A boa línguagem lusitana,
não se aprende em gramáticas nenhumas:
- as formas, e palavras, são, algumas,
da fala popular quotidiana;
o resto, a minha língua vai, ufana,
buscá-lo a Fernão Lopes ( não a Dumas!!!)
e Frei Luis de Sousa.Nem presumas
que seja dum Balzac que ela mana!
Deixa, pois "enveloppes", " abat-jours"
"robes", "chances", "questões": os galicismos
usados pelo "bem falante";
nós, nascemos no Porto, não em Tours,
que é razão para usar " portuguesismos"
em lugar do francês, a cada instante.
Acabe-se com ódios, com disputas,
com tudo que separe, e não irmane!
Que o amor entre os homens não se fane
e, jamais, entre si provoquem lutas!
Que eles deixem de ser feras hirsutas,
portadoras de morte e raiva insane;
que nunca mais um homem outro dane;
que nunca mais as gentes sejam brutas!...
Que se acabem as guerras e os crimes,
e fiquem sentimentos sublimes
orientando a nossa vida inteira!...
Adoptemos o Amor, mais o Sorriso,
que a Terra pode ser um Paraíso
se o quizermos de forma verdadeira!
Quando chegava seis de janeiro, eram colocados os Reis Magos bem próximos do Menino Jesus nos presépios. Era motivo de muita tristeza para mim, que como todo garoto adorava o belo período, pois eles prenunciavam o seu fim. É que no dia seguinte as árvores seriam desarmadas; guardar-se-iam as guirlandas, os festões prateados e as imagens do nascimento de Cristo. Parecia que a magia se encerraria, arquivando-se os encantos e os sonhos típicos até o próximo ano.
No entanto, depois de algum tempo entendi a grande importância dessa tradição em suas várias concepções. Do ponto de vista religioso, conforme relata o Evangelho de Mateus, eles chegaram a Jerusalém e ali indagaram o lugar em estava o rei dos judeus que acabara de nascer e cuja estrela, chegaram a vê-la do Oriente, de onde chegavam para adorá-Lo.
Embora sempre apareçam como persas em representações artísticas, seriam reis de reinos não especificados, e no sentido bíblico, representavam as nações que reconheceram no menino o monarca prometido. Seus nomes eram Melquior, Gaspar e Baltazar e os presentes que ofertaram significavam divindade, transcendência e eternidade.
Para muitos, foram os precursores da globalização, pois ao cruzarem inúmeros obstáculos e percorreram diversos caminhos aproximaram povos e culturas diferentes através de um objetivo comum, o de reverenciar o filho de Deus que se fez homem.
Sob o prisma da tradição, a celebração festiva dos Reis Magos carrega consigo uma rica simbologia que felizmente resiste ao tempo e às indiferenças de milhares de pessoas, ultrapassando fronteiras geográficas e culturais. Tanto que em muitas cidades do Interior, mesmo de São Paulo, grupos folclóricos apresentam a denominada “Folia de Reis”. Trata-se de um folguedo popular, cujo termo na cultura, quer dizer representação teatral, cênica; ou seja, é um teatro do povo. A comemoração conta história da viagem e assim como eles, a folia vai, de casa em casa, adorar o Menino Deus no presépio ou lapinha. À frente do grupo vai bandeira, que para os foliões significa o sagrado.
Durante muitos anos em Portugal e na Espanha (e aqui no Brasil e em países de idioma castelhano da América), era no dia seis de janeiro que se fazia a entrega dos presentes às crianças, lembrando as oferendas (ouro, incenso e mirra) que levaram ao Menino Jesus.
