Na batalha pela Casa Branca, o candidato republicano faz fortes ataques ao presidente Obama sobre esse tema e dá ênfase à sua plataforma econômica, assegurando que vai criar empregos.
(com base no noticiário internacional)
Durante seus discursos, ontem, o candidato republicano a ocupar por quatro anos a Casa Branca, Mitt Romney, atacou duramente o presidente Barack Obama por este não ter cumprido com sua palavra e promessa de levar a cabo uma reforma migratória durante sua administração e prometeu criar um sistema para que famílias inteiras possam vir viver legalmente nos Estados Unidos.
O palanque de Romney, ontem, foi o programa, transmitido em inglês e espanhol, “Gran Encuentro” pela cadeia de TV UNIVISION, gravado no ‘Bank United Center’ da Universidade de Miami. Uma vez no ar, Romney demonstrou habilidade em discorres sobre o turbulento assunto da imigração nos EUA, se esforçando, contudo, para não se mostrar por leniente demais com a presença ilegal de milhões de pessoas no país. Porém, como todo político à caça de votos, expressou abertamente sua disposição de buscar uma solução permanente do problema para não ofender o crucial eleitor espano. Os analistas acham que esse tipo de eleitor terá ter um papel determinante dentro da atual disputa eleitoral, principalmente na Flórida, na Califórnia, e no Novo México, onde Romney e Obama competem numa batalha eleitoral extremamente renhida.
A chamada “reforma imigratória” tem sido um assunto muitíssimo sensível para a comunidade latina, pelo fato de que numerosos defensores da deportação dos mais de 12 milhões de imigrantes que residem e trabalham ilegalmente no país costumarem usar uma linguagem ofensiva para denegri-los. Disse Romney que “o sistema imigratório, que acredita que todos estão de acordo, tem problemas e tem sido um assunto explorado politicamente, ao longo dos anos, tanto por democratas como por republicanos”. “Uma das razões pelas quais o presidente Obama, como candidato, obteve tanto respaldo da comunidade latina na última eleição é o fato de ele ter prometido que, em seu primeiro ano de governo, uma de suas prioridades seria a reforma do sistema imigratório, coisa sobre a qual nem sequer apresentou qualquer projeto de lei […] É hora de deixar de lado o jogo político e realmente reformar o sistema imigratório, o que pretendo fazer de fato”, acrescentou o ex-governador de Massachussets.
Mitt Romney declarou que quer se certificar de que, nos próximos anos, os imigrantes possam ingressar legalmente no país, sem que necessitem contratar advogados. “Quero também me certificar de que ao invés de estarmos a oferecer vistos de entrada variados, possamos disponibilizar, em troca, oportunidades de o imigrante trazer todos os seus familiares para viver nos EUA legalmente mediante o cumprimento de certos deveres e obrigações, pois não há direitos sem deveres correspondentes. Quero que haja um mecanismo legal de imigração eficiente e preferido e, de certo, caso um estudante vá suficientemente bem a ponto de obter uma graduação avançada, possa receber seu “greencard” de residente permanente anexo ao seu diploma”, explicou.
Romney afirmou que aos Estados Unidos interessam que a imigração seja qualificada por pessoas que realmente queiram se tornar futuros cidadãos americanos e se disponham a cumprir todos os deveres e obrigações que justificam os direitos da cidadania estadunidense. O país, por isso, deve buscar uma solução permanente para as crianças que foram trazidas por seus pais ilegalmente para o país, criticando a medida temporária introduzida pelo presidente Obama para fazer face ao problema. Aproveitou, no entanto, para dizer que é a favor da residência permanente de todos aqueles que se dispuserem a prestar serviço nas Forças Armadas.
Quanto às pretensões de setores da sociedade americana de simplesmente expulsar do país os 12 milhões de imigrantes ilegais existentes hoje em dia – boa parte deles provenientes da América Latina – Romney, ao ser questionado sobre o assunto, considerou que isso não é uma meta realista ou mesmo honesta e não interessa aos EUA livrarem-se de uma força de trabalho tão valiosa. “Não queremos simplesmente juntar essas pessoas pelo país afora e enviá-las de volta aos seus países de origem. Durante as primárias, já afirmei que não vamos fazer isso, ou seja, repatriar filhos e pais, quando tudo o que é necessário ser feito é uma legalização, reservando a deportação apenas aos casos de desocupados, malfeitores e parasitas do sistema social americano, que querem tudo, mas não estão dispostos a dar nada em troca. O que necessitamos é encontrar uma solução permanente para tais distorções, solução essa que combine o respeito a quem trabalha e quer progredir com o interesse americano que, em suma, e realmente esse”, reiterou o candidato.
