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Terça-feira, 27 de Junho de 2017
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A TORTURA VIOLENTA O SENTIMENTO DE JUSTIÇA !

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar das proibições legais, vislumbram-se inúmeros casos de tortura em diversos países, num flagrante desrespeito à dignidade e à integridade dos cidadãos. Instituído pela ONU – Organização das Nações Unidas comemora-se a 26 de junho, o Dia Internacional das Nações Unidas em Apoio às Vítimas da Tortura, que se constitui numa boa oportunidade para refletirmos sobre os efeitos danosos de sua prática e para cobrarmos medidas efetivas à sua total coibição, objetivando estabelecer à nossa convivência os verdadeiros valores democráticos, como liberdade, justiça social e respeito aos direitos humanos.

Tanto que a Constituição Federal do Brasil, no artigo 5º, inciso III, determina “ninguém será submetido a tortura  nem a tratamento desumano ou degradante”. E a Lei 9.455, de 7 de abril de 1997, determina que “tortura é constranger alguém com uso de violência ou ameaça grave, causando-lhe dano físico ou mental para obter declaração ou confissão, provocar ação ou omissão de crime ou discriminar por raça ou credo. Também a caracteriza, a submissão de alguém sob a guarda de outrem ou autoridade, a intenso sofrimento físico ou mental, para aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”.

É um crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Sua pena é de reclusão, em regime fechado, de dois a oito anos. Se houver morte, a pena é dobrada para até 16 anos. Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las, deve ser condenado de um a quatro anos de prisão. Espera-se que a tortura, ainda hoje abusivamente usada como meio de investigação policial ou de intimidação por bandidos, seja totalmente banido de nossa convivência e quando comprovada a sua prática, os autores sejam rigorosamente punidos.

Finalizando, invoco o psicanalista Hélio Pellegrino que frisou “a tortura busca, à custa do sofrimento corporal insuportável, introduzir uma cunha que leve à cisão entre o corpo e a mente. E, mais do que isso: ela procura, a todo preço, semear a discórdia e a guerra entre o corpo e a mente. (...) O projeto da tortura implica uma negação total e totalitária da pessoa, enquanto ser encarnado. O centro da pessoa é a liberdade. Na tortura, o discurso que o torturador busca extrair do torturado é a negação absoluta e radial de sua condição de sujeito livre” (Folha de São Paulo- 18.07.2006-A-3).

 

 

Combater as verdadeiras razões do uso das drogas

 

 

Também a 26 de junho é celebrado o Dia Internacional de Combate ao Abuso e ao Tráfico Ilícito de Drogas. A cada ano, o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime lança nesta data sua principal publicação: o Relatório Mundial sobre Drogas, que vem demonstrando que a situação de controle  tem sido favorável com o tempo, mas há novos alertas sobre o crescimento exponencial de seu consumo, tema que  preocupa sobremaneira a sociedade contemporânea. A título de reflexão, citemos Cláudio Guimarães dos Santos: “Curiosamente, o quase consenso entre os especialistas de que a melhor maneira de diminuir esse consumo é o combate sem tréguas ao narcotráfico faz com que muitos deles se esqueçam – ou prefiram se esquecer...- de tratar de um assunto bem mais espinhoso: a investigação das verdadeiras razões pelas quais as drogas são tão buscadas por nós humanos.( Folha de São Paulo-  30/06/2008- A3- “Droga!”).

 

 

         Proteção jurídica especial

 

 

No último dia vinte de junho celebramos o Dia Mundial do Refugiado e o Dia do Migrante, datas comemorativas que invocam estes fenômenos (imigratório e migratório), que não podem ser vistos apenas como deslocamentos geográficos de indivíduos, nem mero exercício do direito de ir e vir. Os refugiados, que deixam suas pátrias forçados por perseguições de raça, de religião, de nacionalidade, de grupo social e de opiniões políticas, sentem-se temerosos e excluídos, e acabam perdendo as próprias raízes. Trata-se de uma situação que contraria manifestamente os direitos fundamentais dos seres humanos, envolvendo aspectos sociais, políticos e culturais, que suscitam proteção jurídica especial.

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)

 



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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - UM ARCEBISPO ATUANTE E REALIZADOR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como Arcebispo de São Paulo de 1908 até 1938, D. Duarte Leopoldo e Silva desenvolveu atividade intensa. No dia 29 de junho de 1913, lançou a pedra fundamental da nova Catedral Metropolitana de São Paulo. A antiga, irremediavelmente comprometida em sua estrutura, precisou ser destruída, o que determinou, como é explicável, grande tristeza na população. As obras de construção da nova Catedral, projetada em estilo gótico pelo arquiteto Maximiliano Hehl, se prolongaram pelas décadas seguintes; em 1954, ano do Quarto Centenário da Cidade, foi oficialmente inaugurada, mas ainda na década de 1970 estavam sendo concluídas as torres.

Em 1910, D. Duarte mudou o Palácio Episcopal do antigo Solar da Marquesa de Santos, situado na atual Rua Roberto Simonsen, para novas instalações, na Avenida São Luís, em terreno por ele adquirido.

Organizou o Arquivo da Cúria Metropolitana e seu Museu – no qual teve origem o magnífico Museu de Arte Sacra de São Paulo, atualmente instalado no Mosteiro da Luz, erigido ainda em tempos coloniais por Santo Antonio de Sant´Anna Galvão. Muitas peças de arte sacra preciosas, que estavam dispersas por igrejas antigas e às quais, na época, ninguém dava atenção, foram recolhidas por iniciativa de D. Duarte. Não tivesse ele tomado essa providência, por certo se teriam perdido irremediavelmente.

Do ponto de vista espiritual, fez as visitas pastorais regulamentares, empenhou-se em trazer, para São Paulo, religiosos e religiosas de várias ordens ou congregações e fundou, em 1934, o Seminário Central da Imaculada Conceição, no Ipiranga. Promoveu e realizou o Primeiro Congresso Eucarístico de São Paulo, em 1915, o Congresso da Mocidade Católica, em 1928, e o Congresso Mariano, em 1929. Em 1933, instalou em São Paulo a Liga Eleitoral Católica-LEC, sob a direção dos Drs. Estêvão de Rezende, Papaterra Limongi e Plinio Corrêa de Oliveira, conseguindo eleger este último como o deputado mais votado em todo o país, nas eleições para a Constituinte de 1933-34.

