIDOR PÚBLICO, que somados aos acima indicados, completam o mês e são importantes para os direitos fundamentais do homem e estritamente relacionados com o futuro da sociedade, dos critérios de justiça, da participação, da fraternidade, do equilíbrio ecológico, da educação, da convivência social harmônica, da reflexão sobre a situação das crianças e da própria proteção da vida, que merece tutela legal desde a concepção.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
No meu modo de entender, despertar o interesse do aluno de ensino fundamental pela leitura é algo que deve se aproximar, tanto quanto possível, do lúdico. O professor deve mostrar aos alunos que ler é sempre um jogo, uma brincadeira, um prazer maravilhoso. Ler proporciona “mergulhos” em outras realidades, oferece “viagens” a outros mundos imaginários, permite que exploremos à vontade outras “dimensões” da nossa existência. Ler, em última análise, é exercer de modo fascinante nossa liberdade individual, sem as limitações e os entraves da realidade que nos cerca.
O docente deve mostrar isso não só afirmando-o com clareza, mas também demonstrando na prática, em suas aulas, que isso é verdade - e nesse particular é que ele pode dar asas, ilimitadamente, a sua criatividade, pondo sua imaginação em funcionamento, a pleno vapor.
Uma coisa é muito importante: seja qual for o método de ensino que prefira utilizar, o professor deve sempre comunicar aos alunos, mais pelo seu modo de ser do que propriamente por palavras, seu ENTUSIASMO pessoal pela atividade da leitura. Ter entusiasmo, vale lembrar, etimologicamente significa ter Deus dentro de nós (en-Theos, no grego, significa Deus em, Deus dentro), ou seja, termos entusiasmo por algo significa sermos possuídos e animados por um Espírito interior que nos anima a respeito desse algo. Tal entusiasmo, tal paixão pela leitura deve transparecer na pessoa do docente e em seu modo de ser. É esse um ponto fundamental. Se não tiver esse entusiasmo, jamais conseguirá despertar, nos alunos, interesse pela leitura, e jamais será um professor no sentido pleno d termo, seja qual for a disciplina que lecione.
Tive, na graduação em História, algumas poucas aulas com um professor muito pouco preparado para o ensino superior, bastante limitado do ponto de vista historiográfico e com uma cultura histórica cheia de lacunas, mas que, apesar de tudo, reputo um grande professor. Por quê? Porque ele tinha verdadeiro entusiasmo pela disciplina que lecionava; seu entusiasmo era contagiante e motivava os alunos, apesar de estes, na sua quase totalidade, se darem muito bem conta das evidentes limitações do professor.
Assistir às aulas dele era sempre um prazer, apesar de tudo... E, sem deixar de reconhecer suas lacunas, não posso deixar de considerá-lo um grande professor.
Lembro que comentei algumas vezes com os colegas, e todos assentiram, que ele parecia um pouco deslocado no ensino de nível superior, mas inegavelmente era um excepcional professor de História de nível fundamental ou médio. Para alunos adolescentes, ainda sem o senso crítico próprio do ambiente universitário, ele era o professor ideal, pois conseguia comunicar, de modo fascinante, o seu entusiasmo pela História. Ele tornava prazeroso o “mergulho” no passado... Acredito que um professor desses pode, graças ao seu entusiasmo comunicativo e contagiante, ter uma missão muito importante, no sentido de despertar nos jovens vocações para futuros historiadores e professores de História.
Como, concretamente, desenvolver nos alunos o gosto pela leitura?
No meu modo de entender, o professor deve, em primeiro lugar, escolher muito bem os textos que manda seus alunos lerem, ou, melhor ainda, que lê junto com eles. Devem ser textos que tenham relação com a vida deles - porque, se não tiverem, dificilmente atrairão a atenção dos juveníssimos leitores - mas devem ter sempre algo de novidade, que represente uma atração e desperte um interesse. Inicialmente, textos curtos, facilmente compreensíveis e assimiláveis. Em seguida, textos mais extensos, gradativamente, até chegar aos livros.
A passagem dos textos curtos para os livros tem que ser bem preparada e tem que ser gradual, para não assustar os alunos.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
O moço estava em minha frente na fila do açougue. Sandália havaiana, calça e camiseta surradas. Chamou-me a atenção por carregar uma marmita térmica, com o invólucro de plástico, recém saída da prateleira. Olhava o objeto com ar de festa. Percebeu que o observava e puxou conversa. Conseguiu adquiri-la após um “namoro” de quatro meses, desde que chegou por aqui para trabalhar como braçal. “Graças ao bom Deus, comida fria, nunca mais” – disse-me ele.
Fez-me bem o encantamento do moço, sem consumismo, por algo que parece tão simples; encantamento que dá sentido à vida. Poderia se lamuriar pelas refeições geladas de antes, pela dificuldade na hora do almoço, mas escolheu ser feliz com sua conquista.
Veio-me o “Setembro Amarelo”: campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, que ocorre desde 2014. Iniciou-se no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Os organizadores da campanha consideram que o suicídio é um problema de saúde pública, envolto em tabu, que faz aumentar a quantidade de suas vítimas. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia: “um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, nove em cada 10 casos poderiam ser prevenidos.
