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Sábado, 21 de Abril de 2018
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DESABAFO

 

 

 

 

 

 

 

 

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Machucou-me a situação experimentada pela mamãe na tentativa de um golpe, via ligação telefônica. Segundo o autor, eu seria vítima de assalto, por ele detida e com a proposta de que transferisse para a conta do mesmo o valor de cinco mil reais. Para ela, a voz que pedia socorro era minha. Dobrada, sob os seus noventa e quatro anos, ficou, por meia hora, tentando negociar com o golpista, justificando que não sabia fazer transferência de valores via internet e que não teria, também, condições de ir sozinha ao banco para o depósito, já que suas pernas não possuem a mesma firmeza, devido à idade. E a criatura, que me representava, dizia em voz de súplica: “É a minha vida, mãe!” E o indivíduo insistia que não iria me devolver.
Ao chegar em casa, observei-a ao telefone, em conversa que me pareceu equilibrada. Somente quando a chamei, porque o diálogo se alongava, entrou em pânico. Em um primeiro momento, acreditou que eu era uma alucinação produzida por seu desespero, pois me encontrava prisioneira. Que crueldade! E seguiram horas de lágrimas, medo, angústia e, de certa forma, de luto, pois esses “mestres em extorsão” possuem a habilidade malévola de entrar na mente das pessoas mais frágeis e fazerem-nas sentir a perda.
Dolorosa demais a tortura psicológica a que foi submetida e que se acentuou pela idade cronológica.
Considero que esse golpe continua acontecendo pela indiferença das redes de telefonia e de quem possui poder sobre elas em exigir formas de coibi-lo. E, também, pela perversidade que se espalha em diferentes segmentos da sociedade. Essa escassez de coração que bate e se comove com o próximo.
Assim que aconteceu, como desabafo, relatei os fatos, indignada, no Facebook e no Whatsapp, e usei termos de condenação extrema ao executor. Expressei-me com o sangue fervendo. São três situações do sangue que tenho: de “barata” em alguns momentos, de fervura em outros e equilibrado. Mas o Mestre, que me foi apresentado, a partir do ventre materno, e pelo qual me apaixonei desde minha infância, Jesus Cristo, me convida, todos os dias, a permitir que o sangue dEle, derramado na Cruz, circule em minhas veias. Compreendo que o agente da maldade com minha mãe também é filho de Deus, mas, por razões que desconheço, aprendiz do mal. Rezo para ela e ele, com o propósito de que elevem os olhos para o Céu.

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 15:01
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FAUSTINO VICENTE - A BÍBLIA E O CLIMA ORGANIZACIONAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Solicitados, numa de nossas palestras, a sugerir a leitura de um livro especial na abordagem de conceitos e práticas sobre clima organizacional, indicamos a Bíblia - o que causou uma certa estranheza - pela equivocada percepção da abrangência, e da profundidade, desse best-seller cristão - um legitimo manual de qualidade da vida.

Visão, missão, valores, princípios, normas de procedimento e metas, elementos que ganharam status organizacional no século XX, constam nas Escrituras de forma explícita. Uma das primeiras referências encontra-se na construção da Arca de Noé. A ordem de serviço veio com todas as especificações técnicas: "Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento; de cinqüenta, largura; e a altura, de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de altura; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca:um em baixo, um segundo e um terceiro" (Gênesis 6: 14 a 16).

Hoje, produtos e serviços são desenvolvidos obedecendo normas técnicas internacionais, cujos certificados são verdadeiros passaportes para a inserção das empresas nos negócios globalizados. Entre as habilidades gerenciais de Noé destaca-se a sua capacidade de planejamento organizacional, disciplina tática no cumprimento do cronograma, "ouvido de mercador" frente as provocações dos incrédulos de plantão e a aguçada percepção no aproveitamento das características individuais de cada um de seus colaboradores. Formou uma equipe, motivou-a, alocou recursos,estabeleceu processos operacionais, distribuiu tarefas, informou o prazo e gerenciou o andamento do projeto. Noé não foi apóstolo da burocracia.

Outro personagem histórico da Bíblia é José do Egito - administrador admirável, (Gênesis 41: 37 a 45)que pode ser comparado com o CEO (Chief Executive Officer) Presidente Executivo, de hoje. Notabilizou-se, principalmente, pela administração do país nos períodos "das sete vacas gordas e das sete vacas magras" - interpretados como anos de fartura e de escassez. Em termos de relacionamento interpessoal, a vida de José é uma das mais comoventes e atraentes da história.

As vagarosas e silenciosas passadas de Moisés pelo deserto o colocaram na galeria dos protagonistas que agregam valores à gestão de recursos humanos. Dentre os seus desafios destaca-se a complexidade no atendimento das necessidades dos milhares de judeus que liderava à caminho da Terra Prometida. A solução do problema partiu de seu sogro, Jetro, quando lhe disse: "E tu, dentre todo povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem,maiorais de cinquenta e maiorais de dez; para que julguem este povo em todo tempo, e seja que todo negócio pequeno eles o julguem: assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo" (Êxodo, 18: 13 a 26). Nascia, assim, uma metodologia de descentralização do poder - o "calcanhar-de-aquiles" das atividades humanas. Reagimos como democratas, mas agimos como autocratas.

Esta é a mais devastadora das causas de desmotivação de funcionários e do desaparecimento prematuro de promissoras lideranças. O clima organizacional das empresas depende, essencialmente, de uma política de recursos humanos que consolide a seguinte prática: dar oportunidades (iguais) para que os funcionários possam revelar e/ou desenvolver o seu potencial. Questionar as ideias, não as pessoas é a mais eficaz das estratégias para manter a indispensável "oxigenação" do processo gerencial.

Entendemos que, se lêssemos, refletíssemos e vivenciássemos, com maior freqüência, os ensinamentos contidos na Bíblia seríamos muito mais felizes e, de quebra, muito mais prósperos. É crer para ver.