A pandemia da gripe espanhola semeou o terror, nos anos 1918-1919, em todo o mundo. Segundo o Atlas Histórico da Fundação Getúlio Vargas, cerca de metade da população mundial foi direta ou indiretamente atingida pela doença, que ceifou um número de vidas estimado entre 20 e 40 milhões de pessoas, bem mais, portanto, do que os 10 a 15 milhões vitimados pela Primeira Guerra Mundial. No Brasil, foram registrados mais de 35 mil óbitos, sendo 1/3 deles (12.700 pessoas) no Rio de Janeiro. Esses números de mortos, já de si muito elevados, exprimem apenas uma pequeníssima parcela dos atingidos pelo morbo. Houve vítimas em todas as classes sociais, desde as mais humildes até o presidente da República, Rodrigues Alves, que não pôde tomar posse em 15 de novembro de 1918 e faleceu nos primeiros dias de 1919. No Recife, que possuía 218 mil habitantes, ocorreram, só no mês de outubro de 1918, 1.250 óbitos. Em Porto Alegre, com 140 mil habitantes, os mortos foram 1.316. Em São Paulo, que então possuía uma população de menos de 500 mil habitantes, morreram 5.328 pessoas. O pânico e o terror se espalhavam por todas as partes e toda a gente que tinha recursos fugia das aglomerações urbanas e se recolhia a fazendas ou locais mais afastados, à espera de que melhorassem os ares. O Arcebispo de São Paulo foi, então, instado a se afastar da capital, para se proteger. Mas recusou. Declarou que o dever do Pastor era ficar com seu rebanho, sobretudo nas horas de perigo. E realmente não se afastou da Capital, dirigindo pessoalmente o Clero e instalando catorze hospitais de emergência, em edifícios eclesiásticos, para o atendimento aos atingidos pelo morbo.

Em 1924, durante a Revolução, o centro da cidade de São Paulo ficou algumas semanas em poder das forças rebeladas. O governo refugiou-se fora de São Paulo, nas cercanias do atual bairro da Vila Matilde e de lá organizou a retomada da capital. As áreas centrais foram intensamente bombardeadas, com grande número de mortos. O governo federal fez muita pressão para que D. Duarte saísse da cidade, para dessa forma significar sua rejeição aos revoltosos, mas D. Duarte não cedeu. Ficou em São Paulo com seu povo, e mandou abrir as igrejas para acolher pessoas que tinham que fugir de suas casas, em regiões bombardeadas da cidade. Ele não gostava nem um pouco do tenentismo e não via com bons olhos aquela revolução, como tampouco gostou da de 1930, mas mesmo assim ficou em São Paulo, pois tal lhe pareceu ser seu dever pastoral.

Em 1932, aderiu à revolução constitucionalista e abençoou as tropas de São Paulo e Mato Grosso, levantadas contra o governo provisório de Vargas que não convocava, como prometera, uma Assembleia Constituinte. A propaganda legalista apregoava, pelo Brasil inteiro, que a revolução de São Paulo tinha cunho separatista. Para negar isso, D. Duarte proferiu, pela rádio, um célebre discurso, dirigido aos Venerandos Membros do Episcopado Brasileiro, explicando com toda a clareza a posição de São Paulo e declarando seu apoio total ao movimento. Esse discurso foi gravado em disco 78 rotações, como se usava na época. Alguns trechos dessa gravação eu reproduzi durante minha conferência, para o auditório do IHGSP, na sessão do dia 15 de março último. Emocionou profundamente os presentes ouvirem, 85 anos depois, o histórico pronunciamento de D. Duarte...

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.



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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - MUNDO QUE GIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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                Aos poucos vou aprendendo com a vida. Acredito que esse eterno aprendizado faça mesmo parte da vida de todos que caminham sobre esse mundo. Aqueles que perdem essa oportunidade ou que ignoram essa necessidade, por certo perdem as lições mais importantes sobre viver. É fato que os ensinamentos nem sempre são indolores, ou muito ao contrário. Complicado tentar ver o lado bom das coisas quando se está em meio ao furacão. Então, que seja uma lição que venha a reboque, mas que sirva para algo, que tenha significado além da dor.

                Para nossa sorte, contudo, nem tudo nos apresentado de forma dolorosa. Há as mais lindas e valiosas notas de sabedoria que são trazidas pelos momentos alegres, felizes. Acredito apenas que, nessas horas, poucos de nós tem olhos para ver que é importante valorizar todo o bem que nos vem, que é preciso sermos gratos a todo momento. É aquela velha história de só se lembrar de pedir a Deus quando se avizinha a escuridão e de não dar graças ao Universo diante da Luz.

                Complicados são os seres humanos. Dotados de um cérebro que é capaz de propiciar viagens a outros planetas e que, ao mesmo tempo, é capaz de aprisionar almas em meio à loucura. De tão pequenos que somos diante da Criação falta-nos o entendimento necessário para sabermos nosso real papel nesse mundo, nosso propósito diante de nós mesmos e do nosso próximo. Somos paradoxais e só isso já é uma tormenta, uma cruz que temos que carregar.

                Assim, temos que nos habituar ao fato de que o mundo, mesmo à revelia de nossos planos, gira e faz com que a vida de cada um tenha o percurso que está destinado a ter. Se temos a escolha de deixarmos o movimento fluir, podemos nos movimentar juntos, aceitando ao menos aquilo que não podemos mudar. Sem dizer que, às vezes, o mundo de cada um gira mesmo, tal como aconteceu comigo nessa semana e de uma forma nada geográfica ou figurativa.

                Quando eu era criança sofria de crises de labirintite e elas eram tão fortes que me faziam ficar deitada o dia todo, no escuro, até que tudo parasse de girar ao meu redor. Com o passar dos anos isso tudo diminuiu bastante e episódios como esse se tornaram muito raro. Nessa semana, contudo, tentar me levantar de madrugada para beber água, percebi que tinha algo errado assim que abri meus olhos, pois parecia que eu estava dentro de um chocalho de uma criança enfurecida.

                O resultado foi que, de tão mal que passei, fui obrigada a ficar de cama o dia todo. Por óbvio que não foi o mesmo que ficar de boa o dia todo, vendo televisão ou lendo meus livros de mistério. Fiquei mesmo é deitada, praticamente sem me mexer e na escuridão, eis que cada barulho ou luminosidade faziam com que eu voltasse à montanha russa que se instalara no meu cérebro. No fim das contas, foi um dia inteiro perdido, uma quinta-feira na qual não vi a luz do sol, não conversei com quase ninguém e quase que nem fiquei em pé, para ser franca.

                No dia seguinte eu já estava muito melhor e extremamente grata por ter um dia de trabalho, de sol ou de chuva, pela frente. Uma vez mais, eu me dei conta, meu mundo girara para me fazer lembrar de estar bem é mais relevante do que qualquer outra preocupação comezinha. Nada como poder produzir, poder ser útil, poder simplesmente contemplar o melhor das coisas, e ainda que nada disso faça com que o pior deixe de existir, com certeza o enfraquece. E viva os dias nos quais somos capazes de sermos nós mesmos, de termos a chance de começarmos tudo de novo...