Iniciaram um processo de internacionalização enfocado em ideais de justiça, de afeto, de amizade, de tolerância e principalmente do respeito indistinto a todos. Apesar de encerrar o ciclo natalino, a festa dos Reis Magos reafirma as mensagens de solidariedade e fraternidade do Natal, induzindo-nos a vivenciá-las durante todo o ano.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É ex- presidentes da Academias Jundiaienses de Letras e Letras Jurídicas. Autor de vários livros. (martinelliadv@hotmail.com)
Vimos no artigo anterior o perfil de Príncipe cristão devotado ao bem comum de seu povo idealizado pelos Espelhos medievais. Ainda em princípios do século XV, um príncipe português, o Infante D. Pedro (1392-1449), escreveu uma obra intitulada Da Virtuosa Benfeitoria, oferecida por ele a seu irmão mais velho, o rei D. Duarte (1391-1438), a qual correspondia perfeitamente ao ideal de governante traçado nos Espelhos medievais.
A esse modelo sucederia, no século seguinte, o modelo do Príncipe de Maquiavel, cuja meta não mais era assegurar o bem comum da sociedade, mas garantir sua permanência no poder de qualquer modo, não mais sujeito a uma ordenação moral, mas emancipado dessa obrigação e tendo em vista única e exclusivamente seu próprio bem individual.
Foi em 1532 que Nicolau Maquiavel publicou seu livro O Príncipe, no qual se afastou decididamente do ensinamento tomista de que o governante deve ser bom e virtuoso e governar não visando seu próprio bem, mas o bem comum do seu povo, e apresentou um modelo muito diferente de príncipe. O governante formado na escola de São Tomás devia visar, antes de tudo, a ser abnegado e sacrificado, para o serviço de Deus e o bem de seu povo. Porque serve a Deus, observa seus mandamentos, tem senso moral, senso de justiça, e é capaz de sacrificar seus interesses pessoais sempre que a justiça, ou a caridade lhe pedem. Em oposição a esse perfil moral, Maquiavel propôs o perfil do príncipe renascentista, utilitário, interesseiro, egoísta e inescrupuloso, para o qual os fins justificam os meios. Na verdade, Maquiavel não foi propriamente um inovador ao emancipar os governantes da tutela da Moral, mas apenas reapresentou, com roupagens novas, o modelo de governantes da Antiguidade pagã, que não se sentiam obrigados a obedecer a nenhuma lei moral e governavam apenas pela lei do mais forte.
Nada melhor, para avaliarmos bem o profundo contraste entre a mentalidade do governante ideal do Medievo e o do Renascimento, do que irmos às fontes primárias, vendo documentos de época. Teremos, assim, noção muito viva dos dois modelos de Príncipe, o medieval e o renascentista.
Vejamos, inicialmente, os conselhos que o rei São Luís IX, que governou a França de 1226 a 1270, deixou para seu filho e sucessor Filipe III:
“A primeira coisa que te recomendo é que apliques teu coração no amor de Deus; pois sem isso nada se pode salvar. Guarda-te de fazeres qualquer coisa que desagrade a Deus, ou seja, o pecado mortal; muito pelo contrário, deverias sofrer toda espécie de humilhações e tormentos antes que cometer um único pecado mortal. (...) Ajuda com coração bondoso e compassivo aos pobres, aos infelizes e aos aflitos, conforta-os e auxilia-os em toda a medida que possas. Mantém os bons e abate os maus costumes de teu reino. Não cobices o que é de teu povo e não carregues tua consciência com impostos e tributos. (...) Para ministrar a justiça e garantir o direito de teus súditos, sê leal e inflexível, sem vergar para um lado nem para o outro; mas sustenta no seu direito e apoia na sua demanda o pobre, até que a verdade esteja clara. E se alguém mover uma ação contra ti, não prejulgues nada até que tenhas sabido a verdade; pois então teus magistrados julgarão com mais destemor e com justiça, ou a teu favor ou contra ti. Se algo tiveres que pertence a outro, quer seja obtido por ti quer tenha vindo a ti por teus antepassados, devolve-o sem tardança, e se a questão for duvidosa, faz com que seja examinada, logo e diligentemente, por pessoas sábias. Atenta para que teus povos vivam sob ti em boa paz e na lealdade. Sobretudo, conserva as cidades boas e os costumes do teu reino no estado e na franquia com que teus maiores os conservaram; e se há algo a melhorar, melhora e corrige, e conserva-os em favor e com amor: pois devido à força e à riqueza das grandes cidades, teus súditos e os estrangeiros temerão fazer