Quando vejo uma lona de circo estendida, há um ângulo em meu coração que faz festa, mesmo que não vá ao espetáculo. Parece que estendo a corda de um lado e prendo a estaca no céu.
O primeiro circo no qual estive foi em 1961. Encontrava-se na Rua Atílio Vianelo, onde residíamos. Rua de terra e, pelo mato, pirilampos. Tudo era motivo de alegria. E o circo?! Que coisa boa sair na calçada e verificar que ele permanecia lá. Dentro de mim misturavam-se: palhaços, maçã de amor, trapezistas, perna de pau, pipoca, algodão doce, atirador de facas, contorcionistas, mágicos... Havia animais também e desejava, de todas as maneiras, afagá-los. Não imaginava, na época, o que sofriam para serem treinados. Quanta crueldade!
Mais tarde, em Poços de Caldas, em 1962, instalaram, na praça central, uma espécie de barraca e um homem ficava dentro de uma caixa de vidro, deitado em cacos, e com uma serpente. A propaganda, que convidava para visitação, dizia que ele passaria quarenta dias no pequeno espaço, alimentando-se somente de líquidos. Despertava o interesse, mas não me enternecia. O cidadão se chamava Ben-Hur. Nos altos falantes se ouvia: “Ben-Hur passará quarenta dias sem ver a luz do sol; Ben-Hur passará quarenta dias sem se alimentar...”
Em um terreno, próximo ao local em que moro, na década de 90, por duas vezes, foi armado o Circo do Tareco. Achava o máximo aquela lona colorida perto de casa, a simplicidade dos atores, a propaganda, a cabra e os cachorros que integravam o show.
O circo é, para mim, mesmo que o veja apenas por fora, um momento de magia. Nele se encontra o picadeiro de minha infância com contos de fada, bonecas, fantasias, aquarelas, massinha, lig-lig; com o boizinho rosado de pelúcia que me acompanhou por muitos anos... O circo vai e vem, como o pêndulo do relógio que canta as horas. E como diz a música: “Vai, vai, vai terminar a brincadeira, /Que a charanga tocou a noite inteira, /Morre o circo e nasce na lembrança,/ Foi-se embora eu ainda era criança”.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Em composição de Alzira Espíndola e Itamar Assumpção, quem tem ouvidos ouve: “Pra que rancor, tanto tédio/ Pra que terror, tanta mágoa/ A vaca já foi pro brejo/ Os burros já deram n'água/ Pra que rogar tanta praga/ Pra que, se não tem remédio/ Pra que abrir outra chaga/ Por que não dormir sem medo/ Pra que ferir, ser ferido/ Pra que somente repúdio/ Pra que achar tudo errado/ Se o tal telhado é de vidro.”.
Entretanto, quem é que, hoje em dia, tem ouvidos para isso ou aquilo? Quem, se em tempos de célebres futilidades, bem faz quem os preserva quase sempre moucos, sabido é que os espera isto, traduzido por Mario Quintana: “Frases felizes...Frases encantadas... Ó festa para os ouvidos! Sempre há tolices muito bem ornadas... Como há pacóvios bem vestidos.”.
Mesmo porque, pensando bem, como bem antes de nós já pensou e disse Fernando Pessoa (que, aliás, de tanto pensar e dizer, apessoou-se em outros de si mesmo): “Não há sossego de pensar nas propriedades das coisas,/ Nos destinos que não desvendo,/ Na minha própria metafísica, que tenho porque penso e sinto./ Não há sossego,/ e os grandes montes ao sol têm-o tão nitidamente!/ Têm-o? Os montes ao sol não têm coisa nenhuma do espírito. Não seriam montes, não estariam ao sol, se o tivessem. (...) tudo é cansaço neste mundo subjetivado,/ Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,/ Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas/ Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente. (...) Ah, o existir o fenômeno abstrato – existir.” (Álvaro de Campos)
Não há, porém, saída a contento, considerando-se que o que faria uma criatura pensante, se não... vocês sabem – se não pensasse?
Desisto. Não encontro resposta.
Ou é essa a resposta própria: desiste-se.
E, penso eu, desistir não é uma opção. Não uma das boas, pelo menos.
Fazer arte, artesanato, terapia? Oras, tudo exige raciocínio.
Ninguém está livre do pensar, nem os tolos. Senão não se diria nem ouviria tanta bobagem.
Mesmo a fé, abstrata, quem diria?, do pensar não se abstrai...
“A criança olha/ Para o céu azul./ Levanta a mãozinha,/ Quer tocar o céu./ Não sente a criança/ Que o céu é ilusão:/ Crê que o não alcança,/ Quando o tem na mão.” (Manuel Bandeira).
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
Para Aristóteles, “in medio virtus”. Ou seja, a virtude está no meio termo. Demorei para aceitar a ideia. O “meio termo” sempre me parecia a mediocridade, o morno, o incompleto. Mas o raciocínio aristotélico é interessante. Entre dois polos, o melhor é a moderação. Assim, entre a absoluta avareza e a desenfreada prodigalidade, a temperança é a virtude. Entre a preguiça e a hiperatividade, a postura adequada é ter tempo para a ociosidade e tempo para o trabalho. Entre a gula e o regime famélico, nutrir-se do necessário é virtuoso.