 

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista.       São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com

              



publicado por Luso-brasileiro às 15:20
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - CONTAÇÃO DE HISTÓRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Encerramos, em 14 de junho, o Curso de Contação de Histórias, promovido pela Casa da Fonte – CSJ e ministrado pela atriz, contadora de histórias e arte-educadora Patrícia Torres da Cia. NarrAr Histórias Teatralizadas.
Iniciamos em abril e amei participar! Mais do que as técnicas verbais e do corpo, a partilha me fez um bem imenso, pois tudo que toca a emoção torna melhor o ser humano. Cada um, creio eu, de acordo com o papel que exerce na sociedade e no convívio com os contos, amitologia, as fábulas, alinhavou em si as vivências de cada dia do curso. As minhas foram de acréscimo em todos os aspectos: estudaro narrador na obra de Nikolai Leskov, assim como estudava teoria literária na década de 70;os livros indicados – alguns já havia lido – como: “Mulheres que correm com os Lobos’ de Clarissa Pinkola Estes e “A Psicanálise dos Contos de Fadas” de Bruno Bettelheim... Os contos: “Fátima, a Fiandeira” e “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti. Tenho alguns livros de Marina e os utilizava em meus tempos de professora.Em “A Moça Tecelã”, como não se encantar com: “Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte”. E, em “Fátima, a Fiandeira”, a sabedoria: “Tudo aquilo que aconteceu na minha vida, e que, no momento, me pareceu uma desgraça, contribuiu (...)para minha felicidade final”.
Agradou-me saber sobre os griots, contadores de história africanos, que têm o compromisso de preservar e transmitir relatos. Como escreveu Tierno Bokar (1875-1939): “A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber em si. O saber é uma luz que existe no homem. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente”.
No encerramento, a apresentação de mais histórias:“Fita Verde no Cabelo” de João Guimarães Rosa, o conto“Carne de Língua”, “A menina dos fósforos” de Andersen... A chama do fósforo que acende os sonhos. História de meu tempo de menina.
Um curso, no presente, com saberes extraordinários: trouxe-me o passado – como minha mãe sempre foi singular em contar histórias –e me diz que as narrativas são essenciais em todas as horas.

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 15:16
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RENATA IACOVINO - A IMPERMANÊNCIA DE CHARLIE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Charlie Chan veio na carreira, sobre o telhado, sem pudor de fazer um barulho que contrastasse com o silêncio da plateia ouvinte concentrada nas palavras da professora.

Havíamos comentado há pouco a respeito dele. Disse que só o conhecia por foto e por nome, embora os cachorros eu já tivesse o prazer de ver bem de perto.

A mais inusitada experiência com os cães deu-se em meio ao retiro de um dia de meditação, quando a Mestra adentrou à sala para palestrar e, como todos estávamos em zazen (a meditação zen budista), só ouvíamos e sentíamos as vibrações vindas deles, nos cheirando, passando por cada um de nós, unindo aquele momento de concentração ao cotidiano, em que cheiros, sons e texturas interagem com nosso mergulho em nós mesmos.

Mas voltando ao Charlie, o gato preto e branco, com uma pinta marcante na ponta do nariz e outra no queixo, com enorme rabo e a graciosa cara de pau típica de um felino... bem, ele foi passando pelas pernas de um por um dos presentes naquele semicírculo, ora simplesmente fazendo charme, ora parando para encarar quem escolhesse a bel prazer.

Embora estivéssemos atentos às explicações da sensei, era impossível não nos atermos brevemente à simpatia do bichano. Se devemos estar atentos ao momento, àquilo que está acontecendo exatamente no agora, isto se cumpria, pois absorvíamos o que se passava.

Após essa curiosa investigação, Charlie Chan tem um repente e escala lépido a árvore mais próxima a nós. Fazendo graça sem ter esta intenção, procura obter uma visão geral de tudo o que está sob ele e em seguida desce tranquilamente como se nada tivesse acontecido.

“Inspira e expira, inspira e expira... De tão simples, de tão fácil, de tão acessível, ninguém faz.”. E assim, em meio à aula, tivemos a participação especial do membro felino, que como veio, foi. “Nada é fixo e nada é permanente”.

A noite fresca, o agradável deck de madeira, o jardim entre plantas, estátuas e lanterna, o chá quente e saboroso, tudo ali quase nos faz crer que estamos num local bem distante do centro de São Paulo. Mas, estamos na cidade que não dorme, no movimento contínuo. O que acontece externamente a nós, parece ter seu reflexo em nosso interior, onde pensamentos não cessam. Entre o pensar e o não pensar, nos tornamos outro a cada segundo.

A impermanência mora no agora.

 

 

 

 

RENATA IACOVINO, escritora e cantora / www.facebook.com/oficialrenataiacovino/

 



publicado por Luso-brasileiro às 15:13
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VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - MARIA VAI COM AS OUTRAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Por que você não faz assim?”; “por que você não faz assado?”...

Faz-se ouvidos moucos para não ser indelicado, mas, a bem da verdade, a vontade é de, perguntando também, responder: “assim ou assado, por que você não faz?”.

Sugestão todo mundo tem. Mãos à massa quem quer levar???

Há um precipício entre a beleza da ideia e o gosto da concretização.

Sim, porque concretizar é, em si, um gosto que quem só idealiza jamais provará.

Uma delícia que não está no projeto.

Um gozo que o pensar não garante.

Ou seja, um prazer proibido aos preguiçosos, aos delirantes, aos viajandões, cuja solicitude está sempre à língua sem jamais descer aos braços.

São outros os braços que, literalmente, carregam o piano.

São outros os braços e pernas que movem, que transpõem montanhas.

Tem gente que é só garganta, que é só da boca pra fora, que não sabe da missa a metade, que come mortadela e arrota peru...

Falar é fácil. Por isso mesmo é que tanto se fala.

Cada um na sua.

Em se tratando de fazer arte... comum, não!, comum não, fácil!, aliás, facílimo (e nem sempre o mais fácil é o melhor caminho) é falar que para atrair público é fundamental haver coquetel.

Tem que haver coquetel!

Tem que haver “comes e bebes” para que haja público em eventos.

Não tem problema que o programa seja meia-boca. Afinal, havendo uma boquinha pra se fazer... é ou não é?

Estamos todos muito mal, amigos. Das duas uma: ou fazemos muito mal a nossa arte – todos nós, artistas... ou a barriga consagrou-se o termômetro do paladar de todos nós, público.

Estamos muito, muitíssimo mal. A ver navios...

Há de haver navios onde embarcar uma porcaria dessas? Um pensamento dominante e quinquilharesco desse – diminuto, mas pesado; ridículo, mas contagiante.

Ok. Vamos todos tornar ao pão e circo.

E, como é sabido que a semente tem que se plantar em casa, comecemos por dar a nossos filhos apenas doce antes, durante e após as refeições; apenas “sim” a torto e a direito;  apenas presentes, presentes, presentes... alegria, alegria, alegria...

Vamos dar o que se quer a quem bem o quiser.

Não é assim que se faz ou se deve fazer?

Ah, embaixo assine: Maria vai com as outras.

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br

 



publicado por Luso-brasileiro às 15:09
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FELIPE AQUINO - NÃO NOS PERTURBEMOS COM OS NOSSOS DEFEITOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. Dois sinais do bom e do mau arrependimento

“A tristeza que é segundo Deus, afirma São Paulo, produz um arrependimento que leva à salvação; ao passo que a tristeza do mundo produz a morte. (2Cor 7,10). A tristeza do arrependimento pode, pois, ser boa ou má, conforme os efeitos que produz em nós. Mas, em geral, produz mais efeitos maus que bons, porque os bons são apenas dois: a misericórdia – o pesar pelo mal dos outros – e a penitencia – a dor de ter ofendido a Deus -; ao passo que os maus são seis: medo, preguiça, indignação, ciúme, inveja e impaciência. Por isso diz o sábio: A tristeza mata a muitos e nela não há utilidade alguma (Eclo 30,25), já que, para dois riachos de águas límpidas que nascem do manancial da tristeza, nascem seis de águas poluídas”.

