PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 22 de Setembro de 2018
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - VIVÊNCIAS DE ASSOMBRO
Vivências de assombro são as que me fazem questionar o que é ou não avanço para a humanidade.
Duas notícias na semana passada me surpreenderam. A sociedade, às vezes, me parece caminhar, em doses homeopáticas ou maiores, para se tornar um grande bacanal.
Li que a França praticamente legalizou a pedofilia. Um projeto de lei apresentado pelo governo francês no ano passado e aprovado em dois de agosto, anulou qualquer idade limite para a idade legal de maioridade sexual, desde que consentida. A maioria das associações de assistência infantil, que exigia que qualquer relação sexual com uma criança fosse considerada estupro, sem que a vítima tivesse que provar violência, ameaça, coação ou surpresa, ficou decepcionada. O projeto foi apresentado pelo governo francês ao parlamento, depois de duas decisões judiciais, em setembro e novembro de 2017, quando dois homens, com idades entre 28 e 30 anos, escaparam da acusação de estupro, após terem sexo com meninas de 11 anos de idade. Ou seja, há até a probabilidade de abusos serem atos sexuais aceitáveis.
O outro assunto é o fechamento de um “bordel” de bonecas sexuais na Itália., em Turim, pela Polícia Comercial e a Vigilância Sanitária, em 12 de setembro. Além do local estar registrado, na prefeitura, como uma espécie de loja, a casa teria que estar sujeita a outro tipo de legislação, à do padrão sanitário, para averiguar se o sistema de limpeza das bonecas está de acordo. O local oferecia entretenimento lúdico-sexual com ao menos 10 bonecas, não infláveis, produzidas em elastômero termoplástico, material que imita a pele humana.
E tem mais, um amigo me contou que há uma loja de produtos eróticos, nas proximidades, que comercializa bonecas infláveis em forma de criança.
E a humanidade “progride” em relações vazias, sem comunhão de ternura, sem respeito, sem conter impulsos selvagens... E a humanidade “progride” para o caos.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
JOSÉ RENATO NALINI - O POLÍTICO IDEAL
O Brasil terá uma chance de revigorar a combalida crença na Democracia Representativa se tiver juízo e eleger os menos piores no próximo outubro.
O grau de descrença na representação chegou a nível inimaginável. A sensação generalizada é a de que inexiste probidade no universo contaminado da política partidária.
Só que a humanidade se afastou bastante daquela utopia imaginada por pensadores otimistas, de que a evolução seria lenta, gradual mas em contínua ascensão. Chegaria a era em que não seriam necessários os instrumentos de manutenção da ordem, pois esta resultaria de uma racionalidade extrema. Os homens não precisariam de freios para mantê-los em harmonia, cada qual cuidando de seus interesses e permitindo que o semelhante cuidasse também dos seus.
A utopia da desnecessidade de força, de governo, de legislação. Se a lei é a relação necessária que se extrai da natureza das coisas e se naturalmente o ser humano é bom, inclinado a se solidarizar com o próximo, a sociedade ideal seria a resultante desse convívio saudável de pessoas de bem e determinadas a praticar o bem.
Inversamente aos projetos que hoje parecem delírios febris, houve uma rápida deterioração da vida pública. Em lugar do bem comum, o político preferiu cuidar do seu exclusivo bem. O descompromisso em relação a quem o elegeu é a rotina. Procura-se o representado apenas às vésperas dos pleitos. A confusão entre a coisa de todos e aquilo que vai para o próprio bolso é uma regra que raramente admite exceção.
É urgente que surja um novo Diógenes que, com sua lanterna acesa à luz do dia procure um político honesto. Alguém que não apenas seja honesto, mas que não admita que a desonestidade more em sua casa. Que não faça alianças com suspeitos. Que não transija com o seu dever de defender a coletividade. Que não admita que, em seu nome, se pratiquem injustiças ou crueldades.
Há quem sustente que ainda existam políticos assim. Queira Deus consigam ser eleitos. O quadro atual exibido pela classe integrante do modelo brasileiro de Democracia Representativa não suscita a confiança em grau suficiente a aspirar sejam muitos. Pesquisemos, garimpemos, animemo-nos a encontra-los e talvez reencontremos a esperança em dias melhores para esta nossa tão sofrida Pátria.
JOSÉ RENATO NALINI é desembargador, reitor da Uniregistral, escritor, palestrante e conferencista
PÈRICLES CAPANEMA - FICAR DOIDÃO
Franklin Martins não é um petista qualquer. Entre outras posições, foi alto funcionário das Organizações Globo e ministro de Lula (Comunicações). Na juventude, líder estudantil e guerrilheiro do MR-8. Nos anos da guerrilha, em 1969, idealizou o sequestro de Charles B. Elbrick, embaixador dos Estados Unidos. É radical, pertence à intelligentsia do PT, sabe e mede o que diz, não é doidão.
