No próximo dia 1° dezembro, comemora-se sessenta e quatro anos do ato que libertou todo um povo: nesta data, a costureira Rosa Lee Parks não se levantou num ônibus em Montgomery, Alabama nos Estados Unidos, contrariando a norma de que os negros só podiam se sentar se não houvesse brancos no veículo. Por seu atrevimento, foi presa, julgada e condenada por conduta desordeira, assim como por violar a ordem local. Sua prisão inspirou e deflagrou um movimento de protesto e luta dos negros norte-americanos contra a segregação e pelo respeito aos direitos, tomando corpo em todo o país, com ampla projeção internacional.
Na noite seguinte à sua prisão, cinquenta líderes da comunidade afro-americana, chefiados pelo então quase desconhecido pastor protestante Martin Luther King Jr. reagiram contra este constrangimento cometido contra ela, organizando e realizando um boicote de trezentos e oitenta e um dias ao sistema segregacionista de transporte coletivo naquele estado. No ano seguinte, o caso Rosa Parks foi encerrado na Suprema Corte norte-americana e a discriminação entre brancos e negros nos ônibus foi declarada inconstitucional.
Por seu gesto, foi indicada pela revista “Time”, como um das vinte personalidades heroicas do século XX e sobre a repercussão de sua atitude e posicionamento, foram escritas milhares de artigos, livros e ensaios. Faleceu em 26 de outubro de 2005 em sua residência, dormindo, certamente ciente de que as políticas públicas de inclusão dos negros lhe deveram muito e se espalharam por todos os cantos, tornando-a um ícone da luta contra o racismo que infelizmente ainda persiste, mas a construção da igualdade de oportunidades avançou muito após a ocorrência que a envolveu. Vale lembrar a eleição de Barack Obama como presidente da maior potência do mundo.
A suave guerreira, que com seu simples gesto libertou todo um povo, constituindo-se na pioneira da luta pelos direitos civis americanos, “brilha fulgurante diante de nossos olhos, cada vez que preferimos a comodidade de conceder ao risco de protestar e lutar contra as injustiças que enchem o mundo em que vivemos”, como ressaltou Maria Clara L.Bingemer, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio (“Rosa Parks e o cansaço de conceder”- Jornal do Brasil- 31/10/2005- A15).
LUTA CONTRA A AIDS
Instituído pela ONU – Organização das Nações Unidas, o DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS, primeiro de dezembro, visa conclamar os povos de todo o mundo sobre os efeitos da doença e das formas pelas quais pode ser evitada. As campanhas preventivas, no entanto, não podem se restringir a informações e acessos a preservativos. Diante da atual banalização do sexo, deve-se combater a moléstia de todos os modos possíveis, mas não se olvidar da questão da preparação e formação, para que o sexo se realize com orientação segura, conhecimento, responsabilidade, embasamento religioso e moral.
UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA E DIGNIDADE
Celebrações como a da próxima quarta-feira (03 de dezembro) – Dia Internacional das Pessoas Com Deficiência - revestem-se de suma importância para refletirmos sobre questões de cidadania que afetam tais indivíduos e que não podem mais ser tidas, como de puro assistencialismo, mas sim de Justiça e Dignidade. A comemoração foi instituída pela ONU- Organização das Nações Unidas desde 1998, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência, procurando também aumentar a consciência dos benefícios trazidos pela integração dos cidadãos com deficiência em cada aspecto da vida política, social, econômica e cultural.
REFLEXÃO DESSE DOMINGO
Efetivamente, se pretendemos ter uma sociedade onde o viver e o conviver sejam valores máximos, faz-se necessário um esforço maior em dar a todos, iguais possibilidades de participação, já que, “quando uma pessoa tem negado os seus direitos todos estão perdendo” (Dalmo Dallari)
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)
Queridos amigos:
Fiquei muito feliz ao rever pessoas que estimo e respeito, no lançamento do livro “Educação: uma questão de Justiça”, na última segunda-feira, na FIESP.
Agradeço especialmente à fidalguia de PAULO SKAF, que mobilizou toda a sua fabulosa equipe para uma noite muito agradável.
A todos os que se empenharam para que o evento fosse exitoso, minha gratidão e reconhecimento.
Aqueles que se interessarem por saber como foi a minha experiência nos 26 meses em que estive à frente da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, o testemunho pode se encontrado na Livraria do SESI, à Avenida Paulista 1313-térreo ou, em breve, na plataforma da AMAZON.
Boa leitura e aguardo críticas! Afinal, a educação é responsabilidade de TODO
Escrevo no dia 16, ainda sob o choque da notícia do terrível incêndio ocorrido ontem na Catedral de Notre-Dame. Sinto-me um pouquinho aliviado pelo fato de a destruição não ter sido total, como aconteceu há sete meses no Rio de Janeiro com o Palácio da Quinta da Boa Vista - onde em tempos melhores de nossa história habitaram os Imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, e onde mais recentemente, a partir do considerável patrimônio arqueológico trazido de Nápoles pela Imperatriz D. Teresa Cristina, se instalara o Museu Nacional.
Graças à intervenção imediata e intensiva dos bombeiros parisienses, foi preservada a estrutura de pedra da catedral e (pormenor de grande alcance simbólico) foi preservada a lindíssima imagem de Nossa Senhora de Paris - verdadeira obra de arte que, independente do edifício, já por si valia uma ida à França somente para conhecê-la e venerá-la.
