PAZ - Blogue luso-brasileiro
Domingo, 27 de Janeiro de 2019
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - HISTÓRIAS EM QUADRADINHOS TEM DATA NACIONAL NO BRASIL
30 de janeiro é o Dia Nacional da História em Quadrinhos no Brasil, já que nessa mesma data, em 1869, o jornal Vida Fluminense (RJ) publicou a primeira "tirinha" de uma história ilustrada chamada “As Aventuras de Nhô Quim”, contando as peripécias de um caipira perdido na cidade grande - escrita e desenhada por Ângelo Agostini.
Vale ressaltar que para minha geração, os heróis das revistas se consagraram no decorrer do século XX, com uma vantagem a mais das grandes celebridades dessa era: a de serem amados pelas crianças e se tornarem inesquecíveis para os adultos. A razão do sucesso residiu no fato de terem sido criados a nossa imagem e semelhança, alguns frutos do cotidiano, outros, nascidos dos nossos sonhos.
Um pouco de história
Internacionalmente, «The Yellow Kid – O Garoto Amarelo» foi o primeiro personagem. Resultado da disputa de novos leitores, desenfreada por magnatas da imprensa norte-americana e foi criado por Richarda F. Outcaut em 1890. Era um menino de grandes orelhas, vestido com uma camisola que ia até o calcanhar. Em seguida surgiram «Os Sobrinhos do Capitão» de Rudolph Dirks e a partir daí, a corrida se acelerou, tendo sido criado em 1905 por Winsor Mccay, «Little Nemo no País do Sono». Todos esses elementos tiveram um objetivo: fazer rir. A primeira história dramática apareceu em 1912: «Tarzan dos Macacos», do romance de Edgar Rice Burroughs, desenhado por Hal Foster.
A fase áurea dos quadrinhos começou em 1929, com aventura e realismo ganhando destaque. Alex Raymond já celebrizava o seu herói «Flash Gordon», o senhor dos espaços. Mandrake e Lotar já eram sucessos na criação de Lee Falk e Pril Davis, os mesmos de «Fantasma». Outros que se destacaram: «Jim das Selvas» e «Agentes Secreto X-9», de Alex Raymond; «Dick Tracy», de Chester Gould; «Capitão Marvel», de C. C. Beck; «Terry e os Piratas», de Milton Caniff; «Red Rydes», de Fred Harman; «Cisco Kid», de José Luiz Salinas; «O Reizinho» de Oto Solglow; «Pinduca» de Carl Anderson; «Betty Boop», de Max Fleisher; «Tom e Jerry» de Hanna e Barbera; «Krazy Kat», de George Harriman; «O Gato Felix» de Pat Sullivan; «O Recruta Zero», de Mart Walker; “Popeye”, de Elizie Segar; «Tintin», de Hergé; «Asterix» de Goscinny e Uderzo; «Popo», de Walt Kelly.
Walt Disney talvez tenha sido o mais importante e famoso produtor de desenhos animados. Nasceu em Chicago. Foi desenhista de publicidade e caricaturista durante algum tempo – experiência que transferiu para o cinema, onde começou sua carreira em 1923. Criador do Coelho Oswald, Mikey Mouse, Pato Donald, o cão Pluto e o papagaio Zé Carioca – ou a maioria dos mais célebres «personagens do mundo em quadrinhos».
Entre os mais importantes no Brasil e que tentaram gerar histórias genuínas de nosso povo são: Maurício de Souza, Henfil, Ziraldo e Zélio, entre outros. O primeiro foi o que mais se destacou e seus personagens «Monica», «Cebolinha», «Anjinho”, «Bidu», «Cascão» e «Horácio» já estão sendo consumidos em outros países.
Personalidade dos personagens
A personalidade dos personagens das histórias em quadradinhos que os celebrou foi o humor acessível a todas as classes sociais. Solidificaram-se e perpetuaram suas imagens entre os homens. Foi uma espécie de tradição de «pai para filho desde 1890». Em cada um, encontramos sempre um pouco de nós.
Vivemos, no entanto, outros tempos. Os heróis já estão sendo substituídos por outros, em diferentes técnicas alçadas pelo avanço tecnológico e baseados até em puros modismos. Games, muita coisa eletrônica, efeitos especiais e inúmeras criações informatizadas que podem propiciar distração e entretenimento, mas evidentemente não serão os mesmos de meu tempo, cujos personagens lembravam nossos cotidianos e principalmente, os encantos de uma época manifestamente dourada, ingênua e embasada em sonhos, fantasias e até perspectivas futuras.
.BREVE REFLEXÃO
“A vida e uma história em quadrinhos, do qual cada dia e um capitulo e cada um de nós somos meros personagens” (D. Martin).
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - FADO, EXPRESSÃO DA ALMA PORTUGUESA
A cultura popular portuguesa é muito rica e variada, em todas as suas manifestações, na música, no canto, em matéria de danças, no artesanato, na culinária, na profusão de ditos e quadras populares recheados de sabedoria e bom senso acumulados ao longo dos séculos etc.
Recordo de memória, entre muitas outras, uma quadrinha popular lusitana, mais precisamente da Ilha da Madeira: “Que os homens são uns diabos / não há mulher que o negue, / mas todas andam à caça / de um diabo que as carregue!”. Por trás desses versinhos, quanto senso de humor, quanta capacidade de observação, quanta experiência de vida!
Em matéria musical, sem dúvida a grande expressão da alma lusitana é o fado. Suas origens perdem-se na noite dos tempos. De origem árabe supõem-no alguns. De origem mais recente, pretendem-no outros. Há quem sustente, mesmo em Portugal, que o fado teve origem no Brasil. Conheço três ou quatro fados que procuram explicar a origem do fado, evidentemente de modo poético e figurativo...
