PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quinta-feira, 29 de Março de 2018
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - PÁSCOA SIGNIFICA LIBERTAÇÃO E CELEBRAÇÃO DA VIDA !

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Como boa parte das comemorações religiosas, a Páscoa tem sua origem relacionada aos fenômenos da natureza. Há milhares de anos, os pastores do Hemisfério Norte proclamavam a chegada da primavera com festa, revelando-se por isso, num evento universal, onde os homens, independente do credo e origem, festejam o renascimento da vida.

         Para os católicos ela passou a significar libertação através da Ressurreição de Jesus, que venceu a morte, completando a redenção da humanidade. Este fato é de capital importância à compreensão do Cristianismo, de tal modo, que sem ele, não seria possível imaginar sua existência e continuidade. Nesta trilha, com raro brilhantismo, em recente comemoração da Semana Santa, Dom Cláudio Hummes, cardeal-arcebispo metropolitano de São Paulo, apregoou que é preciso “derrotar a cultura da morte e instalar a cultura da vida”.

         Assim, esse momento nos lembra da importância de se festejar a existência. Devemos refletir sobre o mundo em que vivemos, marcado pelas desigualdades, egoísmos e injustiças e passarmos a lutar contra as malesas reinantes, através de ações  desprendidas, que possam consolidar a dignidade humana e consequentemente, a ordem social. Enraizada em princípios éticos que reafirmem a primazia da pessoa sobre a economia, alcançaremos uma convivência solidária e com partilha.

         Por outro lado, há muitas tradições e símbolos envolvendo o período pascal, como ovos de chocolates e coelhos. Apesar da importância histórica que representam, praticamente foram absorvidos por apelos comerciais, distanciando-se de seus verdadeiros significados. O maior sentido da festa pascal reside na força da ressurreição de Jesus, colocando o ser humano  no caminho de realizações sólidas e na linha da fraternidade.

         Nessa trilha e a título de reflexão,  transcrevemos parte de artigo publicado pela historiadora Mary Del Priore :- “O mito do eterno retorno embutido nos ritos da Páscoa, no símbolo do ovo, significa, não o paraíso perdido, mas o que podemos construir. Para vivermos o desafio de nos encontrar com a vida, é preciso nos inserirmos numa dinâmica que nos transforme em seres melhores do que somos. Despojando-nos de toda a resignação diante do horror. Abandonando todo o comodismo perante o desespero. Para isso, além de  “ter boa mão”, como recomenda a tradição popular, melhor seria “dar a mão” (“ O Estado de São Paulo”- Suplemento Feminino – pág. 02 – 22/23.04.2000).

 

 

                   Reflexões para a Páscoa

 

 

 

                Os que passam a vida exclusivamente buscando poder e riqueza, quando alcançam seus objetivos, são mais respeitados do que aqueles que procuram uma convivência fraterna, igualitária e solidária. Deixam-se de lado aspectos morais, éticos e religiosos, sendo que o bem jurídico de maior proteção - a vida – transformou-se em algo descartável, quase que desprovido de qualquer valor. A mera imagem de que o sucesso é vital, passou a dominar a mídia, não importando o que se faz para obtê-lo. E tal quadro fomentam as injustiças. As desigualdades sociais são cada vez mais gritantes e o egoísmo desenfreado acaba por direcionar ações, atitudes e até gestões políticas, que substituem o interesse social pelas aspirações individuais de seus titulares.

         Aproveitemos esse domingo festivo para avaliarmos nossas posturas. Verificarmos se estamos mais voltados para nós mesmos, fechados num individualismo muito grande ao invés de espelharmos respeito e afeição ao próximo. E principalmente, participarmos ativamente dos trabalhos de nossos representantes populares, exigindo-lhes posições condizentes com os cargos que exercem buscando primordialmente o bem comum

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:57
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - PELAS VIAS DO CENTRO

 

 

 

 

 

 

 

 

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Percorro as vias do centro em Via-Sacra. Sigo em prece, com o Pastor do rebanho de que faço parte, Dom Vicente Costa. Com seu olhar, atitudes e palavras, ele carrega as ovelhas, serenas ou rebeldes, em seus braços.  Segue, também, o pároco da Catedral, Padre Milton Rogério Vicente e Padre Jair. Há movimentos, congregações, leigos, simpatizantes. Carrego, com cuidado, para não perder, o que Padre Milton diz sobre o caminho sagrado: “Cada pequeno passo da Via-Sacra é, na verdade, um passo dEle em minha direção”. Verdade, pois na cruz se encontram os pecados individuais e o Senhor vai a ela em gesto supremo de amor para perdoar e salvar.  Como teria me perdido da salvação se o Senhor não me fosse anunciado desde o ventre macio de minha mãe.
Tenho pegadas diferentes por esses espaços. Passei por eles de mãos dadas com meu pai.  Saudade dele!  Trinta e um anos de distância, sem se tornar ausência.  Que formidável a presença de minha mãe nos seus 94 anos! Passei, também, por eles sozinha, sem risco algum de violência, em direção à Igreja, ao cinema, ao Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, às praças em busca das mulheres que me comoveram pelo corpo atingido por misérias dos que se consideram acima. Disseram-me que seriam elas mariposas, a gravitar nos postes de luzes anêmicas.  Constatei que eram crisálidas, impedidas de alargar as asas e experimentar o voo no azul pelos devoradores de carnes.
Outras lonjuras, que permanecem assiduidade, prosseguem comigo. Reconheço, em alguns locais, os meus olhares antigos, mas há muitos deles que o “progresso” alterou e destruiu. Que pena! A história, através das construções, é mais do que imagens nos terrenos, é uma questão de alma.
Silêncio, silhuetas, solidão e preces se confundem nessa Via-Sacra. Há gritos de dor que se mantêm em alguns. Há um lamento preso sob os escombros provocados por carrascos. O salmista Marquinhos, que acorda sons divinos, canta: “Tanto que esperou pudesse um dia/ Chegar bem perto, dizendo tudo. (...) Ela ultrapassou toda medida,/ Não lhe bastando meros preceitos. / Lágrimas, perfume, que acolhida!/ Nem se importando com preconceitos./ Ela muito amou, tem a minha paz. (...)./ Sabe quem eu sou e será capaz/ De espalhar na terra meu amor”.
De cada estação, recolhemos o cravo, que faz sangrar, para colocá-lo na Cruz redentora da esperança.

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.


 



publicado por Luso-brasileiro às 11:53
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - AINDA SOBRE O DEMÔNIO DO MEIO DIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Vimos, no artigo anterior, como a expressão “demônio do meio dia”, que figura no Salmo 90, foi objeto de interpretações muito diversas, ao longo da história, por parte dos comentaristas das Escrituras. É uma expressão de sentido misterioso, que sempre desafiou e continuará a desafiar a argúcia dos exegetas.

Gostaria de acrescentar, ao que ficou dito no artigo anterior, uma referência ao célebre romance Le Démon de midi, de Paul Bourget (Paris: Plon-Nourrit, 1914, dois vols., 317 e 377 pp.), membro da Academia Francesa.