É por isso que o demônio faz grandes esforços para produzir em nós essa má tristeza, e, a fim de desanimar e desesperar a alma, começa a perturbá-la. Não lhe custa muito sugerir pretextos para isso. Ora, não deveríamos afligir-nos por ter ofendido a Majestade divina, ultrajado a Beleza infinita e ferido o coração de Deus, o mais terno dos pais? “Com certeza, responde São Francisco de Sales, devemos entristecer-nos, mas com um verdadeiro arrependimento, não com uma dor aflita, cheia de mágoa e indignação. O verdadeiro arrependimento, como todo o sentimento inspirado pelo bom Espírito, é sempre calmo: O Senhor não está na perturbação (1Rs 19,11). Onde principiam a inquietação e a perturbação, a tristeza má passa a ocupar o lugar da tristeza boa.

“A má tristeza, insiste o nosso Santo, perturba a alma, inquieta, incute temores desmedidos, tira o gosto pela oração, atordoa e fatiga o espírito, impede de tirar proveito dos bons conselhos, de tomar resoluções, de formar juízos, de ter coragem e abate as forças. Numa palavra: é como um inverno rigoroso que queima toda a formosura da terra e entorpece todos os animais, porque priva a alma de toda a suavidade, deixa-a paralítica, tornando-a tolhida e inibida de todas as suas faculdades”.

 

 

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  1. Sinais de uma alma que se perturba após suas quedas

Muitas almas hão de reconhecer nestes sintomas a perturbação em que se deixaram envolver após as suas faltas e os estragos que essa perturbação lhes causou. Tinham começado a levar a sério a vida espiritual e seguiam resolutamente os passos do Mestre no caminho do dever, pelo rude caminho do Calvário. Mas eis que sobrevém uma queda e, com ela, eis a perturbação! A alma levanta-se sob o amparo do arrependimento e da absolvição sacramental, que tudo vem reparar. Mas nem por isso sossega. Olha, examina ansiosamente, conta as feridas mal cicatrizadas, sonda-as com receio e acaba infectando-as ainda mais por querer curá-las com despeito e impaciência, “porque não há nada que sirva mais para manter os nossos defeitos do que a inquietude e a pressa em querer expurgá-los”.

Enquanto isso, o passo vai afrouxando. Já não se corre; anda-se a custo. Arrasta-se, descontente de si e quase que do próprio Deus, perde-se a confiança na oração e aproxima-se dos sacramentos com receio. Até que, afinal, uma circunstância especial, uma confissão excepcionalmente bem feito ou um retiro, restitui a esta alma, por um certo período, o fervor que tivera a princípio. Mas, passado algum tempo após essa renovação, se a alma não elimina essa intranquilidade, uma nova queda, ou simplesmente a lembrança das faltas passadas, provocará nela um surto de redobrada melancolia; e, então, ao invés da rapidez com que se corria, voltará ao passo lento e cansado – e queria Deus que, à força de hesitações e delongas, não termine por cair numa inércia quase irreparável.

Pobres almas, quem veio paralisar assim os vossos esforços? Corríeis tanto! Quem vos fez parar? (Gl 5,7) pergunta o Apóstolo. “A perturbação”, responde São Francisco de Sales: “Se não vos tivésseis inquietado na primeira vez que tropeçastes, mas tivésseis calma, tomando suavemente o coração nas mãos, não teríeis caído uma segunda vez.”

 

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Leia tambémVocê se aceita como é?

Como vencer as batalhas contra nós mesmos?

O que devemos fazer quando somos feridos?

As imperfeições morais são pecados?

Como vencer a nós mesmos?

Tem paciência contigo!

 

  1. Paciência com as nossas imperfeições

Por isso o bom Santo multiplicava os seus conselhos, desejoso de comunicar aos outros “a paz tão desejada que é a mais querida, fiel e perpétua hóspede do coração”, e por isso recomendava insistentemente a serenidade e a paciência, primeiramente para com nós mesmos.

“Não nos perturbemos à vista das nossas imperfeições! Livremo-nos das precipitações e dos desassossegos, pois não há nada que mais no atrapalhe o passo no caminho da perfeição”.

“O que fazem os pássaros e outros animais quando ficam presos a uma rede? Debatem-se desordenadamente no esforço de se libertarem, e assim só conseguem embaraçar-se cada vez mias… Não é perdendo a serenidade de espírito que conseguiremos desfazer-nos dos laços que nos armam algumas imperfeições; ao contrário, dessa forma mais nos embaraçamos nelas”.

“É preciso sofrer com paciência a lentidão com que nos vamos aperfeiçoando e não deixar de fazer o quanto pudermos para progredir, sempre com boa vontade”. “Aguardemos, pois, com paciência o nosso progresso e, em vez de nos inquietarmos por termos feito tão pouco no passado, procuremos com empenho fazer mais no futuro”.

“Não nos aflijamos por sempre nos vermos principiantes no exercício das virtudes, porque no ‘Mosteiro da Vida Devota’ cada um considera-se sempre noviço e esforça-se ao longo de toda a vida por dar provas da sua humildade. O contrário disso, isto é, o sinal mais evidente de não somente ser um mau noviço, mas até de merecer ser expulso e reprovado do ‘Mosteiro’, é julgar-se e ter-se a si mesmo como professos. Pois, conforme a regra desta Ordem, não é a solenidade dos votos, mas cumprimento deles que torna os noviços professos; e os votos não se julgam cumprido enquanto houver alguma coisa a fazer para a observância deles. A obrigação de lutar por servir a Deus e de progredir no amor divino dura até a morte.

“Bem, alguém me dirá, mas como posso não me afligir e não me entristecer se vejo que e por minha culpa que não avanço no caminho da virtude? Já o disse na Introdução à Vida Devota e agora volto a dizê-lo de bom grado, porque nunca é demais: é justo entristecer-se pelos erros cometidos com um arrependimento que seja sereno, constante e tranquilo; porém, com um arrependimento agitado, inquieto, desanimador, nunca”.

 

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  1. Serenidade por ocasião das quedas

Vê-se por estas citações, e há de ver-se melhor ainda pelas que se seguem, que o santo Doutor não recomenda a serenidade e a paciência consigo mesmo somente às almas justas e inocentes, mas também – e sobretudo – às que tiveram a infelicidade de cair em faltas.

“Se vos suceder alguma vez perder a paciência, não vos perturbeis, mas procurai tranquilizar-vos rapidamente e com serenidade”. “Preocupam-vos excessivamente os ímpetos do amor-próprio, sem dúvida frequentes; mas estes nunca serão perigosos se, sem vos aborrecerdes pela sua importunidade e sem vos admirardes da sua frequência, disserdes tranquilamente: Não! Caminhai com simplicidade, não estejais tão ansiosa pelo sossego do espírito, e assim o tereis com certeza”.