Os questionamentos, sobre ter feito algo diante do suicídio de alguém próximo ou da família, são para a vida inteira. Meu sonho de atuar junto a mulheres em situação de vulnerabilidade social, em 1970, acontecido 12 anos depois com a Pastoral da Mulher, nasceu de uma moça com esse perfil, que era minha conhecida e se enforcou.
Penso que a comunhão com Deus é essencial para que o indivíduo, perante acontecimentos fúnebres – dissabores, temores, doenças, relacionamentos conflituosos, partidas – consiga se superar e prosseguir.
Recordo-me de uma colocação do Venerável Frei Maria-Eugênio do Menino Jesus: “Sobretudo por amor Deus criou o homem... No homem Ele colocou o sopro de vida. (...) Deus nos amou, nos criou por amor, e porque nos ama é que Ele quer nos atrair para Si.” Tomar consciência desse Amor maiúsculo salva.
O moço da marmita encontrou, nas pequenas coisas, a ultrapassagem das amarguras.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE- Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Entre a polêmica moda dos pokemons, lá em casa a coisa é muito mais realista. Para nós nada de realidade virtual ou aumentada! Lá é vida real mesmo, sem disfarces, rs... Nesse último domingo, inclusive, tivemos uma mostra disso, com direito a criaturas rastejantes e voadoras.
Tenho dois cães, o Peteco, um dashund (vulgo salsicha) e o Floquinho, um poodle de porte pequeno. Ambos já são idosos, com quase 14 e 15 anos respectivamente, mas, como costumo dizer, eles não sabem disso e, assim, vivem como os filhotes que há muito foram. Vira e mexe destroem os panos nos quais dormem, jogam a comida para todo lado e mais uma série de comportamentos que me tiram do sério.
Há pouco mais de um ano, ao meu tipo de peludos juntou-se uma gatinha que agora atende (embora atende não seja o melhor verbo, já que ela vem quando quer) pelo nome de Chica Maria. Frajolinha de pequeno porte, ela em geral é mais comportada do que o restante da “galera”, mesmo tendo pouco menos de dois anos de idade. Quem acompanha meus textos, inclusive, já leu sobre toda essa bicharada em outras oportunidades e já sabe que, apesar das diferenças, há um ponto comum entre a Chica e o Peteco: ambos são caçadores eficazes!
Assim, no domingo passado, em pleno dia dos pais, acordamos no horário dominical costumeiro e fomos chamar os cachorros. O Peteco, que normalmente invade a cozinha em desabalada carreira tão logo a porta é aberta, demorou para dar as caras, o que até nos fez pensar que ele poderia estar doente ou qualquer coisa pior. Depois de alguns minutos, entretanto, ele se resignou a sair da casinha e foi, meio contrariado, para ocupar o cantinho deles na sala, onde ficam quando estamos em casa.
Quando coloquei a mão dentro da casinha deles, entretanto, puxei os panos que servem de forro e achei meio esquisito que lá dentro tivesse ficado alguma coisa. Em uma rápida olhada pareceu-me se tratar de um emaranhado de fiapos pretos e, por sorte, antes de pegar, abaixei-me para uma olhada mais atenta e tão logo meus olhos transmitiram ao meu sonolento cérebro a que correspondia a imagem, dei um grito assustado. Um pequeno camundongo jazia sob as cobertas do Peteco, somando-se ao rol de vítimas do meu destemido velhinho canino.
Passado o susto (e o asco) veio a certeza de que era bem melhor encontrar o rato ali do que circulando pela casa e embora eu tenha certa pena pela vida do bicho, preferi que tivesse sido assim. Achamos, no entanto, que as surpresas do dia tivessem finalizado, mas ledo engano. Eis que, próximo da meia noite a Chica invade a sala correndo como uma louca e escutamos um barulho parecido com uma luta. Embora provavelmente ela só estivesse brincando com alguma coisa, logo vimos que não, até porque ela não tem qualquer brinquedo voador.
E toca fazermos o resgate de um pobre morceguinho frugívoro, o segundo que ela traz para casa, a propósito. Como ela não os mata, já começo a desconfiar que isso pode se tratar de alguma espécie de amizade ou amor proibido, tipo Batman e Mulher Gato, mas como não fomos apresentados a esse potencial genro, tratamos de bota-lo para correr, ou melhor, para voar.