qualquer coisa contra ti, e especialmente teus pares e teus barões. (...) Evita de empreender, sem grande deliberação, guerra contra um príncipe cristão; e se te for preciso fazê-la, poupa então a santa Igreja e as pessoas que nenhum mal te fizeram. Se guerras e litígios se elevarem entre teus súditos, apazigua-as logo que possas. Cuida de ter bons oficiais e magistrados, e inquire com frequência acerca deles e das pessoas da tua casa: como se mantêm eles, e se neles não há algum vício de grande cobiça, falsidade ou dolo. (...) Cuida para que as despesas de tua casa sejam razoáveis. E por fim, filho caríssimo, manda cantar Missas por minha alma e dizer orações em todo o teu reino, e outorga-me uma parte especial e inteira em todo o bem que fizeres. Dou-te, caríssimo filho, todas as bênçãos que um bom pai pode dar a um filho. Que a bendita Trindade e todos os Santos te guardem e preservem de todos os males; e que Deus te conceda a graça de fazer sempre sua vontade, de sorte que Ele seja honrado por ti e que tu e eu possamos, após esta vida mortal, estar juntos com Ele e louvá-Lo para sempre. Amém.”
Até aqui, o texto do Rei São Luís, ditado pelo monarca pouco antes de morrer, nas costas africanas, durante a 8ª. Cruzada. Comparemos agora com a seguinte passagem de Maquiavel, que discorre sobre como o príncipe que governa não deve ter escrúpulos ou preocupações de ordem moral, mas deve estar disposto a fazer tudo o que for preciso para se manter no poder:
“Resta examinar agora como deve um príncipe comportar-se com os seus súditos e seus amigos. (...) Como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e principados que nunca se viram nem jamais foram reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que se faz, aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar, e um homem que quiser fazer profissão de bondade, é natural que se arruíne entre tantos que são maus. Assim, é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso, segundo a necessidade.” (O Príncipe. Rio de Janeiro: Ediouro, 1980, p. 90)
Em outras palavras, para Maquiavel os fins justificam os meios.
ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS - é licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.
Virou o ano: balanços, perspectivas, sonhos, simpatias, cor de roupa...
Virou o ano, mas a história pessoal não vira. Aquilo que temos impregnados em nós permanece, seja como saudade, lágrimas, sorrisos, alicerce... Alguns fatos podem e devem ser superados, contudo isso não significa que, mesmo com menor intensidade, deixem de seguir conosco.
Nesses primeiros dias do ano, lembrava-me do tempo de criança, quando íamos para Poços de Caldas (onde chegamos a residir) ou Casa Branca (terra de nossa avó paterna). Na entrada das fazendas, havia latões de leite. Meu irmão e eu competíamos sobre quem avistava primeiro e contávamos para anunciar o vencedor. Um jogo de viagem que nos entusiasmava.
Tenho inúmeras recordações de pequeninos acontecimentos como visitar, aos domingos à tarde, o Frango Assado para folguedos nas proximidades do lago. Pequenos passeios, em lugares próximos, na perua Skoda que nosso pai possuía comprada em 1952. Se fosse o dia inteiro de lazer, por certo teria cuscuz de sardinha feito pela mamãe e Ki-Suco de uva. Nossos pais eram de grande alegria por diminutos episódios. Juntos, não ultrapassamos os limites da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar, no entanto, pelo coração, voamos além das ilhas Tanega-Shima. Pode virar o ano, contudo não desejo que vire a minha história pessoal, com seus encontros e desencontros, suas dificuldades e facilidades, seu alicerce além das questões terrenas.
Parei este texto para conversar com minha querida Da. Antonia Melo, da sabedoria indígena que herdou de seus avós. Possui na casa, onde reside agora, um pé de pitanga. Procura não passar muito por perto, para não saborear seus brotos. É uma pessoa admirável. Contou-me sobre a flor azul da planta aquática baronesa nos açudes de sua terra nordestina. Proliferam ao sinal da poluição proveniente do despejo de esgoto nos rios. Emendou com os passarinhos lavadeira-mascarada, cujo comportamento indica confiança no ser humano. Pássaro resistente que procura seus pares nas margens de rios e córregos. Segundo a Da. Antonia, não se pode atacá-los porque foram eles que lavaram as roupas de Nossa Senhora no nascimento de Jesus.