“Tende paciência com todos, mas sobretudo convosco, isto é, não vos perturbeis por causa das vossas imperfeições, mas tende sempre a coragem de vos emendar delas. Gostaria muito que não cansais de recomeçar todos os dias, porque não há melhor meio de prosseguir bem na vida espiritual do que sempre recomeçando e não pensando nunca já ter feito muito.”

“Podemos mortificar a carne, mas não tão perfeitamente a ponto de não haver nenhuma rebelião. Nossa atenção será frequentemente interrompida por distrações. Será, por isso, preciso se inquietar, perturbar e se afligir? Certamente não”.

 

  1. Suportar os próprios defeitos com uma aflição tranquila e corajosa

“Não vos aflijais nem vos admireis de sentir ainda vivas em vossas almas as imperfeições que me contastes; porque, ainda que seja necessário combate-las e detestá-las para que assim possais retificá-las, não é bom que vos aflijais dessa forma tão inquieta, mas sim que tenhais uma aflição corajosa e tranquila, que vos inspire um propósito firme e seguro de emenda”.

“É preciso fugir do mal? Pois fujamos, mas calmamente e sem perturbações. Se assim não for pode acontecer que, fugindo, acabemos por cair e por dar ocasião ao inimigo… Até na penitência há de haver sossego e serenidade. Eis que a minha amaríssima amargura está em paz, diz Isaías (Is 38,17)”. “Só o pecado deve aborrecer e afligir; e mesmo ele, no extremo da sua amargura, ainda deveria fazer despontar uma santa e consoladora alegria”.

“Quem vive em Deus nunca se entristece, a não ser por ter oferecido a Deus; mas a sua tristeza está alicerçada numa profunda, tranquila e serena humildade e submissão, após a qual se levanta pela bondade divina por uma doce e perfeita confiança, sem pesar nem mágoa”.

 “Em suma palavra: não vos aborreceis ou, pelo menos, não vos perturbeis por vos terdes perturbado, não vos abaleis por vos terdes abalado, não vos inquieteis por vos terdes inquietado por causa desses impulsos incômodos; mas retomai o domínio do vosso coração e colocai-o suavemente nas mãos de Nosso Senhor”. “Dominais e refreais o quanto puderes o vosso coração, até ficardes em paz com vós mesmo, ainda que vos saibais miserável…”.

“Sempre que virdes o vosso coração amargurado, limitai-vos simplesmente a apanhá-lo com a ponta dos dedos, não de punho fechado, bruscamente. É necessário ter paciência consigo mesmo e afagar o coração, animando-o; e quando ele estiver muito inquieto, é preciso segurá-lo como a um cavalo desembestado, firmemente, sem o deixar correr à solta atrás dos sentimentos”.

“Tomai muito cuidado para não perder a serenidade quando cometerdes alguma falta, mas humilhai-vos logo que possível na presença de Deus, e isto com uma humildade amorosa e doce, que vos conduza à confiança de recorrer imediatamente à sua bondade, na certeza de que Ele vos ajudará a emendar-vos… Se vierdes a cair em algum pecado, seja qual for, perdi serenamente perdão ao Senhor, dizendo-lhe que estais bem certos de que Ele vos ama muito e vos perdoará. E isto fazei-o sempre com simplicidade e serenidade”.

 

 

Retirado do livro: “A Arte de Aproveitar as Próprias Faltas”. Joseph Tissot. Ed. Cléofas e Cultor de Livros.

 

 

FELIPE AQUINO Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:58
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PAULO R. LABEGALINI - O ESCAPULÁRIO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Paulo Labegalini.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi na madrugada do dia 16 de julho de 1251 que Nossa Senhora apareceu ao inglês Simão e entregou-lhe o miraculoso Escapulário do Carmo. São Simão Stock era Superior Geral dos Carmelitas, e se encontrava aflito, pois sua Ordem passava por dificuldades muito sérias, sendo desprezada, perseguida e até ameaçada de extinção.

Homem de fé viva, Simão não cessava de implorar socorro à Santíssima Virgem e pedia também um sinal sensível de que seria atendido. Comovida pelas súplicas angustiantes do seu fervoroso filho, Nossa Senhora lhe trouxe do Céu o santo escapulário e dirigiu-lhe estas palavras:

“Recebe, filho diletíssimo, o escapulário de tua Ordem, sinal de minha confraternidade, privilégio para ti e para os carmelitas. Todos os que morrerem revestidos deste escapulário, não padecerão no fogo do inferno. É um sinal de salvação, refúgio nos perigos, aliança de paz e pacto para sempre”.

A partir dessa misericordiosa intervenção da Mãe de Deus, a Ordem carmelitana refloresceu em todo o mundo! E o escapulário passou a percorrer sua milagrosa trajetória, como sinal de aliança de Nossa Senhora com toda a humanidade.

Setenta anos mais tarde, a Virgem Maria apareceu ao Papa João XXII e lhe fez nova promessa, considerada como complemento da primeira: “Eu, como Mãe dos carmelitas, descerei ao purgatório no primeiro sábado depois de suas mortes, os livrarei e os conduzirei ao Monte Santo da vida eterna”.

Essa segunda promessa deu origem à célebre Bula Sabatina do Papa João XXII, publicada em 03 de março de 1322, confirmada posteriormente por vários Sumos Pontífices, como Alexandre V, Clemente VII e Paulo III.

De início, o escapulário era de uso exclusivo dos religiosos carmelitas. Mais tarde, querendo estender os privilégios e benefícios espirituais desse uso a todos os católicos, a Igreja simplificou seu tamanho e autorizou que sua recepção ficasse ao alcance de todos.

Somente o primeiro escapulário precisa ser bento e imposto por um sacerdote. Tanto essa bênção como a imposição valem para todos os outros que substituírem o primeiro. Uma vez tendo-o recebido, devemos usá-lo sempre e continuamente.

Entre os Papas devotos do escapulário, destacam-se: Inocêncio IV, João XXII, Alexandre V, Bento XIV, Pio VI, Clemente VII, Urbano VII, Nicolau V, Sixto IV, Clemente VII, Paulo III, São Pio V, Leão XI, Alexandre VII, Pio IX, Leão XIII, Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII – que com bulas apostólicas aprovaram os seus privilégios.

As declarações dos Papas são expressões autorizadas do autêntico pensar da Igreja. Eles não deram apenas o exemplo usando o hábito do Carmo, mas estimularam e aconselharam a usá-lo e premiaram a devoção.

E eis os santos que usaram o escapulário: Santo Afonso, São Pedro Claver, São Carlos Borromeu, São Francisco de Salles, São João Vianney, São João Bosco, Santa Teresa de Ávila, Santa Terezinha do Menino Jesus, São João da Cruz, Santa Maria de Jesus etc.

Bem, de forma resumida, um dia eu contei esta história a mais de 100 cursistas em Piranguinho. Em seguida, os presenteei com escapulários, que foram bentos e impostos pelo sorridente Pe. Catarino na missa.

