Sou, por definição, uma pessoa barulhenta. Já me disseram, muitas vezes, que, de longe, sabem quando estou me aproximando. Tenho alguns hábitos ruins, os quais nunca pratiquei por maldade, mas talvez por essência. Falo alto, gesticulo, dou gargalhadas, canto sempre que posso e, não raro, falo sozinha.
Muito já ouvi, por outro lado, que o tempo muda as pessoas. Ultimamente, tenho preferido certa dose de silêncio. Acho que tenho preferido passar de fininho ao invés de me anunciar a plenos pulmões. Tenho crido que prego que se levanta leva mais marteladas e, assim, melhor manter certa reserva, certo distanciamento.
Ultimamente, tenho refletido sobre o valor do silêncio. Há muito, aliás, já acredito que, se não tenho nada útil a dizer, melhor ficar quieta. Jamais quis ser aquele tipo de gente que diz tudo que passa pela cabeça, ainda que seja uma idiotice ou uma ofensa. Penso que muitas dores e brigas poderiam ser evitadas se as pessoas pensassem um pouco antes de dizer tudo o que pensam. Nesse sentido, abençoado o Criador que não nos permite o dom de ler pensamentos...
O silêncio é como aquelas substâncias que podem ser venenos ou remédios, conforme a dose administrada. Por vezes, em excesso, causa muitos estragos. É quando contamos com aquela voz amiga que não vem, quando esperamos inutilmente o consolo que não chega ou aquela palavra que nunca é dita. Esse tipo de silêncio eu não me permito. Posso errar de muitas formas, mas não quero que seja por omissão. Até onde me consta, estou sempre à disposição daqueles que de mim esperam alguma ajuda, algum apoio. Não porque eu me pretenda alguém especialmente boa, nada disso. Apenas me policio para tentar não falhar com quem eu posso ajudar, só isso...
Outras vezes, como diz uma frase popular “O silêncio é de ouro”. Há momentos nos quais só o silêncio se faz entender, em que o nada dizer representa muito mais do que qualquer palavra ou gesto. Noutros casos, o silêncio é a pausa que permite a continuidade, que evita a mágoa, que dá asas à contemplação, à reflexão. Não me arrependo das vezes nas quais me calei para não dizer coisas das quais poderia me arrepender. É nesse sentido que hoje me pretendo mais comedida. Tantas vezes, por outro lado, desejei que as pessoas nada tivessem dito. O silêncio, assim, também é uma das facetas do amor.
Na música, o silêncio, a pausa, representa uma ausência musical, tem um significado próprio, indizível, mas que é sentido plenamente. Ainda que, em nossas mentes, ao menos enquanto estamos vivos, nunca haja o silêncio absoluto, com ecos que nos perseguem mesmo em sonho, que nossos lábios saibam que, às vezes, é melhor silenciar. Um beijo, por acaso, umas das mais sublimes expressões do gostar, só se concretiza quando as pessoas se calam, num silêncio único e divino...
Ademais, já diz o ditado que, quem fala demais dá bom dia a cavalo. Por sorte, o bicho cavalo não responde e, se o faz, é porque veio ao mundo em forma de gente.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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