Em calma e cálida tarde de maio, quando o astro-rei acendia o céu, de nuvens de fogo, mosqueando, de cintilantes estrelinhas, as águas azuis do Douro, estava com meu pai – insaciável homem de Letras, que vivia entre velhos cartapácios, - na Feira do Livro, no Porto.
Nessa recuada época, a "Feira" implantava-se na Praça do Município, num aconchegante labirinto, aos pés de "Garrett"
Caminhávamos embebidos nos escaparates – abrindo e reabrindo tomos, junto a livraria católica, de súbito, surgiu três guapos rapazinhos, ainda imberbes, chalrando em alta voz.
Miram de esguelha o stand. Entre livrinhos devotos e inocentes romances, gritavam três vistosas Bíblias, de folhas doiradas, encadernadas a percalina preta.
Apontando ostensivamente o magro indicador, o mais esgrouviado e bem-trajado, de barba e cabelo à Che Guevara, disparou, com risinho arteiro, bailando nos lábios:
-" Ainda se vende essa porcaria!..."
O empregado, possivelmente frade ou antigo seminarista, de imediato retorquiu:
- "É por causa dessa " porcaria", que o senhor doutor é médico!..."
O diálogo espicaçou a curiosidade de meu pai; e quando os mocinhos rindo, se afastaram, apressou-se a interrogá-lo:
-" Conhece-o?"
- " Conheci-o. Andava no seminário. Estudava por favor. Não tinha vocação. Os senhores padres ainda o encaminharam para a Universidade..."
Como meu pai mostrasse interesse, prosseguiu:
- " Agora é quase médico. Sempre que passa por aqui, larga uma chalaça. Coitado!.... Se não fosse a Igreja... andava com a charrua...
Este episodio, ocorrido nos anos sessenta, gravou-se-me na memória; e ilustra, perfeitamente, o que é a ingratidão e o descaramento.
Como ele, muitos são os que singraram às cavalitas da Igreja ou à sombra protetora de senhoras caridosas, que lhes proporcionaram meios para altos voos; infelizmente, raros são os que se lembram de agradecer, a quem lhes deu a mão. É a ingratidão humana!...
HUMBERTO PINHO DA SILVA
Em meados do século XIX, o Rio de Janeiro, fervilhava de emigrantes portugueses, esperançados de encontrarem a: " árvore das patacas".
Os mais pobres, iam em navios negreiros, na condição de pagarem a viagem ao engajador, com dinheiro obtido no trabalho que conseguiam em fazendas.
Muitos morriam devido a maleitas; outros, por excesso de trabalho, quase escravo.
A deplorável situação chegou a ser ventilada, na segunda metade do século XIX, em Pastoral, escrita pelo Arcebispo de Braga, avisando os mancebos do perigo de serem enganados pelos angariadores; mas, raros foram os que escutaram os sensatos conselhos.
Em 1879, narra Silva Pinto, que encontrou Rafael Bordalo Pinheiro, junto do teatro D. Pedro, no Rio, em que o notável artista contou os horrores que passou no Brasil.
Embarcara cheio de ilusões em 1875, na época era ilustrador do " Lanterna Mágica", publicação lisboeta.
Regressou três anos depois, descorçoado, com mulher e filha, após ter sido injuriado, e ver o gabinete de trabalho, na Rua do Ouvidor, assaltado por populares, sem ter recebido proteção da polícia, nem do Consulado Português!
Segundo a " Caixa de Socorros de D. Pedro V", fundada no Rio de Janeiro, de, 1861 a 71, havia no Rio 49.610 emigrantes portugueses. A "Caixa" repatriou 4.000, e faleceram, durante esse período, 11.000. É desconhecido a situação dos que foram trabalhar para o interior.
Os repatriados chegavam a Portugal, desiludidos ainda mais pobres do que partiram.
No livro " No Brasil", Silva Pinto, relata a chegada de paquete francês, a Lisboa, com vinte passageiros, vindos do Brasil: " Só dois obtiveram fortuna – o primeiro alugando escravos ao mês; o segundo (uma mulher,) alugando-se diariamente. Os restantes (...) chegaram doentes, arruinados e cheios de dívidas"
O invés, parece acontecer agora, aos imigrantes que chegam a Lisboa, com a cabeça cheia de fantasias, (alguns de dupla nacionalidade).
Vasco Malta, Chefe da Missão em Portugal, da Organização Internacional das Migrações (OIM), tem ajudado muitos imigrantes a regressarem à terra natal. Brasileiros foram, 1831, desiludidos por não terem conseguido trabalho, nem casa. Alguns encontravam-se na mais esquálida miséria.
Repete-se, infelizmente, em pleno século XXI, a História e as histórias, dos portugueses, no século XIX e XX, no Brasil.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
É do conhecimento de todos, que participam na missa dominical, que existe grande diminuição de fiéis – não só de jovens, como de crentes idosos.
Várias são as razões: A epidemia (Covid) que afastou da Igreja – por medo de contágio, – muitos católicos; a deslocação da população citadina para as preferias; o facto de muitos idosos haverem falecido, devido à epidemia; e o comodismo de alguns, que passaram a "assistir" à missa pela televisão.
Acrescentaria, igualmente, a deficiente evangelização, e o comportamento indigno de alguns sacerdotes e fiéis.
Recentemente o matutino" Correio da Manhã", de 03/03/2024, realizou pesquisa sobre a situação da Igreja Católica, em Portugal, chegando às seguintes conclusões:
A quebra de fiéis na missa é quase de 50%; no interior, apenas 10%.
Alentejo, Minho e Trás-os-Montes, assim como os Açores, foram as regiões mais afetadas, (possivelmente, digo eu, devido à emigração).
Lisboa, Madeira e o Algarve, foram as que menos sofreram, mantendo-se quase inalterável o número de fiéis.
Como é natural, a diminuição de crentes afetou a receita, no ofertório e nas caixas
As ofertas desceram de 60 para 35 milhões de euros. (Não será, em parte, devido à dificuldade financeira em que vive a Classe Média?)
Apesar das vocações sacerdotais terem diminuído, ainda se celebram 6.000 missas dominicais, celebradas por 2.655 padres. Menos 600 do que em 2014.
Foram estas as principais conclusões que o "CM", chegou, após ter contactado 32 paróquias e bispos diocesanos.
Desconfio que, alguns leitores, também, gostariam de conhecer a situação religiosa, em Portugal - Igrejas cristãs e não cristãs, colhidas no: INE, e no Censo de 2021:
Ortodoxos, em 1981 eram 2.564
“ 2021 " 60.381
Deve-se, certamente, à entrada de imigrantes do Leste Europeu
Evangélicos, eram em 2021 - 186.832
Testemunhas de Jeová, eram em 2021 – 63.609
Hindus “ “ “ - 19.471
Budistas “ “ “ - 16.757
Católicos “ “ “ - +7 milhões
Ateus, eram em 1981 – 253.786
" " " 2021 - 1,2 milhões
Há aumento significativo de Judeus, devido à lei sefardista, que autoriza descendentes de israelitas, que viveram em Portugal, terem dupla nacionalidade.
Havia, também, em Portugal, em 2021, cerca de: 36.480 muçulmanos, originários, em parte, de países árabes e nações africanas.
Devido à entrada maciça de imigrantes, nos últimos anos, é natural que os números indicados, não reflitam a verdade atual.
HUMBERTO PINHO DA SILVA
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