Em 14 de setembro se declarou satisfeito com a reintrodução do controle social da imprensa nos programas dos partidos de esquerda, em especial nos do PT e do PSOL. Controle social da imprensa, todo mundo sabe, é eufemismo para evitar dizer a realidade crua; em verdade é sujeição da imprensa pelo Estado, por sua vez pilotado por grupelhos revolucionários. Trata-se de atavismo incurável dos partidos de esquerda, atacar e extinguir a liberdade de informar.
Franklin falou no meio de gente farinha do mesmo saco no encontro sob o título “Radicalizar a Democracia ▬ por uma nova governabilidade”, que se deu no Hotel Nobilis em São Paulo. Ali seanalisaram perspectivas para a esquerda no Brasil no esforço de regulamentar a imprensa ▬ amordaçá-la. É a nova governabilidade.
Virar doidão para radicalizar a democracia
Declarou na ocasião o antigo guerrilheiro: “Temos todos que virar doidões, ou seja, virar democratas”. Virar doidões significa correr riscos até agora evitados, entrar por caminhos aventurosos, acelerar etapas. Democratizar, na linguagem daquele meio, é no caso diminuir a força da propriedade privada e aumentar a importância da propriedade coletiva (intervencionismo e estatismo) nos meios de divulgação. Aqui vai a razão, a esquerda brasileira necessita da regulação da mídia para fazer viáveis seus objetivos, por exemplo expressos nos regimes de Cuba, Venezuela e China.
Dois outros pontos da pauta ali debatida, “doidões” também, empurram para o mesmo e trágico destino: "democratização das forças armadas" e "desmilitarização da polícia”. Apenas o programa do PSOL a eles alude, mas é aspiração de toda a esquerda dirigente. Totalitário e coerente, o atual programa de governo do PT fala em controle social do Judiciário e do Ministério Público, eufemismo, repito, para domesticação das duas instituições. Se a esquerda ganhar em 7 e 28 de outubro, podemos estar certos, uma pauta doidona ganhará vida instantaneamente.
Consciente ou inconscientemente, Franklin Martins ecoava palavras de José Dirceu de duas semanas antes. Em entrevista de 29 de agosto, Pedro Caroço (nome pelo qual foi conhecido em Cruzeiro do Oeste quando ali vivia clandestino) foi didático: “Temos um programa radical e a maioria do Parlamento precisa ser combinada com uma grande pressão popular”. Exemplo de pressão popular lembrada por ele, o cerco da militância à Câmara e ao Senado. Dobrar autoridades pelo amedrontamento sempre foi tática revolucionária. Vai na mesma direção da fala de Franklin, admitir riscos até agora evitados para impor um “programa radical”.
A asfixia das liberdades existentes
José Dirceu também não é doidão. De fato, ambos se dirigiam em primeiro lugar a setores radicalizados da esquerda, impacientes com as demoras ditadas pela resistência conservadora do público. Pretendiam assim animar, despertar esperanças, impedir dispersões e desânimos na militância. Mas não são apenas palavras ocas de estímulo à militância crédula.
Elas vão além. Para eles e tantos outros da direção petista já daria para começar a forçar o passo no rumo da radicalização. No caso, asfixiar paulatinamente a liberdade de informação, destruir a Lava Jato, domesticar ainda mais o Judiciário, avassalar o Exército e as Polícias. Ótimo para tal seria se vencessem as próximas eleições.
Franklin garante (e está certo), com controle da imprensa não teria havido o impeachment de Dilma (que ele chama de golpe). “[O golpe] nos obrigou a pensar que a democracia só existe com força se não houver oligopólio da mídia”.
Ficar doidão na arena política não é programa de quem promova o “comitas gentium”, expressão proveniente do Direito Internacional, mas que se aplica bem à arena pública interna (com muita liberdade se poderia traduzir por civilidade) e que constitui o clima adequado ao Estado de Direito. Pelo contrário, é programa de quem deseja exasperação das tensões, indiferente às dilacerações, para assim impor totalitariamente seus objetivos.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
FELIPE AQUINO - DEZ ENSINAMENTOS DA BÍBLIA PARA AS HORAS DIFÍCEIS
- “Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu!” (Is 43,2).
- “Uns põem sua força nos carros, outros nos cavalos: Nós, porem, a temos em o Nome do Senhor, nosso Deus” (Sl 19,8).
- “E toda essa multidão saberá que não é com espada e nem com lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do Senhor, e ele vos entregou em nossas mãos” (1Sm 17,47).
- “Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor” (Jr 17,7).
Leia também: Como ler a Bíblia?
Cinco conselhos práticos para uma boa oração com a Bíblia
A Palavra de Deus é viva e eficaz!
Como ler e entender a Bíblia?
- “Não temais, não vos deixais atemorizar diante dessa multidão imensa, pois a guerra não compete a vós, mas a Deus” (2Cr 20,15).
- “Não vos assusteis, não tenhais medo deles. O Senhor, vosso Deus, que marcha diante de vós, combaterá Ele mesmo em vosso lugar, como sempre o fez sob os vossos olhos” (Dt 1,29-30).
- “Não os temas, lembra-te do que fez o Senhor, teu Deus, ao Faraó e a todos os egípcios” (Dt 7,18).
