PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 15 de Novembro de 2019
JOSÉ RENATO NALINI - O SUICÍDIO É INEVITÁVEL?

 

 

 

 

 

 

 

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O suicídio é a segunda maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos de idade, segundo a Organização Mundial da Saúde. É um flagelo que sempre assustou a humanidade, mas que está crescendo, infelizmente, diante de várias causas. A fragmentação da família, a irrelevância da religião e a falta de perspectiva ou sentido de vida.

Os jovens têm razão de estar desalentados diante da situação global. Crescem os males, extermina-se o futuro. Violência, desemprego, exclusão, insensibilidade, os sem caráter vencendo, os bons menosprezados.

Tirar a própria vida continua a ser um enigma, embora exista quem legitime a prática, pois ao ser humano seria vedado prejudicar ao próximo, não a si mesmo. Não pactuo dessa concepção. Fico sempre muito angustiado quando alguém próximo pratica o suicídio. Paira no entorno uma dor imensa, acompanhada de remorso. Eu poderia ter evitado esse gesto que a maioria considera tresloucado?

O Facebook passou a realizar um trabalho de prevenção ao suicídio que está sendo bastante comentado. A partir de algoritmos que vasculham posts, comentários e vídeos, detecta-se a potencialidade de alguém estar prestes a tirar sua vida. É acionado um serviço de emergência que localiza o emitente de tais sinais. Com isso, diz o presidente Zuckerberg, foram evitados cerca de 3.500 casos de possíveis suicídios.

Louvável a iniciativa, de onde provêm as críticas?

O primeiro argumento é o desrespeito à privacidade. Não considero difícil repeli-lo. Entre privacidade e vida, o que deve prevalecer? Se consigo salvar uma vida, mais um pontapé na privacidade – que já é tão espancada em nossos dias – não faz diferença.

A segunda questão diz respeito aos métodos utilizados pelo Face. Ele não divulga como chega a considerar o caso como suscetível de gerar uma intervenção externa. Também não considero procedente. Outra vez, o cotejo entre os valores em jogo. Para o Face, atuar com cautela excessiva é preferível a assistir à morte precoce quando seria possível evita-la.

O sistema funciona em inglês, espanhol, português e árabe. Em todos os espaços, à exceção da União Europeia, cujo ordenamento de proteção de dados restringe a coleta de informações pessoais.

Em lugar de hostilizar a iniciativa, os detratores deveriam oferecer alternativas. Para o tratamento da patologia que acomete a sociedade, não apenas alguns de seus integrantes. É um sinal de enfermidade produzir jovens que superam o fortíssimo instinto de autopreservação e preferem partir deste planeta que os não entende, ampara ou conforta.

A multidão de solitários frequentadores das redes sociais, como fenômeno irreversível, muita vez impede que observadores se apercebam da fragilidade de mentes labirínticas fabricadas por uma era em que os valores pereceram e o “conhece-te a ti mesmo” é uma decepção.

O que fazer para diminuir o humilhante índice de suicídios no mundo e no Brasil?

 

 

 

 

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da UNINOVE, autor de “Pronto Para Partir?” e Presidente da Academia Paulista de Letras 2019-20.

 

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 12:01
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PÉRICLES CAPANEMA - FOCO NO SUCESSO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Você consegue encontrar expressão portuguesa que traduza bem “soft skills”? “Soft”, todo mundo sabe, é mole, macio, suave, jeitoso. A expressão no caso provém da vida profissional, tem relação próxima com personalidade e habilidades para se manter e subir no emprego. No oposto, estão as “hard skills”, competência e conhecimentos técnicos, também necessários para atuar profissionalmente. Se ainda não tem na ponta da língua uma expressão adequada em português, vai pensando nela enquanto apresento alguns dados. Pesquisa divulgada pela inglesa Debrett’s Academy indica que via de regra 85% do sucesso no emprego é devido aos “soft and people skills” e não às destrezas e conhecimentos técnicos próprios a cada área de atividade (as “hard skills”). “Soft skills” são habilidades que faltam no mercado. É usual que as universidades, mesmo as mais conceituadas, embora a seus formandos propiciem conhecimento solido e enorme bagagem técnica, falhem na hora de proporcionarem as chamadas “soft skills” e “people skills”.

 

E aí a Debrett’s Academy, ligada a editora de grande prestígio e sucesso, informa que foi fundada em 2012 para enfrentar, melhor dizendo, suprir pelo treinamento o déficit nas “soft skills” da maioria dos executivos ou aspirantes a tal. A mencionada organização britânica treina executivos em primeiras impressões, impacto pessoal, falar em público, relações humanas, tutano na negociação, hospitalidade no ambiente de trabalho, etiqueta nos negócios internacionais. Tudo isso cai dentro das “soft skills”.

 

Na revista norte-americana Forbes, reputada publicação dedicada ao mundo dos negócios, artigo de Jacquelyn Smith trata do tema e enumera qualidades integrantes das “soft skills”. Respigo algumas a seguir. A primeira é a aptidão para se relacionar com outras pessoas, ser persuasivo, ter facilidade na palavra escrita e na oral. E daí apresentar grande capacidade de comunicação. A autora a julga a principal característica das “soft skills” (aliás, para ela “soft skills” e “people skills” são a mesma coisa; vou a partir de agora seguir nessa trilha). Outra característica, paciência com outros, agir sempre com serenidade nos seus meios. Mais uma, saber como e quando mostrar empatia, ter facilidade em se colocar no lugar dos outros quando debulha um assunto ou tenta encontrar uma saída. Capitula ainda, saber ouvir com atenção amável, deixar que as pessoas comecem e terminem a exposição do pensamento. Mais outra, interesse genuíno pelos assuntos levantados por colegas. Qualidade reputada essencial dentro das “soft skills”: saber o que, como, onde e a quem dizer [na linguagem coloquial, não ser gato louco]. Outra, conhecer e utilizar a linguagem dos gestos e posturas. Bons modos, boa educação. “Don de gente”, lembraria um hispano, é parte das “soft skills”.

