PAZ - Blogue luso-brasileiro
Domingo, 30 de Julho de 2017
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - ONZE DE AGOSTO: INSTITUIÇÃO DOS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL

 

 

 

 

Como nos anteriores, o nosso blogue, não será atualizado durante o mês de Agosto.

Reiniciará na primeira semana de Setembro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     Concedida a independência política ao Brasil, em 7 de setembro de 1822, urgia que se conquistasse também a independência intelectual. E assim, em 11 de agosto de 1827, foi assinada por Dom Pedro I e referendado pelo Visconde de São Leopoldo, a lei que instituiu os cursos jurídicos no Brasil, implantados, respectivamente, em São Paulo, num convento (o de São Francisco) e o de Olinda, no Mosteiro de São Bento, transferindo-se depois para Recife. E, hoje, esses dois cursos que foram, sem dúvida, o nascimento dos núcleos universitários brasileiros, completam cento e setenta e cinco anos de funcionamento, legando à Nação, durante todo esse tempo, homens de têmpera que participaram e fizeram a história da Pátria.

São muitos e importantes, os fatos que a aconteceram durante esse período. Segundo a historiadora e jornalista Thais de Carvalho, a implantação se deu depois de muitas discussões na Assembléia Constituinte, principalmente sobre aa localização, tendo o dispositivo legal colocado fim as controvérsias escolhendo São Paulo e Olinda para sedes das Academias de Direito.

Ressalte-se que a idéia da criação de um curso de ciência jurídica surgiu logo após a Proclamação da Independência do Brasil, quando José Feliciano Fernandes Pinheiro, o Visconde de São Leopoldo, propôs a criação de uma escola  de Direito no país. O projeto ficou pendente até que o deputado  Lúcio Soares Teixeira de Gouveia, de Minas Gerais, voltou a tocar no assunto em 1826. A proposta foi aceita, e na Assembléia, cada deputado queria trazer a escola para o seu Estado.

            Essa Escola fora sugerida por Fernandes Pinheiro para ter sede em São Paulo, mas recorda o sociólogo Gilberto Leite de Barros, em sua obra "A Cidade e o Planalto", que deputados não paulistas contra-indicaram a escolha da cidade, alegando que a Capital paulista "não passava de mero entreposto comercial do Planalto, e se achava contaminada pelas características da vida roceira. Diziam que os paulistas falavam mal nossa língua e não se preocupavam com os assuntos culturais, dedicando-se ao plantio de cana ou café ou aos negócios, animais e fazendas".

            Almeida e Albuquerque  reivindicava a instalação da Faculdade de Direito no Rio de Janeiro, dizendo que a "A Ciência do Direito em nenhuma parte pode, já com mais facilidade do que aqui na corte, onde a concorrência de jurisconsultos habilita a abertura do curso desde já".   

            Assim foi que com cariocas,  baianos e outros disputando a escola, só em 1827, quando era ministro do Império, o mesmo Fernandes Pinheiro é que se concretizou o idealismo desse paulista, que vencendo todos os obstáculos e a falta de visão do mundo, logrou a aprovação do projeto do dia 11 de agosto de 1927.

 

 

                            ARCADAS   

 

 

 

            No Largo de São Francisco, continuam as velhas arcadas da Faculdade de Direito. Nem mesmo o grande incêndio de 1880, que lhe destruiu parte do acervo histórico, fez com que o prédio agora pertencente à Universidade de São Paulo - perdesse sua primitiva fisionomia.

            Surgida em época oportuna - o momento da urbanização de São Paulo e Rio - a fundação da escola ajudou a politização e a formação da burguesia com professores e alunos passando a conhecer obras importantes como "Os Elementos de Direito Natural" de Zeiler; "Lições de Direito Constitucional" de Ramon Salles; "Curso de Direito Natural", de um grande jurista da época, Henry Aherns.

            De certa forma, pode se condensar o pensamento jurídica das primeiras  gerações formadas na faculdade, como influenciadas pela filosofia de Kant, que o professor Miguel Reale, resume nos seguintes pontos:- 1. "A idéia da liberdade como um direito inato"; 2, "O entendimento da convivência social como uma limitação recíproca de liberdade". 3 - "O respeito à pessoa humana como base da Justiça e fim da ordem social" e 4 - "O direito como condição dos árbitros suscetível de legitimar o emprego da coação".

 

 

                            GRANDES NOMES

 

 

            Ao todo, foram dez os presidentes do Brasil que passaram pelos bancos dessa faculdade, como Prudente de Moraes, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Wenceslau Brás, Delfim Moreira, Artur Bernardes, Washington Luís, José Linhares e Jânio Quadros, além de Júlio Prestes, eleito e não empossado.

            Foi pelas Arcadas que passaram também alguns nomes de expressão política, literária, romancista e poetas. São nomes de grandes juristas e parlamentares: Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Francisco Belisário, Ferreira Viana, João Mendes (pai), João Mendes Jr., Couto Ferraz Gabriel dos Santos, Carneiro de Campos, Pimenta Bueno, Teixeira de Freitas, Carlos de Carvalho, Lafaiete Pereira e Pedro Lessa. Ou também grandes oradores, como José Bonifácio, César Bierembach e Ibraim Nobre. Grandes jornalistas como Ferreira de Menezes, Justiciano da Rocha, Pedro  Taques de Almeida Alvim, Júlio de Mesquita, Rangel Pestana, Salvador de Mendonça e Quintino Bocaiuva.

            Desde o início, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco teve as atividades literárias associadas  as do estudo e do trabalho. E, no século XIX, o romantismo  teve nas Arcadas alguns de seus maiores expoentes como José de Alencar , Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Paulo Eiró, Fagundes Varela e Castro Alves. Ultrapassada a fase romântica, estudaram também na faculdade grandes escritores, romancistas do realismo e do naturalismo, como Raul Pompéia, Júlio Ribeiro. Inglês de Souza; poetas parnasianos, como Olavo Bilac e Raimundo Correia; simbolistas como Alphonsyus de Guimarães: pré-modernistas e modernistas como Monteiro Lobato, Antonio de Alcântara Machado e Oswald de Andrade.

            A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco sempre teve como característica, a luta pela liberdade e pela justiça social, apoiando todos os movimentos neste sentido, sendo que muitos saídos dela mesmo ou se não, levados a frente com a coragem e o ideal de seus alunos como o da abolição da escravatura  e o do monopólio do petróleo.

            No século XIX, as campanhas liberais em que se encontravam as lutas abolicionistas, lideradas por José Bonifácio, lente (professor) da Academia, ou por Joaquim Nabuco, eram enfatizados pelas peças teatrais de Paulo Eiró, escritas em 1853. Foram abolicionistas, também Raul Pompéia, Olavo Bilac e outros.

            Em 1932, é do Largo de São Francisco  que saem os estudantes em direção à Praça da República, para uma manifestação pública contra o regime, na qual caem mortos quatro paulistas, dando início ao Movimento Constitucionalista - MMDC. A faculdade se transformou num verdadeiro quartel, de onde saiam inflamados, oradores e soldados constitucionalistas, cuja memória é reverenciada até hoje.

            Os anos 60 foram marcados por greves e passeatas que novamente agitaram o Largo de São Francisco. E aconteceu, em 1966, outro lance marcante, quando os estudantes roubam a estátua "O Idílio", esculpida em 1920 em homenagem a Olavo Bilac, representando o invasor holandês beijando uma índia, completamente nua. Parte da opinião pública considerava imoral e por isso era difícil encontrar um local para ela. Até que o prefeito Faria Lima a colocou na entrada do túnel Nove de Julho.

            Em 1973, novamente, os estudantes repetem ousada ação. Autoridades colocam na USP, a pedra fundamental para a construção do novo prédio da Faculdade de Direito. Inconformados, pois não pretendem deixar as Arcadas históricas, os acadêmicos executam empreitada roubando a pedra e deixando em, seu lugar, um cartaz com os dizeres. "Quantas pedras forem lançados, tantas roubaremos".

            Continua influindo nas grandes decisões de São Paulo, tomando sempre a vanguarda para a defesa da constitucionalização - o facho da liberdade dos direitos humanos. No ano de 1977, durante as comemorações do Sesquicentenário da Instituição dos Cursos Jurídicos no  Brasil, foi lido um manifesto solicitando o retorno do Brasil ao pleno estado de Direito.           A respeito na ocasião, falou o saudoso professor Goffredo da Silva Telles: - "Curioso é que na Faculdade, o ideal do Direito e Justiça sempre preponderou sobre o direito existente. Houve sempre o respeito pela pessoa humana como sempre foi mais importantes e legitimidade do que a legalidade. O inconformismo com as situações existentes permanece".

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)

 

                           



publicado por Luso-brasileiro às 15:49
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - RESSURREIÇÃO DE JOSÉ MURILO ( SEM BIGODE E COM L SÓ )

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi com alegria que os sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro receberam, na última semana de janeiro, o desmentido do falecimento do nosso ilustre consócio Prof. José Murilo de Carvalho. Na verdade, quem morreu foi um quase homônimo seu, o diplomata José Murillo (com dois LL) de Carvalho.

Com a inteligência e o bom humor que lhe são característicos, o Prof. José Murilo (com um L só) dirigiu mensagem circular aos membros do tradicional Instituto, informando que tinha ressuscitado, ou melhor, esclarecendo que nem sequer tinha chegado a morrer. Não resisto à tentação de estender, aos leitores, a alegria que a todos nos contagiou, transcrevendo a mensagem circular, expedida pelo “ressuscitado” por meio da eficientíssima e muito estimada secretária da instituição, D. Tupiara Machareth:

“Uso os préstimos da Tupiara para agradecer as manifestações, por parte de colegas e amigos do IHGB, de preocupação com minha anunciada morte. Particularmente tocante foi a reação de nosso caro confrade o desembargador Antonio Izaías relatada por ele em bem-humorada carta a mim enviada.  Ao ler o anúncio no Globo, engravatou-se e heroicamente enfrentou a sensação térmica de 50 graus para ir ao São Francisco Xavier prestar-me suas últimas homenagens. Lá, apresentou condolências aos parentes, mas disse ter estranhado o longo bigode branco do morto, que destoava da imagem do confrade do IHGB, fato que  o deixou intrigado. A suspeita de um equívoco confirmou-se ao ser abraçado por um senhor de idade provecta que revelou ter sido colega do morto no Itamaraty. Fui salvo por um bigode branco. Para outros amigos, minha salvação veio da ausência de um L duplo no nome, isto é, veio da obediência ao acordo ortográfico que manda atualizar a grafia dos antropônimos. Reitero meus agradecimentos a todos e ao caro desembargador, em gratidão por seu gesto, libero desde já de comparecimento ao São João Batista quando chegar a vez do José Murilo de Carvalho sem bigode e sem L duplo. Um grande abraço, JM.”

Esse episódio me fez lembrar outro, muito famoso, ocorrido com o escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910). Quando, em 1897, foi noticiada erradamente sua morte, ele escreveu um artigo no qual esclareceu aos leitores que “a notícia da minha morte foi um pouco exagerada”.

Do sueco Alfred Nobel (1833-1896) também correu uma notícia falsa de morte. Os comentários acerca do “falecido” foram tão desfavoráveis e o deixaram tão desagradado que o inventor da dinamite resolveu fazer alguma coisa boa, no tempo que lhe restasse de vida, para ser lembrado pelos pósteros de modo menos crítico... E instituiu, com sua imensa fortuna, o Prêmio Nobel!

O poeta britânico Rudyard Kipling (1865-1936) leu, certa vez, numa revista, a notícia de sua morte. Imediatamente escreveu ao diretor: “Acabo de saber, por sua revista, que estou morto. Não se esqueça de excluir imediatamente meu nome da sua lista de assinantes”.

Recordo também um caso de humor negro, lido já não sei onde, de um Mr. Smith que, ao chegar ao hotel de veraneio, mandou um telegrama à esposa: “Querida, cheguei há pouco.  O calor aqui é infernal. Já reservei seus aposentos. Fico à sua espera no próximo fim de semana”. Acontece que o telegrama foi entregue, por erro, a uma outra Mrs. Smith, cujo marido tinha morrido dois dias antes...