- “Coragem! e sede forte. Nada vos atemorize, e não os temais, porque é o Senhor vosso Deus que marcha a vossa frente: ele não vos deixará nem vos abandonará” (Dt 31,6).
- “Porque a vitória no combate não depende do número, mas da força que desce do céu… O próprio Deus os esmagará aos nossos olhos. Não os temais” (1Mac 3,19-22).
- “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1Jo 5,4).
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
PAULO R. LABEGALINI - SÃO VICENTE COMO EXEMPLO
Todos somos convidados à santidade, mas, por motivos que a própria razão desconhece, às vezes desprezamos garantir um lugar no céu e deixamos o chamado de Deus para depois. Se Ele exigisse que nos colocássemos a Seu serviço somente através de duras penitências ou através de total desprezo a tudo de bom que o mundo nos oferece, teríamos muitos argumentos para tentar explicar-Lhe a nossa omissão; mas, sabemos, é muito mais coerente a um cristão sempre agradar a Deus, porque qualquer um pode ser feliz – e como! – sem se envolver com os pecados mortais.
São Vicente de Paulo alcançou a santidade e a felicidade eterna porque atendeu a orientação de São Paulo aos Coríntios: (I Cor 13)
“Aspirai aos dons superiores. E agora, ainda vou indicar-vos o caminho mais excelente de todos. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!
A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. Por ora, subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade.”
Que lição maravilhosa para conduzir os nossos trabalhos vicentinos! Se sempre levássemos com firmeza esta Palavra de Salvação aos quatro cantos da terra, a caridade praticada pela Sociedade São Vicente de Paulo seria ainda maior – e precisa ser muito maior! É por isso que acredito que, ao enviar as Relíquias do nosso Patrono ao Brasil, Nosso Senhor Jesus Cristo nos chamou definitivamente à real responsabilidade da caridade. Precisamos despertar o nosso ardor missionário e mostrar ao mundo que somos instrumentos da vontade de Deus em socorro dos pobres!
As riquezas, porém, não são um mal em si, mas possuem o perigo de prender os corações dos ricos demasiadamente a elas. Quando isso ocorre – e, infelizmente, normalmente ocorre! – os afortunados deixam de salvar as próprias almas porque se fazem de surdos ao serem chamados para a construção do Reino de Deus. Portanto, todo aquele que não se despoja das afeições desregradas neste mundo e não busca um espírito de pobreza – o desapego de bens materiais –, dificilmente ganhará o céu. E todos os ricos precisam saber disso.
O trabalho vicentino não pode parar! Uns, Deus chama à pregação; outros, à conversão; os vicentinos, chama à visita ao pobre em seu domicílio para, em nome da Igreja, realizar esse trabalho maravilhoso de caridade, de doação pessoal e de amor – usando os dons que Ele próprio nos deu. Altruísmo ou filantropia não é o ideal vicentino. A Sociedade São Vicente de Paulo é uma escola de vivência humana em ajudar o outro. É uma escola de santidade e nos coloca mais próximos do céu.
Na graça de Deus, contando com o amor de Maria e a proteção de São Vicente, vamos contribuir para que as nossas conferências sejam ainda mais dinâmicas e os pobres muito mais felizes. Coragem! Vale a pena.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - O QUE É PRECONCEITO ?
A cada passo, na “Globo New”, ouço afirmar: Que isso ou aquilo, é preconceito.
E acontece, o mesmo, quando escuto comentadores radiofónicos: “ É preciso, urgente, combater o preconceito.”
Mas, o que é preconceito?
Segundo Morais (Grande Dicionário da Língua Portuguesa) trata-se de: “Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento/ Obrigação de obediência inflexível ou tradicionalmente estabelecido”.
E o mesmo esclarece, Dermival Rios, no: “Dicionário do Estudante”, da Editora Brasil – São Paulo.
Dito isto, vamos refletir:
Será preconceito, atitude ou comportamento, fundamentado na Moral cristã ou islamita, ou opinião baseada na cultura e tradição de um povo?
No meu modesto pensar: não é.
Numa sociedade “ politicamente correta”, quando não se escreve, como os “democratas” pensam, rotulam-nos de: reacionário, “velho do Restelo”: preconceituoso.
Se cristão, asseverar, publicamente: que certo ato, é criminoso, baseado na Moral da sua Fé, é, quase certo, taxado de: preconceituoso.
O célebre Millor Fernandes, definiu: “ Democracia, é quando eu mando em você. Ditadura, é quando você manda em mim”. Assim é o pensar e o agir, de muita boa gente…
A democracia é o mais perfeito regime que se conhece; mas, infelizmente, – não sou eu que o digo, mas Rousseau, no Contrato Social, Cap IV –: “Um governo tão perfeito não convém aos homens, porque estes não são deuses”.
Por não serem deuses, nos países, onde não há rei nem roque, os “democratas”, matam e mandam matar, em nome de ideologias e crenças religiosas.
Voltemos ao preconceito:
Será preconceito, não aceitar a “Nova Moral”?! Será preconceito defender a Família; e as normas morais, que serviram de base à nossa civilização?!