A comoção foi imensa, não só na França e na Europa, mas no mundo inteiro. Em poucas horas, contribuições que somam quase meio bilhão de euros foram ofertadas por pessoas ou entidades de muitos países, dispostas a colaborar para a reconstrução da catedral. Confesso que não me impressionaram as propaladas doações de grandes grupos econômicos, como o da grife Gucci, que ofereceu 100 milhões de euros, e o do seu rival Louis Vuiton, que não quis ficar atrás e logo declarou dar o dobro. O que me impressionaram foram as doações menores, de grande significado, verdadeiros “óbolos da viúva”. Por exemplo, o da cidade húngara de Szeged, que teve o lindo gesto de oferecer 10 mil euros, recordando, com gratidão, que no passado também fora beneficiada pela cidade de Paris: "Paris forneceu ajuda para reconstruir Szeged depois de sua grande inundação; agora Szeged ajuda Paris", informou comunicado oficial da municipalidade. Essa inundação ocorreu no dia 12 de março de 1879, quando o rio Tisza transbordou e, com a violência das suas águas, praticamente arrasou Szeged, destruindo a maior parte de suas casas e matando mais de 150 pessoas. Na ocasião, Paris, Viena e Londres coletaram fundos e enviaram ajuda para a cidade ser reconstruída. Agora, 140 anos depois, o gesto é retribuído com igual nobreza.
Não foi a primeira vez que a catedral parisiense, edificada em pleno Medievo há mais de 800 anos, esteve ameaçada de destruição. Creio já ter comentado nesta coluna que, no final do Ancien Régime, a Idade Média estava tão desprestigiada que no conselho do Rei Luís XVI chegou a ser decidida a destruição da Catedral de Notre Dame, para no seu lugar ser erigido um novo templo, em estilo grego.
A magnífica catedral medieval envergonhava os franceses de fins do século XVIII, porque significava uma recordação dos tempos supostamente bárbaros, pouco cultos e tenebrosos da Idade Média. Se não tivesse ocorrido a Revolução Francesa, provavelmente não teria sido conservada, bem no coração de Paris, a catedral maravilhosa que até anteontem atraía turistas do mundo inteiro, mas teríamos, em seu lugar, uma postiça ampliação do Parthenon, uma extemporânea Madeleine aumentada em tamanho.
No início do século XIX, já na atmosfera do Romantismo, retornou o gosto pelo passado medieval. A Idade Média voltou a estar “na moda”. Começaram a proliferar romances como os de Walter Scott (Ivanhoe é o mais famoso deles), Victor Hugo (Notre Dame de Paris) e, um pouco mais tarde, Alexandre Herculano (Eurico o Presbítero, O Bobo, O Monge de Cister. Lendas e Narrativas). As óperas do século XIX deram, também, enorme realce a temas medievais. Na Arquitetura, revalorizou-se o gótico. Notre Dame não somente foi poupada, mas foi até concluída no século XIX, por Viollet-le-Duc, construtor de sua famosa agulha que antes não tinha chegado a ser completada. Precisamente a agulha que ontem todos vimos, em vídeo, ruir fragorosamente.
O presidente Emmanuel Macron declarou que é ponto de honra para a França de hoje restaurar do modo mais rápido possível a Catedral, e prometeu não poupar esforços e recursos para atingir esse objetivo.
Se realmente cumprir sua promessa, paradoxalmente terá sido salva pela república laica de hoje, herdeira e continuadora dos sanguinários revolucionários de 1789, a relíquia magnífica da França cristianíssima e monárquica de outrora, que se orgulhava de ser “a filha primogênita da Igreja” e igualmente se ufanava da longa série de reis “qui ont fait la France”. Ironias da História...
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras e professor da Unisul. Também é Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Há alguns meses, convidada por uma amiga, eu me inscrevi em um workshop de focaccia. Nos últimos anos tenho feito alguns cursos de pães, a maior parte com fermentação natural e em um deles cheguei a fazer uma focaccia, uma espécie de pizza com massa grossa, que usualmente tem recheio de tomate cereja com alecrim e sal grosso ou de calabresa.
Nunca tinha tentado fazer uma sozinha, em casa, mas até por isso resolvi fazer o curso, que começou às 9 e acabou às 16h. O professor era o Alex, da Padoca do Alex (@padocadoalex, no instagram), do Rio de Janeiro. Carioca bem-humorado e muito paciente para ensinar as quatorze mulheres e os três homens presentes, o Alex é uma simpatia. Embora eu tenha ficado meio cansada após tantas horas em pé, valeu muito a pena.
Era emocionante ver as imensas bolhas que a massa da focaccia faz enquanto está terminando seu processo de fermentação. Parece uma superfície lunar, só que muito gostosa e crocante. No final do dia estávamos instruídas sobre os macetes para uma focaccia “bolhosa” e de certo com alguns quilos a mais depois de degustarmos vários pães artesanais e variadas focaccias.
Diante de várias mesas repletas de guloseimas fiquei pensando em como ali todos éramos afortunados por termos tanto alimento à disposição. Alguns dias antes, no entanto, eu havia presenciado situações muito distintas. Não posso e nem quero expor aqui as pessoas envolvidas, mas fiquei muito triste por ver amigos em situação financeira bem ruim. Em um dos casos, o mais extremo, faltava até pão na mesa na qual cinco crianças deveriam comer.
Cortou-me o coração imaginar armários e pratos vazios. Ajudei como pude, mas a fome se renova a cada dia e sei que, infelizmente, foi somente um paliativo, uma ajuda emergencial. Ninguém deveria passar por isso, principalmente crianças. Por óbvio e infelizmente há milhões de pessoas passando fome pelo mundo, mas a coisa toda é mais real quando envolve alguém que conhecemos, quando a miséria ganha nome, sobrenome e um rosto.
Em outro caso uma amiga de longa data me confidenciou todos os cortes de despesas que precisou fazer para poder sustentar com o mínimo de dignidade os três filhos. Como o desemprego do marido tudo fica ainda pior. Eles lutam como podem, mas tudo é racionado para poder durar mais. Difícil não se deixar perturbar, não questionar, não se revoltar.
