Apesar da natalidade, em Portugal, ter aumentado nos últimos anos, ainda não é suficiente para comutar o défice demográfico. O País carece, urgentemente de imigrantes para incrementar a economia, vg: restauração, hotelaria e construção civil.
A entrada maciça de imigrantes é necessidade incontestável, ainda que possa causar ao País alguns problemas; precisa, todavia, ser devidamente planeado, para se evitar perturbações sociais, mormente se o imigrante não souber ou não quiser assimilar a nossa cultura ou se recusar a ser integrado.
Diferenças culturais, morais, políticas até filosóficas e religiosas, dificultam a rápida integração, a meu ver, necessárias, requerendo cedências de ambos – aborígenes e imigrantes.
Existe, ainda, o receio natural da população indígena, erradamente pensar – que pode causar desemprego e concorrência no mundo do trabalho, em algumas profissões.
Mas voltemos à situação demográfica do País: envelhecimento da população e, nascimento de nenés – verifica-se que em 2023 nasceram 85.764 bebés, segundo " Teste do Pezinho", alguns de mãe estrangeira. Número considerado insuficiente, mas melhor que no ano anterior.
Como e sabe, a população em idade fértil, tem emigrado em grande número, na última década, mais de 850 mil saíram do País, e cerca de 30% são de idades que vão dos 15 aos 19 anos.
Segundo o " Atlas de Emigração Portuguesa" desde 2001, abandonaram, por ano, a terra natal, cerca de 75.000 portugueses. Só em 2013 (ano da Troika") ausentaram-se 120 mil, sendo 70% dos emigrantes de 15 a 19 anos.
Não é de admirar que a natalidade seja tão baixa, se considerarmos, que continuam a sair jovens em busca de melhor vida e, esperança de virem a receber confortantes reformas, que lhes permita envelhecer mais desafogadamente.
Hoje não emigram apenas humildes trabalhadores rurais e operários, como outrora, mas igualmente: licenciados, mestrados e até doutorados.
Pelo exposto, ainda que alguns não concordem e não desejem, não se pode recusar mão-de-obra estrangeira, mesmo reconhecendo os inconvenientes que possam advir para o presente e futuro da nação.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Minha tia-bisavó, Rosinha, fazia cem anos; seu filho convidou-me para participar na cerimónia religiosa e no copo-de-água.
Fui. Tomei o "onibus”, que me levou ao Rio e, horas depois desembarquei na rodoviária. Nessa ocasião residia em São Paulo.
Quando me deslocava para o colégio, que gentilmente cedera as instalações, fui observando tudo que via. Ao perpassar por parede branca, lobriguei, varado, rabiscado a carvão ou tinta negra: " Portugueses fora do Brasil!". Estávamos nos anos noventa, do século passado.
Em abono da verdade, devo dizer que nunca senti qualquer antipatia por mim, por ser português; muito pelo contrário: todos, inclusive a policia, mesmo no tempo da ditadura, sempre me trataram com afeto.
Sou como se sabe, matrimoniado com paulista da gema, de família tradicional, por isso sabia que no passado, o nosso povo era considerado: pobre, inculto, analfabeto. Em regra, dizia-se que desembarcava em Santos com: " Saco e pau nas costas", ou chegava de avião, " Nos Tamancos Aéreos Portugueses.
Após a Revolução de Abril, chegaram a terras de Santa Cruz: industriais, professores, médicos, engenheiros e, muita gente da elite portuguesa; e o brasileiro, atónico, mudou logo a opinião depreciativa que tinha.
Mesmo assim... Estando em Florianópolis, em meados deste século, folheando distraidamente as páginas amarelas da Capital de Santa Catarina, deparei, cercado a tarja negra:" Portugal roubou o nosso ouro."
Era "mimo" dirigido aos milhões de portugueses e descendentes. Eu sabia há muito que era isso, que certos professores ainda ensinavam nas escolas.
Durante décadas não foi fácil ao português " fugir" das piadas vindas do povo humilde e até da mass-media.
Em 1920, quinhentos poveiros que ganhavam a vida no mar, foram expulsos por se recusarem a serem brasileiros. Retornando a Portugal no navio " Samaro" – " A Pátria", Rio de Janeiro 13 a 15/10/1920.
A perseguição iniciou-se em outubro de 1920, alimentada, entre outros por Epitácio Pessoa. Desconheço a razão de tanta xenofobia, pois a maioria da população era e é descendente de portugueses e italianos. Emigrantes que foram procurar no Brasil melhor vida, como hoje os brasileiros fazem quando emigram para os Estados Unidos e Europa.
A emigração portuguesa, como a italiana, foram comutar a mão-de-obra que havia antes da Lei Nº2: 040 de 28 de Setembro e 1871, que dizia: " Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data d'esta lei, liberta os escravos da nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento d'aquelles filhos menores e sobre a libertação annual de escravos."
Esta crónica, escrita quase ao currente calamo, pretende lembrar a situação difícil em que viveram muitos portugueses no século XIX e meados do século XX, no Brasil. Muitos eram de menor idade, como o escritor Ferreira de Castro que chegou ao Brasil, sozinho, com 12 anos, para não falar de meu bisavô que emigrou ainda adolescente.