Na Celebração da Eucaristia da noite seguinte, eu transbordei de felicidade ao ver tanta gente com o escapulário no pescoço, mostrando que aceitaram a Virgem Maria como protetora até a hora da morte. Lindo isso, não? Com certeza, não se arrependeram nem por um minuto da decisão que tomaram, porque o poder da Mãe de Deus é inquestionável!

Da mesma forma que Jesus disse: “Se alguém quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 15, 24), Nossa Senhora também falou que estará protegido quem seguir seu Filho de escapulário no pescoço.

É por isso que eu não tiro o meu. E que assim seja para sempre!

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:51
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - A INFLUÊNCIA DA CASA PATERNA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Disse o grande pedagogo Ribeiro Sanches, na “ Cartas Sobre Educação da Mocidade”, que: “ O povo não faz boas nem más ações, que por costume e por imitação.”

E disse bem: somos o que somos porque vivemos em determinada época, influenciados pelo que ouvimos e vemos; movidos pelas atitudes e comportamentos, que presenciamos ao longo da vida, mormente na infância.

Em “ Psychologie de l’Opinion et de la propagande politique” – Paris, 1927 – Jules Rassak, confirma o que assevero: “ As impressões recebidas na casa paterna, a recordação da sua maneira de viver, das suas opiniões e dos seus atos, subsistem no subconsciente e exercem influência sobre o estado consciente.

“ Mesmo as pequenas impressões sentidas, os acontecimentos insignificantes, as peças de teatro, as leituras etc., não são esquecidas, persistem no subsolo da nossa alma, e influenciam a nossa vontade e o nosso pensamento.”

Essa influência, é – apesar dos malefícios da globalização, – notória, se compararmos a sensibilidade de vários povos. É essa influência, que faz, que povos, que vivem em territórios ricos, vegetem numa quase miséria, enquanto outros, que habitam em terras pobres, prosperam.

Recordo, que, quando o ciclismo estava na berra, e os operários deslocavam-se de bicicleta – em meados dos anos cinquenta, – ver pelotões de trabalhadores, subirem a avenida da minha terra, em competição. Todos queriam ser: Camisola Amarela!

E o mesmo acontece com a “ vocação” de muitos adolescentes, durante o Campeonato Mundial de Futebol. Todos desejam ser jogadores!

Basta dizerem que está na moda: o ioiô, e todas as crianças querem ter um. Recordo a coqueluche do hola-hupe, do cubo mágico, da pulseira magnética…e presentemente do pokémon go.

Dizem: estar na moda, e isso basta para que todos comprem; para que todos usem.

Até na literatura, e na música o “fenómeno” acontece!

O livro é vendido, não pelo valor da obra ou utilidade; mas, devido à eficiente propaganda; e o mesmo sucede à música.

Concluindo: se temos a sociedade que temos, é devido à educação que transmitimos aos filhos; às escolas que temos; e a conceitos que inculcamos às crianças, desde o berço.

Como queremos sociedade mais justa, se todos – ou quase todos, – damos o mau exemplo de obter tudo com o “ jeitinho”; se corrompemos, o semelhante, com dinheiro; e as nossas condutas são deploráveis!

Os jovens, são, em regra, a educação que recebem, como disse Rassak. “ As impressões recebidas na casa paterna…influenciam a nossa vontade e o nosso pensamento.”

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:46
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ANTÓNIO VENDRAMINI NETO - A INSENSATA MORDAÇA

 

 

 

 

 

 

 

 

Toninho Vendramini Neto 1.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma crise se instalou.

Povo assustado!

Revolta estudantil.

Para mudar o País.

A força da caserna se apresentou.

Avistou-se um castelo branco nas nuvens negras.

Caminho intolerante e obscuro.

Quebrou-se a caneta, destruiu-se o papel.

As amarras prenderam a boca.

Lenço forte apertado!

Músculos oprimindo o pensamento!

A voz está muda.

O pranto desaba na face.

Molha o lenço e reforça as amarras!

Um suspiro sai das entranhas.

Um gemido preso pela dor.

Um Hino Nacional não cantado.

A vontade de gritar se faz presente.

Suplício da voz de uma paixão.

Um pensamento patriótico acalenta o momento.

Uma viagem forçada para terras distantes.

Abajo, abajo, abajo.

A alma se purifica e acrescenta beleza.

O pranto foi embora.

O retorno foi consagrado.

Ao berço esplêndido esperado.

Vem das profundezas da alma.

Uma palavra chamada liberdade.

 

 

 Poema dedicado a um amigo que foi exilado durante o regime.

 

 

 

ANTÓNIO VENDRAMINI NETO   -   escritor,cronista e poeta. Jundiaí, Brasil

 

 

 

***

 

 

Horário das missas em, Jundiai ( Brasil):

 

http://www.horariodemissa.com.br/search.php?opcoes=cidade_opcoes&uf=SP&cidade=Jundiai&bairro&submit=73349812

 

 

 

 Horário da missas em São Paulo:


http://www.horariodemissa.com.br/search.php?uf=SP&cidade=S%C3%A3o+Paulo&bairro&opcoes=cidade_opcoes&submit=12345678&p=12&todas=0

 

http://www.horariodemissa.com.br/search.php?uf=SP&cidade=S%C3%A3o+Paulo&bairro&opcoes=cidade_opcoes&submit=5a348042&p=4&todas=0

 

 

 

 Horário das missas na Diocese do Porto( Portugal):

 

http://www.diocese-porto.pt/index.php?option=com_paroquias&view=pesquisarmap&Itemid=163

 

 

 

*** 

 

 

 

 

 

 



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Sábado, 17 de Junho de 2017
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - MILHARES DE PESSOAS BUSCAM NA JUSTIÇA BRASILEIRA INDENIZAÇÕES POR OFENSAS MORAIS.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muitas pessoas buscam na Justiça receber em dinheiro, algo que não deveria ter preço: o respeito. Com efeito, são inúmeros os casos de indenização por danos morais que tramitam em nossos tribunais, visando reparar ofensas à parte mais sensível do ser humano, o seu espírito e que lhe pode provocar sérios prejuízos como ente social, ou seja, como indivíduo integrado à sociedade, propiciando-lhe dor, tristeza, humilhação e outras situações constrangedoras.

Com efeito, são constantes as agressões à honra, à imagem de um ser humano, ao seu pudor, às suas emoções, à sua autoestima, ao seu amor próprio estético, à integridade de sua inteligência, à suas afeições, aos seus gostos e a eventuais outras manifestações próprias, causando-lhe sofrimento, aflição física ou comportamental, tristes sensações, vergonha ou espanto e que não ensejam uma perda econômica, mas que prejudicam ou reduzem seu patrimônio ético-moral.

Alguns comentários indicam a existência nos dias atuais de uma “verdadeira indústria de indenizações” referente à grande procura do Poder Judiciário à satisfação de  prejuízos por ofensas aos bens de caráter imaterial - desprovidos de conteúdo econômico, insuscetíveis verdadeiramente de avaliação em dinheiro mas que trazem um reflexo subjetivo na vítima, traduzido no padecimento ou angústia. Registram-se inúmeras situações de “bullying”, discriminação, preconceito, prepotência, arrogância, desprezo e tantos outros que tentam diminuir de forma agressiva e injustificada, determinados indivíduos, afetando-lhes diretamente o caráter.  