No dia seguinte foi todo mundo para o banho, já que as vacinas contra a raiva estão em dia. Agora, fico com medo todas as vezes nas quais vou retirar os panos ou quando a doidinha da Chica entra correndo, pois nunca sei a surpresa que pode vir junto. Assim para os bichos como para as pessoas, idade é algo que se situa mais na mente do que nos dígitos numéricos. A coisa toda é não se levar muito à sério... Só entre brincar de pokemon e caçar ratos e salvar morcegos, é que acho que fico mesmo com a primeira opção, se me for possível escolher.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
Os Jogos Paraolímpicos ou Paralímpicos são o maior evento esportivo mundial envolvendo atletas com deficiências de mobilidade, amputações, cegueira ou paralisia cerebral, além de deficiências mentais. Realizados pela primeira vez em 1960, em Roma, têm sua origem na Inglaterra, onde ocorreram essas primeiras competições esportivas, como forma de reabilitar militares feridos na Segunda Guerra Mundial. Este ano os Jogos Paralímpicos ocorrem no Rio de Janeiro, em várias modalidades e são exemplo de coragem e solidariedade dos atletas. Tamanha grandiosidade humana me lembra um poema de Mário Quintana, enviado recentemente com algumas reflexões pela amiga Maria Cecília Luchini, uma das mais atuantes leitoras do Clube de Leitura do Clube Jundiaiense, e que trancrevo a seguir:
"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. "Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, pois só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. "Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão, está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. "Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. "Diabético" é quem não consegue ser doce. "Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser "Miserável", pois Miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.Como podemos observar, o Poeta retoma vários substantivos e a eles atribui novo significado, ampliando desse modo nossa consciência de nós próprios, do outro e do mundo. Trazendo novas luzes para esses tempos tão sombrios de descarado oportunismo.
E para encerar este artigo - em tom maior - quero expressar a falta que as reflexões filosóficas do Educador José Renato Polli fazem no Opinião deste Jornal. Elas não só mantinham o padrão elevado da coluna que o nosso leitor merece, como nos ensinavam coisas válidas que nos estimulavam a repensar a Educação e a Vida. A você, caro Zé Renato, pela sinceridade e nobreza com que se dispôs a partilhar seu conhecimento e experiência, meu muito obrigada! Conte comigo sempre!
SÔNIA CINTRA - ESCRITORA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA.
A Escola do Futuro deveria ter começado há um século. Mas não é o Brasil que está em déficit com o adequado planejamento educacional. É a humanidade. Em todos os países, a escola ainda tem a mesma fisionomia. Alunos enfileirados, o último da fila só enxerga as nucas dos seus colegas à frente. Aulas prelecionais. Disciplinas teóricas, nem sempre vinculadas com o interesse dessa geração cuja circuitaria neuronal é digital. Continuamos todos analógicos. O ambiente educacional está precisando de um choque. Daqui a alguns anos, mais da metade das profissões hoje existentes não mais existirão. Temos de preparar a juventude para atividades laboriais hoje ignoradas. Mais do que isso, temos de prepara-las para poder mudar de ramos sem traumas, assim que se tornar necessário.
Ou seja: a educação tem o desafio de formar pessoas polivalentes, aptas ao enfrentamento de incertezas e novidades. Hábeis em inovar e empreender. Corajosas, compreensivas, peritas em convívio e em trabalho cooperativo. A boa notícia é que a Escola do Futuro já está disponível. Quinze mil professores já gravaram aulas no Youtube e elas estão acessíveis a quem queira aprender. Centro e oitenta e um mil alunos se inscreveram para usufruir dessa aula turbinada. Alguns se miram no exemplo dos cursinhos. Outros fazem “rap”, outros ainda se utilizam de estilo repentista. Cada qual procurando tornar sua aula mais agradável, para cativar um alunado muito sábio, se tiver curiosidade e pesquisar na rede.
Estamos mergulhados na 4ª Revolução Industrial e precisamos navegar nesse mar revolto das mutações continuas, estruturais, profundas e impactantes. Os nativos digitais querem outra escola. É por isso que precisamos investir na informatização, na oferta gratuita de wi-fi, no uso pedagógico dos smartphones e de todas as outras bugigangas eletrônicas que nos permitem estar em várias partes do globo, on line e simultaneamente. O mundo novo chegou. Quem não se aperceber disso terá o mesmo destino dos dinossauros.
Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 22/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.
Você já experimentou podar alguma planta em sua casa? Já experimentou podar uma roseira, um arbusto ou uma aceroleira? Esta é uma experiência bem interessante. Todos deveriam fazê-la e aprender a observá-la.
Veja bem, as podas nos vegetais são fundamentais para sua conservação, seja ela de vegetação nativa, ornamental ou de grandes áreas cultivadas. São essenciais para manter
Também na nossa vida a planta saudável e com um desempenho adequado às suas características.
espiritual é preciso aprender a fazer “as podas” necessárias para que a nossa alma cresça robusta na vida divina e dê frutos de salvação.
Jesus, que sabia usar muito bem as lições da natureza criada por Deus, fala também dessa poda necessária para quem quer ser seu discípulo: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto”(Jo 15,1). Perceba, Ele diz que o ramo que não dá fruto será cortado e jogado fora, e podará exatamente aquele que dá fruto, para que dê ainda mais.
Eu pude viver essa experiência recentemente em meu quintal. Ali existem duas aceroleiras. Estas são árvores maravilhosas, resistentes e dão frutas em grande quantidade quase o ano todo. Mas eu notei que elas cresceram muito e as acerolas estavam pequenas. Então, fiz uma poda geral nelas. Incrível! Na safra seguinte as frutas nasceram em menor quantidade, mas de tamanho bem maior. Fiquei surpreso. Quando fui fazer a colheita, onde colocasse a mão, recolhia belas acerolas graúdas e saudáveis.