 

 

 

FAUSTINO VICENTE –   Advogado, Professor, Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos -  e-mail: faustino.vicente@uol.com.br – Jundiaí (Terra da Uva) – São Paulo - Brasil

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:54
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PÉRICLES CAPANEMA - JABURU OU SABIÁ ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O sabiá-laranjeira, ave-símbolo de São Paulo, por decreto de 3 de outubro de 2002 foi declarado ave-símbolo do Brasil. Satisfaz-nos a representação, está presente em todos os lugares, é vivaz, enérgica, alerta, simpática. Para João Capistrano de Abreu (1853-1927), em carta a João Lúcio d’Azevedo, quem bem representava o brasileiro era outra ave, o jaburu: “O jaburu, a ave que para mim simboliza a nossa terra. Tem estatura avantajada, pernas grossas, asas fornidas e passa os dias com uma perna cruzada na outra, triste, triste, d'aquela ‘austera e vil tristeza’”. Aqui, o historiador faz alusão à crítica de Camões à pátria, “metida no gosto da cobiça e na rudeza duma austera, apagada e vil tristeza”. Para o severo cearense, o brasileiro era um povo triste, parecia o jaburu.

 

A respeito, a conventional wisdom é esmagadora. Somos tidos por alegres, extrovertidos, gozadores da vida, até patuscos. No Nordeste, mais, no Sul, menos. Carnaval no Rio, Carnaval na Bahia, frevo no Recife, esticados, festanças e pândegas de rua em tantos outros lugares. Quase virou marca do País lá fora: Brasil, carnaval, futebol. E ele sai com essa de povo triste?

 

Capistrano de Abreu não está só. Vou pisar o estradão do politicamente incorreto, avançar veloz na contramão e pelo caminho esbarrar em ídolos cultuados na superficialidade.

 

Coloco ao lado do historiador outro homem de pensamento, desempoeirando livro de Paulo Prado “Retrato do Brasil – ensaio sobre a tristeza brasileira”, publicado em 1928, reeditado continuamente, mas pouco comentado. À vera, muitos o leem, com facilidade percebem a seriedade esclarecedora do texto, mas quase ninguém sente ambiente para sobre ele discorrer. Não dá ibope.

 

Paulo Prado (1869-1943) foi e representou um tipo humano que começou a ter destaque na vida brasileira ´pela amplitude e finura de apreciação. Teria sido vantajoso pessoas assim se se firmarem na arena púbica e assim influir mais, mas vêm perdendo importância e desaparecendo para desgraça nossa. Com muita simplificação, o velho paulista foi intelectual e homem de ação. Esmiuçando, pensador, comerciante, fazendeiro, aristocrata, homem que sabia viajar. Como muitos de seu tempo de forte nacionalismo, refletiu sobre quais seriam as características autênticas do Brasil, suas lacunas e possibilidades, e como poderia, desabrochando potencialidades, fulgurar no futuro.

 

Por que lamentei o desaparecimento de tal tipo humano? Por que sua falta empobrece e deforma a vida pública do Brasil e até a formação do povo. São padrões humanos educativos, quando nada pela vista e exemplo, em certo sentido “role models”, agora virtualmente eliminados do horizonte das novas gerações.

 

Esse tipo de homem de pensamento vivia imerso em muitos ambientes e a reflexão em seus espíritos borbotava embebida de premissas pujantes, às vezes com uma agradável nota de verdor caseiro ▬ conversa brilhante em ambiente informal ▬, inexistente até mesmo em grandes pensadores. Trabalhavam material de primeira, filtrado por olhos que tinham aprendido a ver. Assim, não pulava diante de nós o raciocínio simplificador, ossos e esgares à vista, ao qual infelizmente vamos nos acostumando. Vinha educado, bem expresso, matizado, sentia-se ali riqueza na conjugação de várias realidades. Brotava de camadas mais fundas, fluía mais límpido.

 

Vamos a Paulo Prado: “Numa terra radiosa vive um povo triste. Legaram-lhe essa melancolia os descobridores que a revelaram ao mundo e a povoaram. O esplêndido dinamismo dessa gente obedecia a dois grandes impulsos que dominam toda a psicologia da descoberta e nunca foram geradores de alegria: a ambição do ouro e a sensualidade livre e infrene que, como culto, a Renascença fizera ressuscitar”.

 

Garante exatamente o contrário a sabedoria convencional entre nós: a luxúria é fonte de alegria, a bem dizer condição indispensável e insubstituível para manter o ambiente alegre. Paulo Prado, com coragem intelectual, abrindo caminhos, avança no rumo contrário, a luxúria infrene está na raiz da tristeza do brasileiro. Para ser alegre de fato, precisaria correr para o rumo oposto, cultivar a pureza.

 

Co segurança, vai adiante o intelectual paulista, menos difícil em homens de sua posição, no topo da inteligência, da vida social e, em algum sentido, dos negócios: “A volta do paganismo, se teve um efeito desastroso para a evolução artística da humanidade, que viu estancada a fonte viva da imaginação criadora da Idade Média, [...] teve como melhor resultado o alargamento das ambições humanas de poderio, de saber e de gozo”. Lembra Nietzsche e sua idealização do super-homem, oposto à mansidão de Nosso Senhor: “Era preciso alterar o sinal negativo que o cristianismo inscrevera diante do que exprimia fortaleza e audácia. Guerra aos fracos, guerra aos pobres, guerra aos doentes”.

 

Continua: “A era dos descobrimentos exaltava a vida física, como mais tarde a Revolução Francesa foi a exaltação da vida intelectual, arrogante e independente”.

 

Outro ponto que não mudou desde os Descobrimentos e até hoje gera tristeza, a cobiça, a busca desbragada da riqueza. A alegria está na temperança, na despretensão, na conformidade sensata com os bens que a vida nos oferece.

 

Enquanto perdurar tal situação, Paulo Prado tem razão, será mentirosa a fama de alegre do brasileiro. Estaremos mais para jaburu que para sabiá.

