Quando jovem, adorava o período carnavalesco. Preparava-me até fisicamente, praticando exercícios e me alimentando bem nos dias que o antecedia, tudo para aguentar a grande maratona que se avizinhava. Frequentava os cinco bailes e duas matines do Grêmio CP em Jundiaí (Brasil), assistia e até participava algumas vezes dos desfiles de rua e não perdia as rodas de samba em várias regiões da cidade. E ainda trabalhava na redação, cobrindo algumas pautas, como entrevistar o primeiro folião de salão ou votar nos melhores de algumas categorias nos clubes durante o Reinado de Momo de cada ano.
Era um tempo de alegria e de encanto. Curtiam-se músicas de boa qualidade, os ensaios das escolas e encontros de amigos, as preparações de fantasias e blocos, além dos flertes típicos do período, tudo num clima que se podia dizer até poético e romântico. Tanto que inúmeras obras, de excelente nível, originaram ou se inspiraram nos carnavais, que sempre teve brilho próprio, exibições artísticas e categoria rítmica.
Atualmente, parece que a brincadeira sadia, as marchinhas, as características folclóricas, a diversão e a riqueza populares estão se afastando dos festejos que ganham aspectos repetitivos, alavancados por modismos puramente consumistas, sem originalidade e providos muitas vezes de mau-gosto. Pouca gente vai aos salões e uma grande maioria descansa nesses dias, concretizando um verdadeiro feriadão. Para muitos, o carnaval perdeu a graça, o que infelizmente, é um triste quadro para nossa cultura.
Nesse ano, novamente a pandemia impede aglomerações. Não serão realizados bailes carnavalescos, blocos, cordões ou quaisquer outras manifestações. Bom momento para refletirmos sobre as futuras demonstrações da verdadeira folia que começaria hoje nesse ano, de espontaneidade e de respeito e preservação das nossas boas tradições. Procuremos resgatar a necessária autenticidade carnavalesca e suas propostas reais, com sonhos, ilusões e alegria fugaz, mas contagiante, que deveriam ser próprios dessa festa, sem inovações inócuas que só a empobrecem.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)
Há cerca de 40 anos, foi instituído no Brasil o famoso “Exame da Ordem”, destinado a aferir quais os bacharéis em Direito que estão efetivamente aptos ao exercício das funções de advogado. Durante décadas, esse exame esteve a cargo das representações estaduais da OAB, e mais recentemente passou a ser unificado em todo o território nacional - para evitar o recurso cômodo de candidatos se inscreverem em outros estados, nos quais, real ou supostamente, os exames fossem mais fáceis, mais “camaradas”.
Houve muita polêmica acerca desse exame, até mesmo sobre sua constitucionalidade, mas ele se firmou e é fato consumado. Hoje, ninguém pensa, seriamente, em aboli-lo.
Eu diria que ele é um mal necessário, um mal indispensável. O ideal, claro está, seria que as faculdades de Direito autorizadas a funcionar tivessem, em todo o Brasil, tão excelente nível que um diploma expedido por qualquer uma delas significasse, per se, a aptidão de seu portador para o pleno exercício da profissão. Mas, notoriamente, isso está muito longe da realidade.
Vejamos alguns números, um tanto desatualizados, já que referentes a 2010:
O país com maior número de advogados do mundo é os Estados Unidos, com cerca de um milhão de advogados (para uma população de mais de 300 milhões de habitantes). Quase o mesmo número de advogados tem a Índia, para uma população que é quase 4 vezes maior que a dos EUA e quase 6 vezes maior que a brasileira.
Aqui no Brasil, em 2010 eram 713 mil os advogados inscritos na OAB; e eram cerca de 3 milhões os bacharéis em Direito não inscritos na Ordem. Esses dados foram obtidos no blog Exame de Ordem, mantido pelo advogado Maurício Gieseler, de Brasília.
Isso torna o Brasil, proporcionalmente, o país que mais tem advogados (e sobretudo bacharéis não advogados) no planeta. Segundo lemos no mesmo blog, o Brasil, sozinho, tem mais faculdades de Direito do que todo o resto do mundo.
Embora seja muito grande a concorrência nas diversas carreiras jurídicas, as faculdades de Direito continuam a atrair contingentes enormes de novos estudantes e, a cada ano, despejam no mercado de trabalho cerca de 100 mil novos bacharéis, dos quais somente uma parcela muito reduzida (ou melhor, uma ínfima minoria) consegue aprovação no Exame de Ordem. Raríssimos são os que obtêm aprovação na primeira tentativa, sendo que muitos, dos aprovados, só o foram porque fizeram cursinhos preparatórios para o Exame. O objetivo de tais cursinhos de pós-graduação sui generis é tentar ensinar, em poucos meses, aquilo que as faculdades foram incapazes de ensinar ao longo dos dez semestres de curso regular.
Diante disso, a pergunta que se impõe é se não deveria haver, para o exercício de outras profissões, análogos “Exames de Ordem”. Por que submeter bacharéis em Direito a um exame que é, convenhamos, até certo ponto humilhante para a classe, e dispensar de um exame igualmente rigoroso médicos, dentistas, engenheiros, professores, economistas etc.?
Vejamos o caso dos médicos, que lidam com vidas humanas e, portanto, têm uma responsabilidade enorme, já que as consequências de um erro profissional podem ser irreparáveis.
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP) efetua anualmente um exame para estudantes do último ano das escolas de Medicina do Estado. Esse exame já se realiza há tempos, e há muita polêmica sobre se ele deve ou não ser obrigatório para a emissão do título profissional que habilite à prática da Medicina.
Transcrevo de notícia publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo”, de 27/8/2018: “Alunos do 6.º ano e recém-formados em Medicina conseguiram, pelo segundo ano consecutivo, superar os 60% em aprovação no exame do Cremesp, teste realizado há 14 anos que avalia os conhecimentos dos profissionais que vão atuar na área. (...) Os resultados do exame (...) apontaram que 61,8% dos 3.174 participantes do Estado de São Paulo acertaram mais de 60% das 120 questões da prova, porcentagem mínima que o conselho considera para a aprovação. O número ficou abaixo do alcançado no ano passado, quando 2.636 pessoas fizeram a prova e o índice de aprovados foi de 64,6% - em 2017, foi a primeira vez em dez anos que o índice ficou acima dos 60%.”
Mais adiante, prossegue a notícia: “O exame mostrou ainda que os médicos continuam cometendo erros em situações e problemas de saúde que aparecem com frequência. De acordo com o levantamento, 86% dos recém-formados erraram a abordagem inicial para atender vítimas de acidentes de trânsito. Os resultados mostraram ainda que 69% não acertaram as diretrizes para aferir pressão arterial e 68% não sabiam como proceder diante de um paciente com enfarte no miocárdio.”
Que pensar disso?
A meu ver, seria indispensável um exame rigoroso para os médicos saídos de nossas faculdades de Medicina e, ainda mais rigoroso, para aqueles que fizeram seu curso no Exterior (nas tão afamadas escolas de Medicina de Cuba, por exemplo) e pretendem aqui revalidar seus diplomas. Afinal de contas, saúde é coisa muito séria!
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Polêmicas à parte sobre o autor, sempre fui encantada pela personagem Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo. Achava incrível uma boneca que falava, era inteligente, marrenta e cheia de imaginação e tudo sem ter um coração! Até noiva de um Marquês ela foi. Tudo bem que o tal nobre era um porquinho, mas para alguém feita de pano, estava de bom tamanho.
Meu fascínio pela Emília se devia principalmente ao baú que ela possuía. Quantas vezes peguei uma caixa de sapatos, na falta de algo melhor e fingi que era o meu baú de lembranças e coisas incríveis. Viajei para lugares impensados usando o pó de pirlimpimpim fabricado pelos meus devaneios. Guardava dentro do meu “baú” uma série de coisinhas inúteis, mas que eu fazia repletos de significados só meus.
Creio que venha daí a memória que imprimo em algumas coisas, cheias que ficam de simbolismos, lembranças e saudades. Por coincidência ou não, pareço atrair objetos que carregam com eles marcas de uma ou de várias vidas. Essas coisas vão abrindo caminhos inesperados até pararem nas minhas mãos e no meu afeto.
Herdei de meu avô paterno, padeiro que foi, o cilindro no qual ele fazia os pães que sustentaram meu pai e meus tios. Impossível até descrever a gama de sentimentos que isso provoca em mim. Em algum momento herdei também um pequeno dedal, já escurecido pelo tempo, que era usado por uma de minhas bisavós maternas e quando o tenho em mãos gosto de pensar na saudade que ele tem dos dedos que protegia e que deles se separaram por longas décadas.