Agora vem outra ideia a me angustiar. Tenho visto que algumas virtudes estão sendo relegadas pelos que se dizem virtuosos e cultivadas pelos malfeitores. É o que leva o Brasil a reconhecer o malefício causado pelas facções criminosas. Ali, a infância é treinada a sobreviver, a despeito de toda a adversidade. O mal recruta a criança a partir dos seis ou sete anos de idade para servir de “aviãozinho” para transportar droga. E cobra dele um espírito de sacrifício inexigível para a criança da classe média.
O trabalho é diuturno, devotado e sem erro. Imagine alguém a pedir certa quantidade de maconha e receber como resposta que o funcionário encarregado de fornecê-la faltou. Ou que está doente, apresentou atestado médico. Ou que o produto está em falta.
Isso não ocorre. Entretanto, quando se necessita do serviço público, tais desculpas são rotineiras. Quem está mais preparado para sobreviver? O treinado pelo marginal ou o educado pela nossa escola do “mais ou menos”, do “da vida nada se leva”, do “é assim mesmo”?
O Brasil do bem é covarde, nessa fase melancólica em que nada parece funcionar, enquanto o Brasil do mal se organiza e faz a corrente demoníaca se desenvolver, crescer e recrutar a cada dia mais braços e inteligências.
Uma sociedade só dará realmente certo se os bons tiverem a coragem de ser audazes assim como os maus o são. Não se pode negar eficiência às facções criminosas. Enquanto é preso um jovem por causa das drogas, há uma fila de dez outros à espera de ocupar seu lugar. A cada prisão por tráfico de entorpecentes, o Brasil legal propicia o cárcere para mais várias outras pessoas. Pois o primeiro compromisso daquele que é preso pela vez primeira, junto à organização criminosa que cuidará de seu futuro e de sua família, é abastecer de droga o sistema. Aí vêm as irmãs, namoradas, mães, primas e companheiras, que se tornam outros alvos para o aprisionamento. Mas a Rede continua eficiente. E eficiência é virtude. Ou não é?
O que estamos fazendo para acabar com isso?
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo.
Desde a Idade Média criou-se uma tradição de que Santo Antônio, um frade franciscano, nascido em 1195, em Portugal e que viveu em Pádua, na Itália, era promotor de casamentos. Ele foi um santo doutor da Igreja, e que pregou até para o Papa Gregório XI (1227-1241).
Na verdade, em seus sermões ele não pregava nada específico sobre casamentos, mas ficou conhecido como o santo que ajuda mulheres a encontrarem um marido por conta da ajuda que dava a moças humildes para conseguirem um dote e um enxoval para o casamento, como era a exigência da época.
Segundo a lenda, certa vez, em Nápoles, havia uma moça cuja família não podia pagar seu dote para se casar. Desesperada, a jovem pediu a ajuda do Santo que, milagrosamente, lhe entregou um bilhete e disse para procurar certo comerciante. O bilhete dizia que o comerciante desse à moça moedas de prata equivalentes ao peso do papel. O homem não se importou, achando que o peso daquele bilhete era insignificante. Mas, para sua surpresa, foram necessários 400 escudos da prata para que a balança atingisse o equilíbrio. Nesse momento, o comerciante se lembrou que um dia havia prometido 400 escudos de prata ao Santo, e nunca havia cumprido a promessa. A moça pôde, assim, casar-se de acordo com o costume da época e, a partir daí, Santo Antônio recebeu – entre outras atribuições – a de “O Santo Casamenteiro”.
Há outras histórias, como a de que uma moça muito bonita, que não arranjava um marido, apegou-se a Santo Antônio. Adquiriu uma imagem do santo e colocou-a em um pequeno oratório. Todos os dias, colhia flores e as oferecia a Santo Antônio sempre pedindo que este lhe trouxesse um marido. Mas, passaram-se semanas, meses, anos… e nada do noivo aparecer.
Leia também: Por que Santo Antônio é considerado casamenteiro?
10 Ensinamentos de Santo Antônio de Pádua, doutor da Igreja
13/06 – Santo Antonio de Pádua
Então, tomada pelo desgosto e pela ingratidão do santo, ela atirou a imagem pela janela. Neste momento, passava um jovem cavalheiro que foi atingido pela imagem do Santo. Ele apanha a imagem e vai entregar à jovem, que se apaixona por ele, e se casam.
Na verdade Santo Antônio, e os demais santos, “intercedem por nós diante de Deus sem cessar”, diz uma das orações eucarísticas. Mas a Igreja não declarou nenhum santo como “casamenteiro”; há santos protetores do casamento. No entanto, como Santo Antônio é grande intercessor diante de Deus, as moças solteiras podem pedir a ele a graça de encontrar um bom marido.
Mas não apenas a Santo Antônio. Conheço uma moça que certa vez, fez uma novena a Santa Rita de Cássia para encontrar um bom namorado cristão, e o encontrou num Acampamento da Canção Nova; hoje está casada com ele e tem dois belos filhos. E este é apenas um de muitos casos de graças como estas alcançadas pela intercessão dos santos.