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.



publicado por Luso-brasileiro às 15:40
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Sábado, 29 de Julho de 2017
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - AUSÊNCIA PATERNA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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No capítulo Diante da violência extrema: ouvindo os jovens ‘serenos’, do livro “A Formação de Jovens Violentos – Estudo sobre a etiologia da violência extrema” do sociólogo Marcos Rolim – Appris editora -, há um subtítulo: A família como dor, em que os entrevistados, internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), do Rio Grande do Sul, demonstram suas experiências problemáticas a partir da ausência paterna ou de incompreensão, hostilidade e mesmo violência sistemática oferecida pelos pais biológicos ou padrastos, ou seja, figura masculina de presença insuportável. Um dos entrevistados revela que teve, com o pai, um tipo de relação formal, sem qualquer investimento afetivo. Relata Nestor –pág. 168 -: “Eu falava com ele na rua, mas não era aquele afeto tipo pai para filho, sabe? Era oi, pá, eu apertava a mão dele e ele ia fazer as coisas dele e eu as minhas. Ele não me dava nada, eu não dava nada para ele e era isso aí”. “Colaborou”, por certo, em empurrá-lo para a criminalidade.
O acompanhamento paterno é tão importante quanto o materno. Há pai: de influência adorável, de ausência justificável, de convivência inconveniente e há, ainda, o pai que é uma incógnita.
O menino – conheço-o desde o ventre materno - tem apenas sete anos e dois irmãos, o de 20 e o de dois anos.  Reside com a avó por razões da família. Ao nascer, a mãe não havia encontrado a firmeza necessária dentre suas angústias. No primeiro dia de férias deste ano, comentou que desejava ir para a cidade da mãe, com o propósito de encontrá-la. Acrescentei: “Ver sua mãe e seu irmão”. Olhou-me com estranheza e questionou: “Meu irmão de 20 anos?” Esse irmão, dependente químico, foi preso, não faz muito, no tráfico.  Disse-lhe que não, o pequenino. Respondeu-me, de imediato, que esse não precisava de visita, porque possuía pai.
Tão novo e testemunhando a falta que um pai faz! Não há dúvida, portanto, sobre a razão da opacidade em seus olhos, do seu sorriso recolhido e da angústia que explode, inúmeras vezes, em choro convulsivo.
Enquanto alguns pregam relacionamentos sem laços de amor com responsabilidade, meninos e meninas oscilam nas ondas do mundo pela falta da âncora que chama pai. Pai de verdade assume, cuida, abraça, acompanha e mostra ao filho que é possível, no desequilíbrio dos passos, ancorar no porto de seu coração.

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 16:30
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - MINHA PEQUENA GIGANTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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               Desde que um gatinho, na verdade uma gatinha, adentrou a minha casa, simplesmente me encantei com o mundo dos felinos. Certo que já tinha contato anterior com eles, eis que, quando criança, os gatos, cinzentos e tricolores, eram figuras constantes no quintal dos meus avós paternos.

            Naquela época, contudo, não apenas por mim, mas por grande parte da família, eram vistos como as pombas que ficavam por ali. Não havia uma aproximação maior, muito embora eu sempre ficasse enlouquecida quando descobria o esconderijo de alguma mãezinha e seus filhotes.

            O fato é que somente agora, algumas décadas passadas, descobri o quão incríveis, amorosos e fascinantes esses animais podem ser. Ainda que eu sinta pelo tempo perdido, tenho alívio em saber que não deixei esse mundo sem conhecer essa forma de amor incondicional. E por mais que eu escreva ou fale, se você não teve um gato seu, jamais será capaz de entender.

            Atualmente tenho duas gatinhas, ambas resgatadas das ruas, ainda filhotes. Sem raça definida, são lindas como a diversidade é.  Belinha e Chica Maria se dão muito bem, apesar de terem comportamentos distintos. A primeira é mais corajosa e vive rodeando meus pés, sempre carregando um brinquedo na boca para que eu jogue longe e ela possa buscar. Já a segunda é meio desconfiada, mas adora um colo.

            Sabendo o quanto eu gosto, ofereceram-me um filhote de um gato gigante, o maine coon. Retirados de um criador ilegal, desses que exploram as matrizes até que morram exauridas, os filhotes foram desmamados cedo demais e estavam frágeis. Eu, que esperava receber uma gigante, recebi uma bebê raquítica, doentinha e linda, apesar dos pesares.

            De início constatei que ela não sofria dos pulmões, eis que miava muito sempre que ficava momentaneamente sozinha. Só sossegava se estivesse no colo ou perto das outras gatas que, ainda não ambientadas, representavam um risco passageiro ao animal que mais poderia ser confundido com um pequeno hamister.

            Eu havia escolhido para ela o nome de Mani, uma brincadeira com a ração a qual pertencia. Os animais adultos podem, nesse caso, pesar até 14 quilos. Diante do minúsculo animal que veio parar nas mãos, tratei de batizá-la de Mini. Uma amiga, inclusive, que veio até em casa, ao vê-la, encantada com a doçura do bichinho, apelidou-a de Dona Xícara.

            Foram apenas quatro dias de convívio com ela, mas o suficiente para que eu me apaixonasse e rogasse a Deus, que é Pai de toda Criação, para que ela pudesse sarar, pudesse ganhar peso. Pouco me importava se ela se tornaria ou não uma gigante. Ela poderia, inclusive, ser a primeira gata gigante anã que eu não me importaria.

            Viajei em férias e a deixei internada, aos cuidados do “veterinário da família”, responsável por acompanhar e tratar a bicharada há quase dez anos. Com uma infecção viral que se apossou do corpo mínimo da minha bebezinha, eles, ela e o veterinário, fizeram o que foi possível, mas a natureza seguiu seu curso e levou para o Infinito aquela que eu sonhava reinar faceira pela minha casa.

            Como um pequeno vagalume, cheia de luz e fragilidade, ela não conheceu, ao menos, só o pior das pessoas e apenas isso me serve de algum consolo. Sei que para muitos tudo isso pode parecer um exagero, mas para mim teve outro significado.

            Resta uma tristeza imensa pelo fato de que a morte dela não fez cessar a exploração e o sofrimento ao qual são submetidos milhares de animais criados em condições indignas e cruéis. Fica ainda a dor de não vê-la crescer, exceto nas projeções do meu coração.

            Acredito, contudo, que, em algum lugar, o qual meus olhos não são capazes de alcançar, o Bem sobrepuje o Mal e minha pequena gigante esteja correndo aos pés de alguém, livre, linda e feliz.

            Valeu Mini, a gente se encontra por aí...

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista.       São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com

 



publicado por Luso-brasileiro às 16:26
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LOURENÇO MIKA - O CASAMENTO POLINÊS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Os imigrantes poloneses chegaram ao Paraná por volta de 1871. Estabeleceram-se em várias regiões do Estado como: Ivaí, Araucária, São Mateus do Sul, Mallet, Cruz Machado, Contenda, Tomaz Coelho, Rio Claro, Reserva e Irati. Em Curitiba, eram a maior colônia polonesa no Brasil. Fixaram-se em núcleos coloniais em áreas dos atuais bairros de: Pilarzinho, em 1871; Abranches, em 1873; Santa Cândida, em 1875; Lamenha, Santo Inácio, Órleans, Dom Pedro II, Dona Augusta, em 1876; Ferraria, antiga Rivière, em 1877; Murici, Zacarias, Inspetor Carvalho e Coronel Accioly, em 1878. Os imigrantes poloneses dedicaram-se principalmente à agricultura. Difundiram o uso do arado e de outras técnicas agrícolas. Contribuíram para o desenvolvimento de Curitiba e do Paraná.

            Década de 1960 (época da infância deste redator, bisneto de imigrantes poloneses). Arredores da cidade de Curitiba. Mais exatamente, em foco as colônias rurais formadas pelos descendentes dos imigrantes poloneses. Entenda-se aqui colônia como o grupo de descendentes dos imigrantes que vieram da Polônia para o Brasil e que preservaram as tradições, as características culturais, a língua e a religião trazidas da Europa. Eram pobres, mas viviam muito bem. Embora tenham aprendido o português e tenham assimilado a cultura brasileira, os descendentes dos imigrantes preservaram muitas tradições, como é o caso do casamento tipicamente polonês.

 

 

 

O local e a data - A festa do casamento era feita na casa dos pais da noiva, num dia de sábado. Em décadas anteriores, o casamento era celebrado na segunda-feira e não no sábado. Para marcar o casamento, era preciso pensar em contratar uma cozinheira ( kucharka ) com seus tachos e talheres, uma bandinha de música ( musykanti ), o padre ( ksiads )... algo que tinha que ser feito com uns dezoito meses de antecedência. Marcada a data com esses três profissionais, então era hora de ir convidando o casal coordenador da festa ( druzba e druzbina ), os padrinhos e madrinhas , os condes e as damas ( sfat e druszka ). O convite geral era dirigido para os familiares e vizinhos; na prática, a colônia toda era convidada.

 

 

* Nota - os vocábulos em polonês aqui inseridos entre parênteses nem sempre existem no dicionário polonês porque são vocábulos criados nas colônias polonesas.

 

 

 

A Cozinheira - Prevendo alimentação para mais ou menos 500 pessoas por dois a quatro dias, a cozinheira se alojava na casa da noiva já na segunda-feira, quando encaminhava a arte culinária da semana. Na década de 1960, poucas casas tinham energia elétrica. Na terça-feira, ela assava as bolachas de mel com decoração colorida feita à base de glacê e açúcar. Na quarta-feira, ela cozinhava a cerveja caseira ( piwo ) e a gengibira, mais doce. Na quinta-feira, assava as broas ( chleb ) e o bolo da noiva ( kolacz ) e preparava a geléia de porco ( zimne nogi ). Dois ou três porcos eram abatidos pela manhã, tarefa que todo colono sabia fazer; já para matar o boi previamente engordado, era necessário chamar um açougueiro que possuía os apetrechos adequados. Na sexta-feira, dia em que os condes e as damas vinham para ornamentar o ambiente, a cozinheira se ocupava em preparar os frangos; o frango caipira tinha que ser novo e era doado pelos convidados ao casamento. Os pernis suínos eram assados no forno. Eram fritados os bolinhos de carne ( klopse ) e os sonhos. O açougueiro esquartejava a carne do boi. No sábado pela manhã, a cozinheira assava os frangos. Um grupo de mulheres fazia a maionese de batata e ovo, cozinhava o arroz, preparava as saladas de cebola e tomate. Numa grelha montada especialmente para a ocasião, vários homens se encarregavam de assar o churrasco. A refeição principal era servida pelas 15 horas, pois a cerimônia religiosa era oficiada na igreja pela manhã ou no mais tardar pelas 14 horas.

 

 

 

A despedida - os pais dos noivos não iam ao casamento religioso na igreja, pois eles estavam ocupados com a festa. Quem acompanhava os noivos na viagem à igreja eram os padrinhos, os condes e as damas. A noiva se trajava em sua própria casa, com o auxílio de uma pessoa da família que sabia vestir a noiva ( staroscina ). Por isso, havia o rito da despedida ( renkowiny ) dos noivos de seus pais. Nesse rito, eram declamados poemas e orações, intercalados por músicas religiosas. Por três vezes, de joelhos, os noivos pediam a bênção dos pais e estes, chorando, lhes impunham as mãos sobre a cabeça e traçavam o sinal-da-cruz. O druzba, falando em nome dos pais da noiva, dizia: “Nossa filha sempre foi tratada como rainha; se por acaso ela não servir para você, caro noivo, traga ela de volta que aqui ela será tratada sempre como rainha!” No final dessa cerimônia familiar, a staroscina jogava balas para os convidados e o druzba servia vodka para os homens e licor para as mulheres. Os sfaty eram encarregados de comprar os foguetes e os cigarros e charutos que eram colocados em caixas de sapato ornadas com papel crepom desfiado. Cada convidado de honra recebia pregada na roupa uma flor, que era de cedro verde com um lacinho de fita colorida. Para cada categoria de convidados (pais, padrinhos, sfatydruzba) havia uma flor diferente. Alguns dias depois do casamento, os noivos iam para a cidade para a foto do casamento; a noiva se vestia de novo e então era feito o retrato. Não havia fotógrafos no dia do casamento, muito menos câmara de vídeo.