 

 

 

 

PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:50
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FELIPE AQUINO - QUAIS OS PROBLEMAS QUE GERARAM A INQUISIÇÃO ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não é fácil, mas todos precisamos entender o que foi e porquê aconteceu a Inquisição, para que possamos explicar as pessoas essa história que não é contada nas escolas…

 

 

 

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Os pecados dos filhos da Igreja nos séculos IX a XIII, foram um “meio de cultura” para o crescimento da fortíssima heresia dos cátaros, que acabou dando início à Inquisição. Isso os ajudou a fazer muitos adeptos entre o povo e o clero, como também aconteceu com o protestantismo cerca de três séculos depois. Uma heresia nunca surge sem motivo.

A história universal e a da Igreja mostram que os grandes erros foram precedidos por outros, assim como foi o comunismo, o nazismo, e também com a grande heresia cátara.

Sabemos que a Igreja sofreu muito por causa dos maus exemplos de muitos dos seus filhos (luxo,corrupção, simonia, investidura leiga, vida devassa de alguns clérigos, nicolaísmo (padres vivendo no concubinato); isso deu alimento aos hereges. O poder temporal da Igreja com o advento do Estado Pontifício a partir do século VIII, bem como a difícil situação do feudalismo, prejudicou muito a vida e a conduta do clero. Ainda hoje os maus exemplos continuam sendo o pior inimigo da fé católica.

Os grandes papas, bispos e monges reformadores, sentiram o risco que a Igreja corria; entre eles o Papa Gregório VII (1073-1085), São Bernardo, São Francisco de Assis, São Domingos de Gusmão, que com uma firme decisão trabalharam para a salvação da Igreja, sem sair do seu coração, e sem deixarem de lhes ser fiel apesar dos pecados dos seus filhos.

 

 

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No entanto, outros espíritos fracos e exaltados, até mesmo com fama de santidade, rejeitaram a disciplina e a obediência à Igreja, e quiseram reformá-la sem o devido respeito, caindo nas heresias. Esses não souberam separar a Igreja, santa, de seus filhos pecadores, e acabaram rejeitando-a, com outros erros.

Por causa do mau comportamento e luxo por parte do clero, uma intensa onda de contestação surgiu dentro e fora da Igreja; tanto assim que os melhores papas e santos buscaram fazer a “reforma” que a Igreja precisava. Cristo prometeu que o Espírito Santo ensinaria à Igreja toda a verdade (cf. Jo 16,13), isto é, ela é infalível quando ensina a “sã doutrina” (cf. Tt 1,9; 2,1; 1Tm 1,10); mas não prometeu à Igreja impecabilidade para seus filhos, nem mesmo para o Papa. Infalibilidade não quer dizer impecabilidade. E a Igreja sentiu o peso da fraqueza humana de seus filhos nos difíceis séculos.

A riqueza e o poder da Igreja e de muitos leigos nos séculos XII e XIII eram motivos para que os hereges a acusassem, o que despertou em almas santas, como São Francisco, São Domingos, Joaquim de Fiori, Norberto de Xanten, Roberto de Arbissel e muitos outros, o desejo de viver mais plenamente a pobreza evangélica e a pregação ambulante.

 

Leia também: Inquisição: uma breve história

História da Igreja: A Inquisição (Parte 1)

História da Igreja: A Inquisição (Parte 2)

A origem da Inquisição

 

Por outro lado, a Igreja, tendo o imenso Estado Pontifício reconhecido por Carlos Magno (†814), com cerca de 40.000 km2, cobrava taxas e impostos pesados nas suas cidades. Tudo isso deu margem ao aparecimento de muitos pregadores itinerantes, espalhando ideias revolucionárias contra a Igreja, contra o Papa, contra os dogmas, contra a hierarquia e contra os sacramentos. Foi um movimento herético que atingiu clérigos e leigos e teve apoio de nobres e de governantes. Foram os gnósticos cátaros que se espalharam por quase toda a Europa. Chegaram a constituir uma “anti-igreja” que ameaçava a Igreja verdadeira.

O concílio regional de Trosly disse com toda razão: “Os maus padres, que apodrecem na esterqueira da luxúria, contaminam com a sua conduta todos aqueles que são castos, pois os fiéis sentem-se inclinados a dizer: ‘são assim os padres da Igreja!’” (Rops, Vol. II, p. 553).

Nos séculos X e XI houve papas despreparados, impostos pelos nobres ou pelos imperadores. De 896 a 960 o papado esteve nas mãos dos Teofilactos, rica e ambiciosa família toscana. Depois disso o trono de São Pedro passou a ser disputado entre a nobreza romana e o imperador germânico. Diz Daniel Rops que “reapareceram os conflitos sangrentos, em que papas sobre papas desaparecem misteriosamente, e que surgem antipapas – a certa altura a Igreja chegou a ter três papas eleitos ao mesmo tempo” (Roma, Pisa e Avinhão) e as famílias poderosas digladiavam-se para fazer o papa. O último papa dessa série foi “Bento IX (1033-1045), que, sagrado aos doze anos e já cheio de vícios, acumulou tantos escândalos que o povo romano acabou por revoltar-se contra ele e o pôs a correr” (Rops, Vol. II, p. 545). Se a Igreja não fosse divina teria naufragado.

 

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Os historiadores cristãos são unânimes em afirmar que a maior prova de que a Igreja Católica é divina, é o fato de não ter sucumbido nesta época, mais do que no período da perseguição romana. A Barca de Pedro estava à deriva; não fosse a Promessa do Senhor – as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela (Mt 16,18) – teria sucumbido.