Portanto, cuidado com as simpatias para conseguir um bom namoro ou casamento. Nada de virar a imagem de santo Antônio de cabeça para baixo, afoga-lo num copo de água, ou de tirar o Menino Jesus de seus braços e virá-lo de frente para a parede. Esses hábitos não se coadunam com a fé católica.
Os santos estão pertinho de Deus e não cessam de interceder por nós. Se hoje você está a procura de um bom marido ou de uma boa esposa, peça com a fé a intercessão dos santos por sua vida.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
Um rapaz vinha dirigindo sua pequena caminhonete numa estrada e logo avistou uma tempestade. Resolveu, então, encostar num posto de gasolina e lá encontrou três pessoas precisando de carona: uma senhora gravemente doente, uma bela jovem que lhe sorriu docemente, e um médico indo para o trabalho. Na caminhonete só dava para levar um deles. Se fosse você, quem levaria?
Numa atitude cristã e com muita sabedoria, ele ficou no posto com a jovem e entregou a chave do carro para o médico levar a senhora ao hospital. Nada mais justo e conveniente, não acha?
Da mesma forma, quantas decisões poderiam ser tomadas com amor ao próximo, colocando em primeiro lugar o sofrimento daqueles que precisam de ajuda! Por exemplo, quando passamos pela rua e vemos um pobre caído, um amigo se aproximando pela calçada e um filho passando de carro, o que fazemos?
Mesmo sabendo que a caridade sempre deve prevalecer, talvez o mais provável seria saudarmos o filho com uma das mãos e estendermos a outra para cumprimentar o amigo. E qual a consequência disso, já pensou? Futuramente, o filho tenderia a seguir a mesma atitude do pai, o amigo ouviria uma série de assuntos meio sem importância naquele momento e o pobre continuaria jogado na calçada.
Que tal seria se os três colocassem o homem caído no carro e o levassem a um abrigo ou ao hospital? Não seria o que Jesus faria? Seria também uma atitude digna de merecer o Céu, concorda? Mas há quem faça isso, sim, e eu conheço vários irmãos da Pastoral da Sobriedade que cumprem fielmente a missão que Deus lhes deu.
E o valor da caridade ainda é maior porque servem com amor e no anonimato. Sabem que existe um lugar maravilhoso na eternidade lhes esperando e não são egoístas de buscarem chegar lá sozinhos. Compreendem, também, a diferença entre o Céu e o Inferno, como nesta história:
Um samurai, alto e forte, conhecido pela sua índole violenta, foi procurar um sábio monge em busca de respostas para suas dúvidas.
– Monge, ensina-me sobre o Céu e o Inferno.
O monge, de pequena estatura e muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e lhe disse:
– Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo! Seu cheiro é insuportável! Ademais, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe.
O samurai ficou enfurecido. O sangue lhe subiu ao rosto e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era sua raiva. Então, empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.
– Aí começa o Inferno – disse-lhe o sábio, mansamente.
O samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem o impressionara, afinal, arriscou a própria vida para lhe ensinar sobre o Inferno. E o bravo guerreiro abaixou lentamente a espada.
Passado algum tempo, já com a intimidade pacificada, o samurai pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse pelo gesto infeliz. Percebendo que seu pedido era sincero, o monge disse:
– Aí começa o Céu.
Portanto, tanto o Céu quanto o Inferno, são estados de espírito que escolhemos no nosso dia-a-dia e começam dentro de nós. A cada instante, somos convidados a tomar decisões que definirão o início do Céu ou o começo do Inferno. Quando alguém nos ofende, podemos erguer o martelo da ira ou usar o bálsamo da tolerância. A escolha é livre!
Visitados pela calúnia, podemos usar o machado do revide ou o óleo do perdão. Diante da enfermidade inesperada, podemos lançar mão do ácido dissolvente da revolta ou empunhar o escudo da confiança. Ante a partida de um ente querido, podemos optar pelo punhal do desespero ou pelo livro de oração.
Enfim, surpreendidos pelas mais infelizes situações, poderemos sempre optar por abrir abismos de incompreensão ou estender a ponte do diálogo que nos possibilite uma solução feliz. A decisão depende sempre de nós mesmos.
Portanto, criar céus ou infernos dentro da nossa alma, é algo que ninguém poderá fazer por nós. A porta que nos separa do Paraíso não poderá abrir-se enquanto esteja fechada a que fica entre nós e o próximo.
E você, que certamente quer morar no Céu e se livrar do fogo do Inferno, está fazendo a sua parte? Se ainda não pensou nisso, sabe ao menos por onde começar o seu gesto concreto? São dezenas de opções, mas eis algumas: doar alimentos aos vicentinos ou à Pastoral da Sobriedade, ajudar uma creche ou um asilo, visitar um doente e rezar com ele, procurar um padre e se confessar, entrar num movimento ou pastoral da Igreja e perseverar com o grupo etc.
