Nascida em uma família de professores, nem causou espanto quando acabei, eu mesma, advogada, entrando para o rol desses profissionais. No fundo, creio, eu sempre imaginei que enveredaria pela vida acadêmica. Treze anos depois, não posso dizer, nem de longe, que tenha me arrependido. Ao contrário, encontrei na docência jurídica algo que me instiga, uma atividade que me impele à inovação, a melhorar sempre.
Por óbvio que sempre há novos desafios, geralmente acompanhados por novas turmas, por alunos novos, por alterações legislativos, por estudos que se fazem necessários, por tantas variáveis que nunca deixam que se torne (e nem poderia) uma atividade de mera repetição. Igualmente evidente que não dá para agradar sempre e eu jamais tive essa pretensão, ainda que eu procure ser agradável, o que são coisas diferentes.
De tudo, vejo uma profissão belíssima, mas de extrema importância e responsabilidade. Aquele que ensina não o faz somente no que tange a conteúdos, mas também ao que acompanha esses conteúdos, em valores como ética, por exemplo. Confesso que, assim como qualquer trabalho, às vezes fico cansada, às vezes não tenho a paciência que precisaria ter e, não raramente me policio e me cobro nesse sentido. O que realmente me tira do sério, entretanto, não é a atividade docente em si, não é o cansaço, não são as provas a corrigir, nada disso...
O que de fato me exaure é a choradeira. Refiro-me ao chororô que acontece após o resultado das provas, com a publicação das notas. Acho engraçado que alunos que praticamente mais faltaram do que apareceram, mais conversaram ou ficaram ocupados mandando mensagens via celular durante as aulas, são os que aparecem com as histórias mais trágicas e tristes sobre as inúmeras razões pelas quais não podem, não devem e/ou não querem ficar reprovados.
Há casos em que eu até gostaria de ajudar, casos nos quais eu percebo que houve algo imprevisto, algo sério e, nessas situações, analisando a performance do aluno durante todo o semestre ou todo o ano, sou obrigada a admitir que faço o possível para ajudar, para tentar, de alguma forma, nos limites do legal e do permitido, amenizar o que puder. Acredito em dar chances, acredito em recuperação, acredito nas pessoas, ainda.
Por outro lado, há casos que me tiram do sério, que me deixam a um milímetro de perguntar se me acham com cara de ingênua ou coisa pior, como quando alunos me procuram para dizer que, “por minha causa” não irão conseguir aquele emprego, aquela promoção, aquelas merecidas férias... Acho isso, além de desrespeitoso, no mínimo curioso. A pessoa não assiste aula, não estuda, não tira nota e a culpa é minha??? Realmente, a cada dia, as pessoas assumem menos os próprios erros, as próprias responsabilidades...
Minha culpa seria se eu não tivesse dado a aula, se não tivesse me disposto a ajudar quem não estivesse me entendendo, se eu não indicasse onde e como estudar, se eu não cumprisse meu papel de professora. Agora, depois do próprio fracasso, atribuí-lo a terceiros, seja a mim ou a outrem, isso já é algo que não admito, que não apoio e que não me comove. Assim, sinto muito e doa a quem doer, mas o processo de aprendizagem é uma via de mão dupla e precisa ser levado a sério, não só pelos governantes, pelos professores, mas também pelos alunos. A cada qual, o pedaço, os louros e as dores...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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