Será preconceito, transmitir, aos nossos filhos, a educação, e regras de civilidade, que recebemos dos nossos maiores?!
Para alguns: intelectual, operário, estudante, que não pense como eles, é: anatematizado.
Por enveredarmos por caminhos promíscuos e torpes; por termos corrompido a juventude, vivemos, agora, em constantes receios e medos.
Degradamos a mulher; e país, onde a mãe e a esposa, foi degradada, caminha, irremediavelmente, para o declínio.
O homem, orgulhoso da sua inteligência, abandonou o Criador – como os filhos que desprezam e mal tratam os pais.
Quando escrevo “ homem”, incluo, os cristãos – duplos, – Crentes no templo; agnósticos na coletividade.
Perguntai aos políticos: Acreditais em Deus? A maioria, responderá: Sim; mas se acreditassem, não O expulsariam do: parlamento, das escolas e das relações internações! …
Serão, porventura, hipócritas? Não sei. Sei apenas, porque não estou a julga-los, mas a levantar hipótese, que: Quanto mais falam de Paz, mais violência há; quanto mais falam de agregado familiar, mais desagregado está; quanto mais pretendem proteger as nossas crianças, mais elas se encontram em perigo.
Qual a razão? Cada um encontrará uma. Para mim, é, pelo facto de já não sermos civilização cristã. Trocamos o Deus bíblico, pelos deuses…
Concluo com palavras de Mário Quintana: “ O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado; é este pressentimento: que ele venha a ser nosso futuro”.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - CANDURA - Dom de compartilhar
Aqui partilho convosco este video elaborado pelo talentoso amigo Afonso Brandão, que tem como objetivo enfatizar o dom de compartilhar.
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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Palavra do Pastor, com Dom Vicente Costa,
Bispo diocesano de Jundiaí
25º Domingo do Tempo Comum
https://youtu.be/MyNJ0jzP09w
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Exmos. (as) Senhores (as),
A APOIO vem por este meio convidar-vos a fazer parte desta iniciativa da NOITE DE POESIA, um local de tertúlia de poesia entre participantes e convidados. A Noite de Poesia irá ser retomada neste mês de Setembro e em formato especial pois celebra o seu 3º aniversário.
Deste modo damos conhecimento da NOITE DE POESIA ESPECIAL abaixo descrita, em que vamos celebrar o seu 3º aniversário, que terá lugar no dia 26 de Setembro, às 21h00, no FORUM APOIO (instalações da Sede da APOIO), em ALGÉS.
Solicitamos a divulgação deste evento.
Com os nossos melhores cumprimentos,
Artur Almeida e Silva
Presidente da Direção
artur.almeida.silva@apoio.pt
Tel. 214177186 / 937852984
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Sábado, 15 de Setembro de 2018
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - A COMPREENSÃO E A PAZ MUNDIAIS SE CONSOLIDAM COM GESTOS DE SOLIDARIEDADE
Nesta época de desafios é preciso refletir e pensar o passado, chamando atenção para os grandes erros que a nossa história, seja pessoal ou coletiva, produziu. Um desses equívocos parece que veio para ficar, o que quer dizer que se fixou como base de boa parte de nossa conduta. Trata-se da nossa incapacidade de conviver com o diferente e as formas encontradas para solucionar os problemas de convívio humano onde o que menos importa parece ser o diálogo, a comunicação direta e honesta, sem truques, golpes, violências, onde a veneração pela vida do outro e sua forma específica de manifestação e expressão, fossem considerados.
Sabemos que a lista de tipos sociais que são alvos de discriminação e exclusão que nossa sociedade construiu é grande. E ressurgem diariamente manifestações preconceituosas em todo o mundo contra minorias étnicas, mulheres, homossexuais, pobres, índios, negros, portadores do HIV, crianças, integrantes da terceira idade entre tantos, além da intolerância religiosa que se tornou uma das principais causas de perseguições.
O DIA DA COMPREENSÃO MUNDIAL que se comemora a 17 de setembro, objetiva conscientizar-nos sobre uma das principais características que a humanidade deve ter para que haja o máximo de paz, a compreensão. Sua proposta é justamente incentivar a reflexão de como lidar com tantas discordâncias de vários fatores, como faixa etária, geração, religião, educação e etc. entre as pessoas, respeitar e procurar entender os sentimentos do próximo.
Como um instrumento para o entendimento ela é uma atitude plural, mútua, que tem sua origem, no entanto, no conhecimento que temos de nós mesmos. Com efeito, os seres são distintos em aspectos físicos, comportamentais, de valores e ideias e por isso é fundamental que seja criada uma cultura de acatamento, seja no cotidiano de cada indivíduo e também no ambiente social. Ela é entendida por isso, como um fator fundamental para que seja mantida a harmonia mundial e também respeitados os anseios de todos.
