Há muito se foi o tempo que o mês de julho representava um mês de férias, em seu sentido mais pleno de significados. Atualmente, ainda que não lecione nesse mês, há o serviço do escritório, da casa, os cursos livres, algumas aulas de pós e mais um milhão e meio de outras obrigações que a vida adulta e responsável nos impõe.
Dia desses, ao telefone com minha irmã, minha sobrinha Isadora pediu para falar comigo. “_ Tia, eu estou de férias!” Fiquei pensando no que férias podem significar para uma garotinha de 5 anos e disse a ela que eu também queria estar de férias para poder ficar brincando com ela, ao que me respondeu: “_Fala com seu chefe e fala pare ele deixar você nas férias.”
Simples. Aliás, simples como o mundo das crianças e como o dos adultos não é. Penso que por isso as crianças são felizes, porque não possuem o sentimento de complexidade das coisas. Essa a sabedoria infantil, que se esvai aos poucos, conforme a idade vai se somando aos anos vividos. No fundo, gente grande complica tudo e não chega a quase lugar nenhum...
Ainda ao telefone, minha irmã me contou que a filha estava preocupada com o que iria fazer nas férias. Tempo vazio e energia a mil, sinceramente, não combinam. Do mesmo modo, tempo escasso e cansaço, mas deixemos para lá. Há muito tempo eu não sei o que é me preocupar em como preencher os meus dias. Ao contrário, luto para esvaziar algumas poucas tardes ou manhãs ensolaradas, nas quais a vontade de andar a esmo, de não fazer nada, são quase alucinantes.
Tenho um grave defeito que é não conseguir ficar parada muito tempo. Sei que isso parece bem incongruente com o desejo meio concomitante que tenho de descansar, mas é que meu conceito de descanso não é o ócio pleno. Gosto das férias para ler, para fazer caminhadas, para, na verdade, não ter preocupações ao extremo. Anseio por férias mentais, por desligar dos problemas, meus e dos alheios. Assim, meu lugar imaginário, de consolo e de paz é aquele no qual os celulares só fazem ligações, mas não recebem, onde eu não tenho que sair correndo para não me atrasar, mas onde corro para sentir o prazer de uma corrida, onde o barulho é da música do meu fone e não de pessoas desfiando um mundo de problemas...
Olho para a natureza e observo que os animais, as folhas, o vento, a chuva, as nuvens, nada parece ter pressa e, ao mesmo tempo, nunca há ausência de movimento. A música da vida me lembra um balé, uma valsa, algo constante e delicado, mesmo quando o som dos trovões me faz lembrar uma orquestra. Curiosamente, a humanidade perdeu o compasso com o tempo das coisas. Estamos fora de sintonia, fora de prumo, desesperados em busca do que não sabemos, andando como loucos, como se tivéssemos ânsia pelo fim. Não deveríamos desejar as férias como um hiato único de descanso, de paz. Deveríamos saber dosar os momentos, mas creio que ainda estamos distantes disso.
Enquanto minha sobrinha se preocupa, prematuramente, com o que vai fazer nas férias, eu penso como maximizar as minhas, diminutas. Nesse quesito, minhas férias estão mais para a prazo, do que à vista...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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