Não sei de onde vem a lenda de que artista exerce seu labor por lazer, entretenimento, ou algo do gênero. E, portanto, não precisa receber por aquilo que faz. A arte alimenta, não é mesmo? Certo e errado. A arte alimenta a minha e a sua alma. A alma de quem executa e a de quem recebe. Mas o corpo precisa sobreviver para ter forças e continuar fazendo arte. A mente precisa de energia para renovar suas ideias e saber como colocá-las em prática. Tudo isso tem um preço. Nem digo “valor”, pois acredito que o trabalho de um artista seja imensurável, mas como é necessário ter um preço, algo às vezes até simbólico é tido como o valor daquela obra, daquele labor, daquela criação.
Deparamo-nos com situações esdrúxulas, envolvendo a questão da remuneração do trabalho artístico, cotidianamente. E outro dia, uma postagem no facebook fez-me refletir uma vez mais sobre tal questão.
Dizia: “Sou artista. Isso não quer dizer que minhas criações são de graça. Tenho contas para pagar como você. Arte≠mera diversão. Arte=meu tempo, meu esforço, meu trabalho. É o que faço para viver!” É isso. Algo tão simples e tão complexo de se entender.
Como disse no inicio deste artigo, não sei qual a origem da lenda de que artista sobreviva do ar, ou do próprio fazer e refazer artístico. Talvez sua imagem ainda esteja arraigada ao alienável estigma de que artista é bicho-grilo, hippie, vagabundo, e por aí vai. Ou que realmente ele parece tão feliz e realizado com aquilo que faz, que isso basta, já é o seu prêmio.
É algo bastante corriqueiro ver que uma pessoa é capaz de gastar boa parte de seu salário em lojas de um shopping center com coisas que nunca irá usar ou entrar numa mega store e comprar livros e CDs de apelo comercial, mas achar estranho quando você oferece seu livro ou CD por trinta reais.
Certamente há exceções. Existe, ainda, aquela espécie em extinção, que valoriza e reconhece seu trabalho, enxergando naquilo não apenas um produto final, mas todo o processo – inclusive emocional, pois estamos falando de arte – que se deu para chegar a determinado resultado.
Mas o artista é um persistente – ou teimoso – por natureza, e vai buscando meios para fincar sua bandeira, seja em meio ao deserto, seja em meio a um campo de guerra.
Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br / reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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