Seus gritos a impressionavam quando menina. Era o anúncio de que alguém morrera e as pessoas eram chamadas para as incelenças ou incelências – pequenos cânticos em virtude de falecimentos como: “Uma incelência - minha Virgem da Vitória, Despeça desta alma que ela/ hoje vai s'embora; Ela hoje vai s'embora - Vai com dor no coração: /Despeça de seu povo e diga adeus a seus irmãos; /Despeça de seu povo e diga adeus a seus irmãos”.
Virou o ano, mas não virou a sua história. Pequeninos sucedidos de seu cotidiano no passado.
Existe a música do Padre Zezinho que diz assim: “Disseram que você já era/Uma quimera que já passou/Disseram que na Galileia/Nem sequer a ideia de você ficou. / Os homens ainda fazem guerra/ E fazem pouco caso do que você diz/ Amor como você viveu/ O mundo esqueceu/ Porém não é feliz. / E nem no fundo do mar/ E nem no espaço a girar, / Ninguém consegue escapar, / Da fome de ser feliz/ Doutrinas podem criar, / Costumes podem forjar, / Mas todos hão de chegar / Àquilo que você quis”.
É isso: ano novo com história contínua, sob as bênçãos do Eterno.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
Argélio fez planos durante todo o ano. Comprou um calendário próprio para registrar os projetos futuros, porque um novo período requer planejamento e ele definidamente era um homem que apreciava metas traçadas e objetivos a cumprir. O caos não lhe pertencia e nem o seduzia.
Classificava os propósitos de acordo com as prioridades. Havia cores para destacar as urgências, as necessidades, as utilidades e até mesmo as esperanças. Era importante, ainda, conforme suas crenças, que os meses tivessem equilíbrio, com doses adequadas de desafios e de comodidades. A vida era bem mais fácil assim, em categorias.
É claro que Argélio tivera que fazer concessões para viver sem grandes sobressaltos, mas ele entendia isso como o preço de uma vida pacífica e controlada. Havia mais de dez anos que trabalhava em casa, prestando seus serviços de contador. Saía cada vez menos e supria a maior parte das necessidades usando serviços de entrega.
Não era, no entanto, uma pessoa antissocial, tampouco um esquisitão. Ao contrário, era simpático e, de um jeito conservador, bonito. Apenas se cansara dos altos e baixo de uma vida aleatória, dos riscos da imprevisibilidade e das incertezas. Depois que os pais morreram e que Sofia lhe dera as costas, entendeu como vantagem ser filho único.
E a vida foi seguindo sem muitas complicações ou grandes oscilações para além dos pequenos contratempos. Quase aos quarenta anos, Argélio não tinha muitas expectativas, exceto de terminar os seus dias de modo confortável e seguro. Apreciava a estabilidade dos dias marcados no calendário.
Em uma manhã qualquer, porém, a entrega do mercado não se deu. O motorista sofrera um acidente e não havia ninguém para substituí-lo. Sem provisões para o dia seguinte, eis que as compras também eram calculadas com exatidão, Argélio se viu obrigado a ir ao mercado, lugar que não frequentava há muito tempo.
Imprimiu a lista de compras e, um tanto contrariado, tirou o carro da garagem, o que só fazia para as pequenas viagens inevitáveis, porém agendadas, decorrentes do trabalho, quando era preciso encontrar algum cliente mais exigente. Depois de quinze minutos, já estava com o carrinho pronto para passar pelo caixa. Procurou pelo Luciano, o funcionário que conhecia há mais de uma década, mas no lugar dele encontrou uma pessoa completamente diferente.
Argélio perdeu o fôlego assim que colocou os olhos em Ana. Foi como tomar um soco no meio do estômago. Arriscou perguntar sobre o paradeiro de Luciano e ao saber de sua aposentadoria, cogitou ir embora, mas isso somente traria mais desordem ao seu dia.