Fiquei pensando na minha vida espiritual. Senti como se Deus me falasse: “Veja o Meu amor espelhado nessa árvore, nessas frutas… Você não fez quase nada para colher toda essa abundância…”
Confesso que eu não estava muito animado de colher as frutas. Mas, pensei: “puxa vida, Deus faz isso com tanto amor a nós; e tem tanta gente que gosta de comer acerolas ou de fazer um bom suco, tão saudável à saúde!”. Acabei adiando um pouco o meu trabalho no computador e fui colher as frutas. Colhi cerca de 10 litros delas e mandei aos filhos e a uma amiga que gosta muito.
Isto me fez pensar! Deus nos dá tantos frutos, mas a gente não os colhe…! Como tantas acerolas que eu vejo cair no chão porque eu não as colhi. Deus derrama frutos abundantes em nossa vida, mas a gente não pára para pensar, agradecer, colher e até levar aos outros. Essas acerolas me fizeram pensar muito na bondade de Deus e em nossa omissão em responder-lhe com gratidão. Não será por isso que tantas vezes nós ficamos na penúria, ao lado de tantas “farturas divinas”?
Cada vez que olhava para a minha mão repleta das frutas, eu dizia no silêncio de minha alma: “Obrigado Senhor, por Vosso amor tão grande a nós; e perdão por tantas e tantas vezes que eu não reconheço e não Te agradeço; quero ser mais atencioso às Suas graças, tão belas e tão gratuitas”.
Naquela colheita meu espírito viajou em Deus. Fiquei pensando em tantas outras frutas maravilhosas que eu vejo na feira: lindas bananas, que já vem até “embrulhadas” naturalmente; belas maçãs, abacaxis, mamãos, laranjas… É um verdadeiro banquete natural, um imenso milagre do qual tanto nos acostumamos que nem mais pensamos neles. Tudo isso o Criador preparou para nós, com belo aspecto e delicioso saber. Prometi a Deus que toda vez que eu levar uma fruta desta à boca quero lhe dizer: “Muito obrigado Senhor! Bendito seja o Vosso Nome!”
Leia também: A parábola da rosa
Olhe para as montanhas e eleve sua alma
Há um sabiá que canta na Catedral…
Mas, agora, preciso voltar às podas… Os botânicos ensinam que existem três tipos básicos de podas:
1-A poda de formação;
2-A poda de produção;
3-A poda de limpeza.
A poda de formação é feita no início da vida do vegetal, quando este atinge um certo tamanho e precisa sofrer uma correção no rumo de seu desenvolvimento. Isto faz com que as plantas cresçam mais fortes e alcancem o máximo de sua produtividade. Penso que na vida espiritual são as orientações e toda a formação que precisamos receber no início da vida cristã, sobretudo nas catequeses de Primeira Comunhão, Crisma, e em toda a educação cristã recebida no lar dos pais.
A poda de produção é feita para aumentar a produção e a produtividade de uma planta. Mas, para dar bom resultado o agricultor deverá conhecer muito bem o processo vegetativo das plantas, pois, se a poda for mal feita, pode diminuir a produtividade, ao invés de aumentá-la.
Assim também é na nossa vida espiritual. Não é qualquer orientador que pode ir podando a sua alma, senão pode lhe fazer até mal. Santa Teresa de Jesus dizia que o bom diretor espiritual deve ser sábio, douto e santo, para não prejudicar o dirigido. E ela diz que foi algumas vezes prejudicada por isso. Não é muito fácil encontrar um assim, não é? Mas é preciso procurar; se não o achar pessoalmente, aconselho que leia seus livros; eles me fazem muito bem, especialmente os escritos pelos santos, pelos papas e grandes monges e sacerdotes. E também alguns grandes leigos.
As podas devem ser feitas com ferramentas adequadas, para cada tipo de planta ou cultura. Não devem ser feitos cortes irregulares e, para isso, os instrumentos utilizados devem ser bem cortantes e afiados. Como as podas são feitas desde pequenos vegetais até grandes árvores, as ferramentas utilizadas podem e devem ser bem diferentes: desde um alicate até uma motosserra. Tudo isso precisa ser observado também na vida espiritual. O exercício do podador exige perícia, exige conhecer a alma humana, amá-la profundamente e saber respeitá-la sempre.
A poda de limpeza é a mais conhecida, utilizada em grandes plantações e em jardinagem caseira. Ela visa eliminar galhos ou ramos mortos, secos, ou que apresentem má formação. Isto faz com que a energia vital da planta não seja “desperdiçada” com estes ramos ou galhos fracos e penosos para a planta.
Ó meu Deus, como precisamos dessa poda! Quantas ervas daninhas no jardim da nossa alma sugando a sua seiva e impedindo seu desempenho! São os nossos pecados. Quem não tem na alma aquele galho ressequido da inveja, do orgulho, da vaidade? Quem não traz na planta da alma a preguiça, as mentiras, aquela gula indomável, aqueles ataques de ira, de ódio e desejo de vingança? É…, precisamos deixar o Jardineiro divino, o Espírito Santo, fazer uma poda contínua na nossa alma. Quantas vezes a planta até morre por causa das ervas daninhas que a tomam e a sufocam… Diz um provérbio chinês que a culpa não é da erva má, mas da preguiça do agricultor que não a arrancou.
