Em 1° dezembro se comemora mais um aniversário do ato que libertou todo um povo: nesta data em 1955, a costureira Rosa Lee Parks não se levantou num ônibus em Montgomery, Alabama nos Estados Unidos, contrariando a norma de que os negros só podiam se sentar se não houvesse brancos no veículo. Por seu atrevimento, foi presa, julgada e condenada por conduta desordeira, assim como por violar a ordem local. Sua prisão inspirou e deflagrou um movimento de protesto e luta dos negros norte-americanos contra a segregação e pelo respeito aos direitos, tomando corpo em todo o país, com ampla projeção internacional.
Na noite seguinte à sua prisão, cinquenta líderes da comunidade afro-americana, chefiados pelo então quase desconhecido pastor protestante Martin Luther King Jr. reagiram contra este constrangimento cometido contra ela, organizando e realizando um boicote de trezentos e oitenta e um dias ao sistema segregacionista de transporte coletivo naquele estado. No ano seguinte, o caso Rosa Parks foi encerrado na Suprema Corte norte-americana e a discriminação entre brancos e negros nos ônibus foi declarada inconstitucional.
Por seu gesto, foi indicada pela revista “Time”, como um das vinte personalidades heroicas do século XX e sobre a repercussão de sua atitude e posicionamento, foram escritas milhares de artigos, livros e ensaios. Faleceu em 26 de outubro de 2005 em sua residência, dormindo, certamente ciente de que as políticas públicas de inclusão dos negros lhe deveram muito e se espalharam por todos os cantos, tornando-a um ícone da luta contra o racismo que infelizmente ainda persiste, mas a construção da igualdade de oportunidades avançou muito após a ocorrência que a envolveu. Vale lembrar a eleição de Barack Obama como presidente da maior potência do mundo.
A suave guerreira, que com seu simples gesto libertou todo um povo, constituindo-se na pioneira da luta pelos direitos civis americanos, “brilha fulgurante diante de nossos olhos, cada vez que preferimos a comodidade de conceder ao risco de protestar e lutar contra as injustiças que enchem o mundo em que vivemos”, como ressaltou Maria Clara L.Bingemer, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio (“Rosa Parks e o cansaço de conceder”- Jornal do Brasil- 31/10/2005- A15).
LUTA CONTRA A AIDS
Instituído pela ONU – Organização das Nações Unidas, o DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS, primeiro de dezembro, visa conclamar os povos de todo o mundo sobre os efeitos da doença e das formas pelas quais pode ser evitada. As campanhas preventivas, no entanto, não podem se restringir a informações e acessos a preservativos. Diante da atual banalização do sexo, deve-se combater a moléstia de todos os modos possíveis, mas não se olvidar da questão da preparação e formação, para que o sexo se realize com orientação segura, conhecimento, responsabilidade, embasamento religioso e moral.
UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA E DIGNIDADE
Celebrações como a de 03 de dezembro – Dia Internacional das Pessoas Com Deficiência - revestem-se de suma importância para refletirmos sobre questões de cidadania que afetam tais indivíduos e que não podem mais ser tidas, como de puro assistencialismo, mas sim de Justiça e Dignidade. A comemoração foi instituída pela ONU- Organização das Nações Unidas desde 1998, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência, procurando também aumentar a consciência dos benefícios trazidos pela integração dos cidadãos com deficiência em cada aspecto da vida política, social, econômica e cultural.
REFLEXÃO
Efetivamente, se pretendemos ter uma sociedade onde o viver e o conviver sejam valores máximos, faz-se necessário um esforço maior em dar a todos, iguais possibilidades de participação, já que, “quando uma pessoa tem negado os seus direitos todos estão perdendo” (Dalmo Dallari)
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
É fundamental, para o bom funcionamento do sistema de aprendizado, que o professor saiba manter sua autoridade e se faça respeitar pelos alunos. Mas para isso, não há necessidade de ser autoritário nem prepotente. Muitas vezes, aliás, os excessos de autoritarismo nada mais são do que sinais de insegurança e fraqueza... e os alunos logo se dão conta disso.
Assisti certa vez a uma conferência pomposíssima de uma professora famosíssima, numa instituição prestigiadíssima, para expor uma "abordagem nova" de um velho tema...
No final da "baladadíssima" sessão, quando foi aberta a palavra às perguntas, uma jovem aluna de pós-graduação, muito educadamente, pediu que a conferencista explicasse melhor uma coisa que ela não tinha entendido bem. Pediu que mostrasse o que havia de novo na abordagem inovadora, pois já era o que se fazia, naquela disciplina, havia mais de 30 anos. O objeto era o mesmo, o enfoque não variava, a metodologia era exatamente a mesma... só o nome e os recursos tecnológicos utilizados estavam mudando. Mas, notem, a menina não
apresentou essa pergunta como algo desafiador ou como quem quer contestar, apenas perguntou. E ressalvou que era nova na área, que sua formação era insuficiente, que podia não ter entendido alguma coisa. Foi, em última análise, muito humilde.
No entanto, a imponente professora se sentiu ofendida, ou pelo menos assim pareceu, porque começou humilhando a menina?
A resposta foi uma longa digressão sobre seu currículo e sobre sua experiência na área, desde o mestrado que - fez questão de enfatizar - fora feito antes de a aluna sequer ter nascido... Discorreu, durante 10 ou 15 minutos, sobre seus títulos, sobre os livros que publicara, sobre as universidades estrangeiras em que estagiara etc. etc. E não respondeu ao central da questão, que a incomodava, obviamente. Fez-se um mal estar generalizado na sala, e ninguém mais perguntou nada. Perguntar, para quê?