O fato é que o fado é profundamente identificado com Portugal e com a alma portuguesa como ela é, com suas qualidades e (manda a verdade que se diga) também com seus defeitos ─ qualidades e defeitos tão bem expressos e tão bem sintetizados pelo gênio de Eça de Queiroz na figura prototípica de Gonçalo Mendes Ramires.
Há fados de diversos tipos: os "corridinhos", de Lisboa, movimentados e por vezes até acompanhados em coro ou com palmas ritmadas pela plateia; os patrióticos, com um sentido mais épico que lírico; os religiosos, tendendo para o místico; os solenes de fundo lírico, do gênero mais conhecido como "fado de Coimbra", sempre ouvidos em respeitoso silêncio.
Em Lisboa, nas tradicionais “casas de fado”, sempre abertas para acolher os que vão ouvir o fado, mesmo que nada comam ou bebam, entre um fado e outro, come-se, bebe-se, fala-se, grita-se, ri-se, discute-se... Tudo é permitido. Mas, tão logo os primeiros acordes de uma nova música se fazem ouvir, faz-se completo silêncio.
Não se fala durante o fado. É quase profanação fazê-lo. Recordo do modo engraçado com que certo fadista chamou severamente a atenção de um grupo de rumorosos rapazes que haviam ousado perturbar o silêncio de rigor com algumas risadinhas mal abafadas:
- Ó meninos, vossas tias não vos ensinaram que o fado se ouve de bico calado?
Em Coimbra, nem se aplaude o fado à moda costumeira, batendo palmas. Isso seria falta de respeito. Por costume antigo, para significar que gostou do canto e de sua execução, o ouvinte limita-se a tossir. Ao fim do fado, põem-se todos a tossir... Num primeiro instante, isso causa estranheza. Mas quem ouve um fado de Coimbra, no contexto de Coimbra, logo se acostuma e acha muito natural.
Um tema exigiria longo espaço para ser desenvolvido: é mais apropriado dizer-se fado ou canção de Coimbra? Fado seria um gênero e o que se canta em Coimbra seria uma espécie? Ou a matriz do fado é precisamente a de Coimbra, e o que se canta e Lisboa com o nome de fado seriam extensões, variantes, até deturpações da matriz que se teria conservado pura em Coimbra? O tema é polêmico, exigiria longas explanações e provavelmente nada concluiria. Pois ambos os tipos ou modalidades de fados (ou canções?) são tradicionais, envolventes e, cada qual à sua maneira, bem exprimem certas facetas da rica alma portuguesa.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - Licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Portuguesa da História e da Academia Piracicabana de Letras.
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - INTRODUÇÃO À INTRODUÇÃO
Lia eu a introdução a uma obra de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, quando algo me invadiu: eu.
Em meio à introdução, o preâmbulo, algo me preambulou também; tocou-me, ou melhor, toquei-me, invadi-me, penetrei-me, que seja: introduzi-me.
Feri-me de mim mesma, algo assim.
Na verdade, nem sei bem o que foi que se passou. Mas, indolor, ah... isso não foi mesmo!
Ouvia eu, pois, a autora do tal texto dizer, lendo-a com suas palavras, o que, agora, com estas minhas pretensamente quero lhes explicar, a saber: que por horas ela teve o privilégio de segurar com as suas os papeis que antanho o múltiplo português segurara nas próprias mãos.
Pasmei. Parei. Invejei-a. Não pelo objeto. Não pela posse dele por um breve intervalo de tempo.
Invejei-a pelo toque. Sou o tipo de gente que carece de toque. Que literalmente morre pelo toque.
E eu quis tocar aquelas folhas, aqueles cadernos... Caramba, como eu quis!!!
Em seu trabalho de prefaciar, a estudiosa continuou: não obstante a árdua tarefa imposta à equipe que a acompanhara na empreitada, ela tinha a certeza de que o simples fato de cada um dos integrantes da mesma ter lido e relido aquelas linhas... era para cada qual, em si, o maior prêmio.
Caramba de novo – esse prêmio eu queria!
De repente, não mais que de repente, como diria nosso brasileiríssimo poetinha Vinicius, outra lança me veio tocar...
O livro, o exato livro em minhas mãos, no qual eu lia e relia o texto ao qual me refiro... fora presente de um saudoso, aliás, saudosíssimo amigo poeta, pensador, mas, sobretudo amigo...
Corri à cata de sua dedicatória. Ele não a fizera. No ímpeto, porém, de encontrá-la, esqueci por um instante que ela nada escrevera.
Pensei, entretanto, nele, às voltas na livraria, perambulando entre as estantes, folheando livro a livro demoradamente como apreciava fazer com palavra a palavra...
Caramba! Senti, então, uma inveja de mim!!!
Uma baita inveja de estar ali – eu – àquela hora, introduzindo os minutos na esteira das horas, estranhamente vazia por causa da tocante “saudade” de Pessoa que não conheci; repleta, outrossim, da especial pessoa que me privilegiara com a chance de sentir de si verdadeira saudade sem aspas.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
Sábado, 26 de Janeiro de 2019
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ACORDAR SEM TER DORMIDO
Depois de demonstrar os medos em relação aos riscos que o filho sofre por seus descaminhos na dependência química, envoltos em atritos e violência, passou para a esperança de que, neste ou naquele dia, como ela, vença a vontade da pedra. Foi me dizendo: “Vocêimagina o que é colocar uma corda no pescoço e conseguir, em um segundo, desatar o laço que tirava o ar? Aproximar da boca o chumbinho de rato e, num instante de lucidez, jogá-lo no esgoto? Estender o corpo na terra com a cabeça no trilho do trem? A angústia de acordar sem ter dormido?”