Na sala de minha casa tenho, restaurada, a máquina de costura que foi de outra bisavó. Olho para ela e é como se eu fosse capaz de escutar o barulho de seu pedal e de sua agulha, no vaivém que dava luz às vestimentas dos muitos filhos. São como sons que viajam no tempo, como se em algum lugar tudo continuasse existindo, separados apenas pelas crenças e limitações humanas.
Há uns doze anos, minha tia-avó, falecida no ano passado aos noventa, entregou-me, em uma delicada caixinha, um anel de ouro simples adornado por uma belíssima e avantajada pérola. Contou-me que ganhara de uma amiga, uma freira, companheira de seus tempos de convento. A religiosa, por sua vez, ganhara do próprio pai a joia e, na ausência de herdeiros, presenteou minha tia que, da mesma forma, repassou-a para mim. Esteve, portanto, junto de mulheres tão diferentes e tão iguais, em uma jornada digna de ser escrita.
Vasculhando meus pertences, encontrei, recentemente, uma semente que brincávamos ser moeda, mas que guardei porque caiu de uma árvore imensa, frondosa, que havia na fazenda dos meus avós. É como se, de algum modo, tantos anos depois, fosse uma possibilidade de renascimento. E o que é uma semente senão um pedaço de futuro protegido? Uma árvore de possibilidades...
Entre outros objetos especialmente significativos, tenho um pingente de uma pedra verde, talvez semipreciosa, que era de minha avó paterna. Era de um par de brincos. Tudo o que ela tinha de valor material, seu único adorno. Dividiu entre duas das cinco netas, entre elas eu. É um verde que me remete à esperança e ao verdadeiro valor do que se pode chamar de herança. Herdei um pedacinho de amor infinito.
Até hoje meu olhar é atraído para pequenos baús ornamentais e sempre os imagino mágicos, grávidos de ilusões e sonhos. O meu baú, assim como hoje também entendo o da famosa boneca de trapos, é composto pelas minhas vivências, pelos gestos daqueles que vieram antes de mim, pela história de outras vidas que hoje, em fragmentos, escorre pela ponta de meus dedos durante o digitar das palavras. Essa minha caixa mágica é a minha herança para quando chegar a minha vez de partir. Os objetos das minhas memórias, certamente sobreviventes a mim, haverão de encontrar novos portos, outros corações, outras palavras...
CINTHYA NUNES é jornalista, advogada, professora universitária e tem esperança de que um dia o pó de pirlimpimpim seja produzido em escala industrial – cinthyanvs@gmail.com/www.escriturices.com.br
Quem me trouxe a história de Maria Caboré – Cícera Maria da Silva Almeida - foi meu querido teólogo Ismael Félix que é muito de Deus e do povo. Com ele aprendo bastante também sobre Padre Cícero de Juazeiro do Norte.
Maria Caboré era cearense, da cidade de Crato, uma mulher negra, marginalizada, “escrava” dos endinheirados e que acabou enlouquecendo, assim como endoidecem diversos excluídos, empurrados para as sarjetas. Sou testemunha dessa realidade triste de algumas delas e alguns deles.
De acordo com matéria do “Diário do Nordeste”, era ela filha de Caboré, coveiro, e Calumbi, roceira, moradores do distrito Matinha. Morreram cedo e ela passou a perambular na terra do Padre Cícero.
Na Rua da Vala, hoje Tristão Gonçalves, onde mais circulava, supria as casas com água, retirava o lixo, servia de recadeira e, em troca, ganhava um prato de comida, roupas usadas e alguns trocados. Era ética, leal, honesta e de boa índole.
Frequentava a Igreja e confessava-se. No mundo ilusório era noiva do “Rei do Congo”. Faleceu vítima da peste bubônica que, em 1936, afligiu a cidade.
Para muitos cratenses e, até, nascidos em outras localidades, é considerada um espírito milagreiro. Seu túmulo no Cemitério Nossa Senhora da Piedade possui frequente visitação durante o ano e em destaque no Dia de Finados.
Padre Raimundo Augusto, na morte de Maria, escreveu na revista Itaytera:
MARIA CABORÉ
Espírito de anjo ornado em trapos,
Perambulando pela rua, ao léu,
Companheira fiel até dos sapos,
Ela tinha por lar o azul do céu.
Simples, sincera e boa como ninguém,
Nos lares penetrava com respeito
E confiança, e o troco de um vintém
Ao dono devolvia sem defeito.
Era melhor que muita gente boa,
Sem fingimento algum ou hipocrisia,
Mesmo levando a vida assim à toa.
Foi bela a sua morte e edificante.
O azul do céu que aqui a protegia,
É lá no além, o seu trono de brilhante.
O texto que meu amigo Ismael me enviou é de Ronaldo Correia de Brito e começa assim: “Maria Caboré vivia de pilar arroz, a um vintém cada cinco litros, e de outros trabalhos que a vida a obrigara a aprender. Carregava água para encher os potes das casas, lavava roupa, fazia mudanças, cozinhava. Desde menina conhecera a dureza de uma lida sem descanso.
Não tinha casa e não se lembrava de ter possuído. Um dia almoçava aqui, outro dia jantava acolá. Pagava com seu trabalho, feito com disposição. (...)
Um dia sentiu-se cansada, o corpo mole, não teve disposição para terminar de lavar a roupa de dona Aninha Vilar. À noite teve febre e delirou. (...)
No dia seguinte, a cidade inteira procurava por ela, mas ninguém a encontrava. Havia muita roupa para lavar, muitas casas por varrer e Maria não aparecia...”
Vale a pena consultar no site: https://www.
Li o texto em reunião com integrantes da Pastoral da Mulher/ Magdala. Ao final, uma delas com olhos lacrimosos afirmou: “Eu sou Maria Caboré”. Disse que igualmente era, mais uma, mais duas, mais três...
Que doloroso! Mulheres que se sentem vestidas de trapos.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. – Presidente da Associação Maria de Magdala. Jundiaí.
Guerra híbrida. Amigo caríssimo enviou-me artigo de enorme interesse sobre a crise ucraniana. Sob vários aspectos, é o mais esclarecedor entre o material que li. Original alemão, divulgado pela Deutsche Welle; tive, entretanto, sob os olhos tradução inglesa “Russia’s hybrid war against Ukraine, 18.2.2022 (A guerra híbrida da Rússia contra a Ucrânia). Híbrido aqui significa múltipla; vários tipos de guerra usados ao mesmo tempo contra a Ucrânia, mas com um só objetivo: prostrar o país. E ainda o Ocidente. Tirar dos dois, por corrosão constante, a vontade de lutar e de resistir.
Guerra cibernética, escaramuças militares e fake news políticas. Informa o texto, apenas na última semana, a Ucrânia sofreu ataques cibernéticos sem precedentes dirigidos contra o ministério da Defesa e contra dois bancos, Privatbank e JSC Oschadbank. Foram atingidos clientes individuais e o sistema bancário inteiro. Ao mesmo tempo havia choques no leste da Ucrânia entre rebeldes treinados por militares russos contra forças do exército ucraniano. E se divulgavam notícias de que a Duma iria reconhecer a soberania da parte leste da Ucrânia, cuja população é majoritariamente de origem russa. Esses são apenas alguns exemplos, informa o estudo, das escaramuças que a Rússia vem promovendo na Ucrânia já há oito anos.
Controlar a narrativa. Comenta a respeito a dra. Margareth Klein, pesquisadora do Instituto Alemão para Assuntos de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik / German Institute for International and Security Affairs), especializada na Europa Oriental: “Na guerra híbrida é importante ter em vista que os métodos não militares têm papel central. Não se trata sobretudo de ocupação militar do território. Pelo contrário, o objetivo é ganhar influência. Demonstrações de poder militar como a presente aglomeração de tropas nas fronteiras com a Ucrânia, os exercícios militares na Bielorrússia, bem como a anunciada retirada de tropas, são apenas parte de um vasto instrumental, mediante o qual a primeira prioridade é controlar a narrativa. Vladimir Putin realmente sabe como conduzir ao mesmo tempo esta guerra em várias frentes”.
Abatimento, desgaste e acomodação. Segundo Klein, o autocrata russo quer corroer o ânimo de resistência dos ucranianos e também dos ocidentais. É o objetivo de oito anos de guerra de desgaste: “É guerra de atrição. A Rússia está tentando colocar a Ucrânia sob pressão fortíssima, em especial na frente interna, com a esperança de reviravolta e caminho novo pró-russo. Outro objetivo pode ser provocar o cansaço de defender a Ucrânia no mundo ocidental. É uma tentativa de explicação do constante ciclo de tensão e distensão na guerra. Provocar a convicção de que a liderança norte-americana é paranoica”. Explica ainda Margareth Klein que na análise de todas as comunicações russas de que tropas do país estavam se retirando, em nenhuma delas os serviços de inteligência constataram retiradas expressivas. Era jogo de propaganda ▬ buscava o que ela chamou controle da narrativa.
