Há poucos dias perdi um amigo. Por mais triste que seja, é inegável que se foi desse mundo como muitos anseiam. Adormeceu e foi levado por Morpheus para terras menos áridas. A morte o levou desacordado e gosto de pensar que ele acordou do outro lado, como quem chega de um sonho. Para a derradeira viagem da existência, foi de primeira classe, privilégio de poucos.
Meu amigo Shigueyuki tinha 80 anos, mas alma de moço. Mandava e-mails, tinha redes sociais e fazia posts engraçados, quase sempre com animais de estimação da família. Conversávamos pelo Messenger, o aplicativo de bate-papo do Facebook. Ele me atualizava sobre as notícias da Academia Linense de Letras, da qual nós dois somos titulares.
Sobre a Academia, inclusive, é preciso que eu diga que ele foi um dos maiores incentivadores do meu ingresso e foi através dele que estive lá em alguns momentos que me foram muito importantes. De várias formas, apenas pela amizade, ele foi a minha voz em um local que, por muito que me honre participar, pouco pude em todos esses dez anos estar presente.
Jornalista de formação, também era formado em Direito. Na internet costumava atualizar a colônia japonesa sobre os falecimentos ocorridos, sobretudo dos mais idosos. Espero que alguém o tenha substituído nessa tarefa, inclusive para noticiar o passamento dele e espero também que lhe tenham feito jus.
Fico imaginando o que ele mesmo escreveria sobre isso. Penso que mencionaria as pessoas que lhe eram importantes, mas que terminaria o texto com um “saí de férias, mas volto qualquer hora dessas” ou algo do tipo. Duvido que não fizesse graça com a situação, porém da forma que lhe era habitual, de forma inteligente e sutil. Não deixaria para os seus a marca única da tristeza.
Como sempre, não estamos preparados para morte, ainda mais quando a pessoa não está doente ou não aparenta estar. Sempre imaginamos que haverá tempo para reencontros, para conversas. Nunca há, em verdade. Vivemos ignorando que nos equilibramos em uma linha invisível e frágil chamada vida. Sequer sabemos até que ponto podemos estica-la. Só seguimos fingindo que caminhamos sobre terra firme.
Pois então meu amigo, como sempre, as despedidas ficaram no ar, pois o fio se rompeu e agora você pertence a outro lugar, aquele sobre o qual tecemos teorias, mas que desconhecemos por experiência ou do qual não nos é dado recordar. Aceite o meu carinho deixado nessas linhas, junto com a minha gratidão por todos esses anos de uma amizade improvável, mas que se realizou.
A Academia Linense de Letras perde um de seus membros fundadores, o titular da cadeira n. 22, cujo patrono é Norberto Masaru Kondó. Ficamos todos empobrecidos com sua ausência, mas acalantados com a certeza de que seu legado é muito maior do que sua vida terrena. Lembraremos do seu sorriso, da sua disposição em ajudar e do seu jeito de eterno menino. Imortal que foi, imortalizado que será. Vá com Deus! Até qualquer hora dessas!
Cinthya Nunes é jornalista, professora universitária, advogada e nunca deixa de lamentar as ausências que a existência impõe – cinthyanvs@gmail.com
A Mansão dos Mortos não é o Purgatório; era apenas o estado de vida das almas que morreram antes de Jesus morrer.
O Credo ensina que “Jesus desceu à mansão dos mortos”. Isso significa que, de fato, Ele morreu e que, por Sua morte por nós, venceu a morte e o diabo, o dominador da morte (Hb 2,14). São João disse que Ele veio a nós para “destruir as obras do demônio” (1 Jo 3,8). “Ele foi eliminado da terra dos vivos” (Is 53,8). “Minha carne repousará na esperança, porque não abandonarás minha alma no Hades nem permitirás que teu Santo veja a corrupção” (At 2,26-27).
Leia também:
Mansão dos mortos
A descida do Senhor à mansão dos mortos
O Purgatório nas Escrituras
Jesus morreu, mas Sua alma, embora separada de Seu corpo, ficou unida à Sua Pessoa Divina, o Verbo, e desceu à morada dos mortos para abrir as portas do céu aos justos que o haviam precedido (cf. Cat. §637). Para lá foi como Salvador, proclamando a Boa Nova aos espíritos que ali estavam aprisionados. Os Santos Padres da igreja dos primeiros séculos explicaram bem isso. São Gregório de Nissa (†340) disse: “Deus [o Filho] não impediu a morte de separar a alma do corpo, segundo a ordem necessária à natureza, mas os reuniu novamente um ao outro pela Ressurreição, a fim de ser Ele mesmo, em Sua pessoa, o ponto de encontro da morte e da vida, e tornando-se, Ele mesmo, princípio de reunião para as partes separadas” (Or. Catech., 16: PG: 45,52B).
São João Damasceno (†407), doutor da Igreja e patriarca de Constantinopla ensinou que: “Pelo fato de que, na morte de Cristo, a Sua alma tenha sido separada da carne, a única pessoa não foi dividida em duas pessoas, pois o corpo e alma de Jesus existiram da mesma forma desde o início na pessoa do Verbo; e na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada um com a mesma e única pessoa do Verbo” (De fide orthodoxa, 3, 37: PG 94, 109 BA).
A Escritura chama de ‘Morada dos Mortos’, Inferno, Sheol ou Hades, o estado das almas privadas da visão de Deus; são todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor. Mas o destino deles não é o mesmo como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro recebido no “seio de Abraão”. Jesus não desceu aos infernos (= interior) para ali libertar os condenados nem para destruir o inferno da condenação, mas para libertar os justos, diz o Catecismo (§ 633).
FELIPE AQUINO - Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.
O menino é de vivência de derrota, resultante da turbulência de sua história. Silencia sobre o pai e a mãe possui alguns limites. Não se furta, contudo, do direito de abraços, de presentear as pessoas com desenhos e de elogiá-las. É a sua forma de criar laços. Bom não se fechar em concha.