Parece-me que atitudes dessas não são consentâneas com a de uma verdadeira professora e não contribuem para aumentar o prestígio de uma cátedra, seja universitária seja de ensino médio ou até fundamental. É claro que não se pode aprovar a contestação gratuita, pelo mero gosto de contestar, muito frequente entre adolescentes imaturos. Mas o professor tem que contar com isso e, sobretudo, não pode querer se impor pela mera autoridade. Há formas mais sutis e inteligentes de afirmar o princípio da autoridade. Poucas coisas dão tanta autoridade a um professor como reconhecer, diante dos alunos, que não sabe alguma coisa e que vai estudar melhor para responder na próxima aula. E até mesmo convidar os alunos a explorarem e pesquisarem, juntamente com ele, o tema da pergunta que não soube responder.
Quando eu lecionava para alunos de Ensino Médio, costumava provocá-los para que me questionassem. Eu dizia: - se um de vocês me fizer uma pergunta inteligente sobre a matéria que está sendo lecionada, darei um ponto a mais na média final: se a pergunta for tão difícil que eu não saiba responder e precise pesquisar para responder na aula seguinte, o aluno receberá dois pontos a mais; e se um de vocês notar um erro no que estou ensinando e souber apontá-lo e defender sua posição com argumentos sólidos, darei três pontos a mais.
Ás vezes, eu até brincava: - sabem o melhor modo de irritar um professor? Não é fazendo bagunça ou indisciplina na sala... O melhor mesmo é vocês estudarem antes a matéria que o professor vai lecionar na aula seguinte. Estudem, leiam, pesquisem, venham para a aula cheios de informações, dúvidas, perguntas, objeções e discutam com o professor com conhecimento de causa... e garanto que ele ficará irritadíssimo!
Isso é muito mais “gostoso” (e sobretudo muito mais formativo) para um aluno do que ficar infantilmente fazendo bagunça...
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Ah, vivências da pele e do coração! Quantas acrescentam e quantas despedaçam! O fato se deu em um lugar distante, à beira da praia.
A menina cresceu, um pouco ou muito não saberia dizer, em pedaços. Ora com a mãe, ora com o pai, ora com a rua. A rua no sentido de desvendá-la até altas horas da noite sem limite algum.
Foi na escuridão que o homem, de idade bem acima do que a dela, pensou em gandaia. Veio o carro, a barraca de pastel, o retorno e a “vitória” dele sobre seu corpo de menina de cabelos loiros com tranças e fitas. De início, imaginou-se adulta, mas quando sentiu a respiração ofegante dele, sem ternura alguma, pediu que parasse. Tudo em vão. Não cessou. Tinha-a como sua caça naquele dia.
A mãe, que ignorava os percursos da filha até a noite alta, tomou providência ao ser chamada pelo dono da farmácia, que ouvira, de uma amiga da menina, o relato de susto, incerteza, confusão interior...
A pele do homem roçou com impacto na pele da garota e ela, até hoje, tem dúvida de quem foi a culpa. Nem pensa na falta de proteção que a fez vítima.
O processo continua em segunda instância. Pelos depoimentos, existe a incerteza se, pelo seu desenvolvimento físico, o indivíduo poderia tê-la confundido com uma adolescente acima de 14 anos e aceitar o pastel seria sinal de conivência com os desejos dele.
Estou convencida de que ela não perseguia sensações de epiderme, mas aconchego; buscava meiguice para seu coração com hematomas.
E para fazê-la crer que não é somente carne recoberta por pele? E para fazê-la crer que a sua função no mundo não é estar à disposição de quem deseja seu corpo? E para acreditar que é possível, mesmo com o corpo rompido, construir uma história do amor?
Pelo que soube, desconheço a veracidade, a mãe da menina não se encontra confiante na culpa do predador, com quem tem “criado laços”.
Coisas da pele para quem não tem coração. Coisas do coração para quem sonhava ir além da pele.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Assim como se faz nos meses de outubro, nos quais há campanhas e movimentos para a conscientização da prevenção do câncer de mama, os meses de novembro são dedicados à tentativa de convencer os homens a fazer o exame de próstata, a fim de prevenir e diagnosticar para tratamento precoce, o câncer.
Pesquisas demonstram que a chances de cura para o câncer de próstata que seja descoberto no início são muito reais ou promissoras. Como exames de sangue aliados a um exame de toque, tudo muito simples na verdade, muitos homens, pais, irmãos, filhos e amados por outras pessoas teriam suas vidas salvas.
O que, portanto, impede ou inibe tantos representantes do sexo masculino a se submeterem a um simples exame? Acredito que seja um conjunto de vários fatores e não de uma única coisa isoladamente. Primeiramente, segundo me parece, os homens, ao menos os de gerações mais antigas, estão menos acostumados a procurar, por iniciativa própria, médicos ou tratamento para os males que os afligem. Na grande parte dos casos, uma simples ida ao médico só é possível porque alguém que com eles se importa tomou a frente das coisas e foi atrás.
Não tenho conhecimentos antropológicos ou mesmo psicológicos necessários para afirmar as razões disso, dessa falta de atitude, mas tenho comigo, pela minha experiência de vida, que se não no todo, em parte se deve à forma como muitos homens são criados. Vejo muitas mães que simplesmente não educam seus filhos para serem autônomos, independentes, mas para serem servidos.