Paul Bourget, nascido em Amiens, em 1852, e falecido em Paris no ano de 1935, foi escritor prolífico e extremamente popular em seu tempo. Seus numerosos romances alcançavam tiragens enormes e eram lidos avidamente não só na França, mas em muitos outros países. Aqui mesmo, no Brasil, seus livros tiveram ampla divulgação, pois ainda hoje é relativamente fácil encontrar em sebos edições francesas de seus livros, todos invariavelmente estruturados em torno de análises psicológicas muito profundas. A partir da conversão ao catolicismo de Bourget, ocorrida por volta do ano 1900, seus romances passaram a ter uma discreta, mas nítida inspiração religiosa. Reagindo ao mesmo tempo contra o romantismo e contra o naturalismo realista, Bourget propendeu para a exposição pormenorizada das psicologias dos seus personagens e dos dramas existenciais que eles viviam. Seus romances só são entendidos e devidamente apreciados por pessoas maduras e de feitio de espírito crítico e analítico. Leitores superficiais de hoje em dia não conseguem acompanhar o fio da narrativa bourgetiana, que fazia os encantos do grande público de um século atrás.

Em “Le Démon de midi” é descrita, de modo vivo, realístico e mesmo não isento de certa crueza, a trajetória psicológica de Savignan, um católico militante que, levado por um fundo de orgulho e auto-suficiência, por sua falta de espírito sobrenatural, de vigilância e de ascese, pela revivescência de lembranças da mocidade, e pelas circunstâncias da vida, acaba desviando-se do seu dever, e entregando-se a uma paixão adúltera e pecaminosa.

Bourget apresenta a meia idade, a idade madura (o “herói” do romance tem 43 anos), como sendo a fase entre todas perigosa, em que muitos, tentados pelo terrível demônio do meio-dia, se perdem, desprezam e jogam fora todo o bem que fizeram até então, e se precipitam num caminho oposto. Um trecho do livro resume bem esse pensamento. É um dos personagens, o beneditino Dom Bayle, que afirma, comentando precisamente os versículos 5 e 6 do salmo 90:

 

“Para eles (os antigos) o daemonium meridianum era um verdadeiro demônio; a tentação do meio dia especial nos claustros. Haviam observado que a hora sexta, nosso meio dia, é temível para o religioso. O cansaço do corpo, esgotado pelas vigílias e pelo jejum, ganha a alma perturbada. Aumenta a acédia, esse desgosto, essa tristeza das coisas de Deus que dá ao cenobita a nostalgia do século abandonado, o desejo de uma vida diferente, uma revolta íntima e profunda; esse é o Demônio do meio dia. Pois eu dou o mesmo nome a outra tentação e não creio faltar ao respeito devido às Sagradas Escrituras, que sempre comportam mais sentidos que a mera interpretação literal. Essa tentação é a que assedia o homem, não na metade de um dia, mas na metade de seus dias, na plenitude de suas forças. Até aí ele conduziu seu destino de virtude em virtude, de triunfo em triunfo. Mas eis que o espírito de destruição se apodera dele - quer dizer, o espírito de sua própria destruição. Uma força inimiga, o aeternus hostis, o atrai para fora de seu caminho, para veredas em que ele perecerá. Essa estranha alucinação vai do espiritual ao temporal. É, na ordem da história geral, Bonaparte, em 1809, empreendendo a guerra de Espanha; seu sobrinho, cinquenta anos mais tarde, a da Itália. E numa outra ordem, o Victor Hugo de Feuilles d'automne  e o Lamartine de Harmonies, tentados pela política. Bem sabeis para onde ela os conduziu. É, numa outra ordem ainda, e para nós mais grave, Lamennais e Lacordaire fundando L'Avenir  e chegando à terrível encruzilhada de 1833, na qual o Demônio do meio-dia  os esperava, para ser vencido por um e para  perder o outro” (op. cit., vol. I, pp. 8-9).

 

A meu ver, essa referência ao romance de Bourget, longe de ser extemporânea, completa adequadamente o esforço exegético efetuado a partir de fontes antigas.

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:49
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RONALDO CAMPOS CARNEIRO - REFLEXÃO PRÉ ELEITORAL - O BRASIL QUE QUEREMOS

 

 

 

 

 

 

 

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Coube a um sociólogo lançar as bases da legislação de proteção social e a um retirante nordestino com pouca instrução, mas marcante sensibilidade humana, reunir toda esta legislação e ampliar as bases daquilo que é conhecido hoje como bolsa família, passando de alguns milhões para muitos milhões de beneficiários. Desde então, este programa tem moldado a estrutura de poder neste País. Não vai ser diferente nesta eleição. Acredito mesmo que o sucesso de programas sociais pode ser medido por quantas pessoas deixam o programa e não por quantas são adicionadas

Apresento, adiante uma sugestão para a evolução do  programa Bolsa família, em linha com as manifestações de rua de meados do ano passado, onde um enorme contingente de pessoas protestou contra a situação geral de forma difusa, sem foco, sem uma clara ideia de rumos a seguir – todos sabiam que algo estava errado mas não exatamente o que. O fato é que capitalismo e socialismo são remédios amargos na historia da humanidade que estão com prazo de validade vencido.

Proponho um novo pacto social, refletido num contrato de trabalho onde nutrição, saúde e educação – aos empregados e todos seus dependentes - passam a ser responsabilidades do processo produtivo comprados no livre mercado privado e o governo, reduzindo a tributação correspondente. 

 

Não falamos de filantropia, mas num novo conceito de trabalho humano como processo de transformação de energia humana em energia física ou intelectual. Trata-se de substituir a cambiante lógica de ideias – ideologia – pela invariável lógica da vida – biologia, ou ainda, buscar a inclusão por direito natural e não por consumo.

A liberação total de preços e salários conduzirá, inexoravelmente, ao pleno emprego produtivo.

Somente com pleno emprego não precisamos da supervisão do estado – mão invisível age de forma inexorável!!

Certamente o empresário não ira agir por filantropia, é o pleno emprego produtivo que será o fiador deste Pacto Social.

“Fazemos caridade quando não conseguimos impor a justiça. Porque não é de caridade que necessitamos. A justiça vai às causas; a caridade, aos efeitos”. Escritor francês Victor Hugo

Vamos avaliar os efeitos desta proposta na sociedade brasileira:

garantia de vida e progresso a todos – sustentabilidade – fome, saúde e educação não são variáveis de mercado, mas necessidades biológicas;

Lucro diretamente vinculado a saúde humana;

Mais comida na boca de crianças e menos recursos na mão de políticos inescrupulosos;

Corrupção tendendo a zero – acabam as necessidades politicas de compra de consciências – troca de favores, jatinhos forrados de dinheiro vivo: na cueca nas meias!!! Enfim toda a indignidade que envergonha a todos, alguns se locupletando a custa do sacrifício de todos. Cessam também a presença de aproveitadores no meio politico onde só fazem negociatas em beneficio próprio. Seca a fonte de dinheiro no meio politico e burocrata. Nesta nova conjuntura as pessoas vão se dar conta de como a segunda profissão mais antiga do mundo - políticos aproveitadores – guarda uma semelhança incrível com a primeira!!!