 

 

 

O matrimônio - de carroça puxada por uma parelha de cavalos, ou de perua rural, os noivos se dirigiam até à Igreja. Havia flores de crepom penduradas no arreamento dos cavalos, nos fueiros ( konica ) das carroças, e, mais tarde, nas maçanetas dos automóveis. O matrimônio era celebrado dentro da liturgia da missa. Nessa época, a missa mudou do latim para a língua vernácula. O casamento era celebrado em polonês, dado que todos conheciam a língua. O Concílio Vaticano II instituiu a equipe litúrgica que ajuda o padre a celebrar a missa; as tarefas litúrgicas cabiam a alguns membros da família dos noivos. O casamento civil ( slub cywilny ) era feito alguns dias antes ou depois do casamento religioso, na mais discreta singeleza; iam ao cartório apenas os noivos e dois testemunhas, que também podiam ser qualquer pessoa encontrada nas imediações do cartório.

 

 

 

Os arcos - terminada a cerimônia religiosa, o séqüito viajava para a casa da noiva. No trajeto, os foguetes sinalizavam em qual parte do trajeto os noivos se encontravam. Nas estradas de chão batido, se chovesse, a carroça demorava mais, mas era mais seguro para ir e voltar, pois o jipe, a rural ou a caminhonete freqüentemente encalhavam no barro. Nas principais encruzilhadas, desde o dia anterior estavam montados arcos ( bramka ), com duas taquaras verdes e enfeitadas com flores coloridas de crepom. O arco principal ficava na entrada da casa onde seria a festa. Os convidados para o casamento não iam para a igreja, mas calculavam o tempo para chegar na festa antes de os noivos chegarem da igreja. O druzba e a druzbina recebiam os convidados com um aperitivo, recolhendo os presentes para os noivos, que eram panelas, talheres, ferramentas, quadros religiosos e até guarda-chuva.

 

 

 

A festa - Enfim, a festa vai começar. Tão logo chegavam da igreja, os noivos serviam o bolo ( kolacz ) para os convidados. Os sfaty serviam - de novo - vodka e cigarros para os homens; as druszki distribuíam balas para as mulheres e crianças. Então, aos poucos os convidados se sentavam à mesa; as mesas eram montadas no paiol. A tarefa dos sfaty era servir a carne e a cerveja, enquanto as druszki serviam a comida. Como o espaço não era muito grande e eram poucos os pratos e os talheres, era necessário servir em duas a quatro mesadas.

 

 

 

A dança - terminada a comilança, as mesas eram rapidamente desmontadas para a dança. O paiol se transformava na pista de dança ( boisko ), que era enfeitado no teto com taquaras verdes e flores de papel e galhos de cedro pregados nas paredes. No início, o druzba dançava com a noiva ( wywodziny ) e a druzbina dançava com o noivo. Então os noivos passavam a dançar juntos. Druzba e druzbina dançavam com cada um dos pares de condes e damas, até o último casal. Daí a dança ficava livre até o amanhecer do dia. Cada pouco, alguém gritava: Viva os noivos! ( Niech zyja nam! ). Cada conde tinha o direito de realizar um szimango, isto é, se normalmente o rapaz tirava a moça para dançar, no chimango era a moça que podia tirar o rapaz. O chimango era sinalizado por um lenço branco pendurado num aro ao lado do abajur/globo ( kwiat ) principal do boisko

 

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A música - as bandinhas musicais da época utilizavam o violino, o acordeão, o clarinete, o baixo ( basy ) e o bumbo. Como não havia energia elétrica e nem amplificadores de som, o melhor clarinetista era aquele que conseguia soprar com mais força no seu instrumento. As bandinhas eram familiares - pai, filho, genro, cunhado. Na Colônia Dom Pedro II eram famosos os Halerz; na Colônia Cristina, o Wojtek Olbrech e seu conjunto. As músicas de maior sucesso era um xote ( Sokola ), uma marchinha ( Na Zielonem Gaju ) e uma valsa ( Sla Dzieweczka do Laseczka). A Rádio Cambijú de Araucária-PR, hoje Rádio Iguaçu, cedia espaço para que essas bandinhas se apresentassem na rádio aos domingos; quando surgiu o gravador de cassete portátil, as músicas eram gravadas no casamento para serem reproduzidas na radioemissora. É famosa até hoje (ano 2003) aos domingos à tarde a Hora Polonesa ( Godzina Polska ) na Rádio Iguaçu, que pode tocar os CDs de música polonesa de algumas bandinhas remanescentes como: Celso Taborda, Grupo Musical Bela Vista, Musical Solo Ignácio Arendt, Coração Nativo, Grupo Ponczek... Celso Taborda possui o site www.musicapolonesa.com.br, através do qual se pode ouvir trechos de música polonesa.

 

 

 

A dança da mesa - pelas 22 horas, era realizada a dança da mesa, o czepowiny ou odczepiny. Os noivos eram colocados sentados à mesa ao centro do boisko, juntamente com os padrinhos. Cada conde e dama tinha a tarefa de ir buscando cada um dos convidados, dançar uma volta com o convidado ao redor da mesa dos noivos. Aí, o convidado pagava a gratificação do casamento, depositando uma cédula de dinheiro no prato dos noivos. A compensação da gratificação era um novo cálice de vodka ou licor, ou balas, ou cigarros. Não havia o costume de cortar a gravata do noivo ou recolher moedas no sapatinho da noiva. No final, o noivo ficava sentado à mesa e a noiva escolhia alguns rapazes para dançar com eles, o que era uma grande honra. Ao final dessa cerimônia, a noiva se sentava no colo do noivo e as senhoras casadas retiravam ( odczepic ) o véu da noiva e então ela recebia um lenço-de-cabeça ( chustka ); a partir dessa hora, já como mulher casada, ela passava a usar o lenço todos os dias. Fazia-se uma brincadeira, em que as casadas puxavam a noiva para o lado delas e as solteiras puxavam-na para o lado das solteiras. Enquanto isso, os homens respeitáveis, trajados de chapéu, em qualquer canto, com um baralho bem surrado, improvisavam uma mesa para jogar uma eletrizante partida de truco.

 

 

 

Poprawiny - a música e a dança continuavam até o amanhecer do dia. Para repor as energias, pela meia-noite era servido um cafezão com a comida especialmente preparada para essa hora: pastel de requeijão ( pierogi ), bolinho de carne ( klopse ), geléia de porco ( zylcz ), bolachas, sonhos, bolos, cuques... No almoço do dia seguinte, domingo, parentes e vizinhos iam de novo na casa da noiva para um almoço festivo - repique - , chamado poprawiny; se algo não foi bom no dia anterior, agora era reparado! A legitimação de se comparecer nesse almoço era a desculpa de se oferecer para fazer a limpeza do pós-casamento; porém, depois de tanto piwo e vodka, o serviço ficava, naturalmente, para os donos-da-casa para a segunda-feira.

 

 

 

Patatisko - casal que casa, quer casa para morar. O primeiro local que o filho ou a filha do casal polonês pensa em morar é ao lado da casa dos pais, ou seja, no Patacisko. Explicando: Patacisko é o local aonde se plantava batata-doce ( pataty ) para a alimentação da vaca ( krowa ) e do porco ( swinia ). Todo dia, a dona-da-casa ( babka ) tinha a tarefa de ir buscar a batata-doce para os animais, com o auxílio de um carrinho-de-mão ( toki ). Por isso, o Patacisko tinha que ficar perto da casa. Nas colônias mencionadas, há centenas de casas construídas no Patacisko. O pai era um pequeno lavrador; a mãe, dona-de-casa e responsável pela criação de animais. A casa sempre era construída perto de um córrego para facilitar a água para os animais. Na propriedade, sempre havia um poço de água potável; para cavar o poço, a fonte subterrânea era localizada com o auxílio de um ramo de pessegueiro em forma de Y, que se curvava no local da fonte nas mãos de uma pessoa que conhecia a técnica de encontrar água subterrânea. O potreiro, cercado com arame farpado, servia como pasto para eqüinos e bovinos. As terras férteis mais ao longe da casa eram destinadas para a plantação de batata, trigo, centeio, cevada, milho, feijão, ervilha, repolho... Olhando da janela da casa-mãe, a babka - mãe ou sogra - conseguia controlar no Patacisko as briguinhas do casal novo, as brincadeiras dos netos, a hora de as crianças irem para a escola, a hora que o genro chegava em casa, e, ai, se voltasse bêbado...

 

 

 

A Língua - até hoje (ano 2003), nas colônias polonesas pode-se falar a língua polonesa, especialmente com as pessoas mais idosas. Havia escola que ensinava o polonês, a missa era em polonês. Sobraram cantigas de natal ( kolendy ), de quaresma ( gorzkie zale ) e folclóricas que até hoje são cantadas nas festas polonesas. Na época de natal, havia a apresentação do Turon, uma espécie de bode (não se conhecia o papai-noel) que visitava todas as famílias. Para crianças de primeiro ano de escola, a desgraça ficava por conta de encontrar um professor que não entendia o polonês, como é o caso de Campo Largo-PR, onde havia colônias de poloneses e italianos; o professor era italiano e os alunos poloneses eram chamados de Polako Burro. Foram criados termos que não existem no dicionário da Polônia, mas que aqui no Brasil possuem um significado pitoresco e intraduzível para o português; para exemplificar, Patacisko (local onde se plantava batata-doce).

 

 

 

Os sobrenomes - Se alguém folhear a lista telefônica da região metropolitana de Curitiba, encontrará centenas de sobrenomes poloneses. Os que terminam em ...wicz (Machniewicz, Markowicz, Kudlawiec, Antosiewicz, Wachowicz), os que terminam em ...ski (Biernacki, Lukasinski, Belinowski, Zielinski, Zytkowski, Kwiatkowski, Ruzyski, Burkowski, Gorski, Dombrowski, Szydlowski, Grochocki, Wroblewski, Krzyzanowski, Ciachorowski), os que terminam em ...a (Mika, Sikora, Nalepa, Kula, Valenga, Przepiura, Bora, Kuzma, Krupa, Lipka, Gorka, Lica, Gogola), os terminados em ...k (Belniak, Surek, Hajduk, Szpak, Kmiecik, Jarek, Patyk, Ponczek, Rendak, Lalik, Bolak, Golombek, Cyulik), e mais alguns (Halerz, Dybas, Falat, Lau...). Os poloneses, ao redor de Curitiba, não gostavam se serem chamados de Polakos, pois este termo era pejorativo; preferiam ser chamados de Poloneses. Em troca, os poloneses chamavam os negros de Zielone; falar de negro ( czarny ) era passível de taxação preconceituosa, mas podia-se chamá-lo de Verde ( Zielony ). Havia dois grupos rivais de poloneses: os urbanos, 5% ( miastuchy ) e os rurais, 95% ( kolonisci ). Curiosamente, nos cartórios de registro civil no tempo da imigração houve tradução literal de nomes e sobrenomes da forma mais incrível: Sikiera tornou-se Machado, Kowalski tornou-se Ferreira...

 

 

 

A lavoura - a lavoura tipicamente polonesa trouxe ao Brasil ferramentas cujo modelo só é encontrado nesta região: arado ( plug ), aradinho de três lâminas ( radlo ), grade retangular ( brona ), grade triangular ( bronka ), carrinho sem rodas puxado por cavalo ( sanie ), ventilador para cereais ( mlynek ), foicinha ( sierp ), gadanha ( kosa ), moedor de milho ( zarny ), picador de palha ( siedczarka ), berço balançante ( kolyska ), costurador de pele curtida ( szydlo )... No prédio da casa e do paiol sempre havia o sótão ( pientro ), onde era possível guardar sementes ou feno para o inverno. Alguns utensílios domésticos eram típicos: fazedor de manteiga ( maslanka ), azedador de repolho ( beczka ). O krzan, raiz branca amarga usada na Swienconka, até hoje não possui um termo equivalente em português. No final do verão, o feno ou papuã era secado e empilhado ao redor de um tronco ( klopa ) para servir de alimento para o gado no período do inverno. Plantava-se batata-doce, batata inglesa, repolho, ervilha, centeio, feijão, arroz, linhaça, cebola, alho, beterraba... Para malhar o trigo ou para descascar o milho no paiol, havia mutirão ( pisieron ); o pisieron acabava em baile. Quando um lavrador, passando pela estrada, enxergava um colega a capinar a lavoura, levantando o chapéu, bradava: “Deus te ajude!” ( Boze pomagai! ), ao que o outro respondia: “Deus te pague!” ( Bóg zaplac ).

