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Sexta-feira, 26 de Julho de 2019
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - 26 DE JULHO. DIA DOS AVÓS. - AVÓS ASSEGURAM AOS NETOS A NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DA VIDA

 

 

 

 

Por motivo de férias, como tem acontecido nos anos anteriores, não será atualizado o blogue, durante o mês de Agosto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O Dia dos Avós é celebrado em diversos países em 26 de julho pois é o dia de Santa Ana e São Joaquim, considerados avós de Jesus Cristo por serem pais de Maria. A primeira também éconsiderada Padroeira das Gestantes por ter concebido sua única filha em idade avançada e depois de ser considerada estéril. Os avós são figuras tão importantes na vida familiar que foi promulgada no Brasil a Lei 12.398/2011, que garante o direito de visitar os netos em caso de separação dos pais, podendo-lhes, a critério do juiz,  ser extensivo  o direito de guarda e educação dos menores, levando em conta os interesses da criança ou do adolescente.  

A experiência fantástica de ser avó e avô uniu a psicoterapeuta Lidia Aratangy e o pediatra Leonardo Posternak, amigos de longas datas, na autoria da publicação “Livro dos Avós – Na Casa dos Avós é Sempre Domingo?” (Editora Artemius), no qual respondem a pergunta: “O que os netos esperam dos avós? Desejam que sua necessidade de confiança e segurança não seja ameaçada por divergências entre avós e pais. Não toleram tensões ou dramas familiares. Mas devem perceber que diferenças de opinião não significam ruptura nem desrespeito” 

Por outro lado, o perfil das vovós também mudou ao longo dos anos. A imagem das senhoras sempre em uma cadeira de balanço está cada vez mais distante. “Mulheres com 60 anos têm energia, saúde, vão à academia e estudam”, comparou Lidia, que tem sete netos. A avó que mima é a aquela que vê os netos em dias de festa ou apenas aos domingos. “Quem fica regularmente, que está na rotina da criança, no dia-a-dia, não mima. Hoje, é preciso ter solidariedade com filhos, genros e noras, com limite e disciplina”, explicou a psicoterapeuta, em matéria publicada pelo jornal “Diário de São Paulo”  (23/07/2006- pag. D3- “longe da cadeira de balanço” –Jaqueline Falcão)

Na mesma trilha, a psicoterapeuta desmistifica outra concepção. “Esta conversa de que avó é mãe com açúcar não existe. Ser avó está mais perto da paternidade do que da maternidade”. “O dia em que coloquei a mão em cima da barriga da minha filha lembrei no dia em que meu marido fez isso na minha barriga. A gravidez dela era algo importante que aconteceria na minha vida, mas não no meu corpo”, comparou.

Entendemos que é preciso sempre discutir o papel das avós na educação e nas relações familiares. De acordo com a psicóloga Eliane Pedreira Rabinovick, “o importante é lembrar que esse contato precisa ser equilibrado para que, em vez de uma fonte de problemas, se torne uma experiência rica às futuras gerações. Até porque sãos os avós que, dentro da vida moderna, recuperam os valores culturais, religiosos e morais antigos. São o elo que liga o passado, o presente e o futuro. Depende do amor e do respeito conservar essa ligação essencial à humanidade” ( Revista “Família Cristã”- 11/1988 – pág. 31).

Os avós asseguram aos netos a noção de desenvolvimento da vida humana em seus vários momentos e fases, mantendo um contato rico, queensina os jovens a respeitarem os mais velhos e às suas experiências, através do sentido histórico dasexistências.

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)

 

 

 

 

 

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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - O TRISTE DECLINAR DE UM IMPÉRIO GLORIOSOI

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O movimento monarquista vem encontrando, no Brasil atual, um clima favorável para sua expansão. Multiplicam-se os Círculos Monárquicos, realizam-se em sucessão os Encontros Monárquicos regionais e um número cada vez maior de jovens esperançosos e cheios de futuro acorrem a nossas fileiras. Uma pergunta que muitos deles fazem é como explicar a proclamação da República. Como foi possível que um Império estável e bem sucedido desabasse, de repente, de modo tão espetacular, a ponto de surpreender aos próprios republicanos?

O declinar do Império acompanhou, passo a passo, o declinar da própria saúde de D. Pedro II, personalidade marcante, profundamente entranhada no imaginário e na mentalidade dos brasileiros. De tal modo ele representava, simbolizava e personificava toda uma ordem de coisas política, social e cultural que, por assim dizer, generalizou-se a ideia de essa ordem não poderia sobreviver ao velho monarca.

O que faltou foi uma maior explicitação e conscientização de que o regime monárquico transcende muito a pessoa de um monarca, por mais paradigmático e carismático que ele seja. Faltou uma fundamentação doutrinária que, expressa em termos acessíveis aos homens da época, representasse um "exorcismo" suficientemente poderoso para resistir às tentações e aos cantos de sereia das novidades republicanas.

Faltou, igualmente, uma campanha de propaganda inteligente e bem articulada que chamasse a atenção da opinião pública para os grandes predicados pessoais da Princesa Isabel, que sem dúvida estava à altura de conduzir, após a morte de seu pai, os rumos nacionais. Com sua formação católica e sua fina sensibilidade feminina, ela teria sabido consolidar tudo quanto havia de bom no reinado de D. Pedro, corrigindo de modo jeitoso os pontos que inegavelmente precisavam ser corrigidos. Ela teria sabido levar o indispensável trabalho de inserção condigna, na sociedade e na vida econômica do Império, dos libertos do cativeiro. Ela teria sabido promover a imigração, a expansão da fronteira rural, o crescimento populacional e, mais tarde, quando chegasse a hora adequada, a industrialização do país – tudo isso de modo temperante, equilibrado e adequado ao modo de ser e à índole do povo brasileiro. A própria federalização do país, que já era anseio de muitos monárquicos muito antes de ser uma reivindicação republicana, e uma mudança no sistema eleitoral (já preconizada pelo próprio D. Pedro, nas instruções escritas que deixou a sua Filha quando esta, pela primeira vez, assumiu a regência do Império), poderiam se ter dado naturalmente. Em suma, com um terceiro reinado isabelino, todas as inevitáveis transformações políticas, econômicas, sociais, culturais, poderiam ter ocorrido numa linha geral de continuidade e sem rupturas traumáticas em relação ao passado.

Os republicanos pareciam temer o terceiro reinado, que se tivesse ocorrido com esplendor e brilho teria por certo afastado para sempre suas pretensões. Daí se empenharem tanto na campanha sistemática para denegri-la e humilhá-la. Mostravam-na como beata de igreja, ignorante e pouco esclarecida; diziam ser ela influenciada e conduzida pelo Conde d´Eu, ao qual também denegriam de todas as formas. Não houve uma contrapropaganda articulada à altura.

Geralmente se atribui a proclamação da República a três causas principais: a abolição da escravatura, a questão militar e a questão religiosa. Esses pontos, realmente, sinalizam três importantíssimos apoios do antigo regime que, por razões diversas, lhe foram retirados e permitiram o advento da República.

