PAZ - Blogue luso-brasileiro
Quinta-feira, 15 de Novembro de 2018
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - VIVÊNCIA NO CARMELO SÃO JOSÉ
A vivência no Carmelo São José, há alguns anos, em Missa de Ação de Graças pela caminhada da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena e Associação Maria de Magdala, toca o olhar, o coração, a alma de cada um de maneira pessoal. Para quem observa à distância, é o encontro do santo com o profano.
Por que vamos ao Carmelo na data? Porque existe lá uma Presença maior de encontro/reencontro, com Aquele que nos possibilitou ser e nos observava desde o ventre materno. Talvez, mesmo que não consigamos traduzir racionalmente, nos vemos diminutos, embalados além do útero, pelo sorriso do Céu.
E depois... Cada um sabe de sua história pessoal com encontros e desencontros, com doçura e nódoa, com embriaguez para fugir da lucidez que torturava e sangrava. Abusos sexuais daqueles que deveriam ser protetores, uso e abuso, a promiscuidade sexual como atmosfera na situação de miséria em que viviam, a carência de laços, disfarçada pelo álcool e outros tipos de droga. E quantos sonhos para que as filhas não passassem pela mesma trajetória, apesar de, quando surgia um “programa”, necessitavam pedir que deixassem o quarto, que era habitação, e brincassem no corredor lúgubre.
Inúmeras cicatrizes! Sonhos sepultados no desamparo para o qual o mundo empurra.
Houve um dia, mais outro dia, mais tantos dias e, mesmo na fé em Deus, de que Ele ouve os que se encontram às margens, depararam-se com a Palavra que não acusava, não destruía, mas chamava e chama para a proximidade dos Anjos.
Precede-nos, portanto, no trabalho da Pastoral e da Magdala, o anúncio de que o Senhor fala através de Seu filho Jesus Cristo. Por isso, cantamos fortes com as Monjas, na Missa do último dia sete de novembro: “Graças, meu Deus, te rendo graças, por esta vida, graças/ por teu amor dou graças, graças! / Graças, meu Deus, te rendo graças, por tua/ bondade, graças. Te rendo graças mil!”
Não é um encontro do santo com o profano, mas sim de quem se encontra ou se encontrava na aridez e descobriu, no Carmelo, junto às Irmãs, a fonte da misericórdia do Senhor, que sorri, canta, se interessa, pergunta e abraça com os olhos.
Graças, meu Deus, te tendo graças pelo Carmelo São José.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
ALEXANDRE ZABOT - TER UM FILHO, OU UM CÃO ?
Convivemos com vários casais que não têm filhos, muitos têm cães ou outros animais de estimação. Certa vez, um colega nos disse que o cachorrinho era sua criancinha e que todo casal deveria ter um cão antes de ter um filho, para treinar! Já tivemos cães e temos filhos; garantimos que cuidar de humanos é infinitamente melhor e, também, mais recompensador. Além disso, o casamento foi pensado por Deus para formar família, não para satisfação própria do casal ou para cuidar de animais. De fato, na cerimônia do casamento pergunta-se aos noivos: “Estais dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de Cristo e da sua Igreja?”
O Catecismo da Igreja Católica ensina que o Matrimônio é uma verdadeira vocação cristã (CIC 1602-1605), ou seja, quem tem vocação para o casamento, é chamado por Deus a ser santo através desse sacramento. A santidade é meta para todos os batizados e deve ser atingida por meio da “plenitude da vida cristã e [da] perfeição da caridade” (Lumen Gentium, 40). A vida do cristão torna-se plena quando ele procura viver as virtudes cristãs de modo heroico, numa entrega alegre e sem limites aos planos de Deus. O que há de mais belo nisso é que Deus mesmo nos dá graça para alcançarmos uma meta tão elevada como a santidade. Mas precisamos confiar totalmente nEle. Quando se trata de vocação e santidade, não há lugar para meias-entregas. O Senhor nos quer por inteiro.
A virtude da generosidade é a chave para concretizar essa entrega a Deus na vocação em que Ele nos chamou. O marido e a esposa devem compreender que o único modo de cumprirem o desejo de Deus para eles é a entrega abnegada no casamento. Generosidade na fidelidade, no emprego do tempo, no empenho em amar mais, na doação total de si, e na geração e educação dos filhos. Sendo esta última justamente a finalidade do matrimônio que é o seu “ponto alto” e “coroa” (CIC 1652). Para aqueles que têm vocação ao matrimônio, gerar e educar os filhos que Deus lhes der é o caminho concreto para alcançarem a santidade. Naturalmente, o matrimônio é um bem para os esposos em si, e por isso, mesmo aqueles que não podem ter filhos, santificam-se por meio desse sacramento.
Entretanto, é preciso ir além de simplesmente ter um filho. Se o casal entende que o casamento é uma vocação à santidade e que os filhos são parte concreta dessa vocação, então poderão concluir que a generosidade no número de filhos é algo que Deus espera deles. Esclarecendo: Deus não vai indicar um número concreto de filhos: quatro filhos para a Maria e o João, sete para a Clara e o Tiago. Nada disso, Ele pede que o próprio casal decida isso, mas mais importante: tome essa decisão com extrema generosidade. O papa Francisco, em uma homilia do dia 27 de maio do ano passado, comentou que, hoje em dia, infelizmente muitos pais católicos comportam-se como egoístas pois pensam: “Não, eu não quero mais um filho, porque não poderemos viajar de férias, não poderemos ir a tal lugar, não poderemos comprar uma casa! (...) Nós queremos seguir o Senhor, mas até certo ponto”.