Tudo isso pelo desespero do domínio das drogas sobre seu corpo, suas emoções, sua alma... De um lado, a mulher-mãe, cujo coração batia pelos filhos – jamais tive dúvida disso -, e, de outro, a criatura fragilizada por mais um engano e abandono, a quem foi oferecida a pedra com pó de ilusão, que acalma por instantes aquilo que sangra por dentro.
Uma das pessoas que conheci em situação de vulnerabilidade social, hoje na Eternidade, me relatou, certa vez, após experimentar vários tipos de droga, que o crack é tirano e acelera o passo em busca do cachimbo posterior. Com a pedra, a sensação de poder, a excitação, a hiperatividade, a euforia e o prazer chegam rápido ao cérebro – em 10 a 15 segundos, segundo os estudiosos -, no entanto os efeitos duram em média cinco minutos, o que leva o usuário a se utilizar dessa substância muitas vezes em curtos períodos de tempo e, sem ela, entrar em depressão, chegando a ficar paranoico.
A moça viveu sob o domínio da fumaça assassina durante dez anos, com passagens por esquinas cinzentas e empoeiradas, nas quais estendia as mãos, segundo me disse, de imediato para solicitar ajuda mas, em seguida, a vontade do crack predominava e pedia um valor em dinheiro que, ao juntar, se transformava na pedra. Com fé em Deus, há cinco se encontracom poder sobre si mesma. Largar foi uma atitude sofrida, porém firme, com o propósito de mostrar aos filhos que eram mais importantes que o crack e de salvação.
Penso sobre acordar sem ter dormido. Forte esse pensamento. Sacudiu-me. E isso não diz respeito apenas a usuários de drogas. Há tantas coisas que experimentamos em nossa vida de maneirasedada, sem encararmos a realidade eas verdades que nos envolvem.
Tenho refletido sobre episódios dos quais preciso acordar sem ter dormido.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - PLANETA LIXO
Quando li pela primeira vez, ainda criança, como eram, a séculos, as ruas de cidades que hoje são modernas metrópoles, eu fiquei chocada. Como as pessoas poderiam jogar excrementos na rua? Por qual razão as pessoas eram incapazes de perceber que viviam em meio ao lixo, expostas a todo tipo de doenças? Hoje, para minha tristeza, percebo que eu vivia no tempo da feliz ignorância sobre o mundo, sobre o quanto o ser humano pode ser extraordinário e paradoxalmente cretino.
Quando caminho pelas ruas, tanto de cidades pequenas, como em uma gigante São Paulo, noto que não estamos assim tão longe de tempos medievais. Se é verdade que não andamos propriamente entre fezes pela rua (não em todos os lugares, pelo menos), alguns lugares como praças e outros logradouros públicos cheiram tanto a urina que afastam qualquer observador.
Além do mais, a quantidade de lixo que se pode encontrar pelas ruas em uma simples volta por um quarteirão qualquer é assustadora. Eu simplesmente não consigo conceber a razão pela qual alguém não pode levar seu lixo até uma lixeira mais próxima ou, na ausência de uma, dentro de suas bolsas ou sacolas. As coisas que as pessoas deixam pelas calçadas são de todas as cores, formas e tamanhos, mas, sem dúvida, a campeã é a maldita bituca de cigarro.
Se eu fosse uma inventora de coisas reais e não alguém que sonha com o que não existe, eu criaria um cigarro que não fizesse mal a ninguém, pois acho uma tristeza que, nos dias de hoje, com toda informação disponível, as pessoas se injetem fumaça cancerígena. Mas, se isso não fosse possível, preservado o livre arbítrio de quem quer fazer de sua saúde o que bem quer, eu ao menos criaria um cigarro que em uma das pontas tivesse uma semente. Assim, de tanto que são jogadas por todos os lados, as bitucas seriam bem vindas, tornando verdes os lugares por onde fossem se acumulando.
A vida, entretanto, é mais complexa do que devaneios de quem sonha com um mundo menos poluído, no qual o meio ambiente não se transformasse em um depósito do lixo humano. E digo isso em sentido real e no figurado. Em verdade somos a praga do planeta terra. Vamos destruindo tudo e rezando para que as consequências não nos atinjam, como um tolo que faz uma fogueira estando ensopado de álcool.
Descobri, dia desses, olhando pela internet, que uma moçada do bem, aqui no litoral paulista, consciente, criou um projeto chamado Ecofaxina (https://www.institutoecofaxina.org.br) e, reunidos, saem catando lixo de manguezais e praias. O montante que recolhem é assustador. Sei que há outras iniciativas iguais no Brasil mesmo e pelo mundo agora, mas é deprimente saber que envidam esforços para combater o que outros seres humanos, que desfrutam dos mesmos lugares, dão causa.
Parece-me muito razoável e óbvio que se cada qual cuidasse de não jogar lixo pelas praias, pelas ruas, pelas matas, muitos animais não perderiam suas vidas pelo plástico que infesta o mundo. Muitas enchentes não levariam vidas e casas. Outro sem número de enfermidades seriam evitadas. Não é tão complicado assim. Basta ter um pingo de educação, valor que, em época de tanta informação, parece estar fora de moda...
CINTHYA NUNES – jornalista, advogada e professora universitária.
cinthyanvs@gmail.com
JOSÉ RENATO NALINI - PONHA A MÃO NA CONSCIÊNCIA
A Humanidade é uma entidade estranha. Capaz de incríveis conquistas e das mais abjetas crueldades.
Os otimistas dizem que a vida melhorou. Vive-se mais, a longevidade é um fenômeno científica e empiricamente comprovável. Morrem menos recém-nascidos. As profecias malthusianas não se concretizaram. O agronegócio é um setor que sustém a esperança em dias de verdadeiro desenvolvimento, o que inclui ninguém passando fome e todos vivendo de forma digna.