Semana passada, desenhou, como lembrança de seu primeiro presente, um super-herói, segundo ele. Quis saber qual era a personagem, por não identificá-la. Enrolou-se todo para explicar e me disse que era um super-herói que caíra. Indaguei sobre onde caíra. Não conseguiu me dizer.
Observando melhor, deve ser uma mistura do pai com ele. Desejaria que o pai fosse um super-herói, porém ele “tombou” nas guerras do cotidiano. Os lábios costurados e as sobrancelhas diferem no traçado. Pode-se traduzi-la como uma figura disforme. E, além disso, encontra-se solta no ar, sem chão. Cortando o rosto, uma corda cru e azul. Essa corda, na categoria infantil, significa atenção e respeito pela capoeira.
Conclui-se que o pai não lhe dá segurança e que, ao aparecer, com o propósito de evitar atritos e pancadas, é melhor ficar de boca hermeticamente fechada.
A esperança paterna do menino está na corda cru e azul, como na ladainha da capoeira Angola do Mestre Poloca: “Já tomei todos cuidados/ Só falta o meu benzer./ Meu mestre me deu conselho,/ Faça seu saber valer,/ Use calma e inteligência, / Tudo pode acontecer./ Quando menos se esperar,/Chance vai aparecer”.
É isso!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
“E vós cruzais os braços... Covardia!
E murmurais com fera hipocrisia:
- É preciso esperar...
Esperar? Mas o quê? Que a populaça,
Este vento que tronos despedaça,
Venha abismos cavar?”
Castro Alves
Ser omisso é pecar silenciosamente, tal um lavar de mãos nas águas poluídas da covardia. Omitir a verdade, silenciar num momento crucial de esclarecimentos, é sem dúvida o maior pecado da humanidade. Por omissão, nosso Brasil foi dilapidado, nossos índios dizimados, nossa riquezas continuam a seguir viagem para o exterior. Pelo pecado da omissão os lixões se tornam campos de coleta de alimentos para os miseráveis. Por omissão deixamos que nossos trabalhadores estendam as mãos para receber o vale refeição, o vale leite, o vale gás, a cesta básica, a bolsa família, acanhadas oferendas que abocanham sorrateiras a dignidade dos cidadãos.
Por omissão acatamos a escravidão branca que silenciosa transforma homens em verdadeiros encarcerados do poder, como se fossem incapazes, dependentes, fracos, impotentes, enfim, meros tutelados. Agraciados pelo pecado da omissão, centenas de idosos, sob a chuva fria e de pés descalços, seguem atrelados às carroçinhas arrastando as dores da hipocrisia pelas grandes avenidas. Por omissão desabam prédios mal construídos, enchentes escandalosas continuam acontecer, a pena de morte sem julgamento permeia os bairros e os grandes centros. Pelo pecado da omissão, assassinos continuam em liberdade, crianças passam fome e falsários continuam a usar o povo em nome da reforma agrária.Por omissão, a verdade se cala, o erro gargalha, lágrimas continuam a brotar dos olhos da população. Os direitos dos trabalhadores são esquecidos, os desvios de verbas continuam enaltecidos, os desfalques tornam-se coisas banais, nossos rios permanecem poluídos e as flores fenecem. Por omissão as escolas estão abandonadas, os professores mal remunerados e a qualidade do ensino não chega a galgar os portões.Ser omisso é deixar a injustiça campear nosso país, ver nossos brasileiros em estado de miséria, bater palmas para a corrupção. Estar em pecado de omissão é fingir felicidade quando estamos em prantos, é apertar mãos que nos algemam, é estar morto apesar de viver, é ter vergonha de lutar por verdadeiros ideais, é viver na eterna função de um “lambe-botas”, é ser verme e deixar-se pisar.
Valderez de Mello - Escritora, advogada, pedagoga, psicopedagoga Autora do livro: Lágrimas Brasileiras/ valdemello@gmail.com
Um dia li que a BBC Brasil divulgou que o britânico Gareth Malham vendeu sua alma – em um site de leilões na internet – por cerca de R$ 45,00. O artista, de 26 anos, colocou um anúncio no ‘eBay’ e sua alma foi comprada por um morador do Estado de Oklahoma, nos Estados Unidos. Segundo Malham, o comprador queria uma nova alma porque havia perdido a sua num jogo de hóquei, e confirmou que fecharia o acordo assinando um documento com o seu próprio sangue!
O tal artista, natural da cidade de York, se formou em fotografia, vídeo e digitalização de imagens na Universidade de Sunderland e tinha um emprego de meio expediente no departamento de fotografia da própria universidade. Começou a vender coisas pela internet porque passava por uma situação financeira difícil. Logicamente, representantes da Igreja Católica disseram que o leilão abre um precedente muito perigoso.
Que absurdo! O pior é pensar que, se a moda pega, talvez milhares de pessoas saiam às ruas oferecendo o maior tesouro que possuem por um preço de banana! É isso que a Igreja deve ter imaginado ao fazer o seu protesto. Mas, será que podemos concluir que, quem venderia a alma, não acredita na vida eterna e, quem a compraria, pensa que realmente estaria se salvando com essa transação?
É até difícil comentar o assunto de tão fantasioso que parece, afinal, a nossa alma não nos pertence no sentido que o britânico imaginou. É impossível trocá-la ou vendê-la, graças a Deus; contudo, quem tentar fazê-lo, acaba mesmo por perdê-la, mas sem nada em troca.
As dezenas de casos que aqui já contei provam que muita gente acredita na salvação e, portanto, sabe que a nossa alma não poderá estar manchada de pecados no momento da morte. Como eu também tenho certeza disso, contarei mais algumas histórias para exemplificar a importância da nossa maravilhosa e inegociável alma.
Um garoto vivia só com o pai e ambos tinham uma relação muito especial. O jovem pertencia à equipe de futebol da escola e quase nunca tinha oportunidade de jogar, mas, mesmo assim, seu pai permanecia sempre torcendo no alambrado.
Ele amava jogar futebol e não faltava a nenhum treino ou jogo, pois estava decidido a dar o máximo de si e se sentia muito comprometido com o grupo. Os meninos do 2º grau o chamavam de ‘esquenta banco’, porque era um eterno reserva, porém, o pai, com espírito lutador, sempre estava dando o melhor apoio que um filho poderia esperar.