Economia totalmente privatizada – garantia de eficiência e eficácia. Um mito econômico que perpassa mentes, muitas vezes brilhantes, é uma falácia, uma mentira que empresas estatizadas são do povo. A única participação do povo na compra de gasolina é pagar o alto preço na bomba do posto. Estatal só serve para políticos aproveitadores colocarem apaniguados, parentes, amigos, negociatas: vide a ponta do iceberg em escândalos um atrás de outro inflando o preço da gasolina que pagamos. Os mexicanos, com ironia, traduzem esta necessidade politica: “Fora do orçamento não tem salvação”

Outra falácia econômica muito disseminada, sem nenhuma base conceitual sólida, fracassada no mundo inteiro, consiste na crença numa mistura de mercado com intervenção do estado – neoliberalismo – ou socialismo de mercado, isto só conduz a pobreza e burocracia. O chamado mercado sob supervisão do governo é uma justificativa para defesa dos interesses de plutocratas, das empresas e super ricos que chamam a isto de democracia social para enganar os eleitores. Isto não tem nada a ver com teoria econômica, mas tudo a ver com manutenção de poder. Fora da economia de mercado não tem solução.

Estatizantes são ingênuos, mal intencionados ou usam de desonestidade intelectual. Não suportam meia hora de discussão racional.

Sugiro ainda que os PHD´s que vão assumir o comando da economia façam um curso de humanidades, pois  o capitalismo foi criado para lidar com o dinheiro e não com seres humanos. Alias, capitalismo é a exploração do homem pelo homem, socialismo é o inverso.

“O trabalho existe antes, e é independente do capital. O capital é apenas o fruto do trabalho, e jamais teria existido sem a prévia existência do trabalho. O trabalho é superior ao capital, e merece muito mais consideração”

Esta verdade expressa por Abraham Lincoln deve ser resgatada por todos aqueles zumbis que estão vagando perdidos e descolados de conceitos básicos da economia

Ao valorizar o superávit primário, vale dizer, pagamento dos juros devidos, estes operadores mágicos da economia se esquecem de que  só o trabalho consegue gerar capital e que este nada mais é que trabalho acumulado. Tão importante quanto pagar os juros aos banqueiros é resgatar a enorme divida social, algo como superávit primário para quitação da dívida e inclusão social – buscando aumentar os brasileiros no mercado de trabalho e gerar mais capital.

A competição de mercado que se assiste hoje é como uma corrida de atletismo: alguns de barriga cheia e com acesso aos sistemas de saúde e de educação, disparados lá na frente; e uma multidão de excluídos lá atrás: o mínimo decente e justo é colocá-los na mesma linha de partida ou igualar as oportunidades na largada.

Pretendo com estas linhas, contribuir para o debate racional de ideias para que nossos filhos, netos e bisnetos possam viver num mundo com mais oportunidades e decência. Buscar a inclusão social por direito natural e não pelo consumo. Quero ter orgulho de meu país. Faço minhas as palavras de Lya Luft – O Brasil que podemos ter:
“Quero um pais integrado no contexto global mais civilizado, não obtuso e à margem, não ofuscado pela ideologia ou caprichos, não alardeando um ufanismo descabido e pobre, mas aberto ao intercambio com os países mais avançados, mais livres e mais justos, sendo ouvido, respeitado e admirado por vencer a alienação e o atraso.”

 

 

 

 

 

RONALDO CAMPOS CARNEIRO   -   Engenheiro industrial mecânico de produção, formado na FEI/PUCSP, em São Paulo   -   rcarneiro4@gmail.com

 

 

(Engenheiro industrial mecânico de produção formado na FEI/PUCSP em São Paulo - 1967, trabalhou na Ford Willys do Brasil, COMASP(atual SABESP), CESP, FURNAS e Governo Federal, onde negociou contratos de financiamentos de projetos com o Banco Mundial, BID e agências bilaterais.Lecionou na engenharia da EESC/USP e FEI/PUCSP, atendendo a cursos de extensão e aperfeiçoamento nos Estados Unidos, Japão e Suécia. Economia política é sua área de concentração, com diversos trabalhos publicados,inclusive "Voltar as origens para merecer o amanhã", "Manifesto aos Trabalhadores, Empresários e Governo - Um Ensaio Sócio-Econômico de Teoria Política" "Reflexões sobre democracia, capitalismo e socialismo". É membro ativo do Rotary Club - Brasília Sudoeste, onde foi seu presidente em 93/94 e governador do distrito rotário 4530 em 2008-9. Foi Prefeito Comunitário da SQN 106 em Brasília, no período de 1999/2002. Pelos relevantes serviços prestados a cidade recebeu a medalha Ordem do mérito JK. Foi diretor da ACDF - Associação comercial do DF e é diretor da CCBP - Câmara de comercio Brasil Portugal - Brasília.) 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:30
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VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - FEIJÃO COM ARROZ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            As pessoas morrem. As coisas passam.

            A morte não é o problema.

            Mas, a gente ficar para experimentar o acre sabor da saudade e engolir por vias tortas a dissolução imaterial do que o envoltório de carne sobrevivente guarda, oprime e esmaga.

            Toda fé é pouca.

            Toda intenção é pretensa.

            Ninguém à volta está senão para si mesmo.

            O destino do ser é a solidão.

            Tudo mais é discurso. Belas palavras.

            Um amigo, nesse turbilhão, me disse que aguardará ouvir de mim de novo “palavras sorridentes”.

            Cá estão, pois, felicidade é receita de bolo. É só segui-la.

            É script.

            Letras são ingredientes fartamente disponíveis e baratos.

            Palavras podem sorrir num estalar de dedos, bastando-nos de graça impregná-las, seja ao toque da quase extinta caneta... seja ao toque do teclado...

            Estas aqui, por exemplo, embora de cantinho de boca, sorriem.

            Um tantinho agridoces ainda, entanto... sorriem.

            Há quem faça melhor o papel.

            Eu me resguardo. Fecho-me em copas, em conchas, em casa.

            Sempre me entendi mais com as escritas do que com as faladas. Culpa dalgum desajeito, sei lá.

            Fato irrefutável é que palavras podem tudo, sobretudo, porque de graça vêm e vão. Até mesmo as sem graça.

            Infelizmente, não refazem um malfeito; não corrigem um único erro fatal; não têm na prática a eficácia da teoria que denotam.

            Perdão? Também é palavra.

            Perdoar... perdoar-se...

            Além do que, passou o Natal. Passou o Ano Novo.

            Eis que envelhecem o espírito da paz e o amor fraterno.

            O tempo é outra vez de encarar as coisas sem o brilho das estrelinhas dos cartões impressos ou o som das canções nas mensagens eletrônicas.

            Contudo, alegremo-nos. Alegremo-nos, queridos amigos; há esperança – já já é carnaval! Ops... já passou também!!!

            Então, findas alegrias mortais, não nos matemos junto, nessa verborreica tentativa de lapidar as palavras veríssimas que deixarão as marcas de tudo como foi ou é ou será.

            Deixemos à Esperança.

            Ela que faça jus a sua lendária posição na história do folclore da humanidade.

            Ela que as redija, diga e rediga com sua monstruosa boca de (espera-se) sabedoria.

            Ela que esclareça religiões, políticas, futebóis, carnavais, obviedades, tolices etc.

            Ela que cuide disso, enquanto a gente faz o feijão com arroz.