No entanto, a situação é bastante plausível já que toda vez que o cidadão sofrer uma perda em seus valores pessoais e íntimos, o Poder Público deve lhe assegurar o direito à sua concreta restauração. A própria Constituição Federal do Brasil defende direitos do espírito humano e os valores que compõem a personalidade, estabelecendo expressamente que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

A Carta Magna enfatizou assim, o firme propósito de se alcançar o triunfo do acatamento entre os seres, como uma das bases do Estado de Direito que estamos paulatinamente construindo. Efetivamente, o convívio social, diversificado e complexo,  integrado por muitos indivíduos que desconhecem os limites de suas ações, acaba por afetar a moral dos seus semelhantes, tolhendo-lhes a aspiração ao recato e à identidade, lesões que acarretam perdas de natureza íntima nas vítimas, passíveis de reparação judicial, cujo objetivo maior é coibir abusos contra o ânimo psíquico, moral e intelectual, consolidando o respeito à dignidade da pessoa humana.

E já se disse que não existe pior agonia, que a chamada “dor da alma”, sendo a compensação financeira mais uma forma de intimidar seus agressores do que compensar as próprias vítimas, que muitas vezes carregam fortes traumas decorrentes dessas ofensas, as quais valor nenhum financeiro seria capaz de amenizá-las.

 

 

Festa de São João, uma bonita tradição.

 

 

Junho é o mês de São João, Santo Antônio e São Pedro. Por isso, as festas que acontecem em todo o mês de junho são chamadas de "Festas Joaninas", especialmente em homenagem a São João. O nome joanina teve origem, segundo alguns historiadores, nos países europeus católicos no século IV. Quando chegou ao Brasil foi modificado para junina. Trazida pelos portugueses, logo foi incorporada aos costumes dos povos indígenas e negros.

O mais tradicional destes festejos é o de São João, que se comemora no dia 24 e surgiu porque diziam que Santa Isabel era muito amiga de Nossa Senhora e, por isso, costumavam visitar-se. Uma tarde, Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora e aproveitou para contar-lhe que, dentro de algum tempo, iria nascer seu filho, que se chamaria João Batista. Nossa Senhora, então, perguntou-lhe: - Como poderei saber do nascimento do garoto? - Acenderei uma fogueira bem grande; assim você de longe poderá vê-la e saberá que Joãozinho nasceu. Mandarei, também, erguer um mastro, com uma boneca sobre ele.

Santa Isabel cumpriu a promessa.  Um dia, Nossa Senhora viu, ao longe, uma “fumacinha” e depois umas chamas bem vermelhas. Dirigiu-se para a casa de Isabel e encontrou o menino João Batista, que mais tarde seria um dos santos mais importantes da religião católica. Isso se deu no dia vinte e quatro de junho. Começou, assim, a ser festejado São João com mastro, fogueira e outras coisas bonitas como: foguetes, balões, danças, etc…

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com).

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:26
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE O ARCEBISPO D. DUARTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. Duarte Leopoldo e Silva, primeiro Arcebispo de São Paulo, nasceu em Taubaté, no dia 4 de abril de 1867, e faleceu na capital paulista, no dia 13 de novembro de 1938. Foram seus pais Bernardo Leopoldo e Silva, de nacionalidade portuguesa e D. Ana Rosa Marcondes, que se entroncava nos Marcondes do Vale do Paraíba, muito numerosos em Pindamonhangaba, Caçapava, Taubaté e outras cidades da região.

Iniciou seus estudos em Taubaté e depois parece ter hesitado um pouco quanto à carreira a seguir. Pensou inicialmente em ser advogado, depois em seguir o curso de Farmácia. Mas acabou sentindo-se vocacionado para a vida sacerdotal e ingressou no Seminário Diocesano de S. Paulo.

Recebeu a ordenação sacerdotal em 1892. Depois de breve permanência em Jaú, como coadjutor, foi encarregado de assumir a nascente paróquia de Santa Cecília, na capital. Conseguiu levantar doações para construir a igreja de Santa Cecília e a ornou primorosamente, com os afrescos de Benedito Calixto ainda hoje bem conservados.

Uma curiosidade: o primeiro endereço oficial dessa igreja: Estrada de Campinas, número tanto. É incrível, mas naquele tempo ali já era zona rural, já se estava na estrada de Campinas... Na frente da matriz principiava a famosa alameda de palmeiras (atual Rua das Palmeiras) que conduzia ao Palacete de D. Angélica de Barros, situado na atual confluência da Av. Angélica com a Alameda Barros.

Respeitado como sacerdote culto e refinado, Pe. Duarte lecionou no Seminário e teve seu nome indicado para o Cabido diocesano. Entre outras obras, publicou em 1903 a “Concordância dos Santos Evangelhos ou os quatro Evangelhos reunidos num só”, obra muito bem articulada e que é considerada, internacionalmente, uma das melhores tentativas já feitas de unificação dos quatro Evangelhos.

Aos 37 anos foi nomeado Bispo de Curitiba, com jurisdição, nos Estados de Paraná e Santa Catarina. Lá esteve apenas dois anos, com muita atividade, sendo já no final de 1906 indicado para substituir, na Sé de São Paulo, o Bispo D. José de Camargo Barros, que falecera no naufrágio do navio Sírio, ocorrido a 4 de agosto de 1906 nas costas da Espanha. Uma gigantesca tela de Benedito Calixto, conservada no Museu de Arte Sacra de São Paulo registra o dramático naufrágio.

 

  1. Duarte assumiu a diocese de S. Paulo em abril de 1907. No ano seguinte, a 7 de junho de 1908, o Papa São Pio X, seguindo a política de ampliação do número de circunscrições eclesiásticas, publicou a bula ‘’Diocesium nimiam amplitudinem’’, criando a Província Eclesiástica de São Paulo. A diocese era elevada a Arquidiocese e dela eram desmembradas cinco novas dioceses: Campinas, São Carlos, Botucatu, Ribeirão Preto e Taubaté. Essas cinco dioceses passaram a ser sufragâneas, ou seja, dependentes, da Arquidiocese S. Paulo. Também era diocese sufragânea a de Curitiba. Outra curiosidade: o Santuário de Aparecida e a área adjacente (não verifiquei exatamente qual a extensão dessa área) não deixaram de fazer parte da Arquidiocese de São Paulo. Constituíam um enclave paulopolitano dentro do território taubateense... Só em 1958 esse enclave foi separado de S. Paulo e, acrescido de um território um pouco mais extenso desmembrado da diocese de Taubaté, foi elevado a Arquidiocese de Aparecida. Mas embora Arquidiocese e sede de uma nova província eclesiástica, continuou ligada a S. Paulo, pois o Cardeal-Arcebispo de São Paulo, D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, foi seu administrador apostólico por seis anos, até que, em 1964 deixou a Arquidiocese de São Paulo e assumiu plenamente a de Aparecida.