 

A academia consegue entregar tais ferramentas? Difícil. Acho que percebo, alguns leitores já têm a resposta na ponta da língua: o local próprio para ensinar tudo isso, e desde a mais tenra infância, é a família. Mais ainda: a família e os ambientes familiares. Acertaram na mosca.

 

Corta. Aparentemente, vou dar um cavalo-de-pau. O liame será a importância da família no sucesso social e empresarial. Todos têm exemplos domésticos, mais relevantes ou de menor importância para provar como se adquire e quão importante são “soft skills”.

 

Um exemplo que vale a pena lembrar está na história e na literatura da França. Enquanto lia o artigo me vinha à mente uma família, cujos membros por mais de século e meio tiveram enorme expressão na vida da corte, na sociedade, na França em geral, com ecos na literatura: a família Mortemart-Rochechouart. Hoje, tem até verbete na wikipédia.

 

Não tinha fortuna grande, tropas, cargos, mas se assinalava nas “soft skills”. Destacava-se pela presença, vivacidade, arte de conversar. Atraía a admiração, influía. Foi lembrada por memorialistas famosos, como o duque de Saint-Simon, escritoras célebres como madame de Sévigné, Marcel Proust em sua obra “À la recherche du temps perdu” criou uma personagem, a duquesa de Guermantes, inspirada nas damas da família Mortemart. Talleyrand, considerado por Napoleão, o “rei da conversa na Europa” e dos maiores diplomatas franceses, em suas memórias, não deixa de notar que foi educado por sua bisavó, que era da família Mortemart. A família chegou a caracterizar um tipo de espírito, o espírito Mortemart, feito de naturalidade, precisão, vivacidade, capacidade de expressão que conjugava força, delicadeza e encanto.

 

Por que lembro tais fatos? Para destacar com um grande exemplo a importância da educação familiar. Bem-feita, repercute por gerações, influi de forma determinante em todos os aspectos da vida, aqui incluídos governos, finanças, carreira das armas, tanta coisa mais.

 

Nelson Rodrigues certa vez escreveu: “Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos”. Quando os economistas falam do persistente subdesenvolvimento brasileiro, recomendando com razão mais investimento, maior produtividade, educação da mão-de-obra, melhoria no ambiente de negócios e outras providências, às vezes me recordo do dito provocador de Nelson Rodrigues: “subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. Difícil sair dele, receitas apressadas escondem muito das correntes que nos atam.

 

Com deixá-lo para trás? Uma via, embora insuficiente, cultivo maior das “soft skills”. De outro modo, pelo fortalecimento da educação familiar em todas as condições sociais. Supõe sanidade, é difícil tornar realidade a aspiração, mas tê-la em vista é essencial. Dos ambientes familiares nasce tudo de importante na vida das sociedades.

 

Para acabar, não encontrei tradução boa para “soft skills”. Uma pesca em manual técnico traz: competências transversais. Fraquíssima. Fico sem ela, mas com a noção viva. Importa mais.

 

 

 

PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"



publicado por Luso-brasileiro às 11:54
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FELIPE AQUINO - 10 MANDAMENTOS PARA A PAZ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A paz começa em casa:

 

  1. Tenha fé e viva a Palavra de Deus, amando o próximo como a si mesmo.
  2. Ame-se, confie em si mesmo, em sua família e ajude a criar um ambiente de amor e paz ao seu redor.
  3. Reserve momentos para brincar e se divertir com sua família, pois a criança aprende brincando e a diversão aproxima as pessoas.

 

Leia também: Aceitar a família para ser feliz

Qual a vontade de Deus para a família?

Os 5 distintivos de uma família católica

 

 

 

 

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  1. Eduque seu filho através da conversa, do carinho e do apoio e tome cuidado: quem bate para ensinar está ensinando a bater.
  2. Participe com sua família da vida da comunidade, evitando as más companhias e diversões que incentivam a violência.
  3. Procure resolver os problemas com calma e aprenda com as situações difíceis, buscando em tudo o seu lado positivo.
  4.  

Assista também: Os dez mandamentos do casal

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  1. Partilhe seus sentimentos com sinceridade, dizendo o que o que você pensa e ouvindo o que os outros têm para dizer.
  2. Respeite as pessoas que pensam diferente de você, pois as diferenças são uma verdadeira riqueza para cada um e para o grupo.
  3. Dê bons exemplos, pois a melhor palavra é o nosso jeito de ser.
  4. Peça desculpas quando ofender alguém e perdoe de coração quando se sentir ofendido, pois o perdão é o maior gesto de amor que podemos demonstrar.

 

 

 

FELIPE AQUINO Escritor católico. Prof. Doutor da Universidade de Lorena. Membro da Renovação Carismática Católica.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:45
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PAULO R. LABEGALINI - O AMOR SANTIFICA A FAMÍLIA

 

 

 

 

 

 

 

 

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Das muitas ‘histórias de sábio’ que adaptei para estes artigos, eis uma que ainda não contei:

Um esposo foi visitar um sábio conselheiro, disse-lhe que já não amava mais sua esposa e que pensava em separar-se. O sábio escutou, olhou-o nos olhos e disse-lhe apenas uma palavra: ‘Ame-a’. Assim que se calou, ouviu a insatisfação do homem: ‘Mas, não sinto nada por ela!’ Disse-lhe novamente o sábio: ‘Ame-a’.

