07/2015
ALEXANDRE ZABOT - Fisico. Doutorado em Astrofisica. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. www.alexandrezabot.blogspot.com.br
Celebra-se a vinte e cinco de outubro o Dia Internacional Contra a Exploração da Mulher. A data foi escolhida como um momento de reflexão no mundo para discutir a violência e a opressão praticadas contras pessoas do sexo feminino. No Brasil, apesar dos avanços com a implantação da Lei Maria da Penha, ainda há muito a ser feito para evitar a exploração e os abusos sofridos pelas mulheres.
Embora se registrem muitas conquistas nos últimos tempos, os desafios não acabaram. Pelo contrário, exigem uma luta cotidiana a ser travada em todas as esferas sociais – até no próprio lar-, sempre visando o respeito mútuo e a harmonia entre os gêneros. Somente assim alcançaremos uma posição igualitária.
A Constituição brasileira reconhece o direito de todos à cidadania plena, mas, na realidade, existe uma grande distância entre a lei e o dia-a-dia das brasileiras, observando-se a ocorrência de inúmeros casos de preconceitos e de violência. A principal forma de constrangimento físico que as atinge continua sendo no espaço doméstico, apesar da Lei Maria da Penha, que vige desde agosto de 2006.
Normalmente elas são agredidas pelo próprio companheiro – marido, ex-marido, namorado etc -, ou seja, pelas pessoas mais próximas e nas quais elas normalmente mais confiam. A violência doméstica, que submete a cônjuge virago a toda sorte de maus-tratos, constitui-se numa realidade bem atual e corriqueira, estando presente, infelizmente, na rotina da vida de milhares de famílias, provocando outros sintomas de relevância, posto que transfere aos filhos reflexos demasiadamente prejudiciais à sua formação, agravadas pelo envolvimento emocional inerente entre parentes.
Outro tipo comum de agressão, que não a física, é a que nega à mulher direito de participação ativa na sociedade, impedindo-a de realizar-se plenamente como ser humano. Conforme documento divulgado recentemente pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNDU), as mulheres não têm em nenhum país as mesmas oportunidades que os homens, mesmo com os avanços registrados na área educacional.
Enquanto o setor feminino sofrer preconceito, violência e abuso sexual, nem obter os mesmos direitos políticos, sociais e econômicos dos homens, a situação de desigualdade prevalecerá.No entanto, tais vitórias precisam ser ampliadas, de tal sorte que se solidifique uma cultura de respeito às diferenças, na qual homens e mulheres podem e devem ter papéis próprios, de mesmo valor e de importância equivalente dentro da estrutura comunitária. Enfim, desde o começo da Sagrada Escritura, é revelado que Deus criou ambos como duas formas de ser pessoa, duas expressões de uma humanidade comum.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. É autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)
Concluamos hoje a série de artigos sobre o trabalho rural na Idade Média. Vejamos agora no que consistia, precisamente, a servidão de gleba na Europa Medieval. Muitos manuais didáticos, simplificadores, dizem que era uma forma de escravidão. De fato, no latim, o substantivo “servus” designava o escravo, mas era radicalmente diversa a condição do “servus” medieval, como esclarece Pernoud: “A condição do servo [medieval] é totalmente diferente da do escravo antigo: o escravo é uma coisa, não uma pessoa; está sob a dependência absoluta do seu dono que possui sobre ele direito de vida e de morte; qualquer atividade pessoal é-lhe recusada; não conhece nem família; nem casamento, nem propriedade. O servo, pelo contrário, é uma pessoa, não uma coisa, e tratam-no como tal. Possui uma família, uma casa, um campo e fica desobrigado em relação ao seu senhor logo que pague os censos. Não está submetido a um patrão, está ligado a um domínio: não é uma servidão pessoal, mas uma servidão real. A restrição imposta à sua liberdade é que não pode abandonar a terra que cultiva. Mas, notemo-lo, essa restrição não deixa de ter uma vantagem, já que, embora não possa deixar a propriedade, também não podem tirar-lha; esta particularidade não estava longe, na Idade Média, de ser considerada um privilégio (...) mais ou menos aquilo que seria nos nossos dias uma garantia contra o desemprego. O rendeiro livre está submetido a toda a espécie de responsabilidades civis que tornam a sua sorte mais ou menos precária: se se endivida, podem confiscar-lhe a terra; em caso de guerra, pode ser forçado a tomar parte nela, ou o seu domínio pode ser destruído sem compensação possível. O servo, esse, está ao abrigo das vicissitudes da sorte; a terra que trabalha não pode escapar-lhe, da mesma maneira que não pode afastar-se dela. Esta ligação à gleba é muito reveladora da mentalidade medieval, e, notemo-lo, a este nível, o nobre está submetido às mesmas obrigações que o servo, porque ele tampouco pode em caso algum alienar o seu domínio ou separar-se dele de qualquer forma que seja: nas duas extremidades da hierarquia encontramos essa mesma necessidade de estabilidade, de fixação, inerente à alma medieval, que produziu a França e de uma maneira geral a Europa ocidental. Não é um paradoxo dizer que o camponês atual deve a sua prosperidade à servidão dos seus antepassados; nenhuma instituição contribuiu mais para o destino do campesinato francês; mantido durante séculos sobre o mesmo solo, sem responsabilidades civis, sem obrigações militares, o camponês tornou-se o verdadeiro senhor da terra; só a servidão poderia realizar uma ligação tão íntima do homem à gleba e fazer do antigo servo o proprietário do solo. (idem, p. 43-44)
Deve-se considerar também que a condição de servo, na Idade Média, nada tinha de desonroso. Na ótica medieval, servir era algo muito digno, não somente quando se tratava de um nobre que servia ao rei ou a outro nobre mais elevado, mas também quando era um plebeu que se colocava ao serviço de um nobre, pela cerimônia da recomendação. O rei era considerado o primeiro e o maior servo do reino, pois servia ao bem comum; e o papa era, de acordo com a fórmula tradicional usada desde o pontificado de São Gregório Magno, no início da Idade Média, o “servo dos servos de Deus”.