Algumas semanas antes e cortavam a luz da casa de outro casal de amigos. Repletos de dívidas, sofrem também com a ausência de oportunidades para se recuperarem. Moram em um bom bairro e quem os vê não tem sequer ideia de quanto estão em situação difícil. Bem verdade que ninguém quer se expor e entendo isso perfeitamente, mas nesses três casos eu poderia ter ajudado mais ou mais cedo se soubesse o que se passava.
Enquanto alguns se fartam de pão, outros sequer tem o farelo. Ao nosso redor há um tanto de gente que sofre calada, padecendo dos mais diversos males. Esse ano de 2019 foi um ano difícil para mim, em termos profissionais. Foram muitas mudanças, mas jamais passei qualquer necessidade, muito pelo contrário.
Hoje entendo o conceito de desigualdade e muito me entristece saber que ainda há casos mais severos, de gente que mora na rua enquanto outros são donos de imensos latifúndios ou de bairros inteiros. Em um mundo justo nem todos desejariam fazer um curso de focaccia, mas a ninguém faltaria o pão nosso de cada dia. Cheiro de pão sempre me invocou lembranças especiais, porém agora me parecem mais como o aroma da esperança.
Cinthya Nunes é jornalista, professora universitária, advogada e nunca deixa de lamentar as ausências que a existência impõe – cinthyanvs@gmail.com
Perguntou-me se sabia que engravidara. Já haviam me contado. Comentou sobre quem era o pai e em que situação se dera a gravidez. Recordei-me dela, há treze anos, com dois apenas, ao caminhar pela calçada de mãos dadas com a mãe. Procurava me aproximar, contudo me observava com olhos de estranheza.Tempos mais tarde, permitiu-se quebrar a distância. É uma das meninas-mulher que me toca o coração e me desperta a vontade de colocar ao colo e cantar para ela cantigas de ninar, com o propósito de que se proteja da crueldade do mundo que lhe impõe beiradas da sociedade e uso, com abusos que nem consegue identificar.
Passou pela escola creio que por seis ou sete anos. Não deu certo. O analfabetismo funcional foi um de seus carrascos e lhe condenou, pelas incapacidades impostas, ao bullying em sala de aula e ao tédio por não compreender. Em setembro do quinto ano, encaminharam-na para um serviço público de alfabetização a 20 km de onde morava. Inconcebível. Pai ausente, a mãe que fazia bicos e ela com 11 anos. Como chegaria até lá sozinha? Minguaram, dessa forma, as possibilidades para o mercado de trabalho. Passou, no entanto, pelo “primeiro emprego”, antes dos 13, ao tratar de filhos de seu entorno em troca de recursos escassos.
Relatou-me que a mãe do indivíduo -ele afirmou que registrará somente após o exame de DNA - lhe ofereceu-lhe dinheiro para o aborto. Respondeu-lhe que é de gente pobre, mas que jamais alguém dos seus matou bebê na barriga. Comovi-me. Permanecíamos em conversa, quando o cidadão passou, do outro lado da rua, junto à namorada, de relacionamento longo e ruptura rápida ao ficar com a mocinha. Relatou-me que não era apaixonada por ele, porém percebi em sua fisionomia decepção e desamparo. Convivo com situações tão dolorosas de filhos da miséria, estrangulados pela indiferença da sociedade e pela falta de oportunidades. Que barbárie!
A mocinha precisará de vitamina, de enxoval para seu bebê, de roupas maiores para ela, mas também de cuidados para as emoções, enquanto se prepara para ser cuidadora de seu próprio filho ou filha.
Habitada por um serzinho humano, mas desabitada de abraços e beijos. Novinha, desprotegida, todavia grande em defesa do feto. Peço ao Senhor da Vida, que olha para ela e para a criança de suas entranhas, que lhe abra caminhos de paz, luz e ternura.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Ao contrário do que se possa pensar, não tenho muitos amigos. Também não são muitos os conhecidos.
Como a maioria dos idosos, vivo em silêncio e solidão; e em solidão e silêncio, decorrem as minhas horas.
Verdade é, que todos os dias, vou tomar o cafezinho, acompanhado de minha mulher, na cafetaria da nossa avenida; e passeio, quase diariamente, pela baixa, observando tudo: casas, montras, viaturas, pessoas…
Possuo, todavia, nas minhas estantes punhado de bons amigos mudos, prontos a revelar-me novos horizontes.
Passo horas esquecidas a lê-los, a dialogar, a refletir, a anotar os pareceres, que me transmitem.
São ilustres amigos, escolhidos na floresta dos livros: famosos cientistas, sociólogos, historiadores, evangelistas, filósofos, psicólogos, escritores e poetas, que abrem-me janelas ao pensamento, que só por si, não podia alcançar.
São companheiros fiéis, de infinita paciência. Ensinam-me, como professores, alimentando-me espiritualmente; tão bondosos são, que admitem discórdia, sem enfado, por duvidar da sapiência.
Em companhia de tão ilustres, dia e noite, vou-me enriquecendo, em conhecimento, fornecendo elementos, para exprimir-me melhor e com mais clareza.
Por vezes, sentado comodamente, na banca de trabalho, delicio-me com a prosa saborosa e vernácula, de clássicos; ou embebido nos fabulosos enredos de novelas, vivo outras vidas e outros mundos.
Outras ocasiões, fico em silêncio, refletindo e divagando num proveitoso monologar. Chegando a pensar, se sou eu ou eles, que falam por mim.
Não há, para mim, nada que se compare ao prazer da leitura. O livro, dá-nos o que o cinema e TV, não nos dão.
O romancista, sugere, permitindo ao leitor, fantasiar: cenário, a luz, a beleza da paisagem, a cor…
No cinema, a participação do espectador, é passiva. O prato é servido pronto. Não há imaginação!
