A quantidade de lixo pelas ruas das cidades, sobretudo em uma cidade grande como São Paulo. Pelas ruas se encontra todo tipo de descarte. Parece-me que grande parte das pessoas simplesmente não se importa. Jogam lixo pela rua como se as coisas fossem ser absorvidas pelo concreto ou pudessem desaparecer como mágica.
Sempre que posso, ao menos na rua onde vivo, recolho uma infinidade de coisas que as pessoas descartam. Tampinhas, copos, garrafas, papel, anúncios de propaganda e restos de comida. Sei de algumas pessoas no bairro que fazem o mesmo. O restante fica para a Prefeitura recolher, mas é como enxugar gelo, já que todos os dias há mais e mais.
O curioso é que noto muito mais gente reclamando das folhas e flores que caem de algumas árvores do que da imundície deixada pelos seres humanos. Assim, há sempre pedidos para que árvores sejam cortadas, além das muitas que, criminosamente, são arrancadas pelos moradores incomodados com a “sujeira” que elas produzem. Acho difícil de entender, admito.
Pelas ruas do bairro, fazendo uma caminhada com minhas cachorrinhas, notei duas esquinas que, frente a frente, exibiam situações muito distintas. Em uma delas o lixo colocado pelos moradores, que na origem estava acondicionado de forma correta, encontrava-se revidado e espalhado para toda parte. Na outra, o chão estava amarelo, coberta das inúmeras florezinhas que a chuva da noite anterior fizera cair da imensa árvore. Era como céu e inferno. Só não sei como muitos invertem essa percepção.
Saindo da cidade de São Paulo, de carro, pelas marginais, uns dias depois, vi que os muitos Ipês estavam em flor. Flores roxas e rosas coloriam o gris habitual. Circundavam o rio quase morto e fétido. Impossível abrir a janela do carro, pois o cheiro, insuportável, atingia não apenas meu olfato. Houve um momento, há décadas, no qual acreditei que veria os rios Tietê e Pinheiros despoluídos. Hoje já não acredito mais, restando apenas imaginar a vida que um dia neles foi abundante.
Sou incapaz de jogar qualquer coisa que seja na rua. Procuro um lixo para fazer o descarte correto, seja lá do que for. Primeiro porque me ensinaram desde criança a agir desse modo e depois pelo que acredito e quero para o mundo. Ainda assim sei que indiretamente contribuo para o lixo no mundo apenas por existir e consumir. Tenho consciência da minha participação no caos, portanto.
Por mais que eu saiba que poluição, pobreza e ignorância seja uma tríade que anda de mãos dadas, é inegável que o descarte de lixo pelas ruas é feito por pessoas de todos os níveis sociais, o que é ainda mais lamentável, pois reflete somente descaso, desrespeito. Além disso, temos o despejo de esgoto clandestino, não tratado, feito por muitas empresas que apenas se preocupam com o lucro, como se fosse possível comer dinheiro e se não precisássemos de água limpa para viver.
Por outro lado, admiro o trabalho de formiga de algumas pessoas que, reunidas, tentam fazer algo para que tudo não fique pior. Recolhem lixo de manguezais, de rios, de praias, das ruas, das matas, cientes que os recursos não são infinitos, de que, se nada for feito, um dia seremos soterrados em meio a tanta sujeira, tanto daquela que conseguimos ver, como daquela invisível aos olhos.
CINTHYA NUNES é jornalista, advogada, professora universitária e queria que todo lixo jogado na rua e nos rios aparecesse, num repente, na casa de quem jogou – cinthyanvs@gmail.com/www.escriturices.com.br
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil
Imperialismo e colonialismo. Característica importante das potências colonizadoras e ainda das imperialistas, tantas vezes decisiva, têm créditos enormes a receber dos países sob seu domínio. Melhorando, créditos a receber de empréstimos normais ou subsidiados, bem como a agradecer donativos; são várias as formas de retribuição. Essa teia amarra e subjuga. Quem pede dinheiro emprestado e tem dificuldades de pagar, torna-se facilmente vítima de chantagem, perde pelo menos parte da liberdade. Devedor acaba ficando na mão do credor. É real entre indivíduos, é real entre países. Uns, os credores, tendem a agir como potências colonizadoras (ou imperialistas); os mutuários, os devedores, sobretudo quando não estão conseguindo pagar, como colônias, protetorados, satélites, estados clientes, confessados ou não, pouco importa, a realidade é o que conta. De alguma maneira, a situação se repete e até se agrava com créditos subsidiados e doações.