Depois de um breve silêncio, diante da perplexidade do senhor, o velho conselheiro explicou: ‘Amar é uma decisão cristã, não apenas um sentimento. Amar é dedicação, é entrega e o fruto dessa ação é a salvação. O amor é como um exercício de jardinagem: arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja paciente, regue e cuide. Esteja preparado porque haverá pragas ou excesso de chuva, mas nem por isso abandone o seu jardim. Aceite sua esposa, valorize-a, respeite-a, dê-lhe afeto e ternura, admire e compreenda-a. Isso é tudo: ame-a!’

E, a partir de então, aquele homem começou a rezar para amar mais a mulher. Com o passar do tempo, ficou fascinado ao descobrir nos Evangelhos a forma maravilhosa como Jesus amou. Então, já com o lar bem estruturado, começou a amar os irmãos sem distinção. Um dia, após se doar a muitos por amor, escreveu estas linhas:

‘A inteligência sem amor te faz perverso. A justiça sem amor te faz implacável. A diplomacia sem amor te faz hipócrita. O êxito sem amor te faz arrogante. A riqueza sem amor te faz avaro. A docilidade sem amor te faz servil. A pobreza sem amor te faz orgulhoso. A beleza sem amor te faz ridículo. A autoridade sem amor te faz tirano. O trabalho sem amor te faz escravo. A simplicidade sem amor te deprecia. A lei sem amor te escraviza. A fé sem amor te deixa fanático. A cruz sem amor se transforma em tortura. A vida sem amor... não tem sentido algum.’

Muitas outras conclusões ele poderia ter tirado, concorda? O importante foi ter descoberto que ‘só o amor constrói’. E você, conhece algum santo que não tenha amado os irmãos? É possível que exista no Céu alguém que nunca amou com absoluta retidão? Aliás, tente se imaginar cumprindo os dez mandamentos sem amar a Deus e ao próximo... Impossível, concorda?

Neste nosso mundo de pecados, às vezes, chegamos a ficar estarrecidos com a maldade dos homens. O que fazer para melhorar o rumo das coisas erradas? Na música ‘Hino à Família’, do segundo CD do Grupo Nossa Senhora da Agonia, escrevi esta mensagem: “Há muitos lares onde impera a falsidade e a oração de cada dia é brigar; se o casal lesse sempre os Evangelhos, saberia melhor o que buscar. Nossas crianças não podem ser felizes se encontrarem a paz jogada ao léu; é dando as mãos que vamos lhes mostrar o sabor da vida lá no Céu”.

Trocando em miúdos, vou relacionar dez ações para o casal praticar na sua caminhada cristã, deixando bons exemplos aos filhos:

1.     Recitar o Terço todos os dias.

2.     Fazer caridade toda semana.

3.     Assistir Missa aos domingos e dias santos.

4.     Pagar o dízimo todos os meses.

5.     Ser sempre fiel no casamento.

6.     Instruir os filhos a trilhar os caminhos de Jesus.

7.     Ler a Bíblia frequentemente em família.

8.     Rezar diariamente pelo Papa, pela Igreja, pelos bispos, sacerdotes, vocações e religiosos(as).

9.     Oferecer jejuns e penitências pelas almas do purgatório.

10. Evangelizar principalmente os mais pecadores.

Exceto jejuns e algumas penitências, os demais itens eu tenho cumprido regularmente. Sei que ainda preciso melhorar muito para não mais ofender a Deus e ganhar o meu lugar no Paraíso, mas, rezando, confessando e comungando, vou melhorando.

E você, que auto avaliação faria hoje no cumprimento das dez ações que relacionei? Nenhuma é muito difícil de cumprir, portanto, agradeça o Senhor por lhe permitir estar lendo estas linhas agora e comece também a melhorar. Se o fizer, todas as suas próximas gerações serão abençoadas pelos seus atos.

Mas, como cada um sabe de si e só Deus conhece as intenções de todos, não devemos nos colocar na condição de juiz moral de ninguém. E para melhor exemplificar que não é fácil julgar o comportamento das pessoas, vou me basear nesta história que um amigo me enviou:

Um fazendeiro comprou uma mula de outro proprietário, pagou R$ 100,00 adiantados e concordou em receber o animal no dia seguinte, mas, assim que amanheceu, só recebeu esta má notícia do vendedor:

– Desculpe-me, mas a mula morreu.

– Então, devolva-me o dinheiro.

– Não posso, já gastei tudo!

– Sendo assim, peço apenas que me traga a mula.

– E o que você vai fazer com uma mula morta?

– Vou rifá-la.

– Mas você não pode rifar uma mula morta!

– Claro que posso. Só não vou dizer pra ninguém que ela está morta.

Um mês depois, os dois homens se encontram e o fazendeiro que vendeu o animal perguntou:

– E aí, que fim levou a mula morta?

– Eu a rifei, como tinha dito que faria. Vendi 500 números a R$ 2,00 cada e tive um lucro de R$ 998,00!

– E ninguém reclamou?

– Só o sujeito que foi premiado na rifa. Então, eu lhe devolvi seus R$ 2,00.

Agora, pense e responda: qual dos dois agiu melhor? Lembre-se que o segundo rifou uma mula morta! Mas, também não se esqueça que o primeiro não devolveu o dinheiro que não lhe pertencia! É meio complicado, não? Eu sugiro que façamos bem feita a nossa parte aqui na Terra para facilitarmos o julgamento de Deus após a morte.

 

 

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.



publicado por Luso-brasileiro às 11:35
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VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - FORMIGAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Vão e vêm as formigas em voltas

E o meu dia vai-se, e eu vou a olhá-las

Umas às outras vão dando escoltas

Vão entrando e saindo das valas

Vão e vêm e eu por mim vou a olhá-las...