No final da temporada, e justo alguns minutos antes de começar o primeiro jogo das eliminatórias, o diretor da escola lhe deu uma triste notícia: seu pai havia falecido. O menino respirou fundo e, tremendo, disse ao treinador de futebol: ‘Meu pai morreu esta manhã. Existe algum problema se eu não jogar hoje?’ O técnico o abraçou e falou: ‘Fica o resto da semana de folga, filho, e nem se preocupe em vir na final de sábado’.
Na decisão, a equipe do menino tinha dois gols de desvantagem quando o jovem entrou no estádio e, já uniformizado, correu até o treinador. Todos ficaram impressionados ao vê-lo regressando e, ele, insistiu tanto para jogar que, finalmente, o treinador deixou.
Minutos depois, poucos podiam acreditar no que viam: o pequeno desconhecido do público, que nunca havia participado de algum jogo, estava sendo brilhante e ninguém conseguia detê-lo em campo – corria fácil e driblava como ninguém. Sua equipe começou a fazer gols até ganhar com um golaço do ‘menino craque’. As pessoas que estavam nas grades gritavam emocionadas e, todos os jogadores, o levaram carregado até a torcida.
Finalmente, quando tudo terminou, o técnico notou que o jovem estava sentado quieto num canto. Aproximou-se e disse-lhe: ‘Garoto, não posso acreditar. Você esteve fantástico! Conte-me, como conseguiu?’ O rapaz olhou para o professor e explicou: ‘O senhor sabia que meu pai era cego? Veio em todos os jogos sem poder enxergar, mas, hoje, foi a primeira vez que ele realmente me viu jogar e eu quis mostrar-lhe que podia se orgulhar de mim’.
Emocionante, não? Ainda bem que o pai do garoto não vendeu a alma e continua até hoje torcendo por ele! Mas, o britânico Gareth Malham, se não se arrepender a tempo da besteira que fez, vai acabar presenciando de perto um outro tipo de história, semelhante a esta:
Uma alma condenada passou séculos implorando que alguém a tirasse do sofrimento, até que, um dia, ouviu uma voz do alto: ‘Você poderá subir ao Céu se prometer amar seus irmãos de todo o seu coração’. Feliz, a alma do inferno logo concordou e, de repente, viu um fio de teia de aranha descendo até lá.
Mesmo duvidando que aquele fiozinho pudesse resistir, começou a subir rapidamente quando percebeu que, atrás, outras almas subiam também. Furiosa, passou a gritar: ‘Larguem! Esse fio foi enviado a mim! Vocês irão arrebentá-lo, idiotas!’ E o fio, realmente, se rompeu.
Como é difícil cumprir a promessa de sempre amar a todos, hein! Acredito que é muito mais difícil no inferno... credo! E, para encerrar as histórias de hoje, eis mais uma para você refletir e passar a cuidar melhor da sua alma:
No mês passado, olhando para a Terra, Deus viu todo o mal que se passava aqui e decidiu enviar um anjo para investigar. Quando o anjo regressou, relatou ao Senhor: ‘Sim, a Terra é 95% má e 5% boa’. Deus disse: ‘Isso não me agrada. Vou mandar uma carta aos 5% das pessoas boas do mundo para dar-lhes ânimo. Quero pedir que não desistam e que sigam evangelizando, sem perder a fé’. E assim o fez.
Você recebeu a carta? Não? Então, vamos procurar melhorar, porque eu também não a recebi!
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
Hoje quero ser todo mundo. Sei não, anda sumido todo mundo, precisa de quando em vez aparecer e dar o ar da graça. Areja, todo mundo não é romântico, fantasia pouco, tem os pés no chão.
O baiano (soteropolitano) Acelino “Popó” Freitas foi tetracampeão mundial de boxe em duas categorias. Grande carreira no esporte. A seguir, tentou outro ringue, a política e nele se deu mal. Em 2010, pelo PRB elegeu-se suplente de deputado federal com 60.216 votos ▬ exerceu o mandato. Em 2014, tentou de novo, perdeu a eleição, obteve 23.017 votos. Em 2018, outra derrota, não passou dos 4.884 votos. Tomou do eleitorado um direto no queixo.
Desiludiu-se com a política; hoje afirma: “A população é muito corrupta. Ela consegue ser até mais corrupta que o próprio político. Ela só quer o seu voto se você der uma dentadura, uma cesta básica, um material de construção, bola, colete. Não tinha dinheiro. Sem dinheiro, você não vai. ‘E aí, vai me dar quanto pra gente conseguir um monte de voto aqui no bairro?’. ‘Não tenho’, eu respondia. ‘Então, tchau. Tem outro aqui fazendo oferta pra gente’”.
Em português sofrível, Popó explica o dia a dia do político normal – e ele era deputado federal, imagine o deputado estadual e o vereador: “A minha chateação é porque eu percebi que ser político é você ser errado. [...] Se eu fizesse tudo errado, ou eu estava preso, ou ganhava a reeleição. [...] Só para Salvador eu mandei quase R$ 7 milhões para Neto de emenda. E com projetos, para academias sociais debaixo de viadutos, construção de quadras. Esse projeto eu destinei alguns projetos para a Rótula do Abacaxi, para todos esses novos viadutos. Eu destinei alguns projetos já com verba, já com tudo 3D para a Secretaria de Esportes. E não saiu. E o estado que mais dá títulos à Bahia é o boxe. Fiz como deputado federal mais de 70 projetos de lei [...] E quando as pessoas vinham para me ajudar... eu dizia: 'Eu faço esse campo e um posto de saúde e em contrapartida eu quero que vocês me apoiem.' Aí o pessoal dizia: 'Não, eu quero que você banque mais de 40 pessoas por mês com mais de R$ 1 mil de salário'. A própria população se torna mais corrupta que o deputado. E aí eu senti na pele o que é ser político, o que é fazer política”.