Créditos para 165 países. Grupo internacional de pesquisadores, (AidData), mais de 135 pessoas altamente qualificadas, ligado ao Global Research Institute (William & Mary’s), antiga e prestigiada instituição dos Estados Unidos, publicou em setembro último pesquisa iniciada “grosso modo” em 2013 sobre o intenso financiamento de projetos de várias naturezas realizado nos últimos anos pelo governo chinês, em especial por meio de bancos estatais e de empresas estatais do país. Em resumo, assevera a pesquisa, até o presente momento foram ou estão sendo financiados 13.427 projetos em 165 países, em especial de baixa e média renda per capita. No Brasil, apenas como exemplo, estão em curso vários projetos bancados com dinheiro chinês, de modo particular destaco por sua influência na cultura a instalação de numerosos “Instituto Confúcio” em universidades e grandes cidades. A instituição estatal chinesa oferece de modo sobressalente cursos de chinês e intercâmbios. Por exemplo, em São Paulo, o mencionado instituto está presente em 13 cidades. É trabalho contínuo, anos e décadas a fio, de derrubada de barreiras ideológicas. No Brasil, no conjunto, estão financiados pelos chineses 134 projetos, totalizando 39 bilhões de dólares ▬ empréstimos normais e empréstimos subsidiados. O total de financiamento chineses hoje no mundo está por volta de 843 bilhões de dólares (os dados estão na rede, relatório de 166 páginas, arquivo PDF, título “Banking on the Belt and Road: insight from a new global dataset of 13,427 Chinese development projects”). Desses 165 países, 42 têm dívidas com a China que excedem 10% de seu Produto Nacional Bruto. 334 instituições chinesas estão envolvidas na concessão dos empréstimos, dentre as quais se sobressaem ministérios, gigantes estatais e dois bancos estatais: CDB (China Development Bank) e China Eximbank, o banco destinado ao financiamento das exportações. De outra fonte (Refinitiv) vem a informação, existem 2.600 projetos vinculados à iniciativa Belt and Road, para os quais seriam necessários 3,7 trilhões de dólares em financiamentos.
US$385 bilhões de dívidas com a China desconhecidas de organismos internacionais. Do total das dívidas, cerca de US$385 bilhões de dólares não estão sendo contabilizados ou aparecem subcontabilizados nos órgãos de controle internacionais. A maior parte dos financiamentos envolve países que estão incluídos na implantação da chamada BRI (The Belt and Road Initiative – um cinturão, uma rota, em tradução livre), política do governo chinês iniciada em 2013, comportando gigantescas aplicações de capital para construção em particular de obras de infraestrutura (estradas, portos, hidrelétricas, aeroportos), com término previsto para 2049. Estabelecerá mastodôntica malha comercial centrada na China. Oficialmente, envolve 142 países, aqui incluídos países da América Latina e do Caribe. A China, concluída a presente iniciativa em curso, passará a ter papel semelhante à Inglaterra no século XIX e aos Estados Unidos no século XX. Seria uma nova Rota da Seda, malha comercial de intenso comércio entre 206 a. C e 220 d. C. De outro modo, tendo a China como centro, uma nova era de imperialismo comercial.
Contra-ataque ocidental. De momento, a China está aplicando aproximadamente 85 bilhões de dólares por ano em tais projetos, mais que o dobro das verbas destinadas a iniciativas semelhantes pelos Estados Unidos, por volta de 37 bilhões de dólares anuais. Contudo, com estímulo bipartidário e ainda apoio dos aliados mais importantes (Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, França e Japão), a Casa Branca começou a pôr em prática o programa “Build Back Better World - B3W” (Construa de volta (ou de novo) um mundo melhor, em tradução livre), anunciado em junho de 2021 na reunião do G-7. O presidente Biden colocou como meta, até 2035, aplicar até 40 trilhões de dólares em tal iniciativa, de modo geral, obras de infraestrutura em países pobres ou de renda média. Óbvio, a execução ainda depende de numerosos fatores. Alternativa ao BRI chinês, será antídoto poderoso contra o retrocesso representado pelo expansionismo comunista, veneno mortal. Poderá significar a permanência da liberdade e da prosperidade para dezenas de países, talvez mais de cem. Esperemos que a recente decisão política, ainda sujeita a muitas chuvas e trovoadas, tenha eficácia, de outro modo, que barre o neocolonialismo chinês. Seria grande avanço civilizatório. Todas essas iniciativas de contenção do expansionismo chinês dependerão da vivacidade da reação do público. Reatividade popular, aqui deve estar nossa maior atenção.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
A espontaneidade é uma palavra que vem do latim”sponte”, que significa livre,de boa vontade, voluntário..É a condição de algo ou alguém que é espontâneo, ou seja, que age de modo natural, verdadeiro e simples. É uma resposta imediata a uma situação, a um desafio, mostrando a nossa atitude perante um problema.
Algumas pessoas têm dúvidas sobre a grafia correcta desta palavra: espontaneidade ou espontaniedade. A forma correcta é espontaneidade. Quando se diz que determinada pessoa age com espontaneidade significa que o seu comportamento é original, simples e verdadeiro.
Sinónimos da espontaneidade:- aquiescência, naturalidade, fluência e voluntariedade.
Espontaneidade das reações. Em química, são conhecidas como reações espontâneas aquelas que são iniciadas sem a necessidade d uma influência externa. Por outro lado, as substâncias(químicas ou físicas) que necessitam de uma influência externa para que possam originar uma transformação são conhecidas como não espontâneas.
Ser espontâneo. Não é este um os valores que o homem e a mulher actuais mais apreciam? Para muitos, ser espontâneo é a única maneira de ser autêntico. Perdida a espontaneidade, perdida a autenticidade. Espontaneidade e autenticidade s
Ao duas atitudes que não se identificam, ainda que muitos pensem o contrário. Para esclarecer esse equívoco, é preciso afirmar que a espontaneidade, em si mesma, Não é nem boa nem má, pela simples razão de que a espontaneidade é apenas uma constatação; a única coisa que fazem o pensamento espontâneo, a palavra espontânea, o gesto espontâneo é abrir uma janela na alma,. mostrar como que através de um vidro o que no interior. O que temos dentro vê-se pelo que sai espontaneamente para fora.