A divergência é um direito dos homens, porém é muito importante que seja mantida uma harmonia no grupo em que se vive, para conseguirmos atingir um bom nível de convivência, sempre pensando nas necessidades do outro. Só no respeito às diferenças é que podemos construir comportamentos, estabelecer planos e mudar atitudes – as nossas e as de terceiros. Há que se entender a importância de cada ato pessoal como um fator que facilite a harmonia e a construção de um grupo. Além do mais, citando Mahatma Gandhi, vale dizer que “...cada problema começa a se resolver quando decidimos fazer do amor a lei da nossa vida...” .
A data também visa alertar todos os líderes de governos e da sociedade em geral a pensarem e equilibrarem os seus julgamentos com paciência e apreço aos semelhantes e tornar os indivíduos mais humanos e compreensíveis, tentando transformar o mundo em um lugar tranqüilo para todos viverem, principalmente diante das ameaças que as grandes potências lançam ultimamente umas contra as outras.
“A PAZ É A TRANQUILIDADE DA ORDEM”
O DIA INTERNACIONAL DA PAZ, 21 de setembro, foi instituído pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1981 para “comemorar e fortalecer os ideais de paz em cada nação e cada povo entre elas”. Dizia com grande brilhantismo Santo Agostinho: “A paz é a tranqüilidade da ordem”. Com efeito, em sua dimensão mais ampla paz significa tranqüilidade pública, concórdia e ausência de hostilidade.
Diante da ameaça que paira sobre todos, é hora de assimilarmos gestos de boa vontade e unirmos nossas mãos em atitudes concretas de partilha, para a construção de uma nova sociedade, em que as desigualdades não sejam tão ostensivas e chocantes e a Justiça possa efetivamente cumprir seu papel, para progredirmos em conjunto, rumo a tão almejada convivência pacífica, compreendida como fruto da eliminação da miséria e do desenvolvimento integral de todos os povos.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - LIVROS & LIVROS
Há pessoas, e até verdadeiras personalidades, que nunca deveriam publicar livros. Recordo que, há cerca de dez anos, fui a Itu, para ser padrinho de casamento de um primo viúvo que se recasava. No hotel em que a família inteira ficou hospedada, minha irmã me passou um romance recém-publicado, de autoria de um "baladadíssimo" artista que, unicamente pelos seus méritos como cantor e compositor, era campeão de vendas de um romance. Ao me passar, minha irmã comentou que ficara decepcionada, que melhor seria o tal artista nunca se ter aventurado a escrever. Levei o livro para o apartamento e, antes de dormir, fui até à página 50. Deixei-o enfastiado, sem vontade de prosseguir. Medíocre, cheio de lugares comuns, querendo chocar os leitores e, pelo choque, atraí-los. Poderia até passar para um jovem iniciante, imaturo nas letras, não porém para um sexagenário já consagrado como artista. Justamente por respeitar esse nome, prefiro não o citar pessoalmente.
E há, também, grandes escritores que, de vez em quando, em horas menos felizes, produzem banalidades. Nem todo bom escritor mantém, sempre, o mesmo nível de suas produções. Algumas, melhor seria que jamais vissem a luz do dia. Lembro de minha decepção ao ler "Viagem à Inglaterra e à Escócia", do grande Júlio Verne, autor que fascinou minha distante adolescência, com suas geniais produções. Sou, por outro lado, igualmente fascinado pela Escócia, em especial pelas Highlands, pelos jacobitas, pelos clãs seculares, pela cultura céltica em geral e pela escocesa em particular. Os romances históricos, ou de fundo histórico, de Walter Scott e de Robert Louis Stevenson, aclimatados na velha Escócia, nunca me canso de reler. Quando soube da existência de um livro de Júlio Verne sobre a Escócia, encontrado e dado à luz quase 100 anos depois da morte de seu autor, quis logo lê-lo, esperando encontrar maravilhas. Foi uma decepção. Mero relato de viagem, sem nenhum interesse, sem conteúdo, sem descrições psicológicas de personagens, sem análise profunda de ambientes, sem nada que prestasse... pelo menos no meu juízo. Quis ler, então, outro romance do mesmo Verne, também aclimatado na Escócia, intitulado “O raio verde”. Nova decepção...
Romances clássicos, que li e que recomendo sempre são “A ilustre Casa de Ramires”, de Eça de Queiroz (verdadeira obra-prima de todos os pontos de vista). e “O alienista”, de Machado de Assis, modestamente classificado como conto, por seu autor, mas que melhor seria designado como novela, ou romance. Outra obra-prima de bom gosto, fina ironia, maestria no trato da língua portuguesa.
É curioso como um mesmo autor, sendo lido na adolescência e na idade adulta causa impressões diversas. Quando era adolescente, devorei quase toda a obra do José de Alencar, que me encantava. Depois de adulto, reli “O Guarani”, “Iracema”, “As Minas de Prata”, e achei tudo, como se diz vulgarmente, "a maior xaropada".