Criar, fantasiar, adivinhar a fisionomia das personagens, as reações, os sentimentos, dos que se encontram encerrados no livro, concede-nos liberdade e encanto.
Como disse, não tenho muitos amigos, mas, nas minhas estantes, encontro uma imensidade de intelectuais, que me permitem horas de prazer, revelando-me conhecimentos e experiências de vida.
A todos estou grato; a todos sou devedor.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
Tapar o sol com a peneira não faz meu gênero. “Amicus Plato, sed magis amica veritas”. Faz anos que manifesto preocupação [usei eufemismos, se quiserem, understatements; na verdade, são brados, urros de angústia] com a presença crescente de estatais chinesas na economia do Brasil. Favorecida pelo mutismo generalizado, erva de maldição, não para de se alastrar. No fim da rota, pode demorar anos mais, anos menos, depende da vivacidade popular, teremos nossa soberania reduzida a frangalhos, a independência nacional será palavra oca, vegetaremos sem altivez em estado de virtual protetorado, ainda que cuidadosamente disfarçado.
Expus meu pensamento, recordo, fundamentado e bem matizado, em numerosos artigos, basta ver o blogue (periclescapanema.blogspot.com), lá estão os artigos, o primeiro dos quais de 10.12.2015, intitulado “Desnacionalização suicida”; o último, ainda recente, 13.8.2019, “Advertências inúteis”. Dolentes e reiteradas advertências, inúteis pelo menos em aparência, ao longo de quatro anos, números redondos.
O texto de hoje constará quase tão-só de transcrições do primeiro e do último artigo da série acima referida. Garantia Napoleão, a melhor figura de retórica é a repetição. Vou bisar, acho que já disse e redisse quase tudo o que tinha a divulgar. Foram propaladas realidades óbvias ao alcance de qualquer um, concedo, mas sobre as quais reinava e reina silêncio. Uma coisa não declarei ainda e vou afirmar agora com modéstia e tristeza: chegará o dia, espero que distante, em que os brasileiros amantes do torrão natal chorarão lágrimas de sangue, por causa das atuais displicência e negligência. Mas talvez seja tarde.
No artigo de 10.12.2015, constatava e informava: “Nunca fui nacionalista; vejo com simpatia a presença de empresas estrangeiras entre nós. Mas o caso agora é outro. Em 25 de novembro último, o governo colocou à venda concessões por 30 anos para as usinas de Ilha Solteira. Jupiá, Três Marias, Salto Grande, vinte e nove hidrelétricas no total. Ganharam o leilão CEMIG (estatal), COPEL (estatal), CELG (estatal), CELESC (estatal), ENEL (forte presença do governo italiano) e THREE GORGES (estatal chinesa). A estatal chinesa ficou com 80% da energia e pagou R$13,8 bilhões pela outorga. [...] Com os ativos recém-adquiridos, a CTG [China Three Gorges, a estatal chinesa] atinge capacidade instalada de 6.000 W, tornando-se a segunda maior geradora privada do país”. Privada? Era o que saía na imprensa; de fato, estatal chinesa.
Continuava eu mais abaixo: “Quem tomou conta de boa parte da geração de energia no Brasil, à vera, foi um país totalitário e imperialista que caminha a passos gigantescos para ser a primeira potência do mundo. Vai chegar lá? Sabe Deus. E que, ponto que ninguém de bom senso nega, usa sem escrúpulos todos os instrumentos de que dispõe para impor seus objetivos. O que aconteceu em 25 de novembro não foi fato isolado, faz parte de política de longo alcance; grande parte do capital chinês investido no Brasil é estatal, controlado pela ditadura comunista. Imagine uma disputa comercial de uma estatal chinesa ─ tributos, mercados, preços, admissão e demissão de empregados, dumping, oligopólios e monopólios, sei lá mais o que ─ com o governo brasileiro. Pelo que estamos acostumados a ver, bastaria a ameaça de retaliação comercial do nosso mais importante parceiro internacional, por exemplo, cortar a importação de ferro ou carnes, perseguir empresas brasileiras instaladas na China, para Brasília piar fino. Falando em pios, a esquerda não solta um pio a respeito desta gritante desnacionalização, que carrega no bojo potencial e gravíssima ingerência externa em assuntos internos. Essa mesma esquerda que esgoelava décadas atrás contra a Light, o chamado polvo canadense, e berrou contra as privatizações do período FHC (entrega de propriedade do povo ao capital estrangeiro), vê agora, silenciosa, o governo, entre outros motivos premido por terríveis problemas de caixa, se lançar às carreiras numa política suicida de desnacionalização. Repito, o episódio das três gargantas que engoliram de uma só vez parte do potencial elétrico do Brasil não é isolado. As estatais chinesas estão ativamente comprando propriedades entre nós nas mais variadas áreas. Na década de 70 foi usual a palavra finlandização. A Finlândia havia perdido mais de 10% de seu território para a Rússia, quase 20% de seu parque industrial e, pelo temor do vizinho ameaçador e poderoso, acertava sempre o passo com Moscou, não importava o que fizessem os tiranos comunistas. Aquele antigo e civilizado país, formalmente soberano, de fato padecia uma forma larvada de protetorado. Queiramos ou não, a mesma situação, ainda que incipiente, ocorre no Brasil. Com a enorme e cada vez maior presença econômica do Estado chinês entre nós, vai chegar o dia em que o país, em numerosos assuntos internos, vai ter diante de si potência mundial imperialista. E, se colocarmos como padrão como trata os governos esquerdistas e comunistas, facilmente imaginaremos a subserviência diante do poderio chinês. Cortando caminho, vilmente protegido pelo mutismo da covardia e da cumplicidade, está em curso entre nós um processo que vai levar à perda efetiva da soberania nacional. No fundo do horizonte, terrível perspectiva, nos espera o protetorado envergonhado, mesmo que cuidadosamente disfarçado.”