Mas o Brasil mata mais de 60 mil jovens a cada ano. Mais da metade da população não dispõe de saneamento básico. A abundância de água-doce encontra um feroz inimigo no homem, que a enterra para ceder espaço ao asfalto, a polui e a converte em líquido putrefato, envenenado e morto.
A raça política é abjeta, segundo a avaliação de enorme legião de sofridos párias do desemprego, vítimas da exclusão, da falta de moradia, de perspectivas de uma existência de mínima decência.
Enquanto isso, o futuro é sedutor conforme anuncia a 4ª Revolução Industrial. Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Impressão 3D, robótica, automação, progresso.
A quem se destina tudo isso? Há quem já usufrua do mundo high-tech, dispõe de tudo aquilo que o dinheiro pode oferecer em termos de conforto, bem-estar e sensação de domínio sobre a matéria e sobre os semelhantes. Mas a imensa maioria não tem acesso a esses bens da vida que a mídia espontânea, sustentada pelo capitalismo selvagem, martela sem parar, fustigando as mentes ingênuas, que se iludem com a possibilidade de consumir.
Os economicamente bem sucedidos gozam de elevado padrão de vida. Fazem adequado uso da combinação entre as tecnologias, conhecimentos e capacidades para bem usar de tais avanços. Só que o reflexo social do acúmulo de conhecimento produtivo não é fenômeno universal. Aqui no Brasil e aqui em São Paulo, bem perto de nós, há pessoas que estão com padrão de vida inferior àquilo que se convencionou chamar de mínimo existencial. A miséria e a exclusão residem junto às mansões, aos condomínios, às verdadeiras fortalezas com que os abonados tentam manter-se afastados da condição espúria dos hipossuficientes.
É mais do que urgente eliminar o fosso digital entre habitantes do mesmo espaço físico. O poderoso tem obrigação de pensar no despossuído. Senão, pagará caro pela omissão. Não adianta se esconder nos refúgios cada vez menores em que se aninham os favorecidos, porque um dia nenhuma blindagem será suficiente a protege-lo.
É uma questão de sobrevivência capacitar o semelhante a também se valer daquilo que a inteligência e a aptidão humana desenvolveu e reduzir drasticamente as diferenças. A distância entre os polos está cada vez maior. A reação pode demorar. Mas a panela de pressão está submetida a um fogo constante. Alimentado pela revolta, pelo ressentimento, pela generalização de que a política partidária é uma farsa e que, sem violência, o Brasil não mudará.
Reflitamos, meditemos, partamos para a ação rumo à edificação da Pátria justa, solidária, sem preconceitos, com redução das desigualdades e eliminação da miséria que o constituinte, há trinta anos, prometeu. Promessa que ainda não soubemos cumprir, ensimesmados nas questiúnculas que o egoísmo atroz nos submete numa rotina cega e surda.
Acordemos, antes que sejamos despertados traumaticamente desta letargia e talvez não haja tempo para esboçar reação ou tentar a salvação.
JOSÉ RENATO NALINI é Reitor da Uniregistral, escritor e jornalista, conferencista e palestrante.
FELIPE AQUINO - SÃO FRANCISCO DE SALES, PATRONO DOS ESCRITORES E JORNALISTAS
“O pedido mais importante que devemos fazer a Deus é a união da nossa vontade com a d’Ele”. São Francisco de Sales
São Francisco de Sales, em seus 56 anos de vida, não buscou a santidade somente para si, mas também, para os outros. Evangelizou e propagou a sã Doutrina com a ajuda da imprensa, através de suas pregações, mas principalmente, com seu testemunho. Conseguiu expressar com seu amor e sua vida, a mansidão do Senhor.
Devido ao seu estilo e ao conteúdo de seus escritos, foi instituído o patrono dos escritores e jornalistas, e consagrado Santo e Doutor da nossa Igreja.
Conheça alguns de seus ensinamentos:
“O mundo é uma oficina, na qual são batidas e talhadas as pedras vivas que devem servir na construção da Jerusalém celeste”.
“Santo é o amor. Deves, pois, temer a Deus por amor e não amá-lo por temor”.
“É orgulho não nos conformamos com nossa fraqueza e nossa miséria”.
Leia também: São Francisco de Sales
Alguns fatos interessantes na vida de São Francisco de Sales…
“Se eu caísse numa grande falta, não censuraria meu coração com frases como estas: Miserável! Abominável! Morre de vergonha! Não ouses levantar os olhos para o céu, traidor, imprudente, desleal! Não, eu não lhe falaria assim, mas procuraria corrigi-lo racionalmente: ora, meu pobre coração…vamos! Caímos? Pois bem, levantemo-nos, deixemos esta miséria, vamos reclamar a infinita misericórdia de Deus. Ela nos há de assistir daqui em diante para que sejamos mais fortes…E assim… empregaria todos os meios de não pecar”.
“Que importa se Deus nos fala entre espinhos ou entre rosas perfumadas?”
“O pedido mais importante que devemos fazer a Deus é a união da nossa vontade com a d’Ele”.
Assista também: A grande herança de São Francisco de Sales
“Procura a Deus de coração reto, procura-o em todas as coisas; e tu O acharás, e com Ele, a paz do teu coração”.
“A Missa é o sol da Igreja”.
“Desde que dirijamos o olhar para Deus, não devemos nos perturbar. Quer tudo revire para o ar, não digo somente em redor de nós, mas em nós, isto é, quer nossa alma esteja triste, alegre, mansa, em amargura, em paz, perturbada, iluminada, em trevas, entusiasta, enfadada, árida, terna; quer o sol a queime ou o orvalho a refresque, faz-se necessário que o extremo do nosso coração, nosso espírito, nossa vontade se volte incessantemente para o amor de Deus”.