 

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 11:14
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PÉRICLES CAPANEMA - O QUE PREFERE, INFLUÊNCIA OU PODER ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Influência ou poder? Já vi, quer juntar os dois. Um ou outro, dependendo das circunstâncias. Se fosse necessário escolher, qual deles? Rumine sem pressa, nem precisa optar agora. E, praticamente, o mais importante é saber agir para ter os dois ao mesmo tempo.

 

Influência, indica a palavra, fluir para dentro, mexer com o interior, modificá-lo. Poder é imposição, coerção. Nas famílias, tantas vezes o pai tem o poder, pouca ou nenhuma influência. E a mãe, sem poder efetivo, exerce influência. O mesmo sucede em famílias estendidas, pais, mães, avós, primos, empresas, grupos de amigos; enfim, em ajuntamentos humanos de todo tipo. Com uns, o poder; com outros, sobretudo a influência. Existem países de gigantesco poder. Há nações de ampla influência e, relativamente, pouco poder. E é sobre isso que pretendo discorrer hoje. Importa especialmente ao Brasil, país vocacionado para a influência, tem valor para qualquer país.

 

Joseph S. Nye, professor em Harvard, criou a expressão soft power (poder suave, brando). Está mais ligado à influência que ao poder. Uma das definições do autor: “Soft power á a capacidade de conseguir o que você deseja mediante atração e não coerção ou compra. Brota da atração das políticas, ideais políticos e cultura de um país. Quando nossas políticas são vistas como legítimas aos olhos dos outros, aumenta nosso soft power”. Continua o professor: “A sedução é sempre mais efetiva que a coerção”. Soft power, percepção subjetiva, é simbolismo, irradiação, capacidade de atrair, encantar e ser imitado, até determinar em certa medida a direção da vida.

 

A ela se opõe a expressão hard power (poder duro). No meio está sharp power (poder cortante). Hard power é poder militar, força econômica. Disse acima, imposição e coerção. Sharp power é a região cinzenta entre os dois extremos, mistura influência e imposição, “confiança na subversão, bullying, e pressão, na promoção da autocensura”, lembra o professor Joseph Nye. Arma de “regimes autoritários, impõe condutas internamente e manipula opiniões externamente”, acrescenta.

 

O mais conhecido exemplo de sobrevalorização do hard power, acho, vem de Stalin. Em 1935, depois de assinar o pacto de assistência mútua com a Rússia soviética, Pierre Laval, ministro do Exterior francês, queria aliança mais ampla, englobando Mussolini, Inglaterra e até a Igreja Católica. Em conversa com o ditador soviético, para tornar mais fáceis as tratativas, sugeriu a ele que diminuísse a perseguição contra os católicos, duríssima em especial na Ucrânia. Resposta do tirano: “Quantas divisões tem o Papa?” Como o Papa não tinha força militar, nem iria considerar a sugestão. A manifestação boçal do chefe comunista, enorme tolice, negava que o soft power pudesse ser determinante.

 

Seu maior exemplo de eficácia de que agora me recorde foi a oratória galvanizadora de Winston Churchill durante a 2ª Guerra Mundial, fator decisivo da resistência e vitória da velha Albion. “Winston Churchill mobilizou a língua inglesa e a lançou na batalha”, dito real e que ficou célebre.

 

Saiu o relatório The Soft Power 30 – a global ranking of soft power – 2017 [Os 30 primeiros Estados em soft power – lista global de 2017, em tradução bem livre], confeccionado sob a coordenação de Jonathan McClory, lido com grande atenção mundo afora por gente influente nos governos, empresas e universidades que contam. Para a elaboração da lista, além de opinião de grandes especialistas, foram ponderados itens como cultura, governo, capacidade de relacionamento, importância e atratividade das universidades, pesquisa, nível da informática; até culinária entra.

 

A França não lidera apenas em culinária. Em 2017, é a nação mais influente do mundo para tais estudiosos. Em segundo lugar está a Inglaterra. Apenas em terceiro vêm os Estados Unidos. Quarto lugar, Alemanha. A China aparece em 25º, Rússia em 26º, o que mostra a reserva, até mesmo a oposição generalizada a seus intuitos expansionistas, bom sinal.

 

O Brasil detém a posição 29. Mau sinal. Para o empurrão costa abaixo contam vários fatores, dos quais um é o governo lotado de corruptos que vem desde os dois períodos de Lula e, na percepção mundial, continua até hoje. À frente do Brasil estão países como Cingapura (20º lugar), prestigiada pelo ótimo ambiente de negócios, Suíça (7º posto), simpatizada pelo governo eficaz e limpo. Outros países que nos deixam na rabeira: Japão (6º), Dinamarca (11º), Portugal (22ª). O Brasil é o único latino-americano na relação dos 30. Já fora dela, aparecem Chile (32º), Argentina (33º) e México (34º).

 

Em área, o Brasil é o 5º país do mundo (e não tem desertos nem geleiras), em população é o 6º. Estar jogado na 29º posição mostra desleixo, desperdício de talentos, falta de norte. Sei bem, a avaliação é subjetiva, cada um pode fazer sua própria lista, com base em critérios diferentes dos usados pelos estudiosos. Contudo, grosso modo, é aceitável a classificação, tem a favor argumentos ponderáveis.

 

Empurrando para fora do quadro ufanismos nacionalisteiros, sentimos que mereceríamos mais. Mereceríamos, condicional, se fizéssemos por onde. Fizéssemos nossa parte. Estamos fazendo? Ninguém vai garantir. A gente colhe o que planta.

 

O listão estrala como bofetada no rosto (o pior da bofetada é o som, dizia Nelson Rodrigues). Falta criar vergonha e disparar no rumo certo. O começo de qualquer caminhada correta é a constatação humilde, estar fora do destino reto. Depois, propósito sério de pegar a estrada certa. Onde enxergamos isso?

 

Nas ruas, o que vemos são blocos de foliões, festeiros pelo menos resignados com a deliquescência generalizada. Daqui a pouco os sequelados das fuzarcas estarão lotando delegacias e hospitais onde equipes zelosas atenderão ferimentos, óbitos, bebedeiras, overdose, mães solteiras, sei lá mais o quê.

 

Por que lembrar agora problemas, tão na contramão do alegre e irrefletido clima carnavalesco que banha (ou suja) o País? Inconformidade. Quem não percebe, nada disso ajuda a encontrar o norte, evitar o desleixo, eliminar o desperdício de talentos humanos e recursos da natureza. Não me conformo ▬ e, estou certo, tenho companhia ▬ em ver meu país que tem tudo para dar certo por décadas teimando em dar errado. Sou dos muitos que anseiam por uma insurreição dos inconformados, incoercível, pacífica e vitoriosa. Engraçado, fiquei na dúvida, estou achando, o melhor título para o artigo seria “A insurreição dos inconformados”. Vale mais ficar a inconformidade como tema de reflexão, à maneira de um gostinho na boca, do que escolher entre poder e influência. Estimularia a ação dos inconformados, a coorte dos que lançam mão do poder e da influência para levar o Brasil à condição natural disposta pela Providência.

