Contam, os maranhenses, que em 19 de novembro de 1614, no confronto entre portugueses e franceses diante do Forte de Santa Maria de Guaxenduba, com evidência de que os lusitanos seriam derrotados, pela inferioridade numérica em homens, armas e munições, surgiu dentre eles uma formosa mulher em auréola resplandecente, para eles a mãe do Salvador. Ao contato de suas mãos milagrosas, a areia se transformava em pólvora e os seixos em projéteis. Revigorados moralmente e providos de munições que lhes estavam faltando, os portugueses impuseram severa derrota aos invasores, que se renderam. Em memória desse feito, foi a Virgem aclamada padroeira da cidade de São Luís e invocada com o título de Nossa Senhora da Vitória.
A moça, ainda menina, na cidade de Imperatriz, por diversas vezes, ouviu da avó, que era quem mais lhe dava atenção naquela época, essa história que a emocionava e emociona. A avó, apegada ao Coração de Maria, nos revezes de sua vida e nas alegrias, pedia pela neta. A neta, embora amasse a avó e a escutasse com cuidado, tinha seu pensamento distante das escolhas dela. Acelerava o passo, sem discernimento maior, no ritmo do desenvolvimento de sua cidade, que, a partir de 1970, passou a receber contingentes migratórios das mais diversas procedências, para os setores de agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, comércio, indústria e serviços, tornando-se o segundo maior centro econômico, político, cultural e populacional do Estado. Os migrantes ampliaram o comércio do sexo e em um deles a menina-moça tropeçou. Abriu mão do artesanato com cerâmica, palha, corda, raízes, que faziam parte do cotidiano da família onde nascera. Esqueceu-se das festas que a alegravam na infância, o Bumba-Meu-Boi, as Quadrilhas Juninas. Deixou de ouvir os cantos dos curiós, e, após dormir em diferentes leitos, decidiu pelo Estado de São Paulo, em busca de ventura na aventura de outros homens. Voltara algumas vezes para ver a família e a avó interpretava, no relato dos triunfos dela, com brincos de lata e boca de coloral, que não se encontrava bem.
Grávida, em local distante, decidiu juntar-se a outras mulheres, de idade menor ou maior do que a dela, que se reuniam, na Catedral de Nossa Senhora do Desterro, para ouvir a Palavra de Deus, cantar e rezar. Depois do parto, continuou. A menina está para fazer um ano. Levou-a, em janeiro, para conhecer os de sangue e as águas abençoadas do Tocantins. Para a avó carregou a surpresa maior: apresentar-se com a estampa de Nossa Senhora do Carmo na camiseta e lhe contar que estava frequentando a Igreja.
A avó, velhinha, viu a neta vestida de vitória, apertou o escapulário, sentiu-se no Monte Carmelo, recordou da branca nuvenzinha, semelhante à palma da mão, vista por Elias, que suplicava a Deus que pusesse fim a uma longa seca(1 Rs 18,44) e repetiu como Simeão no templo: "Agora, Senhor, deixai a vossa serva ir em paz. (...) Porque os meus olhos viram a Vossa salvação..."
MARIA CRISTINA CASTILHO ANDRADE DA -É coordenadora Diocesana da Pastoral da Mulher e autora de "Nos Varais do Mundo / Submundo" --Edições Loyola
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