“Não nos devemos perturbar à vista de nossas imperfeições, porque a luta contra elas não pode nem deve acabar antes de nossa morte. A nossa perfeição consiste em combatê-las”.
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
PAULO R. LABEGALINI - QUEM É O BURRO DA HISTÓRIA ?
Um dia, o saudoso padre Aquilino me passou esta história:
Um anjo do Céu resolveu fixar sua morada na Terra e desceu numa planície, por onde passava um lenhador puxando o seu burro pelo cabresto. Querendo obter informações sobre o mundo em que viviam, foi logo perguntando: ‘Por favor, neste planeta, quem de vocês inventou a guerra?’ Respondeu-lhe o burro: ‘Foi ele.’ – levantando a pata em direção ao homem.
‘E qual de vocês ajuda o outro?’ – perguntou o anjo. ‘Ele.’ – afirmou o homem, muito sem jeito. ‘Qual é o que, ao lombo, conduz os peregrinos cansados?’ – quis saber o anjo. ‘Sou eu, senhor.’ – falou o burro, todo envaidecido. ‘Mas, quem de vocês mata os outros animais para lhes comer a carne? – indagou o anjo. ‘Sou eu, sim senhor.’ – afirmou o homem, muito cheio de si.
‘Quem conduziu Jesus ao Egito, vencendo léguas pelo deserto?’ – perguntou o anjo. ‘Foi ele aqui.’ – disse o homem, olhando para o burro. ‘Qual foi o que perseguiu o Menino Jesus e o quis degolar? – quis saber o anjo. ‘Foi ele, senhor.’ – disse o burro, de olho no homem. ‘E quem levou Jesus a Jerusalém para pregar a Boa Nova?’ – interrogou o anjo. ‘Ele.’ – confirmou o homem.
‘Quem fez a barbaridade de injuriar e crucificar Jesus?’ – indagou o anjo. ‘Ah, isso quem fez foi ele!’- retrucou o burro, levantando as orelhas e se afastando do dono. ‘Mas, quem entre vocês, por ter vida honrada e pura, é o rei da criação e se considera a imagem de Deus? Só pode ser você, não é burro?’ – quis concluir o anjo. ‘Não, senhor, sempre foi ele.’ – afirmou o burro, desapontado e com os olhos cheios de lágrimas.
Ao ouvir esta última resposta, o anjo levantou voo e, voltando ao Paraíso, passou a dizer aos outros arcanjos: ‘Não queiram viver na injustiça dos homens!’
Pensando bem, não é à toa que muitos humanos são chamados de burros, não é mesmo? E mesmo assim, a ofensa ainda poderia ser considerada um grande elogio, se pensássemos na utilidade desse animal irracional tão sofrido! Mas, analisando pelo lado da espiritualidade, você concorda que ‘burro’ mesmo é aquele que não aceita seguir Jesus Cristo? Sem querer ofender ninguém, reflita comigo se dá para entender um ser humano que, mesmo sabendo que está caminhando para o inferno, continua na vida de pecados! Não é burrice?
Eis outra história que poderá mudar o destino de muita gente inteligente:
Uma filha se queixou ao pai sobre sua vida e como as coisas estavam difíceis para ela. Já não sabia mais o que fazer e queria desistir de enfrentar os problemas. O pai, levou-a até a cozinha, encheu três panelas com água e as colocou em fogo alto. Numa, ele pôs cenouras, noutra, colocou ovos e, na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra.
Minutos depois, ele pescou as cenouras e as deixou numa tigela. Retirou os ovos e os depositou na mesa. Por último, pegou o caldo de café com uma concha e o colocou para coar. Virando-se para a filha, perguntou: ‘Querida, o que você está vendo?’ Ela respondeu: ‘Cenouras, ovos e café!’
Ele, então, pediu-lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que estavam macias. Ele também pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Depois de retirar a casca, ela verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, o pai pediu à filha que adoçasse e tomasse um gole do café. Ela sorriu ao provar o seu aroma delicioso.
Depois disso tudo, a jovem perguntou humildemente: ‘O que significa isso, pai?’ E ele explicou que cada ingrediente havia enfrentado a mesma adversidade: água fervendo; mas que cada um reagiu à sua maneira. A cenoura entrou forte, firme e inflexível, mas, depois de ter sido submetida à fervura, amoleceu e se tornou frágil. Os ovos eram frágeis e, depois, se tornaram muito mais rijos.
O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que foi colocado na água quente, ele transformou a água! E o pai perguntou à filha: ‘Qual deles é você? Quando a tristeza bate à sua porta, como você responde? Você é do tipo cenoura, ovo ou pó de café?’
E continuou falando: ‘Você é como a cenoura que parece forte, mas, com a adversidade, murcha, se torna frágil e perde a força? Ou será que você é como o ovo que parece maleável e, depois de alguma provação, se torna duro por dentro? Ou será ainda que você é como o pó de café que mudou a água? Lembre-se que quanto mais quente estiver a água, mais gostoso se torna o café.’
Assim concluiu o pai: ‘Filha, seja como o pó de café: quando tudo ferver à sua volta, é hora de se tornar melhor e fazer com que todos reconheçam o seu valor.’
Só faltou ao pai dizer que tudo é muito mais difícil quando não se tem fé. Confiando em Deus, é possível superar todos os problemas nas Suas promessas: “... o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará.” (Jo 16-23); “O que é impossível aos homens, é possível a Deus.” (Lc 18-27); Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. (II Cor 12-9); “Não te deixarei, nem desampararei.” (Heb 13-5).
É claro que um burro não entenderia isso!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - ISAURA CORREIA SANTOS - UMA GRANDE SENHORA DO ALENTEJO
Certo dia, Isaura Correia Santos, indignada com certa articulista, que escrevera: “ As mães portuguesas oferecem os filhos, para defenderem a Pátria”, resolveu publicar crónica, afirmando: que era mãe e portuguesa, e não “ oferecia” o filho para ir para a guerra.