Hoje, na ótica atual, servir pode parecer algo desprezível e aviltante, mas na época que estamos estudando se entendia o contrário. Ter um senhor era honroso, pois o servidor de certa forma se alçava ao nível do seu senhor. De algo disso podemos fazer ideia pelo sistema de compadrio e apadrinhamento, ainda vigente em certas regiões do Brasil: ter um padrinho importante é algo prestigioso. “Quem tem padrinho não morre pagão”, dizia-se antigamente, ou seja, não fica desamparado.
Até hoje, a expressão “um seu criado”, ou “um seu criado para servi-lo”, é usada em regiões portuguesas e, mesmo, do interior do Brasil por alguém que se apresenta, ou cujo nome é chamado em voz alta. No século XIX, a fórmula consagrada com que um pai anunciava aos amigos o nascimento de um filho, era comunicar a eles que “nesta casa V. Excia. tem mais um criadinho ao seu serviço”. Na Alemanha, ainda é uso, em certas regiões, saudar os amigos em latim, dizendo simplesmente “Servus!” ou “Serva!”, se for mulher. Significa essa saudação que a pessoa se coloca ao serviço do outro. E na Itália se usa até como saudação inicial de uma conversa o “ciao”, transformado no Brasil em “tchau” e aqui usado apenas como forma de despedida. Pouca gente sabe que “ciao” é a contração da palavra “schiavo". Dizer “ciao” significa colocar-se à disposição do outro, como se fosse um escravo ao serviço do outro.
“Quem não vive para servir, não serve para viver” - ensina com toda a razão a sabedoria.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Dependência química e contágio... Tenho pensado sobre isso: dependência química é emocionalmente contagiosa. Observo em algumas famílias.
O neto era dependente químico. Muito novo ainda. A mãe estava por aí, na tentativa de resolver suas confusões interiores. A avó, dentro de suas possibilidades, olhava o neto até que chegou à adolescência e enveredou para o caminho das drogas. Conheci-o de cumprimentar. Mocinho humilde, apagado... A avó, tão forte, de origem de região rural, em pouco tempo sofreu um infarto. Resistiu, mas fragilizou a sua saúde. No início, para o adolescente, só euforia. Depois submissão à pedra. Procurava uma forma de conseguir o valor necessário. A compulsão, no entanto, fazia com que o valor, adquirido em vendas para o depósito de sucatas, não fosse suficiente. Por 15 dias poderia marcar com a promessa de pagamento posterior. Era conhecido no local. Informaram-lhe sobre a contagem regressiva: aviso, tortura e morte com tortura. Mil reais era um valor imenso para ele. Furtar seria manchar o nome da avó. Roubos maiores, nem pensar. Ninguém também o incentivaria, pois desde a escola era solitário. Perguntou se ela possuía o valor para lhe emprestar. Estava decidido a se tratar, abrir mão do vício e procurar emprego. Uma vida nova fazia com que acendesse um pavio de esperança em seu coração. Coitada da avó! Mal dava para sustentar a casa com a pensão que o marido lhe deixara. Contagem regressiva. Amarrado a uma árvore, sofreu a primeira tortura. Prefiro não relatar como se deu. Uma pessoa, que cortava caminho pelo local para ir trabalhar, o acudiu. Procurou a mãe em diversos becos, na esperança de que pudesse ajudá-lo pelo menos nessa vez. Viu-a em delírio numa calçada. Desistiu. Passou na loja de material de construção, comprou chumbinho, chegou em casa, abraçou a avó, disse que a amava e, na madrugada, o encontraram morto em um terreno baldio. Faz seis anos e a avó, agora na cadeira de rodas, permanece despedaçada como na madrugada daquela noite fria.
Um aparte: na Missa do último dia 16 de outubro, no Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, seu Pároco e Reitor, Padre Márcio Felipe, comentou que o suicídio é a tentativa de se livrar de uma dor interna que não se aguenta. Que é preciso procurar ajuda para dividir o peso e rezar insistentemente, pois Deus atende sempre no tempo dEle.
São tantos os casos. Uma mãe, por exemplo, estilhaçada por suas angústias, procura socorro nas drogas. Sabe que alguém, que já cuidou dela, não abandonará seus filhos. Ignora as sequelas dela e de suas crianças. Uma pode ver o comportamento da mãe como “aprendizagem” e, assim que cresce um pouco, cai no mesmo vício como forma de cuidar de suas dores. Outra pode ficar de paciência limitada, pelos desmoronamentos tantos que presencia, e entrar em depressão. Outra pode não conseguir criar vínculos, pois a experiência de relacionamento materno foi de contatos amorosos maternos menores que as ausências. A mãe é de afetos, contudo o grito de agonia de suas entranhas, de sua baixa autoestima, não lhe permite ficar com os seus. Lúcida, considera que largará tudo sem precisar de ajuda.
Aquela que usou o crack com ela, durante a gravidez, que na circulação materna passa diretamente, via transplacentária, para o feto, pode ter, além dos danos emocionais, problemas nos ossos e músculos, no sistema neurológico, prejuízo cognitivo...
Concluo, portanto, que a dependência química é contagiosa. Que doloroso, meu Deus! Que fazer para erradicá-la?
Não cabe julgar, é preciso enfrentar como um mal que assola incontáveis pessoas e seus familiares.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Maria Madalena é citada cinco vezes nos Evangelhos; não há porquê a identificar com uma prostituta. Ocorrem nos Evangelhos quatro mulheres distintas: a pecadora anônima de Lc 7, 36-50, a mulher que acompanhava Jesus e lhe servia com as suas posses (Lc 8, 1-3), a irmã de Marta e Lázaro (Jo 12, 1-12) e a mulher adúltera de Jo 8, 1-11. Nos apócrifos de origem gnóstica e maniqueia (não cristã, porque dualista) aparece Madalena como confidente de Jesus. É desta fonte que alguns autores modernos pretendem desenvolver a figura de Jesus descrita pelos evangelistas. Esta tendência carece de todo fundamento, pois a tradição cristã é diversa no tocante a Madalena após a ressurreição de Jesus.
