PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 20 de Outubro de 2018
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - VIVÊNCIAS DO TEMPO

Vivências do tempo em sincronia ou não, mas o coração em concordância sempre.
Um dia desses, lamentava sobre a falta de minutos a mais numa conversa. Uma amiga me disse sobre a identidade de afeto, de pensamento, mas que a sincronia do tempo diverge, inúmeras vezes, devido às ocupações de cada um. E é verdade mesmo.
Veio-me um acontecimento do Natal de 1979. Naquela época, além de dar aula, trabalhava no Posto Cultural do MOBRAL. Sr. Sebastião Maia, de saudosa memória, que, em 1978, promovera a primeira exposição de presépios em nossa cidade, pediu-nos que realizássemos a segunda exposição. Com a aquiescência da então presidente, a Profa. Maria de Lourdes Torres Potenza, assumimos a tarefa, bastante trabalhosa, mas encantadora. A inesquecível escritora Olga Mathion esteve em visita aos presépios, logo após o dia 25 de dezembro. Desculpei-me por não ter lhe respondido, naquele ano, um cartão de boas festas. Ela me respondeu que entendia minha falta de tempo e que o evento era uma mensagem de “boas festas” a todos que o visitavam.
Em outra oportunidade, li uma carta do escritor José Mauro de Vasconcelos (1920-1984), em que ele dizia lamentar não conseguir se corresponder mais com seus leitores, pois o tempo lhe escorria pelos dedos.
Como escreveu Mário Quintana em seu poema O Tempo: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa./ Quando se vê, já são seis horas!/ Quando se vê, já é sexta-feira!/ Quando se vê, já é natal…/ Quando se vê, já terminou o ano...”
Penso que a identidade de ternura e gratidão independem da sincronia do tempo. Cada um tem as ocupações de sua vida que lhe impedem de estar mais com as pessoas que moram nos recônditos de sua alma. Não é descaso. Sobreviver não é fácil, faz-se de luta diária. É preciso, no entanto, franqueza, compreensão e preces por aqueles com quem desejamos partilhar as horas, mas o cotidiano impede.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - UM SIMPLES SORRISO

Artimanha da mente seletiva, guardo poucas lembranças da infância.
Recordo-me vastamente, porém, da infância dos meus filhos.
Lembro-me de cada sorriso e de como cada um era amplo.
Mesmo entre lágrimas, quando a hora era para chorar, lá vinha um esboçar-se.
Engraçada (não para rir) é a maneira como as coisas vão tomando rumo.
Curiosamente cruel é a forma com que o que antes era natural, passando-se o tempo, passa a ser impositivo.
Sorriso imposto é simples?
Alguém me disse que meus poemas são profundamente tristes. São?
Ou esses alguéns (haja vista não ter sido comentário exclusivo) veem, de alguma forma, nas palavras de outro, no caso eu, sua própria tristeza refletida?
Não será tão profundo quanto uma porção de versos o poço em que se depositam, consciente ou inconscientemente, os próprios íntimos motes, por sua vez, não versificados?
Será a tristeza – do outro – rimada, metrificada, cuspida e escarrada, mais triste do que a minha?
Isto posto, não podem as estrofes que vaticinam a morte serem, ao contrário, uma apologia à vida tal qual à sua urgência?
Enfim, dada a forma como, agora, o ato de sorrir é exigido, sob o pretexto de que na ausência dele tudo é amargura, eu quase choro.
Quase.
Ainda bem que existe o quase!
Mas, ainda que eu não me afogue em lágrimas, estigmatizada por ser ou pretender ser poeta, lá vou eu junto ao que resta de mim dia após dia, bater no peito: mea culpa... mea culpa...
Quem mandou dar voz à primeira inspiração?
Talvez, para não me assistirem assim tão supostamente triste, meus avaliadores preferissem que eu tivesse prendido o ar na garganta, e impedido que novos ares por ali corressem.
Ficaria melhor eu, morta, quieta, ao invés de, muitíssimo viva, ser-lhes arauto de algo assaz, quem sabe, lógico?
Tão certa quanto a vida é a morte. Eu não a inventei.
Meus filhos, assim como os filhos seus querem, não – precisam! ver-nos alegres.
Alegres? Nem tanto.
Eles precisam que estejamos sempre a sorrir.
O importante é a aparência.
Quem se importa ou atenta a tudo que acontece além das linhas dum sorriso de orelha a orelha?
As aparências têm estatura bastante para autenticar até um riso besta.
Quem duvidaria dum bem arquitetado?
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
PAULO R. LABEGALINI - AS TRÊS ÁRVORES

Conta uma lenda que no alto de uma montanha existiam três pequenas árvores que sonhavam em ser importantes depois de grandes, tipo: um baú cheio de tesouros, ou parte de um navio real, ou uma linda mesa de um palácio etc. Todas estavam ansiosas em ser transformadas naquilo que desejavam, mas os lenhadores não sabiam disso.
A primeira árvore foi cortada e dela foi feito um cocho de animais coberto de feno. Quando as outras duas souberam, ficaram decepcionadas e passavam os dias imaginando o quanto a ‘amiga’ deveria estar sofrendo por não ter quase nenhuma utilidade. Porém, numa noite cheia de estrelas e muitas bênçãos em Belém, uma Virgem colocou o seu Filho recém-nascido naquele cocho e, naquele momento, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo.