 

 

 

A carroça - a imigração polonesa ao Paraná destaca-se pela difusão da carroça ( wóz ) puxada por dois cavalos. A carroça representou um ciclo intermediário entre o transporte em lombo de burro e o transporte ferroviário e rodoviário. A carroça possuía um cabeçalho ( dyszel ), na ponta do qual era atrelado o arreamento ( sciengel ) do cavalo. As rodas da carroça possuíam uma chapa de aço ( rajfa ) e raios de madeira ( sprechy ). Os fueiros ( konica ) seguravam as paredes ( wasong, zotol ), artisticamente entalhadas e pintadas em várias cores. A carroça podia ser usada para transportar pessoas, quando eram colocados assentos de mola, ou para transportar cargas de até meia tonelada. Em dias de festa, eram colocados os guizos na coleira dos cavalos. A carroça polonesa era bastante diferente da carroça italiana, mais leve e para um cavalo apenas.

 

 

 

Os animais - em cada propriedade, era costume haver uma criação de animais que incluía vaca de leite, touro e porco para a carne, galos e galinhas para produção de ovos, cavalos para a tração animal. Por isso, sempre havia estábulo ( stajnia ), chiqueiro ( chlewek ), galinheiro ( kurnik ); incluindo residência e paiol para depósito e garagens, em cada propriedade rural havia no mínimo cinco construções cobertas com telhas de barro. Os animais criados para a defesa da propriedade eram os cachorros; os gatos moravam no paiol para caçarem os ratos. De vez em quando, no leilão da festa da igreja, era interessante arrematar um cachaço para poder melhorar a raça da criação de porcos. O mesmo podia acontecer ao arrematar uma abóbora, um casal de marrecos ou gansos - para produzir penas para o edredom ( pierzyna ) - , um cabrito, um coelho...

 

 

 

A cultura polonesa - Certamente o maior vestígio da cultura polonesa na região de Curitiba é a religião católica e a língua polonesa. Surgiram também profissões tipicamente polonesas, como a de ferreiro ( kowal ), cavador de poços ( studniarz ), construtor de casas ( budownicz ), moinheiro ( mlynarz ), alfaitate (  krawiec ). É notável também a influência da culinária polonesa (repolho azedo, pastel de requeijão...), da música e das tradições folclóricas (Clube União Juventus, Sociedade Tadeusz Kosciuszko, Sociedade Józef Pilsudzki, Centralny Zwiazek Polaków ).

 

 

 

A religião - As tradições polonesas estão intimamente ligadas ao catolicismo. As colônias polonesas eram atendidas pelos padres missionários vicentinos poloneses que formaram uma paróquia em cada colônia: Tomaz Coelho, Orleans, Araucária, Contenda, Catanduvas do Sul, Dom Pedro II, Abranches, Santa Cândida, Barreirinha, São Mateus do Sul, Irati, Ivaí, Imbituva, Prudentópolis, Alto Paraguassu, Itaiópolis, Mafra. A missa de domingo era o ponto de encontro dos poloneses, oportunidade em que colocavam todas as notícias em dia. Chegavam na igreja com mais de uma hora de antecedência. Depois da missa, iam na venda: os homens tomavam aperitivos, as crianças e mulheres tomavam capilé e comiam bolachas, e a prosa continuava solta. Aos domingos à tarde, havia o costume de visitar os parentes. Também havia comunidades de irmãs religiosas polonesas, como é o caso das irmãs franciscanas da Sagrada Família que se estabeleceram em Catanduvas do Sul, Orleans, Dom Pedro II, Campo Magro, Murici e Colônia Figueiredo; elas cuidavam da escola e selecionavam meninas vocacionadas para engrossar suas próprias fileiras. A celebração de Pentecostes ( zielone swienta ) era o dia em que a casa era enfeitada no interior e na varanda com ramos de cedro. A sala principal da casa era o oratório ( izba ), onde havia um altar com estátuas do Sagrado Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria e os quadros de Nossa Senhora do Monte Claro ( Matka Boska Czenstochowska ) e de Santo Izidoro, o protetor dos lavradores. Toda noite, a família se reunia na izba para a reza do terço de Nossa Senhora. Quando vinha a Capelinha de Nossa Senhora, os vizinhos vinham rezar junto, porque depois da reza havia comida e bebida. No sábado da Semana Santa, se fazia a Bênção dos alimentos ( Swienconka ). Velório e enterro eram um ritual dos mais respeitados; na noite do velório, recitava-se o rosário de Nossa Senhora - 15 dezenas de Ave-Marias -, as ladainhas e os cânticos apropriados. Ao lado da igreja, sempre havia um cemitério; o enterro acontecia sempre com a missa de corpo-presente e a procissão até o cemitério, onde, na hora do sepultamento, se cantava o hino Serdeczna Matko e o Angelus ( Aniol Panski ).

 

 

 

O Bosque do Papa - Inaugurado em 1980, logo após a visita do papa João Paulo II a Curitiba. Fica na rua Mateus Leme, no Centro Cívico, ao lado do Portal Polonês. O Bosque do Papa envolve uma área de 48 mil m², onde existia uma antiga fábrica de velas. É cortado pelo rio Belém e inclui uma reserva de mata atlântica, com mais de 300 araucárias. Um ambiente agradável acolhe os visitantes do Bosque. O Memorial da Imigração Polonesa, em Curitiba, está instalado nas clareiras do Bosque. Reconstitui-se o ambiente em que viveram os pioneiros imigrantes poloneses, que chegaram em Curitiba por volta de 1871. É um museu ao ar livre que traduz a luta, as crenças, as tradições e o estilo de vida daqueles imigrantes. Calçadas de pedra, equipamentos e utensílios usados pelos poloneses, como uma carroça e uma pipa de azedar repolho, estão expostos para visitação. Realizam-se anualmente eventos culturais de tradição polonesa, como a Swienconka (Bênção dos Alimentos) no Sábado de Aleluia, e a festa de Nossa Senhora de Czenstochowa (Nossa Senhora do Monte Claro), em agosto. Sete casas construídas pelos poloneses, com troncos de pinheiro encaixados, foram transportadas do entorno de Curitiba para o Bosque. Uma das casas foi transformada na Capela de Nossa Senhora de Czenstochowa, em homenagem à padroeira da Polônia. O Bosque também conta com trilha ecológica, ciclovia, palco, loja de artesanato e uma casa de chá, ao estilo polonês.

 

 

 CONCLUSÃO

 

Muitos são os estudos sobre a cultura plasmada em Curitiba. É impossível analisar a população curitibana sem citar as etnias - poloneses, italianos, alemães, portugueses, ucranianos, japoneses... Portais, bosques e memoriais relativos a imigrantes são apenas a ponta de um grande iceberg que é a cultura do curitibano. Ficaram traços estrangeiros na língua, na religião, na arquitetura, nos costumes, na culinária... A chegada da energia elétrica na área rural não conseguiu modificar muito o imaginário coletivo, principalmente dos poloneses; antes, consolidou-o.

Os descendentes dos poloneses fixados na região de Curitiba abrasileiraram-se, mas preservaram muitos traços culturais. Com a mecanização da lavoura e a crescente urbanização, a família polonesa foi abandonando o modelo rural tradicional para assumir uma fisionomia urbana teledependente. Hoje, alguns bisnetos e tataranetos dos imigrantes poloneses moram no Patacisko; outros, que tiveram que ir morar na cidade, quando chega o domingo, carregam no bagageiro do automóvel uma caixa de isopor com latinhas de cerveja e viajam 20 a 40 quilômetros para fazer um churrasco no antigo Patacisko, porque ali ainda se pode comer uns pierogi da vovó; e no casamento da prima, dançar sokola.

 

 

Curitiba, Dezembro de 2003

 

 

LOURENÇO MIKA   -   Padre Vicentino, Curitiba.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- SIKORA, Mafalda Ales. Poloneses, sua História, sua Cultura. Colônia Dom Pedro II, 3 v. Campo Largo-PR, Gráfica Pema, 2002.

ANEXO ILUSTRATIVO

Visite: www.jaraguadosul.com.br/etnias

http://www.parques-curitiba.com/parques-natureza-turismo.htm

http://www.130anos.com/



publicado por Luso-brasileiro às 16:09
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ANTÓNIO VENDRAMINI NETO - PÉROLAS FUTEBOLÍSTICAS DO CHICÃO BATATA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Chicão foi um jogador de bola mediano, daqueles que, na gíria esportiva do futebol, é chamado de “boleiro”. Jogou em um dos times “grandes” da capital do Estado de São Paulo. Com o tempo e a idade chegando, decaiu de produção e, no final de sua carreira, acabou jogando em um time pequeno, de uma cidade do interior, que fazia parte da divisão principal.

 

Nesse time, jogava de médio volante, distribuindo as jogadas no meio de campo. Tinha inúmeros admiradores, inclusive as do público feminino que, aos domingos, assistiam emocionadas às suas jogadas.

 

Antes de entrar em campo, atendia a toda criançada que corria atrás pedindo um afago e um carinho e ele fazia com a maior boa vontade. Recebia, também, ramalhetes de flores das moças, o que, elegantemente, agradecia com um beijo na face e pedia licença para distribuir para uma torcida especial que ficava na curva da arquibancada, composta de senhores e de senhoras, moradores tradicionais da cidade.

 

Após os jogos, quando o time ganhava, desfilava todo garboso pela praça principal, onde havia um cinema; e as pessoas, na fila de espera sobre a calçada aguardando a entrada, lhe pediam autógrafo, que ele rabiscava em qualquer tipo de papel que lhe forneciam.

 

Tinha uma escolaridade muito básica e se expressava com alguma dificuldade, nas entrevistas dentro e fora do campo, mas, com o seu carisma esportivo, tudo superava; e tinha, ainda, uma presença de espírito que arrancava muitas gargalhadas das pessoas.

 

Era uma figura muito conhecida e candidatou-se a vereador, elegendo-se com uma quantidade enorme de votos; mas nem sempre podia comparecer às sessões da câmara, uma vez que privilegiava os jogos de futebol, à noite.

 

Em um dos seus últimos jogos, foi entrevistado por uma emissora do time da outra cidade que fazia um jogo local e era no período noturno. O repórter, com o microfone móvel na mão, chegou até o Chicão e disse:

 

- Mas que maravilha vê-lo aqui, meu companheiro! Diga uma boa noite para o nosso microfone.

Ao que Chicão, com a maior simplicidade, desse mundo respondeu:

- Boa noite, microfone!

 

O repórter deu uma disfarçada e foi entrevistar outro jogador. Mas o fato não passou em brancas nuvens; foi alvo de muita exploração jocosa na rádio e no jornal local, tornando-se um mote esportivo, essa pérola que o Chicão soltou nessa noite.

Algumas semanas depois, outro jogo importante aconteceu, com o time da cidade precisando ganhar de qualquer jeito; se perdesse o jogo, seria rebaixado para a segunda divisão. Mas o astro maior do time, o valoroso Chicão, estava contundido e não podia jogar aquela partida.

 

Desgostoso, compareceu ao estádio para incentivar os companheiros e, ficou junto ao alambrado falando palavras de ordem ao time que estava em campo, um pouco antes do início da contenda. Gritava em especial ao jogador que o substituiu, falando sem parar para que ele desse de tudo, até a alma, para ganhar o jogo.

 

Nessa altura, o repórter que estava dentro do campo, vendo o Chicão lá no alambrado, veio correndo com o microfone, colocando-o em frente a sua boca e fez a seguinte pergunta:

 

- E aí Chicão, o time vai sentir muito a sua falta?

- De forma nenhuma, comigo ou “sem-migo” o time vai ganhar.