É claro que uma situação assim abre as portas para todo tipo de revoltas contra a Igreja. Foi num quadro deste que surgiu a pior heresia como uma reação contra a Igreja e o clero decadente. O fato mais grave se deu em Orleans, na França, em 1022, na qual a heresia cátara maniqueísta se organizou em seita; padres, cônegos, professores e até o confessor da rainha lhe deram a sua adesão. Passou-se então a ensinar uma fé que continha uma rebelião contra a Igreja estabelecida, com a recusa dos dogmas e dos mistérios cristãos, especialmente a negação da Encarnação, da Paixão, da Ressurreição, abandono do culto, da hierarquia, das imagens. Foi uma subversão contra a ordem e a doutrina estabelecidas há séculos.

Naturalmente isso provocou uma forte reação dos imperadores cristãos e da Igreja. Mas é importante dizer que os grandes homens e mulheres da Igreja souberam reconduzi-la aos poucos ao bom caminho. Houve grandes homens e mulheres que levantaram a Igreja. Nunca faltaram monges, bispos e papas santos que a restauraram.

Foi exatamente nesses tempos difíceis de Inocêncio III (1198-1216), onde a heresia cátara se espalhou violentamente no sul da França, e que surgiram os gigantes São Francisco de Assis, São Domingos de Gusmão, Santo Antônio, e tanto outros santos.

Infelizmente muitos de fé imatura não conseguem separar a “Pessoa” Santa da Igreja, das “pessoas” pecadoras, que também pertencem à Igreja, e acabam rejeitando a santa Mãe. É como aquela estória de alguém que encontra uma criança em uma água suja dentro de uma bacia e, querendo se livrar da água suja acaba jogando fora a água com a criança! Isso aconteceu muito na história da Igreja.

Lutero revoltou-se contra a Igreja também por causa dos pecados dos seus filhos; e o mesmo se deu com muitos outros. Ao contrário, por exemplo, de uma Santa Catarina de Sena (1347-1380), que nunca deixou de se submeter à Igreja e ao Papa, mas soube dizer ao Papa Gregório XI (1370-1378), em Avinhão, na França que voltasse a Roma, porque “sentia o cheiro fétido do inferno em sua corte”.

Por isso João Paulo II afirmou um dia: “A Igreja não precisa de reformadores, mas de santos”; eles foram os verdadeiros reformadores da Igreja, sem a desprezar. Os outros a apedrejaram. O Papa Bento XVI em um artigo contra a Teologia da Libertação [marxista], deixou claro que toda heresia traz dentro de si um “núcleo de verdade”, envolvida por uma camada espessa de mentira, e quanto mais forte é este “núcleo de verdade”, tanto mais difícil será vencê-la.

 

 

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Assista também: O que foi o Tribunal da santa inquisição?

 

No caso da Teologia da Libertação, este núcleo de verdade é a importância de defender o pobre e o oprimido, mas a espessa camada de mentira é realizar essa obra por meio do marxismo ateu, da luta de classes, da violência, do maquiavelismo e do ódio entre os irmãos de classes diferentes. É o desprezo da vida espiritual em face da luta social. Os meios não justificam os fins e a moral católica não admite que se faça o bem por meios maus.

As pessoas que não possuem uma formação religiosa adequada, ou que se acham mais “doutas” que o Sagrado Magistério da Igreja acabam “encantados” com o “núcleo de verdade” das heresias – e que se torna o seu motor propulsor – e não veem a mentira e a falsidade que a envolve. Desta forma agem segundo o perigoso princípio de que “os fins justificam os meios”, o que a Igreja sempre condenou. No fundo é o pecado do orgulho espiritual que se sobrepõe à Igreja.

 

Para compreender melhor este assunto sugerimos a leitura:

De maneira simples e objetiva: Você sabe o que foi a Inquisição?

Um estudo mais aprofundado: Para Entender a Inquisição

 

 

 

Retirado do livro: “Você sabe o que foi a Inquisição?”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

 

 

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 

 

 

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:35
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PAULO R. LABEGALINI - HISTÓRIAS DE DEUS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Alguns relatos nos fazem lembrar do amor de Deus por nós. Mesmo não sendo reais, é gostoso ouvir e aprender contos que trazem mensagens bonitas aos nossos corações. Vamos a eles.

O primeiro que me recordo relata o naufrágio de um cidadão muito rico. Após sobreviver de um acidente no seu iate, ficou sozinho numa ilha por vários meses. Devagar, foi juntando alguns materiais na mata para construir um abrigo e ter como se proteger à noite.

Com muito esforço, conseguiu levantar a sua morada e passou a rezar, pedindo que Deus tivesse piedade e o tirasse daquele lugar. Eis que durante uma madrugada, enquanto dormia, o seu barraco pegou fogo e veio a perder tudo o que havia juntado.

Ele então ficou furioso e passou a blasfemar, descarregando no Criador a sua revolta. Ao amanhecer, um pesqueiro chegou na ilha e o tirou de lá. Durante a viagem de volta, o náufrago soube que os pescadores somente o acharam porque viram, ao longe, um sinal produzido pelo incêndio do seu barraco.

A partir daquele dia, além de agradecer a Deus pela sua vida, aprendeu que alguns sofrimentos só serão compreendidos com o tempo e à luz da fé.

Gostou dessa primeira história? Já aconteceu algo assim com você? Se ainda não lhe veio a explicação, aguarde e um dia saberá.

A segunda que conheço conta que um rei sempre ouvia do seu ministro: “Tudo o que Deus faz é bom!” Um dia, após perder um dos dedos das mãos na serra elétrica, o rei chorava de dor e o ministro lhe repetiu: “Tudo o que Deus faz é bom!” Irritado, o rei mandou prender o súdito para nunca mais ter que ouvir aquilo novamente.

Após algum tempo, o rei foi caçar e acabou sendo capturado por canibais. Como era costume na tribo, resolveram oferecê-lo em sacrifício, mas, ao perceberem que ele não tinha um dedo, acharam-no indigno da oferenda e resolveram soltá-lo.

