PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 27 de Março de 2020
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - O MOMENTO PRESSUPÕE ABSOLUTA SOLIDARIEDADE

A solidariedade como propósito moral vincula o indivíduo à subsistência, aos interesses e às obrigações dum grupo social, duma nação ou da própria humanidade, fazendo com que ele partilhe construtivamente da vida do seu semelhante. Encerra assim, dois aspectos, ou seja, participação e ajuda: uma virtude que se subordina à disposição afetiva em relação a quem nos avizinha. Para Franz Kafka, ela “é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.
Numa época de pandemia internacional, não há como os padrões dominantes privilegiarem o ter em detrimento do ser. Faz-se necessário traçarmos um novo horizonte para o amanhã, com a asseveração de princípios básicos como a solidariedade, que integra a terceira geração dos direitos humanos. Por isso, imperioso que se multipliquem as ações sociais, comunitárias e gerais, visando colaborar em todos os sentidos para que o problema se amenize.
Todavia, isso só se tornará realidade quando, se dentro de nós mesmos, o individualismo for substituído pelo amor sincero ao próximo. Somente a solidez dessa conduta capacitará os indivíduos a resistir aos apelos fáceis e ao comodismo. E essa mesma firmeza é que cria o respeito e o entendimento entre as pessoas, sendo que o compromisso com o bem comum vai se traduzindo no esforço constante de se promover o ser humano.
O futuro, coletivo e individual, depende de esforços pessoais que se somam e começam a mudar pequenas questões para que estruturados em muito trabalho e nunca boa dose de renúncia, alcançar gradualmente, e o quanto antes, a consolidação de uma convivência afável, fraterna e igualitária, vencendo-se o corona vírus que hoje é um problema mundial e comum.
E mesmo porque, de acordo com a Constituição Federal do Brasil, constitui um dos objetivos primordiais da República Federativa do Brasil no âmbito interno, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLIé advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas(martinelliadv@hotmail.com)
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - O SETE DE SETEMBRO FOI MESMO UMA RUPTURA ?

A historiografia do século XIX, marcada pela influência do racionalismo e do positivismo, concentrava sua atenção na narrativa dos fatos isolados, considerando cada um deles em si mesmo e por si mesmo. Já a historiografia do século XX, com as inovações metodológicas introduzidas pela famosa École des Annales, tende a considerar na História os períodos de longa duração. Tal abordagem, aliada à interdisciplinaridade também adotada por essa escola inovadora, permite abarcar numa visão de conjunto a trajetória dos povos e das sociedades humanas e, ao mesmo tempo, permite entender melhor os próprios fatos isolados, porque inseridos num contexto mais amplo e devidamente contextualizados.
A história, vista numa perspectiva de longa duração, é constituída por continuidades e por rupturas. Por vezes, é muito claro o que é continuidade e o que é ruptura, mas às vezes as coisas não são tão simples assim; podem ocorrer rupturas profundas por baixo de uma aparente manutenção de um status quo, como também podem ocorrer rupturas de superfície que, em profundidade, permitem o prosseguimento de uma situação de continuidade.
Que pensar da Independência do Brasil, que se comemora nesta semana e cujo bicentenário se celebrará em 2022? Representou ela uma ruptura ou uma continuidade?
Em primeiro lugar, é preciso considerar que, institucionalmente, o Brasil já era independente desde 1815, quando foi elevado por D. João VI à condição de Reino Unido a Portugal e aos Algarves. De acordo com o Direito Público internacional, pois, o Brasil estava em situação de paridade com a velha Mãe-Pátria. Na verdade, eram dois reinos independentes, tendo em comum apenas o fato de serem governados por um mesmo monarca, numa situação semelhante à do Reino Unido atual, à do Império Áustro-Húngaro ou à de Portugal no período 1580-1640, quando teve como reis monarcas que também eram reis da Espanha.
Na realidade, o Príncipe-Regente e depois Rei D. João soube transformar em apenas 13 anos um Brasil vice-Reino, que encontrou provinciano e acanhado em 1808, num Reino-Unido a Portugal, estuante de vitalidade e de virtualidades que até hoje, decorridos dois séculos, ainda não foram suficientemente exploradas e ainda estão muito longe de se esgotar. Mais do que isso, soube prever a separação do Brasil de sua antiga Metrópole; sentiu que essa separação era inevitável, sentiu que as circunstâncias a estavam tornando iminente. Soube prepará-la da melhor forma possível, deixando seu filho como nosso primeiro Imperador. Conta-se que, ao partir para Lisboa, em 1821 - aliás, a contragosto, pois pretendia ficar mais tempo no Rio de Janeiro, consolidando sua imensa obra de criação de um império - teria dito ao filho: "Pedro, apanha essa coroa e põe-na sobre tua cabeça antes que algum aventureiro lance mão dela".