Impedir a prosperidade. A dra. Margareth Klein amplia o panorama. Afirma que existe na juventude ucraniana enorme desejo de crescer na vida, o que seria possível pela adoção no país dos princípios vigentes nas economias ocidentais. Em outras palavras, propriedade privada, livre iniciativa, princípio de subsidiariedade. Nada de estatismo e intervencionismos. Tal fato, a disseminação da prosperidade gradual na população, seria fator importante para puxar o país para a área ocidental. Com reflexos importantes em outros países da região, mesmo na Rússia. Para impedir tal movimento, Vladimir Putin pretenderia manter a Ucrânia em constante crise econômica, é a hipótese aventada pela dra. Klein. E assim, a Rússia não está apenas impedindo a Ucrânia de aderir à NATO. “A guerra híbrida semeia incertezas, afugenta investidores”. Breve, segundo o estudo da Deutsche Welle, talvez o motivo determinante da agressão russa contra a Ucrânia não seja a tentativa de impedir seu ingresso na NATO (o que, aliás, segundo a garantia do chanceler alemão, se vier, será daqui a muitos anos), mas o temor de que a experiência capitalista no país, com rápido enriquecimento e prosperidade, cada vez mais difundida, tenha como efeito afastar ainda mais as populações do Leste europeu do guarda-chuva russo.
Invasão iminente. O estudo da entidade alemã, que fica como pano de fundo, desperta perguntas decisivas cujas respostas (mesmo quando simples e despretensiosas tentativas com grande carga hipotética) podem enriquecer a compreensão do quadro geral. Cabe a nós procurar resposta tendo como base em especial as notícias que de lá nos chegam. No momento, alarmantes. Além dos Estados Unidos, que por suas autoridades mais importantes afirmam peremptoriamente que a invasão da Ucrânia já está decidida e é iminente (presidente da República, vice-presidente da República, secretário da Defesa), temos advertências semelhantes dos principais chefes de governo da Europa. Destaco aqui declarações de 19 de fevereiro de Boris Johnson, o primeiro-ministro inglês, a Rússia está planejando a “maior guerra na Europa desde 1945” o que poderia provocar “uma geração de derramamento de sangue e miséria”.
O Brasil tem o dever de fugir do cansaço. É claro, o Brasil sofrerá na carne os efeitos da guerra na Europa. Em defesa do interesse nacional ▬ e por dever de consciência ▬ precisaríamos manter viva a recusa da agressão injusta à nação martirizada pelo agressor imperialista. Não podemos cair na tentação do cansaço de defender a Ucrânia. E, é congruente, merece ainda apoio ardente a posição das potências ocidentais e da NATO em defesa dela.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas
Curioso provém do latim “ curiosus” .É um adjectivo e um substantivo masculino que expressa o desejo de saber. É aquele que procura uma arte, não por profissão, mas um amador. É o que revela curiosidade., é zeloso. É a pessoa que deseja adquirir mais conhecimentos, que tem grande vontade de sabr, de ver, de entender - . Tem vários sinónimos::- amador, bisbilhoteiro, cuidadoso, cultor, diligente, esquisito, estranho, estudioso e inconveniente, Tem vários sinónimos:
“Que gota de saber de conhecer, saber e aprender”.imteressado entusiasmado.-.
“Que se intromete na vida dos outros. : intrometido, abelhudo, xereta, metediço, coscuvilheiro, mexeriqueiro fofoqueiro, fuxiqueiro.. Exemplo: meu vizinho é muito curioso. – vive perguntando sobre a vida dos outros.
“Que é surpreendente e interessante:notável, interessante, original, singular e precioso.
“Que é inesperado e estranho”,diferente, intrigado. inusitado, bizarro, invulgar, incomum, anormal, diferente, intrigado. Exemplo: o mais curioso foi ela ter feito o que disse que não iria fazer.
“Eles foram tão amigáveis e tão curiosos”.
-“com o boneco bebé no colo ma abertura do show, tornou-se um dos personagens mis curiosos do evento-
-“o corpo será levado para uma +área de acesso restito que manterá seu túmulo protegido de curiosos.
- É curioso o que afinal, ocorre em toda a história da filosofia grega ou se realça o caminho para o oculto, o latente.
-“Como é muito curioso e adora descobrir novos artistas aonde quer que vá, ele sempre reserva um tempo para conhecer as lojas…”
-“Compreensivas nuanças de ingenuidade retórica. São as de um estudante curioso e aberto às belezas e aos mistérios da realidade”.
-“Esta Basílica tem três naves, que hoje em dia nos proporciona um curioso exemplo de híbrido entre estes dois tipos de plantas.”.
“O furão é um animal inteligente, curioso, brincalhãoe ágil. O eu deveria ser tido em conta na concepção don seu alojamnto e no seu nodo na concepção do seu alojamento e no seu nodo de tratamento..
-“É curioso, agora que penso que põe ser um instrumento de aproximação ou afastamento, depende de como se utilize, do que é meu!”
-“É impossível descrevê-la nesta breve nota, ainda que como dado curioso, citarei que no término do percurso, os visitantes podiam dialogar mais”.
-“Apsar do seu desaparecimento, as raízes de seu angue continuam vivas na curiosa mistura de raças que se poduziu e que continua fazendo”,
Você é curioso? Saiba o que diz São Tomás sobre o assunto! São Tomás de Aquino, no seu tratado sobre a temperança, aborda um asunto aomesmo tempo, tão interessante e agradável quanto atraente e fascinante: a “ curiositas” (a curiosidade) Uma é aquela que diz respeito ao conhecimento intelectual e outra é aquela que toca no conhecimento sensitivo. O Aquinate, com a sua natural clareza e simplicidade, mostra-nos que sendo o objecto a conhecer o que alheio às nossas necessidades espirituais e conveniências terrenas, pode ser nocivo à alma. Por outras palavras, o afã de conhecimento pelo mero prazer de dilatar a nossa inteligência, pode levar à perversão do indivíduo, pois o aparta de seu fim último que é Deus Nosso Senhor.
Num segundo momento, o Teólogo indica os principais defeitos da “curiosidade” a saber:
“Quanto ao aspecto intelectual, um vício o desejo de conhecer as coisas pelo mero prazer pessoal de autoprojeção ou, pio ainda, quando esse “conhecer” leva a pessoa a se considerar outro Deus. Isto é uma verdadeira abominação contrária à recta razão. Nesse caso, o sujeito esquece-se que a verdade capital é amar a Deus sobre toda as coisas e, mediante isso, salvar a própria alma. Resultado: há uma degringolada rápida e fatídica no abismo do intelectualismo. Nascendo daí o ateísmo, ou seja. A negação da existência de Deus.”.
“Quanto ao sentidos, existe nos indivíduos um natural tendência para querer conhecer as coisas que os rodeiam, Depois do pecado original, tis coisas podem facilmente converter - se em supérfluas ou ate prejudiciais para a alma - por exemplo, um olhar indiferente que excita a concupiscência -nesse caso a curiosidade transforma-se num vício, pois penetra no conhecimento para deturpá-lo. Cabe ressaltar que muitas das vezes,, as coisas criadas apresentam-se de maneira apática e neutra, porém, no campo das tendências, podem exercer uma grande influência sobre os indivíduos, arrastando-os para o erro e a corrupção. Resumindo: muitas vezes preocupam-nos com futilidades e tolices, colocando-as no centro de nossas vidas. Em detrimento do próprio Deus que é a nossa causa primeira e fim ultimo. Dele viemos e para Ele iremos! De que adianta interessar ~ se pelas criaturas e esquecer-se do Criador?
Curioso e a bíblia Na Sagrada há viárias passagens que falam do termo “caridoso”.
-“E muita gente dos Judeus soube que Jesus estava ali; e foram por causa e Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara os mortos. João 12,9.
-“2Então, alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo:: Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal. Mateus, 12.38.
“-“E estando assentado no monte das oliveiras, chegaram-se a Ele o seus discípulos em particular. Dizendo:”Diz-nos quando serão estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? S. Mateus 24,3.
-“e Jesus disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo se 1,9u próprio poder. “ Actos dos Apóstolos.
-“”Além disso, aprendem a ficar ociosas, andando de casa em casa, e não se tornam apenas ociosas, mas também fofoqueiras e indiscretas, falando coisas que não devem”. 1 Timóto 5,13.