Voltando ao palácio, o rei correu soltar o seu ministro e repetiu a ele: “Tudo o que Deus faz é bom! Se eu não tivesse perdido o dedo, estaria morto!” E o fiel ministro lhe respondeu: “Deus é realmente muito melhor do que vossa majestade imagina! Se eu não estivesse preso e tivesse ido caçar com o senhor, eu agora é que estaria morto, pois, com a graça de Deus, tenho o meu corpo perfeito, sem faltar nenhum dedo!”

Outro belo exemplo da Providência de Deus, não? Fatos parecidos já aconteceram muitas vezes comigo e com pessoas que conheço. Um dia eu os contarei pra você.

Por enquanto, reflita nisso tudo que acabou de ler e amoleça o seu coração para voltar à casa do Pai neste ano que estamos vivendo. Deus espera que saibamos perdoar sem restrições para que, através da reconciliação com os irmãos, recebamos muito mais graças em nossas vidas.

            Tudo que Deus pede é bom!

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.

 



publicado por Luso-brasileiro às 14:28
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - QUEM ENVELHECE ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Minha trisavó Florinda viu partir para o Brasil todos os filhos, excepto o primogénito. A maioria ficou por lá, outros regressaram. Entre eles, meu bisavô.

Abalou menino e veio homem feito.

Escrevia à mãe que havia de a visitar quando tivesse vinte e um anos. Assim aconteceu…

Uma manhã, sem ela contar, bateu-lhe à porta. Quase morria de alegria…

Abraçaram-se e choraram durante muito tempo. Por fim disse-lhe a mãe:

- " José: não precisas de voltar ao Brasil. Sou de idade e preciso de quem cuide de mim e dos negócios. Tenho mercearia afreguesada e açougue de carnes verdes. Ficas com o negócio. Possuo economias que bastam e loja de retalhos, fitas e miudezas, para entreter e comprar alfinetes…"

Meu bisavô ficou e expandiu o negócio.

Ajoelhada defronte do velho santuário de pau-preto, com o terço pendente das mãos encarquilhadas, a trisavó Florinda, todos os dias orava pelos ausentes. Via-os meninos. Para ela os filhos não cresceram…

Fui forçado, durante anos, a viver no interior. Conheci, nessa cidade, perdida entre serras, formosa cachopinha, terna, de ingenuidade amorosa, de belos e luminosos olhos castanhos, irradiantes de ternura e magia, que tiveram o condão de suavizar as longas e sombrias horas de solidão e tristeza Regressei, saudoso, à minha cidade. Nunca mais a vi.

Soube que se tornou mulher. Casou. Teve filhos…envelheceu.

Quando do armário da memória, ressuscitam velhas e gratas recordações, vejo-a menininha, muito trigueira, doirada pelo sol, brincando e conversando com toscos bonecos de celuloide, na varanda de sua casa.

O delírio embriagante que nos retira da realidade, só se esbate ao confrontar fotografias de diferentes épocas.

Com amargura verificamos que vivíamos dentro de um sonho. Sonho encantado que é saudade. Sonho que não queríamos nem queremos que se desvaneça no despertar…

O tempo passa, mas a melancolia do que passou, do que foi, e já não é, revive e reveste a alma de soledade.

A vida passa, transforma-se, e no rodopio do tempo só envelhece quem está longe do coração…

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 14:22
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EUCLIDES CAVACO - VIVE CADA DIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poema e voz de Euclides Cavaco.
Video elaborado pela amiga Gracinda Coelho.
Um poema para reflectir sobre a forma como aproveitamos os nossos dias nesta tão breve passagem. Veja neste link:

 



https://www.youtube.com/watch?v=QxGjeGTYVqA&feature=youtu.be

 

 

 

 

Desejos duma magnífica semana.

 

 

 

 

EUCLIDES CAVACO  -   Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.

 

 

 

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Palavra do Pastor, com Dom Vicente Costa, 

bispo diocesano de Jundiaí

 

4º Domingo de Páscoa

 
 
 
 
https://youtu.be/jMGg2lkKcUQ
 
 
 
 
 
 
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publicado por Luso-brasileiro às 14:06
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Sábado, 14 de Abril de 2018
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - PARA OS ÍNDIOS, A NATUREZA É UM BEM SAGRADO, SEM VALOR ECONÓMICO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dezenove de abril é consagrado como o Dia do Índio porque nesta data, em 1940, realizou-se no México, em Patzcuaro, o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, reunindo representantes de várias nações com a finalidade de debater assuntos relacionados às suas comunidades, ocasião em que se criou o Instituto Indigenista Interamericano, o qual o Brasil se integrou por iniciativa de Marechal Rondon.

Apesar de serem muito lembrados em função dessa comemoração,   até hoje os índios no Brasil são alvos grande descaso e travam incansáveis lutas por uma sobrevivência digna e humana, e esse manifesto desleixo persiste perante toda a proteção que lhes é assegurada pela Constituição Federal. Desta forma, propor uma reflexão sobre a questão no Brasil implica, num primeiro momento, retomar a sua história desde os primórdios da colonização.

Eles já estavam aqui muito antes da chegada dos portugueses. Estes, por sua vez: - tomaram-lhes a terra, - escravizaram muitos de seus membros e - roubaram muito de sua riqueza. Em 1500, havia entre três a cinco mil tribos de índios espalhados por quase todas as regiões brasileiras e a vida deles estava completamente integrada à natureza. Surgiu o embate interesse econômico (exploração) vs. apego aos recursos naturais.

É de se destacar assim, o nítido processo de imposição dos colonizadores diante destas populações. Tanto que a terra, o ar, o sol, o rio, elementos sagrados para eles, como ainda hoje o são para os poucos que restaram, representavam, e representam, a sua origem e sua pele. Para os colonizadores, diferentemente, no contato com a "nova terra", o significado estava naquilo que poderiam retirar de lucrativo para o mercado europeu.