O aguerrido e impetuoso Pedro I seguiu à risca o conselho paterno. Sem a permanência da dinastia bragantina no Brasil, teríamos tido o mesmo destino da América espanhola: ter-nos-íamos fragmentado numa série de repúblicas e republiquetas, dominadas por caudilhos e aventureiros.
Assim consideradas as coisas, pois, parece-me que o Sete de Setembro, se por um lado representou uma ruptura, por outro lado se fez não traumaticamente, mas mantendo a linha da continuidade, e isso, a meu ver, beneficiou o Brasil. A influência de José Bonifácio, o experiente e sábio conselheiro de D. Pedro, teve papel importante na transição. Ele sabia muito bem o que estava fazendo, porque, quando jovem estudante, vivera em Paris durante o sanguinário período do Terror e presenciara, pessoalmente, os desmandos de uma Revolução traumática e radical. Era de uma tragédia desse tipo que ele, acima de tudo, queria preservar o Brasil. E, graças a Deus, conseguiu.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
CINTHYA NUNES - PÉTALAS

Olho para a tela em branco e meu coração acelera. Não consigo pensar em outra coisa. Tenho buscado alguma leveza para essas horas infindáveis. Impossível assistir aos noticiários ou mesmo ler jornais. Notícias verdadeiras se misturando com falsas. Exageros disputando espaço com descaso. A sanidade mental das pessoas querendo se equilibrar a todo custo, sobre um fio que balança o tempo todo, ora pelo vento, ora pela loucura dos demais.
Começo o dia alimentando nossos animais de estimação. Até eles andam estranhos e, talvez pura loucura minha, mas tenho a sensação de que me olham sem nada (ou tudo) entenderem. Sem passear há mais de uma semana, as cachorras já desistiram de me convencer a sair. Nem mesmo me acompanham afoitas nas poucas vezes que vou até a porta de entrada. Aqui dentro tudo parece congelado, estático.
A árvore do vizinho, uma quaresmeira, derruba todos os dias um tapete de pétalas roxas no meu pequeno quintal, que amanhece simplesmente forrado. Teria eu nunca reparado na quantidade absurda de flores ou nesse ano ela também achou um jeito de se lamentar? Em silêncio eu as varro, como um ritual, como para ter alguma coisa diferente em que pensar. Sei que é inútil, eis que logo mais tudo estará igual, mas tenho a sensação de que fazer isso tem algum propósito.
Confiro os meus vasos e a despeito de tudo as orquídeas estão em flor. São muitas e de cores variadas. Nunca as achei tão belas e, em um paradoxo, jamais me pareceram tão insignificantes. Estranho demais a ausência dos beija-flores e cambacicas que viviam pelo quintal, deleitando-se com o néctar fresco que eu destinava a elas. Há semanas não aparece nenhuma. Não sei se há alguma explicação razoável, mas prefiro nem pesquisar. Ando vivendo em câmera lenta.
No início pensei que a pandemia pudesse agregar as pessoas, permitindo o renascer de sentimentos já esquecidos, como a solidariedade. Embora algumas pessoas de fato tenham se unido em prol das outras, parece-me, no Brasil, que nunca se discutiu tanto sobre política. Podem me classificar de ingênua ou do que quiserem, mas tenho a sensação de que todos somente querem ter a última palavra. O que importa é ser o dono da verdade, mesmo que ela seja uma mentira.
Muitos tem trocado ofensas e brigado tanto que amizades vem sendo perdidas, como se não estivéssemos correndo o risco de perder bem mais do que isso. Tudo parece ser uma disputa, um jogo idiota para ver quem fala mais bonito, quem conquista mais plateia. E enquanto alguns buscam louros públicos, outros se sacrificam, quase literalmente, em silêncio, para que os demais possam se salvar.
Agora, mais do que nunca, talvez por me faltar no passado a real dimensão de tragédias como essa que vivenciamos, todos os profissionais da saúde tem o meu mais profundo respeito. Sem poderem parar, lutam todos os dias pelas vidas que estão sob seus cuidados, eles mesmos expostos e correndo riscos. Eles e os profissionais que nos mantem vivos, alimentados e em segurança que merecem nossa atenção, nossas orações e nossa admiração.
Faltam-me forças para escrever sobre amenidades. Por ora, elas deixaram os meus dias. Sigo observando as pétalas de cor roxa que cobrem meus minutos e não sei se serei capaz de voltar a vê-las com outros olhos, já que me parecem lágrimas. Não escrevo para desanimar ninguém, no entanto. Dias melhores virão, mas espero que eles nos possam redimir de alguma forma. Tem sido difícil não engrossar o cordão dos malucos.