A abolição, sobretudo tendo se realizado às vésperas de uma colheita, produziu grande descontentamento entre os proprietários rurais, força conservadora de grande prestígio social e político, de si um dos sustentáculos do regime. Os republicanos, que mais tarde se gabariam de terem sido abolicionistas, eram, na sua maioria, escravocratas e criticaram o Treze de Maio.

A questão militar deveu-se à falta de habilidade política dos gabinetes que governaram o país desde o final da Guerra do Paraguai. Estando em ascensão uma nova classe dirigente civil, já formada nas academias de Direito e não mais saída, como outrora, das academias militares ou das fileiras da Guarda Nacional, os militares foram se sentindo cada vez mais alijados dos grandes postos administrativos. Um pouco de diplomacia e jeito teria resolvido o problema, mas sucessivas medidas foram tomadas de modo a desagradar as cúpulas do Exército.

Por fim, a bem conhecida questão religiosa cindiu a tradicional sustentação mútua Trono-Altar. Nesse ponto concreto, é inegável a contradição interna do regime, que, rejeitando a fundamentação religiosa de sua remota origem, de fato recusou o apoio de seu mais sólido sustentáculo moral.

Todos esses aspectos foram apontados no livro “Sob o Cruzeiro do Sul”, escrito pelo Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança (1878-1920), filho mais velho e herdeiro dinástico da Princesa.

Outro elemento também contribuiu, a meu ver de modo decisivo, para o fim do Império. Para quem leu "Ordem e Progresso", de Gilberto Freyre, fica claro que havia um certo fator psicológico presente nas camadas superiores da sociedade brasileira nas últimas duas décadas do regime monárquico, por onde o advento da república parecia incoercível. Até mesmo monarquistas ferrenhos pouco a pouco foram se resignando à ideia de que a república significava o futuro. Alguns até reconheciam a república como um ideal em tese desejável, se bem que não alcançável a prazo breve. O próprio D. Pedro II, segundo se afirmava, teria declarado que preferiria ser presidente de uma república a imperador.

A doutrina e a mentalidade positivistas que então impregnavam a sociedade considerada moderna viam a História como o resultado de uma evolução incoercível, e a transição da monarquia para a república seria etapa necessária de tal evolução. Só não se sabia quando se daria essa transição. Assim sendo, o debate entre monarquistas e republicanos já não mais se travava sobre as virtudes e vantagens de cada regime político, mas passava a ser sobre se convinha ou não fazer logo a mudança. Os monarquistas já não tinham coragem de combater a república em seus pressupostos doutrinários e ideológicos, mas timidamente limitavam-se a dizer que o Brasil "ainda não estava preparado" para tornar-se uma república.

Os propagandistas republicanos gozavam no Império da mais ampla liberdade. Eram muito poucos e eleitoralmente não tinham expressão, mas eram influentíssimos, por efeito de uma propaganda bem conduzida e de artifícios que hoje chamaríamos de ação psicológica. Em todos os ambientes das camadas superiores da sociedade penetravam suas ideias com o sabor ardido da novidade e do futuro.

A tal ponto ter simpatia por elas virou moda nos últimos anos do Império que, certa ocasião, um deputado – Martinho Campos – confessou em plenário envergonhar-se de ser monarquista. E Joaquim Nabuco declarou noutra ocasião ser necessária mais coragem para alguém se afirmar abertamente monarquista do que para se professar republicano. Ambos os fatos são relatados por Affonso Celso no seu livro "Oito anos de Parlamento" (Editora UNB, Brasília, 1981, p. 110). O próprio Affonso Celso, embora filho de um dos mais destacados líderes políticos do Segundo Reinado – o Visconde de Ouro Preto – e membro da jeunesse dorée do Império, fez seu discurso de estreia na Câmara, a 28 de fevereiro de 1882, declarando-se favorável à República (op. cit., p. 104).

Recordo de ter lido, nas Memórias de Chateaubriand, que ele, ainda jovem, serviu no exército contrarrevolucionário do Duque de Brunswick, formado por emigrados da nobreza para combater a Revolução Francesa. Da narração de Chateaubriand se depreende que esse exército não poderia estar fadado senão à derrota, já que os jovens aristocratas que serviam em suas fileiras estavam profundamente impregnados da mentalidade enciclopedista e voltairiana, e nutriam admiração pelos ideais revolucionários que, não por convicção, mas por mera força de um atavismo familiar, combatiam com armas na mão.

Analogamente, nos anos 70 e 80 do século XX, quando o domínio mundial do comunismo parecia inevitável, muitos burgueses amolecidos declaravam-se simpatizantes do socialismo e diziam ser ele o regime do futuro, contra o qual era impossível resistir. A esse ponto havia chegado a falta de convicção na justiça da causa que teriam todo o interesse em defender.

Esses dois exemplos, o do exército amolecido e pouco motivado de Brunswick, e o da burguesia mais recente a que me referi, parece-me que servem como referenciais para se compreender como o Brasil monárquico de 1870-1889 foi sendo minado e conduzido a perder a convicção da legitimidade de seu sistema.

Acrescente-se a isso o mimetismo, o espírito imitativo e macaqueador tão próprio do nosso povo, e compreende-se que tenha preferido imitar o modelo das republiquetas hispano-americanas. Infeliz e nefasta opção, cujas consequências até hoje nosso pobre país está sofrendo...

 

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS   -    É licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

 

 

 

A half-length photograph showing an older man with a full beard who is dressed in a dark coat, white shirt and dark vest

 

D.PEDRO II, Imperador do Brasil

                                 

 



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CINTHYA NUNES - POBRES GIGANTES

 

 

 

 

 

 

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                Tenho estado bem confusa ultimamente com os rumos de várias coisas. Sempre estive ciente de que não compreendo vários fatos desse mundo e creio que isso seja normal, quase uma condição daqueles que deitem olhos atentos à existência. Isso tem se aplicado a quase todos os pontos de minha vida e nem conseguiria escrever sobre isso nesse singelo espaço.

                Um dos pontos, por exemplo, diz respeito à forma como passei a enxergar a existência das árvores e de tudo o que significam no contexto no qual estão inseridas. Ainda que sempre eu as tenha admirado, meu respeito por esses seres vivos só faz aumentar. Sei que pode parecer muito estranho ou até pitoresco para muitos, mas minha relação com as árvores é de fato muito particular.

                Por onde passo gosto de examinar suas formas variadas, suas cores, suas flores e seus frutos. Sejam pequenas, medianas, gigantes ou majestosas, cada uma delas é quase um universo. Cada árvore representa o sucesso e a  persistência das folhas e raízes. São a vitória de uma semente. Algumas fornecem alimento, abrigo e lar a pássaros. As flores de outras tantas servem néctar a beija-flores, morcegos e abelhas. Mesmo em cidades como São Paulo, em determinados bairros, são até refúgios para macaquinhos e pequenos roedores.

                Infelizmente, o meio ambiente nem de longe é respeitado como deveria. Não apenas as matas e florestas vem sendo devastadas impunemente, sob os argumentos mais sórdidos, mas até mesmo as árvores em meio urbano correm riscos constantes. Com raízes aprisionadas no concreto, muitas cedem após chuvas ou ventos mais fortes. Sem contar aquelas que são cortadas apenas porque suas folhas e flores “sujam” as calçadas de gente ignorante e fútil.