A segunda árvore, a maior de todas, virou um simples barco de pescadores e vivia cheia de peixes mal cheirosos. Pensando que o seu sonho nunca se realizaria, vivia triste e desolada até que, durante uma tempestade, quando os pescadores que estavam naquela embarcação temiam por suas vidas, um Homem chegou andando sobre o mar e disse: “Paz!” De repente, a árvore entendeu que estava carregando o Rei dos céus e da terra.
Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore se espantou quando foi cortada e transformada numa cruz de martírio. Sentiu-se horrível e cruel, mas, no domingo, o mundo todo se alegrou. A árvore entendeu que ela fez parte da salvação da humanidade e que as pessoas sempre se lembrariam do Filho de Deus ao olharem para ela.
Assim, três pequenas árvores tiveram alguns sonhos, mas suas realizações foram mil vezes melhores do que haviam imaginado – porque prevaleceu o plano que Deus havia traçado para cada uma delas. Da mesma forma, nossas vidas podem não depender apenas de nossas escolhas e decisões pessoais. Se soubermos confiar na generosidade de Maria Santíssima e na misericórdia de seu Filho, sempre seremos surpreendidos por Eles – que sabem o que é melhor para cada um de nós e o que realmente merecemos receber.
Uma das músicas católicas que retratam bem qual deveria ser o nosso espírito cristão no dia-a-dia, é aquela que diz: ‘Eu confio em Nosso Senhor, com fé, esperança e amor.’ Quem se fortalece nessa confiança através da oração do terço e da Eucaristia diária, tem mais força para superar os problemas e encontra mais facilmente o caminho para o céu.
Muitas vezes, Jesus nos mostra que as nossas vidas são como castelos de areia neste mundo de pecados; de repente, vem uma onda forte e desmorona tudo o que materialmente construímos, mas o reino espiritual – dentro de nós – permanece. Nessa hora, sabemos quem realmente confia na providência de Deus para sair da crise existencial com dignidade cristã.
Depois de chorar um pouco – o que é normal após um tombo –, o católico que se fortaleceu na fé, segura nas mãos de Nossa Senhora e age como uma criança ao ver o seu castelo desmoronado: começa a construí-lo num lugar mais sólido, onde as ondas não poderão atingi-lo. E, em pouco tempo, haverá um grande sorriso no ar – abençoado pela querida Mãe que sempre protege seus filhos muito amados.
As experiências vividas devem suscitar em nós um dinamismo novo, que nos leve a investir em iniciativas concretas aquele entusiasmo que sentimos. O próprio Jesus nos adverte: ‘Quem, depois de deitar a mão ao arado, olha para trás, não é apto para o Reino de Deus’ (Lc 9,62). Na causa do Reino, não há tempo para olhar para trás, menos ainda para dar-se à preguiça. Há muito trabalho à nossa espera; por isso, devemos pôr mãos a uma eficaz programação pastoral.
Portanto, sem olhar para trás, mesmo rezando e confiando na vontade de Deus, devemos pedir para sermos transformados em ‘grandes árvores de espiritualidade cristã’. Enquanto isso, sigamos trabalhando com a Igreja para salvar almas, porque o resto é quase sempre um castelo de areia sujeito a se desmoronar pelo peso do pecado.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
FELIPE AQUINO - DIA DOS PROFESSORES: :" DÁ-ME UMA SALA DE AULA E MUDAREI O MUNDO !"

A nobre missão de educar um ser humano
O transcurso do Dia do Professor (a), em 15 de outubro, é uma oportunidade para saudá-lo, agradecer pelo trabalho dedicado aos nossos jovens; e de oferecer-lhe uma reflexão sobre esta nobre missão. Eu me incluo entre eles porque há mais de 40 anos exerço o magistério.
Não há dúvida de que no rol das profissões, a de professor sempre se destacou pelo fato de trabalhar diretamente com a mais nobre realidade do mundo: o coração, a inteligência e alma do ser humano. Nada é mais importante do que o homem e a mulher. Santo Irineu já dizia no século II que “o homem é a glória de Deus”; é claro que falava do ser humano, não apenas do masculino. A missão do professor, mais do que ensinar, é educar.
É nobre e necessário dominar o aço e os microorganismos, ouvir as galáxias e o cosmo, construir casas e computadores, mas muito mais nobre ainda é formar o homem, senhor de tudo isso. Os sábios gregos já diziam: “dá-me uma sala de aula e mudarei o mundo!”.

Leia também: A nobre missão dos professores
Professor que nunca havia reprovado um só aluno
A graça do trabalho
Ghandi dizia que “a verdadeira educação consiste em pôr a descoberto o melhor de uma pessoa”. É como fazia Michelangelo com a pedra. Certo dia, ele viu um bloco de mármore e disse a seus alunos: “Aí dentro há um anjo, vamos colocá-lo para fora!”. Depois de algum tempo, com o seu gênio de escultor, um anjo surgiu da pedra. Então os discípulos lhe perguntaram como tinha conseguido aquela proeza. Ele respondeu: “O anjo já estava aí, apenas tirei os excessos que estavam sobrando”. Educar é isso, é ir com paciência e perícia, sabedoria e bondade, retirando os maus hábitos e descobrindo as virtudes, até que o “anjo” apareça em cada aluno.
O grande educador francês Michel Quoist dizia “que não é para si que os homens educam os seus filhos, mas para os outros e para Deus. Educar é colaborar com Deus”. O jovem e frágil aluno de hoje será o condutor da nação amanhã; o que for semeado hoje no seu coração, na sua mente e no seu espírito, será colhido amanhã pela sociedade. Daí a grande tarefa e enorme responsabilidade do professor, em qualquer nível. Já esqueci os nomes de muitas pessoas ilustres que passaram em minha vida, mas nunca esqueci os nomes das quatro primeiras professoras do curso primário.