CINTHYA NUNES é jornalista, advogada, professora universitária e anda triste por ora – cinthyanvs@gmail.com
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - DESERTO E DESASSOSSEGO

Em meio aos desertos da Quaresma e do Coronavírus, a senhorinha me procurou angustiada. Necessitava de notícias do companheiro que foi levado, na noite anterior, após passar pela UPA, para o hospital público. Passara mal a partir das dores no peito. Não pôde acompanhá-lo na ambulância pelos seus mais de 60 anos. A idade dela e os riscos de contaminação a impediram de vê-lo. Ele, que chegou há anos do sertão do Nordeste e perdeu o contato com a família, é mais novo. Suplicou-me em lamento: “Não quero que ele pense que está abandonado. Ele só tem eu (sic)”. Comovi-me. Em sua casa, ela também só tem ele.
Experiência de deserto. O Senhor também a vivenciou com quarenta dias de fome e provocou impacto no demônio que o tentava. Prática do despovoado a quarentena pelo Coronavírus. Cessaram-se proximidades, encontros, reencontros, abraços em despedidas, ombros em situações de dor. Há um silêncio que aperta o coração. Os noticiários sepultam sonhos.
Penso na Via-Sacra. É tempo também de rezar, contemplar os fatos, compadecer-se, acolher os mais tristes, abandonados e fragilizados. É tempo de renunciar a si mesmo, tomar a cruz que cabe a cada um e segui-Lo. Alguém me traz a oração dos missais antigos: “Senhor, Vós que confiastes a Moisés o mandato de bater na pedra para que dela brotasse água, batei na pedra do meu coração, para que eu verta lágrimas”. Que assim seja!
Penso na dor de Jesus a caminho do Calvário e na de Maria Santíssima ao observar o Filho Desfigurado. Recordo-me de uma colocação da Venerável Madre Carminha de Tremembé, que em janeiro último teve suas virtudes heroicas reconhecida pelo Papa Francisco: “Nunca Jesus se fez tão pobre como na Cruz! Seu trono é o patíbulo dos malfeitores! Quem morria na cruz era tido como amaldiçoado por Deus! Aceitar esta humilhação é loucura de amor”.
Quaresma difícil, sem a claridade das celebrações na Igreja, sem a Eucaristia... Momentos de tristeza e solidão, de sustos e temores, especialmente para os mais idosos. Tempo, no entanto, também de esperança, pois, conforme me disse o Padre Márcio Felipe, pároco desta Igreja, estamos no deserto, porém com Jesus Cristo. É nEle que somos convidados a não ceder às tentações existenciais, mas a caminhar com os olhos no Céu e nas necessidades do próximo. E se surge a pergunta sobre “Onde está Jesus?” A resposta também vem da Venerável Madre Carminha: “Achei Jesus na delicadeza do amor”.
“Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro.”
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
PÉRICLES CAPANEMA - A CANHOTADA PIRA

Marcos, ídolo do futebol, antigo goleiro do Palmeiras e da seleção, em 21 de março pelo instagram deu os parabéns de aniversário ao presidente Jair Bolsonaro, torcedor do time: “Feliz aniversário Presida! Força aí nesse momento, seja mais Jair e menos Messias, mantenha a fé, a paciência, humildade e a responsabilidade que o cargo exige, do mais, tamo junto! OBS: agora a canhotada pira, aguenta ou surta! Desativei os comentários, pronto, agora só eu falo, pra quem gosta de Cuba e Venezuela e querem que aqui seja igual, vai se acostumando e treinando a ter um ditador aqui no meu insta!”
A canhotada não aguentou, pirou. Marcos segurou as bolas e chutou de volta: “Fui roubado pelo maior esquema de corrupção da história da humanidade, vcs perdoaram? Eu não! Vcs são melhores que eu!”. A canhotada não surtou, mas pirou de novo.
Mais tarde, parece, gol vazado, Marcos mudou o tom e postou: “Amigos, agora é sério, sem tretas e provocações, o problema é grave. Torço do fundo do meu coração para que eu, toda minha família, vocês e os seus, consigamos passar por essa guerra sem perdas, vou dar um tempo com as brincadeiras e provocações políticas, porque não é mais o momento pra isso. O assunto é muito sério, vou dar um tempo por aqui, cuidem-se e que Deus proteja a nós e aos enfermos desse mal”. Não sei o que terá acontecido. Fica a impressão, houve contraofensiva cerrada. Imaginei, o título desse artigo poderia ter sido: Intolerância e exclusão.
Pouco depois, Marcos prometeu ajudar com um salário mínimo mensal durante seis meses a dez desempregados. Atitude bonita, ajudar os que agora sofrem, merece elogio.
Pensava, o Marcos foi jair, tenta ajudar (seja mais Jair e menos Messias). Mas quem resolver o caso do coronavirus vira messias. Foi aí recebi um verdadeiro ensaio enviado por amigo colombiano de décadas.