E apesar de tudo, eles ainda nos têm muito a ensinar, já que acolhem a terra como bem comum, confundindo-a com a própria vida, empenhando-se na manutenção de suas raízes humanas, religiosas e sociais. Com raro brilhantismo, o prof. Dalmo de Abreu Dallari assim se manifestou: “Para os índios brasileiros, a terra não é um valor econômico, mas um bem essencial para sua sobrevivência. Isso é muito diferente da concepção dos que invadem áreas indígenas visando aumentar o patrimônio sem parar pelas terras de que se apossam ilegalmente, sem consideração de ordem ética e sem respeito pela vida e pela dignidade dos seres humanos que são os índios” (Folha de São Paulo- 23.08.2008- A-3).

         A maior parte das comunidades indígenas foi dizimada no processo de dominação. Estima-se que, à época do descobrimento, até 5 milhões de índios habitavam o país. Hoje, restaram cerca de 800 mil (0,4% da população), segundo dados do Censo 2010. Assim, é preciso que a sociedade brasileira e as instituições oficiais trabalhem intensamente no sentido de consolidarem a situação dos índios, tendo como enfoque principal, a preservação de suas tradições, usos e costumes, e que o Poder Judiciário efetivamente proteja e ampare seus anseios fundamentais, tornando concretos os direitos que dispõem constitucionalmente, principalmente a demarcação de suas terras.

 

 

 

Tiradentes, o profeta do Brasil com que sonhamos

 

 

 

Para muitos historiadores, o caso de Tiradentes é extremamente relevante por ter participado de uma conspiração que pretendia realizar a libertação do país, ou melhor, de Minas Gerais e capitanias vizinhas. A razão mais forte do movimento era a constatação da decadência em que se encontravam as finanças públicas e a política fiscal extorsiva do Governo português. Os inconfidentes - poetas, magistrados, sacerdotes, advogados, militares – chegaram a fazer até uma bandeira, com os dizeres, “LIBERDADE, AINDA QUE TARDIA”. Com a delação do grupo por  um de seus integrantes, sofreram duras condenações mas suas ideias libertárias prosperaram. Tiradentes, cujo nome era Joaquim José da Silva Xavier, morreu enforcado. Ele sempre será o profeta daquele Brasil com que sonham todos os brasileiros, livre de políticos que impedem, por interesses pessoais ou de grupos econômicos, o necessário desenvolvimento. Sua lembrança nos indica que está mais do que na hora de separarmos o joio do trigo (ou os traidores dos heróis) num época em que a ética e o bom-senso parecem distantes da conduta de muita gente.

 

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor na Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)



publicado por Luso-brasileiro às 19:31
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - O "SEGREDO" DO " PARLAMENTARISMO À BRASILEIRA"

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A meu ver, o "segredo" das instituições políticas do Império brasileiro não estava tanto em fórmulas políticas bem concebidas e executadas, mas estava muito mais num teor de relacionamento humano, entre o Imperador e seus súditos profundamente afim com o modo de ser e de pensar do brasileiro, e atendendo às aspirações mais profundas e mais caras de nosso povo.

No "Parlamentarismo à brasileira" estava presente, sem dúvida, algo do que há de essencial no regime parlamentarista inglês, mas tomando em consideração o feitio psicológico do brasileiro, que tende naturalmente a depositar sua confiança e até seu entusiasmo não tanto em meras fórmulas políticas abstratas e impessoais - quase como num teorema de geometria - mas sobretudo em personalidades de escol revestidas de verdadeiro poder político e dotadas do clássico "jeitinho" para governar. Isso atraía para o governo e as instituições um verdadeiro afeto e a confiança do país.

O arquétipo desse modo brasileiro de governar foi D. Pedro II.

Ele não extrapolava suas funções imperiais, e respeitava escrupulosamente os limites que a Constituição fixava para sua atuação; mas as funções que lhe cabiam - em larga medida representadas pelo Poder Moderador - fazia questão de as exercer em toda a sua plenitude. Entretanto, nesse exercício, que os oposicionistas do regime chamavam de "Poder Pessoal", a força de direção que dele emanava provinha menos do fato de ele ser o titular do Poder Moderador do que do fato de ser ele um brasileiro arquetípico pelo qual nosso povo se sentia compreendido e amado paternalmente e além do mais dirigido com um senso psicológico todo paterno. Sentia-se que o Imperador via em cada brasileiro um filho; e a imensa maioria dos brasileiros via nele um pai.

Se houve no Brasil um parlamentarismo bem sucedido é porque foi praticado nesse enquadramento psicológico e afetivo.

O elemento distintivo do "Parlamentarismo à brasileira" não era só ser um parlamentarismo monárquico; não era só ser um parlamentarismo monárquico exercido com Poder Moderador; mas era ser um parlamentarismo monárquico exercido com Poder Moderador dentro desse enquadramento psicológico e afetivo entre o soberano e os súditos.

 Se D. Pedro II não exercesse o Poder Moderador e se fosse reduzido a mero símbolo sem nenhuma capacidade de influir na vida política, muito dificilmente poderia ter desempenhado o papel grandioso que desempenhou. É por isso que afirmo que o Poder Moderador possibilitou o "segredo" que assegurou o sucesso da monarquia brasileira. Mas não bastava o Poder Moderador, como não bastava o sistema monárquico, e, menos ainda, bastava o mero parlamentarismo.

Sem dúvida, D. Pedro II foi um homem excepcionalmente bem dotado para fixar o modelo ideal de monarca brasileiro. No seu tempo, talvez tenha sido o único homem capaz disso. Em quase todas as monarquias europeias houve, em épocas diversas, grandes reis que representaram, em seus países, papel análogo ao que D. Pedro II representou no Brasil.

Uma vez fixado esse modelo ideal, a tendência dos seus legítimos sucessores é se inspirarem naquele modelo humano, naturalmente adaptando-o ao próprio modo de ser, às mutações dos tempos e das circunstâncias. Mesmo descendentes menos dotados do que o modelo podem dar continuidade à obra iniciada por aquele antepassado de dimensões extraordinárias. Essa continuidade de uma obra através das gerações é característica das monarquias; sua ausência é uma das maiores fraquezas das repúblicas.