 

Novamente foi comentado na rádio e jornal, mais uma pérola do repertório do valente jogador. Mas as coisas não pararam por aí; em uma temporada de amistosos, o time foi jogar em Belém do Pará. E lá no campo, antes da partida, respondeu a uma pergunta do intrépido repórter.

 

- Olá, grande Chicão, é uma alegria muito grande ver você jogando aqui em Belém; diga algumas palavras para a nossa emissora.

 

E o Chicão soltou mais uma de suas célebres frases:

 

- É uma satisfação muito grande vir jogar aqui nessa terra de Belém aonde nasceu Jesus Cristo!

  

Depois dessas e muitas outras, chegou o momento do final da carreira. Quanto à de político, não decolou, e foi até eliminado, porque não apresentava projetos e comparecia esporadicamente às reuniões semanais.  O presidente do time, para ajudá-lo, uma vez que não tinha família e morava na concentração do estádio, “ajeitou” um trabalho na emissora local, para livrar-se da fera.

 

O dono da emissora não teve como recusar o pedido, pois era um torcedor fanático do time e gostava dele como jogador. Ficou com aquele “abacaxi” e “arrumou” um serviço para ele ser ajudante de repórter, do que ele gostou muito, porque não saiu do meio esportivo; e para complementar o trabalho e fazer jus aos mirrados trocos que recebia, durante a noite, tinha que ficar de vigia no prédio da emissora. Durante o dia, ele dormia em um quartinho dos fundos do edifício, sempre com umas “cachaças na cabeça”. Nos dias de jogos, quando ele tinha que “trabalhar”, o faxineiro assumia seu posto de vigia.

 

Então, ele foi fazendo os serviços de auxiliar ao titular dentro do campo. A alegria era grande e até brincava de entrevistar os jogadores, enquanto o repórter fazia anotações para a transmissão da partida. No decorrer do jogo, o repórter sentiu uma fisgada na barriga e precisou correr para o vestiário, para aliviar a pressão intestinal e lá ficou, não conseguindo voltar para o trabalho.

 

O locutor de nome Amaral, muito famoso por suas narrações e com um grito de gol de dar inveja a qualquer um, no alto da cabine de transmissão, ficou desesperado, pois não tinha informações do campo; foi quando mandou um recado para o Chicão assumir no lugar do “cagão”. Ele fazia tudo o que lhe mandavam; aumente o som do amplificador, regule o volume da sintonia, cuidado para não chegar perto e dar microfonia etc.

 

O jogo se desenrolava com muita intensidade; em um momento agudo do ataque do time da casa, em um chute muito forte do lateral direito, a bola explodiu na trave e foi para a linha de fundo. Amaral disse:

 

- Agora é com você, Chicão, descreva a jogada em que a bola bateu no travessão.

- Pois é, Amaral, o nosso lateral tem pé de bosta, se fosse eu teria marcado o gol.

 

O coordenador da equipe correu para dentro do campo e deu uma “dura”, dizendo:

 

- Você não pode falar ‘bosta’ no microfone, tenha cuidado.

 

De repente, começou uma chuva torrencial; era daquelas de dar medo em gente grande, muita água por todos os lados do campo. A drenagem não dava vazão e o jogo teve que ser paralisado.

 

Para entreter os ouvintes, o locutor Amaral falou da cabine:

 

- Chove torrencialmente pelos quatro cantos do gramado.

 

- Chicão entrou no ar e falou:

 

- Inclusive do meio!

 

Foi um silencio total, o coordenador correu novamente lá para o campo e disse:

 

- Ô Chicão, cuidado com as besteiras, estamos no ar!... Aquele negócio da ‘bosta’ já está dando o que falar. O presidente da rádio já ligou e está uma fera com você.

 

Ao que ele respondeu.

 

- Ué, mas foram vocês que me colocaram aqui, porque o Jarbas foi defecar no vestiário e ainda não voltou.

 

- Está bom, fique mais um pouquinho até terminar o primeiro tempo.

 

A chuva castigava o estádio, o Amaral já quase não tinha mais o que falar e estava apreensivo, pois se chamasse o Chicão, poderia sair mais besteira. Mas a voz dele começou a ficar em tom baixo. O jogo estava parado, então pediu para o Chicão ver se dava uma “arrumada” no aparelho.

 

Pois é, minha gente, vou pedir para a nossa equipe técnica verificar o que está acontecendo, para restabelecermos logo o bom tom para a transmissão ficar legal, no momento em que o jogo recomeçar.

 

- Alô, equipe, (era só o Chicão), é só mexer no amplificador, que o som vai melhorar.

 

Chicão “entendeu” a mensagem e começou a “fuçar” nos botões do amplificador.

 

Nessa altura, a chuva tinha parado e o jogo iria recomeçar.

 

Amaral soltou a voz e pediu à “equipe” para melhorar o som.

 

- Alô, meus técnicos de som, como está o amplificador?

 

Chicão, que era a “equipe”, falou em pleno ar:

 

- Amaral, aqui em baixo é uma merda só, é choque para tudo quanto é lado, não aguento mais, até o meu rabo está pegando fogo.

 

Nessa altura, o presidente da rádio já estava no estádio “espumando”; chamou o Chicão no alambrado e pediu para ele se retirar do campo e mandou-o embora e mais o “cagão”. No dia seguinte, o Amaral também recebeu o bilhete azul.

 

O prejuízo foi grande, todos os patrocinadores se desligaram da rádio e foram para a estação rival e nunca mais ouviram falar do Chicão. Ficou, então, como um anedotário na cidade, em termos de transmissões esportivas, repercutindo até na capital, tendo até matéria esportiva em jornais sobre essas frases. E a passagem do Chicão, pela cidade, virou uma lenda, com as pessoas atribuindo outras pérolas ao Chicão, que ninguém sabe aonde foi parar.

 

 

 

ANTÓNIO VENDRAMINI NETO   -   escritor,cronista e poeta. Jundiaí, Brasil.



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FELIPE AQUINO - A IMPORTÂNCIA DOS AVÓS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Meu pai dizia que “alegria de velho é ser avô”. Hoje eu experimento essa verdade. Como é bom estar com os meus netos, contando estórias para eles, desafiando-os com “o que é o que é?”, jogando futebol, vídeo game, andando de bicicleta, desenhando para eles, enxugando suas lágrimas infantis, dando balas escondido das mães… Que coisa gostosa os netos!

 

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Mas em tudo isso eu procuro colocar nos corações deles a chama da fé, o amor às virtudes, o respeito aos pais, aos mais velhos, o amor a Deus e a beleza da vida que Deus lhes deu.

 

 

Na Oração do Ângelus no Palácio São Joaquim, em 26.07.2013, na JMJ, o Papa Francisco disse:

 

 

“Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma coisa: hoje, na festa de São Joaquim e Sant’Ana, no Brasil como em outros países, se celebra a festa dos avós. Como os avós são importantes na vida da família, para comunicar o patrimônio de humanidade e de fé que é essencial para qualquer sociedade! E como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente dentro da família”.

 

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Leia também: Vós os conhecereis pelos seus frutos

 

 

Penso que nessas palavras o Papa resumiu a importância dos avós na vida dos netos. Eles trazem consigo uma longa experiência adquirida na escola da vida, nos livros, nas lutas, nas lágrimas, na dor e nas alegrias. Eles já viram muitos morrer, já sofreram na própria carne as derrotas e os fracassos, e tiveram de se levantar novamente em cada tropeço. Por isso eles podem ensinar os filhos e netos a fugir do perigo. É muito melhor aprender com os erros dos outros do que com os próprios erros.

Diz o livro dos Provérbios que: “A beleza dos jovens está na sua força, e o enfeite dos velhos são os seus cabelos brancos” (Pr 20,29). O homem moderno “conquistou o universo, mas perdeu o domínio de si mesmo”, disse Michel Quoist; por isso “sente-se ameaçado por aquilo mesmo que construiu com sua inteligência e com suas mãos”, disse João Paulo II. Isso porque falta-lhe sabedoria. E essa os avós trazem na alma. Não basta a ciência e a técnica, é preciso cultivar os valores éticos e morais. Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida, mas para o sábio, é a época da boa colheita.

“Não são os anos que nos envelhecem; mas sim, a ideia de ficarmos velhos. Há homens que são jovens aos oitenta anos, e outros que são velhos aos quarenta”, disse o Pe. Antônio Vieira (1608 – 1697). Um ancião que soube como o vinho, envelhecer sem virar vinagre, saberá agradar os netos e fazê-los crescer em sabedoria e santidade.

 

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Assista também: Mensagem Especial aos avós

A importância dos avós na criação dos netos

Quem foram os avós de Jesus?

 

 

Neste mundo tão corrido onde os pais e mães se agitam com muitas atividades, muitos filhos ficam sem as suas presenças tão importantes. Então, cresce mais ainda a importância dos bons avós que podem suprir essa falta. É um verdadeiro apostolado da terceira idade. Os avós podem ser hoje os primeiros catequistas dos netos, quando os pais já não podem fazer isso; especialmente naqueles casos em que falta um dos pais na vida do neto. Sem dúvida não é uma missão fácil por causa do peso dos anos, mas é uma tarefa magnifica num mundo onde começam a desaparecer os verdadeiros valores morais e espirituais.

 

 

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.



publicado por Luso-brasileiro às 15:47
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PAULO R. LABEGALINI - NOSSOS COMPROMISSOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Um cavalo de raça ficou doente e seria sacrificado pelo dono no final de semana se não melhorasse. Logo na terça-feira, quando soube, o porco foi até a cocheira animar o amigo:

– Você vai ficar bom! Alimente-se bem e movimente-se o mais que puder.

No dia seguinte, lá estava o porco novamente:

– Puxa, como você melhorou! Amanhã, iremos passear juntos, certo?

Na sexta-feira, vendo o cavalo desanimado, o porco insistiu:

– Levante-se! Você não pode se entregar! A vida é bela e ninguém vai matá-lo se quiser continuar vivendo.

Assim, com a ajuda do amigo, o puro-sangue saiu para o pasto e foi ganhando forças para vencer rapidamente a doença. E quando o fazendeiro viu seu estimado animal curado, chamou imediatamente o caseiro e ordenou:

– Mate o porco para comemorarmos este grande acontecimento com um belo jantar.

Embora irreal, este conto nos lembra como a vida pega a gente de surpresa, mesmo sem o envolvimento de pessoas mal intencionadas. Mas os imprevistos serão menores quando assumimos compromissos com Jesus, concorda? Além de crescermos em espiritualidade, sempre recebemos outros presentes do Céu.

Por exemplo, quem conhecer os fatos de minha cura física e interior, certamente crescerá um pouco mais na fé. Da mesma forma, todos que aplicarem as técnicas que conheço para melhor administrar o tempo, provavelmente alcançarão sucesso pessoal e bons resultados profissionais. Assim, vou multiplicando os talentos que recebi.

E você, o que tem feito com os dons que Deus lhe deu? Não pense em usá-los apenas em seu favorecimento, mas também em ajudar o próximo: sua família, seus amigos, seus inimigos e Jesus Cristo na pessoa do pobre! Eu concordo que ‘amar o próximo como a si mesmo’ é difícil, mas quem confia na providência Divina sofre novas conversões a cada dia.

E como dizia São Paulo, o dom mais importante é a caridade, que precisa ser um compromisso assumido com Deus. Mesmo quem pensa assim, será que anota na agenda a necessidade de ajudar o irmão que sofre?

Há gente triste por toda parte e precisamos mostrar o lado bom da vida. Eu sempre digo que isso se resume em amar a Deus e ao próximo. Aliás, foi Jesus que disse isto e Ele gosta que repitamos muitas vezes. Se colocarmos em prática então, iremos agradar a Deus ainda mais, além de deixarmos bons exemplos aos menores.

Contam que um menino saiu do cemitério de mãos dadas com a mãe, após o enterro do pai. Ela chorava copiosamente e dizia a todos que seria muito difícil a vida sem aquele homem maravilhoso. Foi quando o filho falou:

– Mamãe, o papai não morreu. Ele vive em mim através de tudo o que me ensinou! Somente o seu corpo não está aqui, mas ele falará por mim quando eu for obediente, quando for honesto, quando eu perdoar os meus amigos...

