Estamos às vésperas, aquiem São Paulo, de mais uma Bienal do Livro.
Um evento que poderia ser, ou já foi em outras épocas, um grande difusor da leitura.
Sabemos, no entanto, que não é bem assim...
Tratei deste assunto em artigos passados, mas é sempre estimulante voltar ao tema.
A Bienal é um evento comercial, no qual quem sai ganhando são editores e empresários.
O escritor e o leitor, de forma ilusória, se beneficiam.
O escritor, pelo simples fato de que, se não for amplamente conhecido e reconhecido, não vende! Se não estiver atrelado a uma grande editora, não consegue distribuição. E para estar numa grande editora, há que se ter indicações fortes e parentescos... Caso contrário, deve se contentar com as pequenas, que são prestadoras de serviço, e vendem muito bem seu peixe, especialmente aos iniciantes sonhadores, deixando-os depois com os livros, editados, empilhados em suas casas.
Muitos ainda têm a ilusão de que basta publicar para que tudo o mais aconteça, ou seja, para que os livros percorram prateleiras de livrarias a fora e sejam procurados por ávidos leitores. Os ávidos leitores (com exceção, às vezes, de algum amigo ou um provável parente) querem os best sellers, não importa sobre o que estes versem. Não nos esqueçamos: estamos na era do consumismo, queremos tudo aquilo que todos têm. Queremos ser iguais, somos seres-padrão, sem opinião diferenciada, sem crítica... Queremos engolir o livro que está no topo da lista e na estante mais visada da livraria, triturá-lo rapidamente e cuspir,em seguida. E a partir dali está morto. É um produto usável como outro qualquer. Ninguém absorverá dali qualquer outra utilidade, tampouco servirá para alguma reflexão.
Para conseguirmos que a geração jovem se interesse por leitura, teremos que fazer um árduo trabalho, que vai além da Bienal, pois esta apresenta, na verdade, um cenário que é aquele que nós, escritores, queremos evitar, ao menos um pouco: o do consumismo por si só.
E para conseguirmos que nós, escritores, tenhamos nossos trabalhos lidos, não é ali que conquistaremos nosso espaço. O deslumbramento de estar numa Bienal, não passa desse próprio deslumbramento. O escritor paga para ter um status. Que no dia seguinte não vale mais nada. Mas o sonho é o que alimenta a vida de muitos. E engorda o bolso de outros tantos...
Renata Iacovino, escritora, poetisa e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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