Mal sabia a ilustre escritora, que o desabafo, iria desencadear enxurrada de impropérios.
Foi enxovalhada, e houve até, quem rebuscasse sua vida particular, descobrindo, no passado, motivo para a insultar, como mulher e cidadã.
Isaura Correia Santos nasceu a 1914, em Alegrete, em plena planície alentejana. Ainda menina (17 anos,) casou com o pintor Abel Santos. Cedo se dedicou às letras, tornando-se conhecida, como autora de livros para a infância.
Suas crónicas, sempre interessantes e incisivas, apareciam, principalmente, in: “ O Comércio do Porto”, e “ Republica” .
Foi colaboradora da BBC. Notável conferencista; e o Governador do Texas, concedeu-lhe o honroso título de cidadã honorário desse Estado Americano.
Nas tardes de sábado, reunia, na sua casa, na Praça da Galiza, no Porto, intelectuais e amigos. O chá, que servia em xícaras de fina porcelana, todas diferentes, mas todas de grande beleza, ficou famoso no meio artístico portuense.
Uma manhã, ao regressar de Soutelinho (Povoa do Varzim,) sofreu grave acidente.
Visitei-a na Ordem da Trindade. Recebeu-me a Filó - empregada e amiga, que nunca a abandonou.
Isaura Correia Santos, falou-me do acidente e da forma carinhosa como as irmãs (freiras) a tratavam.
Disse-me, então, à puridade: “ Os olhos, agora, começam a ver o interior. Compreendo melhor a Vida e Seus mistérios…”
Admirava o Padre Cruz, e confiava em Deus, apesar da pouca fé que possuía.
Noutra ocasião, afirmou:
“ Este acidente fez-me compreender o que nunca havia conseguido alcançar. Tenho rezado muito…”
A escritora, que se notabilizou com a obra: “ O Senhor Sabe Tudo Contou”, recebeu o prémio: Maria Amália Vaz de Carvalho.
Numa manhã fria de Fevereiro, do ano de 1989, fui visitar Frei Martinho Manta. Logo que me viu, disse-me, compungido:
- “ Sabe quem morreu?! …Uma grande Senhora do meu Alentejo: a escritora Isaura Correia Santos! …”
Antes de falecer, confidenciou, na Ordem do Carmo (onde estava hospitalizada,) a amiga: que não receava morrer – até desejava, – visto gora acreditar numa outra Vida, e principalmente na misericórdia divina.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - CANTO A PORTUGAL ( Poema e voz de Euclides Cavaco)
.
Neste poema deixo transparecer a minha genuína portugalidade que embora ausente da Pátria-berço continuo a manter há quase 50 anos.
Veja e ouça o poema neste video elaborado pela amiga Gracinda Coelho.
https://www.youtube.com/watch?v=en6UTbsGZGU&feature=youtu.be
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
Sábado, 19 de Janeiro de 2019
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - PROFESSAR UMA RELIGIÃO TAMBÉM É SER SOLIDÁRIO, PERDOAR E RESPEITAR O PRÓXIMO
Comemora-se a 21 de janeiro, o Dia Mundial da Religião, cuja origem ocorreu nos Estados Unidos da América, em dezembro de 1949, quando a Assembleia Espiritual Nacional dos Bahá'is sugeriu que ela fosse celebrada anualmente com o objetivo de fomentar a compreensão, a reconciliação e a harmonia inter-religiosa, ou seja, a unidade na diversidade, mediante a ênfase no denominador comum que existe em todas as religiões, a crença num Ser superior, a mediação de um sacerdote ou líder com esse princípio divino e um sentido corporativo ou de comunidade. Trata-se de uma data muito especial no Brasil, que conta dezenas de credos religiosos, ligados às culturas dos povos que ajudaram a construir a Nação. Em nosso país todos são livres para seguir qualquer religião, conforme preceito constitucional expresso.
Essa liberdade de religiões não acontece em todos os lugares do planeta, nos quais muitas delas são proibidas e seus fiéis, perseguido mesmo estando a liberdade de cultos prevista na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ressalte-se que todos os grupos sociais do mundo têm as suas próprias religiões, informando-se que há mais delas do que culturas desenvolvidas pelo ser humano. Tanto que Liev Tolstói chegou a afirmar que “o homem pode ignorar que tem uma religião, como pode também ignorar que tem um coração; mas sem religião e sem coração, o homem não pode viver”.
No entanto, mais do que nunca temos que nos conscientizar que o amor próximo e à natureza devem abalizar qualquer crença. Notadamente em nosso país, onde a materialização nas relações passou a ser aspecto fundamental, a hegemonia do ter e do parecer, prevalece sobre o ser; o estímulo à futilidade ganha cada vez maior espaço e o exclusivismo, gera um isolamento humano, onde a igualdade fundamental da pessoa é frequentemente violada.
Num momento em que a cidadania é abafada pela ação do poder econômico, ou prejudicada pela instabilidade de nossas instituições, temos que professar nosso credo com autenticidade. De nada adianta nos mostrarmos pessoas religiosas se os atos que praticamos são contrários aos princípios básicos do Direito, da Moral e da Ética. Por inúmeras circunstâncias, nossa sociedade é marcada por gritantes contrastes, descasos, segregação, violência, crimes ambientais e uma série infindável de ocorrências que lesam e impedem a satisfação das mínimas aspirações populares. Esses quadros demonstram que a presença de Deus na vida humana se faz necessária para propiciar o equilíbrio dos justos. Por isso, reitero que devemos observar com profundidade, sob pena de descaracterizá-la, se a religião que praticamos evidencia a necessidade de se questionar com a máxima urgência e clareza, os efeitos danosos de uma concepção estreita e distorcida de toda a amplitude da dignidade humana.