Constituir uma família numerosa: quatro, sete, dez ou mais filhos, é sem dúvida um grande desafio. É preciso aprender a esquecer de si próprio. Todo traço de egoísmo deve ser eliminado, mas só há vantagens nisso! Os filhos aprendem uns com os outros as virtudes da boa convivência. A escola da generosidade dos pais marca a vida de todos eles. Nunca se sentem sozinhos (que tristeza desses filhos únicos brincando nos parquinhos!). Todos têm suas tarefas para manter o lar arrumado e crescem conhecendo e respeitando o valor do trabalho bem feito. Certamente também há dificuldades financeiras, mas não são as maiores. Se fosse assim, os ricos teriam muitos filhos, e não é o caso.
Infelizmente, os casais que optam por ter mais filhos costumam encontrar grandes resistências na própria família. ais, tios e irmãos que os amam e lhes desejam o bem, julgam essa escolha como muito penosa e se opõem a ela. No fundo, não há uma confiança na Providência e não compreendem quais são os planos de Deus para o matrimônio. Costumam dizer que ter muitos filhos é “coisa do passado”, quando então deviam ajudar no trabalho do campo. Mas filhos não são cavalos! Hoje as mulheres estudam e têm uma profissão, e por isso muitos pensam que é um desperdício de vida estar em casa cuidando das crianças: é mais importante cultivar o ego construindo uma carreira! Também ouve-se muito que antigamente a vida era mais fácil, mas isso é mentira. Hoje temos mais acesso à saúde, mais escolas, mais opções de lazer e tecnologias que facilitam o trabalho. Atualmente quantos ainda lavam roupas à mão?
Um filho é sempre uma grande alegria para o casal. Certamente custa tempo, dinheiro e esforço, mas vale tudo isso e muito mais! Peçamos que Deus nos ajude a viver o casamento como verdadeira vocação à santidade, e a ter uma visão mais cristã da vida, para julgarmos sempre de acordo com os planos de Deus se podemos acolher mais um filho, ainda que já tenhamos muitos. Afinal, viver bem nossa vocação matrimonial é levá-la adiante com generosidade heroica, numa entrega sem limites aos planos de Deus, que são planos de vida, não de egoísmo.
02/2014
ALEXANDRE ZABOT - Fisico. Doutorado em Astrofisica. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. www.alexandrezabot.blogspot.com.br
JOSÉ RENATO NALINI - MORTE POR ATACADO
Não bastassem as 60 mil mortes de jovens a cada ano, o Brasil agora quer obter promoção em novo ranking: a mortalidade infantil. O índice estava em queda desde 1990, mas subiu em 2016 e continua em escala ascendente em 2017.
Em 1990 a taxa de mortalidade infantil – número de crianças mortas até um ano para cada mil nascidas vivas – era de 47,1. Desde então e até 2015, houve redução na mortandade. Neste ano foi de 13,3 óbitos por mil bebês. Em 2016, começou a subir novamente: 14 crianças não chegam a um ano de idade, para cada mil nascidos com vida.
De 1990 a 2015, a queda foi de 71,7% e em 2016, subiu 4,8%. Tudo indica subida também em 2017. Enquanto isso, em 2018 já se contabiliza 21 mil mortos violentamente no primeiro semestre. Entre jovens e crianças, continua o morticínio. Sem falar nos milhares de abortos – são vidas sacrificadas por quem não quer ver nascer a criatura por ela gerada – , nas balas perdidas, nos acidentes de trânsito, na faixa etária excluída da divulgação.
O que significa esse quadro tétrico?
Primeiro, falta de educação. Educação de qualidade é a mais valiosa estratégia de transformação existencial do ser humano. Muitas dessas mortes derivam de ignorância das mães adolescentes, da falta de cuidados, do despreparo. Mas há também falha estatal: assistência pré-natal, ausência de saneamento básico, falta de vacinação.
Mais um retrocesso no País que acaba com as florestas, polui suas águas, compromete sua atmosfera, emporcalha seu território.
Uma lástima para quem já foi bem melhor em tempos idos, quando havia respeito aos valores, honrava-se a vida humana, respeitava-se o padrão de higiene, de cuidados em relação à gestante, à parturiente, ao nascituro e ao infante que vinha à luz em Pátria com vocação para um elevado grau civilizatório.
Há omissão generalizada: do governo, mas também da cidadania. Esta é a responsável pelas más escolhas. Não se interessa pela fiscalização dos gastos públicos, não cobra, não exige conduta compatível com o Estado de Direito de índole democrática.
Quem paga, infelizmente, é a infância inocente, que cede o seu destino para engrossar estatísticas de desgraças de nação subdesenvolvida.
JOSÉ RENATO NALINI é Reitor da Uniregistral, escritor e jornalista, conferencista e palestrante.
FELIPE AQUINO - RECONCILIE -SE COM OS OUTROS
Examinando o seu interior talvez você tenha descoberto pessoas com quem você se desentendeu gravemente e que guarde delas mágoa e ressentimento. Isto faz mal a você.
É preciso reconciliar-se com essas pessoas para que você tenha paz. Esta reconciliação não é um ato sentimental, mas uma decisão que você precisa tomar. Assim você tirará todo sentimento de culpa que possa haver em você.
É claro que você não é obrigado a conviver com pessoas que não o compreendam, mas não podemos excluir alguém de ser amado. Somos todos filhos do mesmo Pai; logo, somos irmãos; isto é uma realidade. Então, mesmo as pessoas que não gostamos, as que não gostam de nós, ou até os que nos prejudicaram, são nossos irmãos e filhos de Deus.
Não pode haver para você “pessoas descartáveis”, a quem você despreza ou menospreza. Não pode haver “gente importante” ou menos importante. A marca registrada que Deus pôs em cada um é a mesma: um filho amado.
Você não poderá estar bem com Deus se não aceitar os seus filhos. Nenhum pai gosta de ver um filho desprezar outro. É por isso que terminantemente, Jesus proíbe-nos, de julgar. “Não julgueis para que não sejais julgado. Porque do mesmo modo que julgardes, também será vós julgados e com a mesma medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos” (Mt 7,1-2).