Melhor do que qualquer explicação é ver de perto. Então, convido você a participar efetivamente da Igreja e testemunhar um pedacinho do Céu. Verá que vale a pena chegar lá!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas
Estava num estabelecimento, da Avenida José Peixinho, em Aveiro, a tomar o cafezinho matinal, quando escutei dois sujeitos: um, de cabelos brancos e rosto sulcado pela goiva do tempo; outro, ainda jovem, com pouco mais de vinte anos, de calças de ganga azul, e tsirt da mesma cor, ostentando frase, em língua desconhecida - para mim.
Gosto de ouvir o povo: as conversas nos transportes publicos; os motoristas de táxi; os operários; as vendedeiras de feira…Gosto, porque só, por eles, se pode compreender a sociedade em que se está inserido.
A mass-media pode ser o reflexo, o espelho da colectividade. Mas, quantas vezes, não é a voz das elites?…
Quem quer conhecer a verdade, ouça o povo simples: o pai e a mãe de família.
Dizia o mais idoso para o jovem:
- "Ouvi comentarista, na TV, dizer que o acordo da Europa com o Canadá, é benéfico para nós, já que os canadianos ganham, em média, o dobro dos portugueses…" - Lembrei-me de Salazar e dos seus discursos…”
Nesse momento o jovem interrompeu, para recordar os vencimentos dos gestores.
- “É uma pouca vergonha!” - Continuou o velho. - “ Dizem: se não forem bem pagos, emigram. Pensando assim, os trabalhadores deviam ganhar bem, para que os melhores não fujam…Chego a pensar, que a elite, que nos governa, julga: que quem não se expatria, é burro…”
Como o jovem argumentasse que devia haver patriotismo, o senhor de cabelos brancos, retorquiu:
- “ Isso de patriotismo, só se encontra no povo humilde, agarrado à sua terra e à sua gente. Os outros... só pensam na carreira e no dinheiro. Sempre foi assim, e assim será. No meu tempo, quando era moço, como tu, havia muitos que iam a salto para França. Uns, procuravam vida melhor; outros, para não irem para a guerra. Nunca quis ser desertor… Parecia-me atitude indigna e vergonhosa. Fui. Alguns ficaram por lá…; outros, vieram doentes e mutilados. A guerra acabou. Os que cumpriram o dever, nada ganharam...; dos que fugiram, houve quem fosse considerado herói… Ser herói ou traidor, depende do tempo em que se vive. O herói, pode ser traidor, e o traidor herói, de harmonia com a época, local e sociedade que se insere.”
A conversa estava interessante. Apurei o ouvido, para melhor entender, já que começaram a falar a meia-voz.
Comentaram as pensões; o aumento dos produtos agrícolas; o facto do IVA descer para a restauração; o desemprego, que desce, porque todos os dias se emigra; a necessidade de braços para a lavoura; e despediram-se, afectuosamente, apertando as mãos com um “ até amanhã”.
E fiquei a pensar: quem quer conhecer verdadeiramente a necessidade do povo: seus problemas, suas ambições, tem que viver no meio dele e escutá-lo
Como se pode conhecer a nossa colectividade, quando se frequenta restaurantes elegantes; e se convive com gente da elite, que aufere bons vencimentos e se passa o tempo em bons hotéis, a viajar pelo mundo?
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
QUADRA DE FLOBELA ESPANCA
Toda esta noite um rouxinol chorou!
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém se que se finou!
FLORBELA ESPANCA
GLOSA
“Toda esta noite um rouxinol chorou”
Chorou e não deixou dormir a gente,
E só de madrugada se calou;
Mas porque estava ele descontente?!
Abri uma janela, ele cantou,
“Gemeu, rezou, gritou perdidamente!”
Mas, num momento, alegre, se calou
Ao ver a companheira à sua frente!
Sem ela, numa noite, impaciente,
Apeteceu-lhe logo ir voar,
“Alma do rouxinol, alma de gente,”
E abala de manhã com o seu par…
Andava arreliado o rouxinol
E nesse voo, lindo, ele escutou:
Deixa te de lamúrias, olha o Sol!...
"Tu és, talvez, alguém que se finou!"
CLARISSE BARATA SANCHES - Góis, Portugal
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RESPIGANDO NA NET
Incrível animação para fazer as crianças se encantarem com o mundo dos livros - NotaTerapia
Curta-Metragem vencedor do Oscar mostra o poder que os livros podem ter nas crianças Uma história bem contada pode mudar a vida de uma criança. Ainda mais se for uma incrível …
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Seu filho é tímido? Precisa ampliar seu repertório cultural? O teatro pode ser uma excelente forma de abrir seus horizontes.
Educadora no berçário pode "fazer a diferença na adaptação dos bebés à creche"
Logo no primeiro mês de um bebé na creche, este passa cerca de sete horas por dia na instituição, indica um estudo do Politécnico do Porto (IPP) e da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP). Neste contexto, "ter uma educadora de infância na sala de berçário e promover uma boa comunicação entre a creche e a família podem fazer a diferença para a adaptação dos bebés à creche".