O romancista Dan Brown, em seu “O Código da Vinci”, focalizou Maria Madalena como pretensa esposa de Jesus e antepassada de uma dinastia de reis da França. Esta notícia, por mais estranha que seja, despertou a curiosidade de muitos leitores, sugerindo assim o aprofundamento de tal temática. É o que será feito nas páginas subsequentes.
1. Maria Madalena nos Evangelhos
A Madalena dos Evangelhos costuma ser identificada, desde o século VII com a pecadora que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas, e com a irmã de Marta e Lázaro, pois esta ungiu os pés de Jesus com bálsamo. Ver Lc 7, 36-50; Lc 8, 1-3 e Jo 12, 1-11.
Esta identificação que faz de três mulheres uma só, hoje em dia não é aceita pelos melhores exegetas. Vejamos por quê.
1.1. A identificação da mulher de má vida (Lc 7, 36-50) com Madalena (Lc 8, 1-3) carece de base sólida
Eis o que se lê em Lc 8, 2s: “Acompanhavam Jesus os doze e algumas mulheres que ele havia curado de espíritos imundos e de enfermidades: Maria Madalena, da qual haviam saído sete demônios, Joana, mulher de Cuza, mordomo de Herodes, Suzana e muitas outras, que lhe ministravam com seus bens”.
Detenhamo-nos sobre Maria Madalena.
O nome “Maria” era muito comum no povo de Israel; tenha-se em visto Jo 19, 25, onde se lê que, dentre quatro mulheres, três se chamavam Maria. A predileção por tal nome talvez se deva ao fato de que a irmã de Moisés se chamava Maria (cf. Ex 15, 20), tornando célebre o respectivo nome.
Daí o uso de um aposto para diferenciar as Marias; esse aposto podia ser o lugar de origem, que, no caso, era Mágdala, povoado situado à margem ocidental do lago da Galiléia, 5 km ao norte da cidade de Tiberíades. É assim que se explica o nome “Maria Madalena”.
O fato de ter sido possuída por sete demônios não quer dizer que fosse necessariamente uma grande pecadora. Nos Evangelhos, a filha da mulher siro-fenícia em Mc 7, 29s era possessa, mas pode-se crer, pelo contexto, que era doente; o mesmo se diga do jovem possesso “desde a infância” (Mc 9, 21): a criança não tem a responsabilidade necessária para cometer pecado grave (como se crê). Sabe-se, de outro lado, que as doenças eram atribuídas aos demônios (cf. 2Cr 16, 12); “sete demônios” (número de plenitude) significariam doença muito grave. Na base destas considerações pode-se dizer que Maria Madalena não era a pecadora que a posteridade imaginou.
1.2. As demais ocorrências de Maria Madalena nos Evangelhos
Em quatro outras passagens aparece Maria Madalena nos Evangelhos, a saber:
Mc 15,40: Madalena, com outras mulheres, contemplava Jesus atormentado na Cruz.
Mc 15,47: “Maria de Mágdala e Maria, mãe de José, observavam onde depositaram Jesus descido da Cruz”.
Mc 16,1: “Passado o sábado, Maria de Mágdala, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para embalsamar Jesus”.
Jo 20, 1-18: No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã. Recebeu então de Jesus a ordem de ir anunciar aos Apóstolos a Boa-Nova da Ressurreição. “Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: ‘Vi o Senhor'”.
Como se percebe, Madalena aparece nos Evangelhos em situações que lhe merecem honra. Como então pôde ser desfigurada em prostituta?
Leia também: Qual a importância dos evangelhos apócrifos?
Que diferença há entre os Evangelhos canônicos e os Evangelhos apócrifos?
1.3. Os Equívocos
O aviltamento da figura de Maria Madalena começa pela falsa identificação com a mulher de má vida apresentada em Lc 7, 36-50. Ter sete demônios parecia indicar grave situação de pecadora. Quando Jesus a terá libertado desses maus espíritos? – A resposta parecia estar em Lc 7: a mulher caiu em prantos aos pés de Jesus, arrependida de seus pecados e recebeu do Senhor o perdão; este episódio ocorrido em casa de Simão o fariseu é colocado por Lucas logo antes da apresentação de Madalena em Lc 8; daí a fusão das duas mulheres na imagem de uma pecadora agraciada chamada Maria Madalena.
Ora tal fusão é gratuita S. Lucas fez questão de guardar o anonimato da mulher de má vida. Seja respeitada a delicadeza do evangelista!
A seguir, visto que em Jo 12, 1-12 aparece uma mulher chamada Maria a ungir os pés de Jesus com bálsamo, identificaram-na com Maria Madalena, de modo que a irmã de Marta e Lázaro passou a ser a pecadora convertida Maria de Mágdala. Todavia verifica-se que tal identificação é artificial, pois a pecadora de Lc 7 banha os pés de Jesus com lágrimas e só depois disto os unge com bálsamo, ao passo que a irmã de Lázaro não chora, mas aplica diretamente os seus perfumes.
Por não levar em conta tais pormenores, vários autores chegaram a identificar Madalena ainda com uma terceira mulher, ou seja, com a pecadora adúltera de Jo 7, 53 e mais… com a samaritana de seis maridos ocorrente em 4, 17s…!
Por conseguinte tem razão a moderna exegese ao reabilitar Maria Madalena, isentando-a da nódoa de prostituta.
Passemos agora ao estudo da tradição relativa a Maria Madalena.
2. Maria Madalena na Tradição
Distinguiremos a tradição cristã e a tradição gnóstica.
2.1. Tradição cristã
Eis o que refere o famoso hagiógrafo Butler em sua obra “Vida dos Santos”, t, VII (22 de julho):
“Segundo a tradição oriental, Maria Madalena, depois de Pentecostes, acompanhou Nossa Senhora e S. João até Éfeso, onde veio a falecer e foi enterrada. O peregrino inglês S. Vilibaldo teve a oportunidade de ver, lá, o seu túmulo, em meados do século VIII. Todavia, de acordo com a tradição da França, no Martirológio Romano, e conforme a concessão de diversas festas locais, ela, junto com Lázaro, Marta e outros, evangelizaram a Provença. Os últimos trinta anos de sua vida, segundo se afirma, ela os passou numa gruta formada por rochas, La Sainte Baume, no alto dos Alpes Marítimos, sendo transportada milagrosamente, instantes antes da morte, para a capela de S. Maximino. Ela recebeu os últimos sacramentos das mãos deste santo, sendo por ele enterrada”.