Aposentados não são cidadãos de segunda categoria
Inúmeras pessoas que durante muitos anos trabalharam em prol do engrandecimento da Pátria e contribuíram com a Previdência Social sofrem atualmente uma série de injustiças e questões burocráticas que acabam por prejudicá-las, já que seus rendimentos são constantemente reduzidos, colocando-os muitas vezes, à margem daqueles que estão na ativa. O DIA NACIONAL DO APOSENTADO no Brasil, vinte e quatro de janeiro, foi estabelecido com o intuito de chamar a atenção da sociedade para os problemas que afligem essa classe.
“Apesar de todo defeito, te carrego no meu peito”
Lembrando o verso de Tom Zé, acima transcrito, realmente apesar de todos os problemas como excesso de carros, deficiência nos transportes públicos, um número exacerbado de pessoas, dificuldades de locomoção e de atendimento de saúde, poluição e a manifesta violência etc. a cidade de São Paulo- Brasil, que aniversaria a 25 de janeiro, é extremamente amada por seus filhos e por moradores que vêm de todo o mundo. Desperta as mais variadas paixões, que produzem desde músicas, crônicas, poemas e poesias, até apaixonantes declarações, sempre enfocando a primazia de nela se residir, trabalhar ou passear.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - A CURIOSA SOCIOLOGIA DOS NOMES PRÓPRIOS
Segundo matéria divulgada pelo Jornal de Piracicaba, no último dia 30/12, no ano de 2018 os nomes mais frequentes usados nos registros de nascimento em todo o Estado de São Paulo foram Miguel, com 4718 registros, Arthur, com 4312, e Maria Eduarda, com 3779.
Concretamente em Piracicaba, em ordem decrescente, os nomes masculinos mais adotados foram: Miguel (73), Arthur (58), Gabriel (43), Heitor (42), Davi (40), Theo (35), Pedro (31), Lorenzo (28), Henrique (26) e Matheus (24); para o sexo feminino, os nomes mais usados foram: Helena (72), Alice (60), Laura (39), Valentina (35), Lívia (34), Sophia (32), Maria Clara (32), Lorena (32), Manuela (27) e Antonella (26).
A utilização de nomes compostos por dois elementos continua sendo muito comum. No Brasil inteiro, 28,3% dos registros (quase um terço) preferiram essa modalidade tradicional de dar nome aos filhos. Ainda no Brasil inteiro, registraram-se 3.027 variações para Maria, 2320 para Pedro, 1564 para Ana, 1488 para Enzo e 1260 para João.
Parece, a julgar por essas amostras, que de um modo geral voltaram a estar na moda nomes tradicionais luso-brasileiros, como também os bíblicos e os provenientes do classicismo greco-romano, com minoritária, mas significativa preferência por nomes italianos (Lorenzo, Antonella, Enzo) e uma também curiosa atração pelas belezas da ortografia etimológica clássica (Arthur, Theo, Sophia), em detrimento da ortografia fonética oficializada para esses nomes.
Notei falta de Antônios e Antônias, Josés e Josefas (ou Josefinas), Luíses e Luísas, Carlos e Carlas (ou Carolinas), Paulos e Paulas, e tantos outros nomes... Os Rodrigos, de sonoridade medieval, que Érico Veríssimo relançou e que durante décadas estiveram no topo das preferências, igualmente parecem estar esquecidos. Armandos... sempre foram e continuarão sendo raros, muito raros... Em toda a minha vida, que me lembre não topei com mais do que seis ou sete xarás. A forma feminina Armanda, nunca a vi usada no Brasil ou em Portugal, talvez pelo fato de uma comédia de Molière ter ridicularizado para todo o sempre Armande, uma das pretensiosas “femmes savantes”, pedante e inimiga feroz do casamento. Curiosamente, também se chamava Armande e foi grande atriz a segunda esposa do próprio Molière...
Parecem estar em baixa, felizmente, nomes estrambóticos, como o de um famoso político que se chamava Onaireves (Severiano ao contrário), ou nomes claramente decorrentes de erros devidos a falta de cultura (Dêivide, Oílsson, Máiquel, Níquisson, Uóxington, Daiana, Lêidi etc.)
Do ponto de vista sociológico, reveste-se de grande interesse o estudo das preferências em matéria de onomástica. Em 1959, Gilberto Freyre publicou “Ordem e Progresso”, livro em que estuda a permanência do modelo patriarcal e agrário nas primeiras décadas do século XX, num Brasil que se tornava cada vez mais urbano e industrializado. O curioso da obra é a documentação primária que seu autor utilizou. Por volta de 1930, Freyre tinha mandado uma circular a perto de 1000 brasileiros nascidos entre 1850 e 1900, de todas as classes e condições (desde grandes políticos, intelectuais e fazendeiros, até pessoas pobres e modestas), fazendo uma série de perguntas sobre as duas ou três primeiras décadas que se sucederam à proclamação da república. Eram perguntas muito diversificadas, sobre ideologia, economia, política, costumes, religiosidade, costumes, sexualidade, visão dos problemas internacionais e nacionais, dicotomia monarquiaXrepública, visão de grandes homens (D. Pedro II, Santos-Dumont, Ruy Barbosa) etc. etc.
Freyre recebeu 183 respostas. Algumas eram sucintas e pontuais. Outras eram mais extensas, e algumas extensíssimas, pois seus autores, levados pelo dinamismo das recordações passadas por escrito, produziram verdadeiros livros de memórias extremamente ricos e interessantes.
Freyre guardou essa documentação preciosa durante quase três décadas, propositadamente, de modo que somente a utilizou em público quando a imensa maioria dos depoentes já havia falecido.