 

 

 

 

PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:10
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FELIPE AQUINO - AS SETE PALAVRAS DO SENHOR NA CRUZ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O profeta Isaías mostra-nos que Jesus foi para a cruz “como um cordeiro que se conduz ao matadouro (Ele não abriu a boca)” (Is 53,7). Mas o Senhor quis deixar-nos as suas últimas palavras, já pregado na Cruz. São aquelas que expressam as suas maiores preocupações e recomendações. A Igreja sempre guardou essas “Sete Palavras” com profundo amor, respeito e devoção, procurando tirar delas todo o seu riquíssimo significado.    

 

 

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  1. “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Com essas palavras Jesus selava todo o seu ensinamento sobre a necessidade de “perdoar até os inimigos” (Mt 5,44).

Na Cruz o Senhor confirmava para todos nós que é possível, sim, viver “a maior exigência da fé cristã”: o perdão incondicional a todos. Na Cruz Ele selava o que tinha ensinado: “Não resistais ao mau. Se alguém te feriu a face direita, oferece-lhe também a outra… Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis filhos do vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons” (Mt 5,44-48). “Se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará” (Mt 6,14).

Quando for difícil perdoar o amigo que nos decepcionou, o marido que nos traiu, a mulher que nos abandonou, ou aquele que nos humilhou, caluniou ou destruiu, então, olhemos para o Senhor dilacerado na Cruz, dizendo aos seus algozes: “Pai, perdoai-lhes…”

Certa vez Pedro perguntou-Lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?”

Ao que Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 21-22).

 

  1. “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Com essas palavras de perdão e amor ao “bom” ladrão, Jesus nos mostra o oceano ilimitado de sua misericórdia. Bastou Dimas confiar no Coração Misericordioso do Senhor, para ter-lhe abertas, de imediato, as portas do Céu.

Não é à toa que a Igreja ensina que o pior pecado é o da desesperança, o de não confiar no perdão de Deus, por achar que o próprio pecado possa ser maior do que a infinita misericórdia do Senhor. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “como a misericórdia e a bondade do coração de Jesus são pouco conhecidas”!

Muitas vezes o Senhor nos permite ser humilhados pelos nossos pecados, para sentirmos toda a nossa fraqueza, tocando o chão duro da nossa miséria, a fim de nos tornar humildes. Mas, ao levantarmos, arrependidos, experimentamos a doçura da sua misericórdia. Dizia Santo Agostinho: “oh! feliz culpa! oh! culpa feliz! Se não tivesse caído, não seria tão feliz!” Jesus mandou à Santa Maria Faustina Kowalska que, sob o “quadro da Misericórdia”, escrevesse esta frase: “Jesus, eu confio em Vós”.

 

  1. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46; Sl 21). Aqui vemos todo o aniquilamento do
    Senhor. É aquilo que São Paulo exprimiu muito bem aos filipenses: “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fil 2,8). Jesus sofreu todo o aniquilamento possível de se imaginar: moral, psicológico, afetivo, físico, espiritual, enfim, como disse o profeta: “foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades…” (Is 53,5).

Depois de tudo isto “ninguém tem mais o direito de duvidar do amor de Deus”. Será uma grande blasfêmia alguém dizer que Deus não lhe ama, depois que Jesus sofreu tanto para assumir em si o pecado de todos os homens e de cada homem. Paulo disse aos Gálatas: “Ele morreu por mim” (Gal 5,22). “Cristo remiu-nos da maldição da Lei, fazendo-se por nós Maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro’” (Deut 21,23).

 

 

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Leia também: A Cruz Gloriosa de Cristo

Quais são as 7 palavras do Sermão das 7 palavras?

Por que foi necessário o sacrifício de Cristo?

Por que a morte de Cristo na Cruz?

Meditação da Paixão de Cristo

 

  1. “Mulher, eis aí o teu filho”… “Filho, eis aí tua Mãe” (Jo19,26).

Tendo entregado-se todo pela nossa salvação, já prestes a morrer, Jesus ainda nos quis deixar o que Ele tinha de mais precioso nesta vida, a sua querida Mãe. E como Jesus confiava nela! A tal ponto de querê-la para nossa Mãe também. Todos aqueles que se esquecem de Maria, ou, pior ainda, a rejeitam, esquecem e rejeitam também a Jesus, pois negam receber de Suas mãos, na hora suprema da Morte, o seu maior Presente para nós.

Quem rejeita ou abandona essa boa Mãe, ofende gravemente a Jesus, pois foi por expressa vontade sua, na hora da morte, que nós a recebemos como nossa Mãe. E, se Ele assim o quis, será que nós ousaremos dizer não a Ele? Seria presunção.

É claro que só Jesus é o Salvador, “o único mediador entre Deus e os homens” (1Tm2,5), mas Maria é o mais curto caminho até o Senhor. A mediação de Maria, de forma alguma substitui a de Jesus, que é única e essencial. Maria coopera com a mediação de Jesus. Sem a de Jesus nenhuma outra teria eficácia. Maria é a grande Medianeira de todas as graças que recebemos de Deus, por Sua vontade.

 

  1. “Tenho sede!” (Jo 19,28). Dizem os Santos Padres da Igreja que esta “sede” do Senhor mais do que sede de água, é “sede de almas a serem salvas”, com o seu próprio Sacrifício que se consumava naquela hora. E esta “sede” de Jesus continua hoje, mais forte do que nunca.

Muitos ainda, pelos quais ele derramou o seu sangue preciosíssimo, continuam vivendo uma vida de pecado, afastados do amor de Deus e da Igreja. Quantos e quantos batizados, talvez a maioria, nem sequer vai à Missa aos domingos, não sabe o que é uma Confissão há anos, não comunga, não reza, enfim, vive como se Deus não existisse…

Cada um de nós, que tem consciência dessa enorme “sede” do Senhor, é chamado a saciá-la, ainda que seja com uma simples gota d’água. Trabalhar pelo Reino de Deus, lutar pela conversão dos pecadores, como fizeram todos os santos, sem exceção, é saciar essa sede imensa do Senhor. Ele é o bom Pastor que não quer perder “nenhuma” delas. Ele deixa as noventa e nove no aprisco e vai atrás daquela que está perdida nos abismos e nos espinheiros. Por isso a sua “sede” é imensa; é sede de amor.

 

  1. “Tudo está consumado” (Jo 19,30).

Diz-nos São João: “sabendo Jesus que tudo estava consumado…”. Enquanto tudo não estava cumprido, Ele não “entregou” o Seu espírito ao Pai. A nossa salvação depende agora de nós, porque a parte de Deus já foi perfeitamente cumprida até às últimas consequências. Ninguém mais poderá dizer que lhe falta o auxílio da graça de Deus, pois ela está agora a nosso dispor. Pelos méritos de Cristo morto na Cruz, a salvação está disponível a todos. E de graça. “O pecado já não vos dominará” (Rom 6,14), disse São Paulo. Agora já podemos ser livres dele. “De agora em diante, pois, já não há condenação alguma para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1). “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao julgo da escravidão” (Gl 5,1).

 

  1. “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).

Confiando plenamente no Pai, Jesus volta para Aquele que tanto amava. É o seu destino, o coração do Pai; e é o nosso destino também. Ao voltar para o Pai, Jesus indica o nosso fim; o seio do Pai, o Céu. O Céu sempre foi a grande atração dos santos durante toda vida. “Vós sois cidadãos do Céu” (Fil 3,20), grita o Apóstolo; por isso, como diz a Liturgia, é preciso “caminhar entre as coisas que passam, abraçando somente as que não passam”.