                Muitos terrenos nos quais ainda há várias árvores frondosas, com dezenas de anos, com copas imensas, vem sendo adquiridos pelas construtoras para que arranha-céus sejam levantados. Fico pensando, em paralelo, como, em meio à crise, há tanto dinheiro para isso e se há tanta gente comprando imóveis assim. Seja como for, a primeira providência que as construtoras tomam é derrubar todas as árvores existentes no local. Nada, absolutamente nada é feito para garantir ou preservar a vida que nelas há, própria ou agregada.

                Quando passo por espaços nos quais há anúncio de futuras obras, olho com profunda tristeza e impotência as árvores que ainda se encontram no local. Silenciosas e inertes, nada podem fazer a não ser aguardar o destino ao qual o bicho homem as condena. Acredito que se fosse feito algum estudo nesse sentido seria identificada uma perda considerável de verde nas cidades, até mesmo porque praticamente nada se replanta, à exceção de plantas ornamentais de pequeno porte.

                Se às árvores fossem dadas pernas, se lhe fosse dado correr de tudo que as viole e condene, por certo estaríamos cercados apenas por concreto. Antes de cortarmos uma só árvore que seja, deveríamos no mínimo observar se nela há ninhos, se é possível evitar essa perda ou mesmo o replante, já que não uma nova semente ou mudinha não se transformarão em outra árvore do dia para noite.

                A cada dia novas descobertas são feitas sobre a vida em todas as suas formas e acredito que haverá o momento no qual o ser humano conhecerá por completo as árvores e poderá se arrepender de tamanho descaso e violência. Só me resta torcer para que não seja tarde demais. Alguns países já se atentaram para esse fato e implantaram políticas voltadas a minimizar esses estragos. Pena não ser o caso do Brasil e da maior parte dos brasileiros. Nessa terra, hoje, mal temos palmeiras e pouco já canta o sabiá...

 

 

 

CINTHYA NUNES   -   é jornalista e advogada   - cinthyanvs@gmail.com

 



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DO CÉU NO BREJO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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São dois filhos. Ao ver a mãe, com seu menino de 10 anos, me comovo por seu olhar de desamparo e busca. São tantos os problemas, além de criar sozinha os dois. Não sei, e creio que ela também não, de onde puxar o fio que possa recomeçar um enredo sem embaraços em sua vida, sem tremor em sua mente, sem desesperos em determinados acontecimentos. O entorno próximo é cruel com ela. Não lhe oferece a possibilidade de fortalecimento. O de 14 anos, desde os nove, busca, sem solução, resolver, no uso de drogas, os questionamentos amargos que carrega. E, como a maioria, para consumir trafica. Ofereceram-lhe caminhos para largar, mas nenhum deles clareou suas revoltas e dúvidas. Seria ele um aborto da sociedade sem chance alguma? Se for assim, considera que seja mesmo melhor se esconder em todos os tipos de trevas que o rodeiam. Está de volta ao Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente. Já passou por uma das unidades, contudo, ao retornar, o seu mundo e suas angústias aqui de fora continuaram em escala crescente.
A mãe conseguiu trabalho em depósito de sucatas. Atua na separação.  Ao voltar para casa, quando o filho mais novo dorme, tenta se desvencilhar dos produtos encontrados no lixo e de não se sentir também ela de pouca utilidade, na perda momentânea da lucidez, contudo o dia seguinte a aguarda. Aguardente. Pelo jeito, sente-se uma das peças descartáveis. Adormece na caçamba cinza de seus desencantos e desesperos. 800 tijolos, para construir um muro onde reside, a ajudariam muito, pelo menos os protegeria. Em dois meses, conseguiu comprar apenas 50.
Comentei que o filho de 14 era vítima de inúmeras coisas. Infrator é quem se enriquece à custa das misérias humanas. Concorda comigo e chora. São muitos que a julgam e ao filho, sem lhes oferecer perspectivas de mudanças com dignidade.
Na semana passada, estivemos com as crianças e adolescentes da Casa da Fonte – CSJ - nas entranhas da Serra – Fazenda Montanhas do Japi – em ação socioambiental desenvolvida pelo Serviço Social da DAE de Jundiaí. Em um determinado momento, quando seu filho mais novo seguia em minhas proximidades, observei um brejo. Em um pequeno espaço do lodaçal, o Azul do alto se refletia. Anúncio de esperança. Embora todos os acontecimentos sejam contrários e a moça observada como uma proscrita da sociedade, o Céu olha por ela.
 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.



publicado por Luso-brasileiro às 11:36
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VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - DE MULHERES E DE HOMENS

 

 

 

 

 

 

 

 

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Apesar de notórios constantes avanços, os tempos atuais andam também para trás.

Sermos excessivamente duros, seja conosco seja com os demais, não resolve. Porque nem tudo é hipocrisia. É uma batalha mantermo-nos fieis aos próprios ideais dia a dia.

Viver requer balanço.

Por exemplo, adoro dançar. E, de fato, balanço; não danço.

Importante mesmo é a alegria, a liberdade do espírito pelas vias do corpo.

Sempre me policiei muito. Por isso, não “dançava” em lugares públicos. Só na sala de casa.

Agia com cuidado, afinal, por aí, a maioria dos homens julga “má” a conduta de mulheres que saem se chacoalhando sozinhas. E eu não queria parecer vulgar (para dizer o mínimo) diante dos supostos donos do mundo.

Identicamente tolhida pelas “boas” maneiras, eu não me dirigia ao balcão, pedindo um drink.

Ou seja, sair era “poda”, sim: poda, haja vista eu ser toda vez podada.

Podada em minhas vontades, sordidamente deturpadas pelos pensamentos dominantes, sob os quais vinha inclusive eu dominada.

Podada pelos amigos, podada pelos parentes, podada por quem “bem” me quer.

Podada pelo hábito de deixar-me podar.

Dei-me conta disso um dia desses, aqui nesta mesma sala desta mesma casa da qual lhes falei ali atrás que tanto me testemunha dançar solitária.

Dei-me conta, como eu dizia, ao recriminar minha filha, que vestia um short jeans, por largar-se muito à vontade no sofá.

Sem quaisquer vis intenções, sua atitude contrastava com as convenções.

Atitude apesar da qual ela continuava a mulher linda, incrível e que me surpreende ter sido por mim acompanhada, sendo tantas vezes estimulada, todavia, tantas tolhida, podada!

Ela me disse “e daí, mãe?”. Na hora pensei que a minha mãe, por sua vez, nessa hora teria batido em minha boca. Por extremo amor e sabedoria materna que não desprezo. Agradeço.

Ocorre que o tempo corre. Ele passa. E os tempos agora são outros. E eu só, no caso, pude rir. Ri de mim mesma. E ri para minha filha. E eu disse “e daí?”!

Choca-me deveras ver olhar de reprovação em pessoas jovens. Sobretudo em jovens amigas quando danço. Tomara que seja só porque danço mal.

Caso contrário, as coisas – para nós mulheres –, em função de nós mesmas, continuarão de mal a pior.