Se você quer viver em paz consigo e com Deus, então não julgue e não condene o outro; senão, a justiça de Deus cobrará a pena de cada um dos seus pecados.
Cada pessoa humana está sujeita a fraquezas e tem o direito de enganar-se, de decepcionar você, de estar cansada, irritada ou confusa em certas ocasiões, etc. Da mesma forma tem o direito de pensar diferente de você, de sofrer conflitos interiores e tudo mais. Também as pessoas de seu convívio são assim: pais, irmãos, esposa, filhos, colegas. Eles podem nos decepcionar, fracassar, etc., e você deve estar preparado para entender isto e ajudá-los.
Leia também: Você é generoso?
Dificuldades e condições para o diálogo
Por que morre a planta do amor?
As preocupações que matam
Não reaja com críticas, queixas ou lamúrias infantis nestas horas, mas, seja maduro e caridoso, e ajude ao outro em sua angústia.
Fala-se muito hoje em “relações humanas”, mas isto nada mais é do que viver como verdadeiros irmãos. Algumas coisas são importantes de serem lembradas.
Ninguém dá o que não recebeu e que não tem. Se o comportamento de alguém não agrada você, pergunte a você mesmo por que esta pessoa é assim. Se você analisar bem verá que nela há alguma carência de formação, de amor… que talvez não haja em você. Então, como cristão, não a condene, mas a compreenda com paciência.
Às vezes uma pessoa é azeda ou mal-humorada perto de você, não porque está perto de você, mas porque ela é assim com todos. No fundo elas carregam uma dor intensa que não tem nada a ver com você. Então, olhe-a com benevolência e tente ajudá-la ao invés de sair dali falando mal dela. Ela também é irmã sua.
Diante de uma pessoa amarga que irrita você, faça esta pergunta: Se eu tivesse estado na mesma situação desta pessoa e tivesse recebido o mesmo que ela recebeu, será que eu seria melhor que ela? Alguns psicólogos dizem que os defeitos que mais nos desagradam nos outros são exatamente os mesmos nossos. Isto pode ajudá-lo a mudar o seu interior.
As pessoas nos respondem da mesma forma que nós as tratamos. Se você lhes dá afeto e carinho, recebe o mesmo de volta. Então, mate o mau humor do seu colega com um sorriso e uma palavra amiga. Plante amor onde não há amor, e você colherá amor.
Assista também: Como posso ser uma pessoa mais tolerante?
O cristão jamais paga o mal com o mal, mas com o bem. Esta foi uma máxima que Jesus deixou:
“Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferecei-lhe também a outra (…). Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem e maltratam” (Mt 5,39-44).
Lembre-se, sempre, o cristão nunca paga o mal com o mal. Se Jesus manda-nos viver assim, então, este é o caminho da vitória e da paz. Ou será que você duvida do Mestre? Pode estar certo de que a sua vida será transformada a partir do momento em que você passar a se preocupar com o bem estar dos outros. Isto fará o seu ego inchado, sensível e doloroso, começar a se esvaziar, quebrando a venenosa autopiedade que faz você sofrer. Você experimentará a verdadeira e autêntica felicidade que nunca passa.
Com esta nova ótica de vida deixamos de imitar os outros ou de tentar impressioná-los, e também de competir com o outro. Você será autêntico como Deus quer, e feliz.
Nós mesmos colocamos um fardo pesado em nossos ombros: necessidade de reconhecimento, de elogios, de destaque, de louvor ou aprovação dos outros, etc. É a nossa soberba, orgulho, vaidade… ou o que mais você quiser chamar.
Retirado do livro: “A luta contra a depressão”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
PAULO R. LABEGALINI - A CARIDADE E AS DROGAS
Cada vez mais, precisamos enfrentar o mal das drogas. Considerando a desestruturação das famílias que convivem com filhos drogados, já é tempo de os católicos se envolverem mais com esse tipo de problema. Mas, infelizmente, nem todo aquele que se diz cristão participa ativamente dos movimentos e pastorais da Igreja; por isso, pequenos grupos isolados assumem a grande responsabilidade de combater os pecados que nos cercam e, assim, procuram encaminhar mais almas para o céu.
É importante lembrar que também faz parte do trabalho vicentino assistir pessoas com dependências químicas, porque não é justo escolhermos qual tipo de caridade vamos praticar. E, embora seja muito mais fácil socorrer pobres famintos, também devemos ajudar os nossos irmãos que não conseguem se libertar dos vícios. Portanto, levando alguns desses tristes casos para as conferências vicentinas, na unção do Espírito Santo, sempre será possível um encaminhamento abençoado para cada um deles.
Se, de nossa parte, nada for feito, estaremos deixando de cumprir a missão que abraçamos quando fomos aclamados membros da Sociedade São Vicente de Paulo: “Aliviar os sofrimentos do próximo, mediante o trabalho coordenado de seus membros.” Sabemos que é um compromisso assumido pelo resto da vida e, se Deus quiser, será também o nosso passaporte para o céu.
É comum ouvir pessoas dizendo que ‘drogado é caso de polícia’ ou que ‘ele entrou nas droga porque quis’, mas é raro saber de cristãos leigos combatendo a propagação das drogas em nosso meio... até que alguns membros de suas famílias estejam envolvidos. Quando isso acontece, o caso deixa de ser da polícia, aparecem alguns ‘culpados’ que ninguém conhece, enfim, começam a surgir justificativas, tempo e força de vontade para resolver o problema.
Fiz esta reflexão para mostrar que nós, confrades e consócias, não podemos agir assim. O mal das drogas existe, está se alastrando e precisa de toda ajuda possível para enfrentá-lo – desde a conscientização na infância até o encaminhamento de dependentes para tratamento. E sempre vale lembrar o trabalho de Madre Teresa de Calcutá.