Isso dizia eu em dezembro de 2015. Na mesma direção, quatro anos depois, no melancólico “Advertências inúteis” de agosto de 2019 relembrava o óbvio ululante: “Às vezes me sinto inibido em recordar o óbvio ululante. Vamos lá, conto com a benevolência do eventual leitor. A China é país comunista. Seu governo, expansionista, imperialista, ditatorial e totalitário, é exercido por um só partido, o Partido Comunista da China (PCC), marxista, coletivista e ateu. Lá, só como piada se pode falar em democracia e direitos humanos. Na América do Sul um dos dois maiores apoios à ditatura assassina de Maduro, que lota Roraima de refugiados miseráveis, é a China (o outro, a Rússia). Na Ásia, sustenta a tirania da Coreia do Norte (maior apoio dela) e tem dado sinais gritantes de que será implacável na repressão às reivindicações de liberdade da população de Hong Kong. O PCC, que infelicita a China, tem rumo ideológico claro, conduta constante e previsível, conhecida política de Estado. As empresas estatais chinesas agem segundo os interesses do PCC e do governo chinês; promovem com obediência canina a política de ambos. São, em sua esmagadora maioria dirigidas por membros do PCC. É congruente, pois, que o PT, nos governos Lula e Dilma, tenha sido fervoroso partidário de toda forma de aproximação com a China; no caso, em especial, favorecia a compra de ativos brasileiros por estatais chinesas. Até aqui, o óbvio ululante.”
Passo para a atualidade. O presidente Jair Bolsonaro acaba de deixar a China. Ao chegar em Beijing, declarou: “A China é um país capitalista”. Santo Deus! Nem vou comentar. Ao deixar o país, informa o Estadão de 26 de outubro, “Bolsonaro convidou estatais chinesas para participar da oferta de áreas de exploração no pré-sal”, marcado para 6 de novembro próximo. Continua o Presidente: “A China tem interesse em participar. E é bom para todos nós. Nunca seremos 100% afinados [com a China], mas na questão econômica, acredito que estamos bem próximos”. No mesmo contexto da visita, tratou do caso da China Nacionalista, visitada por ele como manifestação de solidariedade quando deputado. Todos sabem, Taiwan está separada do continente por razões ideológicas, meritoriamente não quer se submeter à tirania comunista. O presidente brasileiro elogiou a posição do embaixador chinês no Brasil, relativa à soberania: “China única e Brasil único”. “Quando passei por Taiwan, era apenas um parlamentar de passagem, não foi visita oficial” Era necessária a bofetada gratuita na resistente Taiwan, isolada e fraca na defesa de seus interesses legítimos, credora de justos elogios?
Adiante. Empavonou-se Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, que esteve agora na China: “A China tem sido importante parceiro e investidor no setor de mineração e de energia no Brasil [calou que parceiros e investidores são as estatais chinesas]” E continuou: “No setor de mineração, há empresas chinesas fazendo investimentos no Brasil, principalmente na área de fosfato e nióbio e também de petróleo e gás. Acreditamos que agora, com a abertura do mercado de gás, a China terá uma importante participação, principalmente na infraestrutura deste importante setor para a reindustrialização do país.” [China e empresas chinesas são aqui eufemismo para estatais chinesas].
Faço um desafio, mostrem-me documento do PT, um só, que censure a aplicação de capital no Brasil por estatais chinesas, prática agora estimulada pelo atual governo. O PT sabe que a presença forte de estatais dirigidas pelo Partido Comunista Chinês na economia brasileira favorece seu objetivo de amarrar o Brasil ao bloco socialista em ascensão.
Uma vez mais, adiante. Transcrevo a seguir recente documento oficial, texto já divulgado em meu último artigo, da lavra do Conselho Empresarial Brasil-China intitulado “China – Direções globais de investimentos 2018”, responsabilidade conjunta do Conselho Empresarial Brasil-China e da Apex. A linguagem é cauta, aveludada, não é escarrapachada como a minha, mas a realidade descrita é a mesma: “Outro ponto que desperta receio é a forte presença das empresas estatais no processo de internacionalização. Nesse sentido, alguns países como os Estados Unidos, Alemanha, França, entre outros têm elevado os padrões de avaliação para a entrada do investimento chinês sob a justificativa de proteção de áreas estratégicas (World Investment Report, 2017)”. Sugestão do documento citado: “O sistema regulatório de concessões deve ser acompanhado para que não se criem monopólios de empresas estatais em áreas de infraestrutura”.
Ainda do meu artigo último a respeito: “Ou seja, Estados Unidos, Alemanha, França entre outros países de importância, temem investimento estatal chinês e querem colocar limites, regulamentar ▬ pôr o sarrafo mais alto. Na linha de grandes potências do mundo ocidental, ecoando a preocupação, o Conselho Empresarial Brasil-China e a APEX alertam para o risco de monopólios chineses estatais em áreas da infraestrutura no Brasil”
Continuava o artigo: “Sei uma coisa, estamos merecendo o título ignóbil de campeões mundiais da imprudência, pois nos despreocupa a soberania nacional, independência e interesses estratégicos, levados a sério nos Estados Unidos, Alemanha, França e em tantos outros países, como afirma o referido relatório”.
Vou terminar. Constato com tristeza e falo como observador que viu com simpatia e até entusiasmo medidas da presente administração. Mas no caso das relações com a China, a realidade diáfana deixa ver, a presente administração está percorrendo a mesma trilha já palmilhada pelo governo FHC, transitada com entusiasmo pelos governos Lula e Dilma, continuada na gestão Temer. Dei a esse artigo o título “Preocupa”. Foi equívoco. A realidade não apenas preocupa; alarma, assusta, apavora. Que Deus nos ajude!