Exposição um tanto confusa, mas dá para entender. Popó compreensivelmente queria votos como retribuição por ter conseguido o dinheiro para melhorias na Bahia. Precisava deles para continuar na política. Todo mundo sabe, deputado age assim, cabem nos dedos da mão as exceções. Os eleitores exigiam mais. Popó não tinha mais. Perdeu. Resumiu o que todo mundo sabe, sem dinheiro você não vai.
Como sem dinheiro a coisa não vai, uma forma para ir é arrancar da viúva a bufunfa para as campanhas. Dinheiro público, autorizado, tudo legal. Todo mundo deblatera ▬ e com razão ▬ contra as verbas públicas bilionárias jorrando no bolso dos partidos (Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos e Fundo Especial de Financiamento de Campanha). São verbas para campanhas de autopromoção, entre outras necessidades prementes, retiradas da construção de postos de saúde e escolas.
Não bastam os dois fundos referidos. Saem outras verbas para campanhas dos cargos em comissão, e aí é preciso não esquecer as rachadinhas. Os titulares dos cargos em comissão, além de ter algumas vezes de rachar o salário com o eleito, muitas vezes são apenas cabos eleitorais. Única função: cabos eleitorais por quatro anos pagos com dinheiro público, milhares Brasil afora. Fabrício Queiroz, do ramo, há pouco foi gravado dizendo: “Tem mais de 500 cargos lá na Câmara, no Senado. Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles em nada, em nada. Vinte continho para a gente caía bem [...] Um salariozinho bom desses aí, cara, para a gente que é pai de família, caía igual a uma uva”.
Sem dinheiro, você não vai, fica parado, constatou o boxeador nocauteado em ringue dominado por profissionais de outro esporte. Tem ainda tem o caixa 2. Todo mundo sabe, muitos doadores não querem aparecer nas listas oficiais, mas aceitam ajudar. “Toma aqui, leva, boa sorte, não quero recibo, assim tá bão, senão você me complica”. E o candidato precisando de dinheiro, leva. É raro o político que não tem o caixa 2.
Muita gente de grande qualificação profissional fica longe da política por causa dos vícios acima apontados. Com isso privam o Brasil das lues de seus talentos, deixando o campo livre para aventureiros, arrivistas, inescrupulosos e nulidades ▬ nossos legisladores e governantes em geral, com as exceções que a praxe comanda. Cheguei até aqui e lembro: ▬ todo mundo sabe que é assim, todo mundo finge que não sabe que é assim.
Quereria destacar hoje apenas um ponto. Debate-se continuamente reforma política e reforma eleitoral ▬ todo mundo fala nelas. Parte da corrupção no mundo político vem dos custos altíssimos das campanhas eleitorais. É imperioso baixá-los. Os custos da monarquia inglesa são dinheiro de pinga (e lá atraem milhões de turistas) se comparados com os custos das campanhas eleitorais da democracia brasileira, e daqui os turistas fogem espavoridos.
Proponho medida factível para gastar menos dinheiro. O voto facultativo baratearia as campanhas. Melhoraria a qualidade da representação. E nada mais democrático que ele. O voto é direito do eleitor. Quer exercitá-lo, vota. Não quer, fica em casa. Sem penalidades. Nada mais civilizado. Os países mais democráticos e civilizados têm voto facultativo. Temos voto facultativo, entre outros países, nos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Canadá. Voto obrigatório: Bolívia, Honduras, Panamá, República Democrática do Congo, Egito, Tailândia, Líbia. Nossa companhia. Esse atraso é mais um fruto venenoso da Constituição de 1988, está na hora de acabar com tal entulho autoritário, retrocesso que entrava a autêntica representação popular.
Por que os políticos fogem do voto facultativo? Razão principal e simples, poria a nu a farsa da democracia brasileira. O mundo político brasileiro está assentado sobre uma fraude, sua popularidade, decorrente de atávico romantismo, que falseia desde décadas a realidade. As gigantescas votações, creio, cairiam em aproximadamente 80%, ficaria claro que a população vive de costas para o mencionado mundo político. Mas, ao invés do engano, trapaça e turbação, hoje imperantes, como ótimo começo e fundamento da vida pública teríamos verdade, autenticidade e transparência, condições de democracia real e não a contrafação dela que nos empurram goela abaixo. Daí viriam debates mais qualificados, menos demagogia, eleitos com melhores condições para servir ao bem comum. E então o povo padeceria menos da demagogia que hoje o engoda e infelicita. Meu pedido, comecemos por aí, com a introdução do voto facultativo, passo, ainda que modesto, na direção certa. Como todo mundo, contudo, tenho poucas esperanças de ser atendido. Como todo mundo, vou continuar levando cruzado no queixo.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
Não sei o que dói mais: se a ingratidão se o desprezo.
Durante anos, considerei: a maior afronta que se pode fazer, a quem nos fez bem, é a ingratidão.
Lembrava-me da passagem evangélica, dos dez leprosos:
Uma vez curados, afastaram-se alegremente. Todavia, um, veio atrás, e agradeceu, a Jesus, o ter sarado.
Prostrando-se a Seus pés, com o rosto em terra, deu-Lhe graças.
Respondeu-lhe Cristo:
- “Não foram dez os curados? E só um voltou, para agradecer?
E voltando-se para o samaritano, disse-lhe: “ Levanta-te. A tua fé te salvou.” - Luc 17:11,19.
O nosso clássico, D. Francisco Manuel de Melo, em “ Relógios Falantes” conta o curioso caso de alguém, que tendo recebido um favor, não mais procurou, quem lhe tinha feito mercê, nem lhe tirava o chapéu:
“ Toparam-se um dia na Rua Nova de Palma, que é longa e estreita e sem travessa.
“ Um vinha, outro ia. Tanto que o requerente ou despachado viu o valido, voltou o cavalo. O valido apressou o seu. O requerente trotou; trotou o valido, também. Ele correu; correu o valido do mesmo modo e dizia, gritando:
“ - Parai senhor Fulano, e dizei-me se isto é verdade!
“ O requerente sem parar, lhe dizia, correndo:
“- Sim senhor; isso agora é verdade, que o passado era mentira.”
Comportamento igual, têm muitos, que recebido a mercê, se afastam: Estão servidos; para quê ficar grato?