A referência mais antiga que se conhece a respeito da vinda desses cristãos orientais até a França é do século XI, em conexão com as relíquias de S. Maria Madalena, reivindicadas pela abadia de Vézelay, na Burgúndia. A formulação da história parece ter-se espalhado pela Provença somente durante o século XIII. A partir de 1279, as relíquias de Maria Madalena, segundo consta, estão sob a custódia dos monges de Vézelay e dos frades dominicanos de Saint-Maximin, sendo ainda muito popular a peregrinação que se faz até o túmulo da Igreja desses últimos e à gruta de La Sainte Baume. Todavia, a pesquisa, especialmente por parte de Mons. Duchesne, demonstra, cada vez mais claramente, que nem as relíquias nem a história da viagem dos amigos de Nosso Senhor até Marselha podem ser consideradas autênticas. Apesar da defesa que fazem os que estão piedosamente interessados em favor da crença local, não se pode pôr em duvida que toda a história não passa de pura ficção.
Entre os outros contos curiosos e sem fundamento sobre a santa, existentes na Idade Média, está aquele que afirma que ela era noiva de S. João Evangelista, quando Cristo o chamou para ser seu discípulo. “Com isso, ela ficou indignada por ver seu noivo arrebatado dela e partiu entregando-se a toda sorte de deleites. Mas, porque não convinha que o chamamento de S. João servisse de ocasião para a sua condenação, Nosso Senhor, em misericórdia, a converteu à penitência, e, por tê-la privado do supremo deleite da carne, recompensou-a com o supremo deleite espiritual, acima de todos os demais, isto é, o amor a Deus (Legenda Áurea)”.
2.2. Tradição gnóstica
Em PR tem sido publicadas algumas explanações do que é o gnosticismo. É um sistema dualista não cristão, pois repudia a matéria, que, segundo o Cristianismo, foi criada por Deus. Propagava suas idéias por meio de escritos semelhantes aos livros da Bíblia, de modo que são chamados escritos apócrifos gnósticos.
Dentre esses escritos destaca-se, no nosso caso, a Pistis Sophia (Fé Sabedoria), obra na qual Madalena desempenha papel importante. Com efeito, de 46 questões 39 dão o predomínio às perguntas e aos dizeres de Madalena. É a interlocutora privilegiada do Senhor, dita “bem-aventurada, herdeira da luz, Maria pura e cheia do Espírito…”. Interroga Jesus com firmeza e segurança, levando Jesus a responder-lhe com grande alegria. Prostra-se aos pés de Jesus, que ela adora e oscula. Jesus proclama: “Maria Madalena e João o Virgem serão superiores a todos os discípulos”.
O filósofo Celso (século II) fala dos “discípulos de Mariamme”, tal é a importância que a ela cabe.
No Evangelho segundo Filipe (séc. III/IV “Madalena é a mais importante das três mulheres” que caminhavam sempre com Ele: Maria, a mãe de Jesus, outra Maria, irmã de Maria Ssma., e Madalena, pois esta é, para Jesus, irmã, mãe e companheira).
Existe o Evangelho de Maria (Madalena) datado provavelmente do século II. Aí Madalena incentiva os Apóstolos a pôr em prática as palavras do Senhor e lembra-lhes a assistência permanente que Ele lhes prometeu, Pedro pede-lhe que dê a conhecer aos Apóstolos as palavras de Cristo. Então relata ela uma longa visão de Jesus, que lhe disse: “Bendita és tu, porque não hesitaste quando me viste”. Perante André e Pedro, pouco dispostos a crer, Levi toma a defesa de Madalena: “Se o Senhor a julgou digna, quem somos nós para rejeitar? O Salvador, sem dúvida, a conheceu muito bem. Eis por que Ele amou a ela mais do que a nós”. Maria Madalena aparece assim como a mediadora e mensageira da doutrina gnóstica: ela é colocada acima dos Apóstolos.
Como se vê, o ponto de vista é totalmente diverso do da literatura apócrifa cristã, que conserva a hierarquia “Jesus – Apóstolos”, como também difere das estórias que se contavam sobre Madalena após a ressurreição de Jesus.
2.3. Tradição maniqueia
O maniqueísmo é outro sistema dualista, que os cristãos tiveram de enfrentar nos seus primeiros séculos.
Apresenta o Salmo de Heráclito, comentário poético de Jo 20, 17:
“Maria, Maria, reconhece-me e não me detenhas. Prende as lágrimas dos teus olhos e reconhece que eu sou o teu Mestre. Só te peço que não me detenhas, pois ainda não vi a face do meu Pai”. Jesus confia-lhe a missão de reunir seus Apóstolos, “órfãos errantes”. Ao que Maria respondeu: “Rabi, meu Mestre, cumprirei tuas ordens com alegria e de todo o meu coração”. Glória e vitória à alma da bem-aventurada Maria. “O espírito da Sabedoria escolheu Maria”.
Numerosos outros salmos maniqueus aparecem dedicados a Madalena.
Resta investigar as razões pelas quais Maria Madalena desempenhou papel tão saliente nesses ambientes gnósticos e maniqueus. Será tarefa árdua, pois não há muitos pontos de referência para o pesquisador nesse campo de trabalho.
2.4. Outras lendas
Existem outras lendas que desenvolveram o pensamento gnóstico a respeito de Jesus e Maria Madalena.
Com efeito, uma dessas lendas afirma que Jesus se casou com Madalena por ocasião das bodas de Cana (cf. Jo 2, 1-12), quando Jesus transformou a água em vinho – o que é inaceitável, visto que Jesus e o noivo se distinguem claramente um do outro nesse episódio.