O que o aluno espera de um professor? O que os pais e a nação esperam de nós? Em primeiro lugar, que sejamos honestos, honrados e capacitados, exigências mínimas de quem carrega o título de mestre. Sabemos que o homem moderno está cansado de discursos. Quer ver bons exemplos, a começar do professor. O mestre romano Sêneca dizia que “de nada vale ensinar-lhes o que é a linha reta, se não lhes ensinarmos o que é a retidão”.
O aluno só aprende com satisfação quando o professor ensina com entusiasmo e sabe motivá-lo. Os alunos respeitam o professor que domina a matéria e sabe motivar para o aprendizado. Um homem motivado vai à Lua, mas sem motivação não atravessa a rua.
O aluno espera que o professor tenha paciência com ele, tenha a humildade de não usar o seu conhecimento para humilhá-lo e que não use do poder da avaliação para destruir a sua autoestima. O aluno espera que o professor prepare bem as aulas. Nada pior para um aluno do que ter que assistir a uma aula maçante, mal preparada, ministrada por alguém que não conhece o que ensina. É um grande desrespeito. para não dizer, um crime. Ele quer ver o seu mestre ensinar com didática, competência e clareza, além de pontualidade no horário e apresentação adequada. Ele quer vê-lo como um bom amigo que não lhe dá apenas informações, mas formação e sabedoria de viver.
Assista também: Dia dos professores
João Paulo II, na encíclica Redentor dos Homens, disse que o mundo vai mal porque o homem moderno conquistou o universo, mas perdeu o domínio de si mesmo. Sente-se hoje ameaçado por aquilo que ele mesmo criou com a sua inteligência e construiu com as suas mãos. Por quê? Porque falta-lhe a Sabedoria. Porque junto com a ciência e a tecnologia não cuidou do desenvolvimento e do respeito aos princípios da ética, da moral e da fé. Está cheio de ciência, mas vazio de sabedoria. Ele disse que os falsos profetas e os falsos mestres conheceram o maior sucesso possível no século XX (EV,17).
Sabemos que a felicidade verdadeira, que não acaba, é aquela que nasce no bojo da virtude. Portanto, é na vivência de um magistério autêntico que colheremos os frutos mais doces da profissão.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - DISCORRENDO SOBRE COTAS

Que a mulher em nada é inferior ao homem, é opinião que ninguém contesta. Em certos casos, talvez, lhe seja superior.
Que cada um é senhor do seu corpo – seja homem ou mulher, – é, igualmente, verdade incontestável, ainda que existam limites. Não me refiro à Moral; mas à Medicina, a fim de se evitarem sérios problemas de saúde: - físicos e psíquicos.
Mas, pode-se pensar (devido a irrefletidas atitudes,) que há quem pretenda: guerra de sexos: - feminino contra o masculino; como se fossem antagónicos.
Eu sei que não é assim, já que um, completa o outro.
Depois da exacerbada “ luta de classes”, luta tão querida dos partidos socialistas, que resultou numa maior justiça social, no século XX; surge, agora, nova “ guerra”: a “guerra” das cotas.
Pretende-se, com isso, proteger: raças, religiões e o sexo feminino; olvidando, que as cotas, em geral, são deprimentes para os beneficiários – mesmo não sendo verdade, e sei que o não é, – leva a pensar que se está, v.g.: na Universidade, não por mérito, mas devido à cor da pele, ou por ser filho, por exemplo: de emigrante ou estrangeiro.
Todavia, o emprego de cotas, torna-se ainda mais burlesco, quando alguém é preferido, devido ao sexo, para ocupar cargos no parlamento ou certos lugares cimeiros da nação.
Para governar, com rigor e justiça, deve-se escolher sempre os mais competentes: já que se trata de cargos de responsabilidade extrema, que obrigam a legislar e estabelecer diretrizes, que podem beneficiar ou prejudicar, milhões de cidadãos indefesos.
No entanto, parece, a escolha, não se basear na competência, ou pelo menos só nisso, mas na igualdade: tantos homens, tantas mulheres.
Ao conversar com amigo, sobre vantagens e malefícios das cotas, este saiu-se com uma muito boa:
- “Olha cá!: tu sabes que há mais moças que rapazes no ensino superior, já que elas são mais estudiosas e – como dizem: “ Há sete mulheres para um homem”. Como estamos na moda das cotas, por que não criar uma, para entrarem na Faculdade, mais rapazes que meninas?”
Fiquei atónito; mas refletindo melhor na pilhéria, conclui: a ideia é aproveitável, já que se pretende, em tudo, a igualdade: - tantos homens, tantas mulheres…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
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Sobre oa minha crónica : Graciette Branco - A menina do: " Pim-Pam-Pum" , recebi o seguinte comentário, que julgo importante para esclarecer um pouco da biografia da ilustre poetisa:
Ex. Sr.
Humberto Pinho da Silva
Gostei muito do texto que escreveu sobre "Graciette Branco A Menina do PIM-PAM-PUM".
Posso esclarecer que Graciette Branco foi uma poetisa, escritora e declamadora. Publicou várias obras e escreveu muito para diversos jornais e revistas da época, muito particularmente para o suplemento infantil do Século o "PIM-PAM-PUM", cujo o director literário era o seu marido Augusto de Santa-Rita, de quem, mais tarde, veio a divorciar-se.
