Observando a extracção da lotaria e do totoloto, deu-me para pensar que é possível estabelecer uma relação entre essas extracções e o desenrolar da vida, ou seja, a sucessão dos acontecimentos.
Também este mundo é aproximadamente uma esfera que gira, que gira, e desse girar vão-se desprendendo os acontecimentos, variáveis até ao infinito, agradáveis ou desagradáveis nos mais diferentes graus de intensidade. Desta esfera de Deus saem, em cada segundo, milhões de contas ou pérolas – esferinhas da sorte – que indicam o que terá de suceder por esse mundo fora: nascimento de uns, morte de outros; um vendaval aqui, um naufrágio acolá; um feliz ou infeliz negócio para este, um muito feliz ou um menos feliz casamento para aquele; uma queda, um exame, a sorte grande de uma herança ou a pouca sorte de um incêndio, uma cabeça que cai abaixo de uns ombros ou um cabelo que cai abaixo de uma cabeça – eis um pouco do muito que é possível ser ditado por Deus, através desse movimento contínuo que nos contempla com os acontecimentos que na nossa óptica são felizes ou infelizes.
Se este mundo, tal como actualmente gira, há-de ter um fim, é evidente que as contas ou pérolas de que falei, cada uma correspondendo a um acontecimento, também se hão-de esgotar. As “Testemunhas de Jeová” já anunciaram esse momento, pois que por mais do que uma vez anunciaram o fim do mundo, prevendo que uma última conta ou pérola se iria desprender com fragor, não com a suavidade dos propósitos de Deus.
Assim, saber olhar para esta esfera de Deus, que gira, que gira, e da qual se desprendem os acontecimentos, é uma grande virtude. Para as “Testemunhas de Jeová” ela é totalmente transparente: julgaram até terem-lhe visto o fim; para os católicos, ela simplesmente translúcida: com o dealbar do fim dos tempos, sabemos que o seu conteúdo vai diminuindo, mas nunca nos preocupamos com a saída da última esfera da sorte que ditará o fim do mundo – cada qual deverá preocupar apenas com a que lhe vai dar a ordem de Deus para se apresentar junto d’Ele; para os ateus, que não acreditam no fim do mundo, a referida esfera de Deus é totalmente opaca, com um conteúdo impossível de se esgotar. Curiosamente, estão a considerar Deus infinito, naquilo que Ele quis ser finito.
Devemos, porém, considerar que se Deus quis ser finito na sua esfera e no conteúdo dela – os acontecimentos – quis ser infinito na sua qualidade e na sua distribuição. Cada acontecimento, classificado pelos homens como feliz ou infeliz, é um acto de amor que nós por limitação, ou mesmo por maldade, não conseguimos interpretar correctamente. Jesus Cristo disse que o Pai, porque é Pai, nunca dá pedras a quem pedir pão, nem lagartos a quem pedir peixe. Então, podemos ter a certeza de que esta esfera de Deus vai girando sempre só para nosso bem, para nos dar em cada esferinha da sorte não aquilo que merecemos mas aquilo de que precisamos – não se trata de uma pagã boceta de Pandora que semeia ventos e tempestades.
Considerando a vida e o mundo tal como a estou a considerar e compreendida esta “mecânica celeste” que acabo de expor, fácil é concluir que Deus criou para nós não um jogo de lotaria ou de azar, mas uma verdadeira tômbola de caridade.
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