Ela dizia: “Perdoe os insensatos, os falsos e os invejosos. Seja gentil, honesto e faça o bem. Dê o melhor de si e o melhor virá, porque, no final, o acerto será sempre entre você e Deus.” Pensando assim, ela via Jesus presente em todo trabalho que fazia e recebia muito amor – porque amava a todos. E quanta gente diz não conhecer o rosto de Deus, mesmo se olhando no espelho! Quantos se esquecem das obras dos santos e deixam escapar a grande oportunidade de ganhar o céu!
Eu gosto de lembrar que ‘o amanhã’ ao Senhor pertence, mas ‘o hoje’ é presente. Sim, ‘o hoje’, Ele me deu de presente! Se eu não souber usar os meus dons agora e sempre adiar as boas obras, posso deixar de merecer as graças que recebo no dia-a-dia. Com certeza, ser santo neste mundo não é nada fácil, mas precisamos buscar a santidade a qualquer custo, mesmo que estas palavras choquem aqueles que vivem somente atrás de bens materiais e criticando os valores espirituais.
Há pessoas – por incrível que pareça! – que defendem até a ‘boa vida’ dos encarcerados. Dizem que eles têm comida de graça, tempo para leituras, visitas toda semana, não precisam trabalhar nem pagar impostos etc. Mesmo considerando que tudo isso possa ser verdade, quem gostaria de trocar de lugar com eles? Se um iniciante em drogas não receber ajuda, não é provável que estará aprisionado numa cela em breve?
Além de nossa missão, nós, católicos, estamos sendo convocados pela Igreja de Jesus Cristo no combate às drogas – seja de que tipo for! Alguns traficantes podem realmente ser casos de polícia, mas os pobres coitados que querem se libertar do vício, esses são casos nossos. Temos que colocá-los em discussão nas reuniões de comunidades até conseguirmos propostas de solução. Alguns deverão ser internados, outros precisarão de orientação e, muitos casos, poderão ser resolvidos partilhando amor e oração. Omissão, nunca!
Recordo a história de um soldado americano que estava voltando para casa depois de ter lutado no Vietnã. Ele ligou para os pais, dizendo que levaria para morar junto deles um grande amigo de batalha que, infelizmente, havia perdido um braço e uma perna ao pisar numa mina. O pai do soldado não concordou com esse tipo de caridade que o filho se dispunha a fazer ao companheiro e alegou que seria um grande fardo para eles viverem cuidando de um rapaz mutilado.
Algum tempo depois, aqueles pais receberam um telefonema da polícia pedindo que fossem reconhecer o corpo de um soldado que havia se suicidado. Ao verem o filho morto no necrotério, descobriram que ele tinha apenas um braço e uma perna.
Pois é, enquanto achamos difícil amar aqueles que são diferentes de nós, Jesus Cristo sofre na pessoa do excluído. Rezemos para que São Vicente de Paulo nos ajude a dar o grande exemplo de caridade cristã no combate às drogas. Todos merecem uma nova chance de voltar a sorrir.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - O DEFEITO DE PENSAR
Dos meus maiores defeitos – e são tantos! - é a tendência, que tenho de pensar. De não acreditar em tudo que ouço e vejo, sem primeiro refletir e descobrir o porquê.
É defeito nefasto, que acarreta largos dissabores; porque, para se viver em paz connosco e com os outros, o melhor é não pensar.
Tinha colega de trabalho, e amiga, mais velha, que a cada passo asseverava: “ Os chefes não querem cabeças, mas sim pescoços”. E acrescentava com sorridinho de mofa: “ Para pensar lá estão eles; o que querem é braços de trabalho”.
Com as promoções de mérito, concedidas, agora, pelas chefias, pensar e questionar, desagrada, certamente; e corre perigo de ser preterido, quem assim agir.
Dizem que El-Rei D. Manuel de Portugal, tendo que escrever missiva ao Papa, solicitou a D. Luís da Silveira (Conde de Sortilha) que também escrevesse outra minuta, para, depois, escolherem a melhor, para enviarem ao Papa.
Sucedeu que El-Rei, ao confrontá-las, achou que a do Conde era melhor, recusando mostrar a sua. Luís da Silveira, logo avisou os filhos: que buscassem outros meios, para suas vidas, porque o Rei percebera que ele era mais inteligente que Sua Majestade. (Contado por Francisco Rodrigues Lobo, in: “ Corte na Aldeia”).
Método, bem antigo, para que o povo não pense (ou julgue que pense, mas não pense,) é entretê-lo. Os romanos, criaram o circo. Os Poderosos da atualidade: o Futebol.
Quando era menino e moço, dizia-se que Salazar alienava o povo, com: “ Fátima, Futebol e Fado” – era o homem dos três “Fs”.
Agora, como é?!
Apesar da maioria dos políticos, declarem-se agnósticos, visitam Fátima e convidam os Bispos para os acompanhar nas inaugurações.
De Futebol, nem é bom falar. Outrora quem queria ver Eusébio jogar, ia à cafetaria ou a casa de amigos. Agora há ecrãs panorâmicos, em quase todas as cidades; e a mass-media só fala de Futebol…
O Fado – que é sentimental e fala á alma, –“ transformou-se” em Festivais de música ensurdecedora, que arrasta adolescentes para ídolos…e sexo.
O sexo, o erotismo – não sendo novidades, – completam agora (como nunca) a narcotização da sociedade, tornando-a apática e imbecil…Completa a degradação: as novelas televisivas, feitas para combater “ preconceitos” e implantar a Nova Moral.
Na sociedade acéfala, o populismo pulula. Antigamente, quem não estava com o Poder era: talassa; depois, foi comunista; com ocorrer do tempo, foi chamado de fascista; agora é populista.