Assim que Ana sorriu, porém, Argélio sentiu que as forças lhe faltavam. Devolveu um sorriso imprevisto, deixou de trocar um produto que pegara, por erro, de sabor, aceitou pagar pelo cartão, ao invés do cheque que já levara preenchido, apenas para concorrer ao prêmio especial de fim de ano, que ele sequer sabia o que era.
Naquele dia nada saíra como planejado e isso era fato. Voltando para casa com o número de telefone de Ana anotado no verso do recibo, Argélio se sentiu mais vivo do que nunca. Ainda faria planos, estabeleceria metas, mas já aceitava que uma boa dose de surpresa pode dar cor à vida e que, às vezes, o que parece errado é o certo dando um jeito de chegar até seu destino.
CINTHYA NUNES é jornalista, advogada, professora universitária e deseja aos leitores as boas surpresas da vida em 2023 – cinthyanvs@gmail.com/www.escriturices.com.br
Uma coisa muito importante em nossas vidas para sermos felizes, é sermos determinados. Precisamos ter uma meta na vida, um ideal.
Neste vídeo, o Prof. Felipe Aquino reflete sobre isso.
Confira:
FELIPE AQUINO - é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter.
JORGE VICENTE - Fribourg ( Suiça)
No dia 31 de Dezembro, último dia do ano, celebra-se em todo o mundo a noite de São Silvestre, com diversas manifestações de alegria, concretizadas pelas “corridas de São Silvestre” pelas “reuniões de famílias que trocam as passas” , pelas “largadas de fogo de artifício” pelas “celebrações religiosas de acção de graças com a celebração do”Te Deum” e muitas outras iniciativas para assinalar a passagem de um ano velho e desejar um novo ano, mais feliz que o anterior.
Essa noite é chamada a noite de São Silvestre.
Mas qual é a influência de São Silvestre nas celebrações do dia 31 de Dezembro?
São Silvestre tem também uma relação com a Ilha da Madeira, chamada a Pérola do Atlântico, conforme reza uma lenda que vem inserida neste trabalho.
Mas quem foi São Silvestre?
São Silvestre encerra o ano civil. Ele encerra também, na história da Igreja, uma época importante e inicia uma nova era. Durante três séculos a Igreja Cristã esteve exposta às mais cruéis perseguições.
O império romano empregava todo o seu poder para aniquilar a Igreja Cristã. A astúcia, a lisonja, as seduções, tudo quanto podia cegar os sentidos, tudo o que a arte e a ciência terrenas podiam proporcionar estava ao serviço deste luta. Mas a Igreja resistia a todos a toas as perseguições.. Os seus membros morriam aqui e ali, mas a Igreja continuava a viver, e cada vez mais, novos elementos nela entravam. Por fim o império romano curvou-se diante de Cristo, colocou a cruz sobre o seu diadema e o sinal de Cristo sobre a águia de suas legiões. Cristo tinha vencido na possante peleja, e o Papa Silvestre I viu como tudo mudava. Viu o suplício da cruz ser abolido. Viu o próprio imperador Constantino edificar o palácio(Lateranense), que durante muitos séculos foi a residência do Vigário de Cristo.
Era este o cenário do tempo do Papa São Silvestre.
Segundo o testemunho de historiadores fidedignos, Silvestre nasceu em Roma no ano 285.Era filho de pais cristãos, que bem cedo o confiaram aos cuidados do sacerdote Cirino, cujo preparo intelectual e exemplo de vida santa fizeram com que o discípulo Silvestre adquirisse uma formação extraordinariamente sólida e cristã. Estava ainda em preparação última, isto é, a décima e de todas as mais bárbaras das perseguições dioclecianas, quando Silvestre, das mãos do Papa Marcelino, recebeu as ordens sacerdotais. Teve, pois, ocasião de presenciar os horrores deste investida contra o Reino de Cristo. Foi testemunha ocular do heroísmo das pobres vítimas do furor desmedido do tirano coroado.
