COM A INTENSIFICAÇÃO DAS AMEAÇAS PELA COREIA DO NORTE, SURGEM OS PRIMEIROS SINAIS DE ANSIEDADE E NERVOSISMO NO SUL.
A Coreia do Norte impede o acesso de trabalhadores sul-coreanos ao complexo industrial que construiu em parceria com a Coreia do Sul próximo à zona desmilitarizada no paralelo 38.
Em Seul, a movimentada capital sul-coreana, por décadas tem sido descrita como sendo um lugar de engarrafamentos e de shoppings de luxo, de longos dias de trabalho e noites mais longas no embalo do saquê licoroso de arroz. Seus moradores raramente se comportam como se suas rotinas de vida pudessem ser perturbadas ou modificadas pelo regime vigente da dinastia comunista Kim Jong, no miserabilizado vizinho do norte, que, no entanto dispõe de 10.000 peças de artilharia, como se pairasse sobre Pyongyang qualquer ameaça de invasão proveniente do sul.
Mas, após anos de desdém às costumeiras ameaças da Coreia do Norte – feitas muito mais para surtir efeito interno do que externo –, alguns moradores desta metrópole, que é, sem dúvida, uma das maiores do sudeste asiático, dizem que se sentem um pouco ansiosos e preocupados desde a ascensão de um jovem, inexperiente e imprevisível líder em Pyongyang, a espartana capital do norte. É que os níveis da retórica hostil nortista sem alcançado um tom não visto desde a década de 1990.
O comércio da agitada Seul parece não ter se modificado e os cafés e “inferninhos” ainda permanecem lotados e embalados pelas músicas pop dos DJs, mas as novas preocupações dos sul-coreanos parecem mais perceptíveis nos momentos de silêncio. Seus celulares e ‘platlets’ vivem alertando com atualizações da mídia sobre as mais recentes iniciativas belicosas do norte — a “declaração de guerra verbal”, o anúncio de planos para reiniciar as principais instalações nucleares, a paralisação e transformação em instalação militar de um complexo industrial comum, perto da fronteira, etc.
As crianças perguntam a seus pais o que acontecerá se a guerra norte-sul recrudescer e para onde iriam, em busca de segurança.
Na quinta-feira de ontem, o medo chegou à bolsa de valores da Coréia do Sul, que sofreu sua maior queda em um dia, no ano. O Ministro da defesa do Sul, Kim Kwan-jin, disse que o norte tinha situado um míssil de médio alcance na sua costa oriental, talvez para testes ou treinamento.
"Poderá haver guerra ou a paz pode continuar, dependendo apenas respectivamente da insanidade ou do bom senso nortista", disse Joo Yang-yi, um estudante de 26 anos que estuda na Coreia do Norte.
Ao invés de menosprezar e minimizar a possibilidade de um ataque norte-coreano, as autoridades da Coreia do Sul, nos últimos dias, têm enfatizado a sua capacidade de contra atacar rápida e fulminantemente. Também dão boas vindas à recente demonstração de força dos EUA, na região, inclusive enaltecendo uma breve implantação de bombardeiros nucleares “Stealth”, capazes de voar sem serem detectados por radares em qualquer altitude e de se afastarem dos alvos atingidos em velocidades supersônicas.
Dois modelos de caças ‘stealth’ estadunidenses, sendo que o da direita está empregado na Coreia do Sul e diversas bases americanas no sudeste asiático.
Na eventualidade de ataque militar norte-coreano, a Coreia do Sul "responderá imediata e drasticamente sem a menor consideração política", disse um alto funcionário, falando sob a condição de anonimidade ao expor o pensamento do governo de Seul. "Na fase inicial, a Coreia do Sul é autossuficiente em termos de capacidade de contra ataque, mas, em seguida, podemos necessitar da cooperação dos EUA e de nossos vizinhos aliados, como o Japão, por exemplo. Afinal, nós temos muito mais a perder do que eles”...
DIVERGÊNCIAS DE OPINIÕES
Os sul-coreanos divergem em seus pontos de vista de seus vizinhos do norte, entes cada vez mais beligerantes. Alguns falam com confiança, dizendo que as ameaças quase diárias do norte fazem parte de um plano coerente para forçar negociações e não desencadear guerra. Mas outros temem que novo líder do Norte, Kim Jong-Un, pode ser inexperiente e até insano o suficiente para levar a situação longe demais, talvez porque ache que precisa de um grande conflito para aglutinar apoio interno em torno de si e de sua dinastia ditatorial.
Tal divergência se reflete nas pesquisas de opinião pública. Nos últimos dois meses, a percentagem de sul-coreanos que dizem que o norte é a sua principal preocupação mais do que triplicou. Ainda, apenas 26 por cento dos inquiridos sul-coreanos acham que não. E mais sul-coreanos se preocupam com a criação de emprego do que os habitantes de Pyongyang, que são direta ou indiretamente dependentes do estado.
Mesmo o segmento que se preocupa com o norte, no entanto, está longe de entrar em pânico. Durante uma crise, há 20 anos, provocada pela intenção anunciada de Coreia do Norte de se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear, alguns na Coreia do Sul correram para estocar alimentos enlatados e água potável em seus ‘bunkers’ domésticos. Desta vez, as prateleiras dos supermercados estão plenamente abastecidas e se comportam com seu consumo rotineiro.
Sexta feira, 5 de abril de 2013
FRANCISCO VIANNA - Médico, comentador político e jornalista - Jacarei, Brasil
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