A análise é de 21 de março, publicada no El País, diário de Barcelona, o principal da Espanha, centro-esquerda; digamos, seria a Folha de São Paulo de lá. O autor do trabalho é Byung-Chul Han, intelectual sul-coreano que mora em Berlim, filósofo celebrado e professor universitário. Tem livros de ampla circulação em especial na esquerda libertária, vários dos quais traduzidos para o português e vendidos aqui. A Editora Vozes (que publica os livros de Leonardo Boff) edita livros de Byung-Chul Han. Por aí já se pode ter uma primeira ideia de qual orientação tem o sul-coreano. Ele pisaria, para simplificar, as pegadas de Michel Foucault. O título do ensaio que está no site do El País (seção Ideas – Opinión): “La emergência viral y el mundo del mañana. Byung-Chul Han, el filósfo surcoreano que piensa desde Berlim”.
O mais importante já está no cabeçalho: o mundo de amanhã. O ensaio começa com uma constatação: “Em Hong Kong, Taiwan, Cingapura existem poucos infectados. A Coreia do Sul também já superou a pior fase. Igual, Japão. Mesmo a China, o país de origem da pandemia, já a tem bastante controlada. Mas nem em Taiwan, nem na Coreia do Sul foi decretada a proibição de sair de casa, não foram fechados restaurantes e lojas. Entrementes, começou um êxodo de asiáticos que querem sair da Europa. Chineses e coreanos querem voltar para seus países, porque lá se sentem mais seguros. Os preços das passagens aumentaram. Está difícil conseguir passagens para a China ou a Coreia”.
Continua Byung-Chul Han: “Os Estados asiáticos como Japão, Coreia, China, Hong Kong, Taiwan, Cingapura têm mentalidade autoritária. Não apenas na China, mas também na Coreia ou no Japão a vida quotidiana está organizada muito mais estritamente que na Europa. Para enfrentar o vírus, os asiáticos apostam na vigilância digital. Na Ásia as epidemias não são combatidas só por virólogos, mas sobretudo por informáticos e especialistas em big data. Os apologistas da big data dirão que ela salva vidas humanas”
O filósofo diz que quase não há reação contra a invasão da vigilância digital na vida diária dos cidadãos. Continua: “Na China em nenhum momento da vida quotidiana você está fora da observação. Controla-se cada clique, cada compra, cada contato, cada atividade nas redes sociais, a travessia em um semáforo vermelho. Na China existem 200 milhões de câmeras de vigilância, muitas com instrumentos de inteligência artificial. Os provedores chineses de celulares compartilham os dados sensíveis da seus clientes com os serviços de segurança e de saúde”.
Explica como foi detida a pandemia em vários locais da Ásia, em Wuhan inclusive, com o emprego da vigilância digital e compartilhamento de big data. Infectados, suspeitos, encontros deles, tudo era monitorado em tempo real. E aqui chego ao que pretendo particularmente destacar hoje: “A China poderá vender agora seu Estado policial digital como um modelo de êxito contra a pandemia, exibirá a superioridade de seu sistema ainda com mais orgulho. A comoção é um momento propício para estabelecer um novo sistema de governo. Oxalá que depois da comoção provocada pelo vírus não se estabeleça na Europa um regime policial digital como o chinês”.
Resumi muito, o ensaio é enorme. Em duas palavras, o controle digital minucioso mais que o sistema sanitário, está liquidando a pandemia, salvando vidas. A contrapartida: o controle estatal. É a versão atual do “Better red than dead”, expressão tão ligada a Bertrand Russell; de outro modo, a tentação de dar a liberdade em troca da vida.
Daqui a pouco poderão chegar ao Brasil equipes chinesas para ajudar no combate ao coronavirus. Alucinações? Elas já estão na Itália. Lá também estão médicos cubanos que foram aplaudidos ao desembarcar. Está também chegando a ajuda russa, equipamentos e cerca de 100 médicos epidemiologistas.
As patrulhas calarão os brasileiros temerosos de perder a liberdade? Se os emudecerem, a canhotada vai então deixar de pirar e passar a ganhar de goleada. Concluo. Não estou inventando hipóteses distantes. Existe o problema, arrombou nossas portas. Apenas o exponho ao ecoar de forma muito resumida, praticamente sem comentários, o que um intelectual libertário, inimigo do capitalismo, afirmou em diário esquerdista espanhol de grande circulação.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
JORGE VICENTE - NOSSA SENHORA DA VEIGA


JORGE VICENTE - Fribourgo, Suiça
FELIPE AQUINO - UM BREVE GUIA PARA SABER REZAR

Um sacerdote católico ofereceu três conselhos básicos dirigidos a todas as pessoas que desejam rezar, mas não sabem como fazer:
1. Rezar sempre
Pe. Donato Jiménez indicou ao Grupo ACI que “devemos rezar sempre, sem descanso, porque é manter a relação de amizade e de filhos com Deus. Então podemos rezar em qualquer lugar”.