Talvez eu seja exagerado. Talvez…Talvez haja leitores que detestem o que escrevi. Peço desculpa. Como disse: Tenho o mau costume de pensar. E pensar alto, é grave defeito, mesmo em democracia…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
JORGE VICENTE - QUEM SOU ?...
JORGE VICENTE - Fribourgo, Suiça
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Sábado, 10 de Novembro de 2018
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - GENTILEZA NÃO CUSTA NADA, MAS VALE MUITO ( WALTER QUINTELA)
Comemora-se a 13 de novembro o Dia Internacional da Gentileza, idealizado em 1996 numa conferência em Tóquio pelo grupo Movimento das Pequenas Gentilezas do Japão, com representantes de diferentes nações que propagavam a amabilidade em seus territórios. Em 2000, foi oficializado o Movimento Mundial pela Gentileza, sendo que a Associação Brasileira da Qualidade de Vida representa o nosso país na entidade.
A data objetiva divulgar a alegria e os efeitos positivos de atos gentis por todos os cantos do planeta, destacando ainda a generosidade como instrumento da paz entre os homens. Com efeito, muitas pesquisas demonstram que pessoas afáveis são mais saudáveis e produtivas no trabalho, vivem por mais tempo, sendo permanentemente felizes. A vida é bem melhor com atos de cavalheirismo, urbanidade, civilidade, educação, delicadeza, cortesia e atenção com todos que nos cercam, indistintamente.
Infelizmente, o dinamismo provocado pelos reflexos materialistas leva os indivíduos a se fecharem em si mesmos, pois passam a viver em função de ganhos, posição social e poder, como se tais aspectos fossem fundamentais às suas realizações. Esquecem de circunstâncias humanistas e imprescindíveis à própria felicidade, como gestos e atitudes fraternas, relacionamentos afetivos, solidariedade com o próximo, respeito a todos os seres vivos em geral e tantas outras, sobrepostas por interesses exclusivamente pessoais e ao mesmo tempo, eivados de puro egoísmo.
A convivência é extremamente harmoniosa quando embasada na gentileza que se revela numa genuína preocupação com o bem-estar dos outros ou na vontade de ajuda-los sem esperar retribuição. Um aspecto importante, inclusive, da verdadeira caridade. Nessa trilha, Mário Quintana costumava dizer: “O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores”. Para Madre Teresa de Calcutá, “Palavras gentis podem ser curtas e fáceis de falar, mas seus ecos são verdadeiramente infinitos”. Albert Schweistzer comparava: “Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal-entendidos, desconfianças e hostilidade”.
E diante da atual crise de valores, devemos aproveitar a data comemorativa de amanhã, para meditarmos sobre o verdadeiro sentido que ela encerra, relevando sempre o relacionamento humano. Mesmo porque, quando formos capazes de pensar na satisfação de todos e não apenas nas vantagens pessoais, iremos superar a conjuntura moral do mundo e, em consequência, as dificuldades econômicas, sociais e tantas outras que afligem o homem atualmente.
Aniversário da Proclamação da República
No próximo dia 15 de novembro comemoraremos mais um aniversário da Proclamação da República no Brasil, que instituiu um sistema de governo integrado por representantes eleitos pelo povo, sobrepondo-se à monarquia, já que até 1889, todas as decisões giravam em torno do Imperador Dom Pedro II. A palavra “República” vem do latim “res publica” e significa “coisa pública”, o que por si só já revela a importância desse sistema que permite ao povo (governados) uma efetiva participação no processo de formação da vontade pública (governo), revelado pelo exercício da democracia. Por isso, dispõe a Constituição: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Trata-se da mais importante estrutura que uma nação pode adotar, já que ela auto limita o poder do Estado ao cumprimento das leis que a todos subordinam, priorizando o preceito de “o poder das leis está acima das leis do Poder” (Ruy Barbosa) e o princípio da permanente supremacia da Carta Magna (Constituição), tida como Lei Maior, em torno da qual gravitam todas as demais normas legais. Pena que o país esteja tão mal representado em alguns de seus poderes constituídos. Momento de reflexão para revertermos esse quadro
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - MALEFÍCIOS DE UMA FALSA DEMOCRACIA
No sentido filosófico primeiro, conforme a terminologia clássica, democracia é uma das três formas simples de governo, ou seja, aquele em que a multidão governa. Na linguagem corrente, entende-se por democracia um estatuto jurídico-institucional em que os cidadãos gozam de certos direitos - inclusive o de votar e, dessa forma, participar da condução da coisa pública - e de liberdades muito amplas. Não pretendo estar aqui dando uma definição cabal do que seja democracia, mas apenas uma noção sumária. Definir cabalmente democracia é tarefa assaz árdua... se é que seja realizável. Cerca de 300 definições de democracia foram registradas numa tese de doutorado defendida numa universidade norueguesa, informa Eugenio Vegas Latapie em seu livro "Consideraciones sobre la Democracia" (Madri: Ed. Afrodisio Aguado, 1965, p. 22). A célebre frase tantas vezes atribuída a Abraham Lincoln ("democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo"), na realidade não é uma definição; a primeira condição para que uma definição realmente defina é que seja clara, que não contenha termos ambíguos; ora, nessa batida, sonora e vazia frase, a palavra povo não é tomada em sentido unívoco, mas em três sentidos diferentes...
É preciso não confundir a boa e verdadeira democracia - vigente, por exemplo, em muitos cantões suíços ou, em âmbito municipal, nas vilas de Portugal antigo e do Brasil colonial - com as falsas democracias, decorrentes da Revolução Francesa.
As democracias demagógicas da atualidade são na verdade, falsas democracias; nelas, o povo se ilude, julgando que é soberano apenas porque, de tempos em tempos, emite um voto que, matematicamente, nada significa. Essas democracias demagógicas baseiam-se numa série de equívocos e problemas mal colocados, que têm raiz no Iluminismo e que a Revolução Francesa espalhou pelo mundo. Tais equívocos são o individualismo e o igualitarismo exacerbados, o culto cego do valor numérico, a pretensa infalibilidade das multidões, a soberania absolutista da nação, a noção de que o Estado é onipotente e não precisa estar sujeito a nenhuma ordenação de ordem moral ou ética. Esses equívocos profundos são apriorísticos e cerebrinos, sem qualquer base na realidade.
