Tenho certeza de que não sou a única pessoa a pensar assim, mas parece que somente agora, praticamente findo o mês de fevereiro, após o Carnaval é que o ano começou. Nem vou entrar muito no mérito da questão, mas o fato é que as coisas “funcionam mas não funcionam” até que o Carnaval passe.
Nas ruas, ao menos em São Paulo, é possível sentir a diferença. Há muito mais carros, muito mais gente circulando pelos metrôs, ônibus e trens. Embora as aulas já houvessem se iniciado em várias escolas, a impressão que dá é que só agora os alunos entenderam que o ano letivo estava já em andamento. Antes, sei lá, devia ser período facultativo, de integração...
Quem é profissional liberal, igualmente, sente na carne, ou melhor, no bolso, o que é um país ficar em standy by por dois meses. Pura e simplesmente, ninguém contrata nada, profissional algum, à exceção daqueles casos que são de urgência, que não podem esperar. No mais, quase nada gira. Mesmo com muitas promoções, até mesmo as lojas não vendem como deveriam vender, como esperavam vender. Tenho ouvido muita gente dizer que vem passando por dificuldades financeiras, esperando que, a partir de março, as coisas possam melhorar.
Também percebo que muita coisa parece “estourar” depois do Carnaval. Curiosamente, alguns problemas igualmente deixaram para aparecer agora. É coisa de casa que quebra, é notícia nova que vem, e assim por diante. Sem contar, é claro, que o imposto de renda, em março, também inicia sua contagem regressiva. É hora de ver o quanto mais o Leão nos irá devorar, o quanto do osso que já roeu durante todo o ano anterior, irá sobrar para ser triturado. Acaba o IPVA, mas começa o IR...
Tenho uma amiga que, depois do Carnaval, recebeu do marido o passe livre. Ele disse a ela que há tempos não estava feliz, que já amava outra pessoa. Somente a título de curiosidade, ela perguntou a ele porque então esperara até terminar a viagem que fizeram para passar o Carnaval com a família dela. Surpresa, ouviu dele a inusitada explicação de que o fizera porque antes do Carnaval, no Brasil, nada andava direito, assim, agora, seria mais fácil procurar um advogado e a Justiça!
Um outro amigo me disse que iria, por fim, começar o regime do ano. Perguntei a ele se isso não era uma proposta que se faz no início do ano, ao que ele me respondeu que sim. Antes do Carnaval, ele me disse com um grande sorriso, não vale prometer nada...
Para mim, por outro lado, o ano começou faz tempo, há aproximadamente quase dois meses. Talvez eu precise ajustar meu calendário ou desacelerar meu relógio. Se eu conseguir convencer minhas contas a pular Carnaval, a esperar pelo confete e pela serpentina, então talvez eu possa igualmente cair na folia. Feliz Ano Velho, de toda forma!
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo
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