Ele explicou que a oração é a forma do cristão dirigir-se a Deus, para estabelecer uma relação pessoal de amizade com Ele. Acrescentou que esta relação reflete a atitude de piedade que todo ser humano tem e também é uma maneira de recordar que somos filhos de um Pai amoroso e cheio de misericórdia que sempre cuida de todos.
Leia Mais: Quando rezar?
Como rezar?
Por que rezar?

2. O “Pai Nosso” é a melhor oração
Segundo Pe. Jiménez, o Evangelho conta que Jesus Cristo se retirava muitas vezes para rezar sozinho ou acompanhado e que a melhor oração que ensinou aos seus discípulos foi o “Pai Nosso”, porque inclui pedidos humanos e mostra como servir ao Senhor.
Destacou também que outras formas de rezar são “pedindo a Deus uma graça, como dizia Santa Teresa, mas, sobretudo como o Senhor nos ensinou, dizendo: ‘Pai nosso que está nos céus’, etc. Esta é a melhor maneira de rezar para o cristão”.
Leia também: Papa Francisco convida a rezar com estas duas orações “milagrosas”
Por que rezar pelos outros também traz benefícios para a nossa alma?
3. Recorra também às devoções pessoais
Pe. Jiménez indicou que “a Igreja tem a oração oficial que é a litúrgica, que é pública, mas nós temos mil maneiras de oração privada, particular, cada um segundo as suas necessidades, devoções, nível de espiritualidade ou sensibilidade. De qualquer maneira, o Pai Nosso sempre fará parte da nossa oração, como Jesus nos ensinou”.
FELIPE AQUINO - é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino
PAULO R. LABEGALINI - O CAVALINHO E A BORBOLETA

Esta é a história de duas criaturas de Deus que há muitos anos atrás viviam numa floresta distante. Na verdade, o cavalinho e a borboleta não tinham praticamente nada em comum, mas, em certo momento de suas vidas, se aproximaram e criaram um forte elo. Ela era livre e voava por todos os cantos enfeitando a paisagem; já o cavalinho, tinha grandes limitações porque alguém colocou nele um cabresto e, a partir daí, sua liberdade foi cerceada.
A borboleta, embora tivesse a amizade de muitos outros animais, gostava de fazer companhia ao cavalinho. Agradava-lhe ficar ao seu lado e não era por pena, mas por companheirismo, dedicação e carinho.
Assim, todos os dias ia visitá-lo e, lá chegando, levava primeiro um coice e, algum tempo depois, recebia um sorriso. Entre um e outro, ela optava por esquecer o coice e guardar o sorriso dentro do coração. O cavalinho estava sempre enfezado e insistia com a borboleta para ajudá-lo a carregar o seu pesado cabresto, contudo, ela dizia que não lhe era possível por ser uma criaturinha muito frágil.
Os anos se passaram e, numa manhã de verão, a borboleta não apareceu para visitar o companheiro. Ele nem percebeu, preocupado que ainda estava em se livrar do cabresto, porém, vieram outras manhãs e mais outras, até que o cavalinho sentiu-se muito só. Resolveu, então, ir procurar a amiga.
Caminhou por toda a floresta a observar cada cantinho onde ela poderia ter se escondido e não a encontrou. Cansado, deitou-se debaixo de uma árvore e lá ficou até que um elefante se aproximou e lhe perguntou o que fazia ali.
- Eu sou o cavalinho do cabresto e estou à procura de uma borboleta que sumiu.
- Ah, é você o famoso cavalinho? Eu tive uma grande amiga que dizia que também era sua amiga e falava muito bem de você. Mas, afinal, qual borboleta você está procurando?
- É uma borboleta colorida, alegre, que sobrevoa a floresta todos os dias visitando os amigos.
- Nossa, mas era justamente dela que eu estava falando! Você não ficou sabendo? Ela morreu e já faz muito tempo. Dizia que conhecia um cavalinho, assim como você, e quando ia visitá-lo levava um coice. Sempre voltava com marcas horríveis e todos perguntavam quem havia feito aquilo, mas ela jamais contou. Insistíamos muito para saber quem era o autor daquela malvadeza e ela respondia que só iria falar das visitas boas que tinha feito naquela manhã; era aí que ela falava com a maior alegria de você.
Nesse momento, o cavalinho já estava derramando muitas lágrimas de tristeza e de arrependimento. E o elefante continuou:
- Sei o quanto você deve estar sofrendo. Ela sempre me disse que você era um grande amigo, mas, entenda, foram tantos coices que ela recebeu do outro cavalinho que acabou perdendo as asinhas, ficou muito doente, triste e morreu.
- E ela não mandou me chamar nos seus últimos dias?
- Todos os animais da floresta quiseram lhe avisar, mas ela disse o seguinte: ‘Não perturbem o meu amigo com coisas pequenas, pois ele tem um grande problema que eu nunca pude ajudá-lo a resolver: carrega no dorso um cabresto e está cansado demais para vir até aqui’.