As falsas democracias pressupõem na realidade toda uma filosofia de vida, de fundo igualitário e libertário, incompatível com o Direito Natural e com o Bom Senso, e o mais das vezes são meros disfarces de cruéis totalitarismos. Um exemplo: segundo a falsa democracia, lei é a mera expressão da vontade popular. O que a multidão quiser, independente de qualquer consideração de ordem moral, será lei e deverá ser imposta como tal.
Um dos pressupostos da falsa democracia é o de que a multidão sempre acerta. Um homem pode errar, mas quando se reúne a muitos outros, as inteligências de todos, somadas, são uma inesgotável fonte de sabedoria. Ora, de fato não são só as qualidades que se somam, mas também os defeitos, as paixões, os unilateralismos, os preconceitos etc. não somente se somam, mas também se potencializam.
Dessa pseudo-infalibilidade das multidões se infere - na lógica da falsa democracia - a inexorabilidade da vontade popular. A multidão quis algo, seus representantes legislaram, logo aquele algo se transformou em lei. Algumas consequências decorrem disso. De um lado, como raríssimamente a multidão pode querer algo por unanimidade, convencionou-se, também a priori, que as maiorias - simples ou absolutas, conforme o caso - exprimem suficientemente a totalidade da multidão. Ou seja, se a metade mais um quer algo, esse algo tem força de lei e a metade menos um restante é obrigada a obedecer. Por outro lado, como a vontade popular é de si móvel e oscilante, a multidão pode, por si ou por meio de seus representantes, hoje querer uma coisa, amanhã o contrário. Na lógica do radicalismo democrático, entra no corpo legislativo um elemento de instabilidade, de descontinuidade, que só pode produzir o caos. Não será caótico, por exemplo, o sistema legal brasileiro, com mais de 600 mil leis em vigor, no âmbito federal, estadual e municipal? Lembro que somente no âmbito municipal de Piracicaba a legislação local ocupou, há alguns anos, um grande número de volumes...
Outra consequência, ainda, e gravíssima, é que a multidão pode querer algo mau, e nesse caso fará inevitavelmente uma lei injusta, que redundará em prejuízo do bem comum.
Por outro lado, se a vontade da multidão é lei e é lei inexorável, no caso de essa multidão querer acabar com a democracia e, por exemplo, instaurar um regime ditatorial, injustamente arbitrário e violento - ou seja, precisamente o oposto da democracia - a democracia... terá sido democraticamente destruída! Hitler, no plebiscito realizado em agosto de 1934, foi esmagadoramente - e democraticamente, note-se - apoiado por 90% do povo alemão. Foi com pleno respaldo democrático que o nazismo, uma das piores tiranias que a História registra, subiu ao poder e nele se manteve durante muito tempo.
É por isso que digo que o absolutismo democrático contém os germes destruidores da própria democracia. É por isso também que sustento que a autêntica democracia não pode ser absolutista, mas deve ser subordinada a um Ethos e ao Direito Natural. Tal subordinação é condição de autenticidade para a democracia, e é condição de sobrevivência para ela.
Outra noção de importância primordial para a avaliação da verdadeira democracia é a de opinião pública. Num regime democrático, o parlamento é tanto mais autêntico quanto, de fato, ele reflete autenticamente a opinião pública de que é representante. Teoricamente pelo menos, a opinião pública influencia seus representantes, estes fazem a lei, e o governo, executando a lei, cumpre a vontade da opinião pública, isto é, da nação. Daí a importância da opinião pública em si, e sobretudo - ponto particularmente importante e muitas vezes esquecido - dos organismos que influenciam e condicionam a fundo a livre expressão da opinião pública, ou seja, os chamados meios de comunicação social. Porque estes, em última instância, acabam sendo os verdadeiros dirigentes do país.
Na perspectiva da falsa democracia, cada cidadão não vale senão tanto quanto vale seu voto. E um voto individual, perdido na imensa caudal de outros votos, quase nada vale. Não deixa de ser curioso que a mesma falsa democracia, que tanto hipertrofiou o individualismo, acabe reduzindo cada indivíduo a mero grão de areia numa praia imensa, só, isolado, incapaz de efetivamente influir no andamento da coisa pública, à mercê da tirania das maiorias numéricas que se movem ao sabor de forças que não está ao alcance dele controlar e nem sequer influenciar.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS, é historiador e jornalista profissional, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História e da Academia Ptracicabana de Letras.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - COMPROMETIMENTO
Não sei se é a tônica da modernidade, das relações fugidias, fugazes, ou se a falta de compromisso que se nota em muitas pessoas é algo isolado, próprio de alguns indivíduos. Seja como for, o que percebo é que a sociedade vive uma crise de comprometimento. Palavra dada, ultimamente, pouco ou nada significa.
Tenho notado isso em vários contextos. Ambientes de trabalho, de amizade, de família e mesmo virtuais: nada parece ser imune à falta de responsabilidade que permeia a sociedade. As pessoas parecem simplesmente não se importar se assumiram um compromisso com alguém. Agem, assim, como melhor lhes apetece e satisfaz.
Alguns funcionários, por exemplo, não se incomodam se chegam ou não no horário. Marcam todos os seus compromissos para o período de expediente de trabalho e o patrão que se vire. Ficam no celular o tempo todo, somente contabilizando os minutos para ir embora, estando o serviço no estado em que estiver. Não tem vínculo algum com o lugar de onde tiram seu sustento ou de suas famílias.