O seu filho era Oficial do Exército (Guilherme Augusto Alves Branco de Santa-Rita) e, em 1973, foi colocado na P.S.P. de Lourenço Marques, para mais uma comissão de serviço no ultramar. A 6 de Abril de 1974, Gracitte Branco e os seus dois netos Isabel Maria Floro de Santa-Rita (a Bolinha) e Guilherme Augusto Floro de Santa-Rita (o Guimó) foram viver para Moçambique, com a previsão de ficar por quatro anos.
Por causa do 25 de Abril, deu-se o regresso a Lisboa em Dezembro, desse mesmo ano, não para a Av. Miguel Bombarda (donde tinha saído em finais de 1968) mas para os Olivais Norte.
Em 1975 foi-lhe diagnosticado uma arteriosclerose e que a foi consumindo, física e psicologicamente, até meados do ano de 1980, quando morreu. Espero ter esclarecido algumas das suas dúvidas.
Agradecendo pelas palavras agradáveis e simpáticas que escreveu sobre a minha Avó.
Com os melhores cumprimentos,
Guilherme de Santa-Rita (o Guimó)
JOSÉ GERALDES VIDIGAL DE CARVALHO - AS VIRTUDES MORAIS OPOSTAS AOS PECADOS CAPITAIS
![[Cônego.jpg]](https://1.bp.blogspot.com/_uc1WR5dD8uo/SW3hMIliJ3I/AAAAAAAAAAM/Pu9TXUpeIIQ/S220/C%C3%B4nego.jpg)
Virtude é uma disposição durável e firme que inclina o batizado a fazer o bem e a evitar o mal. Segundo a etimologia da palavra significa força. De fato para praticar o bem é mister lutar contra as inclinações que levam ao mal. A prática da virtude exige esforço. As virtudes teologais, fé, esperança e caridade, têm diretamente a Deus como objeto, são dons divinos infundidos ao mesmo tempo que a graça santificante, ou seja, a participação da vida divina recebida no batismo. As virtudes morais têm por objeto os atos humanos, visando um bem sobrenatural. São também uma participação da vida de Deus, preparando os fiéis à visão beatífica. Todas elas, informadas pelo amor a Deus, se opõem aos pecados capitais. Assim a humildade se contrapõe à soberba; o desapego, à avareza; a caridade para com o próximo, à inveja; a castidade, à luxúria; a temperança, à gula; a paciência, à ira; a diligência, à preguiça. Os vícios incitam ao mal, mas as virtudes arraigam uma disposição que impele o fiel a praticar o bem. Pautam luminosamente os costumes e comportamentos dos cristãos. Esses devem ser educados afim de cultivarem as virtudes, para se tornarem intemeratos e justos, tementes a Deus e alheios ao mal. Um seguidor de Cristo virtuoso é um ser livre das injunções dos vícios, emancipando-se da escravidão do pecado jamais estando discorde de Deus, procurando vencer sempre as fraquezas da carne. O objetivo de uma vida virtuosa é se tornar semelhante a Deus, como bem ensinou São Gregório de Nissa. Adquirem-se as sete virtudes morais pela repetição dos atos próprios de cada uma. Quem se habitua às ações difíceis percebe aos poucos que eles se tornam mais fáceis e abrem o caminho das disposições fundamentais de sua alma para se assemelhar a Deus. Deste modo, as virtudes morais são hábitos que dispõem as potências do homem para seguir os ditames da razão iluminada pela fé, empregando os meios conducentes ao fim sobrenatural. São condições essenciais que não podem faltar às demais virtudes, pois são como mães de uma nobre e numerosa família espiritual. Da humildade originam a verdade sobre si mesmo, sobre o próximo e sobre Deus e a obediência; do desapego surge a pobreza de espírito tão exaltada por Cristo nas bem-aventuranças; da caridade para com o próximo nascem a indulgência, a fidelidade, a benignidade, a bondade, a generosidade e a complacência; da castidade vêm a austeridade, a modéstia e a prudência; da temperança germina a sobriedade, a continência; da paciência abrolham a amabilidade, a longanimidade e a tolerância;, da diligência têm origem a fortaleza, a coragem e a perseverança. De tudo isso resultam a tranquilidade, a calma, a imperturbabilidade, o autodomínio. É que elas formam uma parte integral da moral cristã e bíblica e propiciam facilidade e alegria para levar uma existência moralmente boa. Segundo o Catecismo da Igreja Católica “pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem” (n.1804). As virtudes regulam os atos humanos, ordenam as paixões e guiam os fiéis segundo os parâmetros do Evangelho. Não constituem a substância mesma da pessoa, mas são qualidades que modificam e aperfeiçoam a pessoa humana. Eis porque a estrutura inteira das boas obras é edificada sobre as virtudes, como ensinou São Gregório Magno. É preciso uma educação contínua para que o cristão seja virtuoso. Entre os meios está a fuga dos pecados veniais ou leves os quais vão enfraquecendo a vontade. Para isto necessária se faz a oração, dado que sem a graça divina ninguém pode crescer espiritualmente. Importante ainda o exame de consciência diário pelo qual o fiel afere o seu progresso contínuo nestas virtudes. Isto inclui a fuga persistente das ocasiões de pecado e a reta intenção de fazer em tudo a vontade de Deus. Um cristão virtuoso está numa luta contínua contra a escravidão de qualquer pecado. Procura contemplar as disposições fundamentais contidas no exemplo de Cristo que praticou admiravelmente todas as virtudes. Eis aí o melhor estímulo para que cada um se coloque no caminho da aquisição desses valores. O fiel encontra tudo isto também vivido intensamente na vida dos santos, sobretudo na existência da santíssima Virgem Maria.