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:32
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PÉRICLES CAPANEMA - OUTRO CARDEAL ALEMÃO ENTRA NA LIÇA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Poucos dias faz o cardeal alemão dom Walter Brandmüller tomou posição clara contra a “Instrumentum Laboris”, documento divulgado pela Santa Sé como preparação para o sínodo de bispos sobre a Amazônia que se realizará entre 6 e 27 de outubro no Vaticano. Comentei-a em artigo intitulado “O ‘non possumus’ do cardeal alemão” (periclescapanema.blogspot.com). Relembro palavras do Purpurado alemão: “Para começar precisamos nos perguntar por que um sínodo de bispos deveria tratar de temas que ▬ como é o caso de três quartos da ‘Instrumentum Laboris’ ▬ têm só marginalmente algo relacionado com os Evangelhos e a Igreja. Obviamente que a partir deste sínodo de bispos, realiza-se uma intromissão agressiva em assuntos puramente temporais do Estado e da sociedade do Brasil. Há que se perguntar: o que a ecologia, a economia e a política têm a ver com o mandato e a missão da Igreja. Deve ser dito hoje com força que a ‘Instrumentum Laboris’ contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificada de documento herético. Dado que até mesmo a revelação divina é aqui questionada, ou mal-entendida, deve-se também falar que, além disso, é apóstata. [...] A ‘Instrumentum Laboris’ usa uma noção puramente imanentista de religião [..] constitui um ataque aos fundamentos da fé, [...] deve ser rejeitada com a máxima firmeza”.

 

Hoje falo de outro cardeal alemão, dom Gerhard Ludwig Müller, que, de 2012 a 2017, foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé ▬ a mais antiga e importante das congregações, encarregada de defender a pureza da doutrina católica ▬, um dos dois cargos mais importantes na estrutura de governo da Igreja, o outro é o Secretário de Estado. Antes, dom Gerhard, teólogo e professor, havia sido bispo de Regensburg na Alemanha.

 

Dom Gerard Müller secundou a tomada de posição pública do cardeal Brandmüller, são agora combatentes de batalha comum. De outro modo, com análise profunda censurou a “Instrumentum Laboris”, o documento preparatório para o Sínodo sobre a Pan-Amazônia. Suas palavras, em especial pelo cargo antes ocupado, repercutem tanto ou mais que as de dom Walter Brandmüller.

 

Perguntado em entrevista de 11 de julho, publicada em “La nuova bussola quotidiana” e em vários outros meios de divulgação sobre se concordava com a afirmação do cardeal Brandmüller de que a “Instrumentum Laboris” é herética, respondeu: “Heresia? Não apenas heresia, é também estupidez, falta-lhe reflexão teológica. O herege conhece a doutrina católica e a contradiz. Aqui há uma grande confusão”. Continua dom Gerhard, o documento “nasce de uma visão ideológica que nada tem a ver com o Catolicismo. O Sínodo da Amazônia é um pretexto para mudar a Igreja, e o fato de se dar em Roma é para ressaltar o início de uma nova Igreja”.

 

O cardeal encarregado de defender a doutrina católica até 2017, teólogo por formação, detectou panteísmo nos fundamentos da “Instrumentum Laboris” e, coerente, condenou a cosmovisão ali exposta: “A cosmovisão nasce de concepção panaturalista ou, dito em contexto europeu moderno, materialista, próxima à do marxismo. Não se deve idealizar a natureza como se a Amazônia fosse uma zona do Paraíso, por que a natureza nem sempre é amiga do homem. Na Amazônia existem predadores, infecções, doenças. Suas crianças e jovens têm direito a uma boa educação, aos frutos da medicina moderna. Não se pode idealizar, como faz o documento, apenas a medicina tradicional. Uma coisa é tratar uma dor de cabeça, outra as doenças sérias, operações complicadas. O homem tem o dever de tudo fazer para conservar ou recobrar a saúde. Depois do pecado original, inexiste harmonia com a natureza, muitas vezes é inimiga do homem. Não podemos fazer do ecologismo uma nova religião, aqui despencamos numa concepção panteísta, que deve ser recusada. A identificação de Deus com a natureza é uma forma de ateísmo.”

 

É reconfortante constatar a de inconformidade de figuras da alta hierarquia eclesiástica com o rumo que poderá tomar o próximo sínodo. É consolador, minora a dor do escândalo. Com efeito, a “Instrumentum Laboris” emprega linguagem vaga, conceitos imprecisos, falseia a realidade da Amazônia, abre a porta para erros doutrinários e bafeja ecologismos e coletivismos, mesmos os mais extremados.

 

E, por fim, convém lembrar, a “Instrumentum Laboris” com suas concepções regressivas, na prática adversária dos avanços civilizatórios, favorece a exclusão dos povos da Amazônia. Vai além, de fato, ao procurar isolá-los em seu estilo de vida, propugna um elitismo às avessas. Denunciando com propriedade o texto de orientação profundamente excludente e que enaltece um elitismo às avessas, os dois prelados compassivos escutaram o gemido real dos povos da Amazônia. Suas palavras aceleram e orientam a inclusão, bem como favorecem a evangelização autêntica. Recordam Deus consolando os judeus: “O clamor dos filhos de Israel chegou até mim; e eu vi sua aflição” (Ex, 3, 9).

 

 
 
 
 
 
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"


publicado por Luso-brasileiro às 11:27
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FELIPE AQUINO - O QUE É MAIS IMPORTANTE NA AMIZADE ?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A amizade, cuja fonte é Deus, não se esgota nunca, dizem os santos.

Alguém disse que o amigo é algo especial que Deus inventou para cuidar da gente. A Palavra de Deus diz que “um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Eclo 6, 14).

Ora, tesouro é aquilo que nos enriquece. Então, o amigo é alguém que nos faz crescer, nos torna melhores.

Tive muitos amigos em toda a minha vida. Como as pessoas são diferentes! Graças a Deus, temos amigos de todo tipo: os engraçados, os intelectuais, os que nunca se animam, os que nos mimam, os originais, os que necessitam cuidados, os que são capazes de nos carregar seja qual for nosso estado de ânimo, os que sempre estão atentos, os que só mostram uma pequena parte do que são, os que sempre conseguem o que querem, os corajosos, os que sempre tem uma notícia ou uma novidade para contar, os que entram em casa a qualquer momento, os que nos fazem temer, os organizados, os “folgados” de sempre, os protetores, os de longe, os que não param de trabalhar, os que têm mania de grandeza, os que sempre estão enrolados em algo, os que são capazes de fazer qualquer coisa para evitar que passemos um mal momento, os que necessitam proteção, os brincalhões, os surpreendentes, os que nos fazem rir a qualquer preço, os que são tão ternos, os que sempre estão nos esperando… Quem busca um amigo sem defeito, fica sem amigo.

 

 

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Por que a amizade é importante?

 

Já no antigo testamento, em diversas passagens, a Palavra nos revela vários ensinamentos acerca da amizade:

“Azeite e incenso alegram o coração: a bondade de um amigo consola a alma” (Provérbios 27,9).

“O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão” (Provérbios 17,17).

“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Eclo 6,14).