Por outro lado, há os patrões que vendem o mundo de promessas no momento de contratações, mas que no dia seguinte somente exigem mais e mais, mesmo o que não foi combinado, sob o pretexto e a ameaça de que se não estiver bom como está, basta pedir demissão, eis que há filas de desempregados. Pouco ou nada, enfim, importa quando o fator é o financeiro, aquilo que se pode ganhar, mesmo às custas de uma reputação moral.
Mesmo nas coisas mais simples se nota a ausência de lealdade. Amigos se comprometem a participar de projetos em comum, dão garantias que jamais pretendem executar e se desincumbem de avenças prévias sem sequer uma única justificativa. Pouco importa se a amizade impõe débitos de afeto ou de gratidão quando a medida é composta apenas dos próprios interesses.
A coisa toda fica ainda mais séria no campo dos relacionamentos familiares e sentimentais. Pais que se esquecem de que filhos são eternos e filhos que se voltam contra pais, esquecidos de que há uma aliança maior que deve ser respeitada, honrada, tornando preciso assim que a força da lei faça valer deveres que jamais deveriam ser negligenciados.
Vivemos tempos estranhos. Difícil confiar nas pessoas, ainda mais quando a credulidade recebe como troco o engano, a traição, a fraude. É preciso olhos abertos e certa malícia para sobreviver em um mundo no qual não se pode contar com muita gente, onde nunca se sabe de onde virá a próxima pedra, tampouco quem irá arrebentar as correntes nas quais se apoia.
Quando se fala em comprometimento, melhor nem mesmo mencionar a política, berço de conchavos, lorotas e mentiras. Poucas áreas são mais descompromissadas, descomprometidas do que essa. Tudo vale para mim, mas nada vale para o outro, reza o político de carteirinha,
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada,professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e escritora. São Paulo.
cinthyanvs@gmail.com
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - VIVÊNCIA DE OUVIR A VIDA
Escrever sobre a vivência de ouvir a vida me veio de uma fala do Papa Francisco, em sua homilia no domingo retrasado, no encerramento do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens.
Ao comentar sobre o Evangelho daquele dia, da cura do cego Bartimeu, o Papa propôs como três passos fundamentais no caminho da fé: “escutar, fazer-se próximo e testemunhar”. Chama-me sempre a atenção o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar. Incontáveis vezes interrompo quem se expressa, para opinar, mesmo sem saber o final do assunto. É um horror. Mas já melhorei um pouco nisso. Os que estavam em volta de Bartimeu, enquanto ele gritava, o repreenderam, mas Jesus, ao contrário, o ouviu. E Francisco afirma: “Como é importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo. Ouvir com amor. (...) Deus nunca Se cansa, sempre Se alegra quando O procuramos. Peçamos, também nós, a graça dum coração dócil a escutar, exortou Francisco”.
Ouvir o outro, amplia o coração e o olhar. Recordo-me sempre de, nos primórdios da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena, no suporte de meu orgulho, considerava que tinha muito a dizer às excluídas que vagavam pelo centro da cidade. Foi assim por algum tempo. Até que escutei uma das histórias de sofrimento intenso, a da mocinha,na época com 15 anos, abusada desde os sete por um profissional gabaritado da cidade, que trabalhava próximo ao carrinho de pipoca de sua mãe. Ao saber, em lugar de se indignar, a mãe considerou um risco de perda, pelo companheiro,e empurrou a meninapara São Paulo onde, aos 12, de trombadinha na Praça da Sé, passou a se prostituir. Aos 17, após um ano de FEBEM, com o seu bebê levado, de lá mesmo, para adoção, contra a vontade dela, mergulhou nas drogas e na doença. Partiu aos 21, de sapatos brancos – pedido seu -, para superar os pés que o mundo enlameou.
Quanto aprendi com a história dela em suas idas e vindas. Desmoronou o meu pedestal de verdades. E, hoje, embora continue atropelando, em alguns momentos, quem fala, recolho-me para ouvir realidades que não são minhas, mas que ajudam a me humanizar.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - UMA "PANCA" DE BANANAS
“Eu preparo uma canção/ em que minha mãe se reconheça,/ todas as mães se reconheçam,/ e que fale como dois olhos.”...
Os versos – e o reverso também – vieram ao encontro disso outro dia enquanto eu fazia a feira da semana...
“Vou pegar a panca de bananas, mãe” disse a garota.
“É penca, filha, penca de bananas!”.
Paralelamente à escolha dos coloridos itens, observei a dupla.
A cada incumbência, a menina, cheia de determinação, ia e voltava, enchendo o carrinho.
“Não bata, cuidado, senão amassa o mamão”; “este não, veja que as folhas estão começando a amarelar”; “ah – perfeito, estas devem estar bem doces”...
Eu ouvia elogios e correções.
Meio nostálgica, risquei no ar, invisível, uma conta: a de há quantos anos minhas qualidades de mestra vão diminuindo, na medida em que meus filhos ficam adultos!
Há tempos que, vez por outra, os conselheiros, por assim dizer, são eles.
Há quanto que, lá e cá, não me sinto tentada a julgar-me dispensável, desnecessária, incapaz etc. etc. e tal?
Ah... há quanto???
Tudo bobagem! Tudo tem sua utilidade. Todas as pessoas, inclusive.
“Até eu” é o que me digo sempre que essas idiotices me provocam.
O que ocorre é que esses pensamentos são meras sensações inerentes à fase pela qual estou – bem como muitas de vocês – passando.
É.
E da mesma maneira que na moda a gente se surpreende com o retorno de uma cintura alta, de uma boca de sino, de um corte de cabelo, exatamente dessa maneira, a mesmíssima maneira, nossos conselhos são de novo aqui e acolá úteis.
E tornamos a ser felizes.