 

E a dar voltas se vão toda a vida.

Não vão tontas, não!; eu, entretanto

Entonteço mal lhes vejo a lida...

Já nem sei: fico? Deito? Levanto?

Não são tontas! Eu sim, entretanto...

 

 

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 11:28
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HUMBERTO PINHO DA SILVA - VIVER NÃO CUSTA...

 

 

 

 

 

 

 

 

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Meses depois de ter casado, na Igreja, fui viver para andar de prédio, que ficava nos subúrbios da minha cidade.

No rés-do-chão, vivia casal de idosos, que tinham o provinciano costume de, em dias quentes de verão, passarem o serão, sentados no passeio contíguo ao prédio.

Isso incomodava-me, tanto mais, que, sempre que passava, metiam conversa. Quase sempre lamentando-se da carestia da vida, e das parcas pensões, que recebiam

Certa ocasião foram passar férias a Viseu. O homem sentiu-se mal, e teve que regressar de ambulância.

Por camaradagem e bom relacionamento, com a vizinhança, resolvi visitá-lo.

Encaminharam-me para o quarto, onde o doente se encontrava deitado, sobre colcha de fustão, que cobria o leito, em troco nu.

Depois de agradecer a visita inesperada, a conversa descambou para as fracas reformas, que mal dão para sobreviver, num país, que quer ser do primeiro mundo.

Como lhe dissesse que as pensões mínimas tinham subido, esclareceu-me:

- “Fui chamado para ser aumentado, mas não aceitei…”

Fiquei banzado; mas logo me esclareceu:

- “Tenho vantagem em não ter aumento…Como recebo pouquinho, e a reforma de minha esposa, não chega ao salário mínimo, podemos ter muitos descontos…”

-“Sim!?” – Respondi, não atinando onde queria chegar.

-“Vou de férias e fico em bons hotéis, quase de graça. Passo as tardes no lar, gratuitamente, e ainda merendo…; minha filha estudou de graça, em bons colégios…Se sou aumentado… perco regalias…

Soube, mais tarde, que oferecera uma moradia, à filha, quando casou. Tem terras na aldeia; e é sócio de pequeno comércio, no centro da cidade…Quando era jovem fora proprietário de armazém de produtos de limpeza, que passara, por motivo de doença…

Viver não custa. O que custa é saber viver…

 

 

 

 

HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

 

 

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:05
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EUCLIDES CAVACO - OUTONO DA VIDA - Poema e voz de Euclides Cavaco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Mais um poema dignamente inspirado nos tempos mais dourados das nossas vidas.
Veja e ouça aqui neste link formatado por Mena Aur:
 
 


https://www.euclidescavaco.com/outono-vida

 

 

 

Desejos dum excelente fim de semana.

 

 

EUCLIDES CAVACO  -   Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.

 

 

 

 

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NOTICIAS DA DIOCESE DO PORTO

 

 

 

 http://www.diocese-porto.pt/

 

 

NOTICIAS DA DIOCESE DE JUNDIAÍ - SP

 

 

 https://dj.org.br/

 

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Leitura Recomendada:

 

 

 

 

 

Resultado de imagem para Jornal A Ordem

 

 

 

 

 

Jornal católico da cidade do Porto   -    Portugal

 

Opinião   -   Religião   -   Estrangeiro   -   Liturgia   -   Area Metropolitana   -   Igreja em Noticias   -   Nacional

 

 

https://www.jornalaordem.pt/

 

 

 

 

 

 

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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL

 

 

Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confisões.



https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 10:48
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Sexta-feira, 8 de Novembro de 2019
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL - AINDA NÃO CONQUISTAMOS OS SEUS FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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No dia  15 de novembro comemoraremos mais um aniversário da Proclamação da República no Brasil, que instituiu um sistema de governo integrado por representantes eleitos pelo povo, sobrepondo-se à monarquia, já que até 1889, todas as decisões giravam em torno do Imperador Dom Pedro II. A palavra “República” vem do latim “res publica” e significa “coisa pública”, o que por si só já revela a importância desse sistema que permite ao povo (governados) uma efetiva participação no processo de formação da vontade pública (governo), revelado pelo exercício da democracia. Por isso, dispõe a Constituição: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”.

Trata-se da mais importante estrutura que uma nação pode adotar, já que ela auto limita o poder do Estado ao cumprimento das leis que a todos subordinam, priorizando o preceito de “o poder das leis está acima das leis do Poder” (Ruy Barbosa) e o princípio da permanente supremacia da Carta Magna (Constituição), tida como Lei Maior, em torno da qual gravitam todas as demais normas legais.

Pela proximidade da data solene, vale refletirmos e até mesmo conhecermos alguns dos principais aspectos da República Federativa do Brasil, cujos fundamentos, previstos na Constituição Federal são: soberania (poder máximo de que está dotado o Estado para fazer valer sas decisões e autoridade dentro de seu território; cidadania (qualidade do cidadão caracterizada pelo livre exercício dos direitos e deveres políticos e civis); dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político (existência de mais de um partido ou associação disputando o poder político).

Por outro lado, constituem seus objetivos primordiais: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, além de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, propósitos também expressamente previstos na Constituição.

O Brasil deve relacionar-se com os demais países, orientando-se pelos seguintes preceitos constitucionais: independência nacional; respeito pelos direitos humanos (o Brasil é um dos signatários da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela ONU, em 1948); autodeterminação dos povos (cada nação deve conduzir seu próprio destino); não-intervenção (nenhum Estado tem o direito de interferir nos assuntos internos de outro); igualdade entre os Estados (todo Estado tem direito à igualdade jurídica perante outros Estados, isto é, igualdade de tratamento perante as normas internacionais); defesa de paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político (recolhimento de cidadãos estrangeiros que fogem de perseguições políticas).