De Machado de Assis, que tentei ler na adolescência, não gostei muito; mas fui reencontrá-lo já adulto e me encantou; tenho por ele a maior admiração. “Esaú e Jacó”, por exemplo, lembro que li ainda menino e não achei grande coisa. Quando disse, na ocasião, que estava lendo esse livro, minha professora de Português da primeira série do Ginásio comentou comigo que era um livro que eu não podia entender, só entenderia mais tarde. Eu fiquei muito desagradado por ela me considerar criança... e do alto dos meus 12 aninhos respondi, muito sisudo, que tinha entendido muito bem. Lembro que ela fez, expressivamente, um sinal de dúvida. E ela tinha razão. Muitos anos depois, já com perto de 40 anos, fui reler o mesmo livro e só então compreendi toda a sua profundidade. É uma grande obra da nossa literatura.
Há, também, livros que não podem ser lidos uma única vez, seja qual for a idade do leitor. Necessitam de releituras e aprofundamentos. O caso mais típico, talvez, seja “Grande Sertão, Veredas”. Na primeira vez, lê-se entendendo muito pouca coisa. Numa segunda leitura, começam a aparecer profundidades antes despercebidas. E depois da terceira ou quarta leitura, o livro revela, por inteiro, sua inesgotável riqueza. No meu modesto modo de entender (admito que isso é muito opinativo, claro), Guimarães Rosa disputa com Machado de Assis o primeiríssimo lugar, na literatura ficcional brasileira.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - VOU DE TÁXI
Há alguns anos troquei de hábitos e passei a me locomover pela cidade de São Paulo, sempre que possível, de transporte público, de táxi e a pé. Costumo dizer aos outros que escolhi fazer dessa forma desde que furtaram meu carro há alguns anos, mas isso não é exatamente verdade.
Logo que me mudei para a capital paulista, vinda de cidades pequenas, nas quais eu me locomovia basicamente de carro, constatei que minhas limitações de senso de orientação eram maiores do que eu imaginava. Dirigir pelas ruas de São Paulo em um período de aparelhos de GPS ainda meio rudimentares era algo que me deixava em pânico diante da perspectiva de ficar perdida.
Eu confesso que tentei e até arrisquei ir sozinha a lugares mais próximos, mas nada muito audacioso. Nem sei explicar o quanto o pavor de ficar perdida e não achar o caminho de volta ou de ir parar em meio a uma favela me incapacita. Simplesmente entro em pânico. Desse modo, quando levaram meu carro, busquei alternativas que me eram mais confortáveis.
Quando há metrô por perto eu não hesito, eis que de longe é minha escolha preferida. O metrô é rápido, normalmente limpo e seguro. Além do mais, não há chance do trem mudar o caminho e ir parar em qualquer outro lugar que não seja uma das estações. Já os ônibus não fazem o meu tipo: prefiro andar a pé do que ficar chacoalhando pelas ruas.
Quando é preciso que eu vá para lugares mais distantes, uso um aplicativo no celular e chamo um táxi a preços mais atrativos. Na maior parte das vezes, sigo conversando com o motorista e nesses caminhos acabo conhecendo muitas pessoas, com muitas histórias de vida interessantes.
Descobri que em tempos de crise econômica, inclusive, muitas pessoas que perderam seus empregos fazem suas apostas financeiras dirigindo taxis, desviando dos perigos e mirando no retorno para seus antigos postos de trabalho. Percebo que a esperança é uma das últimas que abandona os motoristas. Quilômetros rodados através de um trânsito caótico e perigoso, mas nada parece capaz de apagar o sonho da recolocação profissional.
Conheci um senhor que veio do Líbano há mais de 30 anos, fugido de uma das guerras civis que assolou o país. Há alguns meses perdeu o emprego em uma grande empresa por conta da política de cortes. Conversamos longamente e logo eu já conhecia toda a história da vida dele, dos filhos e mesmo sobre algumas confidências sussurradas, muito mais como quem fala em voz alta do que se comunica com alguém.
Muitos motoristas são muito jovens, desejosos de um meio de se sustentarem, mas seguem guiando as vidas alheias enquanto outras portas não se abrem. Alguns alternam o tempo com os estudos e outros planejam um estudo futuro, guardado a sete chaves, naquele lugar misterioso onde vivem os sonhos.
Gosto de conversar com as pessoas que me transportam pela selva de pedra urbana. Ouço desabafos de pessoas que provavelmente nunca mais verei e, em alguns momentos, fico eu igualmente tentada a revelar parcela das minhas preocupações. Quase sempre me despeço desejando que as coisas se acertem e que fiquem com Deus, a salvo dos perigos, grata por não estar perdida, literal e figurativamente.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora. São Paulo
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - APLIQUE A MISERICÓRDIA
A moça se deteve onde me encontrava e falou de assuntos diversos. Conhecemo-nos há algum tempo e acompanho circunstâncias de sua história. Dessa vez, quem sabe pelo cinzento da atmosfera, puxou fatos remotos cruéis, que passaram junto com a mãe. Faz 16 anos da partida trágica do irmão. Era do carinho com eles. Mal amanhecia, estava na plantação em que trabalhava. A força da terra, a enxada, as sementes e o sol a pino pareciam acalmar as angústias que o tomavam por dentro. Apreciava voltar para casa com verduras. Não tinha filhos e vontade de casamento. No entardecer, no entanto, o desejo pela droga se agigantava. Não resistia. Foi disso a dívida que contraiu. Pagava a de ontem e prometia para amanhã a quantia de hoje, até que o valor lhe fugiu das possibilidades. Dizem que alguém lhe emprestara o montante e que se encontrava no bolso. Sabe-se, apenas, que ao se aproximar da viela, deteve-se com uma amiga. Pegou no colo a bebê dela. Uma gracinha! Amava crianças. Desanuviou-se a sua expressão de prenúncio de tempestade, que carregava há dias. De repente, o “gerente” se aproximou armado e decidido. Aqueles que estavam próximos perceberam o ruído de aves de rapina pela redondeza. Bater de asas de mau agouro. Uns gritavam para que entregasse a criança à mãe. Outros diziam para que não o fizesse, pois seria morto. Silêncio e medo suspensos no ar. Situação de instantes. Notou que a criança iria chorar. Gritou que não podia ser responsável por sustos e tremores da pequenina. Entregou-a de imediato à mãe e correu.