Por vezes, chegam a dizer: “ Não preciso dele para nada! …”Mas precisaram….
Está sepultado no Brasil, Professor, notável político, que antes de morrer declarou não desejar, que, após o falecimento, o trouxessem para o Pátria.
Porque compatriotas, a quem fizera enormes favores, vendo-o em desgraça, esqueceram o dever da gratidão. Fizeram como o homem, que corria, a bom correr, pela Rua Nova de Palma…
Mas, se a ingratidão, fere, o desprezo, parece-me, agora, ainda mais cruel.
Em “ Reflexões Sobre a Vaidade”, Matias Aires (escritor do séc. XVIII), assevera: “Não há maior injúria que o desprezo; e é porque o desprezo todo se dirige, e ofende a vaidade.”
Desprezar, é o mesmo que dizer: Não mereces qualquer respeito; és insignificante…
Além de falta de educação, ofende fortemente o orgulho, o íntimo da alma.
Tive companheiros de infância, que por terem subido na sociedade ou por terem nome aburguesado, deixaram de serem amigos… passei a conhecido! …
Recordo, o pensar de Francisco, personagem de: “ Mistérios de Fafe” de Camilo, referindo-se ao facto do fidalgo, não dar confiança à mulher, companheira de infância, comentava:
“- Criança como criança e homem como homem. Bem vês quem ele é, o Senhor fidalgo, e tu és a Rosa, mulher do espingardeiro…”
Conhecido rapaz, filho de modesto trabalhador, que foi estudar para Coimbra, quando se licenciou, deixou de acompanhar o pai. Mudava de passeio se o encontrava, na rua.
Envergonhava-se. Era, então, advogado, casado com menina de Papá…
Desprezo e ingratidão, são, para mim, as maiores afrontas que se pode fazer.
Mas, o mundo é assim: a amizade é, quantas vezes, meio de usar amigos e conhecidos, como escada. Uma vez no topo…não precisam deles para nada…
Será que não?
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
JORGE VICENTE - Fribourgo, Suiça
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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NOTICIAS DA DIOCESE DO PORTO
NOTICIAS DA DIOCESE DE JUNDIAÍ - SP
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Leitura Recomendada:
Jornal católico da cidade do Porto - Portugal
Opinião - Religião - Estrangeiro - Liturgia - Area Metropolitana - Igreja em Noticias - Nacional
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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL
Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confisões.
https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes
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Convenção Monárquica de Itu
O Movimento Itu, Fidelíssima do Império promoveu a realização, no dia 15 de
novembro de 2019, 130o. aniversário da proclamação da República, de uma Convenção
:Monárquica cujos participantes assinaram o documento abaixo, dirigido a todos os
brasileiros:
MANIFESTO MONÁRQUICO DE ITU – 2019
“Amplior et liberior per me Brasilia”
Os abaixo-assinados, monarquistas brasileiros reunidos nesta fidelíssima cidade de Itu,
no dia 15 de novembro de 2019, por iniciativa do Movimento Itu, Fidelíssima do Império,
conclamamos nossos compatriotas de todas as condições e de todas as preferências políticas,
de Norte a Sul deste imenso Brasil, para um momento de reflexão e balanço histórico.
Há precisamente 130 anos, no fatídico dia 15 de novembro de 1889, um golpe
promovido no Rio de Janeiro por uma pequena minoria de civis e militares derrubou o Império
brasileiro, o qual – na frase de um diplomata hispano-americano sediado no Brasil – constituía
na verdade a única autêntica democracia de toda a América do Sul.
Desde então o Brasil tenta em vão acertar seus passos em trilhas que não lhe convêm,
porque afastadas daquelas que desde 1500 vinha seguindo, de início sob a égide da Ordem de
Cristo e dos Reis de Portugal e, mais tarde, desde a Independência, sob a égide do ramo
brasileiro da Casa de Bragança. Até 1889, apesar das dificuldades e percalços que nunca
faltaram, nosso caminhar histórico seguiu em frente. A emancipação dos escravos, ocorrida em
1888, já anunciava os primeiros clarões do que seria o Terceiro Reinado. A Princesa Isabel, que
após o falecimento de seu Pai se tornaria a Imperatriz D. Isabel I, tinha projetos grandiosos
para nosso país. Tais projetos incluíam uma inteligente e justiceira integração social e
econômica dos ex-escravos na posição de dignidade a que tinham direito; a adoção do sistema
federativo, cuja necessidade desde a década de 1860 já era manifestada pelo Imperador D.
Pedro II; e uma reforma do sistema eleitoral, para a qual, igualmente, o monarca já apontara
nas instruções que deixou escritas para sua Filha quando esta, pela primeira vez, assumira a
Regência do Império.
Um Terceiro Reinado sob o cetro isabelino marcaria para nosso País, segundo
esperavam os mais argutos e patrióticos brasileiros, uma era de esplendor e glória similares à
que a Rainha Vitória vinha assegurando à monarquia britânica. Propensa, pela formação cristã
e pela índole feminina, a exercer o Poder Moderador de modo não contraditório, mas sem
dúvida diferenciado de seu Pai, D. Isabel teria conseguido que o Brasil prosseguisse, dentro do
regime monárquico constitucional que então nos regia, seu caminhar histórico nas vias da
Civilização Cristã, enfrentando as incertezas e vicissitudes do século XX que então se
aproximava.
Infelizmente, o golpe de 15 de novembro de 1889 frustrou a realização desses planos e
desviou nossa rota. Seguiram-se 130 anos de sucessivas Constituições, de golpes de estado,
de ocasionais ditaduras, de incertezas na economia e decadência na vida cultural. O
Parlamento do Império, verdadeira escola de estadistas, foi decaindo até chegar à triste
condição em que está em nossos dias. Nosso povo continua ordeiro, pacífico, trabalhador,
cheio de potencialidades e de fé no futuro cristão do Brasil, mas frequentemente suas equipes
governantes têm estado bem afastadas – para dizer pouco – do ideal que seria de se esperar
delas.