Da simples leitura, percebe-se quão longa e difícil é a tarefa de todos na perseguição e consecução destes objetivos, notadamente o da consolidação dos fatores que aprimorem o respeito à dignidade humana, princípio que situa as pessoas no vértice de todo o ordenamento jurídico, pois o Direito só se justifica em função do ser humano, que deve ser tratado como um fim e nunca um meio, estendendo sua proteção a todas as pessoas, independentemente de idade, condição social, capacidade de entendimento e autodeterminação ou ‘status jurídico’.

Num mundo onde o humanismo parece ceder espaços cada vez maiores para o materialismo, prevalecendo uma cultura extremamente consumista, muitas dessas aspirações permanecem abstratas, distantes do mundo real, reconhecendo-se direitos, sem efetivá-los na prática, o que frustra e contraria a base da Justiça, fomentando ainda mais, os extensos e predominantes critérios de desigualdade social, tornando desacreditadas algumas de nossas instituições e desesperançada grande parcela da população. 

Na realidade, o amadurecimento institucional da República Federativa do Brasil ainda requer desenvolvimento cultural e educacional, fortalecimento da cidadania com a inclusão dos excluídos (reforma agrária justa e legal, habitação social, saneamento, saúde) e exige um grande esforço de restauração do respeito à lei, com provimento eficiente de justiça e segurança pública.

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLIé advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academia Jundiaiense de Letras  e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)

 

 

 

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas a montar cavalos e ar livre

 

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 11:18
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ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - RECORDANDO A MEMÓRIA DE UM GRANDE INTELECTUAL BAIANO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Dizem os psicólogos que amizades profundas e duradouras não se constituem depois dos 40 anos de idade. Somente antes disso - como regra geral - se estabelecem e se combinam duas mentalidades de modo a constituírem relações de amizade sólida e durável. Se essa é uma regra geral, devo dizer que ela não se aplicou no meu relacionamento com o saudoso amigo Edivaldo Machado Boaventura, que nos deixou em agosto de 2018, aos 84 anos de idade.

Quando o conheci, eu já estava com quase 50 anos e ele já perto dos 70, mas isso não impediu que, apesar da distância que nos separava e da diferença de idades, constituíssemos uma sólida e sincera amizade. Poucas vezes nos encontrarmos pessoalmente, em Salvador, onde ele vivia; ou no Rio de Janeiro, em sessões do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, quando coincidia de nos encontrarmos. Uma única vez tive o gosto de recebê-lo aqui em Piracicaba. Mas, sem embargo disso, posso dizer que tivemos um convívio muito intenso, porque nos falávamos quase todas as semanas, em longos telefonemas que, para mim, eram extremamente agradáveis e sempre muito instrutivos. Sua conversa animada, rica, cheia de vivacidade, sua cultura universal e literalmente inabarcável, sempre a revelar novas surpresas, sua polidez muito refinada, mas sem qualquer laivo de artificialidade, tudo nele atraía e cativava.

Conheci Edivaldo em novembro do ano 2000, em Salvador, aonde fui em companhia do nosso bom e comum amigo D. Marcus de Noronha da Costa, Conde de Subserra, e de sua esposa, D. Beatriz de Albuquerque de Noronha da Costa. Participamos de um congresso de História da Bahia, organizado com a colaboração de Edivaldo pela nossa também saudosa amiga Consuelo Pondé de Senna.

Num dos dias do congresso, Edivaldo nos recebeu em sua residência, num magnífico almoço de comida típica baiana para cerca de 20 convidados, brasileiros e portugueses que participavam do congresso. E, no dia seguinte ao encerramento, Edivaldo nos proporcionou uma “épica” expedição a Canudos. Digo épica porque o calor era intensíssimo e nossa van, desde o início da viagem, teve pane no ar condicionado. Tivemos toda a sensação térmica de uma épica excursão pelo Saara...

As ruínas da velha Canudos estavam então acessíveis aos visitantes, depois de terem jazido mais de 25 anos sob as águas do Açude de Cocorobó. Uma prolongada seca de 6 anos havia secado não só a represa, como também o rio Vasa Barris que a alimentava. Poucos meses antes, eu tinha estado em pesquisas no local e encontrara as ruínas já em terra seca, mas o rio ainda corria, bem menor do que no tempo da guerra. Os relatos bélicos registram que o Vasa Barris tinha, em 1896, quase 100 metros de largura. Em fevereiro de 2000, quando lá estive pela primeira vez, estava reduzido a cerca de 20 metros de largura. E em novembro, quando fizemos a nossa “épica” expedição, o rio secara de todo e várias vezes cruzamos o seu leito, de areias branquíssimas, a pés enxutos.

Éramos 7 ou 8 pessoas na van, fornecida pela Universidade do Estado da Bahia, da qual Edivaldo era o fundador e da qual tinha sido até pouco antes reitor. Ia conosco também o agrônomo Luiz Paulo de Almeida Neiva, que acabava àquela altura de completar seu mestrado e estava dirigindo os trabalhos arqueológicos de escavação dos resíduos arqueológicos da cidadela de Antônio Conselheiro. Sua meta - infelizmente não atingida - era chegar à identificação dos restos mortais do Conselheiro, para depositá-los em monumento público condigno.

Foi durante essa viagem que pude conhecer melhor a Edivaldo e aquilatar toda a sua imensa envergadura intelectual. Sua não menor envergadura moral, somente depois os anos de amizade permitiram apreciar em toda a medida. Recordo que ficamos os dois, ele e eu, no último banco da van, e à nossa frente, no penúltimo banco, D. Marcus e sua esposa.