– Está certo, querido, mas a mamãe está triste.

– Um dia, papai me disse que eu poderia ter certeza que ele sempre estaria ao meu lado. E agora eu acredito que ele vive através da herança do amor que nos deixou.

Pois é, quanta gente já partiu do nosso meio deixando sementes de paz em nossos corações, não é mesmo? Jesus quer o nosso peito bem aberto para poder entrar e regar as sementes que ainda não brotaram. Quem lhe der abrigo, assumirá o compromisso de cuidar da nova planta que irá nascer. A cada dia, terá que adubá-la com oração e muito amor.

Não podemos esquecer que o nosso coração só tem fechadura do lado de dentro. Se não o abrirmos espontaneamente, nem Jesus entra! E você, quer assumir o compromisso de aceitar Maria e José como hóspedes no seu coração? Eles farão renascer o Filho tão amado dentro de ti.

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas



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Sexta-feira, 28 de Julho de 2017
HUMBERTO PINHO DA SILVA - O PÚLPITO ELECTRÓNICO E A NOVA TV CATÓLICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se não estou em erro, a primeira vez, que um evangelista usou o púlpito electrónico, no Brasil, foi em 1977. Tratava-se de Rex Humbard.O programa era transmitido, semanalmente, na TV Tupi. Em Portugal, chegou anos mais tarde.

Programas religiosos, realizados pelas Igrejas, já havia no Brasil, e em Portugal; mas sua divulgação era restrita .

A chamada “ Igreja Electrónica”, está amplamente divulgada nos Estados Unidos. Alguns evangelistas, possuem verdadeiras empresas, que empregam centenas de pessoas.

O púlpito electrónico, quando realizado por evangelistas, tementes a Deus, com o único fim de divulgação do Evangelho, é de louvar e acarinhar. A Boa Nova, deve ser difundida, a todos, utilizando todos os meios de comunicação.

Em Portugal, a Igreja possui o Grupo Renascença, que muito tem feito pela expansão da doutrina de Jesus. São emissoras generalistas, que sempre tiveram o cuidado de transmitir, aos ouvintes, sólida doutrina.

Houve, há anos, a feliz iniciativa de lançar canal de TV católico, em Portugal. Ou fosse mal administrado, ou  desinteresse de muitos crentes, veio a encerrar de forma desastrosa.

Surgiu depois a TV “ Canção Nova”. Movimento que nasceu no Brasil, e que rapidamente se expandiu pelo mundo.

Hoje, a “ Canção Nova”, é, talvez, a TV cristã mais ouvida, e que maior contributo tem dado para a evangelização dos povos, mormente na América Latina.

Em Portugal, apareceu, recentemente, a 2 de Maio, a “ Angelus TV” (canal 187, nas operadoras: NOS e MEO,) que, além de transmitir a missa às 18H30, transmite, da Capelinha das Aparições, em Fátima, o terço, às 21H30.

Na grelha de programas, além da evangelização, tem: culinária, ginástica e saúde, etc.

Embora menos conhecida do que a TV “ Canção Nova”, tem o apoio da diocese Leiria-Fátima.

Problemas económicos, não permitem a existência de programas, que requeiram valores monetários elevados.

Seria bom, que as TVs católicas, tivessem telenovelas, baseadas na vida de santos; reportagens e debates, sobre temas da actualidade, sempre sob o ponto de vista da doutrina da Igreja; concursos bíblicos e de canção cristã; e programas sobre educação e saúde.

Pode-se fazer TV variada e apetitosa aos telespectadores, sem cairmos, exclusivamente, em actividade religiosa.

Para isso é necessário que os crentes, colaborem: ouvindo e participando; o que nem sempre acontece.

Sabemos a dificuldade que há em manter publicação de inspiração cristã. Poucos assinam, pelo menos, um jornal católico; e ainda menos contribuem, monetariamente, para a chamada Boa Imprensa.

A apatia ou desinteresse, faz, que estes vivam em tremendas dificuldades, e impede que possam melhorar: o aspecto gráfico e o conteúdo.

E é pena que assim seja.

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA    -  Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 14:19
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PINHO DA SILVA - O SONETO QUE CORRE O MUNDO A FAVOR DA VIDA, EM SEIS IDIOMAS : ESCUTA, MINHA MÃE...

 

 

 

 

 

http://www.diariocatolico.com.br/2012/01/o-soneto-que-corre-o-mundo-favor-da.html

 

 

 

 


Autor do soneto: PINHO DA SILVA
 
 
 
 
 
 
 
 
 


"Não matarás!..."
Êxodo, 20-13
 


Posso não ser "menino", mas sou VIDA!
Sou VIDA que começa, por meu mal!
Tem piedade, tem, minha mãe querida,
não sejas assassina pré-natal!

Matar, a Deus pertence, minha mãe,
e eu não quero morrer!...Que mal te fiz?!...
Antes não ser gerado!...Antes, também,
não fosses tu gerada, ó infeliz!...

Escrito, e claro, está: NÃO MATARÁS",
e Moisés legislou acerca do aborto (*)
(se abrires a tua Bíblia, lá verás!);

esta "coisa", portanto, tal qual é,
PELO TEU QUERER, SERÀ TEU FILHO MORTO!!!
Minha mãe, minha mãe...tu não tens Fé!!!...

(*) Êxodo, 21-22,25


PINHO DA SILVA - Vila Nova de Gaia, Portugal
 
 
 

ESPANHOL
 

Versão em lingua espanhola, do Prof. Doutor ANTONIO PERPIÑÁ RODRIGUES, da Real Academia de Ciencias Morales Políticas, de Madrid.
 


ESCUCHA, MADRE MIA...
 


Puedo no ser "niño", más soy vida.
Soy vida que comienza, por mi mal...
Y ten piedad de mi, madre querida,
no seas asesina prenatal.

Matar incumbe a Dios, ese es Su assunto,
Yo no quiero morir. Qué mal te hice?
Por qué me concibiste?... Y aún pergunto:
por qué te concibieron?; oh, infelice!

Bien claro se escribió: NO MATARÁS!
Contra el aborto legisló Moisés
(Si abres tu Bíblia, alli lo leerás).

Sin, esta "cosa", tal como es,
POR TU CULPA, SERÁ TU HIJO MUERTO!!!
Madre, no tienes fé, eso es lo cierto.


PINHO DA SILVA
 
 


FRANCÊS
 

Versão em língua francesa, do Prof. Doutor René Ehrentrant.


ECOUTE, Ô MA MÉRE...


"Tu ne tueras pas"
Exode, 20 - 13


Il est possible que je ne sois pas un enfant, mas je suis vie!
Je suis une vie qui commence, pour mon malheur!
Aie pitié, aie pitié, ma mère cherie,
Ne sois pas mon assassin avant même que je naisse!

Tuer n'appartien qu'à Dieu, ma mère,
Et moi, je ne veux pas mourir!... Quel mal t'ai je fait'?!...
Il eût été préférable que je n'ais pas été procrée...
Il eût été préférable, aussi, que tu ne fusses point engendrée, ô malheureuse!...

Il est écrit, et c'est clair, " Tu ne tueras pas",
Et Moise a legiferé, clairement, sur l'avortement
(Si tu ouvres ta Bible, tu le verras!);

Et, cependant, "cette Chose" existe, telle qu'elle est:
C'EST PAR TA VOLONTÉ QUE TON FILS SERA MORT!!!
Ma mère, ô ma mère, tu n'as pas la Foi!...


PINHO DA SILVA
 


INGLÊS
 

Versão em lingua inglesa. (Original by Pinho da Silva). Translated from Portuguese into English by Isaura Correia Santos. Escritora, cidadã honorária do Texas, USA.
 


LISTEN MOTHER O'MINE
 


"You shall not kill"
Exodus, 20-13
 


I amn't really a child but I am life
beginning springing up and doomed do death!
Pity on me, mother o'mine, mother o'mine,
not commiting a pre-natal crime!

Only God has the right to take life away,
mother o'mine, mother o'mine,
and I don't want to be killed - why should I?!
I did you no wrong, not even telling you a lie!

How much I wish I had not been brought to life!-
-neither you either, being you no fragile...
It is clearly written " YOU SHALL NOT KILL"

and Moses decreeded about miscarrying a Child (*)
(that you will ses if you open you Bible)
this very ,thing, as it is absolutely like,

"As you decide, so will your sonnie die"!!!
Alas! -you arent a faithful Christ's child,
mother o'mine, mother o'mine!

(*) Exodus 21-22,25
 


PINHO DA SILVA
 


ALEMÃO
 

Versão em língua alemã,
 


Hore, MEINE MUTTER...
 


Ich darf kein Junge sein, aber ich bin LEBEN!
Ich bin LEBEN das anfangt, fur mein Ungluck!
Habe Erbarmen, meine liebe Muther,
Sei kein Morder vor der Geburt!

"Toten, das ateht Gott zu", meine Mutter,
Und ich mochte nicht sterben!...Was habe ich dir schlechtes getan?!...
Mochte nicht erzeugt sein!...Mochte auch,
Du warst nicht erzeugt worden, du Ungluckliche!...

Geschrieben und klar steht: " Nicht Toten",
Und Moses hat gesetz gegeben uber die Abtreibung
(Wenn du deine Bibel offnest, da wirst du sehen!);

Diese sache folglich, wie sie ist,
Nach deinem wunsch ware dein Sohn tot !!!
Meine Mutter, meine Mutter... Du hast keinen Glauben!...
 


PINHO DA SILVA
 


JAPONÊS
 

VERSÃO EM LÍNGUA JAPONESA:
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PINHO DA SILVA – (1915-1987) – Nasceu em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Frequentou o Colégio da Formiga, Ermesinde, e a Escola de Belas Artes do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes e do mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia. Vilaflorense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal de Vila Flor.

Tem textos seus dispersos por várias publicações, entre elas: “O Comércio do Porto”, onde mantinha a coluna “ Apontamentos”, e no “Mundo Português”, do Rio de Janeiro, onde publicou as “ Crônicas Lusíadas”. Foi redator do “Jornal de Turismo”, membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, e secretário-geral da ACAP.
 
 
Do: " DIÁRIO CATÓLICO"  -  17 de Janeiro de 2012
 
 
 

Escuta Minha Mãe - SlideShare

 

 

 
 
 
 
 Escutaminha mãe... Pinho da Silva   -  Versão em português, Versão em espanhol, Versão em inglês.
 
 
 
 
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INFORMAÇÕES ROTARIANAS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

                                                                                                                                                                         

 

 

 

29 de julho de 2017, data em que se comemora o aniversário de fundação da Campanha Nacional de Escolas Comunidade - CNEC. São 74 anos de existência com milhares de unidades criadas, de norte a sul do Brasil, onde alguns milhões de estudantes desprovidos de recursos financeiros tiveram a oportunidades de matriculas, de tantas unidades ainda funcionam mais de uma centena com cerca de 100.000 alunos. São as conhecidas escolas cenecistas. http://www.cnec.br/. E tudo começou pela liderança de um jovem estudante, natural da Cidade de Picuí (PB), recrutando a participação de companheiros estudantes da Faculdade de Direito, em Recife, com a criação do primeiro estabelecimento, o Ginásio Castro Alves. Eu tive a oportunidade de conhecer o Dr Felipe em 1959/60, quando me tornei aluno do Colégio França Júnior, na Penha (Rio de Janeiro), passando a acompanha-lo em suas andanças até o final de sua vida. Faleceu, em Brasília, em 21 de abril de 1996, após 53 anos de trabalho dedicados intensamente à instituição.

Para homenagear a data, recorro mais uma vez ao Livro “História da CNEC”, escrito pelo fundador da instituição – FELIPE TIAGO GOMES – trazendo-lhes a narrativa das inúmeras dificuldades enfrentadas no transcurso de sua fundação.

 

 

PRIMEIRA VIAGEM AO RIO

 

Entravamos no ano de 1945, cheios de esperanças no funcionamento oficial do Ginásio Castro Alves. Os líderes do movimento desconheciam as grandes dificuldades à instalação de um Ginásio. A Lei Orgânica do Ensino Secundário, as exigências da D. E. S., a burocracia a vencer, tudo isto era um mundo desconhecido àqueles que não davam importância à palavra impossível. Como vir ao Rio, se eles não dispunham de recursos para a aquisição de passagens aéreas ou de navio ?