Ocorre que o mundo hoje não é mais o mesmo e, aos poucos, ao menos nas sociedades ocidentais, as mulheres estão perdendo a tolerância para os “homens-filhos”. Ninguém dá conta, não de forma saudável, de viver para si, plenamente, e ainda ter que se encarregar do outro. Por óbvio que não falo aqui da relação que os pais tem com seus filhos crianças, legitimamente dependentes, ou ainda de outras situações de real dependência, seja por questão de incapacidade física ou mental.
Refiro-me, em outras palavras, àqueles que são incapazes até de arrumar a própria cama, de arrumar seus armários, de lavar o que se sujou e, de modo geral, de cuidar de si mesmo, por pura alienação ou folga. Pior ainda aqueles que se acham no legítimo poder de apenas esperar que outros façam aquilo que deveriam se incumbir.
Assim, infelizmente, muitos homens simplesmente não cuidam da própria saúde, sem que haja alguém que os motive ou leve a isso. Registro que só me refiro a eles nesse texto por conta do viés escolhido, mas o fato é que muitas mulheres também se comportam da mesma forma, ainda que em menor número.
Outra questão que, segundo me parece ser a causa pela qual os vários homens se negam de forma veemente a realizar o exame de toque na próstata se relaciona a tabus sobre a sexualidade. Como isso, a realização de um exame, fizesse de alguém menos homem. Não passa de um procedimento médico, realizado de forma profissional e que dura poucos minutos. Óbvio que pode ser meio constrangedor, e disso as mulheres entendem desde muito cedo, eis que são submetidas a toda sorte de exames ginecológicos, mas tudo é uma questão de se encarar com naturalidade e, para ficar ainda mais leve, com uma boa dose de humor.
Fazer piada de determinados assuntos não é despreza-los necessariamente. Em alguns casos, como nesse em comento, pode ser a diferença entre viver e morrer, na medida em que se pode optar por ver as coisas pelo seu lado mais engraçado, menos pesado e, com isso, dar menos valor ao que assim deve ser visto.
Admiro os homens que, diante da inevitabilidade do exame, saem de lá convictos de que fizeram a sua parte, foram homens no melhor sentido da palavra e isso em nada, absolutamente, refere-se à sexualidade vivida. É preciso coragem para se reconhecer frágil, para enfrentar as barreiras que fatores como o avançar da idade vão sendo colocadas diante do caminhar.
Aos representantes do sexo masculino, machões ou não, fica a dica que muito mais vale um dedo amigo do que uma mão na alça do caixão. A coisa toda pode virar piada, mas o câncer de próstata está longe de ter graça, sobretudo para quem almeja viver muitos outros novembros...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista. São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
A reunião da Academia Jundiaiense de Letras, sábado passado, tornou-se festiva pelo bate papo organizado pelo confrade Márcio Martelli, em homenagem póstuma ao saudoso Picôco Bárbaro. Após uma apresentação oral do organizador, que narrou encontros com o homenageado, o presidente João Carlos José Martinelli exibiu página de jornal antigo com reportagem de sua lavra e fotos sobre o colega jornalista, lembrando as noitadas com amigos, dentre eles, a memorável Chãins Miranda Duarte. Guaraci Alvarenga leu crônica de autoria própria, sobre os carnavais de Jundiaí, escolas de samba e blocos iluminados com a alegria de Picôco. Antonio Luiz Gomes ressaltou os encontros com Picôco nos periódicos onde eram articulistas. Susana Ferretti leu parágrafo de Clarice que evocava seu modo se ser.
Dentre os presentes, parentes e amigos da Ponte São João manifestaram emocionados seu apreço pelo querido advogado e companheiro. A cidade amava Picôco por vários motivos, dentre os quais, a amizade e o despojamento. Como ele dizia, tinha vida de lorde. Sim, era um lorde, no melhor sentido da palavra. Sílvia Pozzi Loverso, ex-presidente da Aflaj e atual da Sociedade Jundiaiense de Cultura Artística, proferiu palavras de saudade e eterna gratidão ao Bufê dos Bárbaro, que promove o Café com Arte, no Solar.do Barão; e do fotógrafo Marcos Costa, que ao lado da esposa Ieda, registrou inúmeros eventos com Picôco. No livro editado pela In House e revisado por Nancy Cury, há vários outros episódios interessantes.
A pedido dos acadêmicos, li o poeminha póstumo “Arrebol”, que associa imagens do Casimiro de Abreu e Haydée Mojola, recordando os domingos à tarde, quando antes de irmos à domingueira do Clube Jundiaiense, parávamos em frente à casa da Álida Corradin, para assistirmos ao poente da Chácara Urbana: “Com tua partida / foi-se a nossa / juventude / Aquela / das belas tardes amenas / e risos fagueiros / ao pôr do sol. Lembrei o espírito brincalhão de Oswaldo Bárbaro, que recheou alguns croquetes com algodão, na a festa de casamento de Pituca; e da caixa de doces que D. Leta nos enviou pelo Picôco, em agradecimento à visita e leitura de uma poesia que expressava o afeto contido nos “doces caseiros / secando em tabuleiros / ao sol do meio dia”.
Para encerrar, o orador da AJL e presidente da Academia Jundiaiene de Letras Jurídicas, Tarcísio Germano de Lemos, mencionou o Pároco e Juiz de Paz, que Oswaldo representava nas festas juninas; e enfatizou que Picôco, “aquele menino”, fora um dos fundadores da AJLJ.
Em 18 de outubro, Xi Jinping, secretário-geral do PCC (Partido Comunista Chinês) e presidente da China pronunciou amazônico discurso de três horas perante 2.280 delegados ao 19ºcongresso do Partido, reunido em Pequim, peça imprescindível para entender o que teremos pela frente. Dela foi tratar circunstanciadamente apenas de um aspecto.