CÔN. JOSÉ GERALDES VIDIGAL DE CARVALHO - Professor. Membro da Academia Mineira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
EUCLIDES CAVACO - FADO...PATRIMÓNIO MUNDIAL

Mais um tema enaltecendo a importância do nosso FADO que aqui me apraz expressar neste video do nosso talentoso amigo Afonso Brandão e, que com prazer partilho convosco.
Desejos duma excelente semana.
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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![logotipo_dj_dvc[1].png](https://fotos.web.sapo.io/i/Bef150eb6/20780811_j3zeu.png)

Palavra do Pastor, com Dom Vicente Costa,
Bispo diocesano de Jundiaí
29º Domingo do Tempo Comum
https://youtu.be/qKMhUcOQ-2o
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Sábado, 13 de Outubro de 2018
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - NO DIA DO MÉDICO, UMA HOMENAGEM AOS BONS PROFISSIONAIS

Celebra-se a 18 de outubro, o Dia do Médico, em reverência ao evangelista e médico Lucas. Um momento para louvarmos os verdadeiros profissionais que se revelam em instrumentos de ligação entre a coletividade e a consolidação de um dos direitos fundamentais do ser humano, ou seja, a saúde e o bem-estar, assegurados a todos os cidadãos, sem quaisquer distinções. Diz-se, por isso, que se impõe a eles um compromisso com a educação continuada, já que o conhecimento, a avaliação e a compreensão dos avanços e inovações da ciência médica, devem ser aplicados em benefício de seus assistidos.
Os bons médicos, por isso, se empenham na luta incessante por melhor qualidade de vida, seja na prevenção, seja no tratamento das mais diversas moléstias. Com efeito, se a dor é inerente à condição humana, não é menos verdadeira que vencê-la tornou-se um dos objetivos mais desejados e perseguidos pelo homem desde os primórdios de sua existência. De qualquer ângulo que se olhe, trata-se de uma preocupação compreensível. Do ponto de vista do paciente, mais que um alívio, esse combate representa possibilidade de mesmo enfermo, ter a oportunidade de uma vida mais digna e mais próxima da normalidade. Do lado do médico, há a realização em minimizar ou curar o sofrimento, carreando-lhe sinais da mais profunda solidariedade e de dedicação.
No entanto, muitas vezes são asfixiados por um sistema de saúde pública indigente, perdulário e injusto; oprimidos por entidades privadas de assistência médica que cerceiam sua autonomia e impõem restrições perigosas às ações médicas; são em determinadas circunstâncias tolhidos de sua vida própria, pois preparados para servir a humanidade visam atingir os mais elevados níveis de cuidados, não conseguindo obedecer a horários definidos; são vítimas de vícios estruturais e sofrem com o acesso dificultado das pessoas em filas nos postos e instituições, com a marcação de milhares de consultas em pequenos períodos e com hospitais com tecnologia desatualizada e sucateada, restringindo ou mesmo impedindo o bom atendimento. Nem sempre podem se atualizar, muitas vezes em decorrência do excesso de horas de trabalho mal remunerado, que impede disponibilidade de tempo e recursos econômicos para sua imprescindível reciclagem.
E assim, mesmo diante das dificuldades, a maioria exerce a medicina na sua dimensão mais sublime, envolvendo circunstâncias que originam outorgas de respeito, acatamento, solidariedade e assistência.
As praças humanizam as cidades e as relações
As praças humanizam as cidades e as relações entre as pessoas. São centros de lazer democráticos e gratuitos; abertas a pobres e ricos, crianças e idosos. Sem preconceitos, nela brincam as crianças, os idosos jogam cartas, os namorados se beijam, os cachorros passeiam e fazem xixi nos postes, todos batem papo e se encontram para fazer o que tiver vontade.
Há muita poesia e música falando de seus encantos e da sua concepção democrática. No final dos anos 60, Ronnie Von cantava as lembranças de “um banco da pracinha onde um amor nasceu”. O compositor Caetano Veloso a celebrizou indicando que “a praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião”. Na TV, há mais de trinta anos, comemorados em maio último, “A Praça É Nossa” traz ao SBT muita diversão com personagens autênticos e universais.
As praças são carregadas de gente de fé. Muitas delas abrigam igrejas que promovem atos litúrgicos prestigiados por fiéis que acabam passando por elas. São tão simpáticas as nossas recordações, que até uma pessoa quando é boa, recebe carinhosamente a indicação “boa praça”.
Falamos tudo isso, porque 22 de outubro, é o Dia da Praça no Brasil. Momento de celebrarmos esse centro que, como propósito urbano que vincula o indivíduo à sociedade, faz com que partilhe construtivamente da vida do seu semelhante, encerrando vários aspectos que nos levam a solidariedade.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - UM ELEITOR DE BOLSONADO EM 1918 ?

É no sábado, dia 6 de outubro de 2018, véspera do primeiro turno das eleições gerais, que esta matéria será publicada pela “Tribuna”. O grande assunto não pode deixar de ser essas decisivas eleições.