Por via fluvial e terrestre, era uma viagem penosa, com o aproveitamento dos velhos navios do Rio São Francisco. Levava a viagem mais de um mês, somente a vinda. Estávamos em plena guerra. Os navios, poucos, andavam superlotados. Resolvemos procurar apoio do Correio Aéreo Nacional. Durante dias ficamos rondando a residência do Brigadeiro Eduardo Gomes, na época, Comandante da Zona Aérea do Nordeste, com sede no Recife.

  1. Exa. Recebeu-nos com a sua característica simplicidade, atendendo-nos. Quem deveria vir ao Rio ? Todos queriam, menos um: eu Alegava uma porção de coisas: falta de dinheiro, de roupa e a condição do emprego na Casa do Estudante. Mas, hoje, passados esses anos, posso confessar: era o medo de andar de avião ...

 

Depois de várias visitas ao Comandante da Base, no Ibura, foi marcada a viagem ao Rio num avião da FAB. Saímos do Recife, no início de fevereiro, com pouco dinheiro, sem saber onde iríamos ficar.

Estávamos confiantes nas cartas de recomendação que trazíamos, inclusive numa do Dr. Jarbas Maranhão, para Dna. Darcy Vargas. Durante o trajeto soubemos que, junto à estação da Central do Brasil, estavam localizados os hotéis mais baratos.

 

Recordo-me como se fosse hoje: ao chamar um taxi no Aeroporto Santos Dumont, o motorista cobrou Cr$ 15,00 para levar-nos à Central do Brasil. Eu lhe retruquei: “se quiser R$10,00, iremos; caso contrário, pegaremos outro, pois é a quantia que estou acostumado a pagar aqui ... “

Com essa conversa o motorista levou-nos com malas e tudo, por Cr$ 10,00, ao Hotel Dom Pedro II.

 

Pagávamos pouco pela hospedagem. Eu que trouxera somente Cr$. 500,00, sentia que o dinheiro estava, depois de uma semana, sumindo ...

Genivaldo Vanderley e Juarez Gomes Lopes, um pouco mais, mas não aguentavam maiores despesas. Resolvemos pegar outro hotel pelo telefone, isto porque o gerente do que nos hospedava não aceitava nossa explicação de que o Ministério da Educação e Saúde pagaria as nossas despesas. Não sabíamos então quais os luxuosos. Fomos à lista telefônica e fizemos as ligações para ... o Copacabana Palace e outros, inocentemente.

Pedíamos hospedagem para três estudantes. A portaria do hotel afirmava sempre que não “não havia vagas”. Afinal a gerência do Hotel Central, na Praia do Flamengo (hoje demolido para construção de prédio de apartamentos), resolveu aceitar-nos. Pagamos as contas e fomos gozar as delícias do clima de praia, à diária completa de Cr$. 90,00, num hotel de 1ª classe ! Do restaurante observamos a beleza do Pão de Açúcar e as maravilhas da Praia da Urca que se deitava mansamente aos pés do Gigante de Pedra.

Depois do jantar. Fomos comentar a nossa situação: estávamos otimamente instalados, mas quase sem recursos. Eu, com apenas Cr$. 270,00 e os outros dois, com finanças um pouco melhoradas. Enfim, alguém, não nós, teria de pagar a hospedagem: a Prefeitura, o Ministério da Educação ou a L. B. A. Durante a 1ª semana no Hotel Central, embebecidos com aquele mundo novo, em que os pratos eram apresentados no cardápio com nomes estrangeiros, passamos por uma porção de vexames. Pedíamos à vontade. Qualquer prato estava bom. Íamos seguindo o cardápio. O pior, para mim, aconteceu na primeira noite: ao voltar, deparei-me com um problema sério: como entrar ? A porta era tipo giratória. Eu nunca havia entrado por uma porta assim. Fiquei esperando que outro hóspede entrasse para ver como resolveria o problema. Disfarçando as apreensões, esperei que alguém entrasse e pudesse seguir-lhe. Estava fora do meu ambiente, o que me trouxe uma porção de dificuldades.

Reservamos a semana para contatos e visitas. Pegar bonde errado acontecia quase que diariamente. Subir em elevadores era para nós novidade e até divertimento mesmo.

A visita ao jornalista Fernando Tude de Souza, Diretor da Rádio Ministério da Educação, não foi melhor por causa do elevador que era (e ainda é) automático. Ao entrar no mesmo afobei-me e o levei a ficar parado entre um andar e outro. Depois de bater desesperadamente e tocar os botões, ele desceu. Uma pessoa abriu a porta e subiu. Eu preferi subir pela escada ....

 

No primeiro sábado chegou-nos a conta. Não tínhamos dinheiro para pagar. Fui designado para “conversar” com o gerente: estávamos ali lutando por um nobre ideal; fulano e sicrano estavam-nos apoiando. Ficasse certo de que na semana vindoura lhe pagaríamos as contas. Disse-lhe também que já tínhamos sido recebidos pela Poetisa Amélia Carneiro de Mendonça, Presidente da Casa do Estudante do Brasil, com um almoço. Ela achava que encontraríamos o apoio que procurávamos. Tudo, porem, sabíamos, não corria bem: no MÊS, D. Lúcia Magalhães desiludiu-nos. – Não possuíamos condições para o reconhecimento do Ginásio Castro Alves. O Prefeito alegou não ter meios para o pagamento das nossas diárias.

 

O 2° sábado chegou, com a segunda cobrança ameaçadora, Procurei o Gerente. Falei-lhe vários minutos para convencê-lo de que o Hotel estava colaborando num notável empreendimento. Que ele estivesse confiante. Mostrei-lhe a carta endereçada a D. Darcy Vargas. Permitiu bondosamente que ficássemos, mas somente por aquela semana. Aflitos, procuramos D. Darcy, que telefonou imediatamente para o Gabinete do Ministro Gustavo Capanema.  O João Neder, Oficial de Gabinete, atendeu. Notamos que D. Darcy repetiu uma ou duas vezes: “aqui fala Darcy Vargas, da L. B. A.” Sei que ao chegarmos no salão de espera, onde, durante quase todo o mês de fevereiro de 1945, havíamos ficado sentados, o dia todo, sem que alguém se apercebesse de nossa presença, e onde a nossa única diversão, para passar o tempo, era olhar os quadros de Portinari, coisa que pouco entendíamos, esquecidos, sem que nem mesmo o Chefe de Gabinete, Carlos Drumond de Andrade, nos recebesse, fomos imediatamente atendidos pelo Dr. João Neder. Ele nos perguntou ansiosamente se D. Darcy não havia se zangado na hora do telefonema. Afirmamos que não notáramos nada. “Pois é, disse ele, eu pensava que era ... e brinquei na linha ... “  Se, para João Neder, havia alguma complicação, para nós estava ficando tudo azul. Éramos possuidores de um cartão do Chefe de Gabinete do Ministro da Educação ao Gerente do Hotel Central, responsabilizando-se pelo pagamento das nossas dívidas. A nossa luta, agora, era desviada para outro fim: o da obtenção de vagas nos aviões militares para voltarmos ao Recife. Nossas caminhadas eram constantes à Ponta do Calabouço. Os oficiais informavam que não havia vagas tão cedo. E o Ministério da Educação responsabilizara-se pela hospedagem apenas até o dia 25 de fevereiro. Se, até essa data, eu e o Genivaldo não viajássemos, ficaríamos na rua, o Juarez tinha parentes no Rio. Podia arrumar-se. E nós ?

 

Resolvemos procurar o Chefe de Gabinete Salgado Filho, Cel. Henrique Fleuss, na sua residência na Tijuca. Disseram-nos que ele morava numa rua daquele bairro. O informante não sabia número. Nem .. nós! Pegamos um bonde. Saltamos, por uma feliz coincidência, perto da casa do homem que resolveria o nosso problema.  Argumentou que era difícil. Pedimos-lhe que nos levasse de qualquer maneira.  Estávamos sem dinheiro e ameaçados de despejo. Ele, no dia seguinte, autorizava nossa viagem para o dia 2 de março. E agora, dizíamos, como vamos enfrentar a situação ? Fizemos os cálculos: refeição no “China” a Cr$ 2,50; dormida ... bem, a dormida podíamos variar entre os trens da Central e as hospedarias.  ... Fomos para o Hotel Central e contamos ao Gerente, mais uma vez, a nossa situação.

Não queríamos tapeá-lo. Íamos sair. Ele tinha sido para nós tão bom ... Estávamos ali para agradecer-lhe e pedir desculpas pelos aborrecimentos que por ventura havíamos proporcionado à gerência.

Eu e o Genivaldo ficaríamos pelas ruas. O Juarez ia para a casa de um parente.

O gerente, um bom suíço, comoveu-se. Disse-nos: “Não saiam. Fiquem por conta do hotel até o dia 1º de março ! Demos pulos de alegria. E já um pouco ambientados na cidade, passamos a mergulhar nas águas da Praia do Flamengo, fazer visitas a jornais, etc. O Globo, na edição do dia 27/2/45, noticiava as atividades da Comissão, no Rio, chamando-nos de “Os Três Mosqueteiros”.

Reporter: Nahum Sirotsky..

(Do Livro História da CNEC)

 

 

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Homenageando HAYA DE LA TORRE, UM PERUANO QUE INFLUENCIOU UM BRASILEIRO PARA A CRIAÇÃO DE UMA DAS MAIORES OBRAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A “CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE”

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FALANDO DA HISTÓRIA DA CNEC

CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE

CRIADA EM 29 DE JULHO DE 1943

74 ANOS DE EXISTÊNCIA

                      HAYA DE LA TORRE – O INSPIRADOR

    
 

  
  

   

 

 

 

 

 

 

 

FELIPE TIAGO GOMES – O INSPIRADO

“ ...Dentre elas, O Drama da América Latina, do escritor John Gunther, onde é retratada uma experiência de Haya de La Torre para a alfabetização de índios no Peru.

Essa obra o influenciou e o despertou para a criação de uma instituição que visasse assegurar o direito de estudar aos milhares de jovens pobres. E, assim, em 29 de julho de 1943, foi criada a Campanha do Ginasiano Pobre (CGP), com a criação do Ginásio Castro Alves.””.

 Do Livro “O DRAMA DA AMÉRICA LATINA”, de John Gunther, Felipe Tiago Gomes, influenciado pela experiência de Haya de La Torre (Peruano), criou a Campanha do Ginasiano Pobre

Descrição: Descrição: C:\Users\Ajccunha\Pictures\2017-07-28 Haya de La Torre - Autógrafo\Haya de La Torre - Autógrafo 001.jpg

Autógrafo de Haya de La Torre, no Livro História da CNEG – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, hoje, Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.

HISTÓRIA DA CNEG

Por Felipe Tiago Gomes  -  Volume I

 É necessário que os milhares de jovens alunos cenegistas conheçam como surgiu a CAMPANHA NACIONAL DE EDUCANDÁRIOS GRATUITOS. As suas lutas, os sacrifícios dos seus fundadores e a abnegação dos seus dirigentes, tudo isto deve constituir-se em motivo de orgulho para os moços que frequentam as nossas escolas.

É preciso ainda que o ânimo de combatividade daqueles dias não decaia ao nível das coisas comuns, das acomodações fáceis. O nosso passado de lutas e de vitórias não pode ser substituído pela rotina tão cômoda aos indivíduos de índole contrária a aventuras. Não podemos também aderir ao regime de conveniências prejudiciais a esse mesmo passado, embora tenhamos de buscar a atualização de métodos de ação senão quisermos ficar superados pela técnica moderna. Espero que a minha contribuição à “HISTÓRIA DA CNEG” seja encarada pelos leitores como uma narração despretensiosa. Não tive intuitos de escrever um grande livro, ou mesmo um pequeno livro: quis apenas narrar fatos, muitos dos quais são inteiramente ligados à minha pessoa. Daí o personalismo que aparece frequentemente nestas páginas que formam um capítulo da própria história educacional do País.

