PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 17 de Setembro de 2012
PAULO ROBERTO LABEGALINI - TUDO EM FAMÍLIA

 

                                                 

 

 

 

 

Li Cunxin nasceu no ano de 1961 durante o governo chinês de Mao Tsé Tung, sexto filho de um total de sete. A hora das refeições era sempre triste, conta ele, porque sua mãe, muitas vezes, não tinha o que cozinhar. Inhame seco era a base da alimentação na maior parte do ano. Ocasionalmente, havia pão de milho, farinha na dispensa e, por isso, guardados para oferecer a visitas importantes.

Às refeições, as sete crianças ficavam esperando que o pai começasse a comer. Almoçavam inhames secos ou cozidos, dia após dia, mês após mês, ano após ano. Os pais comiam bem devagar para que sobrasse mais para os filhos.

A mãe dizia aos menores que deixassem a melhor porção para o pai, pois era ele quem garantia o sustento, mas o pai sempre arranjava desculpas e pedia que dessem a melhor parte para a mãe. Não fosse ela, enfatizava, nada teriam para comer senão‘vento noroeste’. Uma vez por mês, após enfrentarem longas filas, podiam comprar um pedaço de porco gordo.

E Li Cunxin narra em suas memórias que, numa tarde, sua mãe o mandou comprar carne no açougue da comuna onde moravam. As filas eram enormes. Ele esperou mais de uma hora e, finalmente, conseguiu comprar um pedaço pequeno de carne porco. Saiu a correr e a saltar de felicidade por sua conquista.

Sua mãe cortou a carne em pedaços pequenos, igualmente feliz pela gordura que iria durar, com certeza, um bom tempo. Naquela noite, quando foi servida a carne com acelga, todos podiam ver o óleo precioso flutuando no molho.

Certo dia, um dos meninos encontrou um pedaço de carne de porco em sua porção. Sem pestanejar, colocou no prato do pai. Este repassou imediatamente a carne para o prato da mãe. Ela devolveu, dizendo:

– Não seja tolo! Fiz a comida especialmente para você. Precisa ficar forte para trabalhar!

Próximo ao pai estava o filho mais novo. O pai olhou para ele, chamou-o pelo nome e disse:

– Deixe-me ver seus dentes.

Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, ele colocou a carne na boca do filho. O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelo longo suspiro da mãe. Sempre era assim: um raro pedacinho de carne em uma tigela de vegetais era passado de um para outro. Os olhos famintos pediam mais, mas sempre faltava. Todos sabiam que era difícil conseguir comida.

Assim era a vida naquela família, onde o pai trabalhava da madrugada ao entardecer por miserável pagamento mensal e a mãe lavava, limpava, cozinhava, costurava e, ainda, ia trabalhar no campo para conseguir um pouco mais de recursos.

Cuidado uns com os outros, é isso que o fato narrado nos ensina. Será que em nosso lar estamos passando esses valores para nossos filhos? Lendo a história da miséria vivida por Li Cunxin, podemos pensar que jamais seremos tão pobres a ponto de disputar um alimento. O importante a ressaltar é que cultivemos o amor – esse sentimento que se demonstra em pequenos gestos, em preciosas doações. Pode ser: ofertar uma flor, um favor, um mimo. Pode, com doçura, se resumir em fitar os olhos do outro e perguntar:

– Você está muito cansado? Como foi o seu dia? Que posso fazer para você se sentir melhor?

E isto não pode acontecer somente em família, mas também com pessoas que precisam de nossos cuidados, sejam ricas ou pobres. Você pensa nisso? Sua consciência está tranqüila? Às vezes, meio por instinto, agimos corretamente sem querer, mas isso não pode acontecer só esporadicamente. Cristão que honra a condição de ser filho de Deus precisa ter um comportamento digno com freqüência. Esta historinha mostra que a sorte nem sempre está conosco e, um dia, a máscara cai:

Os pais levaram o filho de oito anos e a irmãzinha de sete para a igreja. Eles sentaram na primeira fila para que o filho pudesse apreciar bem a missa, mas ele adormeceu no meio do sermão. O padre notou e decidiu dar-lhe um susto. Então, fez uma pergunta direta para ele:

– E você, meu jovem, diga: quem foi que criou o céu e a terra?

A irmã do guri espetou um alfinete na perna do menino, que acordou de sobressalto e gritou:

– Meu Deus!

– Muito bem, meu filho – disse o padre.

O pessoal que estava por perto olhou para o menino, mas daí a pouco ele voltou a dormir e o padre viu que precisava acordá-lo outra vez. Então perguntou:

– Responda-me agora, quem foi o filho de Maria e José?

A menina voltou a enfiar um alfinete no menino, que disse alto:

– Jesus!

O padre percebeu o que aconteceu, mas não podia dizer nada. O povo prestou ainda mais atenção no menino que deu a resposta correta, mas logo depois ele cochilou novamente e o padre questionou:

– O que disse Pedro para Jesus quando andava sobre as águas e começou a afundar?

Assim que a irmãzinha deu-lhe outra alfinetada, o menino berrou:

– Se você fizer isso comigo de novo eu lhe arrebento a cara!

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



publicado por Luso-brasileiro às 10:25
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links