A insistência dessa corrente inspirada pelo gnosticismo na tese de que Jesus era casado, se explica, segundo autores modernos, pelo fato de que os judeus não podiam conceber que um homem sadio e normal não se casasse; por conseguinte terão feito de Jesus o esposo de Madalena aos trinta anos ou no começo de sua vida pública. Não é necessário demonstrar longamente quão inconsistentes são tais proposições.
Mais ainda: a lenda diz que Madalena se retirou para o Sul da França levando consigo dois preciosos valores:
– o Santo Graal ou o cálice que Jesus terá usado na última ceia ou, segundo outra versão, o cálice que recolheu as gotas de sangue de Jesus pendente da Cruz. As divergências dessas estórias já contribuem para insinuar o seu caráter lendário;
– o filho que Madalena terá tido com Jesus e que se terá tornado o fundador de uma dinastia de reis da França. – Vale aqui mais uma vez registrar o caráter fantasioso e irreal dessa narrativa.
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
Nº 530 – Ano 2006 – p. 341
FELIPE AQUINO - é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter:
E depois de dois anos, lá fui eu, pela primeira vez desde então, usar o metrô como meio de transporte. Como minha vida mudou de rumo um pouco antes da pandemia, eu já vinha diminuindo bastante minha frequência como forma de me locomover. Depois do coronavírus então, aí sim que, trabalhando quase cem por cento em home office, evitei o quanto pude, mas apenas por conta de receio de contágio.
Agora, passado o pior e a vida, de um jeito ou de outro, retomando seu curso, precisei ir até o centro de São Paulo e decidi que o metrô seria o jeito mais rápido. Em verdade sempre gostei. Posso ir de um lado a outro sem enfrentar trânsito, lendo ou escutando algo que me interesse, como relativa segurança. Mas a grande verdade é que gosto de observar as pessoas. Todo cronista é um curioso contumaz, aliás.
Meu percurso seria curto, apenas seis estações de distância e o horário não era de pico. Chegando na estação, eu, que sou uma pessoa naturalmente confusa em termos de direção, levei alguns minutos para relembrar qual a linha que eu deveria seguir, se era direto ou se seria necessária alguma baldeação. Definida a rota, obviamente que eu não tinha mais nenhum bilhete e, assim, fui até a bilheteria.
Tomei um susto com o valor, mas como tudo aumentou de preço, era pegar ou largar. Pedi logo dez, porque não gosto de ficar em filas. O atendente me olhou e perguntou se eu iria usar tudo nos próximos três dias. Quase disse que não era da conta dele, mas educadamente perguntei o motivo do questionamento. Fui esclarecida de que o novo bilhete, que sei lá quando mudou, agora é impresso em papel térmico, igual àquele de extrato bancário, que apaga com o tempo. Comprei só dois, lamentando a escolha do material.
Enquanto eu comprava, havia um homem ao meu lado que de início julguei ser um pedinte. Depois me penitenciei por tê-lo julgado mal, eis que estava aparentemente esperando troco do caixa. Conversou comigo um pouco, vendo minha indignação. Assim que eu mesma recebi o troco, ele me olhou com uma cara triste e me pediu as moedas. Até aí, à exceção dos bilhetes com QR Code que se desintegram, tudo igual ao de sempre.
Desci até a plataforma de embarque e logo que as portas se abriram foi aquele desespero do povo para achar um lugar para se sentar, muito embora o vagão estivesse razoavelmente vazio até aquele momento. Duas estações depois e muitos idosos apareceram do nada, como se estivessem em uma convenção. Nessa hora, tem o pessoal que gentilmente cede o lugar e o que finge estar dormindo ou em outro planeta. A pandemia, novamente constato, não mudou em nada a humanidade, a despeito de qualquer manifestação midiática, poética ou política anterior.
Pouco depois, já no meu destino, desci na Praça da Sé, conhecido endereço da capital paulista. O cenário é desolador. Sujeira, miséria, abandono. Lotado de moradores de rua, fedendo urina, o centro da cidade é o retrato do descaso. Usuários de drogas cambaleando como mortos vivos, tudo isso misturado à voz dos pregadores que anunciam, aos gritos, a vinda do Salvador. Entre o vai e vem das pessoas que trabalham por ali, é impossível ficar alheia à situação.
Na volta, apressada para evitar o início da noite, usando meu superdelicado bilhete, já dento do metrô, devidamente sentada, entregaram-me bilhetes pedindo ajuda para comprar leite para os filhos e tentaram me vender quatro barras de chocolate a dez reais, promoção relâmpago antes que o fiscal aparecesse.
Nessa minha viagem de retorno, senti que na realidade, nunca fomos a lugar nenhum, até porque o fiscal, seja ele quem for, já tirou o time de campo.
CINTHY NUNES é jornalista, advogada, professora universitária e, nas entrelinhas do metrô, escreve crônicas para quem quiser ler – cinthyanvs@gmail.com/ www.escriturices.com.br
A palavra”faustoso” é composta do substantivo “fausto” com o sufixo “oso”, formando o adjectivo “faustoso”.Tem como sinónimos:magnificência, luxento, ostentoso,luxuoso,
aparatoso. Pomposo. Exemplos:
- “Aquele governador perdulário, faustoso, conspíquo tem um candidadto modesto e humilde”.
-“Mas com 18 mil jornalistas em Londres, registrando o “faustoso” acontecimento, acho difícil.-
-“No fim, custou o dobro do que consideravam faustoso”
-“ Num baile faustoso se sela a a aliança entre os descapitalizados e os captalistas,
-“Paralelos com a tapioca do ministro Orlando Silva e o faustoso apartamento do ex.
Reitor”. Da UnB multolland se imóem automaticanente”,
-“Estamos, afinal, a falar de um representante da Igreja que preferiu viver num modesto apartamento em vez de um faustoso palacete inerente `*a função de arcebispo, de alguém que tem fama de cozinhar as suas próprias refeições e de preferir os autocarros públicos ao privilégio de ser conduzido por um motorista”.
O faustoso refúgio dos irmãos Ananiev no Algarve.