Vou usar o recurso mais fácil dos jornalistas preguiçosos, o famoso ControlC-ControlV. Não vou escrever nada, mas vou, pura e simplesmente, transcrever um texto alheio. Trata-se de uma crônica publicada pelo escritor Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) há precisamente 100 anos, na revista A.B.C., edição de 19 de outubro de 1918. É, como verão os leitores, atualíssima. Poderia ter sido escrita hoje por um eleitor de Bolsonaro!
Com a palavra, pois, Lima Barreto:
“A Política Republicana - Não gosto, nem trato de política. Não há assunto que mais me repugne do que aquilo que se chama habitualmente política. Eu a encaro, como todo o povo a vê, isto é, um ajuntamento de piratas mais ou menos diplomados que exploram a desgraça e a miséria dos humildes. Nunca quereria tratar de semelhante assunto, mas a minha obrigação de escritor leva-me a dizer alguma coisa a respeito, a fim de que não pareça que há medo em dar, sobre a questão, qualquer opinião.
“No Império, apesar de tudo, ela tinha alguma grandeza e beleza. As fórmulas eram mais ou menos respeitadas; os homens tinham elevação moral e mesmo, em alguns, havia desinteresse. Não é mentira isto, tanto assim que muitos que passaram pelas maiores posições morreram pobríssimos, e a sua descendência só tem de fortuna o nome que recebeu. O que havia neles não era a ambição de dinheiro. Era, certamente, a de glória e de nome; e, por isso mesmo, pouco se incomodariam com os proventos da "indústria política".
“A República, porém, trazendo à tona dos poderes públicos a borra do Brasil, transformou completamente os nossos costumes administrativos e todos os arrivistas se fizeram políticos para enriquecer. Já na Revolução Francesa a coisa foi a mesma. Fouché, que era um pobretão, sem ofício nem benefício, atravessando todas as vicissitudes da Grande Crise, acabou morrendo milionário. Como ele, muitos outros que não cito aqui para não ser fastidioso.
“Até este ponto eu perdoo toda a espécie de revolucionários e derrubadores de regimes; mas o que não acho razoável é que eles queiram modelar todas as almas na forma das suas próprias. A República no Brasil é o regime da corrupção. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a verba secreta, os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência.
“A vida, infelizmente, deve ser uma luta; e quem não sabe lutar não é homem. A gente do Brasil, entretanto, pensa que a existência nossa deve ser a submissão aos Acácios e Pachecos, para obter ajudas de custo e sinecuras. Vêm disto a nossa esterilidade mental, a nossa falta de originalidade intelectual, a pobreza da nossa paisagem moral e a desgraça que se nota no geral da nossa população. Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar ideias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem "comer". "Comem" os juristas, "comem" os filósofos, "comem" os médicos, "comem" os advogados, "comem" os poetas, "comem" os romancistas, "comem" os engenheiros, "comem" os jornalistas: o Brasil é uma vasta "comilança".
“Esse aspecto da nossa terra para quem analisa o seu estado atual, com toda a independência de espírito, nasceu-lhe depois da República. Foi o novo regime que lhe deu tão nojenta feição para os seus homens públicos de todos as matizes. Parecia que o Império reprimia tanta sordidez nas nossas almas. Ele tinha a virtude da modéstia e implantou em nós essa mesma virtude; mas, proclamada que foi a República, ali, no Campo de Santana, por três batalhões, o Brasil perdeu a vergonha e os seus filhos ficaram capachos, para sugar os cofres públicos desta ou daquela forma. Não se admite mais independência de pensamento ou de espírito. Quando não se consegue por dinheiro, abafa-se. É a política da corrupção, quando não é a do arrocho. Viva a República!” (Revista A.B.C., 19 de outubro de 1918)
* * *
Até aqui, falou o autor de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, o genial escritor carioca, neto de escravos e implacável satírico da República brasileira. Somente muito depois de falecido foi devidamente reconhecido e valorizado. Se vivesse hoje, por certo não teria escrito coisa muito diferente.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História e da Academia Ptracicabana de Letras.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - CRIANÇAS DO MUNDO

Mais um dia das crianças lá vou eu comprar presentes para sobrinhos e afilhado. Com idades entre 11 e 6 anos, ainda estão naquela fase em que preferem ganhar brinquedos. Admito que tenho dificuldades em escolher o que comprar, já que se não faltam opções em termos de variedade, os valores não são exatamente atrativos.
Esse ano não foi diferente. Fiquei bastante tempo escolhendo o que daria para cada um e entre bonecas e jogos, encontrei uma releitura de um brinquedo da minha infância: O Genius. Uma de minhas amigas tinha um deles em casa e era sempre um evento quando ela nos deixava brincar. Passei muitos anos desejando ter um e agora, em que posso compra-lo, não tenho tempo para isso.
É inegável que as crianças de hoje tem milhões de opções de presentes, mas é claro que para isso é preciso que tenham quem os possa comprar. Infelizmente, no entanto, muitas crianças sequer tem quem olhe por elas, quem se importe de fato. Enquanto para algumas o dilema seja ganhar ou não o que se gosta, para outras a questão é muito mais complexa e mais dolorosa.
A realidade de uma imensa quantidade de crianças envolve abandono, descaso, pobreza extrema e até mesmo maus tratos. Esse triste contexto nem de longe é exclusivo do Brasil, embora para essas bandas muito se veja disso também. A desigualdade social tem marcas mais sólidas e profundas quando se anuncia entre as crianças. Inexplicável o sentimento de impotência diante de crianças privadas de quase tudo, material e emocionalmente.