Rito fúnebre, vingança. A caveira tatuada em seu braço pareceu agigantar-se. Estampidos soaram inclementes, rompendo a mudez tenebrosa. Exclamações pálidas soltas pelo ar. Caiu ensanguentado e, ali mesmo, deu o último suspiro.
No dia em que ouvi esse episódio doloroso, pela manhã, estivera com o Padre Leandro Megeto, que é todo de Deus, do acolhimento e da claridade. Ao comentar, com ele, sobre a sequência que me assombra: orgulho, julgamento, condenação e maledicência, embora com anseio sempre de me tornar da bondade, aconselhou-me a aplicar a misericórdia. Foi tão forte para mim! Isso me fez entender, de imediato que, pela misericórdia de Deus posso me tornar melhor e que o moço, de vida de desencontros, por certo chegou a Deus e Ele o agradeceu por ter salvo a menina.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
PÉRICLES CAPANEMA - O BERREIRO DOS PROMOTORES DA EXCLUSÃO
Em 7 de setembro aconteceu mais uma patética caminhada do “Grito dos Excluídos”. A pantomima ridícula é repetida desde 1995, sempre arrastando os mesmos e desgastados grupelhos. A organização da caminhada por cidades importantes, que de plano obviamente exclui todo o Brasil que presta e só inclui minorias contestatárias, nasceu na CNBB e se mantém com seu auxílio, para vergonha dos católicos.
Na 56ª Assembleia Geral da CNBB, abril de 2018, dom Guilherme Werlang, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da entidade, em companhia de outros bispos da tal comissão, dom Canísio Klaus, dom José Valdeci, dom André de Witte, dom Rodolfo, dom Luiz Gonzaga, informou aos demais bispos presentes a respeito da organização da marcha de 2018 que se realizaria em setembro. É triste, mas não consta que tenha havido desacordo sobre os planos.
Trata-se simplesmente de mais uma promoção de órgãos da CNBB, sempre fiel à sua cultivada condição de linha auxiliar do PT. O tal “Grito dos Excluídos” ▬ minha proposta, pisando o real, a pantomina poderia ser adequadamente denominada “O berreiro dos promotores da exclusão” ▬ nasceu em 1994 e a primeira foi realizada em setembro de 1995 com o objetivo de aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade daquele ano. A partir de 1996 passou a fazer parte do “Projeto Rumo ao Novo Milênio”, com aprovação da assembleia geral da CNBB. Naquele ano, o lema do Grito (melhorando, berreiro) foi “Trabalho e Terra para Viver”. Ligou-se o tal Berreiro notória e confessadamente à agitação do MST nas ocupações de terras e promoção da reforma agrária. A reforma agrária no Brasil ▬ dificulta a produção, afugenta investidores e piora a situação dos trabalhadores rurais ▬, obsessão um tanto delirante do fanatismo socialista da CNBB, é em verdade nua e crua a venezuelização do campo. Enquanto não colocar o campo brasileiro numa situação parecida com a Venezuela de hoje não vão sossegar.
A marcha de 2018 do Berreiro (24ª edição) teve como lema Desigualdade gera violência - Basta de privilégios - Vida em primeiro lugar. De passagem, a promoção da desigualdade harmônica é fator de paz social. A imposição da igualdade traz fome e tirana, ensina de forma trágica e sanguinolenta a história do século 20 e 21.
Quem participa do Berreiro no Brasil inteiro? Uma amostra do público que a CNBB atrai e dá espaço: líderes do PT, dirigentes do PCO, militantes do MST; assemelhados a rodo (não são muitos). E o público que exclui aos pontapés? Multidões e multidões, o Brasil da gente direita: donas de casa e mães de família católicas, proprietários rurais ameaçados pelas invasões, professores que querem ensinar e manter disciplina nas aulas, entre outros. Foge espavorido o Brasil que estuda, trabalha, cria os filhos, quer crescer na vida.