Bem, terminada a história, eu diria que gosto mais de contar outras de finais felizes, mas, às vezes, é preciso falar de coisas tristes para mexer um pouco com a sensibilidade das pessoas. Sabemos que há milhares de cidadãos que melhoraram de comportamento entre uma e outra lágrima derramada, embora não precisasse ser assim.
E, antes de voltar a falar da história, preciso dizer que a mente humana grava e executa tudo o que lhe enviamos: palavras, pensamentos, atitudes positivas e negativas etc. Se permitirmos, essa ação sempre acontecerá, independente de trazer bons resultados para cada um de nós.
Para provar esta teoria, um cientista dos Estados Unidos conseguiu um voluntário em uma penitenciária. Era um condenado à morte que seria executado em St. Louis, no estado de Missouri, onde existe a cadeira elétrica. Aceitando participar da experiência, ele seria libertado se sobrevivesse após feito um pequeno corte em seu pulso – o suficiente para gotejar sangue até a gota final. Se o sangue coagulasse, seria libertado, caso contrário, morreria; porém, sem dor.
Fizeram, então, o corte em seu pulso e disseram-lhe que ouviria o gotejamento na vasilha, mas, sem que ele soubesse, debaixo da cama havia um frasco de soro com uma pequena válvula e era o soro do frasco que gotejava.
Com o passar do tempo, o condenado foi perdendo a cor e teve uma parada cardíaca. Morreu sem ter perdido praticamente nenhum sangue; e o cientista conseguiu provar que a mente humana cumpre tudo o que é aceito pelo homem – seja positivo ou negativo – e que sua ação envolve todo o organismo – quer seja na parte orgânica ou psíquica.
Este fato é um alerta para filtrarmos o que enviamos à nossa mente, pois ela quase sempre não distingue o real da fantasia, o certo do errado. Simplesmente grava e cumpre o que acreditamos ser verdade.
Sabendo disso, hoje você até pode deixar de perdoar e guardar na mente os coices que lhe deram em algum momento da vida, mas, com o tempo, como aconteceu com a borboleta, as feridas não serão mais cicatrizadas. Quanto ao cabresto que tiver que carregar nessa pandemia, não culpe ninguém por isso, afinal, quando nos afastamos um pouco de Deus, nós mesmos o colocamos no dorso.
PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - A OPINIÃO PUBLICA

A cada passo ouço dizer : “ A opinião pública sobre determinado acontecimento ou figura, é esta ou aquela.”
Mas, o que é a opinião pública, se não o espelho da mass-media?
Vai o repórter à rua. Interroga o cidadão. Pede parecer. Questiona.
Uns, param; outros, escapam de acanhamento… e ainda outra divaguam …
Colhe as respostas. Vai para a redação, e “cozinha” os pareceres; e afirma: a opinião pública é esta: sobre o imposto, o politico, a figura publica.
Na verdade, mesmo que o jornalista seja correto – o que nem sempre é, – o que escutou, foi o que o cidadão: ouviu, viu ou leu…na mass-media.
O parecer depende, quase sempre: do jornal que se lê; da rádio que se ouve; do canal de TV, que se costuma escutar.
Também se forma opinião, consoante o local em que se vive; a Igreja que se frequenta; os amigos que se tem; e a posição que se ocupa no xadrez da vida.
Já o militante de partido político, segue, em regra, o pensar do líder, mormente se pretende cargozinho: na base ou na cúpula.
O mesmo acontece ao fanaticozinho desportivo, que vive as vitórias, e as derrotas do seu clube, intensamente, muitas vezes, mais do que os problemas familiares…
Mas, todos se convencem, que pensam pela própria cabeça, e não pelo que lhe dizem.
Mesmo o intelectual – a não ser a pequena elite, – sofre a influencia do que se diz e se pensa.
Para se ter parecer próprio, é necessário: reflexão e meditação. Examinar os porquês, que se escondem: nas palavras, nos gestos e atitudes; confrontar opiniões, e por fim concluir.
Só encontrei um homem (diria melhor : mulher,) que se dava a esse trabalho… e mesmo assim errava algumas vezes.
Em suma: a opinião pública, em regra, é a que interessa à elite e aos fazedores de opinião.
Nada mais.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - DOCE PRIMAVERA - Poema e voz de Euclides Cavaco

Este ano chegou mais cedo a PRIMAVERA. Oxalá ela volte a perfumar a esperança que a humanidade neste momento tanto precisa.
Videografia do talentoso amigo Afonso Brandão.
https://www.youtube.com/watch?v=LnCAULKMXKE&feature=youtu.be
Desejos duma magnífica semana.