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
Jesus afirmou que é Rei, mas não deste mundo. Quando Pilatos o interrogou, “És porventura rei?”, Ele respondeu: “Sim, eu sou rei!” (Jo 18,37). Mas, “meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado, para que eu não fosse entregue aos judeus” (Jo 18,36). O Reino de Cristo é o Reino dos Céus; que Ele veio inaugurar, e disse que “já estava no coração” dos homens. Ele quer reinar em nós, não no mundo. Ele quer o nosso coração, nada mais.
Cristo não reina na glória e no poder dos homens, mas nos corações dos “pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Ele reina nos mansos, nos pacíficos, nos construtores da paz, nos puros de espírito, nos misericordiosos, nos que sabem perdoar, enxugar as lágrimas dos irmãos, dos aflitos, dos que têm sede e fome de justiça, dos que são perseguidos por causa Dele.
Ele é Rei porque venceu; não no triunfo do poder humano, mas na vitória contra o Mal e contra o pecado e morte: “Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o Nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor” (Fp 2,8-11).
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8 coisas que talvez não sabia sobre a Festa de Cristo Rei
Logo no início o livro do Apocalipse revela a Majestade do grande Rei: “Jesus Cristo, testemunha fiel, primogênito dentre os mortos e soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, que nos lavou de nossos pecados no seu sangue e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus e seu Pai, glória e poder pelos séculos dos séculos! Amém. Ei-lo que vem com as nuvens. Todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o traspassaram. Por sua causa, hão de lamentar-se todas as raças da terra. Sim. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele que É, que era e que vem, o Dominador” (Ap 1,5-8).
“O seu rosto se assemelhava ao sol, quando brilha com toda a força… Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,16-18).
Ele é Aquele que “segura as sete estrelas na sua mão direita” (Ap 2,1); “que tem a espada afiada de dois gumes” (2,12); “que tem os olhos como chamas de fogo” (2,18); “Aquele que tem a chave de Davi – que abre e que ninguém pode fechar; que fecha, e ninguém pode abrir” (3,7); “o princípio da criação de Deus” (3,14). “Ele é Leão da tribo de Judá, o descendente de Davi” (5,5).
Os anjos cantam sem cessar: “Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor” (5,12). “E todas as criaturas do céu e da terra, debaixo da terra e no mar, e tudo que contém, clamam: “Aquele que se assenta no trono e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos séculos. Amém!” (5,11-14). Por isso o povo canta com alegria: “Ao que está assentado no trono e ao Cordeiro seja o louvor, seja a honra, seja a glória, seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!”
Assista também: Como devemos viver a Festa de Cristo, Rei do Universo?
Esse é nosso Rei e Senhor; um Rei diferente. Seu reinado é diferente; seu berço foi um cocho; sua casa foi um buraco na rocha; seu púlpito um barco, sua corte a natureza, seu veículo um jumentinho, sua glória é servir e seu trono é a Cruz. Que Rei diferente! Mas é Dele o Reino dos Céus, que “olhos humanos jamais viram, ouvidos humanos jamais ouviram e coração humano jamais sentiu, o que tem preparado para os que o amam” (1 Cor 2,9).
Mas, por ser o “Rei dos Reis”, Ele é exigente, e tem que ser mesmo. Como o seu Reino se assenta em nosso coração, Ele não aceita dividi-lo com outros reis. Ele exige a renúncia ao nosso eu que quer tomar o Seu lugar no trono do nosso coração. “Renuncie a ti mesmo, tome a cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Perca a sua vida para ganha-la. É um Rei que sabe o que quer; e sabe que nos quer dar o melhor; a alegria eterna e infinita; por isso arranca dos nossos corações os falsos reis.
Esta é a nossa grande decisão: a que rei vamos entregar o nosso coração?
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
Cristo disse: "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19,24). Comentando esta afirmativa do Senhor, Clemente de Alexandria – século III – falou que as riquezas são dadas ao homem pela munificência de Deus bom; assim, não são nem boas nem más, pois é o homem que lhes dá a sua qualificação ética. E não são elas que precisam ser destruídas, mas os vícios do coração – que provocam a avareza dos que as possuem e a cobiça dos que não as têm.
São Basílio, bispo de Cesareia no século IV, se insurgiu contra a ganância em numerosos textos: "Possuir mais do que o necessário é prejudicar os pobres, é roubar”. "Quem despoja um homem das suas vestes, terá nome de ladrão, e quem não veste a nudez do mendigo quando o pode fazer, merecerá outro nome?”. “Ao faminto pertence o pão que tu guardas; ao homem nu, o manto que fica nos teus baús; ao descalço, o sapato que apodrece na tua casa; ao miserável, o dinheiro que tu guardas enfurnado".
E no século V, Santo Agostinho comentou: "Vemos, às vezes, que um rico é pobre e o pobre oferece-lhe seus préstimos. Eis que alguém à beira de um rio e, quanto tem de posses, tem de delicado, não conseguirá atravessar; se tirar a roupa para nadar, teme resfriar-se, adoecer, morrer... Chega um pobre, mais robusto e preparado, ajuda o rico a atravessar e faz esmola a ele”.
Portanto, não são pobres somente os que não têm dinheiro. Observe, você também, em que é pobre, porque, com certeza, é rico sob outro aspecto e poderá prestar ajuda a muita gente. Talvez fosse melhor ajudar alguém com seus braços do que se ajudasse com dinheiro. Deus é quem nos dá tudo e nós apenas repassamos – todos recebemos Dele, o único rico do universo.