Para alinhavar esta modesta crónica, baseie-me: em reminiscências pessoais; na obra: " No Brasil", do escritor Silva Pinto; e na pesquisa realizada por Edgar Rodrigues, publicada no " Jornal de Matosinhos" de 6/12/1991.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Durante longos anos ouvi diariamente: comentários e pareceres de amigos e conhecidos e, frequentemente escuto na cafetaria, onde todas as tardes tomo o reconfortante cafezinho, conversas sobre os mais diversos assuntos.
De tudo que ouvi e escuto, conclui: a maioria das pessoas são como dizia o mendigo de Joracy Camargo: " Pensam que pensam, mas não pensam".
São simples repetidores do que ouvem ou leem dos fazedores de opinião.
Os pareceres variam, em norma, consoante a posição que se encontram no xadrez da vida: alteram-se com a situação económica do momento.
Poucos são os que possuem convicções e certezas fundamentadas – ainda que asseverem que as têm...
Se perguntarmos a ferrenho torcedor a razão de ter aderido a certo clube desportivo, não saberá, por certo, responder.
" Sou, porque sou." - Argumenta; ou porque o pai já o era; ou simplesmente para ser do contra: a família torcia por outro clube.
Acontece, igualmente, na política. Poucos militantes conhecem a ideologia e os estatutos. Basta-lhes repetirem o que diz o líder; os mais fanáticos, mesmo reconhecendo o erro, são incapazes de o reconhecerem.
Infelizmente o que se passa no desporto e na política, ocorre algumas vezes, na religião:
Se perguntarmos a crente, porque permanece nesta ou naquela denominação, por certo não saberá responder. Talvez declare: Que é a Igreja da maioria; porque gosta do sacerdote; ou era a da sua meninice.
Também na Igreja, como na política, há infelizmente, quem busque interesses financeiros ou projeção social:
Conheci homem que frequentava Igreja Evangélica, porque recebia, algumas vezes um queijo flamengo!...
Conheci, igualmente, escritor, amigo de meu pai, cujas obras alcançaram importantes prémios. Uma vez confidenciou-lhe:" No início da carreira tive que aderir a partido político de esquerda, para conseguir editor!..."
O mesmo aconteceu a intelectuais, na época da ditadura...que mais tarde inscreveram-se em partidos de esquerda, após haverem recebido benesses do antigo regime.
Tenho, portanto, sempre reservas quando ouço ou leio comentários na média, porque é raro ser-se imparcial. Todos sofremos influencias. Poucos são verticais e honestos. Mas ai de quem lhes diga isso!...
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Havia na igreja de Santo Ildefonso, no Porto, abade conhecido pelos ditos espirituosos e assombradas atitudes.
Tinha como coadjutor jovem presbítero chamado Flores, se não estou em erro. Nessa recuada época não era nascido, e o que sei, é por via oral.
Ora apareceu certa ocasião, "grã-fino" para marcar matrimónio. Entregou os documentos necessários e, marcou-se a data.
Compareceram no dia indicado, os noivos e convidados. As senhoras usavam generosos decotes e ombros descobertos; vestuário arrojado para a época.
Entrou paramentado o abade. Viu o espetáculo indecoroso. Engoliu em seco e, declarou em voz severa: - " Não caso gente em traje indigno para a Casa do Senhor!..."
Levantou-se burburinho; houve ameaças; altercações; e ergueu-se ténue rumorejo entre os convidados.
Não houve outro remédio, perante a obstinação do sacerdote: - os cavalheiros despiram os casacos e, as senhoras encobriram os ombros com eles.
Dias depois do " Casamento das despidas", os fofoqueiros portuenses confidenciavam, entre risos escarninhos, o casamento carnavalesco.
Outro caso, também, curioso:
Havia mulher que participava na missa de contas pendentes das mãos, sussurrando Ave Marias. Depois permanecia horas a fio fazendo trejeitos diante de cada imagem.
Uma vez entrou o abade no templo, presenciou a deplorável cena e, não se conteve: -" A senhora não tem que fazer em casa?! Se sim, dou-lhe uma vassoura e varra-me a igreja."
Encolheu-se a beata, tossiu e enfiou-se acobardada pela porta, ruminando impropérios.
Mais um dito do velho abade:
Belo dia estando o bom abade tentando evangelizar jovem janota, este, petulante, lhe disse: - " Se soubesse os mariolas que assistem à sua missa!..."
Ao que prontamente o sacerdote repostou: - " A porta da igreja está aberta, até os cães podem entrar..."
Como a porta se encontra aberta, no templo, a todos, o mesmo acontece nos partidos políticos: todos podem entrar...
Depois sucede como nos Estados Unidos com o partido “Republicano”, que foi respeitado e democrata, e contou com Lincoln, admirado e respeitado em todo o mundo; e agora tem Trump, com carisma, mas sem probidade.
Instituições, associações e partidos políticos, sejam da esquerda ou da direita, são o que for o líder: umas vezes são ótimos; outras vezes péssimos. Depende de quem os lidera.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
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