Se alguém tem preguiça, vai sair preguiça, se guarda rancor., vai sair rancor; se cultiva amor, vai sair amor. Como uma chapa do pulmão, que revela, mas não melhora nem piora a saúde Então por que chamamos “autenticidade” a uma coisa como a espontaneidade que, em termos de valor, é perfeitamente neutra? No caso, a confusão não é só de palavras, mas de ideias. ; e isso é muito perigoso, porque as ideias determinam a conduta. Nada há, talvez, mais espontâneo do que os nossos desejos, «bons ou ruins. Pois bem, se confundirmos a autenticidade com a espontaneidade, será lógico pensarmos – como muitos fazem – que a atitude mais “autêntica” é a de seguir os nossos desejos sejam ele quais forem, deixar-nos levar pelas nossas apetências e “vontades”.
Quando perdeu a sua espontaneidade?
Imagine-se a entrar numa sala com uma palavra com 500 pessoas desconhecidas, e um senhor no palco o chama para falar durante 30 minutos. Foi apanhado se surpresa, sem aviso prévio, nos dois minutos que caminha até ao palco, sabe que terá que ter um discurso de improviso. Um discurso de improviso é um bom exemplo de espontaneidade. Quantos de nós iríamos caminhar até ao palco de ânimo leve e descontraído?.
Quando crianças somos espontâneos .Falamos o que penamos sem medo, sem o autojulgamento se a palavra está certa ou errada, bem pronunciada ou não .Resolvemos ir ter com alguém à rua, mesmo que nos seja totalmente desconhecido, sorrir, abraçar, sem o filtro de devemos ou não fazê-lo Fazemos pelo acto em si. Contudo, também em criança, aprendemos regras d convívio social, regras morais, valores,os comportamentos certos e os errados, que nos irão moldando. E .essas regras nos vão castrando, pouco a pouco, a espontaneidade. Na educação, nos ensinam a desenvolver o intelecto, a coordenação motora, mas não nos ensinam ou incentivam a manutenção da espontaneidade. Na educação, nos ensinam a desenvolver o intelecto, a coordenação motora, mas não nos ensinam ou incentivam a manutenção da espontaneidade. A espontaneidade é o que permite mostrar-se, sem se reprimir, sem ultrapassar limites, com bondade no coração, para com o outro, para consigo mesmo, e por isso flui, como o fluir da água nas curvas e contracurvas de um rio. A espontaneidade permite-nos entrar em contacto com a liberdade, de fazer a coisa de uma nova forma, sem medo, actuando no agora, no presente, com as circunstâncias que nos encontramos e da maneira mais adequada. Para isso a espontaneidade é a manifestação do seu ser, da entrega, que abandonou a censura dos pensamentos – certo ou errado, devo ou não devo. É o momento da expressão do seu ser.
Para reconquistar a espontaneidade que foi assaltada pelo medo, e refém das convenções morais e sociais a que fomos formatados, e que continuamos a sê-lo na sociedade que vivemos, temos de vencer os medos – medo de rejeição, da exclusão, de errar, de se expor, de não ser bom o suficiente, de como o outro irá reagir, de dizer amo-te sem pensar que é fraco. É no medo. Nas regras e limitações que deixa de ser expontâneo. Passa a ser rígido, a viver no mundo do preto e branco, deixa de responder criativamente a realidade, deixa de passar os momentos de alegria, as oportunidades, deixa adormecida uma grande riqueza interna, que o permite ser mais quem, é, deixa de expressar mais a sua alma, e ser mais feliz. A espontaneidade permite-o libertar-se das amarras, de deixar partir a paralisia, de fazer realmente o que gostaria e não o que a convenção social dita como certo, de respirar vida, de amar livremente, de expressar a sua alma, de viver o momento que em criança a espontaneidade permitia-o ser feliz no momento, naquele instante.
Já referia Jacob Moreno:”Se a espontaneidade é o factor para o mundo do Homem, porque é tão pouco desenvolvida? A resposta é: o Homem tem medo da espontaneidade, como seu ancestral tinha medo do fogo; teve medo do fogo até que aprendeu a fazê-lo. O Homem terá medo da espontaneidade até que aprendeu a treiná-la. Eu diria, vença o medo, use o momento, expresse a sua alma que emergirá a sua espontaneidade. Recorde que de momento em momento, o caminho da sua vida é construído, de forma mais leve, original, livre ou de forma mais limitada, repressiva e pesada.
A espontaneidade e a Bíblia.
*S. Mateus 6,7 : “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos”.
*Carta de S. Paulo a Filemon: 1,14 “Todavia, não quis fazer nada sem o teu consentimento, para que qualquer favor que venhas a fazer seja fruto da tua espontaneidade e não por constrangimento”.
Procuremos fazer as coisas com espontaneidade.
ANTÓNIO FRANCISCO GONÇALVES SIMÕES - Sacerdote Católico. Coronel Capelão das Frorças Armadas Portuguesas. Funchal, Madeira. - Email goncalves.simoes@sapo.pt
JORGE VICENTE - Fribourgo, Suiça
Chegou a Primavera, a estação mais bonita do ano; as árvores estão floridas, as cigarras e os pássaros cantando, as flores nos saúdam por toda parte revelando no espelho da Criação o Rosto belo e perfeito de Deus. Podemos exclamar: “O Céu e a Terra proclamam a Vossa Glória!”; “Tudo o que criastes proclama o Vosso louvor!”, assim reza a Liturgia com ainda mais convicção.
No meio de toda esta maravilha que mostra a beleza da vida, neste verdadeiro show da natureza, há coisas impressionantes: uma abelha que capta o néctar de cada flor para fazer o mel; o beija flor que paira no ar para sugar a doçura da flor; as borboletas que esbanjam suas cores ao voar por entre as rosas, violetas, azaleias, crisântemos… É o show da vida! É a época em que o Criador mais nos revela a Sua grandeza, beleza, amor e transcendência a nós. Se a Terra já é tão linda, fico imaginando o Céu!