O Jardim de infância não é para aprender a ler nem a escrever – Eduardo Sá
“Devia ser proibido ensinar a ler e a escrever no jardim de infância”. A ideia foi defendida por Eduardo Sá no encontro “Vale a Pena ir à Pré”, uma iniciativa conjunta da Carlucci American…
Uma infância religiosa contribui para que o futuro jovem não tenha comportamentos de risco
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Horário das missas em, Jundiai ( Brasil):
Horário da missas em São Paulo:
Horário das missas na Diocese do Porto( Portugal):
http://www.diocese-porto.pt/index.php?option=com_paroquias&view=pesquisarmap&Itemid=163
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O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, 15 de junho, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) e Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa em 2006, objetiva criar uma consciência mundial, social e política da existência da violência contra a pessoa idosa, e, simultaneamente, disseminar a ideia de não aceitá-la como normal. Por outro lado, o elevado número de agressões registrado exige políticas públicas que assegurem a dignidade a essa faixa da população, suscitando das pessoas de todo o mundo, providências no sentido de respeitá-la em todos os aspectos e circunstâncias.
Tanto que a cidade de São Paulo registra diariamente 30 denúncias de maus-tratos contra pessoas da terceira idade – por hora, pelo menos um idoso é maltratado, segundo levantamento do Conselho Municipal do Idoso, que encaminha as queixas ao Ministério Público (MP). Os tipos de violência cometidos são os mais variados: vão desde maus-tratos, passando por abandono, até chegar a crimes contra o patrimônio da vítima.
A questão dos direitos fundamentais do ser humano, relevante por si só, adquire uma nova e inusitada dimensão quando considerada à luz do crescimento demográfico de todo o mundo, pois envolve, em relação à terceira idade, aspectos e peculiaridades que não podemos ignorar. Ela origina exigências de respeito, acatamento, reverência e solidariedade, tão importantes quanto os aspectos materiais e de saúde.
Como expusemos com mais abrangência em nosso livro “O Direito de Envelhecer num País Ainda Jovem” (Editora “In House” - 2006), reiteramos que atualmente, com a predominância do interesse exclusivo pela produção e consumo, ocorre gradual despersonalização do ser humano, com graves reflexos sobre o idoso. A falta de oportunidade ocasiona o seu isolamento, já que passam da condição de produtor para a de consumidor, gerando um processo de discriminação, espelhada na própria precariedade da política social. Tanto que a atuação da Previdência Social se restringe ao pagamento de humilhantes e minguadas pensões, com uma assistência médica distante, muitas vezes, das circunstâncias mínimas de um tratamento condizente com as enfermidades de que é portador. Por outro lado, quem mais lhe nega a realização de seus anseios, é exatamente a família, pois, em certos lares, ele passa a ser visto como um “estorvo”. Esquecem-se os parentes próximos de tudo o que ele fez por seus filhos, principalmente as renúncias para propiciar-lhes melhores condições de vida.
Na realidade, o ancião não precisa de esmolas, mas de justiça e de direitos como o de viver, de envelhecer, de lazer e de ter uma medicina preventiva. As instituições federais, estaduais, municipais e entidades afins, necessitam efetivamente criar programas de assistência à velhice, bem como, desenvolver, através de campanhas educativas e seminários, a consciência sobre a importância de um trabalho de prevenção à sua marginalização. Despertar na sociedade que ele mesmo ajudou construir, uma visão ampla das possibilidades de aproveitamento da força laborativa dos idosos; a experiência, a criatividade e a imensa capacidade de amor e energia que podem transmitir, como meio, inclusive, de combater e prevenir os problemas relacionados com sentimentos de inutilidade, solidão e infelicidade.
Já se disse que o nível de evolução de uma sociedade se pode aferir por vários indicadores sociais, mas o respeito principalmente devotado aos idosos e crianças, atesta em profundidade o grau de civilidade das pessoas. O interesse e reverência nesses casos traduzem a consciência de responsabilidade que a comunidade dispõe para garantir a subsistência em níveis de dignidade e segurança. Em condições ideais, jovens e idosos devem desfrutar de atenção, recursos de educação, saúde, transporte, moradia e lazer, como benefícios outorgados na construção da sociedade do futuro e no reconhecimento pelo que foi realizado em vida.
Por isso, nada mais justo do que outorgar as pessoas da terceira idade, respeito e dignidade plena. Encerramos, invocando o célebre filósofo Norberto Bobbio: “O velho sabe por experiência aquilo que os outros ainda não sabem e precisam aprender com ele, seja na esfera ética, seja na dos costumes, seja na das técnicas de sobrevivência”.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
No dia 15 de março último, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo realizou sessão solene de homenagem à memória de D. Duarte Leopoldo e Silva, 13º. Bispo e 1º. Arcebispo de São Paulo, por ocasião dos 150 anos de seu nascimento. Na mesma sessão, foi admitido como sócio titular do IHGSP o Cardeal-Arcebispo D. Odilo Scherer. Apesar do caos generalizado na cidade (pois nesse dia estavam simultaneamente em greve metrô e ônibus), compareceram mais de 70 pessoas, de modo que a sessão se revestiu de brilho condigno.
