Penso que algumas coisas estão fora do lugar ou, talvez, eu esteja fora de lugar e do tempo. Há quem diga que, quando a gente começa a dizer “no meu tempo isso, no meu tempo aquilo”, é sinal de que se está ficando velho, mas, seja isso, não seja isso ou seja parcialmente isso, o fato é que eu estranho demais alguns acontecimentos...
Então, vamos lá, “no meu tempo” os alunos tinham nos professores exemplos a serem seguidos, objeto de admiração ou, no mínimo, de respeito. Lembro-me de que meus pais, ambos professores, hoje já aposentados, viviam trazendo para casa presentes e mimos oferecidos pelos alunos. Claro que tudo não era somente alegria. Sempre houve e sempre haverá, creio, alunos problemáticos, professores sem carisma ou aptidão, mas, de uns tempos para cá, parece-me, a relação professor e alunos tornou-se um pouco mais complexa e até mais perigosa.
Infelizmente, cada dia tem ficado mais comuns as notícias envolvendo alunos que invadem escolas e atiram em professores ou colegas, bem como de alunos que perseguem determinados professores, fazendo deles objeto de ódio e violência individuais e, muitas vezes, gratuitas.
Nunca soube, em tempo algum, de alguém que gostasse de ser advertido por um professor, só que as pessoas pareciam lidar melhor com isso, entendo que faziam parte do processo. Não se trata de dizer que os professores tem direito de serem autoritários, grosseiros ou arbitrários, mas alguma coisa está errada quando alunos simplesmente ignoram a importância e a autoridade natural dos mestres, não aceitando quando esses lhes contrariam, pedagógica ou disciplinarmente.
Eu não adorei todos os professores que tive, mas aprendi com todos eles alguma lição importante para minha vida. Sou hoje um pouco do que cada um deles me doou, o resultado dos esforços de todos eles, dos erros e dos acertos. Nunca, jamais, contudo, imaginei voltar-me contra qualquer um deles com violência de qualquer tipo. Fui daquelas crianças que levavam chocolates aos meus mestres, que escolhia flores para levar para as tias do primário. Não me esqueci, jamais, da minha primeira professora, Dona Meire...
Hoje, sou eu também professora e não tenho ilusões de agradar a todos, mas, para minha alegria, até hoje, mais recebi expressões de carinho e de respeito, do que de ódio declarado. Aqueles que assim se sentiram, porventura, foram equilibrados o suficiente para não tomar medidas extremadas...
Cada vez que um professor é vitimado por um aluno, morre um pouco também da educação, da esperança de que, um dia, possamos viver tempos melhores. Se nos faltar educação, respeito pela mão que ensina, que direciona, pobre do futuro que nos aguarda...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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