Ainda outra curiosidade: em 1924, quando foi criada a Diocese de Santos, desmembrada da Arquidiocese de S. Paulo, D. Duarte, já idoso e com problemas de saúde relacionados com a pressão arterial, conseguiu que o Vaticano instituísse um novo enclave da Arquidiocese de São Paulo dentro da nascente diocese de Santos: era uma chácara que possuía à beira-mar, onde lhe fazia bem passar longas temporadas. Chamava-se Vila Betânia. Era de lá que governava a Arquidiocese de São Paulo. O Direito Canônico exigia que o Bispo residisse dentro do território da sua circunscrição eclesiástica. Passando a maior parte do ano na Vila Betânia, D. Duarte não estava fora da Arquidiocese de São Paulo...

Quando foram criadas as 5 dioceses novas, em 1908, D. Duarte tomou uma atitude que lhe pareceu correta e era, de fato, inteiramente razoável, mas que com o tempo se revelou prejudicial. Ele desmembrou os arquivos eclesiásticos históricos de São Paulo e mandou para cada novo bispo todos os arquivos paroquiais antigos, das respectivas áreas. Supunha que os demais bispos e os respectivos sucessores teriam, com esses arquivos, o mesmo cuidado que ele tinha em S. Paulo... Mas nem todos tiveram, e os genealogistas paulistas até hoje lamentam a decisão de D. Duarte, que teve como consequência a dispersão dos arquivos, e a deterioração de muitos deles.

 

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS,  é jornalista profissional e historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.



publicado por Luso-brasileiro às 14:20
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - APENAS 15 MINUTOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cinthya Nunes Vieira da Silva.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um dia, meio sem querer, acabei tendo um poodle comigo. Confesso que, amante dos vira-latas que sempre fui, seria muito pouco provável que fosse uma escolha. Comprado em uma loja de animais, outra situação para a qual tenho várias ressalvas, o poodle mini preto, batizado de Floquinho, era da minha irmã. Depois de uma curta temporada na casa da minha mãe, vendo que o cachorrinho de pouco mais de um ano estava triste sozinho, acabei levando-o comigo.

            Inicialmente era somente para que eu achasse um companheiro para ele. Após a adaptação, eu o devolveria para casa dos meus pais. E foi assim que o Peteco, um salsicha caramelo, com cerca de 5 meses, que foi abandonado pelos antigos donos, acabou indo parar lá em casa também. Logo de cara os dois se deram muito bem. Em verdade, muito mais porque o Floquinho, que era meio ranzinza com pessoas, era completamente tolerante com outros cães.

            Nem preciso dizer que a tal devolução jamais ocorreu. Em pouco tempo os dois se tornaram meus cachorros, donos da minha casa, parte da minha vida. Foram muitas as viagens de carro que fizemos, nós três, pelas estradas do interior de São Paulo. Era até engraçado: sempre que me viam fazer as malas, já condicionados, pulavam para dentro do carro, no banco traseiro e de lá não queriam mais sair. Mesmo que eu ainda fosse demorar algumas horas para sair. Assim, para evitar que os dois se antecipassem, certa vez fechei as portas do carro e apenas fui guardando as malas. Voltei para pegar algo dentro de casa e, quando voltei, encontrei os dois preparados, a postos dentro do porta-malas! O medo de ficar para traz foi capaz de torná-los cães saltadores.

            Quando me mudei para São Paulo, vinda do interior, os dois, por óbvio vieram junto. Aliás, sempre foi uma promessa que fiz a ambos, a de que estaríamos juntos até o fim, pouco importando quem de nós se fosse dessa vida primeiro. Não concebo que animais de estimação sejam repassados aos outros, até porque estima, segundo entendo, pode se traduzir, nesse caso, em um misto de amizade e amor. E amor que se preza, diga-se de passagem, traz consigo a lealdade.

            Depois de um tempo os meus dois amiguinhos adotaram uma dinâmica interessante. Quando saíamos para passear o Peteco ia sem coleira, puxando pela boca a coleira do Floquinho. Acabaram se tornando atração por onde passavam. Era comum as pessoas pararem para perguntar, para olhar os dois e nos perguntarem se havíamos ensinado o truque. O fato é que nunca ensinamos nada, ao menos nada que tenha dado certo. Tentamos que fizessem xixi nos lugares certos, mas a verdade é faziam onde bem quisessem e acabamos nos tornando especialistas em métodos de fazer o cheiro de xixi de cachorro desaparecer.

            Uma coisa engraçada é que os dois trocavam de personalidade. Dentro de casa o Floquinho sempre foi ranzinza e o Peteco a pura mansidão. Só com as pessoas, registre-se. Na rua, ao contrário, o Peteco se tornava um animal feroz, latindo para qualquer cachorro que estivesse em seu raio de visão, enquanto o Floquinho simplesmente confraternizava com todos, como se fosse um cãozinho de pelúcia.

            Dentro de casa, por outro lado, é preciso dizer que os dois nunca se comportaram de forma exemplar. Perdi as contas de quantas vezes chegamos em casa e encontramos cenas dignas de um furacão. Sacos de lixo rasgados, panos e roupas rasgadas já estavam na rotina da casa. Só quase não fui capaz de perdoar quando cheguei em casa e descobri minhas calopsitas covardemente assassinadas, mas tenho fortes motivos para crer que esse crime bárbaro foi obra exclusiva do Peteco, que até já tinha antecedentes desfavoráveis envolvendo ratos e pombas.

            E no meio de tudo isso, dessa loucura toda, fomos compondo uma família ao nosso jeito. Cada qual com seu gênio e comportamento característico. Um belo dia chegaram as gatas e quem as recebeu com amor foi o Floquinho, a quem apelidados de mini babá, já que cuidava delas enquanto eram bem pequenas. Embora fosse um cachorrinho capaz de morder o veterinário que o vacinava, o Floquinho era devotado ao Peteco. Brincávamos que tinham um relacionamento, um amor deles. Eram inseparáveis.

            Mas um dia, como acontece com tudo que vive nesse mundo, o Floquinho, que costuma nos puxar enquanto passeávamos, começou a não conseguir andar mais do que um quarteirão e a passos muito lentos. Dois meses depois, sofrendo do coração, passou a usar fraldas e emagreceu muito. Tornou-se, por outro lado, um paciente exemplar, incapaz de morder mesmo quando eu era obrigada a dar-lhe remédio à força, goela abaixo.

            Foram dois meses assim, enquanto alternávamos o sentimento de esperança de uma melhora e o medo de que ele sofresse. Até que em um momento, após tomar banho, ele morreu assim que chegou na porta de casa. Seu coração, depois de quinze anos e meio, resolveu por bem parar. Até hoje eu o procuro pela casa ou mesmo chamo pelo seu nome para que vá comer. Sei que é o curso da vida, mas é exatamente isso que me assusta. Olhando para traz, o sentimento que tenho agora é que não se passaram quinze anos desde o dia em que resolvi trazê-lo comigo, mas apenas e tão somente 15 minutos, um ligeiro sopro no tempo.

            Se fosse preciso, se me fosse dada a chance, faria tudo de novo.

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:14
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