O biólogo Fernando Reinach escreveu o artigo “Meu agradecimento aos criacionistas”, (OESP de 14.7.11) narrando sua revisita ao Museu de História Natural em Nova York. Antes de entrar, temera se decepcionar, pois talvez as cenas bucólicas criadas nos albores do século XX pudessem ter sido eliminadas pelo tsunami do “politicamente correto” que varreu os Estados Unidos.
Mas seu temor não se confirmou. O museu está ainda melhor, porque “montou um contra-ataque eficaz ao movimento criacionista”. Lamenta a reação ao darwinismo, prestigiado pela Suprema Corte que banira o ensino do criacionismo nas escolas. Repudia o direito dos alunos de aprender que a evolução das espécies e o processo de seleção natural não passavam de uma entre as diversas explicações para a origem da biodiversidade existente na Terra. Atribui essa tendência a “burlar a decisão da Suprema Corte”.
Está convencido de que o darwinismo é uma explicação melhor, baseada em dados e experimentos. E o Museu de História Natural adotou a corrente, pois parte do material exposto foi reorganizado para demonstrar como os fósseis sugerem que as espécies mudam. O Museu ficou melhor e grande parte da melhoria se deve à pressão exercida pelo movimento a favor do design inteligente. Agradece aos criacionistas por isso.
Eu também rendo graças ao criacionismo. Ao contrário de Reinach, penso que é mais racional “a ideia de que algo tão complexo como a vida só poderia ter sido criada por um ser superior”. Sempre menciono o exemplo do “puzzle”, quebra-cabeças com 5 mil peças. É viável aguardar que, jogadas todas simultaneamente para cima, caiam a formar o desenho original?
A vida é realmente um milagre. As precondições externas para a existência da biosfera da Terra se subordinam a algo racional. Um clima que conduza à vida na Terra depende de parâmetros orbitais muito estreitos: Vênus é quente demais, Marte frio demais e só a Terra está no ponto para a vida. Se a órbita da Terra fosse 5% menor do que é, teria havido um “efeito estufa descontrolado” e as temperaturas teriam subido até que os oceanos fervessem. Por outro lado, se a distância entre a Terra e o Sol fosse pelo menos 1% maior, teria havido uma glaciação descontrolada e os oceanos da Terra teriam congelado e teriam permanecido assim desde então, com uma temperatura média abaixo de 45º C negativos. O fato de existirmos pode ser tributado a Darwin?
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.