Jesus pôde entregar o espírito nas mãos do Pai, com toda confiança, porque não apegou-se a nada neste mundo, mas somente ao próprio Pai, e ao zelo de fazer a sua vontade. Depois de cumprir diligentemente tudo o que era a vontade do Pai, depois de beber até a última gota o cálice da nossa salvação, só então, Jesus entrega o espírito, só depois de ver “tudo consumado”. “Consumatum est!”

Para nós também esta deve ser a meta e o exemplo a ser seguido. Já que “ser cristão é ser um outro Cristo”, cada um de nós é chamado a desapegar-se de tudo nesta vida; a si mesmo, aos outros, aos bens, aos prazeres deste mundo, etc, para poder cumprir, como Jesus, a vontade do Pai.

Diante da Cruz de Jesus, o que é a nossa cruz? Diante do Sofrimento do Justo, o que é o nosso sofrimento? De que podemos reclamar nesta vida, quando o Filho de Deus segue para o suplício cruel “como um cordeiro que se conduz ao matadouro?” (Is 53,7).

 

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O que podemos exigir, quando Ele nada exigiu?

 

 

Que direito temos de reagir às ofensas e maus tratos que os outros e a vida nos impõem, quando o Santo morreu perdoando os seus algozes?

Olhando para o Senhor crucificado, devemos ficar envergonhados de nossas exigências, revoltas, lamúrias, reclamações, auto piedade, desforras, etc…

“Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca” (Is 53,4).

 

 

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.



publicado por Luso-brasileiro às 10:59
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PAULO R. LABEGALINI - RECEITA DE VIDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Um dia, recebi esta mensagem de um amigo:

“O dia mais belo de sua vida: hoje. A coisa mais fácil: equivocar-se. O obstáculo maior: medo. O maior erro: abandonar-se. As raízes de todos os males: o egoísmo. A distração mais bela: o trabalho. A pior derrota: o desalento. Os melhores professores: as crianças. A primeira necessidade: comunicar-se. O que mais faz feliz: ser útil aos demais. O mistério maior: a morte. O pior defeito: o mau humor. A pessoa mais perigosa: a mentirosa. O sentimento pior: o rancor. O presente mais belo: o perdão. O mais imprescindível: o lar. A receita mais rápida: o caminho correto. A sensação mais grata: a paz interior. O resultado mais eficaz: o sorriso. O melhor remédio: o otimismo. A maior satisfação: o dever cumprido. A força mais potente do mundo: a fé. As pessoas mais necessárias: os pais. A coisa mais bela: o amor!”

Que texto bonito, hein! Mais que bonito, são palavras muito profundas que deveriam ser guardadas no fundo do coração. Realmente, é uma verdadeira receita de vida!

Se misturássemos algumas palavras-chave do texto para exemplificar a linha de conduta de um verdadeiro cristão, talvez ficasse bem assim:

“Hoje, José venceu o medo de equivocar-se, superou o egoísmo e partiu para um trabalho de caridade. Procurou os velhos em desalento, buscou as crianças abandonadas, e foi comunicar-se com eles – saber das suas necessidades. Sentiu como é importante ser útil aos marginalizados, antes que a morte sofrida os leve para junto de Deus. Viu de perto que o mau humor, a mentira e o rancor, em muitos casos, destruíram sonhos e lares. Constatou ainda que aquele que vive no caminho correto da justiça e do perdão, acaba achando a paz no interior do coração.

Apesar do sorriso amarelo no rosto por ver tanta injustiça social, José voltou à feliz casa de seus pais com a sensação do dever cumprido e otimista em conseguir mais ajuda para os seus novos amigos. Uma definitiva missão passou a fazer parte da vida de José: testemunhar mais a sua fé e levar amor aos seus irmãos.”

O que nos impede de seguir o exemplo de José? Equivocar-se? Medo? Egoísmo? Pouca fé? Falta de amor?

Apenas para completar o texto do início desta matéria, eu acrescentaria: ‘A mais pura: Maria. A salvação: Jesus!’

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.



publicado por Luso-brasileiro às 10:54
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - SISTEMATIZAR O CONHECIMENTO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Certa ocasião, estando na aldeia de minha mãe, a veranear, fui convidado por abastado lavrador, casado com jovem professora, para ir almoçar a sua casa.

Durante a refeição, esta, reparando que olhava para antigo relógio de pêndulo, que estava suspenso da parede, voltou-se para mim, e disse-me contristada:

- “ Nunca está certo! Adianta-se muito… Já o levei a relojoeiro. Anda certo, uns dias…mas volta ao mesmo.”

Expliquei-lhe: os relógios de parede, acertam-se, encurtando ou alongando o pêndulo. Basta um pouco de paciência e tempo, e o relógio dará horas certas.”

- “ Mas isso é a Lei do Pêndulo! …Aprendi em Bragança! …” – exclamou atónita a jovem.

A professora tinha aprendido, no liceu, entre outras disciplinas, a Física. Fora – segundo soube, – excelente aluna, mas mostrava-se incapaz de utilizar os conhecimentos que adquirira.

Como ela, muitos de nós, somos simples repetidores do que aprendemos. Somos gravadores. Papagueamos o que nos ensinam; mas somos incapazes de utilizar o que aprendemos e decoramos.

Pouco interesse há, em acumular “ saber”, se não conseguimos, depois, usar esse conhecimento na vida.

Muitos, que são conhecidos como sapientes, não passam de “contadores”, de muitas gavetinhas. Cada compartimento, está repleto de “saber” de determinada matéria; mas, como são incapazes de ponderar e raciocinar, nenhum proveito obtêm desse amontoado de “saber”. São enciclopédias ambulantes…; incapazes de sistematizar o conhecimento adquirido.

Podem passar por sábios; acumular graus académicos; mas nada disso lhes servirá para a vida, porque: quando deparam um problema, uma dificuldade, não conseguem recordar o que a memória reteve.

Essa professora, tinha estudado, recentemente Física. Sabia na ponta da língua, toda a matéria, que lhe ensinaram, mas era inábil para acertar o relógio de pêndulo! …

Eu sei, por experiência própria, que cada um tem que ser autodidata. Aprender, atualizar-se, constantemente. Cada qual, deve assimilar, principalmente, o que for útil e vantajoso para a profissão ou para a vida quotidiana.

A escola educa o intelecto; ensina a pensar; e fornece meios, para pesquisar e progredir nos estudos.

Dá “asas” para voar livremente; mas só voa, quem quer; quem, depois de obter o diploma, continua a educar-se, a progredir, consoante os interesses e necessidades.

Saber a lei do pêndulo, não basta, é preciso saber aplicá-la.

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 10:47
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EUCLIDES CAVACO - MADRUGADA DA VIDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Curiosamente este é um dos meus primeiros sonetos, escrito há mais de 50 anos. Agora em audio para ver e ouvir aqui:

 


https://www.euclidescavaco.com/madrugada-da-vida

 

 

 

 

 

EUCLIDES CAVACO  -   Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.

 

 

 

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http://dj.org.br/novo/representacoes-da-paixao-e-morte-de-cristo/

 


Representações da Paixão e Morte de Cristo

 


Como parte das celebrações da Semana Santa, grupos de teatro apresentam peças que representam a Paixão e Morte de Jesus Cristo.