Dos fatos divulgados pela imprensa, deixo aqui dois exemplos. No Rio de Janeiro, foi realizada no mesmo horário do desfile militar. Entre os participantes de destaque estava Indianara Siqueira, uma trans, vamos chamar assim (nasceu varão). Ele (ou ela) organiza na antiga capital federal a Marcha das Vadias. Diz de si: “Nasci em 18 de maio de 1971, sete anos depois do golpe de Estado que implantou a ditadura militar no Brasil. Aos 12 anos comecei a tomar hormônios femininos. Aos 18 anos passei a usar roupas femininas. Virei prostituta em Santos. Virei militante pelos direitos humanos, me tornei presidente fundadora do grupo Filadélfia de travestis de Santos”.
Indianara estava no “Grito dos Excluídos” do Rio de Janeiro para se posicionar contra o fundamentalismo e para lutar pelos direitos das pessoas trans e profissionais do sexo: “As pessoas trans são as mais excluídas da sociedade, assim como na área trabalhista, quem se prostitui é excluído até dos direitos trabalhistas. E a maioria das trans tem como única opção a prostituição para sobreviver. Então, não existe uma luta só pelos direitos trans que também não passe pelo direito da regulamentação da prostituição das profissionais do sexo”, declarou.
Em São Paulo, o “Grito dos Excluídos” teve participação de muitos candidatos às próximas eleições. Foram ali na esperança de pescar alguns votos. Entre eles, Nivaldo Orlandi (Partido Comunista Operário), candidato ao Senado, que no microfone da marcha comentou assim o monstruoso atentado a Jair Bolsonaro: “Ninguém viu sangue nenhum. Vimos um grande chororô da imprensa, das lideranças ditas democratas. Agora, esse anjinho fascista, será que merece nossa solidariedade?”.
Vou recordar o óbvio, ser conselheiro Acácio. A CNBB oficialmente foi criada para levar as almas ao rebanho de Cristo, e de forma congruente favorecer a ordem temporal cristã como situação favorável ao “salus animarum” de seu múnus. No caso em análise, restou algum resquício de tal missão? Ou vemos o contrário? Veio-me incoercível à mente afirmações do arcebispo Carlo María Viganò em recente documento de repercussão mundial: o antigo núncio apostólico em Washington denunciou pastores que, palavras suas, incitavam os lobos a destroçar o rebanho de Cristo. É possível fugir da associação?
Outra obviedade: o Brasil limpo, amazonicamente majoritário, é o grande excluído do berreiro dos promotores da exclusão. Aqui está ponto que já há décadas dificulta e tem prejudicado gravemente a evangelização no Brasil. A CNBB, evidenciando falta de transparência, fecha-se sobre ele. Esse partidarismo das panelinhas ideológicas, retrocesso lamentável, diminui o oxigênio nos ambientes católicos; debilita-os. Com isso, impede avanços tonificantes. Arejamento, a asfixia precisa acabar.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - ROMÂNTICA LIBERDADE
A provocação veio do caro amigo e também articulista neste blog, o Dr. João Carlos José Martinelli: “tomo a liberdade de sugerir que escreva, se possível, sobre algumas letras de Taiguara, que são verdadeiras obras-primas.”.
En passant, vamos lá...
Pela intensidade tanto no tocante à vida quanto à obra, Taiguara Chalar da Silva (1945/1996), nascido em Montevidéu, filho de pai brasileiro e mãe uruguaia, formou, ao lado de Chico Buarque e Gonzaguinha, o trio de artistas mais censurados pela ditadura militar no Brasil.
Cantasse eximiamente o amor romântico ou, apaixonadamente, declarasse o sonho de ser livre, os censores em tudo de seu farejavam conotação política.
“Por uns velhos vãos motivos/ Somos cegos e cativos/ No deserto do universo sem amor/ E é por isso que eu preciso/ De você como eu preciso/ Não me deixe um só minuto sem amor”.
Como todos que muito creem, durante a luta, nosso herói em questão, homem igual a nós, e por isso mesmo a nós exemplo, a certa altura desanimou, mas, o vate dentro de si não: “Eu não queria a juventude assim perdida/ Eu não queria andar morrendo pela vida/ Eu não queria amar assim como eu te amei”.
Porém, desânimos à parte, tal o próprio compositor e intérprete disse: “quem não soube a sombra, não sabe a luz”. Ele as soube.
Aprendeu. E na mesma proporção, partilhou-as: “Hoje a minha pele já não tem cor/ Vivo a minha vida seja onde for/ Hoje entrei na dança e não vou sair/ Vem que eu sou criança não sei fingir (...) Lá onde eu estive o sonho acabou/ Cá onde eu te reencontro só começou/ Lá colhi uma estrela pra te trazer/ Bebe o brilho dela até entender/ Só feche o seu livro quem já aprendeu/ Só peça outro amor quem já deu o seu”.
Enfim, eu não poderia me furtar fosse ao convite fosse ao deleite de, por meio dele, um tantinho mais vir a conhecer de Taiguara, buscando-o em suas libertárias entrelinhas poético-musicais.
Oxalá, hoje e adiante, ainda “as crianças cantem livres sobre os muros/ E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor/ E que o passado abra os presentes pro futuro/ Que não dormiu e preparou o amanhecer...”.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br