Certa ocasião, João Paulo II fez um breve resumo sobre o Salmo 8: Grandeza de Deus e dignidade do homem. Ele disse: "Queridos irmãos e irmãs! O domínio do homem, que o Salmo 8 nos narra extasiado, não pode ser exercido humilhando os nossos semelhantes e a criação. O apelo e a esperança do salmista encontrará plena realização em Jesus Cristo, que 'não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos' (Mc 10,45). Ele é o homem perfeito; domina o universo com a força da paz e do amor, que preparam os novos céus e a nova terra".
Com estas palavras do Papa em relação ao ‘domínio desumano do homem no mundo’, o que mais dizer? Se o próprio Deus nasceu pobre e se humilhou, haverá de entrar no Céu aquele que acumula tesouros e humilha o semelhante?
Conta-se que um velho analfabeto rezava com tanto fervor a cada noite que, certa vez, o rico chefe da grande caravana que viajava chamou-o e perguntou:
- Por que reza com tanta fé? Como você sabe que Deus existe, quando nem ao menos sabe ler?
O fiel cristão respondeu:
- Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?
- Pela assinatura!
- Quando recebe uma joia, como é que se informa quanto ao autor dela?
- Pela marca do ourives!
- E quando ouve passos de animais ao redor da tenda, como tem certeza, depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?
- Pelos rastros, é claro!
Então, mostrando-lhe o céu, onde a lua brilhava cercada por multidões de estrelas, o fervoroso velho falou respeitoso:
- Senhor, e aqueles sinais lá em cima? Não podem ser dos homens, concorda?
Naquele momento, o orgulhoso caravaneiro, já com os olhos lacrimosos, esqueceu-se da sua ‘riqueza’, ajoelhou-se na areia e também começou a rezar.
Pois é, nesse nosso mundo globalizado e cheio de correrias, tudo gera explicações e preocupações. Quem trabalha com computadores, se desespera quando a internet não funciona; quem só pensa em investimentos, quebra a cabeça para não vir a perder um centavo sequer... E a vida espiritual, como fica? Quantos se preocupam com as ricas novenas que acontecem na cidade ou com os famintos que sofrem calados?
A vida de Frei Pio – 758o santo da Igreja quando canonizado – era rica em miséria e sacrifícios. Em 1912, ele assim escreveu: “Deus escolhe as almas e, entre elas, apesar da minha indignidade, escolheu também a minha para ter uma ajuda na grande obra da salvação humana. Há algum tempo sinto a necessidade de entregar-me ao Senhor como sacrifício pelos pobres pecadores. Suplico-lhe que envie sobre mim os castigos preparados aos pecadores, multiplicando-os, contanto que os mais pecadores se convertam”. Viveu, portanto, como um rico instrumento nas mãos de Deus.
Após todas essas reflexões, podemos concluir que a riqueza é, pois, indiferente: nem boa, nem má. O coração do homem é que a torna boa ou má. Quem está apegado às riquezas materiais, dificilmente entrará no Reino de Deus, mas quem não tem o coração preso às coisas do mundo, esse poderá entrar no Céu.
Santa Madre Tereza de Calcutá dizia: “A vida é uma oportunidade, aproveite-a. A vida é beleza, admire-a. A vida é um sonho, torne-o realidade. A vida é um desafio, enfrente-o. A vida é um dever, cumpra-o. A vida é preciosa, cuide dela. A vida é uma riqueza, conserve-a. A vida é um mistério, descubra-o. A vida é tristeza, supere-a. A vida é um hino, cante-o. A vida é uma luta, aceite-a. A vida é a vida, defenda-a”.
Eu diria que viver uma experiência religiosa é se fazer pobre para ser digno de viver como filho rico do Criador e alcançar o seu Reino após a morte. Você já experimentou viver assim?
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
Queria vê-los todos crepitando!
Jogado ao fogo cada verso feito!
Até mesmo os de agora que ainda ando
a ouvir das Musas mal levanto ou deito.
Junto queimaria ao vê-los queimando...
Eu, que nenhum sequer jamais enjeito.
Queimo só por pensar – e estou pensando...
Queima-me o pensamento; arde-me o peito.
Mesmo assim jogaria à brasa ardente
estrofe a estrofe... rima a rima... tudo!
Sim, o faria sem hesitação...
Porque merece mais, incandescente,
a ideia virar brasa do que ir, mudo,
à estante, congelado, o verso em vão.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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Jornal católico da cidade do Porto - Portugal
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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL
Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confisões.
https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes
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22 de novembro é dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos. Condenada à morte por sua atividade cristã, durante três dias e três noites ela ficou entoando cantos de louvor a Deus. Por isso hoje, em sua reverência, também é comemorado o dia do músico.
Todos nós temos uma admiração especial pelos profissionais da música. Eles podem ser arranjadores, intérpretes, regentes e compositores. Há quem diga que os músicos devem ter talento nato para isso, mas independente de tal circunstância, existem cursos superiores na área e pessoas que estudam música a vida toda.
O músico pode trabalhar com música popular ou erudita, em atividades culturais e recreativas, em pesquisa e desenvolvimento, na edição, impressão e reprodução de gravações. A grande maioria trabalha por contra própria, mas existem os que trabalham no ensino e os que são vinculados a corpos musicais estaduais ou municipais.
Independente como atuam, os músicos trazem alegria e emoção com suas atividades. Pode-se dizer que são poetas que soam através de suas melodias. Reverenciamos a todos que receberam este dom divino de cantar, compor ou tocar um instrumento, com os votos sinceros de que suas músicas contribuam para a construção de um mundo cada vez melhor. Ser músico é ser um artista da vida construindo emoções
São aqueles que sem querer penetram em nossos sentimentos e corações.