O amor é o invariável melhor conselho e a infalível saída. Drummond já o sabia, e o disse, naqueles e nestes versos: “Como fazer feliz meu filho?/ Não há receitas para tal./ Todo o saber, todo o meu brilho/ de vaidoso intelectual/ vacila ante a interrogação/ gravada em mim, impressa no ar./ Bola, bombons, patinação/ talvez bastem para encantar?/ Imprevistas, fartas mesadas,/ louvores, prêmios, complacências,/ milhões de coisas desejadas,/ concedidas sem reticências?/ Liberdade alheia a limites,/ perdão de erros, sem julgamento,/ e dizer-lhe que estamos quites,/ conforme a lei do esquecimento?/ Submeter-me à sua vontade/ sem ponderar, sem discutir?(...)”.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
PÉRICLES CAPANEMA - FIM DE VIDA AMARGO
Desde há muitos anos a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) tem sido linha auxiliar do PT. O CIMI (Conselho Indigenista Missionário), órgão da CNBB, a mesma coisa, estridência maior a favor da esquerda. A CPT (Comissão Pastoral da Terra), também órgão da CNBB, igual, escarcéu favorecedor do comunismo de arrebentar os tímpanos. Congruentemente, recebiam elogios de morubixabas da esquerda, do tipo Fidel ou Raul Castro ▬ os lobos uivavam em defesa dos pastores. E assim, dentro da Igreja, para tristeza dos católicos, tais entidades têm presença desagregadora. São fermentos de discórdia e fatores de exclusão, pois a maioria dos fiéis se julga rejeitada por elas. Tais fatos se tornaram largamente anacrônicos? Aspectos do Brasil de ontem? O quadro está se movendo.
Diante da inconformidade generalizada contra o lulopetismo, sentimentos que elegeram Jair Bolsonaro, parte da esquerda está se distanciando rápida e ruidosamente do PT e de Lula, buscando assim se viabilizar eleitoralmente para os próximos anos. Seria uma esquerda em que a roubalheira, a malandragem e a incompetência não constituiriam traços repugnantes e dominantes.
Como a tal esquerda em formação (o esboço está no PDT, PC do B, PSB, acenos à Rede, parlamentares do PSDB e PPS) tratará a esquerda católica, suja dos pés à cabeça, com os abraços líricos e os auxílios efetivos que propiciou ao petismo? Todos se lembram, durante todos esses anos, ela calou-se vergonhosamente diante do desastre econômico e da gatunagem. As primeiras manifestações sugerem que a tal nova esquerda não faz tanta questão de apoios na esquerda católica. A razão é simples: não quer se sujar e, com isso, arriscar-se a perder votos.
Vejamos. Da nova corrente, o corifeu mais em evidência é Ciro Gomes. Logo após as eleições, o antigo governador do Ceará, agindo em uníssono com fornido grupo de políticos, pôs em prática o plano, que envolveu muitos encontros e articulações de bastidor. Contudo o mais vistoso dele foram as entrevistas.
Delas, comento uma, concedida ao repórter Gustavo Uribe da Folha de São Paulo. Ali Ciro se lamentou ter sido “miseravelmente traído” por Lula e seus “asseclas”. Comentou: “A cúpula exacerbada do PT já começou a campanha de agressão. O lulopetismo virou um caudilhismo corrupto e corruptor. Esses fanáticos do PT não sabem, mas o Lula, em momento de vacilação, me chamou para cumprir esse papelão que o Haddad cumpriu. E não aceitei. Me considerei insultado. Fomos miseravelmente traídos. Aí, é traição mesmo. Palavra dada e não cumprida, clandestinidade, acertos espúrios, grana”.
Acusa Lula e a cúpula do PT de falta de caráter, de traição, de serem vendilhões, de duplicidade. E deles quer afastamento para, óbvio, ficar próximo ao povo e ter votos. Expõe o objetivo: “Quero fundar um novo campo, onde para ser de esquerda, não tem de tapar o nariz com ladroeira, corrupção, falta de escrúpulos, oportunismo”.
É ataque ao plantel político que a CNBB e suas organizações vêm favorecendo há décadas. Duas figuras aqui têm papel especialmente simbólico: frei Betto e o ex-frei Leonardo Boff.
Deles, o que diz Ciro Gomes? Boff, primeiro: “Eles podem inventar o que quiserem [ou seja, são mentirosos]. Pega um b. [estrume humano] como esse Leonardo Boff. Qual a opinião do Boff sobre o mensalão e o petrolão?”. Para o presidenciável, a mera adjacência já irá incomodar o eleitor. Sobre frei Betto, também quis falar: “O Lula está cercado de bajulador. Gleisi Hoffmann, Leonardo Boff, frei Betto”. O primeiro, bajulador e, ademais, estrume humano; o segundo, bajulador sem caráter. Avisos que os quer distantes.
Leonardo Boff, pelo contrário, anseia a proximidade de Ciro. Declarou patético: “Precisamos de uma Arca de Noé onde todos possamos nos abrigar, abstraindo das diferentes extrações ideológicas, para não sermos tragados pelo dilúvio da irracionalidade e das violências”. Só que, na opinião de Ciro, se gente como Boff e frei Betto subirem na arca, o barco afunda.
De outro modo, políticos, como Ciro Gomes, que desejam a imagem de esquerda limpa, inimiga de traficâncias, não buscarão apoio em figuras como Boff e frei Betto. E, em boa medida, eles representam a esquerda católica. Amigos de ditaduras, admiradores de Fidel, chegando ao ocaso da vida (frei Betto, 74 anos; Leonardo Boff, 79 anos), depois de favorecer o comunismo por décadas, na hora normal de recolher agradecimentos dos favorecidos pelo combate indigno, recebem chibatadas de um corifeu da esquerda: “Não quero estar ao seu lado, vocês me tiram votos e mancham a reputação”. A lógica nos empurra até lá, tal situação respinga na CPT, CIMI, CNBB.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"