Dois russos multimilionários, os irmãos Ananiev, fundadores do Promsvyazbank, um dos bancos sancionados pela UE devido à guerra na Ucrânia, adquiriram várias propriedades no Algarve nos últimos 15 anos. De acordo com uma investigação do Expresso, uma sequência de operações de compra e venda desses imóveis, em 2029 e 2021, apresenta contornos suspeitos. Apesar de terem deixado de ser formalmente os donos das propriedades, o modo como essas transacções aconteceram parece indicar que um dos irmãos, Alexei Ananiev, poderá ter usado testas de ferro para esconder património em Portugal. Dmitry e Alexei Ananiev começaram a sua fortuna a importar computadores na Rússia e fundaram o Promsvyazbank em 1995. Dnitry foi senador na Câmara Alta do Parlamento russo entre 2006 e 2013. Em 2017, segundo a revista “Forbes”, cada um dos irmãos tinha uma fortuna avaliada em 1,4 milhões de dólares.Mas em 2018 foram incluídos entre os 96 oligarcas da “lista Putin” que o Departamento do Tesouro dos EUA divulgou depois da intrferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016. E, pelo meio, em Dezembro de 2017, o banco central russo acusiu os irmãos de ocukltarem de forma fraudulenta um enorme buraco financeiro. Os Ananievs foram indiciados por fraude e abandonaram a Rússia.Alexei foi para Reino Unido e Dmitry para o Chipre.
Frases que incluem a palavra” faustoso: -“No Carnaval de agora, com escolas de samba faustosas , tudo é diferente.”.
-“Muitos soberbos que aqui, sobre a face da Terra, brilhavam solenes nos ricos palácios e nas faustosas mansões.”
-“ A China nos dias de hoje confrontar-lhe-á com uma espectacular arquitectura e altíssimos arranha céus, faustosos alojamentos de luxo e uma requintada cozinha”.
-“Destruíam tudo, semeando tristeza e desalento na outrora faustosa quinta onde só restam, em estado de ruínas, uma casa e uma adega”.
-“É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas”.
-“As suas faustosas imagens dão início a uma das mais preciosas tradições corográficas de toda a história”
-“As suas faustosas imagens dão início a uma das mais prodigiosas tradições iconográficas de toda a história da arte ocidental”.
- “Através de peças de teatro inovativas, de estreias de cinema faustosas, de inúmeros teatros de variedades e da inesquecível vida”.
-“Imóveis a baixos preços e aluguéis baratos, faustosas casas devolutas, em estado de degradação à espera de novos inquilinos e uma comunidade activa e com muitas ideias originais”.
-“As ruas e as casas com os seus pátios perfumados e frescos, o chão pavimentado de mosaicos policromados e o odor que chegara dos banhos, fazem-nos imaginar uma Conímbriga com muitos fastos”.
O termo”faustoso” na Bíblia” Depois de tudo isto vi um outro anjo descer do céu, e tinha uma grande autoridade, de tal maneira que toda a Terra ficou iluminada com o seu esplendor… E gritou com uma voz muito forte: Caiu a grande Babilónia! Ela tornou-se num refúgio de demónios e espíritos maus, um ninho de toda a ave imunda e repugnante. Porque todas as nações beberam o vinho mortal das suas tremendas imoralidades. Os governantes da Terra tiveram com ela relações ilícitas; o comércio de todo o mundo tornou-se florescente só à custa do luxo faustoso que nela havia. Então i outra voz do céu que dizia Sai dela, meu povo, para não tomares parte nos seus pecados e para não vires ser castigado juntamente com ela com as mesmas pragas. Porque os seus pecados se têm acumulado até ao céu. Deus está pronto a julgá-la pelos seus crimes. Tratem-na como ela vos tratou, e que o seu castigo seja duplicado em relação àquilo que merecem os seus pecados. Na taça em que vos fez beber maldade e desgraça, que ela seja obrigada a beber do mesmo duas vezes mais. Viveu no luxo e no prazer, que agora saiba, na mesma medida, o que é o sofrimento e a tristeza. Gaba-se dizendo ou rainha no meu trono. Não sou qualquer viúva desamparada, e nem sequer saberei o que luto. Pois, por isso mesmo é que num só dia lhe cairá m cima tristeza da morte, o choro, a fome¸ e reduzida a cinzas. Porque é poderoso o Senhor Deu que a julga. E os governantes deste mundo que se juntaram a ela nas suas libertinagens hão-de lamentá-la quando virem que dela só fica o fumo que sobe das sua cinzas. Hão-de pôr-se de longe, com medo daquele lamento, e lamentar-se-ão: Ai de Babilónia, aquela poderosa cidade. Um instante bastou para que fosse executada a sua condenação.
Os comerciantes da Terra chorarão lamentar-se-ão por causa dela, pois que desapareceu aquele grande mercado, Ela lhes comprava grandes quantidades de ouro, prata, jóias com pedras preciosas e pérolas, rico vestuário de linho vestuário de linho fino e sedas de púrpura e escarlate; belas peças de imensas variedades de maneira perfumada e marfim, e tudo o que poderia fabricar-se, como utensílios ou objectos de ornamentação.
Nas madeiras mais preciosas e em bronze, ferro e mármore. E ainda requintadas especiarias e temperos, produtos de beleza, perfumes, óleos e cremes; assim como vinhos, azeite, finas farinhas e também gado variado, ovelhas e cavalos em abundância: e carruagens, escravos - e até almas de homens. Todas as coisas finas e extravagantes de que tanto gostavas desapareceram, choravam eles.
O luxo e a vida faustosa nunca mais serão teus. Foram-se para sempre. Os comerciantes que se tinham enriquecido com a venda de tudo aquilo ficarão à distância com medo daquele grande tormento, e chorando lamentar-se-ão.
ANTÓNIO FRANCISCO GONÇALVES SIMÕES - Sacerdote Católico. Coronel Capelão das Frorças Armadas Portuguesas. Funchal, Madeira. - Email goncalves.simoes@sapo.pt
ALEXANDRE ZABOT - Fisico. Doutorado em Astrofisica. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. www.alexandrezabot.blogspot.com.br
Raposo, do nosso Eça, bacharel em Direito, sobrinho de D. Patrocínio, ao chegar ao Egipto, exclamou perante o companheiro, que com ele viajava:
- " Egipto! Egipto! Eu te saúde, negro Egipto! E que me seja propícia..."
