Desde criança sempre tive o desejo de enxergar o mundo em micro. Gostava de observar os formigueiros e imaginar como seria estar lá dentro. Logo que descobri o que era e para que servia um microscópio, quase enlouqueci. Não via a hora de ir para a escola e poder manusear um. Para minha decepção, pouco do que desejei da escola estava disponível aos alunos do antigo pré-primário. Tanto eu estava certa de que aprenderia a ler logo nas primeiras aulas, quanto de que faria experimentos em tubos de ensaio e observaríamos o mundo através de microscópios.
O tempo era outro e creio que hoje, em boas escolas, as crianças até vivenciem muito do que eu sonhava fazer, mas, de toda forma, naquela época, os microscópios eram muito caros e eu tive que me contentar com uma luneta que ganhei e com a qual segui em minhas infantis e fantásticas incursões pelo mundo pequenino.
A bem da verdade, nunca deixei de ter essa espécie de adoração e por muito pouco, ao invés da Direito, não enveredei para o mundo da biologia. Tanto que hoje possuo um pequeno, bem simples até, microscópio, mas que me permite observar algumas coisas que me despertam a curiosidade.
Quando observo o mundo na sua pequeneza é que me convenço de sua grandiosidade. É incrível pensar em como tudo se ajusta, como aquelas bonecas russas (matrioshka) que são colocadas umas dentro das outras, em uma incrível sucessão. Tudo se encaixa perfeita e divinamente. Nesses instantes, durantes essas digressões, penso no Criador, não aquela das religiões, ainda misterioso, complexo e controvertido para mim, mas naquela inspiração inegável que tornou possível a vida que conhecemos. Ninguém, em sã consciência, pode deixar de crer, imaginar que somos somente o resultado de uma alea, de um dado que, em algum tabuleiro, rolou para casa errada...
Quando penso no Deus das pequenas coisas, naquele Criador que está presente em tudo, penso também em como nós, humanos, somos equivocados. Achamos e usamos os mais tolos e destemperados argumentos para justificar que somos donos do mundo e que tudo aqui está a nos servir. Usamos de tudo e de todos da forma que nos convém, certos de sermos reis, senhores e tiranos auto justificáveis, iludidos e desconhecedores de estamos mais para crianças ou fâmulos da Criação, ainda no início de nossa aprendizagem, olvidados de que o aprendiz primeiro serve para depois ser servido...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA- Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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