O golpe de 1889 foi precedido – por uma triste ironia da História – pela convenção
republicana realizada em 1873 precisamente nesta cidade de Itu, que até então se orgulhava
do bem merecido título de Fidelíssima, que lhe fora outorgado oficialmente pelo Imperador D.
Pedro I, em 17 de março de 1823, e que até hoje ostenta com ufania, no seu brasão de armas,
o belo dístico latino ”AMPLIOR ET LIBERIOR PER ME BRASILIA” – Por mim o Brasil se
tornou maior e mais livre.
Apesar da triste lembrança da convenção que abrigou em 1873, Itu continua hoje fiel
ao seu passado glorioso, do qual jamais esqueceu. É, pois, nesta fidelíssima Cidade que hoje
nos dirigimos a todos os nossos compatriotas, aqui nos reunindo em “Convenção Monárquica”,
para a assinatura do presente documento, o qual foi elaborado por uma comissão de notáveis
Monarquistas.
Voltemos os nossos olhos para o passado, com espírito crítico e sereno e, sem
ressentimentos nem mágoas, procuremos dele extrair lições para o presente e para o futuro.
Trabalhemos, nas vias da legalidade institucional e sem a baixeza de recorrer a golpes como o
de 1889, para que nosso Povo, esclarecido e atuante, exija de seus representantes legais a
convocação de um novo Plebiscito realmente livre e isento, no qual nosso Povo possa
realmente se pronunciar, sem os casuísmos que macularam de inautenticidade o Plebiscito de
1993, acerca da forma de governo que nos deve reger. Chamamos a todos os brasileiros e
patriotas de bem, para juntos resgatarmos o Brasil e a dignidade dos brasileiros, e assim
recuperarmos no concerto das grandes Nações a posição que nos compete.
Que Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do
Brasil, guardem o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial. E que
abençoem nossa Pátria e as famílias de todo o Brasil.
AD MAIOREM DEI GLORIAM
Itu, 15 de novembro de 2019.
(a) – César Rogério Jaques, Itu, funcionário público. Armando Alexandre dos
Santos, Piracicaba, professor. Sérgio Matheus Garcez, Campinas, advogado e
professor. Osvaldo Rocco, São Paulo, advogado. Hayley Ribeiro de Barros Rocco,
São Paulo, professora. Jeanne D ́Arc B. R. Silva, Itu, advogada. Miguel da Costa
Carvalho Vidigal, Itu, advogado. João Luiz da Costa Carvalho Vidigal, São Paulo,
empresário. Celso da Costa Carvalho Vidigal, São Paulo, engenheiro. Matheus
Trevizan Remigio, Sorocaba, estudante. Carlos Alberto Salgado Faria de Sales,
Taubaté, porteiro. Emanoel Rodrigues, Sorocaba, recursos humanos. Aldori Santana
da Trindade, Taubaté, auxiliar escolar. Kátia de Oliveira Miranda, São Paulo,
dentista. João Paulo Modesto Guedes, São Paulo, militar. Reinaldo Bueno Jr., São
Paulo, administrador de empresas. José Barbosa, Piracicaba, estudante. [seguem-se
mais 20 assinaturas.]
Algumas datas de novembro são marcantes no Brasil
. Na próxima terça-feira, por exemplo, comemora-se o DIA DA BANDEIRA evocando um de nossos mais importantes símbolos. Lembro-me muito bem do saudoso General Mário Matheus de Paula Madureira, então membro da Academia Militar, após um desfile comemorativo da Independência do Brasil nos anos 70, quando repreendeu severamente um menino que puxou displicentemente a bandeira no pavilhão armado na Praça Governador Pedro de Toledo. Cito esse fato para demonstrar que o civismo de outrora, deveria prevalecer também na atualidade, forjando princípios de respeito à Nação, ainda que vilipendiada por inúmeros de nossos políticos.
Consciência de que todos são iguais
O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, instituído em homenagem à Zumbi, o líder do Quilombo a 20 de novembro, data de seu falecimento, reveste-se de manifesta importância e os seus significados históricos e reflexivos nos estimulam ao debate sobre a situação não só do racismo, mas também das variadas manifestações discriminatórias que ainda proliferam na sociedade. Tais aspectos impedem a completa viabilização da cidadania, já que é imprescindível proscrever o arbítrio para se garantir a liberdade. Com efeito, a Justiça exige a igualdade, um de seus elementos intrínsecos e talvez o mais importante na consolidação da cidadania.
Reverenciar a gratidão
Comemora-se a 23 de novembro, de forma ecumênica, o DIA NACIONAL DE AÇÃO DE GRAÇAS que deve ter um sentido abrangente, em nível espiritual, ou seja, capaz de inspirar as pessoas a resgatarem o sentimento de gratidão como uma forma simples de acreditar no valor da vida, na importância da convivência pacífica, na esperança de que é possível superar a fome, o desemprego e a violência, a anular preconceitos, derrubar barreiras e aproximar os indivíduos. E principalmente, restaurar a lei do amor e da gratidão a Deus por tudo que conquistamos e por obtermos um relacionamento fraterno, reintroduzindo nas pessoas, o cumprimento do ‘muito obrigado’, já que a sociedade consumista nos afasta da solidariedade e da fraternidade, tornando-nos menos amistosos.
Não-violência contra as mulheres
A vinte e cinco de novembro se celebra o “DIA INTERNACIONAL DA NÃO-VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES”, visando pregar o ativismo contra as agressões às pessoas do sexo feminino. Tal comemoração se originou do Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado em 1981 e que homenageou as irmãs Minerva, Maria Tereza e Patria Mirabal, assassinadas na mesma data em 1960, pela ditadura de Trujillo, na República Dominicana. Mesmo diante de muitas legislações de um mundo globalizado proibirem a discriminação entre homens e mulheres, há países que as submetem às mais diversas arbitrariedades e agressões, frutos de posições desprovidas de quaisquer princípios de racionalidade, inclusive o Brasil. É preciso que todos se engajem numa permanente e desenfreada luta por significativas mudanças no quadro social e pela busca de uma consciência coletiva que reivindique a condição feminina, respeito, reconhecimento e oportunidades iguais, buscando-se uma convivência harmoniosa onde a violência, inclusive a doméstica, seja efetivamente afastada.