Foram muitas horas de conversa agradável. Saímos de Salvador por volta de 6 horas da manhã, chegamos a Canudos pelo meio-dia, exploramos as ruínas à vontade, ciceroneados por Neiva e pelo próprio Edivaldo, almoçamos em Nova Canudos (a cerca de 15 km da antiga) e retornamos a Salvador, aonde chegamos pouco depois da meia-noite. Todo o tempo Edivaldo nos entreteve com sua conversação amena, inteligente e cheia de vivacidade. Sua cultura, sua experiência de vida, sua requintada educação, tudo isso tivemos ocasião de apreciar naquela inesquecível viagem. Falamos de omne re scibilli et quibusdam aliis. Literatura, história, folclore, filosofia, recordações de viagem, observações sobre a paisagem, sobre tudo isso Edivaldo conversou conosco. Bom causeur, falava com senso de medida, porque também sabia ouvir e estimular os interlocutores, não deixando a conversa morrer, mas agradavelmente mantendo-a sempre viva. (continuaremos na próxima semana)

 

 

 

 

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras e professor da Unisul. Também é Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

 

 

 



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CINTHYA NUNES - DESENROLANDO A LÍNGUA

 

 

 

 

 

 

 

 

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            Depois de várias semanas postergando, um belo dia resolvi tentar. Na verdade eu acabei apertando o botão de conectar meio sem querer e antes que eu pudesse desligar de pânico, ele já estava na tela do meu computador falando comigo.

            __Hi. How are you?

            Era tarde demais, o professor de inglês estava a postos, pronto para falar comigo, em inglês, obviamente, conectado por um aplicativo de aprendizado on-line, sentado em sua cadeira em algum lugar do mundo. Eu tinha duas alternativas, apertar o botão de desligar e fingir que aquilo nunca aconteceu ou seguir respondendo a ele.

            __Hi! I´m ok!

            Minha educação me proibiu de fugir da situação, mas a vergonha de falar meu inglês capenga fez com que eu me sentisse brincando de roleta russa. A qualquer hora o tiro poderia ser fatal, eu falaria algo errado ou ficaria sem saber o que responder. Já transpira em bicas, mas segurei as pontas e prossegui.

            Para minha surpresa, consegui entender praticamente tudo o que me foi dito. O papo foi descontraído (mais para ele, rs) e eu fiz o que pude nos quinze minutos grátis que tinha recebi para testar o programa. Acabei a conversa como se tivesse corrido uma maratona. Estava exausta, mas feliz. A despeito de todas minhas limitações, eu tivera uma conversa com um nativo falante de língua inglesa, sem uma única palavra em português e sem grandes momentos constrangedores. Talvez alguns pequenos.

            Tenho feito aulas de inglês durante toda a vida, mas nunca consegui o que queria: falar de forma razoável e ler rapidamente. Tantos livros de autores que gosto sem tradução para o português, além de textos técnicos cuja leitura me seria bem útil e o fato de já ter estado em situações delicadas recepcionando no Brasil pessoas de países de língua inglesa fizeram com que eu resolvesse tomar uma atitude mais severa comigo.

            Contratei o aplicativo para o período de um ano, pelo qual devo falar todas as semanas, por cerca de ao menos meia hora, via ligação de vídeo,  com pessoas que estão em diversos países do mundo, todos certificados para o ensino do inglês, com diferentes sotaques. Para muita gente pode parecer algo muito simples, mas para mim foi um passo e tanto.

            Nunca tive qualquer timidez para câmeras ou salas de aula, mas quando se trata de falar inglês eu tenho um botão de pânico de acionamento automático. Fico travada, literalmente. Nas poucas vezes nas quais estive no exterior, fiz de tudo para não ter que falar ou falei o mínimo possível, constrangida que fico.

            Não vou aqui fazer propaganda do aplicativo até porque esse não é meu objetivo, mas tem valido a pena. Voltei a contatar o mesmo professor, uma figura que mora em um farol de uma ilha nas Filipinas e que deixou NY para uma vida mais leve, mais feliz. Sem querer, sem saber, tem ajudado a melhor a minha também! E viva a globalização. Thank you so much!!!

 

 

 

 

Cinthya Nunes  jornalista, cronista, advogada, professora universitária e agora acredita que pode falar inglês um pouco melhor – cinthyanvs@gmail.com



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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - ASSUNTO DE MENINA

 

 

 

 

 

 

 

 

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A menina, em atividade sobre seu primeiro brinquedo, desenhou um coelho róseo. Chamou-me a atenção a forma elíptica na barriga. E fomos conversando sobre as lembranças dela de criança, embora tenha deixado a infância há pouquíssimo tempo. Uma mistura de contos de fada  e bruxas.
À medida que proseávamos, compreendi o desenho. Sua primeira década, embora com bichinhos de pelúcia, teve outros acréscimos. Filha mais velha. Pouco depois, mais uma criança e mais tarde, outra. Do pai não me fala, a mãe, contudo, precisa trabalhar para sustentá-los e o emprego fica a 15 quilômetros do lugar onde residem. Assume a “programação” da casa e divide, de segunda a sábado,  algumas tarefas com a irmã um pouco mais nova, principalmente no período em que se encontra na escola. Oscila entre a infância e a adolescência sem perder a noção de incumbência com a casa e os menores. Cada um tem que cumprir o seu papel com o propósito de que a família se mantenha no equilíbrio determinado. O cuidado com ela, contudo, nem sempre é o ideal. Teme as reprimendas da mãe, mas, em paralelo, se junta a amizades que nada acrescentam, pelo contrário, já andam pelas bordas do ilícito.
Preocupo-me com a independência precoce de quem se responsabiliza por certas funções que pela faixa etária não seriam suas, mas que a necessidade obriga. Aflige-me esse ir e vir, como se a rua não oferecesse perigo. Em todas as ruas há um desvio ou um bueiro móvel que pode levar à tubulação do esgoto do mundo. Angustia-me a circulação de menores no entardecer, que pode desviar o rumo.
Assumir encargos não deforma a educação, o que adultera o caminho são as fugas ao não se aguentar as inúmeras tarefas. E fico pensando no brincar reduzido, devido à circunstância de pobreza de tanta gente, em um país com denúncias inimagináveis de corrupção.
Observo-a: olhos inocentes com maquiagem pesada, batom carmim... Gosta do balanço, do escorregador, de pirulito, da casinha de brinquedos... Uma contradição. A menina que a habita, pelos compromissos, procura aparentar que é mulher adulta e nessa mulher adulta a criança transborda.
Quanto à forma elíptica na coelha, posicionada de qualquer jeito na folha de papel, mais nas margens de sua vida, segundo ela é sinal de cesáreas. Identifica, até mesmo no bichinho de pelúcia, os partos da mãe, dos quais ela é cuidadora.