Xi Jinping reafirma o rumo de fortalecimento da China e da autoridade do PCC sobre o povo e o Estado. Na tradução oficial em inglês o verbo strengthen (fortalecer) e derivados aparece 117 vezes. Para o fortalecimento da economia na China, o PCC precisa aprofundar e ampliar práticas capitalistas, vigentes desde a década de 80, deixando de lado, com energia ainda maior, políticas socialistas sempre causadoras de pobreza, situação dominante na China maoísta.
“Devemos desencadear e desenvolver as forças produtivas”, indica ele o rumo determinado pelo PCC. Desencadear é tirar as correntes, deixá-las livres. Para tal "devemos colocar a qualidade em primeiro lugar e priorizar a competência. Continuaremos a fazer as reformas estruturais com base no supply-side, nossa tarefa principal, e trabalharemos duro para conseguir qualidade melhor e aumento da eficiência. Precisamos aumentar a produtividade dos fatores de produção”.
Quando a esquerda propôs produtividade, qualidade e comptência? Nunca. A doutrina supply-side, louvada pelo dirigente chinês, esteve em voga no governo Reagan e enfatizava, entre outros pontos, a necessidade de menos impostos e menor regulamentações. Estado menor e menos taxação, parte da Reaganomics, em certo sentido repetida agora na China. Xi, item fundamental na política econômica do País.
Vamos ver agora o que fará o PC chinês para aumentar a produtividade na economia. “Vamos estimular e proteger o empreendedorismo, encorajar a inovação e quem queira começar negócios na China.” Para começo de conversa estimular a propriedade privada e a livre iniciativa. O texto poderia ser assinado por Margareth Thatcher ou Ronald Reagan.
Continua: “Vamos trabalhar para ter uma força de trabalho educada, capaz, inovadora, estimular o respeito pelos trabalhadores-modelo, [...] e buscar a excelência”. Cá entre nós alguma central sindical valoriza o trabalhador-modelo? No Ocidente existem partidos de direita que temem defender a excelência como valor primordial. E o PCC a defende sem rebuços.
Vamos adiante: “Desenvolveremos um sistema de inovação tecnológica orientado para o mercado e no qual as empresas sejam os principais participantes”. Para crescer, o PCC põe de lado o estatismo, xodó de coletivistas e intervencionistas.
Mais apoio à propriedade privada: “Estimularemos uma cultura de inovação, fortaleceremos a criação, proteção e aplicação da propriedade intelectual.” Na China, a propriedade intelectual é fundamento do crescimento econômico. O assunto provoca urticarias na esquerda do Ocidente.
Olhem aqui de novo o alicerce evocado pelos chineses: “Em nossas reformas econômicas, concentraremos esforços em melhorar o sistema dos direitos de propriedade e na garantia de que os fatores de produção sejam alocados com base no mercado, de maneira a que o direito de propriedade seja um verdadeiro incentivo”. Na mesma direção: “Acabaremos com regulamentos e práticas que impedem o desenvolvimento de um mercado unificado e de competição justa, apoiaremos o crescimento das empresas privadas e estimularemos a vitalidades dos vários fatores que constituem o mercado”.
A orientação permanece na estrada de estímulo à livre iniciativa, à concorrência e combate ao estatismo: “Aprofundaremos reformas no setor dos negócios, acabaremos com os monopólios administrativos, evitaremos a formação de monopólios no mercado, aceleraremos as reformas da precificação dos fatores de produção com base no mercado, diminuiremos os controles no setor de serviços e melhoraremos os mecanismos de supervisão do mercado”.
Continua o líder chinês rumo ao norte odiado pelos intervencionistas: “Faremos com que os juros e o câmbio se tornem mais baseados nas forças de mercado [...] Adotaremos políticas que promovam a liberalização de alto padrão, que facilitem o comércio e o investimento. [...] Protegeremos os direitos e os interesses legítimos dos investidores estrangeiros”.
Enuncia então decisões coerentes com o rumo estimulado na economia, mas com nota conservadora e até aristocrática: “Ajudaremos o povo a apreciar a alta cultura e aperfeiçoar a etiqueta social e a civilidade. [...] Encorajaremos a excelência, o respeito pelos idosos, o amor às famílias. Encorajaremos o cultivo de gostos finos, estilo, senso de responsabilidade; recusa à vulgaridade e ao kitsch na criação literária e artística”. Promete a seguir trabalhar pela manutenção da “alta cultura tradicional” da China.
Dois pontos para terminar. O primeiro, “continuar a seguir o princípio da distribuição segundo o trabalho de cada um”. Vai chapadamente contra a frase popularizada por Karl Marx e anarquistas: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”. O segundo, também contrário ao igualitarismo comunista. Tarefa fundamental, num partido de 88 milhões, ter o olho nas pessoas-chave, elas são condição da perenidade e aperfeiçoamento do partido. Claro reconhecimento e apreço pelo papel das elites: “Devemos ter o foco de nossa atenção nos poucos que são pessoas-chave [key few], ou seja, os filiados de destaque do Partido”.
Para seus objetivos, o comunismo chinês precisa de que a China na economia dê certo. E então aplica sem disfarce fórmulas capitalistas de apoio à livre iniciativa e à propriedade privada, hoje defendidas no Ocidente quase tão-só por partido da chamada direita econômica. Para atrair apoio popular e aprofundar a nota nacionalistas, propõe ainda medidas conservadoras e até com certo aroma aristocrático. Influenciarão os partidos comunistas e assemelhados no Ocidente? Em nada. São lições imprestáveis, continuará de pé neles a agenda de destruição. Exemplos inúteis.