Confira a programação das apresentações que acontecem na Diocese de Jundiaí

 

 

 

Drama da Paixão de Cristo em Santa do Parnaíba

 

 

 

 

 

 Mais de 120 atores e 800 figurantes apresentam este espetáculo que, há 23 anos, é tradição na Cidade de Santana do Parnaíba.

 Data: 29, 30 e 31 de março.

Hora: 20h30

Duração: 2h30

Local: Barragem Edgard de Souza, KM 40, Estrada dos Romeiros, Santana do Parnaíba. Acesso pelo portão 2

Entrada Gratuita.

Haverá ponto de arrecadação para quem doar um quilo de alimento não perecível em prol do Fundo Social da Solidariedade.

 

 

 

  Paróquia Nossa Senhora de Fátima

 

 

A Encenação da Paixão do Senhor será feita pelos jovens.

 

Data: 30 de março.

Hora: 10h

Local: Rua Campinas, s/n, Vila Hortolândia, Jundiaí.

 

 

 

Paróquia Santa Rita de Cássia

 

 

 

 

 

Apresentação da Paixão de Cristo

Data: 30 de março.

Hora: 18h30

Local: Escola Adelino Brandão. Morada das Vinhas, Jundiaí.

 

 

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 10:26
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Sábado, 24 de Março de 2018
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - SEMANA SANTA, ÉPOCA DE NECESSÁRIAS REFLEXÕES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Semana Santa, que se inicia com o Domingo de Ramos (um evento da vida de Jesus mencionado nos quatro evangelhos canônicos: Marcos 11:1, Mateus 21:1-11, Lucas 19:28-44 e João 12:12-19) e se estende até a Páscoa, mais que simples representação histórica ou celebração religiosa, constitui-se numa época de necessárias reflexões, principalmente pela grave crise moral que afeta nosso país. Com efeito, os fatos que nela se revivem, acabam por atualizar em cada um de nós, os sentidos de solidariedade, de fraternidade e principalmente, de Justiça Social.

É profundamente lamentável que nesta época, muitos só pensem nos feriados prolongados, nas viagens planejadas, nos descansos brandos, na gastronomia variada e em tantas outras atividades estritamente prazerosas. Caracterizam-na como um período recreativo e ainda, incentivados por um consumismo desenfreado elegem uma nova data para o comércio faturar com ovos e coelhinhos de chocolate.

Essa indiferença demonstra que o egoísmo e o individualismo prevalecem na atualidade, provocando uma inversão de valores. Alguns passam a seguir uma trilha vulnerável às questões espirituais, mas fortemente afeita às coisas materiais, de tal sorte que somente são considerados aqueles que detêm grandes riquezas terrenas. Um quadro vergonhoso, deturpador dos verdadeiros princípios e manifestamente alienante em relação a terceiros, que diariamente sucumbem sem alcançarem as suas aspirações básicas para que possam viver dignamente.

            No entanto, com sua ressurreição, Jesus inaugurou uma nova era para a humanidade, decretando a vitória da vida sobre a morte e apontando a libertação como o ideal maior de todo o indivíduo, o que nos impõe implicações éticas de conduta, quer como cristãos, quer como cidadãos: a solicitude pelos pobres, migrantes e excluídos; a educação em favor da paz; a defesa dos direitos humanos; a promoção da saúde e da moradia; a luta ecológica e a formação político-cristã do povo.

         Para que alcancemos tais propósitos, precisamos compreender o momento pascal como passagem do unilateralismo que acumula para a partilha do amor que divide; da tristeza e do vazio existencial para a alegria de horizontes definidos; do desânimo diante das dificuldades para o estímulo de verdadeiras conquistas; da ganância que isola para o desapego e a fraternidade, e do pecado para a graça. Efetivamente, precisamos de muita coragem e determinação, pois num mundo onde o TER pode mais que o SER, as atitudes de desapego se tornam extremamente difíceis.

O Domingo de Ramos, que abre solenemente a Semana Santa, com lembrança das Palmas e da Paixão e a entrada de Jesus em Jerusalém convida-nos a ingressar numa nova dimensão, mais espiritual e a qual nos fortalece para mudarmos o sórdido quadro atual. Não é mais possível convivermos com a desconsideração extrema a qual são submetidos milhões de seres humanos, atingidos por diversas formas de exclusão regional, étnica e cultural. Não podemos aceitar a corrupção, a negligência dos nossos administradores e principalmente, a ausência de respeito à dignidade da humana.                        

A libertação integral de uma pessoa só se efetivará através de sua formação educacional, acesso à saúde, melhores condições de trabalho, salários compatíveis e respeito irrestrito à integridade. Aproveitemos a ocasião para anunciar com ênfase o valor da vida e do amor como critério fundamental na construção de uma nova era.

 

 

DIA MUNDIAL DA JUVENTUDE

 

 

No dia 30 de março é comemorado o Dia Mundial da Juventude. A data foi criada pelo então Papa João Paulo II durante o Jubileu da Redenção em 1984. Na ocasião o pontífice confiou aos jovens do mundo inteiro uma cruz feita de duas traves de madeira como símbolo de fé. Em teologia redenção é o resgate da humanidade por Jesus Cristo. No conceito cristão os privilégios da redenção incluem o perdão dos pecados (Efésios 1:7), a justiça (Romanos 5:17) e a vida eterna (Apocalipse 5: 9,10).

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)

 



publicado por Luso-brasileiro às 16:37
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - O "DEMÓNIO DO MEIO DIA" - TENTATIVA EXEGÉTICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A expressão “demônio do meio dia” passou da Bíblia para a literatura, sendo utilizada em sentidos muito diversos. Trata-se de uma alusão ao seguinte trecho do salmo 90, na tradução da Vulgata, o qual se refere à pessoa que vive sob a proteção de Deus: "Non timebis a timore nocturno, a sagitta volante in die, a negotio perambulante in tenebris, ab incursu et daemonio meridiano" (vers. 5-6). Em tradução literal e livre: Não terás medo do terror noturno, da flecha que voa de dia, daquilo (ser, coisa, dificuldade) que vagueia nas trevas, da investida e do demônio do meio dia.

Em tempos mais recentes, a expressão “demônio do meio dia” vem sendo rejeitada por muitos intérpretes que, ao traduzir diretamente do original hebraico, preferem falar em calamidades, flagelos, tempestades, miasmas do ar etc. que devastam ou contaminam no meio do dia, ou para os lados do sul. Não obstante, tal expressão figura na Vulgata, na versão dos Setenta e em alguns outros códices antigos (Aquila, Simaco, a Paráfrase caldaica), e foi muito glosada pelos Padres da Igreja e pelos exegetas ao longo dos séculos.

Todo o salmo 90 é de muito difícil interpretação. Repleto de matáforas - ainda mais no hebraico do que nas versões - é, segundo São Roberto Bellarmino, “tão elegante quão difícil” (non minus elegans quam difficilis). E  “muito obscuras” (valde obscura) parecem, ao mesmo Doutor, as palavras dos dois versículos em questão.

