No dia 31 de janeiro passado meus pais completaram 43 anos de casados. Antes que algum engraçadinho comece a fazer contas em meu desfavor, compete informar que eles demoraram para ter filhos. Ok, confesso que não tanto, mas ao menos alguns anos. Enfim, deixemos isso de lado. Passadas várias semanas, somente hoje eu consegui organizar meus pensamentos para escrever, sem lhes fazer injustiça, sobre essa data tão especial para eles e para todos nós que deles descendemos, filhas e netos...
Fiquei matutando se escreveria o quanto eles são pessoas maravilhosas, o quanto eu os amo e coisa e tal, mas isso seria apenas o aspecto subjetivo da coisa e não lhes faria jus. O que causaria espanto seria o contrário, ou seja, uma filha dizer que não ama os pais ou que os acha pessoas deploráveis. Então, nesse quesito, meu texto seria um tanto chavão e, para o bem de todos, caberia melhor em um cartão privado.
O que realmente me fez pensar é que não deve ser nada simples conviver com alguém por tanto tempo, dividindo não apenas espaço físico, mas os ganhos, as perdas, as dores, as alegrias e mais uma quase inominável gama de sentimentos e acontecimentos. Não creio que somente o amor tenha sido o responsável pelo sucesso dessa relação, honestamente. Claro que, sem amor, nada faria sentido, porém, hoje, entendo que a causa maior da manutenção de tantos anos de vida em comum tenha sido o mútuo respeito...
Entendo, nessa altura da minha vida, que o maior mestre é o exemplo e, por isso até, a importância da família como formadora da sociedade, como construtora do futuro. Estou convicta de que meus pais devem ter tido várias brigas, mas minha imensa felicidade foi nunca ter presenciado isso, nunca ter visto meu pai em fúria, minha mãe aos prantos, não porque estivessem se matando em frente das filhas.
Vimos, minhas irmãs e eu, que éramos e somos filhas de gente de carne e osso, que sangra, ri, chora, brinca, tem decepções, sucessos e fracassos, mas que teve sempre o cuidado de preservar a prole do que não era inevitável, do que não precisava ser visto ou marcado na vida de crianças pequenas...
Não existe, creio, alguém que possa ser o melhor pai ou a melhor mãe do mundo. Quem avaliaria isso? Os próprios filhos? Sem chance dessa votação ser isenta. Mas tenho, sem dúvida, os melhores pais que eu podia ter, e essa sorte grande de ter nascido e crescido em um ambiente saudável, de respeito, de afeto, de cuidados, ainda que com os defeitos humanos de qualquer família, estou certa, fez de mim alguém de bem, ainda que tão imperfeita quanto deveria ser.
Aos meus pais, Luiz e Elizabeth, não apenas dou os públicos parabéns pelos muitos anos de união, mas agradeço, imensamente, pelo exemplo do pai como profissional reto, firme, competente, pai amoroso, compreensivo e justo. À minha mãe, pela ternura que sempre invade minhas
lembranças mais caras, pela bondade infinita, pelo exemplo de mulher honesta, equilibrada e digna. Embora tudo isso possa ser atribuído a ambos, em meu coração, cada qual ficou marcado de um jeito especial, sobretudo pelo amor incondicional que sempre me dedicaram.
SE eu pudesse escolher, jamais teria escolhido ser filha de outras pessoas. Aos meus, todo meu amor, meu respeito, minha devoção e minha gratidão por me darem a chance de ser alguém como vocês!
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.
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