Mas Topsius, conhecedor que Raposo tinha tanto de Dom João, como ele de historiador, voltou-se para o companheiro, e retorquiu: " Não! que vos seja propicia D. Raposo Ísis, a vaca amorosa!"
Raposo não compreendeu, mas venerou!
Como Raposo, quantos de nós, para não parecermos ignorantes, em determinado tema, não dizemos, também: venerei!...
Perante Arte Abstrata, diante de cada borrão ou rabisco, que qualquer criança de tenra idade, executava, não dizemos:
- "Que maravilha! Que obra de arte! Que pintor genial !"...
O mesmo sucede quando topamos mamarrachos, na praça pública, assinados por artistas de gabarito, que qualquer garoto talentoso, faria melhor, não exclamamos doutoralmente: " Que imaginação!..." É que ninguém gosta de passar por ignorante, parecer néscio, perante os outros...
Se os críticos entendidos, os que conseguem, com palavras difíceis, explicar o que ninguém entende, nós, simples mortais, homem comum, para não parecermos estúpidos, tomamos expressões intelectuais, e dizemos enfaticamente: "formidável !".
Se dissermos que é uma " borracheira", palavra com que obteve muita antipatia o Mestre Soares dos Reis, quando sinceramente apreciava obra que não gostava, os nossos amigos, logo dizem ou pensam. " E eu que o julgava inteligente!..."
O que digo de artistas plásticos, poderia dizer de certos escritores e poetas, premiados e ventilados na mass-media.
A velha e relha história do: Rei Vai Nu, está sempre atual.
Conheci amigo brincalhão, que se gabava de ser muito letrado.
Certa ocasião, deixou velho abade, atónito, ao discutir, com ele, teologia.
Decorara meia dúzia de nomes sonantes, e quando pretendia embasbacar o velho sacerdote – pouco versado ou já esquecido, – dizia-lhe: que o filósofo cristão ou teólogo tal, disseram, o que eram apenas palavras suas...
O velho abade, não queria parecer ignorante, e " engolia", como verdadeiras, as palavras falsas.
Pobre abade!... O que se passa para não se passar por pascácio!...
HUMBERTO PINHO DA SILVA
O que eu passei, passando no passado,
por esta rua acima, em passo lento!...
Ai, quanto passa a gente, à chuva, ao vento,
p'ra que não passe mal e amargurado!
E tanto passo dei!...
Que triste fado
me seguiu, passo a passo, tão cruento?!...
Quanto passo, perdido num momento!...
Quanto passo perdido, no passado!...
Hoje, aqui já não posso; o que passei,
no passado pertence - está passado!
- Passado e repassado, todo o passo
que, por aqui acima, eu caminhei;
mas... ficou-me, de tanto passo dado,
a saudade de um passo, que repasso!
Conta-se que um jovem rico se acidentou de carro longe de casa. Um fazendeiro ouviu os gritos do moço e foi socorrê-lo, mas, espantou-se ao vê-lo no alto do penhasco, olhando para baixo e gritando:
– Minha BMW! Perdi minha BMW!
Percebendo que a mão esquerda do rapaz estava dilacerada, o fazendeiro alertou:
– Cara, você está tão desolado pela perda do carro que nem reparou no ferimento da sua mão! Olha o estrago que o acidente lhe causou!
Ao ver a mão ensanguentada, o jovem novamente pôs-se a gritar:
– Meu Rolex! Perdi meu relógio Rolex!
Isto pode parecer piada, mas coisas assim acontecem todos os dias. O ser humano é capaz de se preocupar mais com os bens materiais do que com a própria alma. Quanta gente pensa que tendo saúde e dinheiro não lhe falta nada! São pobres de espírito, muito diferentes dos pobres em espírito que Jesus valorizou.
Amar como Cristo amou parece utopia no mundo atual, onde não existem ‘santos’ como antigamente. E uma vida sem traços de santidade pode significar a exclusão do Reino do Céu, porque um pouco de humildade no coração e caridade nas ações são fundamentais no julgamento final.
Mesmo com defeitos e pecados, devemos servir a Deus com humildade e responsabilidade. No meu caso, as recompensas veem na medida certa: paz, saúde e fé, além de relativo conforto e boas amizades. Porém, não posso descuidar da alma; se não estiver bem alimentada com oração, as diferentes tentações do mundo começam a me assombrar. Tudo fica mais fácil com a recitação do terço, a reflexão da Palavra, a participação nos Sacramentos e a adoração ao Santíssimo. Quem não cuida da alma, padece nas provações.
E na sobrevivência do corpo, enquanto uns se apegam ao ouro, outros correm atrás do lixo – já virou emprego catar resíduos sólidos para viver! Peço a Deus que esta passagem bíblica toque em muitos corações dourados, insensíveis às aflições de seus vizinhos do lixo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos. Tomai sobre sós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).
Mas também há muita gente boa no mundo. Eis o artigo de um juiz, livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo, que causou emoção nas pessoas:
“Indaga-me se as sentenças podem ter alma e paixão. Como devolver, por exemplo, a liberdade a uma mulher grávida, presa porque trazia consigo algumas gramas de maconha, sem penetrar na sua sensibilidade, na sua condição de pessoa humana? Foi o que tentei fazer ao libertar Edna, uma pobre mulher que estava presa há oito meses, prestes a dar à luz, com o despacho que a seguir transcrevo:
A acusada é multiplicadamente marginalizada: por ser mulher, numa sociedade machista; por ser pobre, cujo latifúndio são os sete palmos de terra dos versos imortais do poeta; por ser prostituta, desconsiderada pelos homens, mas amada por um Nazareno que certa vez passou por este mundo; por não ter saúde; por estar grávida, santificada pelo feto que tem dentro de si.