-“Mas a mulher de Ló olhou para trás e se transformou nuluna se sal”. Génesis 19, 26.
-“Disse, pois, Dalila a Sansão:”Conte-me por favor, de ond vem a sua grande força, e como você pode ser amarrado e subjugado? Juízes, 16,6.
-“Enquanto isso, uma grande multidão de Judeus, ao descobrir que Jesus estava ali, veio, não apenas por causa de Jesus, mas também (por serem curiosos) para ver Lázaro, a quem ele ressuscitara dos mortos” 1 Timóteo5,13.
-“Alí o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio duma sarça. Moisés viu que embora a sarça estivesse em chamas não era consumida pelo fogo“ Que impressionante pensou. Por que não se queimou” Vou ver isso de perto”. Êxodo.3, 2-3
“Mas Herodes disse :”João, eu decapitei! Quem, pois, é este de quem ouço estas coisas? E procurava vê-lo”.Lucas, 9,9.
“Percebi tudo o que Deus tem feito. Ninguém é capaz d entender o que se faz debaixo do sol. Por mais que se esforce para descobrir o sentido das coisas, o homem não o encontrará. O sábio pode até afirmar que entende, mas, na realidade, não o consegue encontrar”. Eclesiastes 8,17.
ANTÓNIO FRANCISCO GONÇALVES SIMÕES - Sacerdote Católico. Coronel Capelão das Frorças Armadas Portuguesas. Funchal, Madeira. - Email goncalves.simoes@sapo.pt
Acaba de sair novo livro do Coronel Capelão António Francisco Gonçalves Simões, nosso amigo e ilustre colaborador do "Luso-brasileiro".
O autor apresenta o resultado de intensa investigação, incluindo biografias de Oficiais Generais e bispos naturais da Madeira.
Avery Dulles, S.J.
Publicado em First Things (outubro de 2007)
http://www.firstthings.com/article.php3?id_article=6038
Durante a segunda metade do século dezenove, ficou comum falar de uma guerra entre ciência e religião. Mas no curso do século vinte, aquela hostilidade gradualmente diminuiu. Seguindo as pegadas do Segundo Concílio Vaticano, João Paulo II no começo de seu pontificado estabeleceu uma comissão para revisar e corrigir a condenação de Galileu no seu julgamento de 1633. Em 1983 ele organizou uma conferência celebrando o 350° aniversário da publicação de “Diálogo relativo a duas novas ciências”, no qual ele comentou que a experiência do caso Galileu levou a Igreja “para uma atitude mais madura e uma compreensão mais exata da autoridade própria dela”, permitindo-a distinguir melhor entre “elementos essenciais à fé” e “sistemas científicos de uma época”.
De 21 a 26 de setembro de 1987, o papa patrocinou uma semana de estudos sobre ciência e religião em Castelgandolfo. Em 1° de junho de 1988, refletindo sobre os resultados desta conferência, ele enviou uma carta positiva e encorajadora ao diretor do Observatório do Vaticano, guiando um meio termo entre a separação e a fusão das disciplinas. Ele recomendou um programa de diálogo e interação, no qual ciência e religião procurariam nem suplantar e nem ignorar uma à outra. Elas deveriam procurar juntas por uma compreensão mais profunda das competências e limitações de cada uma, e deveriam olhar especialmente para os aspectos em comum. A ciência não deveria tentar tornar-se religião, nem a religião procurar tomar o lugar da ciência. A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição, enquanto a religião purifica a ciência da idolatria e de falsos absolutos. Cada disciplina deve, portanto, manter sua integridade e estar aberta aos vislumbres e descobertas da outra.
Em uma mensagem amplamente noticiada sobre evolução para a Pontifícia Academia de Ciências, enviada em 22 de outubro de 1996, João Paulo II observou que, ao passo que há várias teorias da evolução, o fato da evolução do corpo humano a partir de formas inferiores de vida é “mais que uma hipótese”. Mas a vida humana, ele insistiu, era separada de tudo que é menos do que humano por uma “diferença ontológica”. A alma espiritual, disse o papa, não emerge simplesmente de forças da matéria vivente nem é um mero epifenômeno da matéria. A fé nos permite afirmar que a alma humana é imediatamente criada por Deus.
Em alguns círculos o papa foi interpretado como tendo aceitado a visão neo-darwinista de que a evolução é suficientemente explicada por mutações randômicas e seleção natural (ou “sobrevivência do mais apto”) sem nenhum tipo de propósito governante ou finalidade. Procurando compensar esta interpretação errada, Christoph Cardeal Schönborn, o arcebispo de Viena, publicou em 7 de julho de 2005 um op-ed no New York Times, no qual ele citou uma série de pronunciamentos de João Paulo II no sentido contrário. Por exemplo, o papa declarou em uma Audiência Geral de 19 de julho de 1985: “A evolução dos seres humanos, da qual a ciência procura determinar os estágios e discernir os mecanismos, apresenta uma finalidade interna que desperta admiração. Esta finalidade que dirige os seres em uma direção para a qual eles não são responsáveis, obriga a supor uma Mente que é sua inventora, sua criadora”. Nesta conexão, o papa disse que atribuir a evolução humana à chance absoluta seria uma abdicação da inteligência humana.
O cardeal Schönborn também citou o papa Bento XVI, que afirmou na sua missa inaugural como papa em 24 de abril de 2005: “Nós não somos um produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós e o resultado de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um de nós é necessário”.
O artigo do cardeal Schönborn foi interpretado por muitos leitores como uma rejeição da evolução. Algumas cartas ao editor acusaram-no de favorecer uma forma retrógrada de criacionismo e de contradizer João Paulo II. Eles pareceram incapazes de compreender o fato de que ele estava falando a linguagem da filosofia clássica e não estava optando por qualquer posição científica. Sua crítica era dirigida aos neo-darwinistas que se pronunciam em questões filosóficas e teológicas através dos métodos da ciência natural.
Muitas autoridade nestas questões, como Kenneth R. Miller e Stephen M. Barr, nas suas respostas a Schönborn, insistiram que se pode ser um neo-darwinista na ciência e um fiel cristão ortodoxo. Distinguindo diferentes níveis de conhecimento, eles alegaram que o que é randômico do ponto de vista científico, está incluído no plano eterno de Deus. Deus, por assim dizer, joga os dados mas é capaz, por seu conhecimento total, de prever o resultado por toda a eternidade.
Esta combinação de darwinismo na ciência e teísmo na teologia pode ser sustentada, mas não é a posição que Schönborn tentou atacar. Como ele deixou claro em um artigo subsequente em First Things (janeiro de 2006), ele estava fazendo objeções somente àqueles neo-darwinistas – e eles são muitos – que mantém que nenhuma investigação válida da natureza poderia ser conduzida exceto no redutivo modo do mecanismo, que procura explicar tudo em termos de quantidade, matéria e movimento, excluindo diferenças específicas e propósito na natureza. Ele citou um destes neo-darwinistas como declarando: “A ciência moderna implica diretamente em que o mundo é organizado estritamente de acordo com princípios determinísticos ou acaso. Não há quaisquer princípios de propósito na natureza. Não há deuses e nenhuma força modeladora racionalmente detectáveis”.
O cardeal Schönborn observa astutamente que os cientistas positivistas começam excluindo metodologicamente causas finais e formais. Tendo então descrito os processos naturais em termos meramente de causalidade eficiente e material, eles se viram e rejeitam qualquer outro mecanismo de explicação. Eles simplesmente proíbem as questões sobre por que alguma coisa (incluindo vida humana) existe, como nós diferimos em natureza dos animais irracionais, e como nós devemos conduzir nossas vidas.
Nos últimos anos houve uma explosão de literatura ateísta que proclama a autoridade da ciência, e especialmente teorias darwinistas da evolução, em demostrar que é irracional acreditar em Deus. Os títulos de alguns destes livros são reveladores: O fim da fé de Sam Harris1, Quebrando o encanto: a religião como fenômeno natural de Daniel Dennett2, Deus, um delírio de Richard Dawkins3 e Deus: a hipótese fracassada de Victor J. Stenger4. Os novos ateístas estão escrevendo com o entusiasmo de evangelistas propagando o evangelho do ateísmo e da irreligião.
Estes escritores geralmente concordam em sustentar que evidência, entendida no senso científico, é a única base válida para crença. A ciência realiza observações objetivas por olho e por instrumentos; constrói modelos ou hipóteses para levar em conta o fenômeno observado. Ela então testa as hipóteses deduzindo consequências e vendo se elas podem ser verificadas ou falsificadas pelo experimento. Todos os fenômenos mundanos são presumidamente explicáveis referindo-se à corpos e forças contidos neste mundo. A menos que Deus fosse uma hipótese verificável testada pelo método científico, eles sustentam, não haveria base para crença religiosa.
