Penso no destino dos filhos apêndices. Quem olha por eles? Quem vai ao encontro de seus desencontros? Quem lhes diminui a possibilidade de tragédias? Diante de uma situação sinistra, angustia-me a indiferença a caminhos que salvam.
Os filhos apêndices nascem dos relacionamentos irresponsáveis por parte de um ou dos dois. Nascem por engano ou assim se tornam na infância ou na adolescência. Quando uma comunidade familiar se rompe, o equilíbrio dos filhos deveria sobrepor-se à busca de prazeres dos pais. Os adultos estão mais preparados para a renúncia sem perder a estabilidade que os pequenos.
A mulher quer provar ao companheiro anterior que o supera com outro, conforme ele fez com ela. Coloca um cidadão qualquer dentro de casa, com quem os filhos não se simpatizam e para contê-los usa de agressões verbais e físicas. Afinal de contas, em sua justificativa, tem direito de ser feliz. Se a menina disser que o tal a assediou, é mais fácil acreditar nele. E existe companheiro que compete, com os filhos de outro relacionamento da mulher, em olhares de escárnio e superioridade. Sabe que a mulher o quer por perto e que os filhos dela serão obrigados a aceitá-lo. Inexiste nos ajustes uma conversa sequer a respeito de partilhar a educação das crianças, com as quais ele não se harmoniza, na ternura e na sabedoria. E as madrastas despreparadas? Desejam engravidar para que seus filhos superem os do companheiro. E ele se amolda na ilusão de que os demais filhos possuem condições com sete, nove, dez anos de se virar. Basta a pensão que paga e o protege da cadeia.
Um casal se separa para que a violência não se agigante e mate. O pai encontra um companheiro, assim como a mãe. As crianças ficam de lá para cá. Um denigre a imagem do outro para os filhos em tom de vitimismo. O segundo relacionamento não dá certo. O pai se acerta com uma companheira, da mesma forma que a mãe em busca de um porto. As crianças ficam de lá para cá. Para um dos púberes surge uma mulher adulta, egressa de uma ligação afetiva e com filhos pequenos. Experimenta no garoto os seus encantos da pele. Ele se desequilibra no prazer até que ela se despede. O menino não quer mais saber da escola e das adolescentes de seu tempo. Deseja apenas aquela mulher que mascarou, por um curto período de tempo, a sensação ruim de ficar de lá para cá. Em princípio, tanto o pai como a mãe consideraram que o filho exercia o seu poder de macho. Ignoraram o risco para o menino. Como filho apêndice, entretido com uma mulher “responsável”, invadia menos o espaço de cada um.
O pai tenta ignorar e a mãe se desespera quando o menino é atraído pelo “buraco negro”, do qual nada, de acordo com a Teoria Geral da Relatividade, nem mesmo objetos que se movam na velocidade da luz podem escapar. O adjetivo se deve ao fato deste não refletir a nenhuma parte da luz que atinja seus horizontes. Uma nova habilidade do púbere: sorver, na escuridão, com desenvoltura o pó e atuar na venda para poder consumir. Consequência previsível para filhos anexos, extirpados da comunhão de ternura materna e paterna.
A mãe quer saber que atitude externa tomar para impedir que o filho prossiga no caminho do mal. A quem recorrer fora dos horizontes de seu mundo? Penso em lhe responder com a frase da homilia sobre o Eclesiastes de São Gregório de Nissa (Séc. IV): “Aquele que não põe a sua lâmpada sobre o candelabro, mas debaixo da cama, faz com que a sua luz se transforme em trevas”. Ouço e a convido a rezar por ela e pelo filho. É preciso ter coragem para se iluminar, se ver e clarear as proximidades.
Como vencer o abandono de apêndices e garantir o direito de amor aos filhos?
Maria Cristina Castilho de Andrade
Educadora e coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher/Magdala, Jundiaí, Brasil
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