Eu gosto de ir à santa Missa todos os dias na belíssima Catedral de Lorena, que já tem mais de cem anos, maravilhosamente projetada e construída com muita beleza e carinho. Seus arcos góticos são maravilhosos e harmoniosos; sua majestade é digna da Majestade de Deus. Não me canso de agradecer a Deus pelos que a construíram em 1890. Nela eu fui batizado. Ali está aquela pia sagrada que eu beijo todos os dias, que foi “o túmulo do meu homem velho e o berço do meu homem novo”, regenerado pelas águas do santo batismo. Ali eu fiz a Primeira Comunhão e fui crismado e me casei; ali meus filhos foram batizados, crismados e casados…
Quando nela eu entro, sinto a alegria do salmista que canta: “Que alegria quando me disseram, vamos à Casa do Senhor…” (Sl 121,1); ou como disse o Cronista da Bíblia: “Escolhi e santifiquei esta Casa para que o meu nome esteja sempre neste lugar. Os meus olhos e o meu coração estarão fixos nela para sempre” (2 Cron. 7,16).
Leia também: Deus quer falar com você!
Olhe para as montanhas e eleve sua alma
As Suaves Lições da Minha Horta
A Casa de Deus deve ser sempre bela. Quando o povo voltou do exílio da Babilônia, depois de 70 anos sem o Templo, destruído por Nabucodonosor, Deus falou ao povo pelo profeta Ageu:
“Eis o que diz o Senhor dos exércitos: este povo diz: não é ainda chegado o momento de reconstruir a casa do Senhor. E a palavra do Senhor foi transmitida pelo profeta Ageu: É então o momento de habitardes em casas confortáveis, estando esta casa em ruínas? Eis o que declara o Senhor dos exércitos: considerai o que fazeis! Semeais muito e recolheis pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco roto! Assim fala o Senhor dos exércitos: refleti no que fazeis! Subi a montanha, trazei madeira e reconstruí a minha casa; ela me será agradável e nela serei glorificado, – oráculo do Senhor. Esperastes uma abundante colheita e esta foi magra; dissipei com um sopro o que queríeis armazenar. Por quê? – oráculo do Senhor. Porque minha casa está em ruínas, enquanto cada um de vós só tem cuidado da sua. Por isso o céu negou o seu orvalho e a terra, os seus frutos. Sequei terras e colinas, trigo, mosto e óleo, todo o fruto da terra, homens e animais, tudo o que produz o trabalho de vossas mãos” (Ageu 1,1-8).
Algo simples e bonito tem acontecido em nossa Catedral neste mês de setembro, mês em que se inícia a primavera e dedicado a Bíblia. Há um sabiá que voa e canta no seu interior durante a Missa. Quando o salmista começa a entoar o Salmo Responsorial, aquele simples animalzinho o acompanha com seu canto metálico. É o louvor da criação! Não sei se ele sabe porquê canta assim, mas sei que Deus acolhe este canto de louvor, certamente para suprir aqueles que não o fazem, embora tenham uso da razão. Jesus disse que se os homens não o louvarem as pedras o fariam. Mas os pássaros e as flores se antecipam às pedras, Senhor!
É um canto divino que alegra até os ouvidos tristes e os corações amargurados. É a voz de Deus expressa no canto de um passarinho e que louva o Criador. Ele voa livremente pela imensa nave da Igreja, e de vez em quando pousa no presbitério, sobre o lustre que ilumina o altar; ali ele parece querer assistir mais de perto a cerimônia que presentifica o Calvário.
Certo dia não houve Missa na Catedral, não tinha padre, houve apenas uma celebração da Palavra. Notei que o sabiá não cantou neste dia. No final da Missa um amigo veio até mim para dizer: “Notou professor, hoje o sabiá não cantou, não teve Missa!”. Tive de concordar. Mas ele estava lá assistindo a paraliturgia.
Também é preciso aprender a ler os sinais do amor de Deus que estão espalhados por toda parte. Este simples sabiá que adorna a Liturgia com seu canto na Catedral é um deles.E se você parar um pouquinho para pensar, perceberá tantas outras demonstrações do amor de Deus por você.
Que neste dia possamos louvar a Deus por toda a criação. Por este mundo belo, colorido, dinâmico e cheio de vida que Ele criou carinhosamente para que cada um de nós pudéssemos passar os nossos dias nesta Terra. Laudato Si, Louvado sejas!
FELIPE AQUINO - é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino
Alguns anos atrás, um grupo veio ao meu apartamento fazer a Novena de Natal e, a cada mistério do terço, alguém puxava as jaculatórias. E chegou a vez de um amigo dizer o nome de algum santo de sua devoção. Como não lhe veio nada na memória, falou:
– Santa Lurdinha...
Respondemos sem muita convicção:
– Rogai por nós!
Antes de prosseguirmos a oração, uma senhora perguntou a ele:
– Existe essa santa?
– Sei lá, acho que sim – falou meio envergonhado, provocando muitas risadas.
Como sua intenção não foi brincar ou desprezar a seriedade daquele momento de fé, todos entenderam a infelicidade que o levou a quebrar a corrente de intercessão à Santa Mãe de Deus. Porém, há pessoas que articulam gracinhas para tirar a atenção de quem está rezando.