Olho para meus sobrinhos, cercados de tantos brinquedos, muitos deles pouquíssimo usados e constato que nem de longe é isso que faz dessas crianças seres humanos privilegiados, mas sim o fato de crescerem amparados pelo amor de família, por terem a quem pedir ajuda, amparo. Outros tantos não tem a mesma sorte e vivem de migalhas de afeto, se tanto.
Ainda que seja muito gostoso ganhar presentes, que seja recompensador ver o sorriso dos pequenos enquanto desembrulham mais um brinquedo, é desalentador pensar que o dia das crianças basicamente se resume a consumir, esvaziado de maiores significados. Acredito que é passada a hora de olharmos para o futuro que projetamos, considerando a forma como tratamos as crianças, essencialmente as menos favorecidas.
Quando passo por uma criança ou por um adolescente que perambula pelas ruas, sem alento, reflito qual o meu papel nisso tudo e o quanto, de um jeito ou de outro, não estou me omitindo criminosamente. Perdida nesses pensamentos, retorno a minha infância e sou de novo a menina encantada com o jogo de luzes do Genius. Tudo era uma questão de acertar as cores e como elas se repetiam. Tudo era mais simples, mais fácil. Bastava ser criança e aquele era meu dia. Agora, sou adulta e nem um dia me pertence completamente, eis que os divido com a impotência do pouco que faça pelo outro, pelas crianças do mundo.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora. São Paulo.
cinthyanvs@gmail.com
JOSÉ RENATO NALINI - A FALÁCIA DA PROTEÇÃO
O ser humano tem especial propensão à mentira. Mente, despudoradamente, nas pequenas e nas grandes coisas. Uma das mentiras mais comuns é aquela de que está a cuidar de maneira adequada de um patrimônio que não é dele: estava aqui quando ele chegou; dele se serve de forma irresponsável; gera a probabilidade de não conseguir legá-lo para as gerações do porvir.
Estou falando da natureza, do ambiente, dos recursos naturais, tão espoliados e tão desprotegidos. E da mentira deslavada de que eles estão sob a égide de um ordenamento preordenado a preservá-los.
Pois as “áreas protegidas” ostentam autoestradas, poços de petróleo, pastos e cidades. Zonas inteiras que formalmente estão sob a tutela do Governo e da sociedade, suportam pressão humana significativa. A ponto de se tornar insuportável.
É relatório da revista científica Science, a respeito de 6 milhões de quilômetros quadrados de terras protegidas. Nelas, a proteção de espécies em perigo reduz-se a cada minuto. Só 10% das áreas estão ainda sem atividade humana. Ainda, porque o destrutivo homem lá chegará. E tais dez por cento estão em regiões inóspitas e remotas, como a Rússia e o gelado Canadá.
Pouco adianta criar por decreto áreas protegidas. Se o fetiche da lei fosse levado a sério no Brasil, este seria o mais civilizado dentre os Países. Há lei para tudo. E em abundância. Mas o cumprimento da lei é uma mentira. Chegamos a ponto de importar ararinhas azuis, aqui nativas, mas salvas por outros povos mais civilizados do que o brasileiro.
O privilégio da devastação não é nosso. Existe na África, na Europa e na África. E também nos Estados Unidos, agora dizimados por um tsunami antiecológico bem potente. O triste espetáculo é o de que 90% das áreas protegidas no mundo, como reservas e parques naturais estão submetidas a prejudiciais e criminosas atividades humanas.
A ecologia, assim como a educação em geral, chave para a transformação efetiva da sociedade, aparece no discurso de algum presidenciável? Talvez de passagem. Mas não é algo que impregne o imediatismo da política partidária, mais ligada ao presente e pensando em si mesma, em dinheiro, poder e glória, do que num amanhã no qual os seus representantes aqui não mais estarão. Mas continuarão responsáveis pelos desmandos e pela crueldade que hoje sustentam com as suas vãs, imediatistas e tolas pretensões.
JOSÉ RENATO NALINI é desembargador, reitor da Uniregistral, escritor, palestrante e conferencista.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - VIVÊNCIAS ROMÂNTICAS

Vivências românticas dão leveza aos sentimentos. Deve ser por isso que gosto dos livros da escritora inglesa Rosamunde Pilcher. O primeiro que li foi “Os Catadores de Conchas”. Li outros e, na semana passada, “A Casa Vazia”. É uma história fantástica. Virgínia Keile retorna à pequena cidade de sua juventude, onde recomeça uma história de amor interrompida na adolescência.
Encantam-me, além das personagens e do enredo, suas descrições da natureza como no sétimo capítulo: “O céu azul. Gaivotas circulando, aos gritos; o murmúrio distante do mar. Naquele ponto, a costa parecia projetar-se num promontório irregular, composto por enormes afloramentos de granito. Entre ele, a relva era lisa e muito verde, com manchas aqui e ali de urzes purpúreas. O caminho descia entre esses afloramentos. Enquanto davam as voltas, uma pequena enseada, abrigada e quase fechada, foi pouco a pouco se revelando lá embaixo. O mar era profundo e sereno, com tons de púrpura sobre os rochedos e de verde-jade sobre a areia. (...) O sol foi descendo pelo céu, brilhando agora diretamente sobre eles. O mar parecia um deslumbramento líquido. (...) Ao brilho do sol poente, com um vento fresco soprando do mar, eles voltaram lentamente para casa. (...) Por trás o mar, luminoso ao crepúsculo, refletia todas as luzes do céu...”