Para entendermos bem quem foi D. Duarte e qual seu papel, há que contextualizá-lo.
Até 1889, o Catolicismo romano foi a religião oficial do Império, o que lhe garantia uma situação extremamente privilegiada, de um lado, mas trazia sérios inconvenientes, de outro. De fato, por efeito do abusivo regalismo herdado de Portugal, na prática o Poder eclesiástico se via coarctado e, de certa forma, instrumentalizado pelo Poder civil.
Quando o Brasil se tornou República e declarou a Igreja separada do Estado, o Episcopado brasileiro condenou formalmente essa separação, na célebre Pastoral Coletiva de 1890, mas não deixou de ver com certo alívio que, “per accidens”, a separação lhe traria uma liberdade de atuação da qual anteriormente não gozava.
Até a primeira década do século XX, os bispos eram muito poucos no país. Em 1900, o Brasil possuía apenas duas arquidioceses (Bahia e Rio de Janeiro) e 15 dioceses. Os únicos Estados da federação que possuíam mais de um bispo eram Rio de Janeiro (que, além do Arcebispo da Capital tinha o Bispo de Petrópolis) e Minas Gerais (que tinha dois bispados, em Mariana e em Diamantina). A Diocese de Curitiba abrangia os territórios somados de Paraná e Santa Catarina, o Bispado de S. Paulo abrangia o Estado inteiro e também algumas poucas cidades do sul de Minas Gerais. Imagine-se, nas condições da época, o que não era uma visita pastoral – obrigação que cada bispo tinha de fazer, periodicamente, a todas as paróquias da sua circunscrição!
A grande expansão da Igreja, no Brasil e na América Latina em geral, se deu já no início do século XX. Na origem dessa expansão está o famoso Concílio Plenário Latino-Americano, realizado em Roma, em 1899, no final do Pontificado de Leão XIII. Quem organizou esse concílio e lhe deu uma vitalidade extraordinária foi um capuchinho espanhol bastante conhecido por seus livros de Teologia Moral, Frei José de Llavaneras, que no fim do concílio, como recompensa por seu trabalho, recebeu o título de Cardeal e retomou seu nome civil, pelo qual é hoje muito mais conhecido: José de Calasans de Vives y Tutó. Curiosamente, muita gente conhece a fama de Llavaneras como moralista e conhece a atuação do Cardeal Vives y Tutó, mas pouca gente sabe que são a mesma pessoa!
O Cardeal Vives y Tutó foi o confessor do Papa seguinte, São Pio X, e teve muita influência no pontificado deste, no qual teve prosseguimento o ímpeto de expansão do catolicismo latino-americano, diretamente impulsionado a partir de Roma. Foi o chamado processo de romanização da Igreja latino-americana. Já em 1922, a Pastoral Coletiva dos Bispos Brasileiros por ocasião do centenário da Independência foi assinada por um Cardeal-Arcebispo, D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, por 12 outros Arcebispos, 37 Bispos, 3 Prelados e 4 Administradores apostólicos de Prelazias em formação. A simples comparação numérica permite avaliar o desenvolvimento enorme da Igreja nesse período.
É precisamente neste ponto que entra em cena o homenageado D. Duarte Leopoldo e Silva. Ele se inseriu nesse movimento ascensional do catolicismo latino-americano e foi, assim como seu grande amigo o Cardeal D. Sebastião Leme da Silveira Cintra, figura exponencial dele.
Continuaremos a falar de D. Duarte no próximo artigo.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é jornalista profissional e historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Sessenta dias após o Domingo de Páscoa ou na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade ocorre a festa católica de Corpus Christi, celebrando o mistério da Eucaristia, o sacramento do sangue e do corpo de Cristo. Em muitas cidades, tradicionalmente, usa-se recobrir ruas principais com materiais coloridos como serragem, farinha e sal, formando motivos e símbolos cristãos, marcando o caminho pelo qual vai passar a procissão de fiéis. A festa foi instituída pelo Papa Urbano IV e a procissão simboliza a caminhada do povo de Deus em busca da terra prometida.
Confesso que para escrever o parágrafo acima eu tive que fazer uma pequena pesquisa para minimamente ser capaz de dar uma informação razoável, pois falta-me o conhecimento mais específico sobre o tema. Por outro lado, tenho várias lembranças especiais envolvendo essa data e hoje, ao escrever sobre o assunto, elas me invadiram o coração e me fizeram viajar pelo tempo.
Recordo-me de que, por algumas vezes, em cidades nas quais morei, inclusive, de ter ajudado a enfeitar a rua junto com outras crianças, encantada ao ver os desenhos tomando forma, dando conta de que o colorido invadia o que antes era somente asfalto. Nunca deixei de ter pena de imaginar tudo apagado no dia seguinte, depois da procissão passar. Ficava tudo tão colorido, tão alegre, assim como deve ser a alma daqueles que acreditam e tem fé no Divino.