Deixo de lado tema apaixonante, hic et nunc não tenho espaço para ele. A autonomia em matéria econômica traz hábitos de autonomia, situação desejável e natural aos homens. E os levam, é quase incoercível, a buscar autonomia em outros âmbitos, mesmo no político. Como o PCC, pilotando ditadura minuciosa e férrea, pretende descascar o abacaxi?
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas”.
Uma das provas mais claras da realidade dos anjos, é o culto litúrgico que a Igreja lhes presta
Sabemos que na vida da Igreja, “lex orandi, lex credendi”; a norma da fé é a norma da oração, reza-se conforme se crê. Santo Agostinho, já no século IV, afirmava que “é preciso honrar os anjos testemunhando-lhes amor e respeito, mas não adoração, a qual somente a Deus é devido”. Aos poucos, na vida da Igreja , foram se tornando comuns as orações e os oratórios em honra dos anjos. No século VI já se celebrava a festa de São Miguel Arcanjo. No século IX, a Igreja instituiu a Missa em louvor dos Santos Anjos.
A partir do século XIII surgem muitos templos dedicados aos três santos Arcanjos. No século XVI o culto aos anjos já se estendia a toda a cristandade. Em 1561 o Papa Pio IV consagrou a “Santa Maria e aos sete anjos” a igreja que Michel Angelo construiu no local do salão das Termas do imperador romano Dioclesiano. É o que se chama igreja de Santa Maria dos Anjos. Em 1526 o Papa Leão X, a pedido de François d’Estaing, bispo de Rodez, aprovou a festa dos Anjos da Guarda. No século XVII foi composta a oração ao Anjo da Guarda, que São Luiz Gonzaga tanto gostava de rezar: “Santo Anjo de Deus que sois a minha guarda e a quem eu fui confiado por celestial piedade, iluminai-me, guardai-me, regei-me, governai-me. Amém!”
Leia também: Quem são os Anjos?
Os anjos sabem o que se passa em nosso interior?
Qual a diferença entre anjos e arcanjos?
Podemos relacionar-nos com os anjos?
Uma curiosidade sobre os Anjos
Em 1670, o Papa Clemente X aprovou a festa universal dos Santos Anjos da Guarda para o dia 2 de outubro. E, após o Concílio Vaticano II, os Santos Arcanjos são celebrados no dia 29 de setembro. Na santa Missa, que é a Oração litúrgica por excelência, vemos os anjos presentes em todas as partes: no ato penitencial (… peço à Virgem Maria, aos Anjos e santos, e a vós irmãos que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor); no Glória; no Credo e na Oração Eucarística. “Por isso, com todos os anjos e santos proclamamos a vossa glória, cantando a uma só voz” (Oração eucarística II). “Eis pois, diante de Vós todos os anjos que vos servem e glorificam sem cessar, contemplando a vossa glória. Com eles, também nós, por nossa voz, tudo o que criastes, celebramos o vosso nome, cantando a uma só voz: …” (Oração Eucarística IV)
Na festa dos Arcanjos (29 de setembro), a Igreja invoca a proteção dos anjos: “Alimentados na força do pão do céu, dai-nos, ó Deus, sob a proteção dos vossos anjos, progredir no caminho da salvação. ” (Depois da comunhão) Na Festa dos Santos Arcanjos, a Igreja reza ao Senhor assim: “Ó Deus, que organizais de modo admirável o serviço dos anjos e dos homens, fazei que sejamos protegidos na terra por aqueles que vos servem no céu.” (Oração do dia) Na despedida dos defuntos a Igreja roga: “Para o Paraíso te levem os anjos”. Na Festa dos Santos Arcanjos a Igreja ora assim: “Nós vos apresentamos, ó Deus, com nossas humildes preces, estas oferendas de louvor; fazei que levados pelos anjos à vossa presença, sejam recebidas com agrado e obtenham para nós a salvação.” (Sobre as oferendas)
Na Liturgia da Festa dos Santos Anjos da Guarda, a Igreja implora a sua proteção: “Ó Deus, que na vossa misteriosa providência mandai os vossos anjos para guardar´nos, concedei que nos defendam de todos os perigos e gozemos eternamente do seu convívio.” (Oração do dia) “Acolhei, ó Deus, as nossas oferendas em honra dos santos anjos e fazei que, velando sempre ao nosso lado, nos guardem dos perigos desta vida e nos levem à vida eterna. ” (Oração sobre as oferendas) “Ó Deus, que alimentais com tão grande sacramento a nossa peregrinação para a vida eterna, guiai´nos por meio dos vossos anjos, no caminho da salvação e da paz.” (Oração depois da Comunhão) Pela orações acima, oficiais em nossa liturgia, vemos que a Igreja não tem dúvida sobre a existência e ação dos anjos.