Outra coisa que eu aprendi com a minha “professora” acerola, é que a poda precisa ser feita sempre, porque continuamente ela produz ramos fracos que precisam ser eliminados. Então entendi a importância de sempre estar em meditação, frequentando sempre um Retiro, um bom Encontro, um grupo de oração, meditando sempre a Palavra do grande Jardineiro. Se você observar as plantas, as flores, os animais e os homens, com os olhos de Deus, no silêncio da alma, sem pressa, Deus falará muito a seu coração.
E tem mais, como toda poda é uma “mutilação”, em certos casos os especialistas dizem que é bom usar algum produto especial, no local do corte, para que haja uma cicatrização mais rápida e eficiente. Assim a poda será mais eficiente. Será que nas nossas podas interiores isso também é importante? Pense nisso tudo!
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
Como é a cara de um cristão ou de uma cristã? Se nos referirmos simplesmente ao rosto, fica difícil saber a religião que cada pessoa pratica, não é mesmo? Por exemplo, se víssemos um padre conversando no meio de outras pessoas, não saberíamos que é sacerdote olhando apenas sua fisionomia. Da mesma forma, não identificaríamos com certeza o olhar de um vigarista.
Eu cheguei a pensar que seria bom se isso fosse diferente e não precisássemos perguntar sobre a fé de cada um, mas, como Deus fez tudo certo, hoje vejo que se a religião estivesse estampada no nosso rosto, muitos nem se aproximariam de irmãos com outras crenças, não é verdade?
Há tempos atrás, um aluno me procurou pedindo para fazer prova noutro dia porque queria acompanhar sua mãe numa cirurgia. Eu concordei de imediato, mas querendo orientá-lo na busca da cura – ele estava preocupadíssimo! –, perguntei: ‘Você é católico?’. Ele respondeu que não e eu falei: ‘Então, já que não acredita na intercessão dos santos, peça a Jesus com fé. Ele nos atende quando confiamos na Sua misericórdia’. Ele agradeceu e, antes de sair, disse-me: ‘Fique com Deus’.
Viu como mostramos um ao outro que temos fé no coração? Nem foi preciso sermos da mesma igreja, porém, não são somente as palavras que expõem a ‘cara do cristão’. Já ouvimos tantas vezes dizer que a ‘fé sem obras é morta’ que já é hora de agirmos como cristãos autênticos!
Para isso, as palavras, as gesticulações e os nossos atos precisam ser coerentes com os ensinamentos de Jesus Cristo. Ele disse: “Ide e evangelizai todos os povos”; que significa ter dito: ‘Fale de mim, dê bons exemplos e estenda a mão aos necessitados’. Eu concordo que pouca gente age sempre assim, mas é possível melhorar.
Hoje em dia, quem olha as coisas do mundo com ambição, não tem tempo nem vontade de buscar a santidade. A televisão mostra rotineiramente desde palavrões até corpos degolados, e as audiências de programas de baixo nível estão sempre aumentando! Pelo menos, quanto a isso, nem tenho tido tempo para desperdiçar.
E numa das confraternizações que participei em final de ano, uma amiga de Pastoral comentou que está cada vez mais decepcionada com as pessoas no seu emprego. Ela é professora, afirmou que leva uma rasteira após a outra por parte de gente falsa e não reage à altura para não provocar baixaria. E como é triste constatar a falta de amor ao próximo vendo deslealdade a toda hora!
Portanto, quem segue os Mandamentos de Deus e da Igreja tem a verdadeira cara de cristão, porque age com humildade, perdoa sempre, participa de orações e ama o irmão sem distinção. Sabemos que é muito mais fácil praticar isso tudo quando somos bem educados na infância, como nesta história:
Um garoto de onze anos e seu pai estavam hospedados num chalé para pescarem no imenso lago ao lado. À tarde, quando o pai foi comprar alguns sanduíches, o menino pegou a vara, colocou isca no anzol e o lançou n’água. Em pouco tempo, fisgou um enorme peixe, mas não conseguia tirá-lo do lago de tão grande! Então, avistou o pai se aproximando e gritou:
– Corra, papai, me ajude!
E não demorou muito para puxarem o peixe e verem que se tratava de uma pesca de muita sorte! O filho pulava de alegria e abraçava o pai, até que se acalmou e foi chamado para uma conversa um pouco mais séria:
– Filho, eu lhe disse que a temporada de pesca só começa amanhã, lembra?
– Sim, pai, mas eu só quis treinar um pouquinho!
– Tá certo, agora já treinou, mas temos que devolver o peixe ao lago.
– Devolver? Ele é muito grande e não sabemos se iremos pescar outro igual!
– Sei disso, filho, mas temos que respeitar as regras. Olhe, veja que ninguém está pescando ainda e não é justo fazermos isso escondido dos outros.
–Pai, deixa eu ficar com ele! Ninguém está vendo!