“Dois homens juntos são mais felizes que um isolado, porque obterão um bom salário de seu trabalho. Se um vem a cair, o outro o levanta. Mas ai do homem solitário: se ele cair não há ninguém para o levantar” (Ecl 4,9-10).

“Não abandones teu amigo, o amigo de teu pai; não vás à casa do teu irmão em dia de aflição. Vale mais um vizinho que está perto, que um irmão distante” (Provérbios 27,10).

O Próprio Jesus, Deus que se fez homem, precisou de amigos, riu e chorou com eles. E quis através deles nos ensinar:

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,13-15).

 

 

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Leia também: Cultive a amizade

15 ensinamentos dos santos sobre a amizade

10 santas amizades que vale a pena imitar

Amizade Verdadeira

 

 

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Mas, quem é o verdadeiro amigo? O que é mais importante numa amizade?

Numa verdadeira amizade é preciso que ambos os amigos cresçam como pessoas humanas, por causa do outro. Uma amizade sem isso fica vazia, sem sentido. E para isso muita coisa é importante numa amizade. Antes de tudo não pode haver nela rivalidade e sim complementariedade; o amigo é aquele que completa o outro; lhe dá aquilo que ele não tem. Não pode haver ciúmes, inveja, competição, orgulho, arrogância; isso destrói a amizade. É importante que neste mesmo tempo se construa a confiança, o respeito, a tolerância, o carinho.

Nem sempre o que é indulgente conosco é nosso amigo, nem o que nos castiga, nosso inimigo. Santo Agostinho disse que “São melhores as feridas causadas por um amigo que os falsos beijos de um inimigo. É melhor amar com severidade a enganar com suavidade”.

Os amigos verdadeiros nos ajudam a crescer porque nos revelam o que somos, são como que nossos espelhos, através deles podemos nos enxergar.

O amigo é aquele que compartilha a nossa dor, e dor compartilhada é dor amenizada. É preciso saber ser amigo. Aquele que não tem necessidade de ninguém, tem muitos amigos. Onde reina a amizade, não existe necessidade. Minha esposa gostava de dizer que “vale mais um amigo do que dinheiro no bolso”.

O que faz o amigo crescer é a fidelidade; ela é a alma da verdadeira amizade. Conta-se que dois amigos inseparáveis foram para uma guerra juntos. Em um combate um deles ficou ferido gravemente, e sem que o outro percebesse ficou caído. Quando o primeiro voltou para a trincheira, percebeu que o amigo não tinha voltado para o abrigo.

“Meu amigo ainda não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo” — disse o soldado a seu superior.

“Permissão negada”, respondeu o oficial — “Não quero que você arrisque a sua vida por um homem que provavelmente está morto”.

O soldado, desconsiderando a proibição, saiu, e uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo. O oficial ficou furioso.

“Eu te disse que ele já estava morto! Agora, por causa da sua indisciplina, eu perdi dois homens! Me diga, valeu a pena ir até lá para trazer um cadáver?”. E o soldado, moribundo, respondeu: “Claro que sim, senhor! Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e pôde me dizer: Eu tinha certeza de que você viria!”.

“Um amigo é aquele que chega quando todo o mundo já se foi”.

Para fazer o amigo crescer é precioso saber entendê-lo, mesmo sendo tão diferente dele.

Esses nos ajudam nos momentos difíceis… Podemos esquecer aquele com quem rimos muito, mas nunca nos esqueceremos daquele com quem choramos. O laço da tristeza é mais forte que o laço da alegria. Na prosperidade os verdadeiros amigos esperam ser chamados; na adversidade, apresentam-se espontaneamente. Na seca, conhecem-se as boas fontes, e na adversidade, os bons amigos.

Amigo é aquele que nos faz aprender. É aquele que sabe tudo a meu respeito e gosta de mim assim mesmo. Seja amigo daquele que pode te ensinar muitas coisas, mesmo que ele tenha que lhe dizer verdades amargas. É aquele que o aceita como é, e não se cansa dos seus defeitos.

O amigo cresce quando você sabe guardar os segredos dele, enxuga as suas lágrimas, previne suas quedas, sabe interpretar os seus olhares e respeitar os seus silêncios sagrados.

Para fazer o amigo crescer é preciso criar um deserto dentro de nós e aceitar que o amigo venha povoá-lo. O outro cresce quando você fala mais daquilo que lhe interessa do que daquilo que interessa a você. Então ele lhe fará muitas confidências.

O combustível da amizade é o diálogo, a troca sincera de ideias; não a discussão que é uma luta entre dois homens. Para ajudar o outro a crescer é melhor não demonstrar que ele está errado, mas ajudá-lo a descobrir a verdade por si mesmo.

Se você quiser fazer o amigo crescer, comece por amá-lo sinceramente. O outro tem a tendência a ser aquilo que você pensa e diz que ele é. O elogio sincero tem um poder mágico de fazer o outro crescer. Se quiser que o outro progrida, felicite-o sinceramente. Revelar os dons do outro é fazê-lo se descobrir e crescer.

O amigo verdadeiro é aquele que sabe olhar sem inveja a nossa felicidade. O maior esforço da amizade não deve ser o de mostrar nossos defeitos a um amigo, mas fazer com que ele veja os dele. O maior bem que podemos fazer ao amigo é levá-lo a descobrir suas riquezas. Não hesite em se sujar para tirar um amigo da lama.

A amizade, cuja fonte é Deus, não se esgota nunca, dizem os santos. Nunca desista de ajudar o amigo a vencer uma batalha; não há nem haverá ninguém que tenha caído tão baixo que esteja fora do alcance do amor infinito de Deus e do nosso socorro.

 

 

 

FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 



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PAULO R. LABEGALINI - TRÊS ORAÇÕES MARAVILHOSAS

 

 

 

 

 

 

 

 

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Acredito que não exista uma só pessoa de fé que não tenha recebido ou passado alguma oração a alguém. Eu tenho dezenas de textos que retratam diversos tipos de orações: de cura, de agradecimento, de consagração, de entrega, de louvor, novenas etc., e hoje, vou colocar à sua disposição apenas três, mas foram escolhidas com muito carinho e podem mudar a sua vida, afinal, quem não precisa de oração?

Eis a primeira, para ser rezada assim que acordar:

“Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-Te a paz, a sabedoria e a força. Quero olhar, hoje, o mundo com olhos cheios de amor: ser paciente, compreensivo, manso e prudente; ver Teus filhos como Tu mesmo os vês e, assim, não ver senão o bem em cada um. Cerra meus ouvidos a toda calúnia, guarda minha língua de toda maldade, que só de bênçãos se encha meu espírito e que eu seja tão bondoso e alegre que todos aqueles que se achegarem a mim sintam a Tua presença. Reveste-me de Tua beleza, Senhor, para que, no decurso deste dia, eu Te revele a todos. Amém.”

Como Deus atende quem pede com fé, passe a rezar esta oração com o coração voltado para o Céu e pode esperar dias cheios de paz, de amor e de bênçãos; porém, não deixe de continuar fazendo as orações matinais que você reza. Quanto mais, melhor.