Quando eu era jovem, sempre convidava um outro amigo para ir à missa e ele desconversava. Num domingo ele concordou e, durante a celebração, puxava conversa a toda hora. No ofertório, quando a sacola de coleta chegou até nós, ele colocou a mão no bolso esquerdo da calça, depois no direito... e começou a procurar nos bolsos da blusa enquanto a pessoa que segurava a sacola continuava esperando. Aquilo foi causando certo constrangimento, até que ele pegou o lenço no bolso de trás e, rindo, começou a limpar o nariz!
Alguns diriam que ‘jovem é assim mesmo’, outros poderiam pensar: ‘é melhor estar na igreja distraído do que pecando na rua’, mas, sem dúvida, o certo é aproveitar ao máximo cada momento de comunicação com Deus. Se já são tão poucos, não podemos desperdiçá-los e jogar as graças fora. Hoje, eu também me divirto contando isso às pessoas, mas não posso concordar com qualquer falta de respeito durante a Eucaristia.
Outro fato parecido aconteceu na década de 70 na igreja de Monte Sião – atual Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Na missa de quinta-feira santa – Santa Ceia –, eu era um dos 12 apóstolos sentados atrás do altar. Meu pai sempre assava e doava um pão grande e redondo para aquela celebração. Quando o alimento começou a passar de mão em mão entre nós, ao invés de ‘um dos apóstolos’ tirar o seu pedaço e entregá-lo ao próximo, começou a comê-lo sozinho!
Como o conhecíamos bem e sabíamos que iria ‘aprontar’ mais cedo ou mais tarde, quase choramos de tanto rir. No dia seguinte, eu soube que, cobertos de razão, muitos criticaram a nossa má conduta naquela hora santa. Portanto, eu também já compactuei com esse tipo de brincadeira indevida quanto estava à frente de Jesus Cristo.
O importante é não continuar com os erros do passado. Atualmente, participo da missa prestando máxima atenção o tempo todo. Não me atraso, não converso, fico atento às palavras do sacerdote, canto, louvo a Deus nas orações, comungo sempre, ajudo naquilo que posso, enfim, aceito os chamados para estar próximo do meu Salvador. E como não cabe a mim julgar algum tipo de conduta pecadora do próximo, naquilo que não posso interferir, rezo e entrego nas mãos de Deus.
Certa vez, fui à Igreja Matriz de São Benedito em Itajubá e, ao meu lado, alguns convidados riam e conversavam em voz alta, tirando a minha concentração. Então, pedi a Nossa Senhora que tomasse conta deles por mim. Imediatamente se afastaram e saíram pela porta ao lado.
Quem já rogou à Mãezinha com fé sabe que a providência da Virgem Maria não tarda. Isso prova que não devemos nos exaltar e xingar os irmãos que ainda não têm a nossa espiritualidade. Tudo se resolve com paciência, perdão, amor e fé – como Jesus e seus pais nos ensinaram. Quem pratica a verdadeira caridade sabe bem como agir em todos os momentos.
Quando rezamos o Pai-nosso, pedimos: ‘Venha a nós o Vosso reino’; na oração do Creio, professamos a fé na comunhão dos santos; na linda e santa recitação da Ave-Maria, o nosso coração se exalta confiante nas palavras: ‘rogai por nós pecadores agora’; portanto, somos muito protegidos e nada devemos temer.
Ninguém é mais ou menos amado por Deus, apenas recebemos o que plantamos – de bom e de ruim. Se estivermos em estado de graça – sem maldades e pecados mortais –, tudo o que acontece contribui para um bem maior.
PAULO R. LABEGALINI - Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre - MG).
Quando as ruas das nossas cidades eram rigorosamente vigiadas, sacudir, para a via publica: tapetes, carpetes... e até simples pano de pó, era expressamente proibido.
Quem não cumprisse a Lei, sofria pesada multa.
Meu pai, devido à doença, que vitimou minha mãe, contratou criadita, para realizar o meneio da casa - casarão de alforge com dez quartos! - Reservou, porém, à esposa, a alegre tarefa de confeccionar as refeições.
Apesar de avisada, esta, habituada a lidar em moradias da província, sacudia descuidadamente, tudo ou quase tudo, à janela, sem se preocupar com quem passasse no passeio.
Certa ocasião, ao sacudir o pano de pó, não reparou, que bem defronte ao prédio, estava, parado um policia dos antigos, daqueles que não perdoava a multazinha...
O guarda logo interrogou a vizinhança, com o fim de se inteirar da atrevida. Disseram-lhe que a casa era do Senhor Máriozinho...
- Máriozinho quê?! "- interrogou o janizairo.
- Não sabemos - responderam as mulheres.
Mas, a mais expedita informou: que o Senhor Manuel, dono da mercearia devia saber.
Todo lampeiro, o policia entrou na loja, de nariz empinado.
O senhor Manuel ouviu-o atentamente e nformou-o:
- É o senhor Mário Pinho. Homem de peso; e muito considerado...
- " É homem de peso ?! - Interrogou o agente de autoridade, estampando no rosto, expressão de receio.
- Sim: e até escreve nos jornais!...
- "Ah!; muito obrigado...Muito obrigado. Se é homem de peso e escreve, é melhor esquecer a multazinha...
Mais tarde, meu pai, ao conhecer o dialogo travado com o merceeiro, comentava, sentado à mesa oval, de mogno polido, onde tomávamos as refeições:
- " Realmente sou homem de peso... Peso oitenta e dois quilos..."
Assim se livrou da multa.
Somos todos iguais - dizem os entendidos, - mas há uns, mais iguais, do que outros...