Richard Dawkins, um porta-voz líder desta nova anti religião, pode ser tomado como um representante da classe. As provas da existência de Deus, ele crê, são todas inválidas, dentre outros defeitos elas deixam sem resposta a questão “Quem fez Deus?” “Fé”, ele escreve, “é o grande pretexto, a grande desculpa para evadir-se da necessidade de pensar e avaliar evidência. ... Fé, sendo crença que não é baseada em evidência, é o principal vício em qualquer religião.” Levado pela sua própria ideologia, ele fala da “frivolidade da mente religiosamente doutrinada.” Ele ostenta que, na busca para explicar a natureza da vida humana e do universo no qual nos encontramos, a religião “está agora completamente superada pela ciência.”
A compreensão de Dawkins de fé religiosa como um compromisso irracional soa ao católico como estranha. O Primeiro Concílio Vaticano condenou o fideísmo, a doutrina de que a fé é irracional. Ele insistiu que fé está e deve estar em harmonia com a razão. João Paulo II desenvolveu a mesma idéia na sua encíclica sobre Fé e Razão, e Bento XVI no seu discurso em Regensburg em 12 de setembro de 2006, insistiu na necessária harmonia entre fé e razão. Naquele contexto, ele apelou por uma retomada da razão em todo seu sentido, compensando a tendência da ciência moderna de limitar a razão ao verificável empiricamente.
Católicos que são especialistas em ciências biológicas têm várias posições diferentes sobre evolução. Como eu indiquei, um grupo, enquanto explicando evolução em termos de mutações randômicas e sobrevivência do mais apto, aceita a posição darwinista como precisa no nível científico mas rejeita o darwinismo como um sistema filosófico. Este primeiro grupo sustenta que Deus, prevendo eternamente todos os produtos da evolução, usa o processo natural da evolução para realizar Seu plano criativo. Seguindo Fred Hoyle, alguns membros deste grupo falam do “princípio antrópico,” entendendo que o universo foi “ajustado” desde o primeiro momento da criação para permitir o surgimento da vida humana.
Um exemplo recente deste ponto de vista pode ser encontrado no livro de 2006 de Francis S. Collins: A linguagem de Deus5. Collins, um mundialmente renomado especialista em genética e microbiologia, foi criado sem qualquer crença religiosa e se tornou um cristão depois de terminar seus estudos em química, biologia e medicina. Seu conhecimento profissional nestes campos convenceu ele de que a beleza e a simetria dos genes e genomas humanos testemunham fortemente em favor de um Criador sábio e amoroso. Mas Deus, ele crê, não precisa intervir no processo da evolução corporal. Collins defende uma teoria de evolução teística que ele designa como posição BioLogos.
Apesar de Collins não ser católico, ele se refere com aprovação às visões de João Paulo II sobre evolução na mensagem de 1996 à Pontifícia Academia de Ciências. Ele baseia-se nos trabalhos do sacerdote anglicano Arthur Peacock, que escreveu o livro intitulado Evolução: A amiga disfarçada da fé6. Ele cita com satisfação as palavras do presidente Bill Clinton, que declarou em uma celebração do Projeto Genoma Humano na Casa Branca em junho de 2000: “Hoje nós estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida. Estamos tendo ainda mais reverência pela complexidade, pela beleza e maravilha do mais divino e sagrado dom de Deus.”
Evolucionismo teísta, como o darwinismo clássico, se abstém de afirmar qualquer intervenção divina no processo de evolução. Ele admite que o surgimento dos corpos vivos, incluindo o humano, pode ser explicado no nível empírico através de mutações randômicas e sobrevivência do mais apto.
Mas o evolucionismo teísta rejeita as conclusões ateístas de Dawkins e seus coortes. As ciências físicas, eles defendem, não são a única fonte aceitável da verdade e da certeza. A ciência tem uma competência real, porém limitada. Ela pode nos dizer muito sobre os processos que podem ser observados ou controlados através dos sentidos ou por instrumentos, mas não tem meios de responder questões profundas envolvendo a realidade como um todo. Longe de ser capaz de substituir a religião, ela não pode começar a dizer-nos o que trouxe o mundo à existência, nem porque o mundo existe, nem qual é o nosso destino final, nem como nós devemos agir para sermos o tipo de pessoas que devemos ser.
Visto como um sistema científico, o darwinismo tem algumas características atraentes. Sua grande vantagem é a simplicidade. Ignorando diferenças específicas entre os diferentes tipos de seres e o propósito pelo qual agem, o darwinismo deste tipo reduz todo o processo da evolução para matéria e movimento. Neste nível próprio produz explicações plausíveis que parecem satisfazer muitos cientistas experimentais.
Apesar dessas vantagens, o darwinismo não triunfou completamente, nem mesmo no campo científico. Uma importante escola de cientistas defende uma teoria conhecida como Design Inteligente. Michael Behe, professor na Universidade de Lehigh, defende que certos órgãos dos seres vivos são “irredutivelmente complexos”. Sua formação não pode acontecer por pequenas mutações randômicas porque alguma coisa que tivesse somente algumas, mas não todas as características do novo orgão não teria razão para existir e nenhuma vantagem para sobrevivência. Não faria sentido algum, por exemplo, para a pupila do olho evoluir se não houvesse retina para acompanhá-la, e também não faria sentido haver uma retina sem pupila. Como exemplo de um orgão complexo no qual todas suas partes são interdependentes, Behe propõe o flagelo bacterial, uma ferramenta natatória maravilhosa usada por algumas bactérias.
Neste ponto entramos em uma disputa técnica entre microbiologistas a qual não tentarei julgar. Em favor de Behe e sua escola, podemos dizer que a possibilidade de grandes mudanças súbitas feitas por uma inteligência maior não podem ser previamente descartada. Mas podemos tomar isso como um sonoro princípio de que Deus não intervém na ordem criada sem necessidade. Se a produção de órgãos como o flagelo bacteriano pode ser explicada por acumulação gradual de pequenas variações randômicas, a explicação darwinista deve ser preferida. Por uma questão de política, é imprudente basear a fé de alguém no que a ciência ainda não explicou, porque amanhã ela pode ser capaz de explicar o que não consegue hoje. A história nos ensina que “Deus tapa buracos” geralmente se mostra como uma ilusão.
O darwinismo é criticado, ainda, por um terceira escola de críticos, que inclui filósofos como Michael Polanyi, que se baseia no trabalho de Henri Bergson e Theilhard de Chardin. Filósofos desta orientação, não obstante suas mútuas diferenças, concordam que organismos biológicos não podem ser entendidos somente pelas leis da mecânica. As leis da biologia, sem de modo algum contradizerem aquelas da física e da química, são mais complexas. O comportamento dos organismos vivos não pode ser explicado sem levar em conta seu esforço por vida e crescimento. Plantas, por estenderem-se até a luz solar e alimentação, deixam escapar uma aspiração intrínseca para a vida e o crescimento. Esta finalidade interna as torna capazes de sucessos e falhas de maneiras que pedras e minerais não são. Por causa da lacuna ontológica que separa o vivente do não-vivente, o surgimento da vida não pode ser explicado com base em princípios mecânicos puros.
Em sintonia com esta escola de pensamento, o físico matemático inglês John Polkinghorne defende que o darwinismo é incapaz de explicar porque plantas e animais multicelulares surgem enquanto organismos celulares parecem lidar com mais sucesso ao ambiente. Deve haver, no universo, um impulso para formas mais complexas. O professor de Georgetown John F. Haught, em uma defesa recente do mesmo ponto de vista, observa que as ciências sociais obtém resultados exatos restringindo-se aos fenômenos mensuráveis, ignorando questões mais profundas sobre significado e propósito. Por este método, ela filtra a subjetividade, sentimento e esforço, tudo que é essencial para uma teoria completa da cognição. O darwinismo materialista é incapaz de explicar porque o universo dá origem à subjetividade, sentimento e esforço.
O filósofo tomista Etienne Gilson sustentou vigorosamente em seu livro de 1971 De Aristóteles até Darwin e de volta novamente7 que Francis Bacon e outros perpetraram um erro filosófico quando eliminaram duas das quatro leis de Aristóteles do domínio da ciência. Eles procuraram explicar tudo em termos mecânicos, referindo-se somente a causas materiais e eficientes, descartando causalidade formal e final.
Sem a forma, ou a causa formal, seria impossível explicar a unidade e a identidade específica de qualquer substância. Na composição humana a forma é a alma espiritual, que faz o organismo uma única entidade e o dá seu caráter humano. Uma vez que a forma seja perdida, os elementos materiais se decompõem e o corpo cessa de ser humano. Seria fútil, portanto, tentar definir seres humanos só em termos de seus componentes corporais.
