Comoveu-me, de imediato, a informação sobre a renúncia do Papa Bento XVI. O primeiro sinal do adeus. O Papa é pai espiritual, que orienta, corrige, ilumina, caminha à frente com o propósito de salvar o seu povo daqui e de lá, os que o aceitam e os que o rejeitam, sempre em comunhão com o Criador e em consonância com a Palavra e a Tradição.
Deus me concedeu a graça de participar de uma Missa por ele presidida, na manhã de 11 de maio de 2007, no Campo de Marte em São Paulo, durante a qual canonizou o franciscano Frei Antônio Galvão. Sua serenidade e seu olhar de compaixão abraçavam a cada um – mais de um milhão de pessoas - que ali estava. Tive a confirmação de que ele, embora de lugar distante, protegia-me das forças que destroem o ser humano e fortalecia os sonhos do Altíssimo de uma civilização fraterna.
Imagino o quanto foi sofrido para ele renunciar. Uma decisão que reflete em perdas humanas: o poder, as viagens de encontro com o povo, os incontáveis abraços de ternura, o espaço para proclamar o que Deus, a quem ele entregou sua história, lhe sussurra. Ele, no entanto, um homem inteligentíssimo e preparado, embora tenha conquistado os mais altos postos na Igreja, não perdeu a capacidade de se olhar. Abdicou das vaidades. Não se distanciou da essência do cristianismo e, mais uma vez, assumiu o que disse Aquele que o chamou para pescador de homens: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga. Porque quem quiser salvar a sua vida, a perderá” (Lucas 9, 23.24).
Entendeu, imagino, que para corrigir alguns desacertos na Igreja, provocados pela fraqueza e pelos desvios humanos, ele não teria mais a estrutura física de outrora. Além disso, os fiéis clamam hoje por proximidade e seus limites o impedem de voos mais distantes. Os meios de comunicação são velozes e a Igreja precisa, na mesma rapidez, estar neles. O indivíduo, em um mundo tão massacrado pelo egoísmo, espera encontrar na Igreja respostas sobre coisas em suas vidas que estão além de seu controle. Embora de alma imensa, o seu físico está aquém do que vê como urgência. E a necessidade de renovação, por ele colocada, sem dúvida não diz respeito às verdades da fé que professamos. Há quem defenda mudanças, advogando em causa própria.
Compará-lo com seu antecessor, o sempre amado Beato João Paulo II, que não renunciou, é um julgamento infeliz, como reflete com sabedoria o Padre José Brombal. Cada um é um. Cada um possui a sua história. Queremos que respeitem nossa maneira de ser, no entanto somos severos diante das diferenças dos outros. As mulheres que aparecem nos Evangelhos, Jesus as tratou de acordo com sua realidade e suas dores. Vemos isso, por exemplo, com Maria Madalena, a Samaritana, a viúva de Naim, a pecadora pública, a mulher hemorroíssa, a mulher encurvada, Marta e Maria.
Sempre admirei o Cardeal Joseph Ratzinger e o carreguei no coração a partir de sua eleição como Papa. E ele permanecerá em mim como exemplo de humildade - conhecendo a si mesmo-, e de pacto pleno com o Caminho, a Verdade e a Vida.
Maria Cristina Castilho de Andrade
Coord. Diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala, Jundiaí, Brasil.
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