A lei é para todos. A justiça é cega... Mas, já dizia o nosso clássico Padre Manuel Bernardes:
" As leis são como as teias de aranha. Se cai nela uma pedra, rompe-a, e fica ilesa; se cai nela a mosca, fica presa, e paga o seu descuido ou atrevimento. Assim os grandes zombam das leis, e o castigo de se quebrarem, fica só para os pequenos."
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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NOTICIAS DA DIOCESE DO PORTO
NOTICIAS DA DIOCESE DE JUNDIAÍ - SP
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Leitura Recomendada:
Jornal católico da cidade do Porto - Portugal
Opinião - Religião - Estrangeiro - Liturgia - Area Metropolitana - Igreja em Noticias - Nacional
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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL
https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes
Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confissões.
O principal meio de reversão à situação social brasileira passa por investimentos na educação, pois se constitui na ferramenta de capacitação, de inclusão, de formação profissional e de instrumento de desenvolvimento do espírito crítico, gerando qualidade de vida. Sem dúvida, ela é a base para o desenvolvimento de qualquer nação e nesta trilha, o professor se torna peça chave na formação do ser social, pois é ele quem vai guiar a produção do conhecimento e o futuro profissional e acadêmico de cada criatura. E apesar do acesso ao sistema educacional ser um direito inalienável do indivíduo, desde a infância, no Brasil o Estado não cumpre essa sua precípua função, a começar pelo descaso com a situação de nossos educadores.
Com efeito, o quadro se modificou de forma até grotesca. No passado, principalmente os do primário e do secundário, eram dotados de prestígio e credibilidade por parte dos alunos; eram respeitados pela sociedade e ganhavam proporcionalmente mais que hoje em dia. Relacionavam-se com as famílias dos estudantes e com a comunidade em geral, tinham mais tempo e condições de se atualizarem. Infelizmente, na atualidade, são mal remunerados, socialmente desprestigiados e não têm condições para se reciclarem, pois exercem uma carga horária abusiva, necessária à própria sobrevivência. Dependem também de uma política educacional por parte do governo, que hoje em dia trata o ensino com um descaso flagrante, visível na própria deterioração dos prédios escolares e na falta de segurança nas imediações e no interior das escolas, que envolve desde a ocorrência de assaltos e de agressões generalizadas, até tráfico de drogas. E sem professores bem preparados e motivados torna-se inviável todo o sistema de ensino.
O Dia do Professor, quinze de outubro, foi oficializado no Brasil em 1963, numa rememoração à data que, em 1827, instituiu os primeiros cursos primários em nosso País. O objetivo principal dessa comemoração, de acordo com o decreto federal, era enaltecer a função do mestre, e, cabia às escolas promover solenidades em que participavam alunos e familiares. As celebrações, com destaque para a importância da sua função social, foram esquecidas, mesmo porque, o setor público na área está praticamente falido, e no privado, grande parte da academia está sendo substituída pela idéia da escola-empresa.
Ilustrativamente invocamos Luno Volpato, membro da Academia Campinense de Letras: - “Parodiando Euclides da Cunha, o professor é, antes de tudo, um obstinado. Adjetivos para tipificá-lo, há-os em profusão e permeiam entre o alfa e o ômega. Dentre tanto atributos, dizem-no idealista, sonhador, abnegado, revolucionário, formador de opiniões, sacerdote do saber... Todos, é inquestionável, são-lhe pertinentes. Tais contemplações comovem-no, impressionam-no, mas não o tornam um profissional realizado, nem lhe garantem a sobrevivência e o pão de cada dia, para si e para os seus. ...A problemática, porém é mais abrangente, é de fundo estrutural, ético, político, filosófico, cultural... Mas do que outro pretexto, ele quer um mínimo de respeito à profissão que já foi considerada, dentre todas, não a mais rentável, mas a mais nobre....”(Correio Popular- 14/10/2007- A-3).
Toda educação é um processo de aprendizagem para a vida. É uma interação entre ensino e aprendizagem. É preciso outorgar ao professor o necessário reconhecimento, propiciando condições para exercer sua função social, pois a formação e a informação são os fatores fundamentais da estrutura integral do homem. Precisamos conquistar tais aspirações. Elas não podem mais ser adiadas sob pena de se instituir um caos social futuramente neste País.
“Professores bem preparados e motivados – embora não suficientes -, essa é condição necessária para se construir um sistema educacional sólido e eficiente. Como corolário, a ausência disso é suficiente para torna inviável o sistema educacional. Como é esta última a situação que vivemos, vemos fechar-se um círculo vicioso terrível: a falta de professores e a sobrecarga de trabalho são responsáveis pela educação infantil fraca e insuficiente, pela alta evasão e baixa qualidade no ensino básico, pelo pequeno número de jovens que concluem o ensino médio e, finalmente, pouca procura pelos cursos superiores fundamentais para a construção de um País soberano e que garanta a toda a população condições dignas de vida” (Otávio Helene, José Marcelino de Rezende Pinto e Thiago Alves, “Educação um terrível círculo vicioso”- O Estado de São Paulo -23/08/2010- A.2).
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academais Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)
...e em Portugal...
"Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba", dizia o Padre Antônio Vieira. Qualquer celebridade humana, por grande que seja, o tempo, inexorável, a vai solapando, carcomendo, desfazendo em pó...
Venceslau Brás foi presidente da república de 1914 a 1918. Quando assumiu a suprema magistratura, era relativamente moço: tinha 46 anos, pois havia nascido em 1868. Deixou o governo aos 50 anos, e só foi falecer em 1966, aos 98 anos de idade.