A seguir, relato as lindas palavras de Santa Tereza de Calcutá:

“Senhor, quando eu tiver fome, dai-me alguém que necessite de comida; quando tiver sede, dai-me alguém que precise de água; quando sentir frio, dai-me alguém que necessite de calor. Quando tiver um aborrecimento, dai-me alguém que necessite de consolo; quando minha cruz parecer pesada, dai-me compartilhar a cruz do outro; quando me achar pobre, ponde a meu lado alguém necessitado. Quando não tiver tempo, dai-me alguém que precise de alguns dos meus minutos; quando sofrer humilhação, dai-me ocasião para elogiar alguém; quando estiver desanimada, dai-me alguém para lhe dar novo ânimo. Quando sentir necessidade de compreensão dos outros, dai-me alguém que necessite da minha; quando sentir necessidade de que cuidem de mim, dai-me alguém que eu tenha de atender; quando pensar em mim mesma, voltai minha atenção para outra pessoa. Tornai-nos dignos, Senhor, de servir nossos irmãos que vivem e morrem pobres e com fome no mundo de hoje. Dai-lhes, através de nossas mãos, o pão de cada dia e, dai-lhes, graças ao nosso amor compassivo, a paz e a alegria.”

Que fé tinha a Madre Tereza, não? Procure rezar a oração com muita atenção e veja como é difícil usar de sinceridade o tempo todo! Na verdade, a Santa Madre apenas mostrou que entendeu completamente a mensagem de humildade e de partilha deixada por Jesus Cristo. Eu disse ‘apenas’? Queira Deus que saibamos encarar essa ‘comunhão’ com naturalidade.

E, como terceira oração, coloco esta de agradecimento:

“Obrigado, Senhor, pelos meus braços perfeitos, quando há tantos mutilados; pelos meus pés que andam, quando muitos se enrijeceram; pelos meus olhos que veem, quando há tantos sem luz; pelos meus ouvidos que ouvem, quando tantos se silenciaram para sempre; pela minha voz que canta, quando outras se emudeceram mesmo antes de nascer. É maravilhoso, Senhor, ouvir, cantar, sorrir, sonhar, quando tantas pessoas sofrem, choram, revolvem-se em pesadelos e morrem para sempre. Obrigado, Senhor, principalmente, por ter tão pouco a pedir e tanto a agradecer!”

Não é realmente uma grande bênção poder rezá-la antes de dormir ou, se preferir, pela manhã? Há pessoas mutiladas que a rezam como ação de graças! Mas, isso não é triste – no Céu, todos seremos iguais! –; triste é pensar nos ‘perfeitos’ que não têm coragem ou tempo para rezar.

Sempre que fiz algumas destas três orações em encontros que animei, alguém me pede uma cópia – o que significa que Deus tocou no coração daquela pessoa e ela passará a multiplicar as palavras que ouviu. Assim, de mão em mão, o Reino do Altíssimo vai se instalando em muitos outros lares brasileiros; lares abençoados como do Dr. Victo Rennó, que um dia me enviou estas palavras escritas por Dom Helder Câmara:

“Descobri, Mãe querida, donde vem o respeito imenso que me inspira toda mãe que passa, de ventre pesado, carregando o filho ou alimentando ao seio o fruto de seu amor. Não é só pensando no milagre da vida; penso em ti, Virgem Mãe, e honro em cada mãe o mistério de uma criatura gerar o Criador – o mistério do seio humano alimentar o Senhor da Vida!”

Refletindo com profundidade na mensagem, dá até para se emocionar. Pense você também: Nossa Senhora carregou Deus em seu ventre! Que criatura maravilhosa foi a nossa querida Mãe! Aliás, Ela sempre será bendita e maravilhosa!

Assim, de graça em graça alcançada, de oração em oração rezada, de CD em CD gravado, de caridade em caridade praticada... o mundo católico vai me fascinando cada vez mais. E quando criança, será que eu teria a coragem do menino desta história?

Conta-se que um professor pediu aos estudantes que citassem as sete maravilhas do mundo moderno. E começaram as opiniões: Pirâmides do Egito; Taj Mahal; Grand Canyon; Canal do Panamá; Empyre State Building; Basílica de São Pedro; Muralha da China...

Mas, o professor notou um estudante muito quieto e perguntou-lhe se tinha alguma coisa a dizer. E o menino respondeu: ‘Eu penso que as sete maravilhas do mundo sejam: andar; sentir sabor; ver; ouvir; rir; amar; e ter muita fé.’

O professor, impressionado, comentou: ‘Muito bem! Você é daqueles que não só carregam a cruz no peito, mas têm peito para carregar a cruz.’

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.



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HUMBERTO PINHO DA SILVA - UM ARCEBISPO SANTO - A CANONIZAÇÃO DE FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muito se fala, nos nossos dias, de sacerdotes (padres e pastores,) que, em vez de servirem a comunidade, servem-se dela, levando vida folgada, e, quantas vezes, desbragada.

Infelizmente, ainda há “sacerdotes”, que “ tosquiam” suas ovelhas, em benefício próprio e dos seus.

Cai aqui bem, o que disse D. Frei Bartolomeu dos Mártires, sobre o dinheiro da igreja: “ Do casal que herdei de meu pai, posso dispor à minha vontade. Enriquecer o meu sangue, com o alheio, que são bens da Igreja, deputados somente pera obras pias, não sei Teologia que o aconselhe nem consinta.” - “Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires” de Frei Luís de Sousa, Vol. II, pág. 174, Ed. Sá da Costa, 1948.

Felizmente, poucos usam o altar, para levar vida desbragada, e promoção social. A maioria – e muitos em segredo, – seguem vida humilde e santa.

Mas, voltemos ao propósito desta crónica: a cura miraculosa da Paulinha, que levou o Vaticano, a beatificar o bondoso Arcebispo de Braga, que se encontra sepultado, na igreja de S. Domingos, em Viana do Castelo:

 

 

 

 

 

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D. Olímpia Madeiro Lopes, mãe de três meninas, casada com o Dr. Carlos Madeiro Lopes, médico no Caramulo, andava preocupadíssima.

A Paulinha, de sete meses, fora vacinada contra a varíola, mas adoecera gravemente. O pai, aflito, recorrera aos colegas, médicos do hospital do Caramulo; mas, a menina, definhava-se a olhos vistos, a ponto do corpo clínico perder a esperança de a salvar.

D. Olímpia, no dia 14 de Setembro de 1964, pela manhã, dirigiu-se à igreja. Sentiu, dentro de si, vontade imperiosa de contar a angústia em que vivia. Conturbada, encaminhou-se para o confessionário.

Atendeu-a padre dominicano, que estava de passagem. Lavada em lágrimas, entre soluços, desabafou, contando o lastimoso estado da filhinha querida.

Comovido, o sacerdote, confortou-a com santas palavras, lembrando-lhe que houvera Arcebispo, em Braga, que vivera para aliviar as dores dos mais desprotegidos e aflitos; e prometeu-lhe, que durante a missa, que ia celebrar, pediria a intercessão, para aliviar o sofrimento da menina.

Terminado o culto, D. Olímpia, saiu mais desoprimida, esperançado e confiante, que o bom Bartolomeu dos Mártires, que tantos milagres fizeram, se lembraria da Paulinha, rogando a Deus, sua cura.