Ainda viajando pelas minhas lembranças, encontrei uma que me é especialmente cara. Durante muitos anos, enquanto morei na casa dos meus pais, na cidade de Lins, a procissão de Corpus Christi passava na rua de casa. Não foram muitas as vezes nas quais eu participei da procissão, mas o fiz em algumas oportunidades. Talvez a memória esteja me pregando peças, mas eu me lembro de que em várias madrugadas ouvia a procissão passando e as pessoas em oração, entoando Ave-Marias e Pai-Nossos. Faltam-me palavras para descrever a cena, mas sou capaz de sentir novamente o conforto que as preces uníssonas me proporcionavam enquanto, na minha cama, eu me envolvia nas cobertas, no friozinho das primeiras horas do dia.
A razão maior pela qual as procissões de Corpus Christi guardam espaço privilegiado em minhas memórias afetivas é que invariavelmente dela participava, ano após ano, minha querida e hoje saudosa Tia Edna, minha madrinha, minha mãezinha do coração. Mulher de fé inabalável, tinha um coração que pertencia indiscutivelmente ao Bem, a Deus. Sempre que eu ouvia a procissão passando pela rua de casa, eu sabia que lá no meio seguia alguém em cujas orações eu estava. A festa dela, nesse ano, estou certa, é na Casa do Pai, no lugar no qual as taças sempre transbordam...
Voltando meus pensamentos para data em comento, eu me peguei pensando no mistério da Eucaristia, dentro daquilo que posso compreender. Assim, peço vênia por fazer analogias que provavelmente possam ser muito rasas, mas eu acredito que se as pessoas, católicas ou não, fossem mais capazes de compartilhar a mesma mesa, respeitando as diferenças, partindo o mesmo pão, bebendo do mesmo vinho, por certo seriam capazes de entender o milagre, a dádiva que surge sempre que se divide o que se possui, quando se dá ao outro mesmo o que não se tem. Sangue que se torna vinho e carne que se torna pão são milagres que se repetem simbolicamente sempre que alguém se dedica ao próximo, verdadeiramente.
O mundo, a propósito, está carente de tolerância para que se divida a mesma mesa, as mesmas ideias, para que partilhe o mesmo pão. Vivemos tempos nos quais o Corpo e o Sangue de Cristo quase não encontram morada terrena. Pouco ou nada fazemos ou mesmo propagamos que seja capaz de multiplicar o pão, de saciar a sede de quem vive na linha da miséria física e moral.
Se não tivermos a sensibilidade para ver que aos poucos, pela nossas ações e omissões, nossas mesas e corações se esvaziam, em breve seremos incapazes até mesmo de entendermos quais os erros cometidos e qual o vinho que devemos saborear para conhecemos o genuíno sangue de Cristo.
Fico no desejo de que não deixemos morrer em nós a certeza de que Deus se fez e se faz presente entre seus filhos, provendo-os de amor, do pão da vida e do sangue que nos redime de todos os pecados. Amém!
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
Resido em Jundiaí desde 1963. Às vezes, quando passo pela rua onde vivi mais tempo e por outras em que trabalhei, ou estava com maior frequência, incluindo as praças centrais, tento me reconhecer nos espaços ou busco características de décadas passadas. Encontro novas construções em terrenos conhecidos ou reformas que descaracterizaram as imagens que trago comigo. É uma sensação estranha, pois tudo me parece incomum e familiar. Dentro de mim, há uma janela que se abre para o passado e, através dela, consigo ver aquilo que me tocou o coração. São perfumes, tons, silhuetas, abraços, árvores frutíferas, flores, livros, cadernos, canções, preces... Creio que não me despedi de nenhum deles e nem desejo que isso aconteça. Impregnaram minha vida e permanecem. Sou, portanto, a soma do que aconteceu e do cotidiano. Mas sou, também, o acréscimo das histórias que meu pai contava com emoção. Inseriram-se em minha alma. Sou, igualmente, as histórias de minha mãe. Meus pais foram de vivências intensas e me carreguei delas, mesmo das que apenas ouvi o relato. Vivência de filmes, poemas, músicas, tango, fados, valsas, viagens, paisagens, montanhas, oceanos... Creio que exuberância seja necessária para cada instante. Ah, então concluo que esse familiar, onde nada mais é habitual, deve-se às forças das pegadas de quando passei por ali! Marquei o chão com pegadas fortes dos sonhos. Sou fértil em sonhos, embora se modifiquem.
Vem-me a “Arte de ser feliz” de Cecília Meireles: “... Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso olhar, para poder vê-las assim”.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
A Academia Jundiaiense de Letras, presidida por João Carlos José Martinelli, homenageia, neste sábado, às 9:30, na Sala Jahyr Accioli do Museu Histórico e Cultural de Jundiaí Solar do Barão, os Patronos e Instituidores da Fundação Antonio-Antonieta Cintra Gordinho. Com apoio de Paulo Vicentini, diretor do Museu, acadêmicos e funcionários, tudo indica que teremos uma bela manhã cultural na Terrinha. A apresentação musical do Projeto Batuta, com direção e regência de Sandra Gebram Mazzali, abrirá o evento. A seguir, Patrícia Razza, diretora administrativa geral da FAACG, fará exposição dos projetos e programas educacionais a que Fundação têm se dedicado ao longo dos anos.