São histórias que me abraçam, retiram-me das agruras do cotidiano e me devolvem com a alma mais leve. Em algum lugar de mim, sigo as pegadas dessas histórias que me emocionam.
Menina, misturava-me aos contos de fadas e às histórias de animaizinhos. Na puberdade vieram os primeiros romances e poemas. Ah, o poema Livros e Flores de Machado de Assis: Teus olhos são meus livros. /Que livro há aí melhor, /Em que melhor se leia/A página do amor?” E versos de Guilherme de Almeida: “... Uma mulher me disse: vem comigo!/ Fecha os olhos e sonha meu amigo./ Sonha um lar, uma doce companheira/ que queira muito e que também te queira./ No telhado, um penacho de fumaça. / Cortinas muito brancas na vidraça/ Um canário que canta na gaiola. / Que linda vida lá por dentro rola! / Pela primeira vez eu comecei a ver, / dentro da própria vida, / o encanto de viver”.
Interessante, embora tenham passado décadas, essas histórias e poemas continuam fazendo festa em meu coração.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
PÉRICLES CAPANEMA - ZÉ DIRCEU: - NÓS VAMOS TOMAR O PODER !

“É questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.
Aviso de José Dirceu, ganhar eleição é só caminho. Tomar o poder, questão de tempo e de fundo, o objetivo. E vão consegui-lo, garante, sob vários aspectos, o mais simbólico e importante líder do PT. El Pais, o jornal espanhol, publicou em 27 de setembro entrevista reveladora com Pedro Caroço (ou Daniel, ou Carlos Henrique) em que reconhece, continua ativo nos bastidores:
▬ Tenho 53 anos de direção política.
Lembrou ainda Zé Dirceu: ▬ Em 2013, eu era a peça principal do PT.
Pergunta o jornalista: ▬ E o que significa o senhor e Lula estarem presos?
▬ Não muda nada no Brasil.
▬ E para o PT? As duas principais cabeças do PT estarem presas não significa nada?
▬ Estão presas, mas não param de dirigir, de comandar.
Chefiar rumo a quais objetivos? O antigo guerrilheiro na entrevista mira as eleições de 7 e 28 de outubro. Mas ao distinguir claramente entre vencer uma eleição e apossar-se do poder, indica passo além, em verdade, a venezuelização do Brasil.
Ao bosquejar objetivos últimos, açula mais uma vez a militância radicalizada, coisa que sempre tem em vista e sabe fazer. Adiantou aos seguidores, o partido avança para tomar o poder (“fui o principal dirigente do PT por quase duas décadas”, de novo recordando a autoridade para falar).
Na etapa de domínio totalitário do Estado, o Partido teria tarefas novas. Plasmaria a sociedade segundo modelo coletivista, ateu, igualitário. Com isso, moldaria mentalidades, talharia convicções, tentaria criar o homem novo da utopia marxista. Perpassam as ameaças (para nós, brasileiros, vítimas do experimento; para os petistas, sopa no mel) de Dirceu, seu bolchevismo de raiz, atavismo totalitário do qual o PT nunca se libertou.
Por que venezuelização do Brasil? Por ser atual. E sua atualidade provém de recentes promessas de Fernando Haddad. De um lado, procura amolecer a rejeição crescente mediante propostas analgésicas, com o que acena para o centro político, melhorando posição para o segundo turno. De olho também em partidários mais próximos, não abandonou o receituário clássico.
Mostrou veneno ali escondido, a Constituinte exclusiva, instrumento próprio para o Brasil se espatifar no abismo da Venezuela (ditadura, miséria extrema, Estado aparelhado, Exército e Judiciário domesticados, milícias matando opositores). Não para por aqui a catadupa de horrores: senadores norte-americanos de enorme relevo requereram que o governo de Washington ponha a Venezuela na lista do terror, de outro modo, seja considerada promotora do terror no mundo. E apresentaram provas para tal.
Volto ao candidato petista. Em Goiânia Haddad avisou, seu governo criará condições para a convocação de nova Constituinte, cobrança já antiga de setores extremados do PT e agora, lembrou o candidato, exigência também do aliado na chapa, o Partido Comunista do Brasil:
▬ Isso já foi mediado. Quando o PC do B passou a integrar a chapa, houve uma alteração no texto para criar as condições da convocação de uma assembleia [constituinte] exclusiva.
A nova Constituição, imposta na Venezuela em ambiente de intimidação e demagogia ▬ aqui também será assim ▬ foi o ponto de partida para a tirania chavista. O PC do B, partidário delirante do chavismo, com razão exigiu começar logo por aí. Em seus objetivos, será uma etapa do comunismo integral, sonho da organização, proclamado no capítulo I do Estatuto: O PC do B “guia-se pela teoria científica e revolucionária elaborada por Marx e Engels, desenvolvida por Lênin e outros revolucionários marxistas. Visa a conquista do poder político. Tem como objetivo superior o comunismo”.
O próprio Ciro Gomes, até há pouco em juras de amor com o PT, denunciou o caráter de violência institucional da proposta (golpe, em palavra posta na moda):
▬ Quem é que tem a faculdade de convocar uma Constituinte? Como fazê-la exclusiva? Quem tem essa atribuição? Ninguém tem, é violência institucional clara.
Violência institucional é outra palavra para golpe, repito. Sofreríamos golpe institucional facilitado por setores já domesticados do Judiciário, o que nos lançaria no inferno bolivariano. No momento, de que armas dispomos? Orações, reflexão, divulgação das ameaças que pesam sobre nós, voto.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"