Já em casa, ao deparar com a empregada, soube: que a menina, dormia… como um anjinho…

Pouco depois, chegou o pai, com remédios. Ao receber a notícia, ficou estupefacto, pois as análises, obtidas durante a manhã, revelavam funesto final.

Examinada, pelo pai, e pelo corpo clínico do hospital, constataram que a menina estava completamente curada. A Medicina não podia explicar tão repentina cura. O taumaturgo Frei Bartolomeu dos Mártires, condoera-se da Paulinha, e do sofrimento da mãe.

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A Paulinha, cresceu… casou… e foi mãe de duas meninas. Vive em Coimbra, e é professora de Matemática.

Devido a este milagre, o Vaticano, resolveu beatificar o Santo Arcebispo.

Dentro de meses, Frei D. Bartolomeu dos Mártires, será canonizado. É, para nós, uma enorme alegria…; mas, há muito, que o bom povo de Braga e Viana do Castelo, o venera, como santo.

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por Luso-brasileiro às 10:42
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JORGE VICENTE - MUSEU DE FOZ CÔA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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JORGE VICENTE    -   Fribourgo, Suiça

 

 

 

 

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NOTICIAS DA DIOCESE DO PORTO

 

 

 

 http://www.diocese-porto.pt/

 

 

NOTICIAS DA DIOCESE DE JUNDIAÍ - SP

 

 

 https://dj.org.br/

 

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Leitura Recomendada:

 

 

 

 

 

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Jornal católico da cidade do Porto   -    Portugal

 

Opinião   -   Religião   -   Estrangeiro   -   Liturgia   -   Area Metropolitana   -   Igreja em Noticias   -   Nacional

 

 

https://www.jornalaordem.pt/

 

 

 

 

 

 

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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL

 

 

Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confisões.



https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes 

 

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Sexta-feira, 19 de Julho de 2019
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - DE FUTEBOL À AMIZADE, AS VÁRIAS DATAS COMEMORATIVAS DESTE MÊS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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No dia 19 de julho no Brasil, comemora-se o Dia Nacional do Futebol. A escolha da data se deu através da CBF- Confederação Brasileira de Futebol, para homenagear o primeiro time registrado como clube no país, o Sport Clube Rio Grande, fundado em 1900. Essa modalidade esportiva chegou ao Brasil em 1849, através de Charles Miller, que estudou na Inglaterra, onde aprendeu a dominar as técnicas futebolísticas. Ao retornar para o país, trouxe uma bola, uma agulha, uma bomba de encher e um uniforme. Com o tempo, tornou-se uma paixão do povo brasileiro,  infelizmente deturpada nos últimos tempos pelo fanatismo de alguns torcedores.

 

 

 

DIA DA CARIDADE

 

 

Com o intuito de reforçar o sentimento de altruísmo entre os brasileiros, foi criado o Dia da Caridade no Brasil, oficializado com a Lei nº 5.063/1966, sendo que essa celebração ocorre em 19 de julho em todo o mundo. A data objetiva conscientizar as pessoas sobre a prática e difusão da fraternidade, como meio de desenvolvimento de auxílio e colaboração com o próximo.

Efetivamente, a caridade é uma das qualidades mais defendidas pela maioria das religiões, que insistem que a sua principal definição é “amar e ajudar o próximo”. Trata-se, portanto, de um amor sem segundos interesses. Para o cristianismo, é uma das três virtudes teologais, assim como a fé e a esperança.

 

 

 

DIA DA AMIZADE

 

 

O Dia da Amizade, comemorado a 20 de julho, foi criada pelo filósofo e sociólogo argentino Enrique Ernesto Febbraro, inspirado pela chegada do homem à Lua, nesta data em 1969. O seu propósito original é incentivar a reflexão sobre esse importante e necessário instrumento de união entre as pessoas, notadamente num mundo extremamente consumista e competitivo. Com efeito, a amizade é doar-se, mas não é só isso. É também acolher e retribuir. Podemos, pois defini-la: “um dom recíproco”, um compartilhar, um comunicar mútuo, nas alegrias, nas fadigas, no trabalho, no estudo e nos ideais. 

Diante da atual crise de valores, devemos meditar sobre o verdadeiro sentido que a amizade encerra, relevando sempre o relacionamento humano. Infelizmente, as funções de um amigo –dar um sorriso, um gesto de compreensão, um perdão, uma atenção, um cumprimento – estão se exaurindo ​no fechamento provocado peloegoísmo reinante e pelas equivocadas visões de que ter e aparecer são mais meritórios do que ser. 

 

 

25 de julho. DIA NACIONAL DO ESCRITOR NO BRASIL

 

 

“Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira” (Carlos Drummond de Andrade).Homenagem aos escritores, grandes responsáveis pelo avanço no desenvolvimento da sociedade em todos os aspectos, até no de construir sonhos, sem os quais a vida não tem quase nenhum encanto.

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academias Jundiaenses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)



publicado por Luso-brasileiro às 18:28
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - FRAQUEZAS E QUEDAS MORAIS DO REI LEÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A obra de Raimundo Lúlio (1232-1316), estrela de primeiríssima grandeza da cultura e da língua catalã, venerado como Beato na Catalunha e também nas casas mantidas por religiosos franciscanos de todo o mundo. é muito extensa e diversificada. Escreveu mais de 250 obras, em latim, catalão ou árabe, em prosa e em verso, sobre Filosofia, Teologia, Ciências e Literatura. Sua cultura era verdadeiramente universal e enciclopédica.

Lúlio conhecia bem a vida de corte, porque frequentou a de Jaime I, rei de Aragão, e foi preceptor de um dos seus filhos. Uma curiosa alegoria da vida cortesã foi feita no opúsculo que escreveu, sob o título Llibre de les Bèsties. (RAIMUNDO LÚLIO. Livro das Bestas. Tradução de Ricardo da Costa e Grupo de Pesquisas Medievais da UFES I. São Paulo: Escala, 2006). Trata-se de uma curiosíssima alegoria em que descreve a corte do rei Leão, cercado de animais que representam e simbolizam os vários tipos de áulicos que gravitam nas cortes em torno dos soberanos. Os usos e abusos, os costumes e os vícios, até mesmo as fórmulas de tratamento e cortesia dos palácios reais são graciosamente atribuídos aos personagens figurantes. Nem a pessoa do soberano, com suas fraquezas e quedas morais (por exemplo, o adultério com a bela Dona Leoparda, a mulher do seu leal servidor Leopardo) é poupada. Todos têm seus vícios, suas fraquezas e suas idiossincrasias expostas de modo vivo, em um texto de leitura muito agradável.

A inveja, que tão assiduamente marca presença nas cortes dos grandes da terra, é claro que não podia estar ausente. O elefante conta, a certa altura, a Dona Raposa, uma história acontecida na sociedade dos humanos, de um monarca que tinha dois pajens, um dos quais invejava o outro e foi, por isso, castigado exemplarmente. Um deles, certo dia notou que no manto real, confeccionado com alvíssima seda, ousara pousar uma pulga; aproximou-se com respeito do monarca e, depois de ter pedido sua licença, livrou-o da incômoda companhia do inseto. O rei achou graça no episódio e recompensou o pajem com cem moedas. O outro pajem, com inveja do primeiro, quis repetir o feito e, de propósito, colocou sobre o manto real um enorme piolho, na esperança de que, sendo o piolho bem maior do que a pulga, a recompensa que receberia seria proporcionalmente maior. Mas o tiro lhe saiu pela culatra, pois quando mostrou ao rei o enorme piolho que estava sobre sua vestimenta, o rei se indignou por ele, pajem, ter sido tão desleixado a ponto de não ter antes tirado aquele bicho. E mandou dar-lhe cem chibatadas.