Causalidade final é particularmente importante no domínio dos organismos vivos. Os órgãos do corpo animal ou humano não são inteligíveis exceto em termos de seu propósito ou finalidade. O cérebro não é inteligível sem referência à faculdade do pensamento que é seu propósito, nem são os olhos inteligíveis sem referência à função de ver.
Estas três escolas de pensamento são todas sustentáveis em uma filosofia cristã da natureza. Apesar de eu tender à terceira, reconheço que alguns especialistas bem qualificados professam o darwinismo teístico e o design inteligente. Todas as três destas perspectivas cristãs sobre evolução afirmam que Deus tem um papel essencial no processo, mas concebem o papel de Deus de maneiras diferentes. De acordo com o darwinismo teísta, Deus inicia o processo produzindo desde o primeiro instante da criação (o Big Bang) a matéria e energias que vão gradualmente desenvolver-se em vegetais, animais e eventualmente vida humana na Terra e talvez em mais lugares. De acordo com o design inteligente o desenvolvimento não ocorre sem intervenção divina em alguns estágios, produzindo órgãos irredutivelmente complexos. De acordo com a visão teleológica, o impulso da evolução e seu avanço em graus maiores de ser dependem da presença dinâmica de Deus na sua criação. Muitos adeptos desta escola diriam que a transição da existência físico-química para vida biológica, e as demais transições para vida animal e humana, requer uma dose adicional da energia criativa divina.
A maioria da comunidade científica parece ser ferozmente oposta à qualquer teoria que poderia trazer Deus ativamente para dentro do processo da evolução, como a segunda e a terceira teoria trazem. Cristãos darwinistas correm o risco de conceder demais aos seus colegas ateus. Eles podem estar excessivamente inclinados em garantir que todo o processo de surgimento aconteça sem envolvimento de qualquer entidade superior. Teólogos devem perguntar se é aceitável banir Deus de Sua criação desta maneira.
Muitos séculos atrás, um grupo de filósofos conhecido como Deístas defenderam uma teoria de que Deus teria criado o universo e cessado naquele ponto de ter qualquer influência. Muitos cristãos discordaram firmemente, defendendo que Deus continua a agir na história. No decorrer dos séculos, ele deu revelações aos seus profetas; realizou milagres; enviou seu próprio Filho para se tornar homem; ressuscitou Jesus da morte. Se Deus é tão ativo na ordem sobrenatural, produzindo efeitos que são publicamente observáveis, é difícil descartar, em princípio, todas intervenções no processo da evolução. Por que Deus deveria ser capaz de criar o mundo a partir do nada mas incapaz de agir dentro do mundo que ele fez? A tendência hoje é dizer que a criação não estava completa na origem do universo mas continua à medida que o universo se desenvolve em complexidade.
Phillip E. Johnson, um líder no movimento de Design Inteligente, acusou os cristãos darwinistas de cair em um deísmo atualizado, exilando Deus “para a área sombria anterior ao Big Big” onde ele “não deve fazer nada que possa causar problemas entre teístas e naturalistas científicos”.
A Igreja Católica tem mantido consistentemente que a alma humana não é produto de qualquer causa biológica mas é imediatamente criada por Deus. Esta doutrina levanta a questão de que se Deus não está necessariamente envolvido na criação do corpo humano, uma vez que o corpo humano vem a ser quando a alma é infundida. O advento da alma humana torna o corpo relacionado com ela e portanto humano. Apesar de poder ser difícil para o cientista detectar o ponto no qual o corpo em evolução passa de antropóide para humano, seria absurdo para um animal bruto – digamos, um chimpanzé – possuir um corpo perfeitamente idêntico ao humano.
Cientistas ateus geralmente escrevem como se a única maneira válida de raciocinar fosse a atual na ciência moderna: fazer observações e medidas precisas dos fenômenos, construir hipóteses para explicar as evidências, e confirmar ou negar as hipóteses pelos experimentos. Acredito ser difícil imaginar alguém vindo a acreditar em Deus por este caminho.
É verdade, claro, que a beleza e a ordem da natureza têm frequentemente motivado pessoas a acreditar em Deus como criador. O poder eterno e a majestade de Deus, diz São Paulo, é manifestada para todos a partir das coisas criadas por Deus. Ao povo de Listra, Paulo proclamou que Deus nunca se deixou sem testemunha, “por seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os tempos férteis, concedendo abundante alimento e enchendo os vossos corações de alegria.”8 Filósofos cristãos elaboraram provas rigorosas baseados nestas revelações espontâneas. Mas estas provas dedutivas não se baseiam no moderno método científico.
Pode ser de interesse que o cientista Francis Collins chegou a acreditar em Deus não tanto a partir de contemplar a beleza e a ordem da criação – muito embora seja impressionante – mas como resultado da experiência moral e religiosa. Sua leitura de C.S. Lewis o convenceu de que há uma lei moral maior à qual estamos incondicionalmente sujeitos e de que a única fonte possível da lei é um Deus pessoal. Lewis também o ensinou a confiar no instinto natural através do qual o coração humano alcança inelutavelmente o infinito e o divino. Qualquer outro apetite natural – como aqueles por comida, sexo e conhecimento – tem um objeto real. Por que, então, deveria a ânsia por Deus ser uma exceção?
Crer em Deus é natural, e a crença pode ser confirmada por provas filosóficas. Entretanto, os cristãos geralmente acreditam em Deus, suspeito, não por causa destas provas mas porque eles reverenciam a pessoa de Jesus, que nos ensina sobre Deus por suas palavras e ações. Não seria possível ser um seguidor de Jesus e ser um ateu.
Cientistas como Dawkins, Harris e Stenger parecem saber pouquíssimo da experiência espiritual dos crentes. Como Terry Eagleton escreveu na sua resenha do livro de Dawkins “Deus, um delírio”, “Imagine alguém discursando sobre biologia mas cujo único conhecimento seja o Livro das Aves Inglesas, e você terá uma vaga idéia do que se sente ao ler Richard Dawkins escrevendo sobre Teologia ... Se racionalistas de carteirinha como Dawkins [fossem consultados] para fazer um julgamento sobre a geopolítica da África do Sul, sem dúvida eles iriam estudar o assunto até o último minuto, tão assiduamente quanto pudessem. Quando se trata de Teologia, porém, qualquer caricatura mal feita é aceitável.”
Alguns ateus cientificistas contemporâneos estão tão envolvidos na metodologia de suas áreas que eles imaginam que ela deva ser o único método para resolver qualquer problema. Mas outros métodos são necessários para lidar corretamente com questões de outra ordem. Ciência e tecnologia (a primavera da ciência) são totalmente inadequadas no campo da moralidade. Enquanto a ciência e a tecnologia aumentam vastamente o poder humano, o poder é ambivalente. Ele pode fazer bem ou mal; a mesma invenção pode ser construtiva ou destrutiva.
A tendência da ciência, quando vence, é realizar qualquer coisa que esteja dentro de sua capacidade, sem respeito a vínculos morais. Como temos experimentado em gerações recentes, tecnologia sem controle por padrões morais tem causado horrores incontáveis no mundo. Distinguir entre o uso certo e errado do poder, e motivar os seres humanos a fazer o que é certo até mesmo quando não se encaixa em sua conveniência, requer recorrer à normas morais e religiosas. Os apelos da consciência deixam claro que estamos inescapavelmente sob uma lei maior que requer de nós comportarmo-nos de certos modos e que julga nossa culpa se a desobedecermos. Nos dirigiríamos em vão aos cientistas para nos informarmos sobre leis maiores.
Alguns evolucionistas defendem que moralidade e religião surgem, evoluem, e persistem de acordo com princípios darwinistas. Religião, eles dizem, tem um valor de sobrevivência para indivíduos e comunidades. Mas este alegado valor de sobrevivência, mesmo que seja real, não nos diz nada sobre a veracidade ou falsidade de qualquer sistema moral ou religioso. Já que questões desta ordem maior não podem ser respondidas pela ciência, filosofia e teologia ainda têm um papel essencial para executar.
Justin Barrett, um psicólogo evolucionário, agora em Oxford, também é um cristão praticante. Ele crê que um Deus onisciente, onipotente, e perfeitamente bom fez os seres humanos para estar em uma relação de amor com Ele com os outros. “Por que não iria Deus,” ele pergunta, “nos planejar de um modo a achar a crença na divindade quase natural?” Mesmo que esses fenômenos mentais possam ser explicados cientificamente, a explicação psicológica não significa que devemos parar de crer. “Imagine que a ciência produza uma explicação convincente de porque eu penso que minha esposa me ama,” ele escreve, “eu deveria, então, parar de crer que nisso?”