Por outro lado, o ex-governador se limitou a mencionar apenas a situação dos filhos de imigrantes e das pessoas que têm servido às Forças Armadas, sem dar qualquer sinal de como poderá beneficiar o resto da população de imigrantes ilegais. Ele também manteve o seu respaldo às duras leis anti-imigração adotadas pelo estado do Arizona, ressaltando que há necessidade de os imigrantes entrarem no país de forma legal, e de as empresas, que contratarem imigrantes ilegais, serem punidas. “A razão pela qual existe tal legislação no Arizona se deve ao fato de o governo federal, e especificamente o do presidente Obama, não ter resolvido o problema da imigração no país e na região. Destarte, os estados estão tratando de resolver este problema da melhor maneira que podem e de acordo com o interesse de seus cidadãos e ir de encontro a isso seria, no mínimo, uma traição à pátria”, afirmou.
Mitt Romney, da mesma forma, ressaltou a necessidade de reativar a economia de seu país, destacando que o que a administração Obama fez até agora para tal tem sido amplamente insuficiente e ineficaz, apenas ampliando de modo extraordinário a dívida interna do governo. O candidato assegurou “que a abordagem de Obama tende a distanciar cada vez mais os americanos dos valores que transformaram o país na principal potência mundial. A continuação das políticas de Barak Obama representa uma decadência crescente da sociedade americana que será difícil de reverter nos próximos anos”. “Além do mais – continuou Romney - esta é uma nação que seguiu por um caminho muito diferente do que conhecíamos e as políticas do atual presidente, embora acredito que sejam bem intencionadas, são conceitualmente erradas e, por isso, não alcançaram seus objetivos; o socialismo não deu certo e lugar nenhum do mundo e, os EUA, não têm porque serem considerados uma exceção”. “Quero por os americanos de novo a trabalhar. Si como fazê-lo. Isso não se consegue hipertrofiando o governo tornando-o uma máquina de tirar dinheiro de quem trabalha para dar a quem não trabalha e não quer trabalhar. Esse pode ser o ideal socialista, mas, certamente, não é o ideal americano. Isso é o que acontece em outros países do mundo e que, por isso mesmo, não conseguem se desenvolver, pois há neles um contingente cada vez maior de pessoas que vivem sem trabalha e sem produzir a custa da parcela produtiva da sociedade”.
Falando durante o programa, o senador pela Flórida, Marco Rubio, corroborou dizendo que quando “instado por jornalistas sobre um comentário feito em 1998 por Obama sobre a necessidade de ‘aumentar o papel do governo federal na distribuição de riqueza no país’, na verdade, os imigrantes latinos não querem isso. Creio que eles são mais propensos que outras pessoas nos EUA em não aceitar o argumento da ‘redistribuição de riqueza’ e, de fato, caso se tenha em mente a ampla gama de imigrantes, não apenas os latinos, uma enorme quantidade deles chegaram a este país exatamente para se livrar de estados todo-poderosos. Essas pessoas também querem deixar para trás as economias controladas e estatais – alem de muitas vezes estados totalitários – porque naqueles países cujo Estado domina tudo, a gente que trabalha duro para progredir nunca parece afinal conseguir qualquer resultado expressivo, em função do fato de que a tal propalada ‘redistribuição de renda’ não passa de uma distribuição igualitária da miséria e da pobreza extrema”. E continuou , o senador: “É por isso que eles vêm para cá, com a esperança de viver na ‘terra das oportunidades’, onde não importa o lugar onde começar. Nós acreditamos que todos devem ter a oportunidade de ir, por seus talentos, perseverança, e ética de trabalho, o mais longe onde possam chegar e construir reputações de cidadãos de bem para o engrandecimento pessoal e do país que escolheram para viver”, completou o senador Rubio.
Horas antes de o programa ir ao ar, já havia um grupo de pelo menos vinte pessoas se manifestando defronte ao Bank United Center contra Romney. Os manifestantes eram parte do grupo ativista ‘1Miami’, oriundo de vários sindicatos. Portavam cartazes contra Romney, e gritavam “Nós somos os 47%”, em referência aos comentários polêmicos do ex-governador republicano, feitos durante um evento privado para arrecadar fundos para sua campanha eleitoral, onde o candidato disse que 47 por cento dos americanos votarão em Barack Obama porque querem benesses e não pagam impostos federais.
“Sou uma contribuinte contra os comentários de Mitt Romney”, disse Jeanette Pierre, integrante de 1Miami (foto acima). Outra, chamada Clara Vargas, que trabalha para a Universidade de Miami como faxineira, disse que apoia Obama e se somou aos protestas porque é contra os comentários de Romney. “Há muitos ricos nos Estados Unidos que não pagam impostos e deveriam pagar a parte que lhes corresponde”, assacou Vargas. Rebecca Fernández, outra jovem que participou da minúscula manifestação, disse que veio nem tanto para apoiar Obama, mas para protestar contra os comentários “ridículos” de Romney. “Os EUA têm os recursos para ‘dar’ a todos os cidadaos do país assistência médica e moradia de graça”, disse Fernández.
Como se vê, estão postas à mesa todas as cartas ideológicas da batalha eleitoral travada no país, cujo vencedor determinará os rumos da maior potência do planeta, dependendo de quem vá morar na Casa Branca.
Quinta feira, 20 de setembro de 2012
FRANCISCO VIANNA - Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil.
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