Viveu, portanto, como ex-presidente, uma longa vida cômoda, prestigiosa, sem sobressaltos, no sul de Minas, na cidade de Itajubá. Toda a glória que um político brasileiro podia desejar, ele a tinha alcançado. Sua terra natal chegara a adotar o nome de Brasópolis, para homenageá-lo. Em Itajubá, transformara-se em celebridade viva. Todos os governadores de Minas, todos os políticos de expressão nacional que iam a Minas, não deixavam de visitar o velho Venceslau para, como se dizia, "tomar a bênção" do veterano cacique político e assegurar seu apoio em qualquer combinação política nova.
Ele assistiu à decadência da Primeira República, à revolução de 1930, à ascensão e queda do ditador Getúlio Vargas, à chamada redemocratização do País, aos governos que se lhe seguiram, à Revolução de 1964, ao início do regime militar.
Tudo se abalava no Brasil, menos o prestígio intocado e intocável de Venceslau Brás, que na simpática cidade de Itajubá permanecia numa espécie de Panteão da Pátria. Naquela cidade, ainda hoje existe, pela memória de Venceslau, um verdadeiro culto, sobretudo em torno do Museu Venceslau Brás, instalado na casa em que ele residiu.
Habituado a toda essa celebridade estava o velho Venceslau, mas...
... mas o tempo correu algumas décadas e na própria Itajubá, para as novas gerações, ele já começava a ser um nome do passado, numa confusa vizinhança com Tiradentes, Mem de Sá ou Pero Vaz de Caminha.
Venceslau só se deu conta dessa mudança profunda e inexorável certo dia em que a realidade o agrediu.
O fato se passou em meados da década de 50. Já quase nonagenário, o antigo presidente ainda dirigia seu automóvel. De todas as partes era saudado pelos moradores mais antigos, todos eles lhe tiravam o chapéu. E, sem descer de seu pedestal de glória, o ancião ia retribuindo as saudações que de todos os lados lhe faziam. De repente, num momento de distração, abalroa outro carro, felizmente sem gravidade! O veículo em que Venceslau batera era dirigido por uma jovem, que levava uma companheira ao lado.
Ainda cavalheiro dos velhos tempos, Venceslau se aproximou das assustadas senhoritas, de chapéu na mão, saudando-as galantemente. Certificou-se de que nada haviam sofrido, pediu desculpas pelo susto que lhes tinha dado e logo as foi tranquilizando pelos aspectos econômicos do acidente.
─ Não se preocupem, senhoritas, a culpa foi minha, faço questão de pagar todas as despesas. Estejam tranquilas. Podem procurar Venceslau Brás, e tudo se resolverá.
Ainda atordoada pela batida, a jovem motorista ingenuamente (e cruelmente!) perguntou: ─ Venceslau Brás, que número?
Coitado! Ele só queria pagar a conta...
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
A existência dos animais, humanos e não humanos, é marcada pela imprevisão, pela ausência de controle. Ilude-se quem acreditar no contrário. Nossos planos são meros rascunhos feitos a lápis, os quais o destino rasura e apaga quando bem lhe apraz. Não quero e não vou adentrar na discussão sobre o Divino, sobre se há ou não alguma razão para o que nos acontece, para as trilhas que somos, muitas vezes, obrigados a trilhar. Vou me restringir, assim, à experiência dos nossos dias.
Em família temos já uma tradição, depois de várias situações imprevistas, de não fazermos muitos planos. Muitas foram as vezes nas quais um dia ou dois antes de nos reunirmos, antes de alguma viagem marcada, que tivemos que reajustar nossas velas. Ou era uma das crianças doentes, ou meus pais, ou nós mesmos. Outras vezes, nossos animais de estimação precisavam de nossa atenção imediata.
Isso tudo, óbvio, sem dizer os planos que a pandemia jogou no lixo. No nosso caso, felizmente, permanecemos todos com saúde, embora a COVID tenha nos rodeado de perto. Por outro lado, também nos atingiu em cheio em outros tantos aspectos, tal como fez a milhões de pessoas no mundo. Assim, diante das tantas variáveis, tentamos, em família, fazer planos apenas a curto prazo.
Acredito ser uma pessoa razoavelmente organizada e, por isso, gosto de fazer listas de atividades e de planejar as coisas. Tem sido um exercício e tanto me desapegar do que não posso prever. Ainda assim, mantenho uma agenda com a programação de tarefas diárias, principalmente as profissionais. É isso ou não dou conta das tantas coisas que me proponho a fazer.
Ontem mesmo eu havia me programado para escrever meu texto da semana, logo após um curso que estava fazendo pela internet, ao vivo. Com uma longa lista para os próximos dias, tudo ia muito bem dividido pelo tempo de que eu acreditava dispor. Assim, seguia acompanhando as explicações do professor, atenta e rindo das minhas inúteis tentativas de fazer igual, quando vejo uma cena que sempre me desconcerta: minha cachorrinha Gigi, com seus recém completados dois anos, se contorcia em convulsões.
Descobrimos nesse ano, após vários episódios, todos sempre muito assustadores para mim, que ela é epilética idiopática. Significa que não há uma razão para isso, ao menos não uma que a medicina veterinária moderna seja capaz de identificar. Essa condição, incurável, faz com que ela tenha que tomar remédios para o resto da vida. Até aí tudo bem, é o menor dos problemas.