Quem negar isto se põe, voluntariamente, fora dos ensinamentos e da fé da Igreja, e deixa de ser plenamente católico. Embora o Magistério da igreja não tenha definido como dogma de fé, a tutela dos anjos sobre os homens, alguns santos doutores da Igreja afirmaram a mesma concepção judaica de que o povo de Deus, as dioceses, as nações, etc., e cada pessoa tem um anjo protetor particular. Não há porque não aceitar tal concepção. S. Basílio Magno (330-369), doutor da Igreja, afirmou que “cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida” (Eun. 3,1). Na Festa dos santos Arcanjos, a Igreja assim vê a glória de Deus manifestada em seus anjos:
“Pai Santo, Deus eterno e todo poderoso, é a Vós que glorificamos ao louvarmos os anjos que criastes e que foram dignos do vosso amor. A admiração que eles merecem nos mostra como sois grande e como deveis ser amado acima de todas as criaturas. Pelo Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, louvam os anjos a vossa glória, as dominações vos adoram, e, reverentes, vos servem potestades e virtudes. Concedei-nos também a nós, associar-nos à multidão dos querubins e serafins, cantando a uma só voz…” (Prefácio).
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
Aquilo que recebemos pela quantia que pagamos: essa é a base da medida do valor que damos a um serviço. Ao contratá-lo, o preço constitui um elemento crucial na avaliação do resultado desejado.
Por exemplo: antes de cortar o cabelo, o cliente tem uma expectativa de como ficará a sua aparência após o corte. Ao ver o resultado, conclui se está ou não do seu agrado e, em função dessa avaliação, fica ou não satisfeito em pagar a quantia combinada.
Portanto, se o que se está vendendo no mercado não passar no teste do valor, o cliente deixará de comprar. Para ele, o preço que paga por determinada qualidade tem que ser, no mínimo, igual aos benefícios que obtém.
Assim, no mundo competitivo de hoje, para continuar vendendo cada vez mais, cabe ao fornecedor adicionar mais valor quanto possível antes, durante e depois da prestação do seu serviço.
É dessa maneira que as coisas funcionam no mundo dos homens, mas como será esse julgamento de valor no Reino de Deus? Vejamos a parábola dos operários da vinha (Mt 20, 1-15):
“Com efeito, o reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para a sua vinha. Pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: ‘Por que estais todo o dia sem fazer nada?’ Eles responderam: ‘É porque ninguém nos contratou.’ Disse-lhes ele então: ‘Ide vós também para minha vinha.’
Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: ‘Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros.’ Vieram aqueles da undécima hora, e receberam cada qual um denário. Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas, só receberam cada qual um denário. Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: ‘Os últimos só trabalharam uma hora e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.’ O senhor, porém, observou a um deles: ‘Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura, vês com maus olhos que eu seja bom?”
Ao relatar esta parábola, Jesus deixou bem claro que a justiça de Deus é diferente da justiça dos homens. Se considerarmos o conceito de valor explicado no início do artigo, realmente cada trabalhador da vinha teria que receber uma quantia proporcional àquela de um dia de trabalho, mas, se entrarmos agora no Reino de Deus, sabemos que “muitos dos últimos serão os primeiros”! (Mt 19, 30)
Para o nosso Pai Eterno, o valor de um serviço não depende basicamente do preço a ele atribuído. O mais importante para Ele são os resultados espirituais, e não apenas os materiais. Sabemos que a sua Misericórdia é infinita, portanto, abençoa igualmente a todos que se esforçam em agradá-Lo.
Aqueles que desejam buscar a salvação, devem dar mais valor às coisas espirituais e realizar muitas obras em nome do Senhor, pois para Deus, o preço a ser pago para isso pouco importa - estaremos cumprindo a nossa missão aqui na terra. O melhor para cada um de nós é o valor daquilo que estaremos recebendo: uma passagem para o céu!
E mesmo que continuemos pensando que aquilo que recebemos pela quantia que pagamos é a nossa base da medida do valor, servindo a Deus vale a pena, já que “muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.” (Mt 20, 16)
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
O público acredita em tudo que se lhe diz, dês que a mentira seja apresentada de forma credível, e embrulhada em meias-verdades.
Certa ocasião, quando Henrique Galvão e o irmão, eram responsáveis pelos programas da Emissora Nacional, em pleno Estado Novo, apareceu, nessa rádio, intérprete inglês, que alcançou sucesso invulgar.
Como era britânico, e interessava-se pela nossa música, foi amiudadamente comentado no meio musical, e não faltaram ouvintes, que encantados com as excelentes interpretações, solicitassem, nas casas da especialidade, músicas de sua autoria.
Paralelamente, com o famoso músico, surgiam artistas de outras nacionalidades, com proeminência de brasileiros e americanos.
Ora o Maestro João Nobre, anos mais tarde, em épocas democráticas, revelou, em entrevista concedida à RTP, que era tudo “ mentirinha”, para deslumbrar os ouvintes, e poupar dinheiro, já que se estavam – como sempre, – em épocas de vacas magras.
O célebre músico inglês, era, nem mais nem menos, que o nosso João Nobre! …
Nesse tempo, não havia: cd’s, fitas nem discos em vinilite. A música era transmitida, quase sempre, ao vivo, com público ou não.
Quantas vezes, a mass-media, não nos impinge, mentiras, como verdades?
Foi uma mentirinha inocente, mas outras, mais graves, fazem-nos cair em sérios erros, se acreditarmos em tudo que nos dizem.
Por vezes detestamos: personalidades; aceitamos comportamentos; alteramos opiniões, porque somos informados com mentiras e meias-verdades.