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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NOTICIAS DA DIOCESE DO PORTO
http://www.diocese-porto.pt/
NOTICIAS DA DIOCESE DE JUNDIAÍ - SP
https://dj.org.br/
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Leitura Recomendada:

Jornal católico da cidade do Porto - Portugal
Opinião - Religião - Estrangeiro - Liturgia - Area Metropolitana - Igreja em Noticias - Nacional
https://www.jornalaordem.pt/
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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL
Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confisões.
https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes
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PONTO DE SITUAÇÃO ATUAL EM PORTUGAL
INFORMAÇÃO OFICIAL SOBRE O COVID - 19 EM PORTUGAL, E CONSELHOS ÚTEIS - Ponto de Situação Actual em Portugal
https://www.dgs.pt/corona-virus/materiais-de-divulgacao.aspx

Últimas Informações
27/03/2020
Comunicado do Conselho de Ministros de 12 de março de 2020
O Conselho de Ministros aprovou hoje um conjunto de medidas extraordinárias e de caráter urgente de resposta à situação epidemiológica do novo Coronavírus – COVID 19.
Leia maisO que é o Novo Coronavírus?
O novo coronavírus, designado SARS-CoV-2, foi identificado pela primeira vez em dezembro de 2019 na China, na cidade de Wuhan. Este novo agente nunca tinha sido identificado anteriormente em seres humanos.
Leia maisComo me posso proteger?
Nas áreas afetadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda medidas de higiene e etiqueta respiratória para reduzir a exposição e transmissão da doença.
Leia maisDevo Viajar?
A Organização Mundial da Saúde não recomenda restrições de viagens, comércio ou produtos, de momento e com base no conhecimento atual. No entanto, existem áreas do globo com transmissão Comunitária ativa em que o risco de contágio é elevado.
Leia maisÁreas com transmissão comunitária ativa
Leia mais 
Sexta-feira, 20 de Março de 2020
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - 21 DE MARÇO, DIA INTERNACIONAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Comemora-se a 21 de março o DIA INTERNACIONAL CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1969, nove anos após o denominado Massacre de Sharperville, cidade próxima a Johannesburg, na África do Sul e que vitimou quase 250 pessoas participantes de uma manifestação contra a Lei do Passe que exigia da população negra, a exibição de cartões de identificação, contendo os locais onde podiam circular. Embora o movimento fosse pacífico, o exército não hesitou em utilizar armas para conter a população negra que saiu às ruas reivindicando seus direitos, o que causou um saldo de sessenta e nove mortos e aproximadamente cento e oitenta feridos.
Trata-se de uma data muito importante, reveladora de algumas das faces cruéis do racismo, que não hesita em atirar em pessoas indefesas. Infelizmente, decorridos 39 anos, ainda vivemos num mundo onde as diferenças de raça, cultura, crenças, sexo ou condições sociais são motivos para discriminação, marginalização, lutas e preconceitos. Há perseguições e desrespeito contra ideias, comportamentos e povos. Atrás disso, está grande e injustificada prepotência de seres humanos que se julgam superiores a outros.
Ressalta-se por isso, que promover a igualdade é de extrema importância para o desenvolvimento social e econômico de um país, principalmente o Brasil, no qual há “o preconceito de se negar o preconceito”, mas ele continua forte e revela constantemente suas mazelas. A educação é a melhor arma, já que sem ela, a mobilidade social estará emperrada e a própria sociedade permanecerá refém de suas limitações, de suas desigualdades e de suas distinções. Mais do que nunca, é preciso combater veementemente todas as formas de intolerância e exclusão social, constituindo-se tal premissa num compromisso não só do governo, mas de toda a população em geral.
Há um preceito que diz todos são iguais perante a lei, inexistindo qualquer fundamento ou comprovação científica que justifique a aversão contra algumas pessoas, a não ser uma concepção falsa com opiniões sem lógica, fruto da ignorância daqueles que discriminam. A pedidos de alguns alunos, novamente evidenciamos esse texto, na esperança de que futuramente cada cidadão respeite o próximo, aniquilando completamente todos os tipos de manifestações preconceituosas.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaiense de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com).
PÉRICLES CAPANEMA - DECEPÇÃO

Tornou-se parada obrigatória o novo coronavirus. Não é para menos, basta atentar para o que os infectologistas estão advertindo. Não será diferente comigo, ponho o pé na estrada ecoando declarações; nos últimos dias duas me chamaram especialmente a atenção pelo que apresentam de auspicioso e relevante. Logo chegarei a decepção, objeto do artigo.
Sobre a disseminação do vírus, assisti na internet análise circunstanciada do professor Roberto de Mattei que soube unir em uma só palestra a erudição segura, a profundeza da análise e o sensus fidei. Título da postagem, Nuevo escenario mundial de Mattei. Circunspecto (aquele que olha em torno de si, considera toda a realidade), discorreu como scholar e líder católico. Em suma, não escondeu o perigo, mas o observou com olhar sobrenatural, poucos o têm, faz falta enorme.