Uma metafísica do conhecimento pode nos levar adiante na busca da verdade religiosa. Ela pode nos dar razões para pensar que a tendência natural para crer em Deus, manifestada entre todas as pessoas, não existe em vão. A biologia e psicologia podem examinar o fenômeno de baixo. Mas a teologia vê de cima, como o trabalho de Deus, nos chamando para Ele do fundo do nosso ser. Estamos, por assim dizer, programados para buscar vida eterna na união com Deus, a fonte pessoal e objetivo de tudo que é verdadeiro e bom. Este desejo natural de fixar-se nEle, apesar de poder ser suprimido por um tempo, não pode ser erradicado.
A ciência pode lançar uma luz brilhante nos processos da natureza e pode aumentar vastamente o poder humano sobre o ambiente. Usada corretamente, pode melhorar notavelmente as condições de vida aqui na Terra. Futuras descobertas científicas sobre evolução irão, presumivelmente, enriquecer a religião e a teologia, uma vez que Deus se revela através do livro da natureza bem como através da história redentora. A ciência, entretanto, realiza um desserviço quando clama ser a única forma válida de conhecimento, descartando a estética, a interpessoal, a filosófica e a religiosa.
A recente explosão de ateísmo cientificista é um sinal agoureiro. Se não for controlada, esta arrogância pode levar a um ressurgimento da guerra absurda que atingiu o século XIX, destruindo, deste modo, a harmonia dos diferentes níveis de conhecimento que foram fundamentais para nossa civilização ocidental. Em contraste, o tipo de diálogo entre a ciência evolucionária e a teologia, proposto por João Paulo II pode superar a alienação e levar a um autêntico progresso, tanto para ciência quanto para religião.
O cardeal Avery Dulles, S.J., detém a cátedra Laurence J. McGinley Chair sobre Religião e Sociedade na Universidade de Fordham.
Traduzido por Alexandre Zabot
1NT: Tradução literal, não encontrei título em português.
2NT: Edição traduzida pela Editora Globo
3NT: Edição traduzida pela Cia das Letras
4NT: Tradução literal, não encontrei título em português.
5NT: Edição traduzida pela Editora Gente
6NT: Tradução literal, não encontrei título em português.
7NT: Tradução literal, não encontrei título em português.
8NT: At 14,17. Usei a tradução da Bíblia Ave Maria.
ALEXANDRE ZABOT - Fisico. Doutorado em Astrofisica. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. www.alexandrezabot.blogspot.com.br
A grande lição que João nos deixa é que “Ele cresça e eu desapareça!”
João Batista é o santo mais retratado na arte cristã. E não é sem razão. Ele é o último profeta do Antigo Testamento e o primeiro do Novo. A Igreja o festeja duas vezes no ano litúrgico: no dia de sua morte (29 de agosto), e no dia em que nasceu (24 de junho), para assinalar os seis meses que antecedem o nascimento de Jesus, segundo as palavras do arcanjo Gabriel a Maria.
Deus o escolheu desde o ventre de Santa Isabel para ser o precursor o Senhor. No décimo quinto ano de Tibério (28-29 d.C.), iniciou sua missão no rio Jordão: pregar e batizar; daqui vem o nome “Batista”.
Quando batizou Jesus, João revela a identidade de Deus: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo!” (Jo 1,29).
A sua Paixão era Jesus. Naquele momento João confia: “Assim, pois, já este meu gozo está cumprido. É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,29-30). Morre decapitado, sua cabeça foi pedida por capricho de Salomé, filha de Herodíades, mulher ilegítima do rei de Israel.
João é o “arauto do grande Rei”; “a trombeta do imperador”, como dizia São Francisco. Ele denuncia todo tipo de pecado porque veio para anunciar Aquele que tira o pecado do mundo. E derrama seu sangue para denunciar o pecado do rei.
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O Martírio de São João Batista
Ele foi santificado ainda no ventre de sua mãe diante da Virgem Maria. O profeta Isaías já tinha profetizado que Deus o “preparou desde o nascimento para ser seu Servo – que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória” (Is 49,4-6).
Sua Paixão era Jesus: “Eu não sou aquele que pensais que eu seja! Mas vede: depois de mim vem Aquele, do qual nem mereço desamarrar as sandálias” (cf. At 13,24-26). E o povo se curvava diante da pregação de João: “Ouvindo-o todo o povo, e mesmo os publicanos, deram razão a Deus, fazendo-se batizar com o batismo de João” (Lc 7, 29).
Ele disse que era apenas “uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Is 40,3). “Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. Tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível” (Mt 3,1-17).
Jesus fez elogios eloquentes a João: “Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11, 11). “Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12).
“Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz” (Jo 5, 35).
Quando João Batista mandou seus discípulos perguntarem a Jesus: “És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro?”, Jesus respondeu-lhes: “Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho. Depois que se retiraram os mensageiros de João, ele começou a falar de João ao povo: Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Pois vos digo: entre os nascidos de mulher não há maior que João. Entretanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele” (Lc 7, 22-28).
Jesus sempre se referia a João: “Pois veio João Batista, que nem comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Ele está possuído do demônio” (Lucas 7, 33).
Assista também: Por que celebramos S. João Batista duas vezes no ano?
Ao ver Jesus, João Batista o apresentou a seu discípulos de maneira certeira: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1,29). Assim, João dava a “identidade e a missão” de Jesus. Ele é aquele cordeiro que será imolado pela redenção da humanidade, cuja figura estava naqueles dois cordeirinhos que os judeus sacrificavam todos os dias no Templo, as seis horas da manhã e as seis horas da tarde (o holocausto perpétuo), para que Deus perdoasse os pecados do mundo. João mostrava assim a missão de Jesus, “arrancar com sua morte o pecado do mundo”, porque “o salário do pecado é a morte” (Rom 6,23). Mostrava-nos assim, que Jesus não veio para outra atividade, senão tirar o pecado dos homens e instaurar o reino de Deus, da Graça.
Quando Jesus se apresentou para ser batizado por ele, João rejeitou: “Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim! Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa. Então João cedeu. Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição” (Mt 3,1ss).
Como todo profeta, João pagou com sangue sua pregação. Conhecemos bem essa história. A grande lição que João nos deixa é que “Ele cresça e eu desapareça!”
FELIPE AQUINO - é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino
Um imperador viu-se diante de três dúvidas ao planejar uma atividade: Qual o tempo ideal para iniciar um planejamento e não deixar nenhum arrependimento? Que tipo de pessoa é mais necessária para ajudar? Qual é o ponto mais importante em qualquer planejamento?
O imperador ficou muito interessado em saber as respostas, pois, com isso, poderia caminhar com sucesso na vida. Então, ele mandou anunciar em todo o país uma grande recompensa àquele que lhe ensinasse as respostas corretas.
Depois de muitas tentativas, o soberano encontrou-se com um sábio e teve os esclarecimentos que tanto buscava: ‘O tempo ideal é este exato momento; a pessoa mais importante é aquela com quem está se relacionando mais; e o melhor trabalho é servir o próximo, fazendo-lhe o bem’.
Assim, o imperador ficou sabendo que o importante é o dia de hoje, pois nele está contido todo o futuro de realizações. Da mesma forma, não existe uma pessoa especial em algum lugar. Não são as pessoas de poder, de fortuna ou eruditas as mais preciosas. Uma pessoa com quem a gente está se relacionando agora é a que mais poderá ajudar. E sábio é aquele que consegue valorizar cada pessoa que se encontra em seu redor, considerando sua melhor característica.
Servir a todos é o caminho para conquistar a confiança desejada. Mesmo que seja uma pessoa simples, se deixa uma história para o bem do seu povo, é alguém que pode ser considerada imperadora da vida. Nada disso é impossível.
Certa vez, eu tive uma experiência ímpar na conferência de vicentinos. Cheguei dizendo que se ninguém quisesse aceitar ser o novo presidente, eu iria sugerir que o grupo fosse extinto e cada um se unisse a outra conferência que desejasse. Há muito tempo vinha comentando que, devido minhas inúmeras atividades, jamais aceitaria a presidência.
Mesmo sem candidato, fizemos a eleição e acabei sendo o mais votado. Pensei em repetir tudo o que já havia dito, mas me emocionei, não tive força para frustrar aqueles que esperavam um pouco mais de esforço no meu trabalho, e acabei aceitando. Fiquei sobrecarregado por três anos, mas tenho certeza que muitas bênçãos vieram dessa caminhada. Com amor e oração, nada é impossível.