É que há redes internacionais, na mão de minorias, que espalham mentiras, como verdades, e verdades como mentiras…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
***
ATENÇÃO AO PEDIR O CARTÃO DE CIDADÃO
Indicar a sua morada do estrangeiro no Cartão de Cidadão
http://www.mundoportugues.org/article/view/65348
***
Horário das missas em, Jundiai ( Brasil):
Horário da missas em São Paulo:
Horário das missas na Diocese do Porto( Portugal):
http://www.diocese-porto.pt/index.php?option=com_paroquias&view=pesquisarmap&Itemid=163
***
No último dia 15 de novembro, comemoramos mais um aniversário da Proclamação da República no Brasil, que instituiu um sistema de governo integrado por representantes eleitos pelo povo, sobrepondo-se à monarquia, já que até 1889, todas as decisões giravam em torno do Imperador Dom Pedro II. A palavra “República” vem do latim “res publica” e significa “coisa pública”, o que por si só já revela a importância desse sistema. Com o regime democrático, que permite ao povo (governados) uma efetiva participação no processo de formação da vontade pública (governo), ganhou maior relevância.
Por ocasião da data solene que passou, vale refletirmos e até mesmo conhecermos alguns dos principais aspectos da República Federativa do Brasil, cujos fundamentos expressos na Constituição são: soberania (poder máximo de que está dotado o Estado para fazer valer as decisões e autoridade dentro de seu território; cidadania (qualidade do cidadão, caracterizada pelo livre exercício dos direitos e deveres políticos e civis); a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político (existência de mais de um partido ou associação disputando o poder político).
Por outro lado, constituem seus objetivos primordiais: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, além de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação , propósitos expressamente previstos na Constituição.
Da simples leitura, percebe-se quão longa e difícil é a tarefa de todos na perseguição e consecução destes objetivos, notadamente o da consolidação dos fatores que aprimorem o respeito à dignidade humana, princípio que situa as pessoas no vértice de todo o ordenamento jurídico, pois o Direito só se justifica em função do ser humano, que deve ser tratado como um fim e nunca um meio.
Num mundo onde o humanismo parece ceder espaços cada vez maiores para o materialismo, prevalecendo uma cultura extremamente consumista, muitas dessas aspirações permanecem abstratas, distantes do mundo real, reconhecendo-se direitos, sem efetivá-los na prática, o que frustra e contraria a base da Justiça, fomentando ainda mais, os extensos e predominantes critérios de desigualdade social, tornando desacreditadas algumas de nossas instituições e desesperançada grande parcela da população.
AMARUDERECIMENTO INSTITUCIONAL
Na realidade, o amadurecimento institucional da República Federativa do Brasil ainda requer desenvolvimento cultural e educacional, fortalecimento da cidadania com a inclusão dos excluídos (reforma agrária justa e legal, habitação social, saneamento, saúde) e exige um grande esforço de restauração do respeito à lei, com provimento eficiente de justiça e segurança pública.
UMA DATA PARA LUTAR CONTRA A DISCRIMINAÇÃO
O primeiro grito de liberdade ecoado na América Latina foi dado por Zumbi, que pagou com a própria vida por ter construído na Serra da Barriga, Alagoas, uma verdadeira república, onde conviviam em liberdade não apenas os negros fugidos do escravismo, mas também brancos foragidos da Justiça e índios. Sua execução ocorreu há mais de 320 anos, e é por isso que comemoramos na segunda-feira, vinte de novembro, o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Trata-se de uma data de suma relevância, posto que, apesar da legislação em nosso país coibir a discriminação e o preconceito racial, eles existem, ainda que dissimulados e têm sido fatores determinantes na definição da pirâmide social e das relações de trabalho no Brasil, necessitando serem afastados e extintos, para não se contrariarem princípios gerais de Direito em pleno século XXI.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
No mês passado, esteve em São Paulo, lançando mais um livro na Editora da UNESP, o respeitado historiador inglês Peter Burke, um dos expoentes da Nova História Cultural. Burke, filho de pai católico irlandês e de mãe judia polonesa, fez uma conferência muito bonita, sobre a utilização de imagens como documentos históricos, tema do livro que estava lançando. Não leu a conferência, como costumam fazer muitos europeus, mas apresentou-a à moda brasileira, de improviso e sem embaraço. Falou com forte sotaque britânico, mas num português claríssimo e, do ponto de vista gramatical, impecável. Burke é, aliás, casado há muitos anos com uma brasileira e já lecionou na USP e em outras universidades brasileiras. A mediação da conferência foi feita, de modo brilhante, pela Profa. Mary Del Priore, do IHGB.
No artigo anterior, desta coluna semanal, tratamos da chamada “História dos Excluídos”, ou seja, daqueles que fazem História anonimamente, de modo discreto, sem estarem no foco das atenções e dos registros oficiais. O assunto tem tudo a ver com Peter Burke, que comentou, em texto muito conhecido e frequentemente citado, dois relatos da batalha de Waterloo. Uma exposição pormenorizada da batalha foi escrita pelo general que a venceu, o Duque de Wellington. Como ele próprio reconhece, a vitória foi devida à providencial chegada, já no final da tarde de um dia chuvoso, das tropas do general prussiano Blucher. Até aquele momento, a decisão da batalha estava incerta e havia ainda uma possibilidade muito grande de Napoleão sair vencedor. Mas a chegada de Blucher, que vinha em marcha batida e conseguiu chegar a tempo, foi fatal para Napoleão e selou para sempre sua sorte.
Outra descrição, da mesma batalha, foi encontrada no diário de um soldado raso inglês que participou do combate e também registrou suas impressões e sua versão dos acontecimentos. São óticas diversas que permitem, aos historiadores de hoje, uma visão mais completa e abarcativa do grande acontecimento. Tanto o soldado quanto o generalíssimo participaram da batalha. Portanto, o resultado dela deveu-se aos dois. Mas não se pode dizer que se deveu igualmente aos dois. As massas, as multidões, os anônimos, têm sem dúvida seu importante papel na História. Mas querer uma história sempre vista de baixo para cima, parece-me desarrazoado. Pois sempre terá razão Hobsbawm, que diz que, na História, muito pouca coisa se fez de grande, que não fosse obra de elites. Lembre-se, ainda, a famosa frase atribuída a Alexandre: "Eu não temeria um grupo de leões conduzidos por uma ovelha, mas temeria um rebanho de ovelhas conduzidas por um leão."