Falei em líder. Palavras singelas vieram de outro dirigente, Ivan Duque, presidente da Colômbia ▬ potência emergente, 50 milhões de habitantes, mais de um milhão de quilômetros quadrados. Ali, de igual modo, transparecia fé: “Tenho em meu escritório o quadro de Nossa Senhora de Chiquinquirá, padroeira da Colômbia. Esta manhã me levantei pedindo à padroeira da Colômbia que nos consagre como sociedade, que consagre nossa família, nossos filhos. Que me consagre, tenho responsabilidades. A padroeira da Colômbia nunca nos abandonou. Sei, palavras assim não são comuns em minha posição”.
Pelo que consta, nenhum chefe de Estado até agora usou palavras assim. No mínimo o primeiro mandatário colombiano considera que, no fundo, pedir orações, exame de consciência, penitência, espírito sobrenatural ajudará o povo a trilhar o rumo certo.
Em tal caminhada, opinião generalizada, teremos pela frente meses de incerteza e sofrimento. Noto aqui, pois nada disso percebi nas análises, a provação criará condições melhores para orações, exames de consciência, elevação de vistas, emenda de vida. Ad augusta per angusta. Em tal caso, o sofrimento terá sido, tudo pesado, uma bênção. Lembrará a Nínive do profeta Jonas. De outro lado, como evitar ter em vista os anos loucos, les années folles da década de 20, em que os pavorosos sofrimentos da 1ª Guerra Mundial trouxeram, como desabafo e ricochete, explosões de desregramentos? O mundo civilizado em boa medida desperdiçou oportunidade extraordinária de regeneração, para muitos dele terá acontecido o pior, o naufrágio.
Passo agora ao tema do cabeçalho. Por que decepção? Decepção com o quê? Promessa, e promessa é dívida; a mais acho importante levantar a matéria. De maneira crescente amigos me têm feito comentários exasperados sobre a qualidade pessoal dos políticos que nos governam, esperavam muito mais ▬ decepção enorme. A respeito de alguns, pairavam esperanças. As deblaterações não são de agora, já borbotavam antes do estouro do coronavirus, que só agravou o quadro. Prometi algumas linhas a respeito e só vou tratar agora de um aspecto, em geral silenciado. Em artigo futuro, cuidarei de outros aspectos.
Era justificável a esperança? Foi surpresa a decepção? Sob certo ângulo, entro por assunto antigo, já no Império se criticava a classe política. Com palavras talvez um pouquinho diferentes, Ulysses Guimarães comentou décadas atrás a respeito: “Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior, e pior.”
Por quê? Culpa só dos políticos? Ou culpa sobretudo do eleitor que é quem os despacha para Brasília? Sabemos, a grossa maioria da população brasileira hoje já não sabe que deputado federal sufragou em 2018. Votou pouco informada, desatenta, desinteressada em candidatos que de fato não conhecia. À vera, nem interesse tinha de conhecê-los. Depois, uma minoria vociferante relama, repercutindo sentimento geral.
A representatividade política no Brasil vem caindo, repito, já constatava Ulysses Guimarães. Outros ainda. Faz parte de fenômeno mais amplo, descrito com vivacidade e realismo contundente por Nelson Rodrigues, que em parte colocava sua origem na falta do hábito de observar e raciocinar. Recolho dele observações de quente atualidade: “Somos mais idiotas do que nunca. Ninguém tem vida própria, ninguém constrói um mínimo de solidão. Pensam por nós, sentem por nós, gesticulam por nós. No vasto passado humano, o idiota como tal se comportava. Os personagens da História e da Lenda eram os melhores. Em nosso Brasil, o que havia era o ‘o grande ministro’, ‘o grande deputado’, ‘o grande jornalista’, ‘o grande tribuno’. Os idiotas não exalavam um suspiro. Antigamente, o silêncio era dos imbecis. E, de repente, tudo muda. Hoje, são os melhores que emudecem. Quem não percebeu a invasão dos idiotas não entenderá jamais o Brasil de nossos dias. Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”.
Detive-me nas palavras do dramaturgo recifense por um motivo: padecemos, décadas afora, o achatamento generalizado das personalidades, mesmo as mais relevantes, fenômeno moral, psicológico e social, mas com reflexos daninhos na política, na economia, na vida econômica. É fenômeno algum tanto notado e pouco estudado. Atinge sobretudo os interiores das personalidades. Nunca diminuirá a decepção que hoje se espraia Brasil afora, se não for mudado nosso interior. E então, em consequência de seiva nova, surgirá naturalmente o reconhecimento, a relevância e a premiação do que melhor existir na moral, na cultura, na inteligência. E na política. Concluo. O sofrimento que de momento assoma no horizonte e nos atemoriza, se bem aceito, ajudar-nos-á a retificar disposições interiores tortas, os grandes obstáculos ao progresso autêntico do Brasil.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"