É compreensível, pois, que numerosas interpretações, desde a quase literal até as mais figuradas e especiosas, tenham sido propostas para explicar o “daemonium meridianum”.

Há os que pensam haver demônios diurnos e demônios noturnos, uns se empenhando em tentar os homens durante o dia e sob o sol mais forte, outros procurando fazer-lhes mal à noite, enquanto dormem.

Certos comentadores parecem inclinados a ver, na alusão ao demônio meridiano, posta no contexto dos dois versículos e no contexto mais amplo de todo o salmo, um recurso literário para afirmar que o demônio tenta a toda hora, e de todas as formas: à noite como de dia, oculta como abertamente. E que em todas essas circunstâncias é na proteção de Deus que se deve depositar a esperança.

Santo Agostinho entende por “daemonium meridianum” a tentação grave, porém manifesta, enquanto o “timor nocturnus”  seria a tentação leve e oculta, a “sagitta volans in die”, a tentação leve e manifesta, e o “negotium perambulans in tenebris”, a tentação grave e oculta.

São Bernardo de Claraval vê, nessa passagem, uma alusão a quatro tentações diversas. O temor noturno é a tentação de pusilanimidade, a flecha que voa de dia, a da vanglória, o que vagueia nas trevas, a da ambição ou da avareza, e o demônio do meio dia, a de fazer o mal sob as aparências de bem.

Segundo outra interpretação, atribuída a São João Crisóstomo, entendendo-se por noite o tempo da adversidade, e por dia o da prosperidade, os gravíssimos e notórios crimes ocasionados pela demasiada opulência e pelo poder constituem, segundo ele, o “daemonium meridianum”.

São Roberto Bellarmino, após fazer a recensão de outras interpretações, acrescenta a sua, dizendo que Davi chama de demônio meridiano a todo o agressor robusto e poderoso que não teme fazer mal e ferir mesmo à luz do meio dia. Sendo o demônio o príncipe de todos os iníquos e malfeitores, cabe a designação a todos eles, e principalmente aos mais audazes e robustos.

Santo Atanásio fala no demônio da acédia, que procura causar a inapetência pelos bens espirituais: Teodoreto, no da impureza, cuja influência maléfica se acentua após a comida e a bebida. Outros falam de tentações violentas de cólera. É o demônio que tentou a Nosso Senhor Jesus Cristo no deserto, diz Eusébio. E muitas outras interpretações ainda foram propostas, que não caberia mencionar aqui.

Essa multiplicidade de interpretações é, a meu ver, de grande interesse, porque permite avaliar, in concreto e na prática, como é difícil fazer, seriamente, a exegese de um texto bíblico, atendendo às especificidades do seu estilo e às características da literatura oriental e sagrada.

 

(Fontes: / SÃO ROBERTO BELLARMINO. Explanatio in Psalmo, in Supplementum ad Commentaria in Scripturam Sacram R. P. Cornelli a Lapide. Paris: Vivès, 1866, t. II, pp. 113 a 115 e 119-120. / VV. AA. Scripturae Sacrae Cursus Completus. Paris: 1839, t. XV, colunas 1173 a 1179 e 1186-1187).

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.



publicado por Luso-brasileiro às 16:33
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - ANSIEDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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             Vira e mexe eu me pego de novo escrevendo sobre o tempo. Creio que tenho uma fixação pelo tema, sobretudo pela forma como o tempo é capaz de transformar praticamente todas as coisas. De uma forma ou de outra, ele tudo soluciona, ainda que seja para deixar claro que algumas coisas não podem ser revistas.

            Com toda certeza uma das coisas mais importante que o tempo fez por mim foi diminuir minha ansiedade a níveis administráveis, compatíveis com uma vida equilibrada, eis que nem sempre isso foi possível. Quando eu era uma estudante universitária, por exemplo, passava grande parte do tempo remoendo sobre como seria o futuro, sobre o que eu faria na próxima semana e o que, em suma, seria de mim.

            Hoje eu sei que isso tudo era uma imensa perda de tempo, essa moeda sem câmbio. Segundo me parecia à época, se eu não me ocupasse desses pensamentos, as coisas poderiam sair do controle. Como se em algum momento estivessem, de fato, estado... Passei tanto tempo preocupada com o que seria, que em muitos momentos deixei de ser.

            Não sei exatamente quando compreendi que quase tudo se dá à revelia dos nossos pensamentos, dos nossos pensamentos mágicos ou trágicos. Não importa o quanto nos ocupemos da tentativa da adivinhação, o futuro é um quadro em branco no qual vamos escrevendo aos poucos com tinta indelével e que não se permite ser preenchido em um único ato ou antecipadamente.

            Acredito que a vida nos compense com um pouco de sabedoria, um pouco de maleabilidade emocional para que possamos compensar com o fato de que nossos corpos irem perdendo essa característica. Assim, embora eu ainda sofra com alguns porvires, isso tem ficado reservado a questões de fato importantes, significativas.

            Enquanto escrevo isso estou aplicando prova aos meus alunos do curso de Direito e o assunto me veio à mente porque assim que entrei na sala de aula encontrei olhares apavorados, repletos de ansiedade e nervosismo e naturalmente me lembrei da estudante que um dia também  fui. Nesse sentido, não tenho saudades de sentir como se uma prova pudesse alterar minha vida de forma permanente.

            Tentei conversar minha turminha de que a prova estava justa, tranquila até, eis que tão somente pergunto sobre aquilo que expliquei de forma exaustiva. Sei, no entanto, que isso foi um esforço em vão, já que tão somente a experiência pode nos ensinar determinadas coisas, mas persisto na tentativa de acalmar ânimos de pessoas que desperdiçam energia com questões de menor importância.

            É realmente uma pena que não sejamos capazes, na maior parte das vezes, de aprender a viver com o que os mais velhos nos transmitem. Penso que isso otimizaria alguns sentimentos, economizaria dores e decepções, mas talvez seja esse mesmo o propósito da vida humana, essa viagem que cada qual percorre acompanhado fisicamente, mas sozinho nas emoções.

            Se eu pudesse dar um único conselho a jovem que um dia fui, diria que acalmasse meu coração, que tivesse calma e não deixasse que a ânsia pelo futuro me subtraísse a alegria do presente, porque no fim das contas, tudo se ajeita, de um jeito ou de outro, por mais que isso pareça improvável. Tudo o que posso fazer,  no entanto, é tentar tranquilizar os que passam pelos  meus caminhos.

            Olho para os rostos que, concentrados, estão aos poucos com as feições mais relaxadas. A prova não se mostrou, no fim das contas, um bicho de sete cabeças. Percebo que seguem escrevendo, deixando para trás a noite mal dormida e o temor pelo inesperado. Conforme vão acabando e me entregando as provas, vou recebendo sorrisos e desejos de um bom fim de semana.

            Recolho as provas todas e me despeço deles, um a um, imaginando o que a vida lhes reserva, certa de que, de toda forma, cada qual achará uma forma de prosseguir. Imagino se fazem ideia de que eu lhes desejo, secretamente, mais do que qualquer outra coisa, que tenham paz de espírito, que sejam um dia capazes de entender que nessa nossa passagem pela existência terrena, há muito que sequer merece o fenecer de um único sorriso nosso...

 

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora.  São Paulo.



publicado por Luso-brasileiro às 16:27
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