Outra antiga história se refere a um rei da Tartária, que foi pescar acompanhado pelos nobres da corte. No caminho, cruzaram com um andante que proclamava em voz alta:
– Aquele que me der 100 dinares, retribuirei com um conselho que lhe será extremamente útil.
O rei disse ao homem:
– Que bom conselho poderá me dar em troca?
– Senhor, primeiro providencie os dinares e imediatamente o aconselharei.
O rei assim o fez, esperando dele alguma coisa realmente extraordinária, mas o andante se limitou a dizer:
– Meu conselho é: ‘Nunca comece nada sem ter pensado no resultado final daquilo que está para fazer’.
Ao ouvir estas palavras, os nobres riram com gosto, comentando que o ‘conselheiro’ tivera razão ao tomar o cuidado de pedir o dinheiro adiantado.
– Vocês não têm razão em rir do excelente conselho que acabo de receber – disse o rei. – Certamente, ninguém ignora o fato de que se deve pensar antes de fazer alguma coisa, mas todos cometemos o erro de desprezar isso, e as consequências são trágicas! Darei muita atenção ao conselho deste homem.
Procedendo de acordo com suas palavras, ele decidiu escrever o conselho com letras douradas nos muros do palácio e até gravá-lo em sua bandeja de prata. Dias depois, um cortesão ambicioso concebeu a ideia de matar o rei. Para tanto, subornou o cirurgião real com a promessa de nomeá-lo primeiro-ministro se introduzisse uma agulha envenenada no braço da majestade.
Quando chegou o momento de colher sangue do rei, a bandeja de prata foi colocada sob o seu braço, e o cirurgião não pôde deixar de ler: ‘Nunca comece nada sem ter pensado no resultado final daquilo que está para fazer’.
Então, o cirurgião deu conta de que se fizesse o que o cortesão lhe tinha proposto e este subisse ao trono, simplesmente sua ambição poderia executá-lo antes de cumprir o trato. O rei, percebendo que o cirurgião estava tremendo, perguntou o que havia de errado com ele. Descoberto o complô, o cortesão foi preso e o rei passou a perguntar aos nobres:
– Ainda riem daquele conselheiro andante?
Pois é, isso completa a história anterior. Não só devemos iniciar rapidamente o que precisamos fazer, mas também contarmos com pessoas de boa vontade, servindo o próximo e avaliando os melhores resultados das nossas ações.
Um outro fato aconteceu comigo anos atrás. Mesmo sabendo que estávamos precisando de um coordenador na música da Comunidade Nossa Senhora do Sagrado Coração, eu dizia que não tinha tempo para assumir esse compromisso.
No mesmo dia em que aceitei ser presidente da conferência de vicentinos, recebi uma ligação do amigo Moacir, pedindo que reconsiderasse as justificativas anteriores e, para o bem da linda Comunidade que participo, aceitasse a coordenação. Avaliei as consequências, pedi ajuda a ele sempre que precisasse, e decidi aceitar. Nada além do possível.
PAULO R. LABEGALINI - Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre - MG.)
Dos numerosos romances de Camilo, sobressai, o " Amor de Perdição", escrito na Cadeia da Relação do Porto, no quarto oito, em curto espaço de tempo – quinze dias.
O romancista fora detido por crime de adultério, que na época era escandaloso.
O Mestre dos Mestres, como afirmava – e bem, – António Feliciano de Castilho, encontrava-se encerrado numa pequena sala húmida e sombria, quando escreveu a obra-prima, que Miguel Unamuno considerava: " Uno de los libros fundamentales de la Literatura Ibérica" – " Por terras de Portugal y Espana"; e afirma na mesma obra: " Ler Camilo es viajar por Portugal, pero es Portugal de las almas."
Ana Plácida era casada com Manuel Pinheiro Alves, negociante abastado, muito mais velho do que ela. Casara com dezasseis anos!
Oito anos depois, amancebara-se com Camilo, levando o filho, Manuel Plácido.
O marido, ultrajado, apresentou queixa por adultério. Ana é presa em junho, e Camilo em outubro, do mesmo ano (1860).
Julgados pelo Dr. José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz, pai de Eça, – foram, ambos, absolvidos.
O " Amor de Perdição" tem enredo de verdade e fantasia.
Simão realmente existiu. Era estudante na Universidade de Coimbra, vivia em Viseu, e era solteiro.
O crime de Simão foi de tentativa frustrada de homicídio, na pessoa de criado de servir, na Rua Direita (3 de agosto de 1804,) em Viseu. E não, como narra o romancista, assassino do pretendente de Teresa Albuquerque.
Simão foi auxiliado, durante a realização do crime, por José Jerónimo de Loureiro e Seixas, e não pelo ferrador João da Cruz, como assevera Camilo, no romance.
O Visconde de Valdemouro, membro da Família Albuquerque da Beira Alta, conta no: " Correia do Vouga ": que seu tio, D. António, escreveu indignado a Camilo, por ter usado o apelido da Família, no romance. Camilo respondeu-lhe: que utilizou o apelido, como poderia usar outro qualquer, visto os nomes próprios serem fantasiados. O nome de Teresa e Tadeu, foram, portanto, inventados pelo escritor, omitindo os verdadeiros.
Simão, como se sabe, era tio paterno de Camilo Castelo Branco.
Apesar do escritor não ser, entre os jovens, muito lido, é o maior prosador, em língua portuguesa – graças ao:" Extraordinário génio verbal e estilístico do escritor (...) e a admirável vernaculidade da linguagem de Camilo" – Vasco Botelho de Amaral. Rodrigues Lapa tem parecer semelhante sobre o romancista.
Termino com a magnífica imagem de Pinheiro Chagas: " A sua linguagem foi arrancada como puro mármore da pedreira nacional."
Já agora: por que não reler, nas próximas férias, o "Amor de Perdição"?
HUMBERTO PINHO DA SILVA
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Em 22 de agosto de 1997, ocorreu a beatificação de Antonio Frederico Ozanan, professor e estudioso de Direito Comercial, que nasceu em 1913 em Lions e foi o fundador da entidade católica de grande atuação, a Sociedade São Vicente de Paula. Aliviar os que sofrem, melhorar as condições dos oprimidos e socorrer os aflitos, são entre muitos outros, os meios de executar a tarefa das pessoas que a integram. Tanto São Vicente de Paula, no século XVII, quanto Ozanan, no século XIX, colocaram suas vidas a serviço e ao amor ao próximo.
Inspirando-nos nestas nobres figuras, conscientizemo-nos que para construir um mundo mais fraterno e digno, é preciso, em primeiro lugar, firmar um compromisso sincero com a vida. Um gesto concreto é defender com garra os direitos de cidadania, sobretudo das pessoas mais humildes. “Para tanto, é fundamental a mediação da política, da qual todos os leigos conscientes são convidados a lançar mão, mesmo porque a solidariedade, um dos fundamentos da fé cristã, só se concretiza na ação; nunca na omissão.” (Família Cristã – pág. 3 – 02/1996).
A situação atual é manifestamente crítica em função do predomínio das questões econômicas sobre as sociais. Além do mais, os cidadãos precisam acordar para atitudes solidárias, afastando-os da comodidade e do egoísmo, próprios de um regime capitalista que exalta exclusivamente a cultura do consumismo. Atuar no sentido de propiciar uma vida mais digna para todos é, inclusive, um dever constitucional, dispondo a Constituição Federal do Brasil que é dever do Estado erradicar a miséria. Daí a enorme responsabilidade dos órgãos do Poder Público na consecução de tais objetivos primordiais, infelizmente, quase nunca observados.
Todavia, só conseguiremos atingir um mundo melhor se respeitarmos e obedecermos as normas do Direito em geral, os direitos humanos e os ditames do bom-senso na gestão dos negócios públicos, cobrando permanentes posturas de nossos representantes. Além do mais, a participação de todos é de suma relevância. Por isso e para tanto, precisamos considerar o próximo como nosso irmão e aproximarmo-nos de Deus, o grande ausente atualmente, na maioria das questões que afligem a humanidade.
No próximo domingo é o Dia Mundial da Justiça Social. Mais do que nunca, precisamos nos empenhar na execução de um projeto que desfaça o mundo do caos, da doença e da fome. Uma tarefa difícil diante da inversão de valores e da tentação do consumismo, mas não impossível se concentramos esforços conjuntos na busca de mudanças que propiciem a todos, sem distinção, a satisfação de suas necessidades básicas e a dignidade a que têm direito. Em Frederico Ozanan e em São Vicente de Paulo, encontramos exemplos de personalidades que se desprenderam dos apegos materiais para vivem na busca do bem comum.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)
Antonio Frederico Ozanan,
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