Em breves palavras, a Cidade dos Meninos, projeto inicial da Fundação, foi criada a partir de ideia extraída do filme “Boys Town” (1938), assistido em viagem ao exterior realizada por Antonio Cintra Gordinho e sua esposa Antonieta Mendes Chaves Cintra Gordinho, com o intuito de atender à infância desamparada. Na década de 1960, seus primeiros anos, a Fundação apoia iniciativas de outras instituições afins. Em 1966, com a morte de Antonio, Antonieta volta sua dedicação inteiramente às ações filantrópicas da Fundação, que hoje leva o seu nome também. No ano de 1981 é inaugurada a segunda unidade, a creche Almerinda Mendes Pereira Chaves, na Agapeama, um tributo à mãe de Antonieta. Em 1999, é aberta a terceira unidade, Talita Kum Oficinas Educacionais, no Jardim Esplanada, em nossa cidade, atendendo a meninas.
Hoje a Fundação Antonio-Antonieta Cintra Gordinho e a Cidade dos Meninos e das Meninas têm por presidente Executivo Ismar Augusto Procópio de Oliveira e por vice-presidente Maria Thereza Passos Gordinho Amaral de Oliveira, continuadores da obra de Antonio e Antonieta e incansáveis batalhadores da memória e futuro da instituição, que abarca, o Núcleo Educacional Antonieta Chaves Cintra Gordinho, localizado no Jardim Novo Horizonte, o Núcleo Educacional São José, em Araçariguama, e a Fazenda Ermida, em Jundiaí.
O projeto da Academia Jundiaiense de Letras para homenagear Patronos das Escolas tem obtido êxito graças à colaboração de acadêmicos, divulgação da imprensa/mídia e participação do público. No programa de sábado, teremos o prazer de ouvir o orador Tarcísio Germano de Lemos e a honra de assistir ao pronunciamento do decano da AJL Jorge Luiz de Almeida. Até lá!
SONIA CINTRA - É doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora da Cátedra José Bonifácio - IRI/USP e membro efetivo da UBE. Fundadora e mediadora do Clube de Leitura da Academia Paulista de Letras e do Clube de Leitura Jundiaiense. Ex-presidente da AJL, oradora da Aflaj e madrinha do Celmi. Pós-graduada em Educação Ambiental, ensaísta e articulista de jornais, revistas e blogs nacionais e internacionais. Tem 13 livros publicados com tradução para o italiano, francês e espanhol
Os atuais e desastrosos jogos desafiadores da coragem dos jovens – não lhes citarei os nomes – têm abalado famílias no mundo inteiro. São desafios que forçam os jovens, entre 10 e 21 anos, a mostrarem coragem, força e autodeterminação.
A maioria dos jogadores é masculina. Por quê? Segundo profissionais, a educação familiar os leva a isso. Desde cedo, os meninos são submetidos a uma formação que lhes cobra masculinidade. Sem a intenção de prejudicar, lhes dizem, quando precisam enfrentar algum problema:- Seja homem! Homem não chora!
E, não querendo fazer feio, os meninos represam o choro e não exteriorizam a dor, porque isso demonstrará fraqueza.
A cobrança da masculinidade está ligada a não demonstrar vulnerabilidade. Uma dor de barriga ou uma queda levam à dor, seja em meninas ou meninos, mas estes últimos não a podem exteriorizar com choro.
A cultura da masculinidade está intrínseca na sociedade; não existe maldade, apenas costume arraigado.
As necessidades básicas do ser humano, como acolhimento ao sofrimento, abraços, beijos ou outras demonstrações carinhosas são considerados atos femininos.
Talvez isso explique o motivo de serem rapazes a maioria dos jovens que busca a prática de jogos desafiadores. Eles precisam mostrar coragem e força, jamais capitular ante um problema. Sentem necessidade de mostrar que não são covardes. Isso, aliado à curiosidade peculiar à idade, está arrebatando jovens vidas.
Também o número de suicídios é maior entre os homens pois, julgando-se autossuficientes, não buscam ajuda para resolverem problemas; essa ação seria uma demonstração de fraqueza.
Tratando-se de sofrimento, quer seja físico ou emocional, não existe distinção de sexo; apesar da diferença de receptação no córtex cerebral e no tecido conjuntivo, onde se localizam os receptores da dor, ele existe.
A expressão: - Homem não chora! deve cair em desuso se quisermos uma sociedade mais fraterna e igualitária. A sensibilidade é inata ao ser humano.
A cultura da masculinidade, machismo camuflado, está também na famigerada expressão: - Homem não leva desaforo para casa!
Ela incita à agressividade, ao revide. Os pais deveriam ensinar seus filhos a cultivarem a inteligência do controle emocional, do equilíbrio.
Cuidado papais! Homem chora, sim! Não criem adolescentes com máscaras e sentimentos falsos, isso pode levá-los ao autodesafio em jogos perigosos.
JÚLIA HEIMANN - é poetisa e escritora, autora de nove livros.
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