No ano 313 foi celebrado o Edito de Milão, no qual se definia dar a paz não só à Igreja Cristã mas também aos outros cultos. Ficou estabelecido que seriam devolvidos aos cristãos seus antigos locais de reunião e de culto, assim como as propriedades que haviam sido confiscadas pelas autoridades romanas e vendidas a particulares na última perseguição..
No ano 314, por voto unânime do povo e do clero, Silvestre foi proposto para ocupar a cadeira de São Pedro, como sucessor do Papa Melquíades.
Mas a paz foi de pouca duração.
Duas terríveis heresias se levantaram contra a Igreja., arrastando-a para uma luta gigantesca de quase um século de duração. Foi a dos Donatistas, que tomou grande
incremento na África. A Igreja, ensinavam eles, deve compor-se só de justos, pois no momento em que seu grémio tolera pecadores, deixa de ser a Igreja de Cristo. Ensinavam que o baptismo administrado por um sacerdote em estado de pecado, era inválido. Se um bispo estivesse com um pecado na alma, não podia crismar nem ordenar sacerdotes. Caso administrassem esses sacramentos, seriam inválidos.
Pior e mais perigosa foi a outra heresia, propalada pelo sacerdote Ario, da Igreja de Antioquia. Doutrinava ele que a Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, faltavam as atribuições divinas, isto é, não era consubstancial ao Pai, portanto não era Deus, mas mera criatura, de essência diversa da do Pai e de natureza mutável.
Tanto contra a primeira como contra a segunda, o Papa Silvestre tomou enérgica atitude. A doutrina dos Donatistas foi condenada no Concílio de Arles. A segunda heresia(Arianismo) teve a sua condenação no célebre Concílio de Niceia(325) ao qual compareceram 317 bispos. O Papa Silvestre, já muito idoso, pessoalmente não podendo comparecer à grande Assembleia, fez-se nela representar por dois sacerdotes de sua inteira confiança, que em seu lugar presidiram as sessões. Estas terminaram com a soleníssima proclamação dogmática da fórmula: “ O Filho é consubstancial ao Pai;é Deus de Deus; Deus verdadeiro; gerado, feito da mesma substância com o Pai”.
As resoluções do Concílio foram assinadas pelo Papa Silvestre. Na presença de 272 bispos foram as mesmas confirmadas em Roma. Esta cerimónia teve lugar diante da imagem de Nossa Senhora da Alegria, cujo altar, em sinal de gratidão a Maria Santíssima. o Papa mandara erigir logo que as perseguições tinham chegado ao seu termo.
Durante o seu Pontificado, o Papa Silvestre governou a Igreja de Deus dando sobejas provas de prudência e sabedoria, glorificando-a com as virtudes de uma vida santa e apostólica.
Natural de Roma, São Silvestre I foi papa e governou a Igreja de 314 a 355 d.C., ano em que morreu no dia 31 de Dezembro com 70 anos de idade. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I(757-767) para a Igreja erguida em sua memória. São Silvério foi o 33º. Papa da Igreja.
A Igreja escolheu esta data para canonizá-lo.
Por ser um santo muito popular, São Silvestre ficou ligado às corridas.
A corrida é um acto que pode ter dois significados: Um, é atitude de uma pessoa correr para se livrar de situações de perigo, de ameaça e de sofrimento. Outro, é atitude de uma pessoa correr para alcançar um objectivo positivo, de alegria, de paz e de amor, mais rapidamente.
Daí nasceu a corrida de São Silvestre, no dia 31 de Dezembro, como despedida do ano civil.
Numa Viagem à França em 1924 Cásper Líbero assistiu a uma corrida nocturna em que os corredores carregavam tochas de fogo. Entusiasmado, resolveu promover, naquele mesmo ano, algo semelhante em S. Paulo(Brasil).Assim, à meia-noite de 31 de Dezembro daquele ano foi instituída a “Corrida de São Silvestre” que reunia os atletas da cidade e ganhou o nome de São Silvestre por ser esse o nome do santo do dia.