 

 

 

 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.


 
 



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JOSÉ RENATO NALINI - PERTO E À DISTÂNCIA

 

 

 

 

 

 

 

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O Brasil dos preconceitos hostilizou durante bom tempo o ensino à distância: EAD. Talvez por associá-lo a uma espécie de fraude. Somos especialistas em subverter ou perverter princípios. Assim acontece com a chamada “presunção de inocência”, que alguns preferem chamar de “não culpabilidade”. Uma ideia que a antecede é a “presunção de boa-fé”, resquício da idílica visão rousseauniana do homem bom. Essa a teoria. Na prática, somos seguidores de Hobbes, para quem “o homem é o lobo do homem”. Então presumimos a má-fé.

Um componente assim está na resistência ao EAD. Tende-se a acreditar que, sem alguém para vigiar, o aluno logo se desinteressará do conteúdo e nada assimilará da aula disponível a qualquer momento e em qualquer lugar.

Estes desconfiados talvez não tenham contato com a sala de aula que, em praticamente todos os níveis, a presença física não tem necessária vinculação com a presença mental. Aulas prelecionais já não satisfazem um alunado que parece já nascer com chip. Vive-se, em plenitude, a era digital. Tudo é virtual. A escola não acompanhou as mutações pelas quais passou o mundo e a vida e, por esse motivo, vê-se relegada. O que mais existe no ensino médio, que é exatamente a idade mais vulnerável, adolescência e maioridade legal, é a geração “nem-nem-nem”. Aperfeiçoamos o “ni-ni” francês, para acrescentar mais um nem: nem estuda, nem trabalha, não está nem aí!

Propiciar a quem tem curiosidade o acesso à EAD é contribuir para desenvolver responsabilidade, maturidade e prestígio ao autodidatismo. Hoje não é possível continuar a acreditar que alguém detenha o conhecimento e o transmita para quem dele não dispõe. A informação, que se transforma em conhecimento, está disponível online e nunca foi tão acessível. O segredo da educação contemporânea é estimular a curiosidade do educando. Sem isso, pode fazer reforma curricular, pode adotar base nacional, nada fará com que a criança e o jovem se interessem pelo aprendizado. Algo que deve provir da cabecinha deles, mas sob indução de alguém muito perspicaz, inteligente e suscetível de exercer uma saudável sedução sobre o aluno.

Tudo o que puder tornar o aprendizado mais atraente é bem vindo. O desinteresse é a regra em inúmeras escolas. Em todos os níveis, ressalvada a primeira infância, que ainda não se cansou da mesmice. Quem leciona em curso universitário vê a catástrofe de um alunado que não lê, não escreve, não sabe falar, não sabe pensar. Não consegue interpretar um texto.

Por isso é que se mostra urgente oferecer àquele que tem vontade, que faça pesquisas e mergulhe num conteúdo à distância, para não perder tempo em aulas insossas, repetitivas, em salas repletas e com a maior parte interessada em consultar seus mobiles ou em fazer qualquer outra coisa. Menos prestar atenção no esforçado professor.

O EAD no ensino universitário teve aumento de 27% em 2017, segundo o MEC. Isso levou o Ministério a permitir ampliação da oferta para o Ensino Médio. Melhor ainda quando se permitir ao aluno interagir com o conteúdo, enriquecê-lo, enxerta-lo, trocar ideias com os monitores e mostrar que está realmente a tirar proveito dessa ferramenta.

Perto ou à distância, aprender é algo que começa no interior de cada aprendiz. Conscientizá-lo disso é o desafio de todos nós educadores.

 

 

 

 

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Uninove, conferencista e advogado, Presidente da Academia Paulista de Letras.

 

 

 

 

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PÉRICLES CAPANEMA - O FUTURO ANTES DA HORA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Amigo meu de décadas, como poucos culto, amável e inteligente, enviou-me dito francês conhecido “savoir dire, savoir plaire, savoir faire” (saber dizer, saber agradar, saber fazer), como possível tradução da locução inglesa “soft skills”, por mim examinada em texto recente ▬ “Foco no sucesso”, desde 27 de outubro em meu blog periclescapanema.blogspot.com.

 

Perguntava eu no artigo se alguém tinha em mente tradução adequada para o que hoje significa “soft skills” no mundo dos negócios, em que de forma especial exprime qualificações necessárias para ali alcançar posições de destaque (eu não tinha). Minha intenção primeira no presente texto era discorrer sobre em que a viva construção francesa acima transcrita parece exprimir corretamente o “soft skills” e em que, a meu entender, deixava de lado certos aspectos.