No Brasil, nos três períodos em que assumiu a regência do Império em nome de seu pai - totalizando três anos e meio de regência - a Princesa Isabel deu suficientes mostras de que, com a bondade e a delicadeza características do sexo feminino, teve o pulso e a energia para bem desempenhar seu papel. Ela estava inteiramente à altura de prosseguir a obra de D. Pedro II. E a tendência natural é que esses dotes de governo se perpetuem de geração em geração, pelos legítimos sucessores. Carecem, pois, de fundamento, certos republicanos que reconhecem ter sido o Império bem sucedido, mas atribuem tal sucesso exclusivamente à envergadura excepcional de D. Pedro II, o qual não teria sucessores à sua altura.

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOSé historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.



publicado por Luso-brasileiro às 19:28
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CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - INIMIGO MEU

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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            Não é minha preferência escrever sobre política. Sempre temo não ser bem entendida, mas desde já algum tempo certas atitudes vem me incomodando profundamente. Assim, diante da prisão do ex-presidente Lula, achei por bem abrir uma exceção para comentar alguns comportamentos.

            Comentei em outras oportunidades nesse espaço que gosto de vários aspectos das redes sociais. Aprecio a oportunidade de reencontro e reaproximação com amigos da infância, com pessoas que vivem fisicamente distante de mim e mesmo para conhecer pessoas em grupos de interesses em comum, como, no meu caso, por exemplo, literatura e pães, entre outros.

            Do mesmo modo, gosto do aspecto divertido das redes sociais. Há muita brincadeira saudável, daquela que não ofende a ninguém. Outro ponto positivo é o profissional. Através das redes sociais pode-se divulgar trabalhos acadêmicos, bem como beneficiar-se de toda uma rede de relacionamentos profissionais.

            Da forma como vejo, se a pessoa não se expuser demais, se mantiver a etiqueta necessária para a vida em sociedade, as redes sociais podem ser muito interessantes. É claro que, como espelho social, são capazes também de retratar o pior das pessoas. E é aí que relaciono as redes sociais ao tema política.

            Bastou, por exemplo, a prisão do Lula ser decretada que toda uma multidão de pessoas sem formação jurídica começasse a se arvorar de jurista, discutindo até mesmo o cabimento de recursos. É preciso que eu registre aqui que nada há de mal em se dar uma opinião sobre qualquer tema, mas é imperativo deixar-se claro o que é uma mera opinião, sob pena de ser fazer papel de idiota.

            Seria como se eu, por exemplo, viesse a público questionar o tratamento médico de determinado paciente, tecnicamente falando, sendo advogada. Posso, assim, por óbvio, emitir uma opinião que, no meu caso, será um mero palpite ou uma colocação baseada em alguma premissa, mas, ainda assim, não será muito mais do que apenas o meu leigo ponto de vista.

            Li tanta coisa absurda nas redes sociais nas últimas semanas que tive que resistir bravamente para não deixar definitivamente o mundo virtual, mas o que mais me entristeceu foi a forma agressiva como muita gente se comportou. Esse tipo de reação ocorreu independente do fato da pessoa ser a favor ou contra da prisão do ex-presidente.

            Ler postagens ofensivas não ao Lula, mas aos próprios “amigos” que ousavam defender posicionamento contrário é algo que em muito me preocupa. Fico pensando aqui que se a pessoa defende a unhas e dentes alguém condenado pelos Tribunais brasileiros, sem sequer ter estado com tal pessoa, mas ofende feroz e pessoalmente pessoas de seu círculo pessoal, é porque algo está muito errado em nossa sociedade.

            Como ocorre desde tempos imemoriais, enquanto os poderosos se unem, os plebeus carregam tochas e incendeiam a si mesmos. Por certo, em uma guerra, seríamos massacrados por aqueles que chamamos de amigos e, depois, nossos esforços e nossas vidas seriam, invariavelmente, deglutidos em um imenso banquete sem ideologias ou moral, tudo bem temperado pelo Senhor dos homens, o Dinheiro.

 

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora.  São Paulo.

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:19
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - VOLUNTÁRIO SONHADOR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Aconteceu, nos dias sete e oito de abril, na Rua Senador Fonseca em Jundiaí, uma vivência ímpar. E começo pela análise do espaço: de um lado, o muro de fundo do antigo quartel com as pichações: “É medo de ser feliz?” E, ainda: “O mundo é agora”. Do lado oposto a Associação Maria de Magdala, entidade que trabalha com mulheres em situação de vulnerabilidade social. Em frente a ela: pedrisco, grama, duas caçambas e dezenas de jovens, que entravam e saíam, com expressão de entusiasmo. São eles integrantes da ONG “Sonhar Acordado”, que nasceu do Movimento de Apostolado Regnum Christi. O seu carisma específico consiste em conhecer, viver e pregar o mandamento do amor, que Jesus Cristo nos trouxe. Acompanhava-os o Padre Sérgio Barbosa, LC. 
Os jovens estavam reunidos em nossa cidade e, como dom de si, escolheram refazer o quintal da Magdala. Uma prática que exigiu força física, foco e, em especial, caridade. Uma experiência de semear jardim. E quando o assunto é jardim, a Primavera acontece, repleta de tons, murmúrios, sementes e flores do Céu.  Nas camisetas, além de se identificarem como “Voluntário Sonhador”, a frase: “É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu”. 
Jovens alegres, bonitos, de olhar com brilho e sorriso no rosto. Refletiam, emocionavam-se e, em seguida, pegavam a pá e revolviam a terra ou carregavam as latas com entulhos. O quintal se tornou de ensolarado diferente. Três das integrantes da Magdala, Cida, Lurdes e Marlene, sob a coordenação da Rose Ormenesi, comandaram as panelas enormes de alimento. Nosso assessor espiritual, Padre José Brombal, esteve lá para abençoá-los.
Foram dois dias intensos e significativos. Dezenas de mulheres passaram pela Pastoral da Mulher/ Magdala. Algumas permanecem, outras vieram há pouco e há aquelas que se tornaram prece pela alma. Chegaram e chegam para se fortalecer e, assim, tirar dos ombros e do coração as ruínas que lhes impuseram. E como foi significativo essas meninas e esses meninos lindos e o Padre Sérgio plantarem beleza para quem conviveu com muitas cinzas.
Eles superaram, para a obra, os limites físicos e a acomodação proposta pela sociedade contemporânea. Superação no amor, que se fez claridade e ternura na Magdala.
Voluntário Sonhador, capaz de construir uma sociedade como Jesus sonhava ao estar conosco pelas ruas da Galileia.
 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:16
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VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - GOSTO, DESGOSTO...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gosto, desgosto, carta, convite, casamento” ou “gosto, desgosto, carta, encontro, convite, casamento”.