A prova passou, em mais de 70 anos consecutivos de realização, por inúmeras transformações e cresceu: dos apenas 60 participantes da primeira edição, para mais de 10 mil inscrições nos últimos anos, incluindo a presença das maiores expressões do atletismo mundial. A corrida de “São Silvestre” tornou-se internacional a partir de 1945, quando abriu espaço aos atletas de todas as partes do mundo. Quando a ONU instituiu o Ano Internacional da Mulher, em 1975, a competição passou a incluir a participação das mulheres.
Este acontecimento foi adoptado por todo o mundo, chegando a Portugal, incluindo à Ilha da Madeira.
Na Madeira, também, se faz a corrida de São Silvestre há vários anos. Por razões logísticas e para que as pessoas possam assistir à passagem do ano e assistirem ao fogo de artifício no dia 31 de Dezembro, a corrida é realizada uns dias antes do dia 31 de Dezembro, mas tem o mesmo significado . Neste ano realiza-se no dia 28 de Dezembro, sendo a 64ª. edição, estando inscritas mais de 3.000 pessoas. É uma iniciativa que tem vindo atrair à região inúmeros atletas do panorama nacional e internacional, enchendo a capital madeirense de muita animação.
Mas, a ligação de São Silvestre com a Ilha da Madeira tem um significado muito mais importante.
Como foi referido, anteriormente, o Papa São Silvestre assinou em 325, as resoluções do Concílio de Niceia, diante da Imagem de Nossa senhora. São Silvestre tinha uma grande devoção a Nossa Senhora. E, Nossa Senhora concedeu-lhe a graça de ter a seguinte visão:
Reza a lenda que, na última noite do ano, no dia 31 de Dezembro, estando a Virgem Maria debruçada dos céus sobre o Oceano, São Silvestre veio ao seu encontro e falar-lhe. Nossa Senhora confiou-lhe a razão da sua tristeza: lembrava-se da bela Atlântida, afundada por Deus por castigo dos seus habitantes.
Enquanto falava, Nossa Senhora deixava cair lágrimas de tristeza e de misericórdia. São Silvestre reparou então que as suas lágrimas não eram lágrimas mas pérolas autênticas.
Uma dessas lágrimas foi cair no local originário da extraordinária Atlântida, dando origem à Ilha da Madeira que ficou conhecida como a Pérola do Atlântico.
Dizem os antigos que, durante muito tempo, na noite de S. Silvestre, quando batiam as doze badaladas, surgia no céu uma visão de luz e cores fantásticas que deixavam no ar um perfume estonteante.
Com o passar dos anos essa visão desapareceu, mas o povo encontrou forma de a manter, através do fogo-de-artifício das famosas Festas de Fim de Ano que enaltecem as celebrações da Noite de S. Silvestre.
Este hábito de passar a noite de 31 de Dezembro, como a última noite do ano, com o lançamento de fogo de artifício, foi-se espalhando em todo o mundo, assinalando a viragem de uma página e o início de uma outra , onde vão ser escritos os momentos mais importantes da vida de cada um nós. Feliz Ano Novo!
Oração a São Silvestre
Deus, nosso Pai, hoje é o último dia do ano.
Nós vos agradecemos todas as graças que nos concedestes através dos vossos santos.
Hoje pedimos a São Silvestre que interceda a vós por nós!
Perdoai as nossas faltas, o nosso pecado e dai-nos a graça da contínua conversão.
Renovai as nossas esperanças, fortalecei a nossa fé.
Abri a nossa mente e os nossos corações.
Não nos deixeis acomodar em nossas posições conquistadas, mas, como povo peregrino, caminhemos sem cessar rumo aos Novos Céus e à Nova Terra a nós prometidos.Senhor, Deus nosso Pai, que o Vosso Espírito Santo, o Dom de Jesus Ressuscitado, nos mova e nos faça clamar hoje e sempre.
Venha a nós o vosso Reino de paz e de justiça.
Renovai a face da Terra, criai no homem um coração novo! Ámen!