De qualquer forma, é sempre enriquecedor analisar os acontecimentos históricos nas duas óticas: na oficial, que normalmente provém dos grandes protagonistas, e também a partir de documentação primária de pessoas simples, que estão muito distantes dos centros de decisão do poder.
Adquiri no ano passado, num site de leilões europeu, por uma quantia muito acessível (custou menos do que eu pagaria aqui no Brasil por um livro novo de 800 páginas) um acervo que é um verdadeiro tesouro, nessa linha. Trata-se de um conjunto de 410 cartas trocadas entre um casal francês durante a Segunda Guerra Mundial. Eram jovens, os dois, tinham acabado de casar e ainda estavam na lua-de-mel quando estourou a Guerra. O rapaz foi convocado, serviu no Exército francês durante a fase inicial do conflito e caiu prisioneiro dos alemães durante a “Blitzkrieg” da primavera de 1940. Passou mais de quatro anos num “Stalag", campo de concentração de prisioneiros militares. Não era um campo de extermínio, mas era um campo de concentração privilegiado, digamos assim, com trabalhos forçados, para os não-oficiais, mas no qual os alemães, por força dos acordos de Genebra, eram obrigados a tratar razoavelmente bem os prisioneiros, que até podiam se corresponder com suas famílias.
O resultado é que, nos anos em que esteve prisioneiro, o rapaz e a moça trocaram mais de 400 cartas, que estão, todas, em meu poder. São interessantíssimas. Vê-se que a moça é de nível cultural bem superior ao marido. Pela letra regular e pela fluência da escrita, vê-se que tinha algum estudo. Já ele escrevia com letra tosca e num francês com muitos erros de ortografia. Das 410 cartas, umas 370 são da moça, que escrevia mais, umas 40 são do rapaz. Há troca de fotografias dos dois, durante a guerra. Os assuntos políticos e militares eram vedados nessa correspondência, mas nas entrelinhas podem ser notadas alusões sobre o andamento da Guerra.
Estou aos poucos explorando essa documentação primária, que poderá, mais tarde, render um livro bem interessante, na linha da “História dos Excluídos”. Será sobre a Segunda Guerra vista por um casal apaixonado, separado pela força das circunstâncias.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História
Perto da nossa casa, no meio de uma região valorizada da cidade de São Paulo, situada entre a zona central e sul, há uma favelinha, ou, segundo o politicamente correto, uma comunidade. Seja o nome que se quiser dar, a verdade é que isso não muda a situação de quem vive ali, na favela ou na comunidade.
Moramos nas redondezas há nove anos. Quando nos mudamos para o lugar, para ser honesta, não tinha notado a existência da dita cuja, o que se deu apenas alguns dias depois. Confesso que fiquei com um pouco de medo, pois além de um estigma social, havia boatos, ou mais do que isso, envolvendo o local.
Por outro lado, segundo nos disseram, não era preciso que nos preocupássemos, pois os moradores da referida comunidade não incomodavam ninguém da região. Com o passar do tempo, de fato, acabamos conhecendo muita gente boa, honesta e trabalhadora que residia naquele lugar e, via de regra, nosso relacionamento com o entorno sempre foi tranquilo.
Nem tudo, porém, são flores. Há ali um entra e sai de pessoas que por certo lá não se dirigem para comprar flores e é inegável que a criminalidade orbita pelo local. De amigos policiais eu já ouvi várias histórias que me deixaram de cabelo em pé, dando conta de que até cativeiro com reféns de sequestro já foi encontrado ali. Se é verdade, contudo, também não posso afirmar peremptoriamente.
Infelizmente, a presença de pessoas totalmente embriagadas ou sob efeito de entorpecentes é uma constante, o que causa um pouco de receio a quem circula pelo bairro a pé, sobretudo de noite.
Há por certo, um preconceito que acaba maculando as pessoas que ali vivem. Já soube de uma moça, excelente manicure, que era mandada embora sempre que descobriam onde ela morava. Por óbvio que há um despropósito, um descabimento nisso, porque o lugar que você mora não deveria limitar quem você.
Hoje, ao acordar, escutamos muitas sirenes de bombeiros e o barulho estava muito próximo. Assim que saí de casa descobri que a ocorrência era na comunidade. Aparentemente um “líder” local foi morto em uma ação policial e isso desencadeou o furor das pessoas que, em represália, incendiaram caçambas de lixo, fechando o acesso à rua. A polícia foi acionada e, após a intervenção dos bombeiros, permanece no local, ainda inacessível aos transeuntes não moradores.
Fico pensando que além de haver um imenso descaso com a população por parte do Poder Público de forma geral, e considere-se que a comunidade ali já se encontra instalada há pelo menos 5 décadas, há ainda, claramente, a existência de Estados paralelos, os quais ditam suas próprias regras e que não se submetem aos Poderes constituídos.
Em tempos de escassez ética e moral, fica difícil decidir entre o bandido de colarinho branco e o bandido comunitário. Enquanto isso, quem não ocupa poder algum fica no meio do caminho, desviando de balas e sonhos perdidos...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista. São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
OS MEUS LINKS