Doar sangue: a solidariedade corre pelas veias
Vinte e cinco de novembro é o Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue. A data foi instituída no Brasil em 30 de junho de 1964 e essa data comemorativa visa difundir nas pessoas a importância de doarem sangue e salvarem a vida dos que dele necessitam, como vítimas de acidentes, mães com complicações durante o parto ou a gravidez, crianças anêmicas e pacientes com câncer, ressaltando-se que em nosso país, a cada dois minutos um ser humano precisa de sangue. Ainda assim, uma das maiores dificuldades é encontrar indivíduos dispostos a doá-lo para suprir a demanda diária dos hospitais pelo tecido. Para reverter essa situação, o melhor caminho, é investir em educação e infraestrutura, transformando a doação de sangue em uma questão prioritária das políticas nacionais de saúde.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)
Edivaldo era um intelectual completo. Possuía formação humanística muito sólida, iniciada no Colégio Padre Antônio Vieira, de Salvador, sob a égide e a boa influência clássica da Companhia de Jesus, e mais tarde bem consolidada em seus estudos universitários e em sua longa vida de pensamento.
Era loquaz e falava com o desembaraço típico dos baianos, mas ao mesmo tempo era discreto e reservado. Duas coisas chamavam a atenção no convívio com ele: nunca falava mal de outras pessoas, e quase nunca falava de si próprio, bem educado que era e fiel ao velho lema latino laus in ore proprio vilescit. Quase nunca falava de suas origens familiares e de sua formação; dos títulos universitários que conquistou, em três áreas bem distintas das Ciências Humanas (o Direito, a Economia e a Educação); dos anos em que trabalhou ativamente como Juiz do Trabalho; de seu papel importantíssimo na formação de duas grandes universidades, a do Estado da Bahia e a de Feira de Santana, sua cidade natal; de sua passagem pela vida pública, duas vezes secretário de Estado da Educação; de sua longa militância no jornalismo profissional, como diretor-geral de “A Tarde”, o mais importante jornal da Bahia; de seus muitos livros publicados; das incontáveis orientações que deu ao longo das décadas a doutorandos e mestrandos; de sua intensíssima atuação como membro e diretor de associações culturais, como a Academia de Letras e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia etc. etc.
Já sobre a Bahia e sua cultura, sobre o Portugal avoengo, que tanto amava, sobre sua religiosidade profunda, sobre a influência enorme que tiveram jesuítas e beneditinos na sua vida (aqueles na sua vida intelectual, estes na sua espiritualidade), sobre comidas e bebidas, sobre temas linguísticos e, sobretudo, sobre Educação, seu tema acima de todos dileto, Edivaldo discorria à vontade, sem quaisquer reservas.
Tenho em mãos o livro intitulado “Um cidadão prestante - Entrevista biográfica com Edivaldo M. Boaventura, de Sérgio Mattos (Editora Quarteto, Salvador, 2014). O grande mérito desse livro é que, graças à habilidade do entrevistador, Edivaldo foi como que forçado a contar, em pormenores, sua vida, em suas várias etapas e em suas múltiplas facetas. O livro permite, assim, aos leitores, formarem uma visão de conjunto da personalidade do entrevistado, muito mais completa e abrangente do que poderiam ter até mesmo por meio de um convívio prolongado com o próprio Edivaldo.
“Um cidadão prestante” se estrutura em seis partes distintas, acompanhando cronologicamente a vida e as várias etapas da carreira de Edivaldo.
A primeira, intitulada “A trajetória de um semeador de ideias”, expõe as origens familiares e a fase de formação escolar de Edivaldo, relata como ele desenvolveu seus hábitos de leitura e chega à fase do serviço militar.
Na segunda parte, fala da sua formação universitária primeira, na Faculdade de Direito, e dos debates políticos e ideológicos que então eram travados nos meios universitários e dos quais Edivaldo tomou parte ativa. Fala, ainda, de seu namoro, noivado e casamento com o seu único e inabalável amor: “minha mulher Solange, meu poste central, sábia e preparada. Juntos, construímos os nossos caminhos, por onde andam os filhos.” (p. 217)
Na terceira, expõe as atividades profissionais da primeira fase da vida de Edivaldo, como advogado, como professor e, ao mesmo tempo, como doutor em Economia e técnico em desenvolvimento econômico da SUDENE, assim como sua atuação, durante alguns anos, como Juiz Federal do Trabalho.
A quarta parte, intitulada “Construindo a carreira docente”, mostra como foi, pouco a pouco, migrando das várias atividades às quais até então se dedicara para a Educação, que constituía sem dúvida sua verdadeira vocação profissional. Fala, ainda de sua primeira passagem pela vida pública, como Secretário da Educação e Cultura da Bahia.
Na parte seguinte, o leitor adentra a vida de Edivaldo na sua fase de maturidade, quando consolida sua formação acadêmica, com um PhD em Educação conquistado nos Estados Unidos, quando atinge o grau de Professor Titular na Universidade Federal da Bahia e intensifica sua atuação societária na vida cultural do seu Estado, como membro (e depois presidente) de sua Academia de Letras e como destacado sócio e diretor do seu Instituto Geográfico e Histórico.
Por fim, na sexta parte, são expostas as atividades de Edivaldo já no limitar da idade provecta, quando retornou à Secretaria da Educação, quando criou e dirigiu o Doutorado em Educação da Universidade Federal da Bahia e se dedicou ao jornalismo profissional – sem nunca deixar de ter, como foco principal de suas atividades, a Educação. Ainda poucos dias antes de falecer empenhava-se na orientação de mestrandos e doutorandos, distribuindo generosamente sementes de sua imensa cultura, na esperança e na certeza de que haveriam de germinar mais para a frente. Foi um Edivaldo ativo e empenhado nessa atividade docente que a Parca o colheu, quase a ponto de completar 85 anos de idade. Que Deus o tenha!