Manipulávamos o jogo de forma a escolher a própria sorte conforme a pretendêssemos, durante a contagem de urubus bem acima de nossas infantes cabeças de vento.

...

Acabo de ver dois. Ainda há sorte a ser-me lançada?

Destina-se a mim novo desgosto?

Ou a esta altura da vida – à meia idade – toda sorte de azares já se imputou?

Isso sim é que seria desgosto definitivo: não haver luz no fim do túnel.

Sou menos pessimista do que isso.

Um tantinho menos pelo menos.

Olho para os meus filhos e sou toda expectativa! Que maior sorte pode existir?

Adultos que ora são, é sua a vez de pensar no futuro.

            Meu presente são eles, e não poderia, em hipótese alguma, suceder melhor.

            Aqueles dois urubus que vejo estão a passeio; não me trazem recado. Querem tão somente voar livres, muito embora presos, por sua vez, à sorte dos ventos.

            Mas, vão lá... batendo asas de quando em quando, com seu voo característico que muito bem os distingue de outros pássaros.

            Lembro-me que, quando mais moça, os apontava aos meus então pequenos. Eles abismavam: “e como é que a senhora sabe que não são gaviões?”.

            Ai, ai... que delícia aqueles dias! Que aulas tomávamos juntos em vista dos voos sobre nós!

            Lado a lado, analisávamos as particularidades dos movimentos, dos pousos, das decolagens, da dimensão do bando, de seus cantos, chamados...

            Dias outros são estes.

            Enquanto absorta observo as aves, a filha administra sozinha os medicamentos sem carecer de supervisão.

            O mais velho passa mensagem via celular: “ficou meio duro o arroz (o primeiro que fez em nova residência), mas não estava ruim não”.

            É preciso, definitivamente, estar atenta aos sinais. Porém, não viver deles.

            Viver a vida mesmo. Agarrá-la em substância concreta, apesar dos abstratos inerentes.

            Simplesmente porque ela passa.

Talvez, aliás, na minha idade, as coisas soem já mais passadiças, porque a gente as sabe efêmeras.

            Fim de semana passado, no carro, estiquei para trás o braço. Ela de pronto deu-me sua mão.

– Lembra, filha; lembra filho, que quando vocês eram pequeninos a mãe sempre fazia isso?

– Mãe, você faz até hoje! Responderam em duo.

Talvez eu me agarre às suas mãos... como às lembranças.

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 19:10
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JOSÉ RENATO NALINI - TÔNIA CARRERO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Assim como todos os brasileiros, senti a morte de Tônia Carrero, no dia 3 de março. Na verdade, uma lenda, um símbolo, uma expressão maiúscula de beleza, talento e patriotismo. Tive o privilégio de jantar com ela na casa de Heloísa e Arnold Wald. Era prima de Heloísa e, nessa noite, estava conosco a querida e saudosa Mariazinha Congilio, por sinal aniversariante no mesmo dia: 23 de agosto.

Simpática, alegre e acessível, seu humor contagiou o encontro. Monopolizou a mesa, com narrativas pitorescas, uma postura fidalga de quem sabe devotar a cada um dos presentes idêntica atenção. Quantas pessoas têm dificuldade de olhar outros comensais quando não são íntimos daqueles que se congregam em torno à refeição.

Ao final da ceia, era íntima de todos, mesmo daqueles a quem conhecera havia poucas horas. Pessoa a quem não se podia deixar de admirar, tão fascinante a sua personalidade. Tão difícil ser simples, quando o mais fácil é se dar ares, considerar-se especial, adotar a arrogância como parceira permanente.

 

 

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Ainda há dias, ao comentar com um grande amigo a homenagem que se prestava a Bibi Ferreira, observou-se que a longevidade oferece árduos desafios. A beleza de Tônia resistirá ao passar dos anos? O que significa para um paradigma de formosura atravessar décadas e vivenciar a chegada de fragilidades, de deficiências, de perdas e de um generalizado depauperamento?

As imagens de Tônia no esplendor de sua juventude, cotejadas coma implacável marcha do tempo, não causam perplexidade, nem estranhamento. Ela resistiu bravamente à célere corrida dos dias e noites, meses e anos, insuscetível de paralisação.

Conservou seus belos traços, realçados por um espírito indômito. Alguém que viveu sempre intensamente e vibrou fervorosamente com as grandes causas brasileiras. Destemida, à frente das passeatas, pugnou por Democracia, combateu a censura e se divertia no teatro, no cinema e na novela em que era a mais atraente e instigante personagem.

Já fazia parte da melhor parte da História do Brasil. O Brasil do talento, da criatividade, da alegria transmissível a um povo que já foi considerado cordial, embora resultante de três raças tristes. Um povo que tem direito à felicidade, a despeito daquilo que muitos continuam a fazer para que a sensação geral do País não seja a mais alvissareira.

 

 

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 03/04/2018

 

 

JOSÉ RENATO NALINI é secretário estadual de Educação e docente da Uninove

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 19:07
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