– Um dia você irá entender que fez a coisa certa jogando-o na água. E tem que ser agora, antes que morra, certo? Você o pescou e você irá devolvê-lo.
Com os olhos cheios d’água e ajudado pelo pai, o garoto retirou o anzol e viu o peixe sumir no lago. Hoje, o menino também é pai, leva seus filhos para pescarem no mesmo lugar e, antes de pegarem nas varas, ele orienta: ‘Como dizia o vovô: temos que fazer o que é certo. Antes de nos avisarem que começou a temporada, ninguém pesca, entenderam?’.
Ele nunca mais pegou um peixe tão maravilhoso como daquela vez, escondido do pai, mas aprendeu que a boa conduta respeita os direitos dos outros, mesmo sem ninguém estar olhando. E nas histórias que conta aos filhos, ele acrescenta:
– A ética é uma questão de certo ou errado. Quando temos certeza do que é correto, agimos lealmente, mesmo que isso signifique ‘jogar um grande peixe n’água’. E lembrem-se: ‘A boa educação é como uma moeda de ouro: tem valor em toda parte’.
Eu acrescentaria: Deus tudo vê!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas
Há duas importantes razões, porque não conseguimos abandonar a “cauda” da Europa:
A primeira: - Deve-se ao facto de nunca se ter estabelecido plano de desenvolvimento. Cada partido, que conquista o poder, é rápido a alterar o que seu antecessor estabeleceu: seja no campo da: saúde, ensino, justiça, e até na economia.
Seria assim tão difícil, traçar linhas mestras de governação, aceites pelos partidos, com assento na Assembleia da Republica?
A segunda: - Talvez tão importante como a primeira –: é diferenciar, de uma vez para sempre, os cargos técnicos, dos políticos; para que, mudando o governo, não mudem as pessoas. Como se a competência dependesse da cor partidária! …
Conheci um homem, que trabalhou numa empresa pública. Era: pontual, dedicado, obediente e zeloso.
Ao verificar, que não havia, na empresa, área comercial, que contactasse os clientes, sugeriu o serviço; e com apoio superior, iniciou a tarefa.
Ia a pé ou de autocarro, a casa de grandes e pequenos clientes; muitas vezes fora da hora de trabalho. Chegou a ser louvado, por essa iniciativa, na imprensa da sua cidade.
Um dia, a Administração, resolveu criar, oficialmente, o serviço. Pensou que seria incorporado ou pelo menos contactado. Nada disso, aconteceu! …Era apartidário…
Para executar melhor as funções, chegou a estagiar no estrangeiro, com o apoio do C.A.
Mais tarde, verificando que havia fugas de receitas, enviou exposição aos superiores.
Após várias alertas infrutíferas, foi chamado pelo chefe imediato, que acumulou, às suas habituais funções, a de fiscalizador.
Nada lucrou, a não ser mais trabalho. Os colegas, diziam, de troça, ao vê-lo atarefado e zeloso: que ainda iria receber uma medalha… de cortiça!...
Todavia, a empresa, embolsou, com esse serviço, largos milhares de contos! … e nunca lhe disse: obrigado.
Entretanto foi envelhecendo… Certa tarde de Inverno, surpreendeu-se: o C.A. louvara-lhe a dedicação, premiando.
Era pelo Natal. Sentiu-se feliz. Finalmente, a empresa, reconhecera o trabalho, de anos de dedicação, e pensou para consigo: “sempre valeu os trinta e tal anos de zelo! …”
Mas… decorrido três meses, o mesmo C.A., que o louvara, afastava-o de todas as funções! …
Admirado, espantado, indagou as razões; responderam-lhe: que não as havia.
Houve necessidade de fazer reestruturação do serviço; e como o lugar, que ocupava, ia usufruir maior salário, passou a ser cobiçado… pelas hostes partidárias! …
Em suma: terminou a carreira profissional, com reforma inferior aos seus colegas.
Nada vale: competência, dedicação, pontualidade, espírito de sacrifício e zelo. O que importa: é agradar ao chefe imediato, e receber apoio do partido!...
O resto: são ilusões; são cantigas para enganar ingénuos!...
Se ao designado falta-lhe competência – mas é da nossa ideologia, – busca-se-lhe adjunto, para executar as tarefas…É assim que se costuma fazer, na nossa terra.
E enquanto assim se pensar, seremos eternamente, os coitadinhos da Europa; e a juventude, apartidária, não terá outro remédio, senão ir em demanda de outras pátrias, de outros povos, onde haja mais justiça; e em que cada um valha pelo valor e dedicação, e não, pelas ideias políticas, que diz perfilhar.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Vamos entrar no Outono no HN. Altura propícia para reflectirmos sobre o tempo que passa tão breve quase sem darmos por isso.
Veja e ouça o poema declamado aqui neste link:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Balada_de_Outono/index.htm
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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ACABA DE SAIR
"Leva-me Contigo, a senhora S & outras histórias"
de
REMISSON ANICETO
Publicado pelos competentes Tonho França e Wilson Gorj (Editora Penalux, 220 páginas, 14×21 – R$ 40,00), apresenta 23 contos e crônicas numa linguagem leve, fluida e emocionante.