ANTÓNIO FRANCISCO GONÇALVES SIMÕES - Sacerdote Católico. Coronel Capelão das Frorças Armadas Portuguesas. Funchal, Madeira. - Email goncalves.simoes@sapo.pt
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"Um Mundo Melhor!... Começa por Nós..." é um livro de homenagem aos capelães militares que frequentaram o curso de capelães no ano de 1972, na Academia Militar de Lisboa.
Inclui além de pequena biografia dos presbíteros participantes, temas de interesse cultural e espiritual.Prefácio de Manuel Gama.
Pré-impressão - Paulinas Editora
ALEXANDRE ZABOT - Fisico. Doutorado em Astrofisica. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. www.alexandrezabot.blogspot.com.br
Meu pai era jornalistas.Às sextas-feiras, publicava a secção “ Apontamentos “, in: “ O Comércio do Porto”.
Certa vez, jovem liceal – assíduo leitor, – escreveu-lhe, interrogando: " Por que emprega pontuação, que meu professor de português, considera imprecisa?"
Respondeu-lhe, mais ou menos, deste moda: " Cada qual tem seu estilo, escreve, muitas vezes de modo que o gramático taxa abstruso." - Como os textos de Saramago, – digo eu.
Antero de Quental considerava, que se devia escrever com simplicidade e clareza. Ter estilo – a seu parecer, – é descobrir ideias. Não ter estilo, é nada dizer: encher de palavras folhas de papel...
Geralmente quem critica – excepto o critico honesto, – move-se pela inveja. Dizia Cruz Malpique, em 1991:" A crítica entre nós, é a impressão escrita sobre o joelho, com a pressa de quem vai salvar o pai, da forca; escrita por amizade, ou por antipatia; nem sim nem sopas; a de ajustes de contas (agora é que ele vai saber de que força é o filho de meu pai!); a de ciúmes recalcados..."
Helena Sacadura Cabral, teve parecer semelhante, no: " Diário de Noticias": " Em Portugal há uma longa tradição de murmúrio. De inveja. De cobiça. E de preguiça também. Os valores raramente são reconhecidos, e os mais inteligentes constituem o pasto ideal para calúnia."
Quantas vezes o sucesso do escritor não é devido, também, à ideologia que professa?
Certa ocasião participei num colóquio entre Joaquim Paços d'Arcos e Óscar Lopes, onde este teceu, com mestria, desagradáveis comentários ao escritor. Estranhei, o parecer do crítico, mas não percebi os velados remoques.
Manuel António Pina, em: " Por Outras Palavras" (JN. 26/01/2012) esclareceu-me, o: " (...) Suplemento Literário dirigido por Nuno Teixeira Neves (acabou) por não ter sido devidamente louvado um medíocre romancista do regime, Joaquim Paços d'Arcos." – opinião do autor. Daqui se conclui: o crítico – em geral, – encontra-se encantoado em capelinhas politicas, louvando ou botando abaixo, o que não é da sua devoção.
Poderia citar outros casos, assim como são atribuídos, alguns prémios literários... e " muchas otras cosas más", como disse, com graça, Cruz Malpique.
Reis Brasil, na comunicação que fez no III Congresso de Escritores Portugueses, afirmou: " (...) A grande maioria dos críticos lusos peca por crassa ignorância, por inconsciência, por falta de honestidade."
Sem " padrinhos" ou " pistolão", como dizem os brasileiros, é difícil fazer carreira em qualquer profissão.
Por detrás do mérito, há quase sempre, razões que a razão, por vezes nunca conhecerá.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Café antigo, numa rua antiga;
espelhos de cristal; e bronze; e talha:
gente que conversa e grulha e ralha,
na tarde cor de sol, ridente, amiga.
Numa mesa, ao lado, a rapariga,
escuta, dum rapaz pior que gralha,
balela, bagatela ou maravalha
no tom de quem desfia uma cantiga.
Outrora, aqui vieram senhores graves,
de côco ou chapeu alto e de bengala,
discutir gravemente os seus negócios;
hoje, vêm cá galfarros e alardes;
- raparigas bacôcas botar fala;
bonecos de serrim, passar seus ócios.
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