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras e professor da Unisul. Também é Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Talvez seja esperado por alguns dos meus leitores que eu comentasse os recentes acontecimentos políticos nacionais. Nunca escondi de ninguém que não sou partidária de extremismos, principalmente os políticos. De tanto assistir a desvarios, desvios, absurdos e decepções nessa área, tornei-me uma pessoa que não acredita em político algum. Até acredito que exista quem seja honesto, mas a máquina não permite que as boas intenções deem fruto, eis que a engrenagem, contaminada, esmaga aqueles que ousam se afastar dela.
Assim, peço desculpas por não expor tudo o que penso sobre os nossos “poderes”, com p minúsculo mesmo. Infelizmente acredito que tempos obscuros possam vir, nos quais toda palavra dita ou escrita poderá ser interpretada à luz de distorções e interesses. Para o momento prefiro deixar que o tempo revele os acertos e os erros das decisões que tem sido tomadas pelos detentores do dinheiro e do Poder.
Nunca pequei pela omissão, contudo, e talvez um dia pague por isso, por ousar dizer, em relação a diversos assuntos, o que muitos desejam, mas não tem coragem ou oportunidade para fazê-lo. Sequer estou sobre o muro. Muito pelo contrário. Somente não quero discutir com amigos e criar inimizades por conta de política, porque, no fim das contas, somos todos marionetes tolas, iludidas de deterem algum poder de ação imediata.
Por isso é que vou mudar de assunto, para tratar de tema bem menos relevante, mas bem mais leve. Por sugestão de uma amiga querida comecei a fazer um curso rápido de cerâmica. A propósito, se dependesse de mim, multiplicaria meus dias para poder aprender um pouco de tudo, para realizar os cursos mais variados, para aprender muito mais de tudo de incrível que há nesse mundo.
Resolvi encarar mais essa empreitada e lá fui para primeira aula. No passado, na infância, fiz algumas aulas rápidas de pintura sobre cerâmica, mas nunca acompanhara o processo completo, além de ter assistido à famosa cena do filme “Ghost”. E confesso que fui para aula já me imaginando com as mãos cheias de barro mole, girando uma peça no torno...
As aulas ocorrem em uma casa aqui no bairro mesmo e éramos somente eu, minha amiga e mais outra aluna que já estava mais adiantada, fazendo sozinha as próprias peças. Após uma breve explanação teórica sobre a história da cerâmica, aprendemos que somente se pode dar esse nome ao barro que já passou pela queima, processo que ocorre em um forno que atinge até 1800 graus. Para minha frustração inicial, portanto, eu não poderei replicar o feito no meu forno caseiro, rs.
Estávamos ansiosas por colocar a mão na massa, literalmente. Recebemos uma porção de argila especialmente preparada e fomos orientadas sobre como amassá-la até que atingisse o ponto ideal. Após darmos a ela a forma de uma bola, começamos a moldar a primeira peça, uma pequena cuia. Tudo parece muito mais fácil do que é na verdade, eis que a peça vai assumindo os contornos que deseja, como se nossas mãos se comportassem à deriva das nossas intenções.
Nas próximas aulas iremos aprender como dar acabamento, como realizar a pintura e a finalização das peças. Fiquei pensando sobre como tudo na vida pode tomar rumos inesperados, como nada está sob nosso controle, nem mesmo uma simples cerâmica. As peças podem rachar no forno, a pintura pode resultar em tons diferentes do que foi planejado, enfim, tudo é livre para ser o que é, tal qual as pessoas são livres para acreditar no que e em quem quiserem, ainda que só se possa lamentar por isso.
Sobre muitos assuntos não quero falar muita coisa. Sobre a cerâmica, Demi Moore que se cuide!
Cinthya Nunes é advogada, escritora, professora universitária e está bem desiludida com a política como um todo – cinthyanvs@gmail.com
A mãe postou que a menina, “sem meias palavras”, lhe perguntou o que ela achava que as pessoas brancas pensavam quando olhavam para quem tem a sua cor e a do irmão. Doeu-me fundo esse questionamento, mal entrou na adolescência. Talvez, quando criança, em meio ao “faz-de-conta”, não se importasse tanto.
Ela e o irmão foram concebidos no coração da mãe e do pai. Ao chegarem, se tornaram alegria. Saber que se entrelaçaram à família fez um bem imenso. Descendência de alma que pulsa por eles.
Na oportunidade, a mãe cita artigo da filósofa Djamila Ribeiro, na Folha de São Paulo: “A solidão institucional”. Djamila comenta sobre as mulheres negras em trabalhos de faxineira ou servente, chamadas de “tias da limpeza”, que não são tratadas como seres humanos com histórias, significados, aprendizados... Testemunha como é triste, no lugar em que você é a única pessoa negra, não perceber um olhar de acolhimento quando passa por situações discriminatórias.
Não é delírio da menina: já constata as feridas que se abrem em suas entranhas, através de palavras de desprezo e de olhares que machucam. Como afirmou o escritor moçambicano Mia Couto: “No fundo, o grande crime do racismo é que anula, em nome da raça, o indivíduo”.
Que faz o branco se sentir superior ao afrodescendentes, aos indígenas, em vez de uma atitude reparadora por uma história que permanece de chagas abertas pela escravidão? Em que se baseia para se colocar em pedestal de superioridade? Respalda-se em acontecimentos do passado, entre a casa grande e a senzala; entre a mulher para ser preservada, como esposa e filha, e as que eram obrigadas, por sua dependência, a saciarem as taras de seus senhores? Por que esse prazer em se utilizar da maldade para reduzir o outro?
No Antigo Testamento, o profeta Jeremias (17, 9) afirma: “Nada mais ardiloso e irremediavelmente mau que o coração”. O Evangelista Marcos (7, 15.21) relata o que falou Jesus Cristo: “Nada há fora do homem que, entrando nele o possa manchar; mas o que sai do homem, isso é o que mancha o homem. (...) Porque é do interior dos homens que procedem aos maus pensamentos...” Exorcizar o coração é possível, é uma escolha.
Não consola e não impede o sofrimento pelo preconceito, contudo aquilo que alguém pensa ao olhar o outro traduz se o observador carrega em si veneno ou não.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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