A questão toda é que ela é extremamente resistente aos remédios e em pouco tempo eles vão perdendo a eficácia, sendo necessários ajustes. Em paralelo, no meu anseio de mantê-la estável, fui atrás de alimentação natural, de ervas chinesas, florais e de acupuntura, que ela faz semanalmente. Gigi é uma cachorrinha extremamente alegre, brincalhona e saudável, exceto quando as crises a atingem. É uma pena de se ver. E isso me destrói, pois fico impotente, olhando um ser que não faz ideia do que se passa.
Uma vez mais, ontem, fiquei ao lado dela e, tendo a felicidade do apoio de um veterinário que atende ligações a qualquer hora do dia e da noite, fomos ajustando, uma vez mais, a medicação até conseguirmos estabilizá-la novamente. Não dormi praticamente nada, larguei meu curso para lá e nem me lembro mais qual era o assunto que iria originalmente ocupar essa coluna. Agora, enquanto escrevo, aproxima-se a hora de dar a medicação outra vez e meu coração vai ficando apertado, desviado da tranquilidade de menos de vinte e quatro horas atrás.
Risquei da minha agenda vários compromissos, realoquei atividades e estou à mercê do destino, como aliás sempre todos estivemos. Em uma existência repleta de caminhos, nem todos são nossas escolhas. Algumas rotas são desvios que não podemos evitar.
CINTHYA NUNES é jornalista, advogada, professora universitária e nesse momento está com o coração apertado e sem rumos definidos – cinthyanvs@gmail.com/www.escriturices.com.br
Lamento pela morte violenta, há dois meses mais ou menos, do Robertinho que, aos domingos, olhava carro nas proximidades da Catedral NSD. Sua forma de superar o desemprego. Perguntava-me sobre outras Missas posteriormente. Caso contrário, iria para casa, com o pensamento na macarronada feita pela esposa. Homicídio através de pauladas na cabeça. Através de seus amigos, ouvi duas versões para o motivo: disputa por ponto de estacionamento nas proximidades da Chácara Urbana ou ter ganho um valor em aposta, por ele exibido.
Lamento pela morte, há mais ou menos 15 dias, do João. Olhador de carros, igualmente, na região central. Desconheço se possuía família, casa ou morava em algum “mocó”. Mostrava-me o pé deformado pelo inchaço, porém se recusava ir ao médico por acreditar que a hora que interrompesse o passo trôpego seria para sempre. Foi o que aconteceu.
São pessoas que se aproximam e se tornam parte de meu cotidiano. Alinhavamos respeito e carinho. Os dois sacrificados pela violência da falta de oportunidades iguais.
Lamento pelas crianças e adolescentes que são vítimas de criminosos em relações destrutivas, que abusam de sua integridade, de diversas maneiras, para saciar suas taras, travestidos de mediadores com Deus. São bandidos que, embora possam não marcar o corpo, atingem o emocional. Crime hediondo.
Lamento pelas mãezinhas que têm seus filhos atingidos em contatos devastadores por pessoas consideradas de sua confiança. Mãezinhas feridas, pisoteadas por “especialistas” em inverter a situação, como se fossem elas as culpadas, com o propósito de varrer imoralidade para o subterrâneo das aparências. São sacrificadas pela indiferença cruel em nome do risco da revelação mais abrangente de fatos que alguém deseja ocultar. Como se encontra no relatório da Comissão Independente sobre Abusos na Igreja Católica na França (CIASE), solicitado por Dom Éric de Moulins-Beaufort, Arcebispo de Reims e Presidente da Conferência Episcopal Francesa: “O alcance do fenômeno da violência e da agressão sexual (...) revela que todas as relações estruturantes da humanidade podem ser desviadas e transformadas em relações predatórias, numa proporção que não pode ser considerada insignificante”.
Lamento pela autoridade que, ao invés de estar a serviço, precisa se proclamar doutor, mestre, que é sério e diz de sua utilidade, reputação, em defesa de si próprio. Recordo-me da música “Teresinha” de Chico Buarque de Holanda: “...Me contou suas viagens/ E as vantagens que ele tinha...”. Em lugar de acolhimento a vítimas, as trata como pessoas que causam problemas, criam caso. Como escreveu Santa Teresa D’Ávila: “Não diga nunca, de você mesmo, algo que mereça admiração, quer se trate do conhecimento, da virtude, do nascimento, a não ser para prestar serviço. Mas então, que isso seja feito com humildade, e considerando que esses dons vêm pelas mãos de Deus”.
Vem-me a música “Coração Civil” de Milton Nascimento: “Quero a utopia, quero tudo e mais/ Quero a felicidade dos olhos de um pai/ Quero a alegria, muita gente feliz/ Quero que a justiça reine em meu país. (...) Quero nossa cidade sempre ensolarada/ Os meninos e o povo no poder, eu quero ver. (...) Se o poeta é o que sonha que vai ser real/ Bom sonhar coisas boas que o homem faz/ E esperar pelos frutos do quintal. (...) Doido para ver o meu sonho teimoso um dia se realizar”.
Espero um tempo em que pessoa alguma necessite se cobrir do pó do asfalto em troca de alguns trocados.
Espero um tempo em que todos os abusadores sejam combatidos e impedidos de novos abusos através da Lei.
Espero um tempo em que os familiares das vítimas de abuso sexual sejam vistos como sofredores que precisam de acolhimento e sopro de ternura e justiça sobre suas chagas e não mais como incômodos por serem menestrel da realidade que incomoda.
Espero um tempo em que todas as autoridades desçam de seus pedestais e se coloquem a serviço que acalente.
Creio firme na Palavra de meu Senhor (cf. Jo 16, 33): “No mundo havereis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil
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