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Tratei, em meus dois últimos artigos, do anacronismo, erro muito comum entre os historiadores e mais comum ainda em não historiadores que se põem a escrever sobre História. Em filmes e seriados televisivos, então, campeia solto...
Hoje, tratarei do anatopismo, erro parecido com o anacronismo, mas que se diferencia dele, já que não se refere a tempo, refere-se a lugar. É uma projeção errada feita no espaço físico e não no espaço temporal; não é um erro cronológico, mas topológico.
No século XVI, alguns índios brasileiros, tupinambás, foram levados à corte da França e lá causaram, como é compreensível, enorme sensação. A partir daí, se generalizou na França, e por extensão na Europa, a ideia de que todos os habitantes do Novo Mundo vestiam-se – ou melhor, não se vestiam – exatamente como os aborígenes brasileiros. Daí aparecerem, nos mapas e nos livros europeus dos séculos XVII e XVIII, ilustrações de incas ou quetchuas, do alto da Cordilheira dos Andes, e de peles-vermelhas das gélidas áreas do Canadá, com a mesma indumentária dos índios brasileiros, ou seja, apenas com tangas. Esse é um exemplo típico de anatopismo.
Outro exemplo: num filme sobre as aparições de Fátima, produzido pelo cinema norte-americano na década de 1950, a aldeiazinha portuguesa em que a Virgem apareceu foi filmada no México, num ambiente inteiramente mexicano, em que os homens até usavam aqueles sombreros imensos... Na ótica de quem fez o filme, México e Portugal eram países latinos e de cultura ibérica; logo, não deviam ser muito diferentes...
Outro exemplo ainda: estou no momento trabalhando na minha tese sobre “Curial e Guelfa”, novela de cavalaria escrita por autor anônimo da Catalunha, na segunda metade do século XV, cem anos antes de Cervantes ter escrito “El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha”. Trata das aventuras e desventuras de Curial, jovem de origem modesta, mas muito bem dotado, que conseguiu alçar-se socialmente e se transformou no primeiro cavaleiro da Cristandade. Foi sucessivamente amado por três mulheres, em locais diferentes, e afinal, depois de um longo e acidentado percurso, conseguiu casar-se com a primeira delas, sua benfeitora Guelfa, duquesa de Milão.
A certa altura do enredo, Curial naufraga no Mediterrâneo e aporta no litoral africano, onde é aprisionado e tem que servir durante sete anos como escravo de um rico potentado mouro. A filha desse potentado, a bela e infeliz Tamar, apaixona-se por Curial. É ela a terceira das três mulheres que o amaram. Acontece, porém, que essa jovem é prometida, por seu pai, ao sultão de Marrocos, que se apaixonara perdidamente por ela. No drama, impossibilitada de se casar com o escravo Curial e forçada pelo pai a aceitar o casamento com o sultão, Tamar acaba se suicidando.
O anatopismo se nota numa passagem da rica e densa novela. A certa altura, quando o pai, tentando convencer a filha a desposar o sultão, argumenta que ela jamais encontraria outro esposo mais rico e mais poderoso, Tamar, para ganhar tempo, declara pai que havia feito voto de desposar o próprio Alá, consagrando a ele sua virgindade. Aí, precisamente, está o anatopismo. Na Europa cristã, existiam conventos femininos onde mulheres consagravam a Deus sua perpétua virgindade; nas tradições culturais do Ocidente cristão, isso era costume já bem assentado, mas de todo inexistia no mundo maometano, onde a única destinação das mulheres era o casamento. O autor anônimo de “Curial e Guelfa”, entretanto, ao imaginar o contexto maometano, insensivelmente projetou para ele algo que era contemporâneo, mas somente existia em outro espaço físico.
O anatopismo é menos frequente que o anacronismo. Mas também é bom tomar cuidado com ele...
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Há algo de tão simples e ao mesmo tempo tão indecifrável em nosso cotidiano.
Indecifrável à medida que, de um momento para o outro esquecemos o que é a simplicidade e, pendências a serem resolvidas, decisões a serem tomadas, ações que nos possibilitariam sentir o alívio que só é possível com a sua finalização... enfim, uma série de pequenos impedimentos vão se avultando à nossa frente e perdemos a força. Nem sequer ao menos nos lembramos onde paramos da última vez que empacamos.
E a partir daí, a bola de neve da organização dos afazeres toma uma enorme proporção e tal acúmulo faz-nos adiar ainda mais as tarefas.
A procrastinação é um elemento que atua sobremaneira em nosso tempo e domá-la é quase uma ciência. A ciência do convívio com o cotidiano; de dividir o espaço com o – ora – insuportável; do não respeito à manutenção da ordem que nós próprios imputamos ao dia a dia; da antipatia com o que parece estar dando certo... a ciência do convívio com nossas dezenas de personalidades.
Sim, porque dar solução a pequenas (ou não tão pequenas) questões, resolver impasses, administrar dilemas, aceitar o “talvez” quando precisamos do não, prescindir do “sim” quando o queremos antes de tudo... todo esse movimento seria lógico e provavelmente preciso, caso usássemos tão somente a razão para cuidar de nossa agenda diária.