DIA NACIONAL DE AÇÃO DE GRAÇAS
Celebra-se amanhã, de forma ecumênica, o DIA DE AÇÃO DE GRAÇAS, que surgiu de uma tradicional festa norte-americana de Massachussets, quando alguns ingleses realizaram no outono de 1620, um jantar em agradecimento a Deus, por terem sobrevivido ao frio e aos inúmeros problemas próprios do processo regional de colonização. Essa festividade foi instituída no Brasil em 16 de agosto de 1949 pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e regulamentada em 1966. No entanto, são inúmeras as críticas às suas celebrações já que muitos entendem que ela copia tradições dos Estados Unidos.
No entanto, apesar dessas posições, a comemoração deveria se embasar num nível espiritual, capaz de inspirar as pessoas a resgatarem o sentimento de gratidão como uma forma simples de acreditar no valor da vida, na importância da convivência pacífica, na esperança de que é possível superar a fome, o desemprego e a violência, a anular preconceitos, derrubar barreiras e aproximar os indivíduos. E principalmente, restaurar a lei do amor e da gratidão a Deus por tudo que conquistamos e por obtermos um relacionamento fraterno, reintroduzindo nas pessoas, o cumprimento do ‘muito obrigado’, já que a sociedade consumista nos afasta da solidariedade e da fraternidade, tornando-nos menos amistosos. Alguns indivíduos, com certeza, fazem o bem por opção e formação próprias. Mas não custa nada agradecermos pelos gestos de boa-vontade que constantemente nos são outorgados por amigos, vizinhos, parentes e às vezes, até por quem não conhecemos.
BREVE REFLEXÃO
“A ingratidão é o inimigo da alma: desvirtua o merecimento, estraga as virtudes, corrompe os benefícios! A ingratidão é vento abrasador que seca a fonte da benevolência divina” (São Bernardo)
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)
A pizza, tradicionalíssimo prato popular italiano, aclimatou-se bem no Brasil, sobretudo em São Paulo, e até se naturalizou brasileira. Na Itália, era inicialmente a simples (mas genial) combinação de três elementos pobres e baratos, que estavam ao alcance de todos, ricos ou pobres, camponeses ou citadinos: massa de pão, tomate e queijo.
Fundamentalmente, há dois tipos de pizza, a romana e a napolitana. A romana é geralmente de massa fina e crocante, a napolitana tem a massa mais grossa e penetrada pelo molho. De um modo geral, pizzas com coberturas de gosto forte (como aliche ou gorgonzola) combinam melhor com a massa grossa. Mas gosto não se discute, uns preferem de um jeito, outros preferem de outro. As boas pizzarias geralmente têm um estilo próprio, conforme o pizzaiolo e o marketing do estabelecimento. Mas a tendência que vai se impondo em São Paulo é cada pizzaria fazer a pizza conforme o gosto do freguês, fina, média ou grossa, com borda recheada ou sem recheio.
As pizzas tradicionais eram apenas as de mussarela, de aliche, e a margherita. Quando muito se admitiam, como variante, pizzas mezzo a mezzo, combinando em partes iguais dois sabores. Foi modismo brasileiro a criação de dezenas de tipos de pizza, com combinações das mais inesperadas. E até pizzas doces foram criadas, o que, para paladares tradicionalistas é quase um sacrilégio.
No Rio de Janeiro, costuma-se colocar ketchup na pizza. Em Goiás, carrega-se a pizza com molho de pequi. Já vi uma pessoa que gostava de comer pizza acompanhada com pão. Enfim, há gosto para tudo...
Mas, para bons entendedores, a massa, mais do que o recheio, é o que determina se uma pizza é boa ou não. A qualidade da farinha é essencial. A temperatura e a umidade do ar podem determinar variações no sabor da massa. O tempo de levedura também precisa ser bem medido. A temperatura do forno, há que ajustá-la bem. Se for elevada demais, a massa grossa ficará tostada por fora, mas crua por dentro. E se for baixa demais, a massa ficará muito tempo no forno, ressecará e ficará parecendo um biscoito.
Um segredinho que só conto para meus amigos: se você quiser fazer uma pizza leve, gostosa, bem assada e com a massa impregnada do sabor do molho, é importante fazer bem a massa e assá-la na temperatura adequada. Mas muito mais importante é a forma de abrir a massa.
A regra de ouro é nunca usar o rolo de pau para abrir a massa. Esse instrumento abominável devia ser proibido nas pizzarias. Ele sem dúvida facilita o trabalho do pizzaiolo relaxado e simplificador, mas estraga completamente a pizza.
Por quê? Por uma razão muito simples e fácil de entender. A massa contém milhares de micro-bolhinhas de ar. Quando ela é aberta manualmente (ou girando no ar com os dedos, como sabem fazer os bons pizzaiolos), essas bolhinhas não se rompem. Dentro do forno, com o calor, elas se dilatam, resultando uma massa leve, aerada e com o molho penetrando bem e dando gosto à massa.
Se se usa o maldito rolo, o que acontece? O tecido da massa é agredido e traumatizado, as bolhinhas são violentamente estouradas, e o resultado é a massa dura e sem gosto.
Experimente e verá...
Nas regiões espanholas da Catalunha e de Valência, existe um prato típico que guarda certa semelhança com a pizza. Chama-se “pa amb tomàquet”, ou seja, pão com tomate. É ainda mais simples do que a pizza. É um pedaço de pão ligeiramente tostado, sobre o qual se esfrega inicialmente um dente de alho, para dar o gosto. Em seguida, se esfrega metade de um tomate cru, bem maduro e sumarento, para embeber o pão e se põe um pouco de sal e azeite de oliva. Costuma-se comer de manhã, na primeira refeição, ou como primeiro prato, abrindo o almoço ou o jantar. É simplíssimo, mas é delicioso, posso garantir. Já tentei fazer aqui, mas não fica igual.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras e professor da Unisul. Também é Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
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