 

Todo o artigo já estava na cachola, era só limar um ou outro pormenor e pôr no papel. No texto imaginado por mim havia um ponto que só uma vez ouvi levantado (aliás, por político mineiro que já nos deixou há tempos) como fundamental na vida: a importância do convívio com homens inteligentes. O experiente homem público julgava indispensável para a formação intelectual, para moldar a personalidade, para as obrigações de pai de família e de profissional o tal convívio. “Procure sempre o convívio dos homens inteligentes”. Claro, homens no sentido normal da palavra, mulheres, crianças, moços, idosos (seres humanos). Ousaria rematar com um pontinho: busque o convívio dos bons observadores. Nada soma quem não sabe ver direito a realidade. Os raciocínios brotam desfocados se os olhos antes não captam realidade objetiva e rica.

 

Corta, o resto fica para depois. De repente fui agredido pela realidade e me vejo obrigado a tratar agora de outro assunto. O amigo acima mora em Frankfurt. Outro amigo, residente em Paris, a quem não vejo faz muito tempo, muito tempo mesmo, o que lamento, têm algo em comum: o mau gosto de ler textos meus. Passou os olhos pelo “Preocupa” (postado no blog também em 27 de outubro) e se viu na obrigação de me avisar: o futuro já chegou. Pensei comigo: antes da hora (para os incautos). O futuro em tela estava marcado para 2047.

 

Todos sabem, o “Le Monde” é jornal de enorme importância, com viés de centro-esquerda (não é um “Le Figaro”). E assim em geral ecoa mal ou não ecoa as vozes que vêm da direita. O “Le Monde” edita uma espécie de revista “Le magazine du Monde”, cujo número 424 de 1/11/2019 traz informativo artigo de Florence de Changy intitulado “Les entreprises étrangères sous pression chinoise” (As empresas estrangeiras debaixo da pressão chinesa).

 

Não são empresas pequenas, são mamutes famosos, alguns dos quais do mundo do alto luxo. Florence de Changy começa relatando o caso da NBA (National Basketball Association), a gigante norte-americana que coordena o basquete nos Estados Unidos. Um simples tuíte de Daryl Morey, dirigente do Houston Rockets, apoiando os combatentes pela liberdade em Hong Kong (atenção, só reclamam o que consta dos textos legais), desencadeou furor na China continental, o que causou prejuízos grandes aos maiores clubes dos Estados Unidos. Alguém duvida que o furor não foi instigado pelas autoridades chinesas? Retaliada no bolso, a NBA entrou logo na linha. O recado, e não é o primeiro, ficou mais claro: o governo chinês exige lealdade absoluta (se quiserem troquem lealdade por submissão, fidelidade, vassalagem, subserviência, dá no mesmo). Não admite ninguém pisando fora da linha traçada pelo PCC (Partido Comunista Chinês).

 

Outro caso. Tem sede em Hong Kong uma linha aérea grande e reputada, a Cathay Pacific. Em agosto, o governo chinês exigiu da empresa que demitisse imediatamente duzentos empregados que participaram dos presentes protestos na cidade. Ou, menos que isso, de alguma maneira manifestaram algum apoio, mesmo que discreto. Ordem dada, ordem cumprida. Foram logo demitidos os pouco mais de duzentos funcionários. Rua. E ainda três dirigentes. A punição não terminou aí, funcionários de grandes empresas chinesas estão proibidos de voar na Cathay Pacific. Avery Ng, deputado social-democrata, nota: “O governo chinês deu o recado: qualquer pessoa, qualquer uma mesmo, que ousar tomar posição não conforme à linha determinada pelo Partido Comunista Chinês, será punida ou demitida. É aviso ameaçador para todas as empresas que tenham o menor interesse no mercado chinês”.

 

Poucas semanas depois, foi a vez do BNB Paribas, banco francês. Funcionário seu em Hong Kong ousou colocar no Facebook particular expressão de alguma maneira depreciativa com a China continental e favorável aos Estados Unidos. Sofreu avalanches de ataques das milícias digitais. Teve de sair do banco (a reportagem não deixa claro se pediu demissão ou foi demitido; na prática, a mesma coisa, rua).

 

Resumindo o clima, observou francês residente há quinze anos em Hong Kong: “Começamos a ter medo de nossa própria sombra. É enorme o efeito da intimidação chinesa. Todo mundo sabe, mas não se pode falar a respeito. Além do mais, de que adiantaria? É a nova realidade”.

 

De momento, todas as grandes empresas de Hong Kong, e aqui estão incluídas as francesas, muito presentes no setor do luxo e das finanças, temem o passo em falso fatal. Têm uma única escolha: obedecer Beijing. Versace, Givenchy, Coach, Delta Airlines, Zara, entre outros, já pagaram por seus erros.

 

A vigilância inclui o Tibete e a China Nacionalista. Estão proibidos comentários ou quaisquer manifestações que destoem da linha oficial do Partido Comunista. Beijing nos dois assuntos não tolera ponderações contrárias a seus interesses. A Dior, numa apresentação interna, projetou um mapa da China. Por distração, não constava nele Taiwan. Guerra das milícias digitais. A Dior se dobrou em desculpas, reconheceu publicamente o dogma comunista da “China única”, “respeito constante pelo princípio da China única”. E assim vai.

 

E assim irá. Pelo tratado com a Inglaterra, a administração de Hong Kong só passará a ser chinesa em 2047. A China perdeu a paciência, mandou às favas escrúpulos, e já está sinalizado sobre o que teremos pela frente. O futuro está chegando antes. Para Macau, a data é 2049, mas ali o futuro já chegou. Eles não piam contra a China, que já domina tudo. Hong Kong e Macau recebem hoje tratamento que, se não acordarmos, será o nosso daqui a algum tempo. Quando? Não sei. Uma coisa sei, para nós, o futuro também pode chegar antes da hora.

 

 

 

 

 

 

PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:32
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