Mulher diante da qual este juiz deveria se ajoelhar numa homenagem à maternidade, porém, que na nossa estrutura social, em vez de estar recebendo cuidados pré-natais, espera pelo filho na cadeia. É uma dupla liberdade a que concedo neste despacho:
Liberdade para Edna e liberdade para o filho que, se do ventre da mãe puder ouvir o som da palavra humana, sinta o calor e o amor da palavra que lhe dirijo, para que venha a este mundo com forças para lutar, sofrer e sobreviver.
Quando tanta gente foge da maternidade, quando pílulas anticoncepcionais pagas por instituições estrangeiras são distribuídas de graça e sem qualquer critério ao povo brasileiro, quando milhares de brasileiras, mesmo jovens e sem discernimento são esterilizadas, quando se deve afirmar ao mundo que os seres têm direito à vida, que é preciso distribuir melhor os bens da terra e não reduzir os comensais, quando por motivo de conforto ou até mesmo por motivos fúteis mulheres se privam de gerar, Edna engrandece hoje este Fórum com o feto que traz dentro de si.
Este juiz renegaria todo o seu credo, rasgaria todos os seus princípios, trairia a memória de sua mãe se permitisse sair Edna deste Fórum sob prisão. Saia livre, saia abençoada por Deus. Saia com seu filho, traga seu filho à luz, porque cada choro de uma criança que nasce é a esperança de um mundo novo, mais fraterno, mais puro e algum dia cristão. Expeça-se incontinenti o Alvará de Soltura.”
PAULO R. LABEGALINI - Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre - MG)
EUCLIDES CAVACO - Director da Rádio Voz da Amizade , Canadá.
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NOTICIAS DA DIOCESE DO PORTO
NOTICIAS DA DIOCESE DE JUNDIAÍ - SP
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Leitura Recomendada:
Jornal católico da cidade do Porto - Portugal
Opinião - Religião - Estrangeiro - Liturgia - Area Metropolitana - Igreja em Noticias - Nacional
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HORÁRIOS DAS MISSAS NO BRASIL
https://www.horariodemissa.com.br/#cidade_opcoes
Site com horários de Missa, confissões, telefones e informações de Igrejas Católicas em todo o Brasil. O Portal Horário de Missas é um trabalho colaborativo onde você pode informar dados de sua paróquia, completar informações sobre Igrejas, corrigir horários de Missas e confissões.
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O principal meio de reversão à situação social brasileira passa por investimentos na educação, pois se constitui na ferramenta de capacitação, de inclusão, de formação profissional e de instrumento de desenvolvimento do espírito crítico, gerando qualidade de vida.
Sem dúvida, é a base para o desenvolvimento de qualquer nação e nessa trilha, o professor se torna peça chave na formação do ser social, pois é ele quem vai guiar a produção do conhecimento e o futuro profissional e acadêmico de cada criatura. E apesar do acesso ao sistema educacional ser um direito inalienável do indivíduo, desde a infância, no Brasil o Estado não cumpre essa sua precípua função, a começar pelo descaso com a situação de nossos educadores.
Quinze de outubro foi escolhido para celebrar o Dia do Professor no Brasil, pois foi nessa data, no ano de 1827, que o imperador D. Pedro I assinou a Lei Nacional, aprovada pelo Legislativo, que instituiu no Brasil a instrução primária (ou das primeiras letras, como então se denominava), pública e gratuita, em todas as províncias do Império.
Assim, prestaremos nesse sábado sinceras homenagens ao compromisso ocupacional dos professores que, apesar das condições muitas vezes precárias, dos recursos limitados e da remuneração inadequada, ajudam o mundo a ir em frente. Efetivamente, se desejarmos indivíduos qualificados e bem formados para os desafios da modernidade, precisamos de mestres devidamente preparados e com condições satisfatórias – salário compatível, segurança, respeito público - para executarem decentemente o nobre ofício de ensinar.
Nessa trilha, invocamos o saudoso prof. Dalmo de Abreu Dallari, que destaca os objetivos do docente: “A educação, o sistema educacional, contribui para a realização do grau de personalidade humana. É este um dos papéis do educador: ajudar no desenvolvimento da personalidade dos seres humanos, fazer com que cada um se realize como pessoa. Ao mesmo tempo a educação é também a preparação para a vida social. Exatamente a partir da ideia de que aquele indivíduo, aquele ser humano – cuja personalidade eu quero que se realize – não vive sozinho, vive com outros indivíduos, que também devem ter o mesmo direito, a mesma oportunidade. Por isso educar é também basicamente preparar para a vida social”.
Constituem-se os professores em pontos de referência entre as modificações que se operam e experiência de vida, pois, por não perderem de vista que a ciência deve conduzir a uma postura ética de vida e mostrarem que o saber é meio e não fim, acabam alcançando a finalidade maior do trabalho que desenvolvem, ou seja, a valorização da dignidade humana e a construção da pessoa em dimensão integral. Por essas razões devemos realmente reverencia-los pelo desprendimento, dedicação e paixão no exercício da carreira, esperando que recebam, tanto da Administração Pública quanto da sociedade em geral, o reconhecimento que merecem, apesar dos inúmeros percalços que muitas vezes enfrentam.
REGISTRO
Dentre as inúmeras atividades que exerço, sem dúvida alguma a do magistério é a que me dá mais orgulho. E há trinta e cinco anos me sinto honrado em ser professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí, importante instituição de ensino que hoje se destaca como uma das mais importantes do país.
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DIA DA ALIMENTAÇÃO
A FAO, órgão da ONU para a alimentação e a agricultura, escolheu o dia 16 de outubro, domingo, aniversário de sua criação ocorrida em 1945, como o DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO, visando destacar a importância dos gêneros alimentícios à qualidade de vida das pessoas em todo o planeta. Mesmo assim, o número de indivíduos com fome no mundo sobe anual e assustadoramente, aspecto que se revela num agravo à consciência ética da humanidade.
DIA DO MÉDICO
Na sua essência, o exercício da medicina é poético e enleva. Por ocasião do Dia do Médico, 18 de outubro, homenageamos àqueles que, apesar das adversidades, honram sua missão e seu juramento hipocrático, lutando para reduzir o sofrimento dos enfermos, propiciando-lhes respeito e dignidade.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros (martinelliadv@hotmail.com)
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