Mas parece que não é bem assim. O resultado disso não é encontrado numa soma matemática, pois nossos pensamentos ocupam vários espaços e vão se esparramando por lugares onde nem imaginamos, e também vão se distraindo aqui e acolá, contaminando-se com outros irmãos pensamentos que em nada colaboram para um final feliz.
E não bastasse isto – quilos de pensamentos, mais popularmente conhecidos como caraminholas – ainda temos um senhor deveras autoritário chamado “coração”, que cisma em ser radical, por vezes, e fazer de suas, por vezes, insanidades, a verdade irremovível.
Aí se instaura o comumente digladiar entre o simples e o complexo. E cabe-nos (a quem mais?) resolver tal pendenga, apartar conflitos, colocar panos quentes... E o que aconteceu é que deixamos de lado a possibilidade de resolver pequenos problemas, ali atrás, em seu tempo, para ganhar um outro, bem maior em largura e comprimento.
Pensar ou não pensar, eis a questão.
RENATA IACOVINO, escritora e cantora / www.facebook.com/oficialrenataiacovino/
E eis que a após as Olimpíadas iniciaram-se os jogos paralímpicos. Atletas do mundo todo, como mobilidade reduzida ou com alguma outra limitação, superam os limites, próprios e sociais, dando provas de que a vida transcende, a vida tudo pode.
Tenho que admitir que as Olimpíadas foram, apesar dos pesares, um evento bem-sucedido. Houve beleza, houve espetáculo, houve show de artefatos e humanos. Ainda mantenho minha posição manifestada em outro texto, de que o Brasil não fez sua lição de casa na inteireza, pois em meio ao que deu certo, muitas outras coisas deram errado. Nesse sentido, o Brasil foi coerente com seus renitentes fracassos nas áreas de segurança e meio ambiente.
A boa vontade de muitos envolvidos, a despeito de eventuais prováveis desvios de verbas, fez com que tudo acabasse dando certo. Lamentáveis as ocorrências de acidentes e mesmo do falecimento de um atleta, mas até considero que isso poderia ter ocorrido em qualquer lugar do mundo. Da mesma forma, lamento a postura de alguns atletas, inclusive brasileiros, desrespeitando torcidas, fãs e o país. No conjunto da obra, por assim dizer, não penso que o Brasil tenha feito feio.
Triste, agora, no entanto, que as pessoas, de forma geral, não deem a mesma atenção aos jogos paralímpicos. Mesmo os aficcionados por esporte, ao que me consta, não acompanham esse evento com a mesma empolgação. Tenho acompanhado na mesma proporção que acompanhei as olimpíadas e o que vejo são exemplos de superação, de força de vontade e de amor à vida que não podem passar sem a atenção dos demais.
Não estou afirmando aqui que haja um preconceito em relação aos atletas paralímpicos, mas somente constatando que o destaque que se dá aos atletas olímpicos e aos paralímpicos não é o mesmo. Segundo dados que vi rapidamente, até a venda de ingressos para os jogos de um e de outro são divergentes, sendo inferior a arrecadação dos paralímpicos.
Dia desses uma conhecida postou nas redes sociais que achava errado chamar os atletas paralímpicos de heróis, bem como a supervalorização a eles. Ela, como cadeirante, é contra esse tipo de tratamento. Louvável a atitude contra a cultura do "coitadismo", até porque ser cadeirante ou ter alguma limitação física não torna ninguém melhor ou mais merecedor, por si só. Nesse sentido, de fato, rotular pessoas como heróis talvez seja equivocado.
Por outro lado, fico eu aqui pensando com meus botões a quantidade de vezes nas quais desanimei diante de pequenas e médias dificuldades, bem como as inúmeras vezes nas quais deixei de me exercitar por preguiça ou por conta de pequenos óbices cotidianos e, sob essa ótica, não posso deixar de admirar aqueles que, tendo nascido com alguma limitação física ou, em decorrência de alguma doença ou acidente, tenham-na adquirido, ainda são capazes de ultrapassar limites, de transcender ao invés de desistir.
Embora, talvez, não devamos atribuir aos atletas paralímpicos a condição de super heróis, creio que seja fazer-lhes justiça o reconhecimento de que há neles mais força vital e de vontade do que em muitos de nós. A propósito, nesse mundo em que qualquer jogar de futebol que se destaque é alçado à categoria de ídolo, não vejo a incoerência em reconhecer nos atletas paralímpicos modelos de gente que venceu barreiras e paradigmas.
Como nem poderia ser diferente, é óbvio que respondo apenas por mim, pelos meus pensamentos e convicções, mas no que me respeita, ao menos, rendo minhas homenagens a esses homens e mulheres que, entre o desistir, o desanimar, o entregar-se, o lamentar-se, o resignar-se, escolherem prosseguir e provar, talvez mais a si mesmos do que aos outros, que a vida, por si só, é capaz de justificar todo o resto, no mais verdadeiro sentido da luz sustentada pela tocha olímpica...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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