No mesmo opúsculo, são ainda narradas as consequências da inveja da Onça em relação ao Leopardo. Foram ambos os nobres felinos despachados como embaixadores, para visitar o rei dos homens. Levavam, como presentes do rei dos animais para o seu colega humano, o Cão e o Gato, dois animais que os homens muito apreciam. Na corte humana, depois de longa espera, afinal conseguiram os mensageiros ser admitidos à presença do rei, que os recebeu de modo desigual: “Quando os mensageiros estiveram diante do rei, ele honrou mais o Leopardo que a Onça, dirigindo-lhe um olhar mais prazeroso e fazendo-o sentar mais próximo de si que a Onça. A Onça teve inveja disso e ficou irada com o rei, porque acreditava que ele a devia honrar tanto ou mais que o Leopardo.” (op. cit, p. 70).

As consequências dessa inveja são expostas ao longo de vários capítulos. Enquanto estavam ausentes os dois embaixadores, Dona Raposa, que não gostava do Leopardo, insinuara-se junto ao rei Leão e lhe facilitara o acesso a Dona Leoparda. Encantado com a beleza da felina, o rei a tomou como amante, coisa que logo se espalhou nos mexericos da corte e acabou por chegar aos ouvidos do marido traído. Este, quando tomou conhecimento da traição que lhe fazia o soberano ao qual sempre servira com lealdade, indignou-se, acusou-o de traição e o desafiou para um duelo. Um rei, entretanto, somente poderia aceitar combate singular com outro rei, de modo que foi preciso que outro animal o representasse no duelo. Apresentou-se a Onça, movida pela inveja que desde o episódio da audiência com o rei dos homens a atormentava. Fez-se o combate, o Leopardo matou a Onça, mas ficou extenuado com o esforço da luta. Ao final, o rei, traiçoeiramente atacou o Leopardo, que já não teve forças para resistir e morreu. O Leão, porém, também se viu castigado pela vilania que cometera, pois perdeu a sabedoria e a sutileza de espírito, atributos próprios dos monarcas: “Depois de o Leão ter pecado e matado o Leopardo, não teve mais tanta sutileza nem engenho como tivera antes...” (p. 78).

Todos esses acontecimentos, narrados no mundo da alegoria, não podiam deixar de ser aplicados, no tempo em que foram escritos, a personagens reais, no duplo sentido do termo: reais porque realmente existentes e reais porque se referiam a reis de verdade.

A obra pode ter tido caráter pedagógico, como realça o texto introdutório da edição aqui utilizada, assinado por Esteve Jaulent: “Talvez a intenção inicial de Lúlio fosse escrever um manual para os príncipes, que resumisse as qualidades que o governante deve possuir, e as precauções que deve tomar, para exercer com sucesso o seu poder. As palavras com que o livro termina permitem esta suposição: Assim acaba o Livro das Bestas, que Félix levou ao Rei. A crítica concorda em que este Rei é Felipe IV da França, para que ele, olhando o que fazem os animais, visse como deve reinar e como pode guardar-se dos maus conselhos e dos homens falsos.” (op. cit., p. 12-13).

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS   -    É licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

 



publicado por Luso-brasileiro às 18:20
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CINTHYA NUNES - ÉRAMOS ONZE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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    Lembro-me como se fosse hoje. Estávamos eu e minha irmã Ivy aguardando as notícias, ansiosas em nossos seis anos e meio e quatro e meio, respectivamente. Eis que meu pai chega com um sorriso no rosto e nos anuncia: É menina! Batemos palmas para o fato de que dali em diante seríamos em três irmãs. Deslumbradas, saímos pela vizinhança gritando a boa nova a plenos pulmões. Nascia ali a tríade que até hoje é a nossa força, a nossa união e o resultado do amor de nossos pais.

                Muito tempo se passou desde então, ainda que possa nos parecer poucos segundos atrás. A cena agora é outra. Estou ao lado do telefone, ansiosa pela mensagem que aguardo há algumas horas. Ligo para meus pais e divido a emoção com minha irmã Ivy. Estamos todos esperando por esse momento. Dessa vez já sabemos que é uma menina quem está para chegar. O parto, programado para as 19h do dia 15 do mês de julho. É a Olivia quem estamos aguardando, a filhinha caçula da minha irmã mais nova, Tricya.

                Agora não somos mais crianças, mas nossos corações ainda o são. Da mesma forma como esperávamos pelo instante de ter nossa irmãzinha no colo, ansiamos pela chegada da nossa sobrinha, filha dela. Confiro o celular a cada dois segundos. Meu Deus, será que está tudo bem? Faço mil coisas para distrair minha mente e eis que recebo uma foto. Com o rostinho vermelho, broto da vida, contemplo aquela que há alguns meses era somente uma esperança. Meu coração se enche de afeto. Amor à primeira vista...

                Não foram poucas as vezes nas quais lamentei a passagem do tempo. Quando o fiz, no entanto, não foi por conta dos efeitos do tempo sobre mim, mas pelas ausências que tempo traz. Entretanto, também sou grata ao tempo pelas muitas e maravilhosas pessoas que só pude conhecer porque ele passou. Assim me sinto em relação aos meus sobrinhos, que são como os filhos que não tive. Olivia é mais um desses presentes que decorrem da benção do girar dos ponteiros.

                Cada vez que uma criança escolhe nossa família para nascer, somos agraciados por mais uma leva de gracinhas, de sorrisos que por certo virão. Tudo se renova. Aumentamos em número, em qualidade e em felicidade. Mais uma página do livro do futuro que se abre, pronto para receber as lembranças de uma nova vida.

                Não me cabe predizer como será a existência dela, como aliás não é permitido a ninguém nesse mundo. Posso, porém, desejar que ela tenha uma vida plena, que seja uma pessoa de bom coração e que possa estar sempre segura de que tem uma família que a ama e que a protegerá de tudo que for humanamente possível.

                Há poucas horas eu a conheci pessoalmente. Senti aquele cheiro que só aos bebês é dado ter. Se eu tivesse que adivinhar qual o aroma que a vida tem, eu arriscaria dizer que cheira a bebês limpinhos. Olhei seus pezinhos e mãozinhas, tão frágeis, tão pequenas e tão poderosas. É a força da existência que se renova a cada nascimento. Não sei traduzir em palavras o que senti ao ver na minha sobrinha a imagem da minha irmã, como se as duas fossem o mesmo bebê, como se eu tivesse outra vez seis anos, como se toda a vida estivesse idêntica aos nossos pés.

 

 

 

CINTHYA NUNES   -   é jornalista, advogada e professora universitária – cinthyanvs@gmail.com



publicado por Luso-brasileiro às 11:43
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