PAZ - Blogue luso-brasileiro
Segunda-feira, 24 de Setembro de 2012
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - RELATÓRIO INÉDITO MOSTRA QUE ATAQUES DE HOMOFOBIA SÃO MAIS COMUNS EM CASA

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma sociedade que não vive o amor e o respeito ao próximo está longe de aprender a viver em harmonia. Relatório apresentado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostra que a situação é grave: há uma manifesta incapacidade de conviver com o diferente e as formas encontradas para solucionar os problemas de convívio social se afastam do diálogo, da comunicação direta e honesta, alcançando os próprios familiares e pessoas próximas das vítimas.

 

 

          Homens, gays, negros, entre 15 e 29 anos, agredidos dentro de casa por familiares e vizinhos. Esse é o perfil da maioria das vítimas de homofobia no país. Por dia são feitas 19 denúncias de violência motivadas por homofobia, segundo relatório da Secretária Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República que divulgou pela primeira vez dados oficiais sobre o tema, segundo matéria assinada por Natália Cancian e publicada pelo jornal “Folha de São Paulo” (23/07/2012- C-3).

         O estudo usou dados coletados em 2011 pelo Disque 100, que recebe e verifica relatos de abusos aos direitos humanos, somados a registros da ouvidoria do SUS, da Secretária de Políticas para Mulheres e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Ao todo, foram computadas 6.809 denúncias. Em 62% dos casos o suspeito era conhecido da vítima – familiares e vizinhos respondiam por mais da metade das agressões. As ocorrências supostamente cometidas por desconhecidos foram de cerca um terço do total. Em 9% dos casos, o suspeito não teve a identidade informada. Grande parte delas se efetivou na casa da vítima (42%), sendo a rua palco de 31%.

O documento ainda traça um perfil dos suspeitos: a maioria é homem, heterossexual e tem de 15 a 29 anos. “Mostra que os jovens são as maiores vítimas e também os maiores agressores”, diz o coordenador de direitos LGBT, Gustavo Bernardes, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que crê que o número de agressões seja maior porque nem todos denunciam. O delato predominante foi de violência psicológica (42,5%), como humilhações e ameaças. Em seguida,  discriminação (22%) e violência física (16%), sendo que a maioria aponta mais de um agressor. Para a presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB, Maria Berenice Dias, a ausência de uma lei que criminalize a homofobia faz a maioria das denúncias ficar impune. “Acaba condenando à invisibilidade todas essas agressões”, diz.

Esses resultados trazem novas perspectivas para o debate em torno da tolerância relativa aos comportamentos, relevantes e atuais. Vivemos um momento de desafios, de reflexões, de pensar o passado e de, enfim, chamar atenção para aqueles grandes erros que a nossa história, seja pessoal ou coletiva, produziu. Um desses equívocos parece que veio para ficar, o que quer dizer que se fixou como base de boa parte de nossa conduta. Trata-se da nossa incapacidade de conviver com o diferente e as formas encontradas para solucionar os problemas de convívio social onde o que menos importa parece ser o diálogo, a comunicação direta e honesta, sem truques, golpes, violências, onde o respeito pela vida do outro e sua forma específica de manifestação e expressão fosse considerado.

Sabemos que a lista de tipos sociais que são alvos de discriminação e exclusão que nossa sociedade construiu é grande. Não podemos mais admitir o preconceito e a violência que ele gera, receosos de comprometermos os rumos e as escolhas da história, para quem procura roteiros menos cruéis para as futuras gerações, para quem aposta na experiência humana como um lugar onde as ideias se transformem e possam orientar-se por valores pautados pelo respeito e aceitação plena.

Vale invocarmos algumas palavras que deveriam prevalecer no relacionamento humano: amor, reflexão, solidariedade, afeto, ajuda a quem sofre e, finalmente, vida. Parece impossível não se sensibilizar pelo descaso com a cidadania, pela fome e sede, pela dor e sofrimento. Mas uma sociedade que não vive o amor e o respeito ao próximo está longe de aprender a conviver com os semelhantes.  Enquanto isso, alguns humanos continuarão a se sentir mais humanos do que outros e continuarão a acreditar que as suas vidas são as únicas que valem a pena serem vividas.

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor, professor universitário, mestre em Direito Processual Civil pela PUCCamp e membro das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas.



publicado por Luso-brasileiro às 11:04
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links