 Rio de Janeiro, Janeiro de 1962

Felipe Tiago Gomes

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 13:48
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Sábado, 22 de Julho de 2017
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - " A AMIZADE É DOCE CANÇÃO DA VIDA E A POESIA DA ETERNIDADE "

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Dia Internacional da Amizade, comemorado a 20 de julho, foi criado pelo filósofo e sociólogo argentino Enrique Ernesto Febbraro, inspirado pela chegada do homem à Lua, nesta data em 1969. Em alguns estados brasileiros como o Rio de Janeiro, sua celebração é determinada por leis próprias, motivadas estritamente por apelo comercial – um evento para troca de presentes. No entanto, o seu propósito original é incentivar a reflexão sobre esse importante e necessário instrumento de união entre as pessoas, notadamente num mundo extremamente consumista e competitivo.

Apesar do tema se constituir em fonte inesgotável de todas as formas artísticas (que o digam Milton Nascimento e Renato Teixeira), o unilateralismo prevalece de maneira assustadora. Com efeito, o dinamismo provocado pelos reflexos materialistas leva os indivíduos a se fecharem em si mesmos, pois passam a viver em função de ganhos, posição social e poder, como se tais aspectos fossem fundamentais às suas realizações. Esquecem-se das circunstâncias humanistas e imprescindíveis à própria felicidade, como gestos e atitudes fraternas, relacionamentos afetivos, solidariedade com o próximo, respeito a todos os seres vivos em geral e tantas outras, sobrepostas por interesses exclusivamente pessoais e ao mesmo tempo, carregados de puro egoísmo.

Nesta trilha, a psicóloga Rosely Sayão assim se expressou: “Fazer amigos ajuda a combater a ideologia consumista de nosso tempo, que pega tão pesado com os jovens, já que ter amigos subverte a lógica do consumo. Quem cultiva amizades entende que mais importante do que ter o poder de ter algo é ter alguém ao lado, poder contar com alguém” (Caderno Equilíbrio, Folha de São Paulo, p. 12 -25/08/2005).

Por outro lado, o cultivo da amizade gera satisfação, apoio, segurança, lealdade, conforto e principalmente, respeito à ordem social da qual o Direito é o seu instrumento regulador. Ocorre que, quando os indivíduos se conhecem, se gostam e se respeitam, dificilmente infringem normas legais, uns contra os outros. Tanto que ela é citada por Aristóteles como uma das principais bases da consolidação do regime democrático. Ele igualou esse relacionamento sadio entre irmãos à democracia, que só seria possível pelo processo de fraternização.

Desta forma, a data de amanhã é muito importante, já que busca valorizar as ligações amistosas entre as pessoas e que estão praticamente ausentes da convivência na atualidade. Com efeito, a rapidez na luta pela sobrevivência, tem evitado uma vida mais afetiva, desprendida e próxima dos outros, aspectos que, embora praticamente ignorados diante da atual crise de valores, são benéficos ao nosso amadurecimento. A amizade transmite confiança, compreensão, atenção, perdão, cumprimento, simpatia e outros atributos significativos à nossa realização em vida. “É por isso que os amigos, ainda que ausentes, estão presentes. Ainda que pobres, têm abundância; ainda que fracos, são fortes e, o que é mais difícil dizer, ainda que mortos, estão vivos: tamanha é a consideração, a lembrança, a saudade dos amigos que os acompanha (...)”, escreveu Santo Agostinho, em Confissões IV.  E Roque Schneider indicou: “a amizade é a doce canção da vida e a poesia da eternidade”.

Quando formos capazes de pensar na satisfação de todos e não apenas em vantagens próprias, iremos superar a conjuntura moral do mundo e, em conseqüência, as dificuldades econômicas, sociais e tantas outras que afligem o homem e a nossa realidade será mais amena e conviveremos mais e melhor com nossos semelhantes.

 

 

25 de julho. DIA NACIONAL DO ESCRITOR NO BRASIL

 

 

“Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira” (Carlos Drummond de Andrade). Homenagem aos escritores, grandes responsáveis pelo avanço no desenvolvimento da sociedade em todos os aspectos, até no de construir sonhos, sem os quais a vida não tem quase nenhum encanto.

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 15:20
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - EUCLIDES DA CUNHA: UMA REAÇÃO SURPREENDENTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Concluo hoje a série de artigos que venho publicando, sobre o curioso paradoxo psicológico de coexistirem sem conflito, no interior de muitas mentes, simpatias e pendores pela monarquia e pela república, formas de governo que no plano teórico são opostas e pressupõem cosmovisões irremediavelmente antagônicas.

Já expus alguns exemplos de republicanos convictos que não esconderam suas simpatias pela monarquia. Poderia citar, em sentido contrário, monarquistas declarados e até pretensos aristocratas com anel de nobreza do dedo, que tampouco conseguem ocultar fortes tendências igualitárias e revolucionárias... Se um dia eu escrever Memórias, contarei alguns casos bem característicos.

Vou agora, para encerrar a série, apresentar o caso de Euclides da Cunha, republicano convicto e cheio de preconceitos antimonárquicos que, no entanto, tomou uma atitude surpreendente. Primeiro, transcreverei os tópicos principais da carta que o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, filho da Princesa Isabel e líder do movimento monarquista brasileiro, dirigiu da Áustria, a 12/2/1908, ao autor de “Os Sertões”:

“Ilmo. Sr. Dr. Euclides da Cunha: / A recepção das suas obras que teve a amabilidade de enviar-me foi motivo de verdadeiro prazer para mim. Há muito tempo que sou seu sincero admirador, como já tive ocasião de manifestá-lo publicamente. / Os "Sertões", que li pela primeira vez ha dois anos, foram uma revelação para mim e têm-me acompanhado em todas as minhas viagens. Os "últimos dias de Canudos", sobretudo, atingem uma força trágica que em poucas outras narrações militares tenho encontrado. Outros capítulos do livro fizeram-me conhecer aqueles vastos territórios do Brasil central, tão importantes para o futuro desenvolvimento de nossa pátria. / Também conhecia desde pouco os "Contrastes e Confrontos". Se em matéria política não concordo com todas as suas opiniões, não há do ponto de vista literário uma linha daquela pequena obra-prima que eu não admire. Tenho lido e tornado a ler sua magistral descrição intitulada “a Esfinge”, a tal ponto que às vezes (tenho) a impressão de ter assistido àquela noite tão primorosamente descrita. Em outros capítulos, como nos sobre as secas do Ceará, são relevantes os serviços prestados pelo Sr. à civilização brasileira. (...) / Soube pelo meu amigo Guimarães que ao seu último filho deu o Sr. o nome de Luiz; é motivo para mim de satisfação o ver que em sua família há quem tenha nome igual ao meu, de forma que ao pronunciar o de quem lhe escreve guardará a sua voz um pouco da amizade que tributa ao filhinho querido. / Peço que de mim se não esqueça quando publicar outra obra e tenha certeza que daqui da Europa sigo com atenção e simpatia a sua triunfal carreira em nosso país. / Aperta-lhe afetuosamente as mãos o / patrício admirador e amigo / Luiz de Orleans e Bragança”.

Pelo teor dessa carta, fica claro que Euclides já havia, anteriormente, mandado ao príncipe obras que publicara. Vejamos agora como Euclides acolheu a missiva principesca, inicialmente no seguinte trecho de carta que escreveu a Francisco de Escobar, no dia 10/4/1908:

“Um contraste: depois de receber a tua carta, irei responder outra - do príncipe D. Luiz de Bragança!... Recebi-a há dois dias. Tem oito páginas maciças, escritas num português impecável e surpreendente. Não preciso dizer que ela não me fere a integridade republicana. D. Luiz é sobretudo escritor. Escreveu ao adversário político - ele mesmo o observa - obedecendo apenas às afinidades de temperamento. De qualquer modo é um compatriota que estuda as nossas coisas e que ama o Brasil. E como, ao mesmo  tempo, parece-me ter lucidez bastante para compreender que a missão de sua dinastia está completamente acabada, irei responder-lhe desafogadamente”.

Nessa carta ao amigo Escobar, Euclides fez questão de ressalvar a sua integridade republicana. Mas em outra carta, dirigida a 15/3/1908 a um parente, foi mais franco e não escondeu o encanto que a carta do Príncipe lhe causara:

“...Todos vamos bem. Como novidade única, recebi longa carta de d. Luiz de Bragança, neto do imperador, que ultimamente passou por aqui. É uma carta de compatriota inteligente e digno; e - é incrível! - eu, velho republicano, fiquei contentíssimo de recebê-la. Está entre os meus melhores autógrafos. Pelo menos é um patrício de valor e, como homem, digno de toda a estima. O seu ato, dirigindo-se, cavalheirosamente, a um simples escritor, cativou-me pela sua própria nobreza.”.

Pouco tempo de vida restava a Euclides da Cunha. No dia 15 de agosto do ano seguinte, teve ele o fim trágico que todos conhecemos. Devido à exiguidade de espaço, neste artigo, não foram incluídas as referências documentais das cartas citadas. Mas se algum leitor desejar, é só me pedir e fornecerei de bom grado.

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 15:15
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SONIA CINTRA - A VIAGEM DO ELEFANTE: FICÇÃO E HISTÓRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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            Nos idos de 1551, o rei de Portugal D. João III e sua mulher D. Catarina de Áustria oferecem de presente de casamento ao arquiduque austríaco Maximiliano II de Habsburgo, recém-casado com a filha do imperador Carlos V, um elefante. Nascido em Goa, o elefante Salomão, após ser transportado pelos mares, despertara grande curiosidade ao desembarcar em Lisboa, há mais de dois anos. Agora vivia isolado, sujo e malcheiroso, num cercado em Belém, junto com seu cornaca Subhro, conforme consta no romance de José Saramago que dá título a este artigo.

            Sai a caravana de Lisboa com soldados, cavalos, bois e um elefante de quatro toneladas de peso e três metros de altura e, meses a fio, percorre os caminhos de Portugal, Espanha e Itália, atravessa os Alpes sob tempestade de neve e chega a Viena no dia 6 de janeiro de 1552. Ao longo do percurso eles sofrem com intempéries, perigos reais e imaginários, vivem aventuras e enfrentam o gelo e os abismos dos Alpes, os quais, diga-se de passagem, Salomão encara com a galhardia de seus antepassados liderados pelo general cartaginês Aníbal, na II Guerra Púnica, séculos antes.

            Essa epopeia de fundo histórico traz considerações sobre a natureza humana e a elefantina, numa prosa regada a ironia e poesia. Impelido a cruzar meia Europa, Salomão não decepciona as cabeças coroadas. Após ser recebido festivamente em Valladolid, Solimão, agora é este o nome do elefante, a mando do imperador, que lá esperava para integrar a caravana, entra em Viena, onde salva uma criança, em clima de grande comoção. O cornaca, agora Fritz, também a mando do arquiduque, acompanha-o

            Para encurtar a história, o elefante Salomão morreu no inverno de 1553, não se soube de quê. Cortaram-lhe as patas, que serviram para guardar bengalas, bastões, guarda-chuvas e sombrinhas, à entrada do palácio. O cornaca Subhro recebeu o soldo e a propina por ordem de Maximiliano II e comprou uma mula e um burro. Anunciou que iria retornar a Portugal, mas não se tem notícia de ter entrado no país.

            Quando, semanas depois, chegou a Lisboa a carta do arquiduque que informava da morte do elefante, D. João III, entristecido, mandou chamar a rainha, que pela expressão do marido, não o deixou acabar a notícia de que Salomão havia morrido. Catarina de Áustria foi para seus aposentos, onde chorou o resto do dia. “Assim é a lei da vida: triunfo e esquecimento”, conclui o narrador.

 

 

 

 

SONIA CINTRA    -    É doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora da Cátedra José Bonifácio - IRI/USP e membro efetivo da UBE. Fundadora e mediadora do Clube de Leitura da Academia Paulista de Letras e do Clube de Leitura Jundiaiense. Ex-presidente da AJL, oradora da Aflaj e madrinha do Celmi. Pós-graduada em Educação Ambiental, ensaísta e articulista de jornais, revistas e blogs nacionais e internacionais. Tem 13 livros publicados com tradução para o italiano, francês e espanhol.



publicado por Luso-brasileiro às 15:09
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