Já confessei publicamente que sou uma mulher de alguns vícios. Confessei-os porque deles, na verdade, não tenho qualquer vergonha. E os vícios são mesmo assim, dominam o viciado, fazendo-o dependente e submisso. Pois bem, o primeiro dos meus vícios é o amor pelos que são caros.
Não conheço amor que não seja incondicional e pleno. Notem que não me refiro ao que os outros possam sentir por mim, mas o que eu sinto pelo outro. Amar, já disse o poeta, é verbo intransitivo... Assim, o amor pela minha família é algo que me domina. Por cada um deles sou capaz de atravessar oceanos a nado e escalar montanhas infinitas. Nada é muito e o pouco é sempre nada quando se trata de amor. Amo assim pois somente assim o sei e ponto.
Outro vício meu, esse não muito honroso, é por pipoca. Desde que me conheço por gente sou incapaz de resistir ao barulhinho do milho estourando, ao cheiro inebriante que toma conta do ambiente e ao croc croc dos pequenos e deliciosos flocos brancos. Quando criança, ao invés de pensar nas nuvens como algodão doce, eu as imaginava imensas pipocas flutuantes... Uma bacia de pipoca fartamente e tecnicamente (sim, há técnica para isso, heheh) temperada e um bom livro nas mãos é uma das minhas combinações prediletas. Talvez não seja o alimento mais saudável do mundo, mas vício é vício e, para compensar, uso e abuso de saladas e exercícios...
O terceiro e severo vício que possuo, já conhecido pelos que acompanham meus textos, é pelos livros, pela leitura. Em outro momento, cheguei a escrever sobre minha desconfiança de que sou uma espécie de mutante, com partes de gene de traça. Gosto de tanto de livros que já nem sei quantos li desde que as letras se desnudaram para mim. Quando eu não podia comprar livros, eu os pedia emprestados de amigos ou os buscava nas bibliotecas da escola. Comprava em sebos, pedia de presente de aniversário e participava de concursos nos quais eles fossem os prêmios.
Hoje posso adquiri-los e desde que os pude, não parei mais. Não sei passar um mês sem fazê-lo, mesmo que isso implique em abrir mão de outras coisas. É uma compulsão e talvez eu seja um tipo de acumuladora, mas enquanto eu os conseguir manter em ordem e arrumados, sei que não vou e não quero parar.
Mas o vício verdadeiro não é comprar, mas é ler. Leio todo o tempo que posso, seja onde e como for. Acabo um e já me apego a outro. Carrego livros na bolsa, no carro, no celular... Jamais faço uma viagem sem que um livro esteja na bagagem, bem como não consigo pegar no sono sem atualizar-me em algumas páginas.
O problema é quando começo um livro que depois descubro ser ruim ou cuja leitura se torne sem graça, pois não consigo abandoná-lo pelo meio. Obrigo-me a termina-lo, seja como for, até para ver se o bom não ficou para o final. Alguns, infelizmente, mostraram-me que ter parado antes teria sido melhor, mas em outros casos, valeu ter insistido, ter acreditado na ideia e no autor.
Outra coisa que às vezes faço, quando a história está emocionante, é dar uma olhadela, assim, meio de soslaio, nas páginas próximas do final, só para ver se algum personagem ainda continuará por lá ou se vai morrer antes. Atualmente, por exemplo, estou nessa situação. A estória está nos seus momentos máximos, já no terceiro e último volume de uma série. Quase todo mundo já morreu, excetos uma meia dúzia de personagens e eu já estou suspeitando que no fim seremos só eu e o escritor. Assim, andei dando uma olhada para me garantir, pois não quero ficar sozinha naquele lugar apavorante onde tudo está se desenrolando...
Sei que tudo isso pode parecer uma esquisitice aos olhos alheios, mas todo vício não é meio assim? Inexplicável, injustificável e esquisito? Ao menos os meus não fazem mal a ninguém...
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