Gostaria de destacar, dessa obra, algo que é muito interessante do ponto de vista cultural: a escolha dos nomes para os filhos. Numerosas influências e não poucos modismos interferem nessa escolha tão importante e fundamental. Passo a transcrever o próprio Gilberto Freyre, a falar do “brasileiro médio” ou “brasileiro-síntese” do tempo focalizado em sua pesquisa:
"Era um ser que nascia em casa; e quase sempre sem que a mãe recebesse, ao pari-lo no lar patriarcal, outro socorro senão o da parteira ou o da 'curiosa', que se tornava comadre do casal. Já não estava muito em moda dar ao brasileirinho nome pomposamente clássico - Ulisses, Homero, Cícero, Horácio, Sólon, Aristóteles - mas romântico, de herói de novela ou mesmo de romancista ou de poeta atual ou exótico: Ceci, Peri, Graziela, Eurico, Milton, Victor Hugo, Paulo, Virgínia, Romeu, Julieta, Elvira, Evangelista, Edgar, Alfredo, Lamartine; ou, ainda, político ou cívico: Pedro de Alcântara, Garibaldi, Danton, Francisca, Washington, Lincoln, Franklin, Jefferson, Gladstone, Teresa Cristina, Isabel, Amélia, Gastão, Deodoro, Benjamin Constant, Ruy; ou piedoso, tomado a novas santas ou inspirado em nova devoções: Teresa, Luís Gonzaga, Vicente de Paulo, Maria de Lourdes, Maria do Carmo, Maria da Penha, Inocêncio, Pio. Havia, porém, rebeldes a essas convenções: pais talvez nietzschianos que davam aos filhos nomes rebarbativos: Nero, Napoleão, Júlio César, Átila. Um desses nietzschianos deu, no começo do século XX, a um dos filhos o nome de Lutero. Protestantes começaram a dar aos filhos nomes bíblicos ou de reformadores: inclusive Calvino. Os Positivistas, estes se esmeraram em dar aos filhos nomes inspirados na história 'científica' da Humanidade ou particular, da sua seita: Clotilde, Galileu, Paulo, Augusto, Newton" (op. cit., 3a. ed., José Olympio, Rio, 1974, 1º tomo, p. CLIV-CLV).
Recomendo vivamente a leitura dessa obra clássica, indispensável para a compreensão da evolução histórica do Brasil. Como recomendo também outra obra de grande importância, que é o “Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes”, do filólogo paranaense Rosário Farâni Mansur Guérios (5ª. ed., Artpress, São Paulo, 2004). É um trabalho único no seu gênero, profundíssimo e bem documentado, precedido de um pequeno ensaio sobre Onomástica, realmente notável.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - Licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Portuguesa da História e da Academia Piracicabana de Letras.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - A "VEIA" LOUCA DOS GATOS
Embora eu já estivesse intimamente decidida, foi por puro descargo de consciência que resolvi fazer uma quase consulta pública sobre o assunto. Nas redes sociais atrevi-me a perguntar se uma pessoa poderia ser considerada uma acumuladora de gatos se os tivesse em número de cinco. Para minha íntima satisfação, a maior parte das pessoas disse que não.
A verdade é que muito provavelmente as pessoas tenham se manifestado dessa forma porque perceberam meu verdadeiro intuito, que nada mais era do que conseguir aval. Além disso, não costumo ter como amigos pessoas que não gostam de animais. Lógico que eu sabia que minha enquete era de imparcialidade duvidosa, mas foi legal ser incentivada.
Por mim, verdade seja dita, eu teria um zoológico. Pena que minha casa, meus recursos financeiros e o que me sobra de bom senso não me permitem. Tento, dessa forma, ser coerente e não me deixar transformar em uma maluca, ao menos não em uma que possa ser identificada a olho nu.
Durante muito tempo em minha vida, assim como sei que é o desejo de outros tantos amantes dos animais, alimentei o sonho de ter uma chácara, um espaço no qual eu pudesse abrigar uma expressiva parcela de animais abandonados e vítimas de maus tratos. O tempo foi passando e eu cheguei à conclusão de que isso talvez não se materialize. E vejam que nem se trata de pessimismo, mas de uma simples constatação.
Resolvi que se não conseguirei fazer por vários animais, ao menos gostaria de fazer por mais um. Cachorros, após a morte daqueles que foram meus companheiros por quase 16 anos, não quero mais. Não em uma casa sem um quintal com terra ou espaço adequado. Já onde havia quatro gatos não seria tão insano ter mais um bichano. Ou seria?
Comecei a ver fotos de filhotinhos para adoção e meu coração começou a se encher de vontade. Após consultar as bases, tomei a decisão final. Eu pegaria mais um gatinho. O último a integrar o bando. E foi assim que no feriado de finados, pesando 450 g, cabendo inteira na palma da minha mão, a Lika chegou à família multiespécie que criei.
Toda branca e de olhos azuis, a gatinha, com cerca pouco mais de 30 dias de vida, já havia conhecido o pior lado da humanidade. Entregue a duas crianças em uma casa de rações, foi rejeitada pelos adultos que, moradores de uma comunidade, a jogaram no telhado, local onde passou a noite, em agonia, miando desesperadamente. Foi resgatada por uma amiga e entregue a mim.
Resumida a pelos e ossos, ela mais parecia um ratinho albino. Hoje, após alguns perrengues, vacinas, remédios, banhos e muito amor, ela pesa quase dois quilos e parece uma pelúcia. Doce, mansa, ela é o quinto elemento. Cheguei agora ao meu limite, mas não me arrependo, pois amor com amor se paga, sobretudo quando o ser amado é inocente e puro como um animal de estimação. Ademais, não tenho salvação: em terra de patas, sou doida varrida...
CINTHYA NUNES – jornalista, advogada e professora universitária.
cinthyanvs@gmail.com